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1.2, TIPOS DE BARRAGENS. ESCOLHA DE SOLUCOES 1.2.1. Breve resenha histéric: Desde sempre o homem recorreu, para a construgéo dos aproveitamentos, aos materiais que a natureza directamente the oferecia, a terra, a areia, a pedra, no passado por vezes usados em simultaneo @ de forma indiscriminada. Pontualmente, outros materials, como 0 ago, a madeira ou os betumes, foram também usados. Também desde muito cedo o homem utiizou betdes, misturas de pedras e areia aglutinadas por igantes hidréulicos, no principio a cal ou o gesso, e a partir da sua descoberta no primeiro quartel do século XIX, também o cimento. ‘Ao longo da histéria, todos estes materials foram empregues na construgdo de barragens, essencialmente sob duas formas: ou usados directamente, com diferentes formas de compactago, ou aglutinades por um ligante. ‘As barragens construidas em terra e em pedra solta no aparelhada (barragens de enrocamento) designam-se por barragens de aterro, atendendo a forma como so construidas, e so frequentemente consideradas em conjunto, designadamente em estudos de recorte estatistico. Nos mesmos estudos associam-se, em regra, as barragens de betdo e as de alvenaria, estas titimas construidas, geralmente, ‘com pedra aparehada nos paramentos @ a granel no interior. Na realidade, pode considerar-se que as barragens de betdo séo as sucessoras naturais das barragens de alvenaria. Quer nas barragens de alvenaria, quer nas de betdo, a coesdo entre as “particulas” é conseguida @ custa de um ligante hidréulico. As barragens de betdo e de alvenaria podem ser obras de gravidade (gravidade maciga ou aligeirada), obras em arco (também designadas barragens abdbada), em contrafortes e em abébadas mitiplas. a ‘As modemas obras de betéo compactado com cilindros (BCC) se do ponto de vista do material ‘so betdo, do ponto de vista das técnicas construtivas se assemelham a obras em aterro. Para além da diferenciago entre terra @ enrocamento, em primeira anélise decorrente do tamanho das “particulas’, as principais diferengas nas barragens de aterro referem-se & natureza @ estrutura, quer dos macigos, quer dos érgaios de estanquidade e drenagem. Obras hd, de que s4o exemplos, em Portugal, as barragens do Caia, do Roxo e de Odivelas, com um trogo em betdo e outro em aterro, outras havendo, como a barragem de Itaipu, na fronteira entre o Brasil, a Argentina e o Paraguai, que tm uma zona construida em betdo, outra em enrocamento e uma terceira em terra. E ainda comum a construgdo de obras de betéo em que se associam estruturas em ‘abobada, usuaimente no vale principal, com outras de gravidade, como 0 caso da barragem do Alto Flabagio, no Norte de Portugal. ‘Os primeiros projectos de rega e de barragens datam de ha mais de 6000 anos, na Pérsia. As barragens de aterro foram as primeiras a ser construidas. Os aterros de maior comprimento foram erguidos pelos habitantes do Ceiléo (actual Sri Lanka). Estas obras desempenhavam varias funges, tais como desvio de cursos de agua, armazenamento para rega e abastecimento de agua e intercep¢o de sedimentos para posterior cultivo. Na Antiguidade, na india e no Celio, um método comum de construgao de barragens de aterro envolvia a colocagao de barreiras de terra em linhas de gua WANSEN, 1983). Os materiais de aterro eram transportados em cestos e alguma compactagdo era conseguida através das pisadas dos trabalhadores. © autores: José Mora Ramos e Laura Caldeira 17 Os antigos construtores de barragens fizeram uso indiscriminado de solo @ de enrocamento. Como apenas tinham conhecimentos rudimentares de hidrologia e de mecanica dos materials, nomeadamente de mecanica dos solos, os seus métodos de projecto e de construgo eram em regra muito empirices, pelo que ocorriam rupturas frequentes. No entanto, hd noticia do uso, na China, hd mais de 1000 anos, de um cone de penetragdo, para caracterizagdo da qualidade dos aterros e, durante a Dinastia Ming (1368-1644), da realizagao de ensaios de &gua em furos executados nas barragens de aterro (CNCOLD, 1987). Os descarregadores de muitas destas obras, quando existiam, estavam integrados no seu corpo, sendo os paramentos de jusante dotados de revestimentos em escada de pedra, para dissipagéo da energia da dgua @ para protecedo da estrutura contra a eros. Na Peninsula Ibérica, durante a ocupago romana, foram construdas cerca de 80 barragens, istribuidas ao longo das principals estradas romanas (SCHNITTER, 1994), destinadas & rega, & pprotecgao da terra arével contra a erosdo, ao abastecimento de agua as cidades, a0 fornecimento de ‘energia a minas para operagéo de bombas ou equipamentos elevatérios. Entre elas salienta-se a barragem de Comalbo (ainda operacional) para abastecimento de agua a Mérida (Fig. 1.5). Tem eixo longitudinal rectilineo, aproximadamente 24 m de altura acima da fundagdo e 200 m de desenvolvimento. A sua seccdo transversal 6 trapezoidal, com base menor (largura do coroamento) variével entre 7 m (num encontro) @ mais de 12 m (no encontro oposto) e base maior com a espessura méxima de 118 m, na fundago. O niicleo 6 constituido por uma estrutura alveolar de paredes de alvenaria preenchida com enrocamentg e argita. Primitivamente, este nticleo estava contido num aterro de terra, limitado a jusante por um paramento com uma inclinagéo de 3:1 e a montante por um paramento com uma inclinagdo de 1,5:1, dotado de revestimento de alvenaria, para protecgo contra a acgéo da mareta. Merece ainda referéncia a barragem de Alcantarilha, construida apés a conquista de Toledo em 193 A.C. (SMITH, 1992), uma obra de cerca de 20 m de altura e 550 m de desenvolvimento, ‘com 0 nticleo em alvenaria a granel ligada por argamassas de cal e paramentos de alvenaria aparethada. Em Portugal est infelzmente submersa, pela criago de uma nova albufeira, a barragem de Monte Novo (Fig. 1.8, QUINTELA et al, 1986), uma obra em arco, que foi eventualmente reconstrufda a partir de uma estrutura inicial, de provavel construgéio romana. No Pals sio ainda de referir as barragens de terra de Egitania, Lameira e Orca, no distrito de Castelo Branco, e a barragem de alvenaria de Alferrarede, no concelho de Abrantes, as primeiras de construgdo romana e a tttima provavelmente drabe, mas tendo como origem uma obra também romana (QUINTELA et al, 1995). AS barragens de Egitania e da Orca tém eixo recto e a de Lameira um tragado poigonal, devido ao seu maior desenvolvimento (380 m) @ & necessidade de adaptagdo & topografia. Esta barragem tem uma albufeira de 840 000 m®. A barragem de Alferrarede tem 13,5 m de altura, uma albufeira de 147 000 me a sua estrutura 6 constituida por um duplo muro de alvenaria com um aterro intermédio. ‘Apés 0 primeiro miténio, os avangos importantes na construgao de barragens de aterro deveram- se, sobretudo, ao esforgo de “engenheiros” asiticos, dedicando-se os ‘engenheiros” europeus principalmente @ construgao de obras de alvenaria. Nos primeiros 18 séculos D.C. os japoneses construiram cerca de 30 barragens com attura superior a 15 m, todas em aterro. Destas salienta-se a ‘barragem de terra de Kaerumataike, construida em 162, no Rio Yodo, com 17 m de altura @ 260 m de comprimento (JANSEN, 1983). Na Europa, a construgdo de barragens de aterro, com alguma expresséo, reiniciou-se no século XVII, No inicio deste século foi construfda, a cerca de 30 km de Turim, em Itdlia, a barrage de Ternavasso (JANSEN, 1983), uma obra de aterro com 7,6 m de altura.e 335 m de desenvolvimento. A largura do coroamento varia de 5,2 m até 7,7 m. O paramento de montante 6 vertical e é constituido por uma parede de tijolo, com aproximadamente 0,6 m de espessura, revestida com argamassa e apoiada em contrafortes de 1,8 m de espessura. 1.8 Figura 1.6 — Barragem de Monte Novo (QUINTELA etal, 1986), Entre 1687 © 1675, foi construida, no rio Laudot, préximo de Toulouse, Franga, a barragem de aterro de St. Ferreol (JANSEN, 1983), com 36 m de altura e 780 m de comprimento, em cujo peril estéio incluidas, ao longo de todo © comprimento da barragem, trés paredes de alvenaria, uma em cada face & ‘outra no centro. A parede central tem uma espessura de 5 me atravessa a altura total da barragem até a0 seu coroamento. O enchimento entre paredes & constituido por enrocamento e solo. Todos os imateriais da estrutura foram, evidentemente, colocados & mao. Na Gra-Bretanha, no século XIX, © projecto e a construgdo de barragens de aterro foram baseados em conhecimentos empfricos, adquiridos na construcao de diques para navegaao e de agudes com fins ornamentals. As obras eram essencialmente constituidas por um nicleo de pasta argilosa e macigos estabilizadores com deciives muito suaves. Até 1930, em pouco mais de um século, foram construidas na Gra-Bretanha cerca de 260 barragens de aterro com altura superior a 15 m, principalmente para abastecimento de daua, tendo ocorrido apenas quatro rupturas (SCHNITTER, 1994). 19 Em contraste, de cerca de 380 barragens de aterro construldas até 1930 nos Estados Unidos 9% romperam, 3/5 das quais nos primeiros dez anos de exploragdo (SCHNITTER, 1994). A principal causa das rupturas fol 0 galgamento. As rupturas estruturais devem ser atribuidas ao empirismo do seu Projecto e construgo, sem a integrago da experiéncia anteriormente adquirida, bem como a considerdvel predisposigao para a inovago, a qual foi, no entanto, determinante para 0 progresso da engenharia destas obras. : Uma destas inovagdes 6 devida a Wiliam Morris (1838-1852) que adoptou um novo zonamento intemo de materials na barragem de South Fork (Fig. 1.7, SCHNITTER, 1994): a metade de montante da secgo transversal era constitufda por pasta argilosa e separada, por uma zona de transigao em xisto, do macigo de jusante, que consistia em enrocamento solto. ‘A primeira barragem de enrocamento para rega fol construida em Otay Creek, a sudeste de San Diego na Califémia (1886). Consistia num simples depésito de biocos soltos de rachas, colocados em ambos os paramentos segundo o seu angulo de atrito natural, e impermeabiizado por um niicleo central de ago. Barragens de enrocamento semelhantes foram impermeabilizadas, a montante, com revestimentos de madeira, ago ou betdo, permitindo maiores redugées do seu volume, jé que todo o corpo da barragem era mobilzado para resistir ao impulso da agua. O uso de niicleos de terra em barragens de enrocamento, dotados, de ambos os lados, de zonas de transigao apropriadas, torou-se mais tarde muito comum. Figura 1.7 - Esquema da secgao transversal da barragem de South Fork {SCHNITTER, 1994). Em 1876, foi completada a primeira fase da barragem de Lower San Leandro, para servir as populagées do lado este da Bala de San Francisco, na Califérnia (SCHNITTER, 1994). Uma caracteristica especial desta estrutura de aterro é dispor de uma vala central na fundago, escavada 9 m abaixo do leito do rio e dotada de trés paredes corta-4guas de betdo (cada uma com 0,9 m de espessura e 1,5 m de altura) com cerca de metade da sua altura ancorada na fundagéo. O material de aterro foi langado por vagdes e espalhado. A compactagao fol conseguida pelos rodados dos vagdes @ por um conjunto de cavalos, conduzidos de um lado para o outro no aterro. Durante milénios o homem deu as barragens de alvenaria formas adquiridas pela experiéncia, ‘mas que continham em si algumas das caracteristicas bésicas que a engenharia mais tarde thes conferiria: as solugdes em gravidade e em arco, ambas reforgadas ou no com contrafortes ou nervuras, existem desde que existem barragens. Crisus, construtor de uma barragem arco para abastecimento de agua, préximo da actual fronteira entre a Turquia e a Siria, durante o reinado de 1.10 Justiniano, 565 - 527, d.C., concebeu uma obra "em forma de crescente, para que pela sua forma, com ‘a convexidade vollada para montante, resistisse melhor & violencia do curso de dgua’ (SCHNITTER, 1967). A construgao de barragens gravidade de alvenaria terd certamente comegado ha 3000 ou 4000 ‘anos. Mas foi apenas no século passado, e apés a ocorréncia de alguns acidentes, que surgiram as primeiras tentativas de teorizagdo, por vezes algo ingénuas, e com elas as preocupagées com a seguranga: em 1853, Sazili propds que a tensao de compresséo maxima, quer com abbufeira cheia quer vazia, fosse a mesma e tanto quanto possivel constante em toda a altura da barragem; em 1872, Rankine defendeu que as obras de gravidade (de alvenaria) deviam ser construidas por forma a no terem tensdes de tracgo; em 1895, Levy, na sua famosa "Comunicagdo & Academia Francesa de Ciencias’, propds a regra que estabelecia dever a tensdo de compresséo no material do paramento de montante, em cada ponto, ser superior & pressdo da dgua nesse ponto para a albuleira cheia (THOMAS, 1979). As primeiras barragens em arco, de alvenaria, so também muito antigas. E certo que, fosse por abstracgdo matemética, fosse em resultado de tentativas e “experiéncias” diversas, desde pelo menos 08 tempos romanos se construiram obras em arco de formas muito correctas. impuiso decisivo no projecto das grandes absbadas de betio, veriicado na segunda metade do século XX, deve-se, por um lado, ao desenvolvimento dos modermos métodos de dimensionamento , por outro, a0 dominio que se foi adquirindo das caracteristicas dos materiais e das técnicas construtivas. 1.2.2. Tipos de barragens (de aterro e de betdo). Disposigées construtivas 1.2.2.1. . Barragens de aterro”? 1.2.2.1.1. Conceitos basicos Genericamente, as barragens de aterro podem classificar-se como segue (Normas de Projecto de Barragens): + de terra, com perfil homogéneo ou com perfil zonado; = de enrocamento, com érgéo de estanquidade a montante ou com érgao de estanquidade interno; = mistas, com perfil constituido por d macigos, um de terra e outro de enrocamento. ‘Como acontece com qualquer classificacao, também esta no é exaustiva. De facto, hd outros tipos de obras que a classificagdo anterior no considera, como, por exemplo, as constituldas por um ‘macigo de betdo (convencional ou compactado) e um macigo de terra ou enrocamento. ‘A classificagao anterior pressupde uma distingo entre os materiais incorporados nos macigos de terra @ nos de enrocamento, que assenta nas seguintes caracteristicas distintivas (Notmas de Projecto de Barragens): . = 05 materiais incorporados nos macigos de terra séo constituidos, essencialmente, por solos, 0s quals se caracterizam por granulometrias mals ou menos extensas, com larga predomindncia de elementos de dimensées inferiores a 2 mm, admitindo-se a presenga de elementos mais grosseiros, desde que ndo formem uma estrutura; 0 comportamento dos macigos de terra, dos pontos de vista da compactabilidade, da deformabilidade, da resisténcia mecénica e da permeabilidade, é condicionado pela matriz dos elementos finos; 41 = 08 enrocamentos exibem, em regra, dimensies com larga gama de variagdo, sendo 0 limite ‘superior fixado por aspectos técnico-construtivos e podendo o limita inferior atingir a dimenszio da argila; a presenga de particulas finas (com dimensées inferiores a 0,074 mm) pode ser prejudicial para _o comportamento mecdnico dos enrocamentos compactados; uma granulometria extensa favorecerd a obtencdo, apés compactagdo, de uma acentuada diminuigo do indice de vazios, com 0 consequente aumento de resisténcia @ redugdo da deformabitidade, Uma barragem de terra, quando devidamente projectada e construida, pode ser constitulda por uma grande variedade de solos naturals. A possibilidade de adequacdo a grandes deformagdes sem ruptura @ a elevada relagdo base/altura que as caracteriza constituem factores que recomendam este tipo de barragem para fundagSes brandas, compressivels ou permedvels, j4 que as tenses aplicadas 20 solo de fundago so bastante reduzidas e 0 trajecto da 4gua percolada através da fundagdo é necessariamente longo. E evidente que, em qualquer caso, as tensdes devem ser compativeis com a capacidade resistente da fundagdo, as deformagées néo devem ultrapassar os limites aceitéveis © as condigbes de percolagdo ndo devem propiciar a ocorréncia de eroséo interna. ‘As barragens ds enrocamento, por seu lado, tém que possuir um dispositive que assegure a sua impermeabilidade, pois 0 enrocamento que as constitu, por definigdo grosseiro e sem finos suficientes, no pode assegurar tal fungao. A impermeabilizago do corpo da barragem pode ser conseguida através da execugo de uima cortina estanque vertical, sensivelmente no elxo da barragem (solugo, no que se refere:é percolacdo, praticamente equivalente a uma barragem de terra zonada) ou revestindo o talude de montante com uma membrana impermedvel (de betéo, madeira, ago, material betuminoso ou telas pldsticas). Como as cortinas ou membranas sofrem deformagées importantes, em virtude dos assentamentos dos enrocamentos, quase sempre significativos, adoptam-se juntas adequadamente dispostas e cispositivos especiais para evitar rupturas comprometedoras para a impermeabilizagao. E habitual incluir, a jusante das membranas e cortinas,fitros capazes de controlar, sem risco de eroszio interna, as infitragdes acidentais, garantindo assim uma seguranga adicional as obras. Em relaglo as barragens zonadas com nicleos argilosos, as que dispem de cortinas de materiais manufacturados podem ter vantagens em locais com boa fundagdo rochosa e em que ndo existam solos.com as necessérias condigbes de permeabilidade para serem empregues no niicleo. O ‘menor volume que os aterros de barragens com cortina exibem é, por outro lado, um factor que pode ter luéncia decisiva num estudo econémico comparado. Um tipo de barragem que se tornou muito comum é a barragem zonada, constitulda por macigos estabilzadores de enrocamento @ por um niicleo central protegido, a montante e a jusante, por fitros de espessura € granulometrias variéveis. Esta solugdo enquadra-se numa perspectiva de optimizagao de uso dos materials disponiveis, colocando-os, de forma adequada (isto 6, de acordo com as suas caracteristicas mecénicas e hidréulicas), nas diferentes zonas do corpo da barragem. ‘As barragens de terra e enrocamento, com nuicleo central ou com niicleo inclinado, atingiram alturas sem precedentes (200 m na barragem de Nurek, na ex-URSS) e constituem, conforme referido, uma das solugdes mais frequentemente adoptadas no dominio das barragens de aterro. Referidos os tipos de barragens de aterro e as caracteristicas dos materiais que, no essencial, as constituem, indicam-se seguidamente, para cada um deles, os perfis transversais tipicos, a sua evolugso @ a respectiva justificagao. 1.2.2.1.2. Pertistipo ‘As barragens de perfil homogéneo (“homogeneous fill dams") so, geralmente, construidas com argilas, argilas arenosas, areias argilosas e misturas de argilas, areias e cascalhos, podendo ainda ser 1.42 construidas com solos mais permedveis, tais como areias siltosas, areias e cascalhos arenosos, desde ‘que a percolagdo seja aceitavel : Neste tipo de barragens, todo o macigo serve pata controlar a percolagéo da agua e para transmit cargas & fundagao (Fig. 1.8, na qual, tal como nas seguintes, adaptadas de FELL et al, 1992, ‘0s ndmeros inseridos em circulos correspondem ao tipo de materials descritos no Quadro 1.1). Nao dispbe de dispositivos especiais de controlo de percolacao, fitros ou drenos, pelo que é particularmente susceptivel a rupturas por erosdo intema @ a fluxos de dua emergentes na face de jusante. Wilner? Nive era de davalacoru-iguas Sancamento Figura 1.8 - Pertibtipo de uma barragem de terra homogénea (adaptada de FELL et al., 1992). Os aterros deste tipo foram usados, no passado, em grandes barragens. No entanto, a ‘ocorréncia de acidentes @ incidentes relativamente frequentes e a comprovagao da eficiéncia de dispositive de fittragem @ de drenagem, conduziram & limitagao do seu uso a barragens com altura inferior a 5 m, em locais de baixo risco. Numa fase posterior, para evitar 0 aparecimento de agua iho paramento de jusante, dotaram-se as barragens de perfil homagéneo com dreno de pé de jusante, capaz de captar e escoar os caudais devidos & percolago pelo corpo da barragem. Estes aterros foram construidos com materiais tipicos das barragens homogéneas, mas com um pé de jusante permedvel de enrocamento ou de cascalho (Fig. 1.9). (© contraste de granulometrias dos materials envolvides impés a colocago de um fitro adequado entre os solos da barragem e os materiais do dreno de pé de jusante. Figura 1.9 - Barragem de terra homogénea, com dreno de pé de jusante {adaptada de FELL et al, 1992). Se a relagao entre a permeabilidade na direcgao horizontal (ky) e a permeabilidade na direcgao vertical (ky) fosse proxima da unidade, o dreno de pé atraftia 0 escoamento da Agua percolada, controlando assim a eroso Interna e a percolagao. No entanto, como a razéo entre as permeabilidades {kivky) em aterros compactados 6 geralmente superior & unidade, o controle da erosio interna e da percolagdo era pouco eficiente, pelo que os caudais percolados continuavam, por vezes, a emergir, de um modo descontrolado, na face de jusante. (Os aterros com drenos no pé de jusante foram usados, no passado, em grandes barragens, mas ‘08 incidentes e acidentes devidos a ocorréncias do tipo das mencionados limitaram 0 seu uso a barragens de menor dimensio. A eventual construgo, no futuro, de barragens com estas caracteristicas, deve limitar-se a pequenas barragens, com altura inferior a cerca de 10 m, em locais de baixo risco. Em algumas barragens foi adoptada uma solugdo conceptualmente semelhante a do dreno do pé de jusante, mas na qual 0 controlo da-percolagéo através do corpo da barragem, visando evitar @ ‘emergéncia de Agua no paramento de jusante, era assegurado por um tapete drenante (Fig. 1.10). As barragens de terra com tapete drenante séo construidas com materials semelhantes aos das barragens 1.43 homogéneas, mas com um dreno horizontal, composto por areias ou areias e cascalhos de alta permeabilidade, na zona de jusante, no contacto do aterro com a fundagao. Figura 1.10 ~ Barragem de terra homogénea, com tapete drenante (adaptada de FELL et al, 1992). Tal como referido para o dreno do pé de jusante, também a eficiéncia do tapete drenante depende da razo ky/ky. Desde que, para o material do aterro, esta razo seja préxima da unidade, a linha de saturagao nao atinge © paramento de jusante, escoando-se a agua através do tapete. Se 0 dreno for projectado como um fitro, a erosio intema & também, deste modo, controlada. No entantp, yvky 6 por vezes muito allo @ a agua pode, “ignorando” o tapete drenante, emergir no paramento de |usante, no havendo controlo eficaz nem da percolagdo nem da erosdo intema. No passado foram construfdas barragens até 50 m de altura s6 com tapete drenante. Apesar de algumas destas barragens poderem estar operacionais, desde que convenientemente instrumentadas @ observadas, a adopedo desta solupdo no é considerada, hoje, boa pritica. Os aterros apenas com tapetes drenantes devem ser imitados a barragens de pequenas dimensdes (com altura inferior a 10 m) ‘em locais de médio a baixo risco. ‘© compiemento da solugo anterior (tapete drenante) com um dreno vertical (dreno chaming) deu lugar as barragens de terra homogéneas dotadas de dreno vertical @ tapete drenante. Apesar de frequentemente considerados como uma inovagdo relativamente recente, os drenos chaminé foram usados em barragens relativamente antigas (por exemplo, a barragem de Sherburne Lake, construida em Montana, USA, entre 1915 e 1918, dispunha de um dreno vertical cuja espessura variava entra cerca de 1,53 m (SHERAAD et al, 1967). Estas obras so igualmente construldas com matetiais semelhantes aos das barragens homogéneas, mas dispondo de um dreno vertical e de um tapete drenante, compostos por areias ou areias e cascalhos altamente permedvels (Fig. 1.11). Figura 1.11 - Barragem de terra homogénea, com dreno vertical e tapete drenante (adaptada de FELL et al, 1992). (© dreno vertical intercepta a percolagéo através da barragem, sendo a dgua a ele affuente conduzida para jusante através do tapete drenante. Assim, desde que ambos os dispositivos tenham capacidade de escoamento suficiente, o macigo a jusante do dreno vertical permaneceré nao saturado, Este controto 6 independente da razdo ky/ky do aterro, Para além disso, se 08 drenos forem projectados obedecendo & condicao de fitro, em relagéio ao material do aterro, a erosdo interna estard também controlada, Quando colocado directamente sobre a {undacdo, 0 tapete drenante intercepta também a agua percolada através desta, controlando, deste modo, as pressées intersticiais na sua zona superficial @ evitando a instalagao de pressdes no aterro geradas por este tipo de circulagdo de dgua. Se a camada inferior do tapete for dimensionada como filtro do material de fundago, controlard também a erosdo interna da zona superficial da fundagdo. Isto é particularmente importante para barragens construidas 1.44 sobre solos permedvels (areias, misturas de aria e cascalho e solos argilosos com estrutura permedvel) ou sobre rochas alteradas ou fissuradas de franca permeabildade, as quais séo potenciaimente erodiveis. Existem muitos exemplos de barragens deste tipo com alturas variando, em geral, entre 30 e 50 'm. O controlo da percolagao e da erosdo interna que este tipo proporciona recomenda a sua adopeao ‘em barragens de elevado risco. ‘Apesar de, construtivamente, o dreno chaminé vertical ser mais facil de executar, o problema da transferéncia de tensdes entre materiais de diferente deformabilidade justificou a adopgo de drenos cchaminé inctinados em grande nimero de barragens. ‘Como seria de prever, aos drenos chaminé e tapetes drenantes associaram-se drenos de pé de jusante, por forma a garantir a continuidade ao tapete e constituir uma seguranga adicional para fazer face & eventual colmatago do dreno chaminé ou do tapete drenante ou ainda a grandes e inesperados fluxos provenientes da fundacao. A indisponibilidade de solos com caracteristicas relalivamente homogéneas cedo conduziu as barragens de perfil znado. Como se compreende, uma das solugbes que desde logo se perspectivou, e cuja generalizago sofreu um enorme impulso com a evolugdo das técnicas de escavagao, transporte e colocagéio, e com o crescente dominio do comportamento de misturas de solos e de rochas, consistiv no aproveitamento dos materiais disponiveis com adequadas caracteristicas de resisténcia e de Permeabilidade para 0 macigo de montante e/ou 0 niicleo, @ na utlizagao dos restantes materiais no ‘macigo de jusante ou nos macigos de mohtante e de jusante, onde a sua fungdo é a de assegurar a estabilidade. Assim, como variante as barragens de terra homogéneas surgiram, primeiramente, as barragens de terra de perfil zonado (“zoned fil dams"), com todo 0 corpo da barragem constituldo por argitas, argilas arenosas, areias argilosas e misturas de argila, areia e cascalho. O zonamento decorre da adopgdo de diferentes energias de compactagdo e teores em Agua, tendo a zona que assegura rimordialmente a impermeabilizagao um maior grau de adensamento e de teor em gua. Essa zona inclui o macigo de montante @ 0 niicleo (Fig. 1.12) ou apenas 0 nicleo. Alternativamente, os macigos podem ser construidos a partir de rochas alteradas de baixa resisténcia, que fracturam durante a ‘compactagao, formando assim uma mistura de solo e de rocha, com permeabilidade superior, mas com material granular fino suficiente para permitir algum controlo da erosdo interna (sem necessariamente obedecer a algum critério de fitros). Mais recentemente, tem sido frequente a adopgo de perfis-tipo zonados, formados por solo @ enrocamento, de que sao exemplo as barragens de terra @ enrocamento com ndcleo central. O nucleo ‘central deste tipo de obras 6, em geral, constituido por materiais de aterro andlogos aos descritos para ‘as barragens homogéneas, mas também pode ser constituldo por materials mais permeévels, como areias sitosas ou rochas alteradas compactadas, desde que a permeabilidade (e 0 caudal percolado resultante) seja aceitével. O niicleo 6 ladeado, a montante e a jusante, por macigos da enrocamento. Idealmente, a rocha a usar nos macigos establizadores deverd ser resistente e durével, de modo a Constituir enrocamentos permanentemente drenados, embora, na pritica, nem sempre sejam respeitados em absoluto estes critérios. Para controlar a erosdo interna so ainda colocados fitros entre © niicleo @ os macigos de enrocamento (Fig. 1.13). Figura 1.12 - Barragem de terra zonada (adaptada de FELL et al,, 1992). 1.15 Desde que 0 enrocamento seja suficientemente permedvel, a 4gua percolada através do nucleo de terra atinge rapidamente a zona do macigo de jusante junto & fundagao, mantendo-se a restante zona, por isso, praticamente seca. As pressdes intersticiais no nucleo sao dependentes da razdo ky/ky do seu material constituinte, mas como esta zona é suportada pelos macigos de enrocamento, a estabilidade nao é particularmente sensivel a estas pressdes. Figura 1.13 - Barragem de terra @ enrocamento com nucleo central (adaptada de FELL et at, 1992). : Este perfittipo, com 0 nucleo central de solo e os macicos estabilizadores de enrocamento, 6 adequado para a construgdo de barragens de grande altura, sendo de realgar que foram jé construidas por este processo, conforme referido, barragens que atingiram alturas da ordem de 300 m. Para barragens com altura inferior a 20 m, a escolha desta solugéo envoNve algumas dificuldades na construgao, devido ao reduzido espago disponivel, revelando-se, em geral, mais econémicas outras ‘solugdes. ‘Algumas soluges de barragens de terra @ enrocamento fazem deslocar o nticleo para montante, para as proximidades do paramento (barragens de terra @ enrocamento com nicleo inclinadc). Estas baragens (Fig. 1.14) utiizam os materials indicados para as barragens referidas nos parégrafos anteriores, mas oferecem, relativamente as titimas, as seguintes vantagens: = necessidade de menor quantidade de solo na materializagao do niicleo; = ‘a colocagio dos materiais do niicleo e dos fitros pode ser posterior & construgo do macigo, de jusante, fella durante épocas chuvosas, quando a colocagdo dos solos se revela impraticavel, = a construgdo faseada ¢ faciltada pela colocagao do nuicleo junto ou muito préximo do talude de montante. ‘A aparente vantagem decorrente da possibitdade do talude de jusante ser mais inciinado 6 usualmente contrabalangada pela necessidade de dotar 0 talude de montante de um deciive mais moderado do que o requerido para barragens com nucleo central. controlo da percolago e da erosdo interna para este tipo de perfil 6 adequado, ndo existindo assim limitagao teérica para a altura das barragens realizadas com nucleo central ou incinado, tendo, por esse motivo, ambos os processos sido usados na construgao de grandes barragens. Tal como no ‘caso anterior, em barragens com altura inferior a 20 m, a construgao torna-se complicada devido a limitagdes de espago, podendo outros tipos de barragens resultarem mais econémicos. Figura 1.14 - Barragem de terra e enrocamento com niicleo incinado para montante (adaptada de FELL et al, 1992). 1.16 Num outro tipo de barragens de enrocamento a impermeabilizagao é assegurada por um érga0 estanque manufacturado, colocado no paramento de montante ou na zona central do corpo da barragem. Deste grupo salientam-se as barragens de enrocamento com cortina de betdo. Destas, as mais frequentes s4o construidas com enrocamentos drenantes, com uma camada amortecedora, de enrocamento seleccionado, entre a laje de revestimento do paramento de montante, de veto, @ 0 aterro de enrocamento, de modo apciar uniformemente a laje (Fig. 1.15). A laje € betonada sobre o enrocamento (normalmente depois deste estar totalmente construido), armada, com juntas de contracgao, dotadas de dispositives de estanquidade, de modo a ter em conta as deformagdes provocadas pela retraccao do betdo, pelas variagdes térmicas ambientais e pela deformagao induzida pela pressao hidrostética. Na zona de contacto do paramento de montante com a fundagéo, esta laje é prolongada por uma estrutura mais rigida de betéo armado (viga ou laje), devidamente encastrada na fundagdo e designada por plinto, capaz de conferir uma ligago estanque entre a cortina de betdo ¢ a fundago. © plinto é idealmente ancorado em rocha s8, ndo erodivel e de baixa permeabilidade. Em formagées rochosas fracturadas ou menos resistentes executam-se cortinas de consolidago e de impermeabilizacao a partir dos plintos ou de galerias neles projectadas, Figura 1.15 — Barragem de enrocamento com membrana de betdo no paramento de montante (adaptada de FELL et al, 1992). ‘A presenga do enrocamento garante, pelas caracteristicas drenantes associadas, que nao ha desenvolvimento de pressdes intersticiais, pelo que o limite maximo da inclinagso dos paramentos de montante @ de jusante é 0 angulo de atrito do enrocamento, ‘A camada amortecedora de enrocamento 6, geralmente, dimensionada de modo a limitar 0 escoamento se ocorrerem fendas na laje ou se as lAminas de estanquidade das juntas de contracgao romperem, actuando como um fitro em relagdo ao solo subjacente. ‘As cortinas impermedveis de betao armado podem também, como referido, ser localizadas, como ‘um niicleo, no interior do aterro. Ambas as solugdes tem vantagens e inconvenientes, havendo autores que, dada a maior faciidade de acesso e a maior estabilidade que conferem & barragem, so favoréveis localizagao da cortina no paramento de montante. Com efeito, como se indica na Fig. 1.16, a resutante da pressio hidrostética tem, neste caso, uma componente estabilzadora, e toda a base de contacto da barragem com a fundagéo contribui para resistir ao deslizamento. Figura 1.16 — Localizagao de cortinas de betéio em barragens de enrocamento. ‘O dimensionamento de cortinas interiores de betéo armado (no 6 aconselhdvel 0 uso de cortinas de betdo simples), quer no respeitante & espessura, quer no respeitante &s armaduras, tem de ser muito baseado na experiéncia, dado que a avaliagéo do seu comportamento se apresenta particularmente dit ‘Adopta-se, por vezes, uma zona de solo argiloso adjacente & cortina, para colmatagao de qualquer fenda que eventuaimente se produza nessa cortina. No passado foram utiizados, em alternativa ou conjuntamente, revestimentos metaticos, de elevado custo. Os principais problemas decorrentes do uso de cortinas de beto armado no paramento de ‘montante estavam associados a fenémenos de fendiihagdo resultantes de importantes assentamentos dos aterros apés a construgdo, mais significativos no caso de macigos de enrocamento. No entanto, na hip6tese de ruptura localizada da cortina, os escoamientos dai resutantes ndo afectavam grandemente ‘a establidade dos macigos constituldos por materiais grosseiros permedvels. Outro tanto no sucede ‘com os aterros de materials finos, pols a auséncia de um sistema de drenagem adequado pode provocar problemas de erosdo interna ou aumento das pressées intersticiais, susceptiveis de afectar a establidade do macigo. Mais recentemente, com a utilzagdo de enrocamentos de granulometria extensa, devidamente compactados, os assentamentos associados so moderados, o que justifica 0 aumento do numero de barragens de enrocamento com cortina de betdo a montante, colocada apés a execugdo do aterro. Para barragens com menos de 20 m de altura, a tecnologia construtiva envolvida na execugéo da laje torna a solugdo anti-econmica. Este tipo de barragens 6 particularmente adequado para a construgdo em areas de elevada precipitagdo, onde a colocacao de aterros com solos é impraticavel, € ‘em locais com boas fundagdes rochosas. Em algumas barragens, em vez da cortina de betdo tem-se adoptado umia membrana mais deformével, de belo betuminoso. Esta solugdo envolve preferencialmente a utlizago de rochas drenantes ou aterros de areia e cascalho, mas tem sido usada uma extensa gama de solos de ‘enrocamentos. A membrana de belo betuminoso 6 construida no local, e usualmente consiste numa estrutura tipo “sandwich*, com pelo menos duas camadas de betdo betuminoso que actuam como membrana impermedvel e uma camada drenante, também de betéo betuminoso, mais poroso (ICOLD, 1982). A ocorréncia de temperatura elevadas provoca perturbagées, lais como enrugamento, fissurago superficial e escorréncia do material que podem afectar a funcionalidade da cortina. © controlo da percolagdo e da erosdo interna é assegurado pelo betdo betuminoso (dadas as caracteristicas de impermeablidade e de flexibiidade deste tipo de material) e petas camadas drenantes do aterro. A aptidao deste material para exibir um comportamento estanque 6 muito aumnentada com a diminuigo do indice de vazios da mistura apds a compactagao, obtida com as modernas técnicas. No entanto, a execugao de betuminosos, particularmente em superficies muito incinadas, implica um controlo e supervisdo de grande rigor, @ 0 recurso a equipamento e a mao de obra especializados, © uso de betdo astaitico no interior do aterro, em alternativa a sua colocagao no paramento de ‘montante, pode ser ditado pela sismicidade, pela previsio de assentamentos elevados ou pelas condigdes climéticas, com temperaturas elevadas. “Tam sido projectadas barragens, com altura excedendo 50 m, com cortina a montante de betdo. Contudo este tipo de projecto é normalmente apicado em barragens @ albufeiras de pequenas dimensées. Por outro lado, o belo betuminoso tem sido usado como material de nicleo num fimitado nimero de barragens de terra e de enrocamento, geralmente quando néo se dispoe de solos adequados em quantidade suficiente. Uma outra opeo consiste na colocagao de chapas de ago a revestir 0 paramento de montante. ‘As chapas so dotada de juntas de dilatagdo, dispSem de protecgéo catédica para controle da corrosao aplicam-se a aterros com caracteristicas semelhantes aos revestidos a betéo (armado ou betuminoso). As vantagens associadas & maior deformabiidade e & rapidez de consirugéo sao contrabalangadas pelo seu elevado custo e pelo problema da corrosdo, pelo que, na decisao sobre a adopgao de uma solugdo deste tipo, todos aqueles factores deve ser devidamente ponderados. As cortinas intetiores em ago tém sido pouco utiizadas, limitando-se a algumas barragens com aura inferior a 40m. Em reparages, @ por vezes na fase de projecto, tem-se recorrido a membranas finas, constituidas por elastémeros (isobutileno), por plastémeros (potetileno de baixa densidade, cloreto de olivini), com espessura varidvel até 2 m, ou por betuminosos, com espessura variével até 8 mm {ICOLD, 1981). Os aterros so construidos com areias, areias e cascalhos ou enrocamentos, com uma fina membrana colocada na face de montante. A membrana é apoiada numa almofada de areia ou de cascaiho e coberta por areia, enrocamento ou lajes pré-fabricadas, para a proteger da exposi¢ao solar, da acgo da mareta e de detritos futuantes. A|ICOLD (ICOLD, 1981) recomenda que a aplicagdo de membranas de reduzida espessura seja limitada a barragens com alturas inferiores a 30 m. Contudo, no futuro, quando 0 aumento de experigncia no uso de membranas d& garantias da sua aplicabllidade em boas condigées, parece provavel que este tipo de solupdo possa ser adoptado em barragens mais altas. 12.2.1.3, Critérios de projecto Independentemente do perfiHipo adoptado, as exigéncias fundamentals do ponto de vista da seguranga estrutural a que deve obedecer o projecto de uma bartagem de aterro séo as seguintes: = 08 talides tém que ser estévels em todas as situagées de construgéo @ exploragdo da barragem, incluindo 0 esvaziamento rapido da albufeita; no caso de a barragem se situar numa zona sismica, deve igualmente assegurar-se a sua estabilidade do ponto de vista dinamico; = © corpo da barragem nao deve impor tensdes excessivas & fundacdo; = a percolagdo da 4gua no macigo, na fundagao e nos encontros deve ser controlada, para evitar 0 risco de fenémenos de erosdo intema @ de dissolugao de materais. A veriticagéo da seguranga de uma barragem de aterro ndo esté limitada & garantia de uma reduzida probabilidade de ocorréncia de ruptura por escorregamento, De facto, as barragens homogéneas ou zonadas, com boas condigdes de fundagao, possuem enormes resisténcias do ponto 1.19 de vista mecnico, pelo que a establlidade de taludes, desde que dimensionados por métodos adequados, no pde problemas de maior. Pelo contrério, so os fenémenos de erosdo interna aqueles ‘que necessitam de um maior controlo. Assim, por exemplo, defeites no arranjo dos firos adjacentes ao nidcteo pode conduzir a um fenémeno localizado de erosao interna ou piping, do tipo progressivo, ou & perda, por arrastamento, de quantidades apreciéveis de material do niicleo, que vao assim preencher 8 vazios da massa de solo ou enrocamento situada a jusante. A erosdo intema é o arrastamento de particulas do solo, do interior da barragem ou da fundagdo, produzido pela percolagéo da dgua. A erosio interna tende a propagar-se para montante, a partir do ponto de safda da 4gua, sob forma de passagens continuas ou tubos, até atingir o talude ou superticie da {undagéo a montante, produzindo-se assim 0 piping, um dos fenémenos que conduzem mais rapidamente & ruptura de uma barragem, 12.2.1.4, Materiais Uma barragem deve ser projectada de modo a satislazer as condigées topogréficas @ de fundagao particutares do local de implantaco e @ usar os materials de construgao disponiveis, pelo que no existem realmente projectos tpicos ou “standard’. No entanto, pode ser referida uma lista de fungdes @ caracteristicas gerais dos materials que constituem cada uma das zonas assinaladas nos perfis-tipo, atrds sucintamente descritos. Assim, 0 Quadro 1.1 apresenta, para o sistema de numeragao usado nas Fig. 1.8 a 1.16, a fungdo e a descriggo dos materiais tipicamente usados nas diferentes zonas de barragens de aterro. Realga-se, no entanto, que a boa prética da engenharia de barragens ‘envole a utiizacao dos materiais disponiveis no local, em lugar da procura de materiais com ideias. preconcebidas acerca das suas propriedades. Esta regra nao se aplica aos filros 2A e 28, para os quais se devem seleccionar materiais densos, duros e duréveis, com particulas de dimensdes compreendidas entre limites apertados. 1.2.2.1,5. _ Protecgdo do coroamento e dos paramentos ‘A manutengo do corpo da barrage em boas condiodes envolve a adopgdo de medidas de protecgo da sua superticie exterior, ou seja, do coroamento @ dos paramentos de montante e de jusante. ‘© coroamento deve possuir inclinagao para a albufeira, de modo a escoar a agua das chuvas, ¢ ser, eventualmente, coberto com um pavimento para permitir 0 tréfego de veiculos, Nos coroamentos no pavimentados 0 transito, se existir, provoca a abertura de sulcos e a acumulagdo de agua na superficie, com posterior infitragao, o que 6 indesejével. Se ndo forem adoptados pavimentos ¢ sensato manter 0s veicuios afastados desta zona, construindo-se vedagées em cada uma das extremidades. (Os paramentos das barragens de aterro tém que set protegidos da acgdo erosiva das aguas: 0 de montante do efeito das ondas que se formam na abufeira sob a acgéo do vento e, o de jusante, da acgio da dgua das chuvas. A proteogdo dos taludes pode ser feita de varias maneiras, sendo a escolha conticionada por razées econdémicas, uma vez que 0 seu custo é uma fracgo ndo desprezavel do custo total da barragem (10-30% em grandes barragens, podendo atingir 50% em pequenas barragens). 1.20 ‘Quadro 1.1 ~ Zonas e fungdes dos materiais de barragens de aterro (adaptado de FELL et al, 1992). ZONA | oESCRIGAO FUNGEO. MATERIA'S DE CONSTRUGAO ‘Agi, arglas arenesas, arias argiosas, reise + | soo Conacto ¢apercelagto | stones, posshetmenta com algun cascatho, através dabaragem, Gerdmanio mais 60 15% (60 poferincia mai) tom dmanabosnlvores 875 yon ‘iar @ erilo da zona ¥ evo 8 prclagso. ‘sia cu aris com cascaho, com manes da 5% (40 Evian a erste 6a tundagso | poterécia 2%) do pariouasinarres a 75 ym. OS Five tno (ou | 68 Baragem quando usaco | fs dover ser no plisioos. Coram consttér 20 | eno) ‘come lapel crenanin. | camadas de malrais compacios que cbedacam a Eviar © aumento das | requstes de drabidada © do dwaza idnicos 20s prossdes intrsicas no | epteados do botio. AS dimensdes das paricuas Taki €o jusarta quando | obedacem & condo de vo ado como deno vara Evian a erctdo da zona 2A | Aroas com cesalho ou cancalcn aancecs, Dever resemens ac errcarario, | conta camadas da malate compactos que 25 | Ge gente | Owe: doue percatca | sbecacom a rguiios do dublado o do deze taco 00 stro vera! | idbsoes acs agrgadoe do blde. As drenses das eutaota deans. sac cbodece& condi de ito ‘ets com cascaho eu cascahes avnsos bom ra 7 ee Fie ie on | Saeraewonio ca 2098 16 | craduados em 100 % das pacts com dimes eles ilove 875 memo no mais do 6% cam demonaton 2 | se sco o | cmaamenioce montana. | iyafres 275 pm Os nos dove seo listens Ms Sse ewcamenn | Onset co om re ae Seemed |oeeeet mc ts in os ss ma 2h “pour antemanane alae | Canalo arena shana bem gadaeds, Germestmerioemtetio 9, | protrencalmena com 212% do. pariaias 7 se octet fandhapto de | Genes inlroves a 75 ym pera rodath a bjo ov mpta de lrinas | permaaikéads (SHERARO © OUNNGAN, 1985) 2 ecanquac, tar 0 | Pred com dares at 200 mm so peas excoanero algunas evasion (TTZPATAICK ol 1985), ‘peer wnommarere ae Camada 0 betio amas acu, so | © won See ee ce de modo a recutor uma mistura bem graduada de = nemo awiar® | aréatascaholgodo,satsazendo a condo de fo ecm | ented 20 isha | on Coneiresaiidade a | Enccamerio, co prlerbnde dence, raiktonlo © renar © tux do. tqua | crnanle apis a compactazde, mas mutas vazes 850 através ou sc a baragem. | aeates. mateials com corocorisicas infeiors. & Ear a ertdo da zona 28 | compactado om camadas ce 05 a 1m de expesaua, (G0 exter) telatvarene | com una dimensio misima das particles igual & soemocamento reesei, | espessua dacamada. Ewocamant, de protariada Genes, restora @ ‘ronan ape a compacta, mas mut vezes so 22 | grasa oe | cower escoamenn, evar a an__| Erocamants Confer esiabiidade @ —— ane mmtas com ccs ines € 28 | Gommra | Ss ta eels 0 | ceccasoemcamasde 104 1mde oem can oe cai ana an paras scuas cyt, Gammon | Etaa aio do tito te [Eros sonore «dat. dered «| Sreamene | aus poset pe |p ara ote oe mn Cauewonamga | esomstn No passado, os paramentos de montante foram, muitas vezes, protegidos por enrocamento colocado & mao, permitindo assim adoptar pequenas espessuras de revestimento. Nas barragens recentes, por razées econdmicas, usa-se enrocamento langado. O enrocamento de protecgao deve ser cconstituido por blocos de rocha que sejam idealmente: = suficientemente grandes para dissipar a energia das ondas sem se deslocarem; ~ suficientemente resistentes para ndo se desgastarem ou fracturarem; 1.21 = suficientemente durdveis para suportar os efeitos da exposigao aos agentes atmosféricos (a longo prazo) e a fiutuagdes do nivel da albufeira, sem enfraquecimento, ateragéo ou fracturagao. Em barragens de terra, o enrocamento 6 construfdo como uma camada separada, devendo ser colocado sobre um filtro, de modo a evitar a erosdo do solo subjacente (Fig. 1.17). Alternativamente, pode-se adoptar uma zona mais espessa de ‘enrocamento de blocos de maiores dimensées, empurrados contra o paramento de montante. Em barragens de terra e enrocamento, 0 enrocamento de protec¢do 6, geralmente, obtido ‘empurrando para a fronteira o enrocamento da zona 3B, de maiores dimensées. Apenas em barragens ‘em que se antecipa uma severa acedo das ondas @ a zona 3B de enrocamento é de pequena espessura ou no suficientemente durdvel 6 que serd necessério colocar uma camiada separada. ‘Camada de profecgdo do coroamento Figura 1.17 - Protecgio do coroamento ¢ dos paramentos de montante e de jusante em barragens de terra (adaptada de FELL et al, 1992). Em barragens em que se pode garantir um nivel minimo de exploragdo bem acima da base, & possivel diminuir ou dispensar a proteccao de enrocamento na zona inferior do paramento de montante (Fig, 1.18). © enrocamento de protecgdo deve ser adoptado a partir do nivel minimo de exploragao descontado de duas vezes a altura da onda de projecto (H), para ter em conta o nivel da cava desta ‘onda. A este nivel deve ser colocada uma pequena banqueta, para suportar a camada de enrocamento @ impedir a erosdio do talude durante o primeiro enchimento da albufeira. Figura 1.18 — Protecgo do coroamento e dos paramentos de montante e de jusante em barragens de terra com um nivel minimo de exploracao. significativamente acima da base (adaptada de FELL ef al., 1992). Em pequenas barragens, particularmente as localizadas em zonas de minas, onde existem em permanéncia equipamentos de movimentacdo de terras @ de rochas e também desperdicios de rochas, a escolha do enrocamento de protecgo pode ndo ter em conta a ocorréncia de danos devidos @ ac¢o de grandes ondas, ou a fracturagdo dos blocos de rocha sem durabilidade, uma vez que as reparagdes necessérias podem ser prontamente realizadas. (© tamanho dos blocos de rocha do enrocamento de proteccéo, a espessura da camada @ os requisitos para a camada de fro so determinados pelo tamanho das ondas expectaveis na albufeira pela natureza dos solos do aterro ou do enrocamento sob a protecgao. Os tipos de rochas normalmente 1.22 usadas incluem quartzitos, arenitos, caleérios, dolomitos, marmores, granitos, dioritos, gabros, basaltos, andesitos © gnaisses. A maioria das rochas sedimentares, xistos e rochas argilosas, $80 inadequadas ara 0 enrocamento de protecgao porque fracturam sob o efeito de ciclos repetidos de molhagem e de secagem e de gradientes térmicos elevados. Como anteriormente se referiu, entre 0 revestimento de enrocamento de protecgdo e 0 aterro é ecessério interpor uma camada de filtro (usualmente areia) que evite o arrastamento para 0 exterior ‘dos matetiais mais finos do corpo da barragem, em vidude das depressdes causadas pela acrdo das vagas ou pelo escoamento das 4guas das chuvas entre o revestimento @ 0 talude, Hé ainda outros tipos de revestimento de proteceao do paramento de montante, tais como lajetas de betdo, asfalto ¢ solo-cimento. Em locais onde néo existam blocos de racha com a qualidade e a durabilidade necessérias, & possivel usar belo projectado com armaduras. O solo-cimento provou também ser uma protecgo satistatéria, mesmo a longo prazo, Nas barragens de terra e enrocamento e de enrocamento com cortina a montante, o talude de jusante é de enrocamenio, pelo que nao se colocam af problemas de erosio superficial, sendo apenas necessério que a sua superficie tenha um acabamento uniforme (Fig. 1.19). Figura 1.19 - Proteogdo do coroamento e do paramento de montante em barragens de terra e enrocamento (adaptada de FELL et al, 1992). Em barragens de terra, © paramento de jusante é potencialmente erodivel pelas chuvas, sendo necessério recorrer a revestimentos de enrocamento, de espessura inferior aos adoptados a montante (0 USBR (1977) indica como espessura suficiente 0,30 m), ou, quando as condigies climaticas sao favordveis, a coberturas vegetais adequadas. Adoptam-se, simultaneamente, banquetas para reduzir a velocidade e 0 efeito erosivo do escgamento das aguas ao longo de taludes de jusante de grande altura, com caleiras inseridas na intersepggo de montante, prolongadas nos encontros por valetas, para conduzir as aguas recolhidas (Fig. 1.20). A erosdo na zona de contacto entre o aterro € os encontros também deve ser controlada através da colocagdo de valetas. Para evitar o bloqueamento da saida do tapete drenante por solo erodido, deve sempre colocar-se uma banqueta imediatamente acima deste tapete, no paramento de jusante. As valetas devem ser limpas regularmente, de modo a evitar a sua obstrugo por solo ravinado, ‘com maior incidéncia antes do crescimento da cobertura vegetal. Por vezes, em obras importantes e como seguranga adicional, ulliza-se uma guarda continua, preferencialmente deflectora, tendo em vista impedir que ondas, de altura excepcional, possam deteriorar 0 coroamento e o paramento de jusante da barragem. 1.23 ALBUFEIRA Figura 1.20 - Banquetas, caleiras e valetas no paramento de jusante de barragens de terra (adaptada de FELL ot al, 1992). 1.2.2.1.6. Tratamento da fundacdo Aaavaliagdo das caracteristicas do terreno de fundagéo deve incidir sobre trés aspectos distintos: ‘a permeabilidade, a deformabiidade e a resisténcia mecanica. Devido & sua melhor adaptagdo a qualquer tipo de fundagéo, as barragens de aterro séo construidas sobre formages de maior permeabilidade, sendo necesséiio usar dispositivos para controto da percolagdo e, nomeadamente, dos respectivos gradientes hidréulicos e pressées intersticiai podendo recorrer-se a varios sistemas, dependentes da fungo da barragem, da natureza da fundacéo, da profundidade das camadas permeéveis e dos métodos de execugéo disponiveis. O problema reside na escoha da solugao mais econémica entre as que se revelarem eficientes. De um modo geral, recorre-se & conjugago de varios dispositivos para controlar com maior seguranga a percolagdo na fundagdo. (O controlo da percolagao em formagées rochosas é tradicionalmente conseguido por tratamentos Por injecgbes de produtos com composigao adequada, no sendo importantes as repercussdes nos Perfistipo ¢ na concepgo do corpo das barragens, excepto no que se refere & decisdo sobre a inclusdo de uma galeria de injecgdes. Entre outras vantagens (SILVA GOMES, 1991), a adopedo de galerias nas barragens de aterro permite: ~ a execugdo simultinea do tratamento das fundagSes e da construgao dos aterros; = quando devidaments inseridas (parcial ou totalmente) no macigo de fundagéo, a observagao directa, durante a construgao, das caracterfsticas deste macigo; = apés ou durante a construgao do aterro, a execugao de cortinas mais eficientes e econémicas, por aplicagdo de pressdes de injecgdo mais elevadas em formagdes com a permeabilidade reduzida (devido & compressdo das fissuras e das diaclases, induzida pelas tenses de peso préprio do aterro), com furos de injecggo de menor comprimento, sem alravessamento do aterro, e com menores desvios relativamente &s atitudes previamente definidas; = @ realizagdo de inspecgées visuais e a instalagdo de equipamentos de observagao do ‘comportamento da fundago (piezémetros, drenos com medigao de caudais e extensémetros) de grande relevancia no diagnéstico na localzagdo de eventuais anomalias; 1.24 3 oO = a correcgo, com grande economia, de anomalias detectadas, através da execusdo, a partir dda galeria, de furos de reconhacimento e de injecgdes adicionais. Opve-se a este conjunto de vantagens, 0 elevado custo associado @ sua execugdo quando ‘comparado com a solugéo alternativa, constituida por uma viga de encabegamento dos furos de injecgdo, necesséria em rochas muito fracturadas ou de reduzida resisténcia mecanica. A viga minimiza a fuga de calda de injecgdo para a superficie e proporciona uma certa impermeabilzagao na zona superior da fundagao. No caso de formagdes aluvionares, as técnicas de controlo de percolagéo so bastante diversiicadas. Quando vivel, o sistema mals eficiente consiste em adoptar uma vala corta-dguas, a qual é executada por escavacdo até & camada impermedvel e posterior preenchimento com material compactado de caracteristicas impermedvels (geralmente material do nicleo). Na Fig. 1.21 indica-se, esquematicamente, esta solugo, que ndo é mais do que um prolongamento, em vala, do nuicleo impermedvel, interceptando totalmente a camada permedvel, solugo que s6 6 econdmica se esta camada tiver uma espessura pequena e se ndo houver necessidade de rebaixar o nivel fredtico para permitir a execugdo a seco do aterro do corta-dguas. Garante uma redugao significativa, sendo a eliminagdo, da percolagao e dos gradientes hidraulicos. Formagio de baixa permeabilidade Figura 1.21 - Barragem de aterro com vala corta-guas (adaptada de FELL et al, 1992). Quando a solugdo anterior ndo for possivel, opta-se por outras solugdes, alternativas ou concomitantes (por sintese de exposicdo, esquematizadas conjuntamente na Fig. 1.22), tals como: - cortinas corta-dguas, de lamas densas injectadas, ou de bello, mokdadas no solo, com atravessamento total ou parcial da camada permedvel, as quais reduzem a percola¢do e os gradientes hidréulicos de saida, controlando a eroséo interna e aumentando a seguranga a0 levantamento hidréulico; = tapetes impermedveis a montante, que produzem um aumento do percurso da percolagao no terreno de fundagdo e, deste modo, diminuem os caudais percolados e os gradientes de saida; = tapete drenante invertido a jusante, destinado a0 controlo dos gradientes © das presses intersticiais, mas produzindo um aumento dos caudais percolados, = drenos verticais ou pogos de avo @ galerias de drenagem, capazes de controlar 0s gradientes € saida da fundagdo, quando a presenga de aquiferos confinados reduzem a eficiéncia dos tapetes drenantes; = banquetas estabilzadoras, as quais methoram a establlidade do talude de jusante e aumentam fa seguranga ao levantamento hidréulico e & anulagdo da tensAo efectiva provocada pela existéncia de gradientes hidréulicos elevados. 1.25 Formago de baixa permeabilidade Figura 1.22 — Exemplos de outros dispositives de controlo da percolagéo @ da erosdo interna em fundagSes de barragens de aterro (adaptada de FELL et al, 1992). ‘Quando os depésites aluvionares so relativamente espessos, pode pér-se a alternativa de permitir um certo grau de percolagéo, ainda que controlada por um método seguro (como corta-4guas parcial, tapetes impermedveis a montante, pogos de alivio). ‘As cortinas corta-éguas com atravessamento total da camada permedvel_utiizam-se quando é muito importante ndo perder agua da albufeira por infitragao e/ou os riscos de erosdo interna so significativos. As solugées com tapete impermedvel a montante’e com pogos de alivio ove tapete drenante invertido adoptam-se quando a perda de agua ndo é condicionante e os riscos de erosdo interna na fundagéo so pequenos. Pode reduzir-se o caudal perdido para valores aceitéveis utlizando tapetes impermedveis de comprimento adequado. A deciséo é tomada comparando os custos de uma _ cortina corta-dguas total e do tapete impermedvel necessério. Para iguais condigdes de fundago e de tapete impermedvel a montante, a solugo com pogos de alivio da origem a maior perda de gua do que com um tapete drenante invertide. No entanto, a ‘solugao com pogos de alivio tem malor flexiblidade @ é mais segura, pois permite um controlo mats fécil durante a exploragao da obra, podendo aumentar-se, em caso de necessidade, o niimero de pogos. Do ponto de vista de deformabiidade das fundagdes, os principais problemas ocorrem quando nessas fundagdes se incluem estratos de areias sollas ou de argitas moles. ‘A ocorténcia de areas num estado pouco compacto nas fundagdes de barragens pode dar corigem, em certas circunstancias, a fendmenos de liquefacgo, ndo sendo criticas a sua compressibildade e a sua resisténcia mecanica. Qualltativamente, os factores que determinam a susceptiblidade duma fundago arenosa a liquefacgo so a variagao do indice de vazios provocada por tensdes de corte, o grau de dissipagéio das press6es intersticials geradas pelas tensGes e a taxa de aplicagéo destas mesmas tensdes (ritmo de construgéo dos aterros da barragem), o regime de exploragdo da albufeira e as solcitagdes sismicas. ‘As solugées para uma compactagao do material in situ so 0 recurso a cargas explosivas, a vibroflutuagao e a cravagao de estacas de brita ou areia. (Os locais com depésitos espessos de solos moles @ compressiveis devem ser evitados. Nessa impossibilidade, 0 problema da establidade tora-se de andlise particularmente difici, devido a ificuldades de caracterizag&o mecanica das formagGes (principalmente em argilas muito plésticas) ¢ a um certo desconhecimento da evolugo no tempo dessas mesmas caracteristicas mecdnicas. Devem ser estudadas duas situagdes: a fase de construgdo, em que as cargas associadas ao peso préprio dos aterros so pela primeira vez transmitidos & fundago, e o comportamento a longo prazo, para situagdes de pleno armazenamento e de esvaziamento répido. © comportamento a longo prazo constitui a ‘questo dominante no projecto da barragem, ndo s6 pelas duvidas que 0 comportamento da fundagao argilosa levanta nestas condigdes, mas também pelas consequéncias bem mais graves de que se reveste a ocorréncia de um escorregamento na situagéo de pleno armazenamento, 1.26 Existem varias técricas para contornar as dificuidades de uma fundagdo argilosa excessivamente deformével, entre as quais se referem: a substituigao, total ou parcial, da argila mole, o recurso a drenos verticals de areia, a adopcao de patamares de construcéo com um desfasamento conveniente, © uso de banquetas de compensacao e a ullizagao de taludes excepcionalmente adocados. 1.2.2.2. . Barragens de alvenaria e de bet&o"” 1.22.21. Conceitos basicos ‘As batragens de gravidade (em francés designadas por barrages-poids, traduzindo 0 nome o seu principio de funcionamento), de alvenaria ou betdo, so concebidas e calculadas para resistir, apenas pelo seu peso, ao impulso da agua que retém (VARLET, 1966). ‘A secedo transversal de uma barragem de gravidade tipica & aproximadamente triangular (Fig. 1.28) e a planta recta ou com ligeira curvatura. EvolugSes das barragens de gravidade sao as barragens descarregadoras e as barragens méveis. Nas barragens de gravidade a passagem das chelas dé-se frequentemente sobre trechos galgavels: barragens descarregadoras munidas ou néo de comportas. As barragens descarregadoras dizem-se méveis quando a drea total controlada por comportas 6 uma fracgdo significativa da secgo transversal do vale (e, portanto, quando & pequena a sobrelevago do nivel da dgua provocada pela barragem durante a passagem de cheias importantes). Figura 1.23 ~ Barragem de gravidade. Esquema tipo. © dimensionamento das barragens de gravidade deve atender, basicamente, aos seguintes requisites: seguranga ao derrubamento segundo qualquer plano horizontal, definido no compo da bbarragem ou no contacto com a fundagao; seguranga ao desiizamento em qualquer plano horizontal, definido no corpo da barrage ou no contacto com a fundagao e, ainda, segundo qualquer

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