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A psicografia no direito processual FERNANDO RUBIN, Advogado, Bacharel em Direito pela UFRGS, com a disting&o da Laurea Académica. Mestre em processo civil pela UFRGS, com dissertacao publicada pela Editora Livraria do Advogado a respeito do instituto da Preclusao na Dindmica do Processo Civil. Professor da Graduacao e Pés-graduaco do Centro Universitario Ritter dos Reis - UNIRITTER — Laureate International Universities. Professor Colaborador do Centro de Estudos Trabalhistas do Rio Grande do Sul — CETRA-IMED. Professor colaborador do Centro de Orientagao, Atualizagéo e Desenvolvimento Profissional - COAD-ADV. Professor Pesquisador do Mérito Estudos de Porto Alegre. Articulista de diversas revistas em direito processual civil, previdenciario e trabalhista. Membro da Associacao Juridica Espirita do Rio Grande do Sul-AJE/RS. SUMARIO: |. Introdugao — II. A carta psicogratada e 0 espiritismo — Ill. A admissibilidade da psicografia no processo — trata-se de prova licita? — IV. A valoragao da carta psicografada articuladamente com os demais meios de prova — qual 0 peso probatério que deve possuir? V. Breve andlise de casos judiciais paradigmaticos ~ VI. Conclusao — VII. Referéncias. RESUMO: 0 presente trabalho objetiva langar bases mais sdlidas, tedricas cientificas, a respeito da possibilidade de utilizagao da carta psicografada como meio de prova em processos judiciais. Nao sendo desconsideradas as vozes que se colocam contra a utilizacao desse atipico meio de prova, desenvolver-se-a tese que auxilie na adequada e ponderada valoragao da psicografia, juntamente com os demais meios licitos de prova admitidos no direito processual brasileiro. I. Introdugao. 1. Estamos presenciando nos ultimos anos calorosa discussao a respeito da utilizagao da prova psicografada no processo brasileiro, existindo projeto de lei que tenta proibir o uso da prova psicografada (como o de n° 1.705/2007), sendo, a respeito, ouvidos intimeros juristas que se posicionaram de maneira antagénica com elagao A possibilidade de utilizagéo de uma carta escrita do além-tumulo em processos judiciais, de natureza penal ou mesmo civel’ Busquemos, pois, sintetizar os argumentos que vem sendo desenvolvidos, por ambas as correntes, a fim de apresentarmos um esbogo contemporaneo sobre a ‘ POLIZIO, Viadimir, “A psicografia no tribunal”, Sdo Paulo; Butterfly, 2009. p. 154/161 possibilidade de utilizagao da psicografia e, principalmente, sobre o peso que tal prova nAo tipificada em lei pode atingir para auxiliar a decidir um processo judicial Para tanto, faz-se necessdrio investigar a origem e 0 desenvolvimento cientifico do espiritismo, trazer a baila alguns intelectuais importantes, do Brasil e alhures, que estudaram o fenémeno (como Monteiro Lobato © Cesare Lombroso), para que possamos com maior convicgao defender a utllizacéo deste meio licito de prova. Analisaremos, ademais, alguns casos judiciais, jé solvidos, em que se fez uso racional da prova psicografada, a fim de confirmarmos a tese de sua admissao e do modo como escorreitamente deve ser valorado no cendrio processual. Frise-se, por oportuno, que o ensaio é fruto de uma maior reflex4o do tema junto a grupo de estudo formado na Associacao Juridica Espirita do Rio Grande do Sul (AJE/RS)°, a partir de esbogo jé publicado pelo autor a respeito das “provas atipicas™. Il. A carta psicogratada e 0 espiritismo 2. A Psicografia 6 uma manifestagao de prova espirita que representa 0 ato de escrever exercido por uma pessoa dotada de certa capacidade espiritual (médium) em face de influéncia direta recebida de um espirito que dita a mensagem*, ou em palavras mais singelas, "6 a escrita de um espirito realizada 5 através do médium’ A carta psicogralada 6 um dos mecanismos, segundo o espiritismo kardecista, que comprova a comunicagao dos vivos com os mortos. Por certo, nao é a Unica, mas uma das mais convincentes na demonstragao de que existe vida apés a morte e de que os espiritos, em geral, possuem suficiente nogao da sua situago 2 Grupo de estudos de Direito e Espiritismo, que vem se difundindo em vérios estados brasileiros — sendo que ‘em So Paulo os estudos do grupo paulista deu origem a obra de mesmo nome, no ano de 2010, com oordenagaio de Tiago Cintra Essado ¢ preficio de Miguel Reale Jr, (Editora AJE/SP). S RUBIN, Fernando. “Provas atipicas” in Revista Lex de Direito Brasileiro n° 48 (2010). P. 44 e ss. * Com 25 anos de idade, o maior espirita kardecista brasileiro, Chico Xavier, revelou os seguintes detalhes das suas psicografias: "quando grafo as mensagens nas sessées, eu sé fago-0 mecanicamente. Um torpor pesado profongado me invade. Serdo realmente dos nomes que as assinam as piginas entao produidas? Eu nio poderia responder precisamente, porque, entio, a minha consciéncia como que dorme. De uma coisa, porém julgo estar certo: nde posso considerar minhas essas paginas porque no despendi nenhum estorgo intelectual ao grafé-las no papel" (MAIOR, Marcel Soto. "Por tris do véu de isis, uma investigagao sobre a comunic: mortos”. SP: Planeta do Brasil. p. 60). 5 MOURA. Katia de Souza. "A psicografia como meio de prova'" in Jus Navegandi, Teresina, ano 10, n° 1173,

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