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Santos, Boaventura de Sousa © fim do império cognitivo : a afirmagao das epistemologias do Sul / Boaventura de Sousa Santos. -- 1. ed.; 2. reimp. -- Belo Horizonte : Auténtica, 2020. ISBN 978-85-513-0484-6 1, Democracia 2. Diferencas culturais 3. Diversidade cultural 4. Epistemologia 5. Movimentos sociais 6. Mudanca social 7. Politica |. Titulo. 19-23835 CDD-303.4 INTRODUCAO Por que as epistemologias do Sul? Caminhos artesanais para futuros artesanais Asepistemologias do Sul referem-se & producio ea validacio de co- fihecimentos ancorados nas experincias de resiténcia de todos os grupos SOciais que tém sido sistematicamente vitimas da injustica, da opressao € th destruicdo causadas pelo capitalismo, pelo colonialismo e pelo patrar do, Chamo o vasto e muito diverso Ambito dessas experiéncias de Sul ‘an-impetal,Tratese de um Sul epistemoldgico, néo-geografico, Composto por muitos sus epistemoldgicos que tém em comum o fato le serem conhecimentos nascidos em lutas contra o capitalismo, 0 (Colonialism e o patriarcado, $40 produzidos onde quer que ocorram -(6sas lutas, tanto no norte geogréfico como no sul geogrdfico, O objetivo das epistemologias do Sul é permitir que os grupos sociais oprimidos feptesentem o mundo como seu é nos seus prOprios termos, pois ape- ‘has desse modo serdo capazes de o transformar de acordo com as suas propria aspiractes. Dado o desenvolvimento desigual do capitalismo e A petssténcia do colonialismo ocidentalocéntrico, o Sul epistemologico 0 sul peogratico sobrepoem-se parcialmente, especialmente no que se refere aos paises que foram sujeitos ao colonialismo histdrico. Porém, ¢ssa sobreposicio ¢ apenas parcial, néo 96 porque as epistemologias do Norte também lorescem no sul geoorafico (ou seja, no sul imperial, nas “pequenas Europas” epistemologicas que se encontram, e que sio frequentemente dominantes, na Amética Latina, no Caribe, na Aftic, na Asia € na Oceania), mas também porque o Sul epistemoldgico se encontraigualmente no notte geografico (Europa e Amética do Norte, em muitas das lutas contra o capitalismo, o colonialismo e o patriarcado queai decortem protagonizadas por trabalhadores precdtio, imigrantes vitimas de xenofobia, afrodescendentes vitimas de racismo, muculma- nos pobres vitimas de islamofobia, refugiados vitimas do “fascismo de apartheid’,” mulheres vitimas de violencia doméstica e de outras formas de violéncia, populacéo LGBTI vitima de homofobia, et., etc. Asepistemologias do Sul referem-se aos conhecimentos que sut- gem das lutas sociis e politicase ndo podem ser separados dessas mes- mas lutas, Néo se trata, por conseguinte, de epistemologias no sentido convencional do termo, Q seu objetivo néo ¢ estudar o conhecimento oua crenca justificada enquanto tais, e muito menos o contexto social ¢ historico em que ambos surgem (a epistemologia social é um conceito igualmente controverso). Trata-se antes de identificar ¢ valorizar aquilo que muitas vezes nem sequer figura como conhecimento a luz das epistemologias dominantes, a dimensio cognitiva das lutas de resisténcia contra a opresséo e contra o conhecimento que legitima essa mesma opressio. Muitas dessas formas de conhecimento néo configuram conhecimentos pensados como atividade auténoma, ¢ sim gerados.¢ vividos em praticas sociais concretas. As epistemologias do Sul acupam o conceito de epistemologia para o re-significarem enquanto instrumento de interupcéo das politicas dominantes e dos conhecimentos que as sustentam, Séo epstemologas experienciis Existem epistemologias do Sul apenas e na medida em que existem epistemologias do Norte. As epistemologias do Sul existem hoje para \ que deixem de ser necessdtias no futuro. Ocupar a epistemologia 0 termo “epistemologia” corresponde, grasio mado, aquilo que em alemao ¢ chamado de Erkenntnistheorie ou Erkenntnislehre. Inicialmente centrada na crtica do conhecimentocientiico, atualmente a epstemologia * Sobre o conceito de fascismo social nas suas diferentes vertentes, ver Santos (2011, p. 117-126), * Nao devem ser confundidas com as epistemologias experimentas introduzidas pels neurociencias ¢ pela cibernética. . ; [ye . : F A sepuinte, uma dimensio normativa, Nesse sentido as epistemologias do tem a ver com a andlise das condigdes de producio e identificacio do conhecimento valido, bem como da crenca justificada Possui, por con- | Sul desafiam as epistemologias dominantes em dois niveis diferentes, Por um lado, consideram crucial a tarefa de identificar e discutir a validade de conhecimentose de modas desaber nfo reonnecidos como tl pelasepis- temologias dominantes. Concentram-se, dessa forma, em conhecimentos { “inexistentes”, assim considerados pelo fato de ndo serem produaidos de 9 ot acordo com metodologias accitaveis, ou mesmo inteligiveis, ou porque sto ji ptoduzidos por sueitos “ausentes’, sujeitos concebidos como incapazes % de produzirconhecimento valido devido & sua impreparacéo ou mesmo 6 sua condicio no plenamente humana As eistemologias do Sultém de proceder deacordo com aquilo que chamo desocologia das auéncias, uw OU sea, tansformar sueitos ausentes em suits ptesentes como condi- Gao imprescindivel para identificar e validar conhecimentos que podem Contribuir para reinventar a emancipacio e a libertacdo sociais Santos, 20142). As epistemologias do Sul invocam necessariamente ontologias outtas (tevelando modos de ser diferentes, os dos povos optimise silenciados, povos que térn sido radicalmente excluidos dos modos do- minantes de ser ¢ de conhecer). Dado que esses sueitos so produzidos Como ausentes através de relacdes de poder muito desis gus) ¢ um gesto eminentemente politico, As epistemologias do Sul incidem M processos cognitives relacionados com o significado, a justificacdo a orientacio na luta disponibilizados pelos que resistem e se revoltam Gontra a opressio. A questio da validade surge a partir dessa presenca forte. O reconhecimento da lutae de seus respectvos protagonistas é um Ato de pré-conhecimento, um impulso intelectual e poitico-pragmatico (ue implica a necessidade de escrutinar a validade do conhecimento que cincula no ambito da luta ou que é getado pela propria luta, Por outto lado, os sujeitos que séo respatados ow revelados, ou trazidos & presenca, io muitas vezes sujeitos coetivos, 0 que atera completamente a questio da autoia do conhecimentoe, portanto, a questo darlene o ufeito que conheoee 0 dbjeto do conheci mento, Estamos perante processos de luta social e politica nos quais tim tipo de conhecimento que muitas vezes néo possui um sujeito individualizivel évivido de forma performaciva., eed hla Ve § as 32 i Os conhecimentos resgatados pelas epistemologia do Sul sio téc- nica¢culturalmente intrinsecos a determinadas praticas—as praticas da resisténcia contra a opresséo, Existem incorporados em praticas sociais, Na maioria dos casos surgem ¢ circulam de forma despersonalizada, 1 mesmo que certosindividuos no grupo tenham um acesso privilegiado a § eses conhecimentos eos formulem com mais auoridade (esa questo € ® desenvolvida adiante), Em face disso, ¢ atentos aos usos da lingua, pode * pensar-se que se trata de saberes endo de conhecimentos, Essa distingio s6 existe em algumas linguas, nas latinas, por exemplo, 0 que, em si § mesmo, coloce um desafo & traducio intercultural, que serd discutida adiante, Pata as epistemologias do Sul, conhecimento ¢ saber devem set entendidos como quase sindnimos, termos que podem ser usados petmutavelmente ainda que a diferencas suis entre eles se manifestem no uso da lingua, Esa sutis diferencas esto inscritas na propria origem eimol6gica das cis palavras, “Conhecer’,do ti ‘cys, com ogrego gnosis’ + “cum’, “ports”, significa “obter conhecimento de’, “passara ter conhecimento de através do exercicio das faculdades cogn- tivas’, Por isso, um processo acentuadamente intelectual. Por sua ved, ‘saber’, do latim “sapere”, significa “ter conhecimento” como sentindo por meio do gosto (de “sapo”, “ter gosto, ter bom paladar, ter cheiro”) “Sabor” tem exatamente a mesma etimologia de “saber”. Por detrs desta distingéo (conhecer com a razio, saber com o corpo ¢ os sentidos), parece-me estar ainda a distingéo fatal na cultura ocidental, a partir de Plo e Aristteles, entre razio e corpo,)uma distingéo exacerbada pelo ctistanismo, que separou iremediavelmente o compo daalma, A tensio que asim se criou na cultura ocidentaloctntrica talvez explique que “co- necimento” deslize facilmente para “ciéncia’ — do latim “scienta’, de “sire, saber’, que provavelmente no seu inicio significava“distinguir, separat coisas”, de uma raiz indo-europeia “ski-’, “cortar, separat” =, ennquanto ‘saber’ desliza para “sabedoria”e “sagacidade” (prudéncia),° Ao longo deste livto, “saberes” surge frequentemente como um termo mais abrangente que ‘conhecimento(s)”. Mas, no entanto, sto equivalentes, * Em francés, “connalscance” tem uma conotacao de recomeco miliplo e infinito, en- quanto “savoir”, implica as nogdes de fundamento e de permanéncia (LAPLANTINE: NOUSS, 2001, p. 299) Por essa raz flo de conhecimentos nascdos ou aprendidos nas lua, e bgt betes) Sa distingo entre sberes e conhecimento foi realada por Fou- cault (1969), embora seja aqui entendida de modo diferente. Segundo Foucault, o saber implica um processo coetivo, andnimo, algo néo-dit, um 4 priori historico-cultural acesivel apenas através da arqueologia dos saberes. Contudo, os saberes que t8m a ver com as epistemologias do Sul néo sto o a priori cultural, ou sea, o néo-dito de Foucault, No maximo, serio 0s nio-ditas desses ndo-ditos, ou seja, 0s nfo-ditos que surgem dalinha abisal que separa na modernidade ocidentalocéntrica a socedades ca scabildades metropolitanas e coloniais. Foucault jgnorou essa linha abisse, o at epistemoldgico mais fundamental da modernidade ocidental que, como veremos adiante,sobteviveu ao fim do colonialismo historico. As disciplinas de Foucault séo tio baseadas nas expetitncias do lado metropolitano da sociabilidace moderna quanto Os ndo-ditos culturais identficados por ele. As discipnas séo falsamente tniversais néo sd porque se “esquecem’’ ativamente dos respectivos no-citosculturais, mas porque, tal como os seus ndo-ditos cultural, néo consideram as formas de sociabilidade existentes do outro lado da linha, no lado colonial, O néo-dito foucaultiano é, portanto, tio falsamente comum 3 modemidade eto eurocéntrco quanto a idea katana de facionalidade como emancipagéo em relacio a natureza, Essa mesma forma de racionalidade ligava & natureza as pessoas ¢ as sociabilidades existentes do outro lado da linha, na zona colonial, E evidente que tanto afilosofia de Kant como a de Foucault representam importantes avancos relativamente & tabula rasa de Locke, teoria segundo a qual 0 conhecimento se inscreve a partir do nada, Em ver da tabula rasa Aumbos os fildsofos propuseram pressupostos ou apridris que, segundo tles, condicionam toda a experiéncia humana contemporanea, No entanto, ‘ud ess expetidnca” por eles considerada ra uma expetin-| ca intinsecamente truncada, uma ver que tnka sido constulda sem | vonsiderar—ou mesmo para ndo considerat ~a expetiéncia de quem se | situava do outto lado da linha abissal - as gentes coloniais, Se preten- déssemos formular as epistemologias do Sul em tetmos foucaultianos, O que nfo é meu propdsito, dirfamos que eas visam a arqueologia da arquedlogia de sabres wiih Ag Durante todo o século pasado, a epistemologis feministas nor tecntrcaslevaram a cabo uma ocupacio incial das verses dominantes das epistemologias do Norte, Mostraram que a ideia de conhecimento concebido como independent da experiencia do suit de conhecimento, na base da qual, especialmente depois de Kant, se estabeleceuacistincdo entre epistemologia, étcae poltc, era traducioepistemoldgica, ea con- sequentenaurlizago, do poder politic social masculino. A pespectiva universal, tl como a do olhar de deus, ea o outro lado da petspectva de nenhures. Fortemente devedoras de Foucault, esas epistemologias feminists dfendem anaturezasituada eposicional do conhecimento ea implicacéo miitua do sujeito e do objeto do conhecimento, No entanto, esa ocupacto foi apenas parcial, uma vex que ndo contestava a primazia do conhecimento enquanto praticaisolada, Nao surpreende, portanto, que as epistemologias feminist nortecéntricas tenham pressionado as epistemologias do Norte até o limite, mantendo-se, no entanto, dentro dese mesmo limite. Desse modo, funconaram como crc interna ial como varias outras que serio referidas neste lvto. Foram, no entanto, de crucial importincia a criarem um espaco para o surgimento de epistemologias feministas sulcEntricas, que vio além do refeido limite e produaitam cca externas tlativamente is epistemologis do Norte, Transformaram-se assim num componente consttuivo das epistemolo- gias do Sul, como se mostra adiante, Antes de identificarmos os varios graus de diferenca entre as epis- temologias do Sul eas epistemologias do Norte, necesstio responder as seguintes questes existitéo jogos especulares entre as epistemologias do Sul eas epistemologias do Norte que devam ser evitados? Podere- mos construir um terreno comum alargado com base na alteridade, no reconhecimento do ser-outro? 0 perigo das imagens especulares Ao compararmos as epistemologias do Sule as epistemologia do Nore ¢ fii cirmos na tentacéo da imagem refltida, que muito tem a ver com a estrutura dualista bindria da imaginacéo ocidental As cottentes dominantes das epistemologias do Norte concentraram- se na validade privlegiada da ciéncia modetna, que se desenvolveu ” ‘i predominantemente no norte global desde o século XVIL. Tats cor ~ rentes baselam-se em duas premissas fundamentais.A primeira € a de que a ciéncia apoiada na observacio sistematica € na experimentacao controlada é uma criagdo espectfica da modernidade ocidentalocén- ttica, radicalmente distinta de outras “ciéncias’ com origem noutras regis ¢ noutas culturas do mundo. A segunda premisa é ade que 0 conhecimento cientfco, dado o seu rigor e potencial instrumental, radicalmente diferente de outros saberes, sejam eles licos, populares, . praticos, do senso comum, intuitivos ou teligiosos. Ambas as premises contibutram para reforcar o excepcionalismo do ~ mundo ocidental em relagio ao resto do elobo,e, pela mesma razo, para - deteminacio da nha abissal que separava,e continua aseparar, as sociedades eassociablidades metropolitanas das colonais, Ambas as premissas foram excrutinada crticamente, ¢ esa critica tem eftivamente acompanhado o desenvolvimento cientifico desde o século XVLL Em grande medida, tratase “de uma crtia interna, eaborada no ambito do proprio mundo cultural ocidental e dos respectivos pressupostos. Q) caso das teorias de Goethe sobre a naturea ea cor € singular, sendo um exemplo desas abordagens inicais, O autor aleméo tinha o mesmo interesse no desenvolvimento clentifico que seus contemporaneos, mas era sua opinido que as correntes dominantes, com origem em Newton, estava totalmente enradas, Goethe opunha ao empirismo artificial das experiénciascontroladas aquilo a que chamava de empitismo deicado [zate Empine|, eforco para entender Osienificado de uma cosa através de um olhar ede uma visio demoradose empéticosapoiados na expergnciadireta’(Szxaow; Zajonc, 1998, p. 2) Tive ocasiéo de analisar num livro anterior algumas dimensoes da critica interna dirigida & ciéncia ocidental moderna pela diversas oortentes da epistemologia critica, bem como pela socologia da ciénca “e pelos estudos socials da ciénca (Santos, 2007}. As epistemologias do Sul vio para além da crtca interna, Mais do que uma orlentacéo crtica estio sobretudo interesadas em formular alternatvas epistemologica que possam fortalecer as lutas conta o capitalism, o colonialism e o justcacognitiva gra, conforme rfeido anterormente, a percepcio de — 7 Sobre Goethe ea ciéneia moderna, ver Uberoi (1984), Wwihehiuead ‘ an pattarcado, A esse respeito, a ideia de que nfo existe justia social sem (le nao precsamos de alternativas; necestamos efetvamente & de um pensamento altemnativo de alternativa, Tal como no caso das epstemologias do Su, no existe uma eps temologia do Nort tinica existem varias, embora alguns dos seus pressupostos basics sejam, regra ger, os mesmos': prioridade absoluta dada & ciéncia como conhecimento rigoroso; rigor, entendido como determinacio; universalism, entendido como sendo uma especifcidade da modernidade ocidentale refrido a qualquer entidade ou condicao cuja vaidade nfo é dependente de qualquer contexto socal, cultural OU politico conceto; verdade,entendida como a representacio do real: uma distincto entre sujeito e objeto, o que conhece e o que ¢ conhecido; 4 natureza enquanto res exten, a temporalidade linear; 0 progreso da ciéncia por via das disciplinase da especializacio a neutralidade socal e politica como condicéo de objetividade, Do ponto de vista das epistemologias do Sul, a epistemologias do Norte detam um contibuto crucial para converter o conhecimento cienttico desenvalvido no norte global no modo hegemenico deo norte slobal representar o mundo como seu e, por esa va, transforma de acordo com as suas prOprias necessidades e ambicdes. Desse modo, 0 conhecimento centfico, conjugado com o supetiot poder econdmico é militar, atribuiu ao norte global o dominio imperial do mundo na era modema e até 0s nossos dis, As epistemologias do Norte tém como premissa uma linha abissal que separa as sociedadese as formas de sociabilidade metropolitana * Esses pressupostos baseiam-se num conjunto de convicgdes e de valores que definem aguilo que pode set chamado de cinone da flsofa ocidental, Segundo Waren (2015), ese cinone compreende os seguintes elemento: () um compromiso com 0 racionalsmo, a pespectiva segundo a qual a razio (ou racionalidade)& no apenas a marca de se ser humano, mas também aguilo que toma os humanos supriores a ani- mats nio-humanos ¢@ natureza; (b) uma concepcio dos humanos como sees racionas que so capaes de raciocnioabstrato, de ser orientados por princpiosobjtivs de entender ou calcula as consequéncias dos seus tos; (c)concepcdes do agente moral idea e do sujeito que conhece como inparii,dstaniadse dexntessads (d) crenga em dualismos fundamentais, tis como razio/ emordo, mente/corpo, cultura/natureza, absolutismo/telativismo e objetvidade/subjetvidade;() um pressuposto da existéncia de uma spar onldgia entre humanos/animais e natureza no-humanos;e (fa inivesilidade como crtrio de avaliagio da verdad de princpis tices eepistemo= logicos. Ver também Warren (2008), u _ a is sciedades e formas de sociablidade colonise nos tetmos da Ajualaquilo que évlido, normal ou ético do lado metropolitan dessa linha néo se aplicano seu lado colonial? fato de esa linha ser tio bisica quanto invistvel permite a exsténcia de falos univrsalismos ue se baseiam na experiéncia social das sociedades metropolitanas t (ue se destinam a nn ea justificar o dualismo normativo ‘MettOpole/colénia."" Estar do outro lado, do lado colonial, da linha thissal equivale a ser impedido pelo conhecimento dominante de presentar 0 mundo como seu e nos seus préprios tetmos. |Nisso tide o papel crucial das epstemologias do Norte de conrbuir par ‘eptoducéo do capitalismo, do colonialismo e do patriatcado, As i emologias do Norte concebem o Norte epistemoldgico eutocén- ico como sendo a unica fonte de conhecimento valido, seja qual for ocd geografico onde se produza esse conhecimento, Na mesma tdida, o Sul, ou seja, aquilo que fica do “outro” lado da linha, é lendido como sendo o reino da ignorancia.'' Q Sul é0 problema; Notte éa solucio. Nesses termos, a tinica compreensio valida do Wunclo é a compreensto ocidental. Aalenaco,oestranhamento em relacioa si proprio ea subordinacio ital que esse estado de coisas provoca nas populaces no-ocidentais, indo cientistassociais ndo-ocidentas, so situacdes formuladas de il cloquente peo socidlogo indiano J. Uber. As palavas dese autor fever ser citadasextensamente, j que, apesar de esrtas em 1978, ido que situagdo que descrevem tenha mudado draticamente Pela aplicaco de tis meios¢ possvel fazer com que pare haver apenas um tipo de ciéncia,a ciéncia ocidental moderna, a qual tem hoje o poder de mandar no mundo, Esse conhecimento cientfco e racionaléo armazém da verdade, que existe por si mesmo ¢ és generis, néo havendo nenhum outro do mesmo tipo. Ao resto dé-se, tnt melhor das hip6teses, o nome simpatico de “etnocitncia”e, na } iN Li Hatamcnto mais desenvolvido desse tema, ver Santos (20104, p. 31-83). Ver uiante 9 lito entre excludes abisas ¢ndo-abisas, Ul} domingo ocidentalcénica, camo fo o caso, nomeadimente, do govemio it int wl, arava qual o Esto colonial recor ao direito ¢ a0 governo lihonan cuales tice garni replat crea clonal aa nivel lca, pior, de superstcfo falsae de ignordncia da mais sombria. A légica implacivel dese situagio geral de softimento espiritual, que vem prevalecendo de forma consistente no mundo nao-ocidental desde 1550, ou 1650, ou qualquer outra data histdricasemelhante, produz inevitavelmente em mim, por exemplo, um vergonhoso complexo de inferioridade que eu nunca poderei esperar ser capaz de ultrapas- sat, seja sozinho, seja em boa companhia, Trata-se de uma situacéo falsa que destr6i completamente qualquer originalidade cientfica Com um tnico golpe ¢ capaz de matar toda a alegria interior do entendimento, quer individual, quer coletivo, que ¢ a tnica coisa que verdadeiamente sustentao trabalho intelectual local. E certo que, na natureza das coiss, néo existe qualquer razéo pela qual essa relacéo subordinada ¢ colonial, mais ou menos interrompida no ambito politico por volta de 1950, continue a verificar-se ainda na citncia. A situac2o néo melhorou de todo, pelo que me é dado saber, quando ha o pressuposto da existéncia de dois tipos de teorias diferentes, as importadas e as herdadas, que se mantém de alouma forma unidas entre si, um dos tipos para fins cientificos 0 outto pata fins néo-cientficos. Parece-me que isso apenas substitui o problema da mente subordinada pelo da autoalienacéo intelectual eu rio sei qual dele €0 pior. Na minha opiniéo, ese ¢ 0 principal problema de todaa vida intelectual na India moderna e no mundo néo-ocidental (Usenoi, 1978, p. 14-15). No entanto, o Sul anti-imperil, o Sul das epistemologias do » Sul, néo é. imagem invertida do Norte das epistemologias do Norte As epistemologias do Sul néo t8m como objetivo substitur as episte- mologias do Norte nem colocar 0 Sul no lugar do Norte! 0 objetivo é ultrapassar a dicotomia hierdrquica entre Norte e Sul 0 Sul que se opde ao Norte nao ¢ o sul constituido pelo norte como vitima, ¢ sim osul que se revoltaa fim de ultrapassar o dualismo normativo vigente. A questio nao consiste em apagar as diferengas entre norte e su, e sim em apagar as hierarquis de poder que os habitam, A epistemoloias do Sul afirmam e valorizam assim as diferengas que permanecem de- pois da eliminacio das hierarquias de poder. Q que pretendem ¢ um S s cosmopolitismo subaltetno, daba base para o topo. Em lugar da univer- ~ —pailidad abstata, promovem alten Tn sede um tipo de ~\ pensamento que promove a descolonizacéo potenciadora de pluralismas articulados e formas de hibridacio libertas do impulso colonizador que no passado lhes presdiu, tis como a crioulizacio e a mestigagem, Tal libertagio so ¢ possivel por via da traduelo intercultural nos termos das epistemologias do Sul Asepistemologias do Sul pretendem mostrar que aquilo que sio os critérios dominantes do conhecimento valido na modernidade ocidental, a0 nao reconhecerem como validos outros tipos de conhecimento para além daqueles que sto produzidos pela citncia moderna, deram origem a saberes que prevalecem sobretudo no outro lado da linha abissl has sociedades e sociabilidades coloniais. Tal destruigdo desarmou essas sociedades, tornando-as incapazes de representar 0 mundo como seu ¢ Os seus proprios termos, e, assim, incapazes de considerar o mundo OOmo suscetivel de ser mudado por via do seu proprio poder eno sentido We prosseguir os seus proprios objetivos, Essa tarefa € téo importante “fije em dia quanto o foi no tempo do colonialismo histéico, uma ‘VoL que 0 desaparecimento deste néo implicou o fim do colnilismo ] como forma de sociabildade baseada na inferioridadeétnico-cultual e, —_ —_ i outro: 0 aqui que au Quijano (2005) \ G0 das opresses geradas pelo capitalsmo, pelo colonialismo e pelo roa é,em verdade, acontinuacio do colonials “ pittiarado {io por outros mos, um outo tipo de colonialism Pores rao eu | piehitocontinuara falar de colonialismo para caactetiza o que Quijana thama de colonialidade, uma ver que néo ha nenhuma razéo analitica pita reduair o colonialismo ao tipo espectico que foi o colonilismo histico caracterizado pela ocupacio territorial por poténcia estrangira, Adcontrario do que vulparmente se pensa a independéncia poltca das ‘olbnias europeias néo significou o fim do colonialismo, ¢ sim apenas a Aubstiuigdo de um tipo de colonaismo por outros (colonilismo interno, “eocolonialismo, imperiaismo, racismo, xenofobia ec) Resgatar os saberes suprimidos, silenciados e marginalizados Micias’, am procedimento destinado a mostrar que, dada a rein. + Git da linha abissal, muitas priticas, saberes e agentes que existem Meanie ih. 1 | umlepistemicidio massivo) ou seja, destruicdo de uma imensa variedade ~ | } tequer a pritica daquilo que tenho chamado de sociologia d das au ) ) 1D mec 4 ¥ r= = Ls “ § \ 2 4 0 Ka of I do outro lado dessa linha so de fato ativamente produzidos como inexistentes pelos saberes “deste” lado da linha abissal, especialmen- te quando resistem as exclusdes abissais causadas pelo capitalismo, pelo colonialismo ¢ pelo patriarcado. A identificacéo da existéncia da linha abissal & 0 0 impulo fundador das av epiemologias do Sul eda da desronzagio docon conhecimento que visam empreender Identfcar alinha abissal éo0 ptimeito passo no sentido dea ultrapassa, quet ao nivel epistemoldgico, quer ao nivel politico, Identificar e denunciar a linha abissal permite abrir horizontes relativamente & diversidade epistemoldgica do mundo, Ao nivel epistemoldgico, essa diversida- de traduz-se naquilo que chamo de “ecologia de saberes’, isto é, 0 reconhecimento da copresenca de diferentes saberes e a necessidade de estudar as afinidades, as divergéncias, as complementaridades e as contradicdes que existem entre eles, a fim de maximizar a eficcta das luas de resistencia contra a opressio| Podemos construir um terreno comum alargado na base da alteridade? As epistemologias do Sul rejeitam guetos epistemoldgicos ou politicos, bem como as incomensurabilidades de que se aimentam, Gostaria de trazer discusséo alpuns conceitos que surgiram das luta de ressténcia contra a dominacio ocidentalocéntrica durant os dltimos setenta anos, ¢, mais em especial, durante os ultimos quarenta anos, Esses conceitos foram formulados em linguas néo colonise, apesa desse fato, ou devido a el, adquiriram um peso politico espectfico Os conceites em questo sio os sepuintes: ubuntu, sumak awsay, pachamama, chachawarmi, swaraje ahimsa,” Nos itimos quarenta anos, um impulso crucial para as episte molopias do Sul surge dos povos que softeram mais violentamente 0 epistemicidio provocado pela ciéncia modema e o genocidio resultante do colonialismo europeu. Trata-e dos povos indigenas das Américas, da Aca ¢ da Oceania, Foram ests os povos mais invisibilizados ou tomados descartaves pelo pensamento politico eurocéntrico, incluindo , dara ; ** Bises conceitos sio analisados mais detalhadamente no Capitulo 10. ‘Moria critica, Contra esse apagamento, as espectivaslutas deram forma propostas que ampliaram signiicatvamente a agenda politica ce alguns es, contribuindo assim para revelar novas facetas da diversidade da ex- periéncia social, politica ¢ cultural do mundo, bem como novos repettoros ‘le emancipacio social. Essa experiéncia riquisima perder-se- se no for ‘ttendida e valorizada por meio de uma mudanca cultural capaz de sus- ‘Ativtar uma politica de conhecimento adequada, Para o mundo, tratar-se-4 Tinto de uma perda intelectual como de uma perda politica, Equivaera (tivilizar ou a invisbilizar lutas sociais que, doutra perspectiva seriam Aiiportantes, nio permitindo que essa mesmas Luts contribuam para a pansio eo aprofundamento do horizonte global de emancipacio socal, Os, aprpriaidea de que um outro mundo é posse Aspistemalo ils do Sul sio a expresio da Tua contra um possvel dupl desperdicio ith desperdicio intelectual e um desperdicio politico Seguem-se alguns exemplos, entre muitos outros possiveis, das formas como os guides emancipatrios do mundo vém se expandindo enriquecendo para além dos limites da politica ¢ do conhecimento tidentalocentricos, Em alguns casos, invocam pratcas eideias que sio Mitanhas& politica ¢ ao conhecimento ocidentalocentrico, sendo, por IW0, expressos nas suas respectivas linguas de origems noutros casos, pnstituem equivalentes nGo-eurocéntricos de conceitos eurocéntricos, (mo direito, Estado ou democracia, sendo por isso expressos numa in ps a colonial e normalmente qualificados por um adjetivo (por exem- tie estat-com (“Eu sou porque tu é), teve uma influéncia decisiva i Comisséo de Verdade e Reconciliacto, que lidou com os crimes do on Consiste no prefixo ub e no radical atu, Ubu evoca a ideia de ser em geral (le ura enciclade spect, Nesse sentido, uli esti sempre orientado na direcio do ji, Ao nivel ontalogice aio existe uma separagio estrita entre whi af, Ubi e nt * finlarise motnamente no sentido ern que se trata ce dois aspectos dle ser como emocracia comunititia, Estado plurinacional), 0 conceito de ma nocéesulaficana Que a uma ontologia de ser-com \| Nas palaveas ce Ramose (2001, p. 2), “o temo ubuntu é, de fato, formado por duas) sey imnplicito antes de se manifestar sob a forma ou o modo concreto de existéncia ” = ———— = de sua kawsay, em quéchua, e de suma gamafa, em aimard, foram incluidos nas Consttuigées do Equador (2008) e da Bolivia (2009) para cesignar um horizonte emancipatrio, ou sea, aideia de um buen vivir que prescine tanto do conceto de desenvolvimento quanto do de soci lsmo. O conceito de pachamama, incluido igualmente na Constituicio equatoriana,designa um entendimento no-cartesiano e néo-baconiano de narurea, quer dine, a natuera no como um recurso natural, mas como um ser vivo, fonte de vida, a0 qual sio reconhecidos direitos do mesmo modo que aos seres humanos: os dieitos da natureza lado a Lado com os dititos humanos, ambos detentores do mesmo estatuto constitucional (Capitulo 7, Art. 71 da Consttuigéo equatoriana), 0 conotito quéchua de chachawarmi tornou-se um conceto-chave das lutas de libertagéo de mulheres indigenas em alpuns pases da Amética Latina, Designa uma nocé igulcta ¢complementiia de relacbes entre 0s sexos, dispensando os padrées ¢ as linguagens subjacentes a0 femninismo eurocéntrico, Muito antes das latas que trouxeram os conceitosantriormente refevdos para asagendaspotcs, andhijé.uelinava a lingua hindi para expressar conceitos-chave da sua lua conttao colonialismo britinico, Por exemplo, o conceito de sang entendido como abusa da autodete- - nacéo profunda, muito pata além da independéncia politica, ue érecor- rentemente recuperado em lutas pottcas na India eem outros lugares. Hitainda o conceito de ahimsa,extremamente importante nos textos hin- duse que Gandhi transformou no principio crucial de resisténcia como néo-viléncia, adaptado por grupos sociais na [ndia e noutos paises, como veremos no Capitulo 10, unidade e como totalidade indivisvel. Poderidizer-se que, enquanto entendimento generalzado de ser, ub éclaramente ontldgic; quanto a nfv, enquanto ponto nodal no qual o ser assume uma forma ou um modo conceto de se no processo de um desenrolar continuo, pode dizer-se que € claramente epistemoldgico, Assim, ubuntu € a categoria ontoldgicae epstemologica fundamental do pensamento africano dos povos que falam a lingua banty, © termo wn Possul a mesma caractetistica onto- Togtca do termo ubv, Articulado com ty asia a ser umuntu, Ununtu significa 0 < surgimento do homo loquens, que ¢ simultaneamente um homo sapiens, Umuntu & | 0 fazedor do conhecimento e da verdade nas eas concetas da politica, da rligiio | €o direto, por exemplo”. Segundo Praeg (2014, p. 14), “ubuntu & um exercicio de poder, uma tentativa primordial de faze reconhecer ofto ¢ 0 significado de nee pritucle, valores, tradigdes ¢ conceitos neegros comio tendo igual valor paras peso \n AS uals mnportam”, w ne No que diz respeito a adaptacdes néo-eurocéntricas ou hibridas de _ conceitos eurocéntricos,existem também varios exemplos possivels. O gonceito de democtacaindigena ecomunittia est consagrado no Art I1-II da Constituiéo boliviana como um dos tr tipos de demacracia reconhecidos pelo sistema politico, sendo os outros dois a democracta ‘epresentativa ea democracia paticipativa. O conceito de democraca Comunitaria tem a ver com formas de deliberagio democratica tota- mente diferentes das da democracta representativa e da democracia patticipativa, os dois tipos que s40 normalmente considerados nos ebate eurocntricos sobre a democraca, Um outro exemplo é 0 do Tstado plurnacional, consagrado nas Constituigdes da Bolivia (Art. 1) do Equador (Art. 1)" qual associa 0 conceito ocidental moderno enacio civica ao conceito de nacéo étnico-cultural,e que prope uma (strutura administrativa assimétrica, néo monoliticae intercultural, Oi ainda o conceito de economia sociale solidara, que visa expresar WS Varias formas de economia de base, indigena e camponese¢ 0s tipos Gals) ese baseiam em principios de reciprocidade e de rlacionalidade Situados nos antipodas das logicas capitalistase colonialistas, 0 cardter estranho dos conceitos referidos anteriormente nao deve (er exagerado, Esses conceitos deverio ser entendidos como entidades Cultuais muitas vezeshibridas, mestigagens culturaise conoeiuais, criou- lmagdes que combinam elementos ocidentais e néo-ocidentais, Por um lok ém agendas poiticas mais amplas io necessariamente hibridas, Por iNemnplo, 0 conceito dos direitos da nature (tonforme estabelecido na ( onstituigdo equatoriana) é um conceto ifbrido, que articula elementos Wer texts completos dh Constitaigio de 2009 da Bolivia (do Estado Plutinacional th Bolivia) erm b bisicos com que se constrdi a politica da esperanca, Fnquanto a taefa da socioogia das ausénias é producir um diag- ndstico radical das relacdes sociais capitaistas,coloniais e patriarcais, a sociologia das emergéncias visa converter a pasagem de supresio que surge a partir desse diagndstico num vasto campo de experiencia social intensa, rica ¢ inovadora, Aqui, as epistemologias do Sul encontramse duplamente presente, Por um lado, déo uma atenci epistemoldpica especial as experiéncias embriondras, os “ainda no’, convidando 0 investimento social, politico ¢ analitico a alimenti-las da forma mais capacitadora. Por outto ado, consttuem uma defesaepistemoldgica contra os falos aliados que mutas vezesobrigam esas emergéncias a instalat-se em campos que separam as diversas dimens6es da dominacio modemna existentes os campos do antcapitalsmo, do anticolonalismo € do antipatircado, Com o glamour de que as divisoescisciplinarese tematicas das ciénclas sociais europeias areveste, esa insalacioe separa Gio €, em termoshistOrioos oinstrumento mas violento e incapacitate que tem sido usado para enfaquecer as lutas contra o capitalism, 0 colonialism ¢ o patriarcado, A “ONGuizacéo” internacional da su- posta solidaredade para com as lutas constitu a vetséo mais simples desse proceso de neutralizacto por meio de clasfcacio ou rotulagem (essa questo ¢ aprofundada adiante)* E asim que, por exemplo, a camponesas que lutam pela sua propria dipnidade pela dignidade das suas familias, plas economias locais¢ temas comunitdras e contra os ” Ver Santos (2014, p, 182-183, * “ONGuizagio” refere-se a uma forma de organizacdo da sociedade civil, nacional e intemacional, baseada em onganizacdes ndo governamentais liga a intervengbes tematicas expecificas (mulheres, meio ambiente, cooperagio internacional, direitos humanos ¢ outras). Supostamente, esas QNGs téim autonownit rlativamente ao Estado sea aquele que asacole, sea aguele cm que foram eric, Ver Ray (2044), ta eito pariarcas das suas culturaserligides so levada a assumir itidade epectica ~a de feministas ~apesar de serem igualmente oisas,Iutadora pela defea da terra comunitariae empresis itlists, Trata-se, obviamente, de mulheres, ea maioria conside- | iista, ma so, para além de tudo isso, protagonists (ou vitimas) lias outras agendas locas, naconaise transnacionas - econdmi- litcas, religiosas - que petmanecem fora do sistema de rtuls \ tt log sendo, por esa razdo, negligenciadas ou invisibilizadas, Do HW modo, as comunidades negras da América Latina vém 0s seus WL As suas dancasseculares protepidos sob oestatuto de patriménio f intangtvel, enquanto as suas comunidades continuam a set snciadas,assoladas pela violéncia, aanhadas na materialidade da Who Social, da vida precdria, da falta de acesso asalide €8 educacio, oun mits veres otisco de serem expulsas das suas terras po fala uumentos de propriedade “adequados’. " Distingo tréstipos de emergéncias: ruina-sementes, apropragées igs origiais eautntcas que, apes de historcamentederrotada pelo ’ ilismo e colonialismo modernos, continuam vivasnéo s6 na memoria ho os interstcios do coidiano alienado, e sio fonte de dignidade e (peranca num futuro pés-capitalstae pés-colonial, Como em todas nas, hé um elemento de nostalgia por um passado anterior ao sot Mo injusto ¢&destruigo causados pelo capitalism, pelo colonialism ilo pariacado reconfieurado por ambos, Mas esa nostalgia ¢ vivida Fiodo antinostlgco, como orientacio para um fururo que ecapa ao Hapso das altemativas eurocentricas precsamente porque sempre se iunveexterno a tas alerativas, Pode consi nainvocagio de um Mundo pré-modemno, mas o modo como €invocado é modern, representa iipragto de uma modemidade outa, Estamos perane uinas que io vis, no porque seam “visitadas” por vvos, mas porque so vivias po Wivos na sua prtica de resisténca ede uta por um futuro alteativo, Por Jo, sto simultaneamente rutnas e sementes, Representam 0 paradoxo nitencial le todos os grupos socials que foram vitimas da cartograa ido pensumento abissal modern ao serem “localizados” no outro lado da 1 ie NEP TT ee erry Tt Webeeminicas ¢zonaslbertadas, As ainas-sementes io um presente ic, simultaneamente memoria ealternativa de futuro, Representam v 0 que os grupos sociaisreconhecem como concepges osha e linha abisal, no lado da socabilidade colonial. Para responder a questio *Poderemoscontrur um espaco comum alargada na base do reeombeciment da alteridade” ,necestamos de conceitos néo-eurooéntrcos como os men- cionados na Introdugéo —tais como wownu, sual kawsay¢ pachamama, Voltaremos a ese tema nos captulos seuintes, Tal como sto concebidas pelas epistemologias do Sul, as ruina- sementes esto nos antipodas da atracéo nostalica pelas ruinas que é ptdpria da modernidade ocidental desde o século XVII e que continua presente nos nossos dias, Escrevendo em 2006, Andreas Huyssen chama a atengéo para o fato de nos lkimos quinae ans [tr sugido] uma estranaobsesso por ruinas nos paises transalinticos do Norte, que fazia parte de um discurso muito mais amplo sobre meméria¢ trauma, genocidio e guerra, Essa obsesso contemporinea por ruinas esconde uma nostalgia de uma época anterior que ainda no tnha perdido a capacidade de imaginar fututos outros, (que etd em causa ¢ uma nostalgia da modernidade que tem difculdade em assumir-se apés haver reconhecido as cais- trofes do stoulo XX eas ferdas causadas pela colonizacio interior ¢ exterior que permanecem (Huvssen, 2006, p. 7). E mais adiante especifica que tal imaginacio das ruinas, ao opor-se ao otimismo do pensamento iluminista, “continua consciente do lado negro da modetnidade, que Diderot descreveu como as inevitaves ‘devastagoes do tempo’, visiveis nas ruinas” (Huyssen, 2006, p. 13). Enquanto para 0 mundo colonizador a nostalgia das ruinas € a meméria perturbadora da “face obscura da modernidade”, para o mundo colonizado é simultaneamente a meméria perturbadora de uma destruicéo e o sinal auspicioso de que a destruicio néo foi total e de que o que pode ser resgatado como energia de resisténcia aqui e agora € a vocacéo original e nica para um futuro altemativo, As apropriagies contva-heyeménicas constituem outto tipo de emer- gencia, Trat-se de conceitos, flosofiaseprticas desenvolvidos pelos ru- pos socais domminantes para reproduzir a dominagdo moderna de que os ® Sobre o tema das ruinas, ver, entre outros, Apel (2015); Dawdy (2010, p. 761-793); Hui (2016) e Zucker (1961, p, 119-130), (itis oprimidos se apropriam, ressignificando-os, refundando-os, Ni0-0s, transformando-os criativae seletivamente de modo a il-losem instrumentos de luta contra a dominagéo, Entre tas fighes cito, a titulo de exemplo, o diteto, os direitos humanos, a julia Constituicio. Na minha investigacdo anterior sobre aso- i ritca do dretotateidessasapropriagdes com grande detalhe,”* ibordlado especificamente duas questoes: ‘pode o direito ser io?” e “existe um constitucionalismo transformador?” ” | t) A esse tema mais adiante,” is ls que imperam nas sociedades capitalistas, colonialstas e ls As zonas libertad séo comunidades consensuais bascada icipacdo de todos os seus membros. Possuem uma natureza iva, prefigurativaeeducativa. Consideram-se utopias realist, ot heterotopias.” O seu objetivo écrar, aqui e agora, um tipo ele sociedade, uma sociedade liberta das formas de dominacio jvilecom no presente, Podem surgir no contexto de processos de ls rmplos ou ser resultado deiniciatvasisoladasconcebida para pins alternativas de constructo de comunidade, Essasalternativas ser Vividas ou segundo uma Logica de confrontacao ou segundo pica de existéncia paralla, Vistas de fora as zonas libertadas pa- ntar experiencia sociale experimentacio social. Dat a dimensto (200, p 14-243) e Santos (2015c, p 15-142: 2016. 343-974 Made o veto ser emancipatorio?”€0 titulo da introducio do meu livro As tifuaies i iilem (SANTOS, 2016, p. 17-114). Sobre 0 constitucionalismo transformador, u Sanies (2010), | | guns dos meus trabalhos anteriores analiso mais detalhadamente vitias Minvp(is contri-heyemdnicas de direitos hummanos, Ver Santos (20056, p. 1-26; Pe ARA70, 2007e, p. 3-40); 2013, p. 15-30) e Santos e Martins (2019). gpiranilo-itie emi Foucault, abotdo as heterotopias em Santos (1995, p, 479-482). TOUT TET TT ee TY nT ‘ “ ye eroeiro tipo de emergéncia séo as zonas ibertadas, Trata-se de jue Se organizam com base em principios ¢ regrasradicalmen- » é As comunidades neozapatistas da Sierra Lacandona, no sul do México, que fcaram mundialmente famosas partir de 1994, podem ser conside radas 2onaslbertadas, constcuindo asim um vaso campo de pesquisa pata asocilogia das emergéncia* () Movimento dos Indignados, que ocorteu apds 2011, deu por vezes origem & constituicéo de zonas liber- tadas algumas das quai subsstiram como formas de vida cooperativae associativa muito depois de o movimento ter tetminado.?! Rojava, nas regides autdnomas do Curdisti sitio, pode também ser considerada uma zona libertada organizada com base em principios anarquistas, autonomistas, antiautoritiriose feministas (Dirax et al, 2016), A grande maiotia das zonas libertadas, em especial as que sio Compost por jovens urbanos, tem origem num sentimento de impa- ciéncia historica” Cansados de esperar por uma sociedade mais just, ha pequenos grupos que se organizam para vive de forma experimental, ou sea, para viverem hoje o futuro que ambicionam, porque néo querem esperar mais tempo. Nisso reside o seu carter prefigurativo, Quando nao se trata de meros atos de diletantismo social, por outtas palavras, quando so genuinas¢ implicam riscos ¢ custo, esas zonaslibertadas tonnam-se especialmente prefigurativas ¢ promovem a autoeducacto, Numa época em que aideologia do neoliberaismo proclama que 0 capitalism, o colonialismo e o pattatcado sio a forma natural de vi- vet, as zona libertadas provam o contrario, mesmo se apenas nas dteas testrtas em que ocorrem, A emergéncia reside na naturea performativa e prefgurativa da rebelio, A especifcidade extraotdindria da experiéncia neozapatista reside no fato de ela consttur uma 2ona ibertada também ao nivel epstermologico (ver capitulo 6 e 7). No Capitulo, aprsento a comuna de Oaxaca em 2006 como exemplo do conceito de zona libertada, ™ Analsei ese movimento em Santos (2045b; 20156, p. 115-142; 2016, p. 343-374), * Desde a década de 1970 vém sendo posts em pratica na Europa algumasiniciativas de vida social aut6nom, supostamente isentas de dominacio capitalista, coloiaista € pataral, dos movimentosautonémicos italianos aos movimentos de onpas na Alemanha, Espanha, Holanda e Polénia aos movimentos dos centios socais do Reino Unido, Ver Martines (2007, p. 379-398); Hodkinson e Chatterton (2006, p. 305-315); Polanska e Piotrowski (2015, p. 274-296), Bias iniciativas devem ser analisadas & Tua de uma hermenéutica de suspeigio, porque ha nnuitis Veues umn discrepancia entre 0 que os respectivos promotoresalirimim ¢ aquilo que praticam, A ecologia de saberes ¢ a traducio intercultural t ogia de saberes ea traducho intercultural so as ferramentas iiertem a diversidade de saberes tornada vistvel pela sociologia i icias € pela sociologia das emergéncias num recurso capac Wit, 20 possbilitar uma inteligibilidade ampliada de contextos Hho eresisténcia, permite articulacées mais abrangentes ¢ mais is entre lutas que retinem as varias dimensGes ou tipos de fio de modos diferentes. A ecologia de saberes compreende omentos. Q primeiro consiste na identificacéo dos principas los de conhecimentos que, trazidos & discussio numa dada los ou afetados, riscos e oportunidades, etc. Essa diversdade ¢ eos fascinante no terreno da luta do que no da teoria, Pode ivas que serio incompreensieis para alpuns dos grupos envoli- in tando a opacidade relativamente “aquilo que est em causa’ fl que tem de ser feito”, Pode leva também a uma sobrecarga tedric, politica e cultural, necesariamente presa entre uma Wit Tuicider intelectual ecautela eineficdcia excessivas. O segundo item que, atenta a essa possibilidade aecologia de sabres deve inplementada com a traducéo intercultural e interpolitica, Esta M Visa especificamente reforcar a intligibilidade reciproca sem era identidade, ajudando assim a identifcar complementai- [¢ contradicGes, plataformas comuns e perspectiva altenativas diificagées sio importantes para fundamentar de forma soda es sobre aliancas entre grupos socials articulacdes de Lua, Como para defini iniciativas concretas tanto no que se refete as =. ilidades como aos seus limites inedida em que permite aarticulacéo de diferentes movimen- jais¢ de diferentes lutas, a traducio intercultural contribui para nara derided epistemoldgicae cultural do mundo num fator an | capacitador, promovendo a aticulagéo entre tas contra 0 ialsmno, 0 colonialismo ¢ 0 pattiarcado. A traducio interculeural | + umn exercicio intelectual separado das lucas sociais, motivado NN ee ee) ile cite ai por um impulso cosmopolita qualquer. antes uma ferramenta usada pata, a parti do reconhecimento da difetenca, promover consensos solidos suficientes que permitam partilhar luta ¢ riscos. Néo sendo um exercicio intelectual, nao tem de ser levado a cabo por militantes com ‘perfil intelectual”, nem por “intelectuais orgénicos’, o nome que Antonio Gramsci (1971, p. 6) deu aos membros politizados ou “cons- cientes da classe operdria europeia dos anos 1920, Muito do trabalho de traducio intercultural ocorre em reunides ou sessbes de atividade militante, de capacitacio, de formacio, de educacéo popular, levado a cabo através das intervencoes dos patticipantes, sem protagonismos especiais, Por essa razdo a traducto intercultural também nao é uma atividade excessivamente individualizada na construgo da resistencia ¢ cas uta sociais.E uma dimenséo do trabalho cognitivo coletivo sempre que estio presents ecologias de saberes,trocas de experincias, avalacéo de lutas (préprias¢alheias), escrutinio do conhecimento que os grupos sociais dominantes mobilizam para igor ou desarmar os oprimidos. Q trabalho da traducéo intercultural tem uma dimenséo de cutiosidade, de abertura a outrasexperiéncias, mas é uma curiosidade que nfo nasce por curisidade diletante, nasce por necessidade, Na grande maioria dos casos 0 trabalho de traducio intercultural & desempenhado em grupo, andnima e informalmente em interacbes dominadas pela oralidade. E possve dstinguir vio tipos de taducfo intercultural, quer segundo os processos de tradugio, quer sobre o tipos de conhecimentos ou culturas entre os quais se faz traducio. De acordo com esse citério, a traducio intercultural pode ser difusa ou diddtca. A traducéo inter- cultural difusa a mais frequente, a que, como acabei de refer, ocorre informalmente como uma dimensio do trabalho cognitivo coletivo. Caracteriza-se pela fluidez, pelo anonimato e pela oralidade, A traducio intercultural que ocorte nas oficinas da UPMS (UPMS ¢ o acrénimo da designacdo portuguesa “Universidade Popular dos Movimentos Sociais”) (ver Capitulo 12) ¢ desse tipo. O sepundo tipo ¢ a traducio intercultural didéiea. Ocorre em processos que combinam, por um lado, o individual eo coletivo e, por outro, o oral eo escrito, Diz respeito a situagOes em que lideres de movimentos ou organizacées se distinguem pelo trabalho de traducdo que levam a cabo pata fortaleoer as Luts sociais em que estio envolvidos. A sua individualidade no é nesse iividualista, pois o seu trabalho nao s6 expressa uma vontade [Como estd orientado para fortalecer a luta contra a dominagéo Social, cultural e politica. Por outro lado, a oralidade, que i it pritica da organizacio e da luta politica écomplementada Hex escrita e publicada. No Capitulo 10 apresentarei Gandhi ilo 0 critétio dos conhecimentos ou culturas que patt- Wi tnaducéo, ¢ particularmente relevante cistinguir dois tipos lo: traducbes sul-norte ou norte-sul e traducoes sul-sul, As ii Ocorrem entre conhecimentos ou culturas do norte global hie), € as segundas ocorrem entre diferentes conhecimentos ras clo sul global, “Localizar” os conhecimentos ¢ as culturas ees regides epistémicas do mundo nao significa de modo inar que estamos petante “ménades” leibnizianas, ou se, is lotadas de “razio sufciente”, completamente autonomas §, Depois de tantos séculos de intetc&mbios € movimentos ilonais de pessoas e de ideas, exponencialmente aclerados nas ] vats com a revolucéo das tecnologias de informacao e de igo, ndo existem entidades cognitivas ou culturais puras que ii Compreender sem levar em conta influéncias, miscigenacoes, , Falamos de regioes culturais ou epistémicas como con- file estilos, problematicas, prioridades de pensamento ¢ de acéo ile alouma identidade quando comparados com outros. Tinto a ecologia de saberes como a traducio intercultural foram ie ima andlise detalhada em trabalhos anteriores (Santos, 2006a, MA; 2014a, p. 188-235). Nos capitulos 4, 6 ¢ 7 abordarei os bs inetodologicos da construcao de ecologia de saberes especth- bonitexto de lutas concretas; no Capitulo 10 seréo apresentados entinplos de traducéo intercultural A artesania das praticas Atesania das praticaséo culminar do trabalho das epistemologias il, Consiste no desenho ¢ na validacéo das praticas de luta ¢ de nica evaclas a cabo ce acordo com as premissas cas epistemologias (hs ji eieoun Aaiad Ah din ' “i do Sul, Dada a naturezadesguale combinada das atticulacées entre os tes modos de dominaco modemnos, nenhuma luta social, por mais forte que sea, pode ter éxito se se pensar e organizar como incidindo apenas contra um dos modos de dominagéo, Po mais forte que seja a lta de mulheres conta opatarcado, nunca ted sinificativo eit ses rganizar para lutar exclusivamente contra o pattiatcado, sem considerar que exe, tal como o colonalismo, é hoje um componente inrinseco da dominacio capitalist, Para além disso, numa luta assim concebida pode ser considerado éxito ow vitdria um resultado que, na verdade, implica oagravamento da optesio de outros grupos socias, E 0 mesmo se diga de uma lta de trabalhadoresincidindo exclusivamente conta o capitalism ou de uma lua de grupos vitimas de racism incidindo exclusivamente contra o colonialismo, Daqui decorre a necessidade de construi articulagGes entre aslutas eas resisténcas,Exstem muitos tipos de articulagées possiveis, mas devennos ter em conta trés das principais, que se distinguem pela naturea ais ou néo-abissal a excluséo em cause (1) a artculagéo entre diferentes lutas que resistem, todas es, contra exclusdes abisais; (2) a articulacdo entre diferentes luta que resistem, todas eas, contra exclusdes ndo-abissais (3) aarticulacéo entre luas contra excuses abisaseluas contra excuses ndo-absas, A construio de alancas é em qualquer dos casos complera¢ depende de muitos fatores que ndo tém dtetamente aver com o carter abisal OU néo-abissal das excluses, fatores como, por exemplo, a escala ds aliancas (local, nacional, internacional), a dferenca cultural, a inten- sdade espectica do sotimento injusto provocado por uma exclusio social em particular, o tipo o grau de violéncia com a qual aluta sera provavelmente reprimida, Osinstrumentos ou recursos das epstemologias do Sul analisados anteriormente criam as condig6es pata que taisarticulagdes possam Ocotte, mas 0 modo especifico como elas se concretizam no terteno da lute da tesisténcaexige um trabalho politico que tem aleumas carac- teristicas do trabalho artesanal e do produto de atesanato,()artexio ndo trabalha com modelos estandatdizados, no fan duas pecas iguas, a sua lOgica de construgio néo ¢ mecinica, ma sim de repeticfo-criacdo, Os process sferamentas os materia impéem algumas condi- Goes mas dixam espago para uma margem sinifiativa de liberdade, t ¢ que, quan informado pelas epistemologias do Sul, 0 plcosubjacente i articulages entre aas tem muitas se WW Chim 0 trabalho do arteséo. O) mesmo se aplica ao trabalho Ho (cintthco enéo-cientifco) aser feito no sentido de reforca trabalho politic. Nao obedece a regras sem lhes imprimir didle no modo como obedece, se decide obedecer; nao concebe i, Compromissos ou resolugGes como parte de grandes planos ou funscendentes de transformacio social com prvilétolegslativo i detrinagies mas nao o determinismo, e frequentemente | far em contexto de caos; tem aversio a buroctacias patti it utras que Ihe prendam as mos (o pensamento ¢ a fala) ¢ pean a inovacio ¢ a improvisagéo, Trata-se de um trabalho (Mpecifico que mantém a universalidade a distancia; néo perde qu ose objetivo élutar pela libertacio contra o capitalismo, hi (€ patriarcado, mas procuta sobretudo que a luta politica iminho desse objetivo e seja, ela propria, uma zona libertada, Noi cipltlos 6 a 9, concebo as metodologias enquanto atsaato. Defendo que Wi Clentsta social que trabalha com base nas epistemologias do Sul é um artesio vamente 4 (coria critica, sobretudo o marxismo, sempre prefeciram planos ¢ nlelos prandiosos, bem coin a mecanizagio, a uniformizacio, a normalizagio; ei ek, 16 phibed ud Aid HAA

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