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LINCECIATURA EM ENGENHARIA HIDRÁULICA

Cadeira: Obras e Máquinas Hidráulicas


Tema:
Propagação de Cheias em Albufeiras
Trabalho em grupo

Elaborou, estudantes do 40 ano:


• Biatriz Hilário Dique Quene
• Frederico Jorge Alberto
• Lemos Luís Frederico Lemos
• Óscar Alexandre Manuel

Corrigiu: M.sc. Eng° Alfredo Silvério Majamanda


Eng° Cremildo Pedro
Trabalho entregue aos 04 de Julho de 2022

Trabalho entregue aos:___________________

Songo, Julho de 2022


INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DE SONGO

LINCECIATURA EM ENGENHARIA HIDRÁULICA

Cadeira: Obras e Máquinas Hidráulicas

Tema:

Propagação de Cheias em Albufeiras

Trabalho em Grupo

Elaborou, estudantes do 40 ano:

• Biatriz Hilário Dique Quene


• Frederico Jorge Alberto
• Lemos Luís Frederico Lemos
• Óscar Alexandre Manuel

Corrigiu: M.sc. Eng° Alfredo Silvério Majamanda


Eng° Cremildo Pedro
Trabalho entregue aos 04 de julho de 2022

Songo, Julho de 2022


Índice
1. Introdução .......................................................................................................................... 1

1.1. Objectivo geral ............................................................................................................ 1

1.2. Objectivo específico .................................................................................................... 1

2. Memoria descritiva ............................................................................................................ 2

2.1. Situação de propagação de cheias a considerar ........................................................... 2

2.1.1. Generalidade ........................................................................................................ 2

2.1.2. Propagação de Cheias num Descarregador sem comporta .................................. 3

2.1.2.1 Cálculo da propagação da cheia pelo método de Plus num descarregador sem
comportas ………………………………………………………………………………..6

2.1.3 Propagação da cheia num descarregador com comportas ......................................... 7

2.1.3.1. Cálculo da propagação da cheia pelo método de Plus num descarregador com
comportas… ..................................................................................................................... 13

3. Conclusão......................................................................................................................... 15

4. Bibliográfia ...................................................................................................................... 16

5. RESOLUÇÃO DE EXERCICIOS ........................................................................ 17


PROPAGAÇAO DE CHEIAS EM ALBUFEIRAS 04 de Julho de 2022

1. Introdução

O presente trabalho insere-se na área da Hidráulica e Recursos Hídricos, abordando processos


de análise da propagação da cheia numa albufeira, começando pela situação mais simples de
um descarregador sem comportas, passando depois pela situação do descarregador com
comportas e finalmente analisando a exploração no caso em que se dispõe de uma previsão da
cheia afluente.

Um descarregador com comportas permite um grau de liberdade adicional na exploração da


albufeira durante uma cheia, o que é particularmente vantajoso quando se dispõe de um sistema
de previsão de cheias. Neste caso, a exploração da albufeira pode ter em conta a cheia que irá
chegar e iniciar descargas antecipadas, de modo a aumentar o volume de encaixe disponível.

1.1.Objectivo geral

▪ Debruçar sobre a propagação de cheias em Albufeiras;

1.2.Objectivo específico

▪ Propagação de cheias em descarregadores com comportas;


▪ Propagação de cheias em descarregadores sem comportas;

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2. Memoria descritiva

2.1.Situação de propagação de cheias a considerar

2.1.1. Generalidade

A albufeira de uma barragem pode produzir uma grande transformação na passagem de uma
cheia, armazenando volumes de água da cheia e fazendo com que o caudal de ponta efluente
seja
normalmente inferior ao caudal de ponta afluente e descarregado com atraso temporal. O
armazenamento faz-se com aumento da cota da superfície da água e consequente aumento da
área inundada a montante da barragem. Esta transformação verifica-se sempre, se o
descarregador de cheias não tiver comportas. No caso de um descarregador com comportas, tal
será também a situação para uma exploração da albufeira feita com regras adequadas.

Para o dimensionamento da barragem em termos de definição da sua altura, torna-se necessária


a determinação de quatro componentes: o volume morto, a capacidade útil, o volume de
encaixe da cheia de projecto e a folga.
Através da curva dos volumes armazenados, o volume morto permite definir o nível mínimo
de exploração (NME) que corresponde habitualmente à soleira da descarga de fundo. O volume
resultante da soma do volume morto e da capacidade útil permite, novamente utilizando a curva
dos volumes armazenados, obter o nível de pleno armazenamento (NPA).

Normalmente, durante uma cheia e ate se ultrapassar o caudal de pico, o caudal descarregado
é inferior ao caudal afluente. Daqui resulta que o volume não descarregado é armazenado na
albufeira, acima do NPA, correspondendo ao encaixe da cheia. Quando o diagrama da cheia
afluente é o da cheia de projecto, o correspondente volume encaixado, adicionado à capacidade
útil e ao volume morto, permite determinar o nível de máxima cheia (NMC).

Adicionado a folga ao NMC, obtêm-se o nível do coroamento. A altura da barragem é a


diferenca entre o nível do coroamento e o nível do ponto mais baixo da secção transversal do
rio onde a barragem se insere.

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O estudo do volume de encaixe da cheia de projecto, para a determinação do NMC, assim como
o cálculo dos hidrogramas dos níveis da albufeira h(t) e dos caudais descarregados 𝑄𝑑 (𝑡) são
feitos analisando a propagação “routing” da cheia na albufeira.

O “routing” da cheia leva a que o hidrograma descarregado seja diferente do hidrograma


afluente e que, normalmente, o caudal máximo descarregado seja inferior ao caudal máximo
afluente. O “routing” ou propagação da cheia acontece de forma diferente conforme o
descarregador da barragem disponha ou não de comportas (figura 1).

Figura 1: Hidrograma Descarregados

2.1.2. Propagação de Cheias num Descarregador sem comporta

Quando a barragem está dotada de um descarregador sem comportas, o hidrograma do caudal


efluente (Qe) pode ser determinado a partir do conhecimento do hidrograma da cheia afluente
(Qa) e das características da albufeira e dos órgãos de descarga, designadamente, a curva dos
volumes armazenados, S(z), e a curva de vazão de cada um dos órgãos de descarga, Qi(z).

A curva dos volumes armazenados expressa a relação biunívoca entre a cota da superfície livre
da água, o nível de água na albufeira, z, e o correspondente volume armazenado, S. No Capítulo
dedicado ao dimensionamento de albufeiras, explica-se o processo de determinação dessa
curva, assim como da curva de áreas inundadas. Como é óbvio, a função S(z) é monotonamente
crescente.

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A curva de vazão do descarregador de cheias é também uma função crescente do caudal


descarregado, Qd, com o nível z. A função depende das características do descarregador, sendo,
por exemplo, para o descarregador em soleira frontal:
𝑄𝑑 = 𝜇 √2𝑔 × 𝐵𝐻1.5
Onde
Qd - é o caudal descarregado;
Μ - o coeficiente de vazão;
B - comprimento da soleira;
H - a carga sobre a soleira, sendo H uma função de z.

A equação do balanço hídrico aplicada à albufeira, desprezando as contribuições dos


volumes de precipitação e de evaporação da albufeira, por serem normalmente pequenos
relativamente aos volumes do escoamento afluente e do escoamento descarregado durante o
período da cheia, escreve-se: (1)
𝑑𝑆
= 𝑄𝑎 − 𝑄𝑐
𝑑𝑡
Onde

𝑆 = 𝑆[𝑍(𝑡) ] representa o volume armazenado na albufeira (m3)


𝑄𝑎 = 𝑄𝑎 (𝑡), o caudal afluente à albufeira (m3/s)
𝑄𝑐 = ∑𝑖 𝑄𝑖 = 𝑄𝑒 𝑆[𝑍(𝑡) ] o caudal afluente à albufeira (m3/s), e t, o tempo (s).
Escolhido um intervalo de tempo adequado, Dt, a equação anterior pode ser discretizada do
seguinte modo: (2)
𝑆𝑖+1 − 𝑆𝑖 𝑄𝑎 𝑖+1 + 𝑄𝑎 𝑖 𝑄𝑒 𝑖+1 + 𝑄𝑒 𝑖
= −
∆𝑡 2 2
que mostra que, conhecido o hidrograma do caudal afluente, 𝑄𝑎 𝑖, e as condições iniciais, 𝑄𝑒 0,
e 𝑆0 , a solução pode avançar para o intervalo de tempo seguinte, determinando 𝑍1 , variável de
que dependem 𝑄𝑒 1 𝑒 𝑆1; no passo de tempo seguinte, determina-se z2 e as variáveis
dependentes 𝑄𝑒 1 𝑒 𝑆1; e assim, sucessivamente.

A obtenção dos zi e, portanto, dos 𝑄𝑒 𝑖 𝑒 𝑆𝑖 é feita em geral por recurso a um processo iterativo,
como, por exemplo, o método das substituições sucessivas, o de Newton-Raphson ou os que
se disponibilizam pré-programados nas folhas de cálculo.

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A equação (2) pode ser explicitada em função das variáveis incógnitas no instante i + 1:
2𝑆𝑖+1 + 𝑄𝑎 𝑖+1 ∆𝑡 = 𝑓(𝑧𝑖+1 ) = 2𝑆𝑖 + (𝑄𝑎 𝑖 + 𝑄𝑎 𝑖+1 − 𝑄𝑒 𝑖 )∆𝑡
O primeiro membro é uma função de 𝑧𝑖+1 , e o segundo membro tem um valor conhecido, o
que torna possível a determinação de 𝑧𝑖+1 e, a partir daí, de 𝑆𝑖+1 e de 𝑄𝑎 𝑖+1 . Esta é a formulação
do chamado método de Puls modificado, como foi apresentada em Strelkoff (1980).

A Figura 2 apresenta graficamente os resultados para a situação de uma cheia hipotética


afluente à barragem da Corumana, no rio Sabiè em Moçambique.

Figura 2: Propagação da cheia num descarregador sem comportas

Num descarregador sem comportas, é fácil de ver que o máximo caudal efluente e o nível
máximo da albufeira ocorrem quando as curvas dos caudais afluente e efluente se cruzam. Com
efeito, até esse instante o caudal afluente é superior ao caudal efluente e, portanto, a albufeira
vai enchendo e o nível da água vai aumentando. O caudal efluente aumenta com o nível. A
partir do instante em que as duas curvas se cruzam, o caudal efluente passa a ser superior ao
caudal afluente, o que faz com que o volume armazenado diminua, o nível de água baixe e, por
conseguinte, o caudal descarregado comece também a diminuir.

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2.1.2.1 Cálculo da propagação da cheia pelo método de Plus num descarregador sem
comportas

A determinação quantitativa do hidrograma das descargas assim como dos níveis da albufeira
e dos volumes armazenados pode ser feita pelo método de Plus. Este método considera
intervalos discretos de tempo Dt e pressupõe que no instante t se conhece o caudal afluente no
instante t + Dt.
Alem disso, o método de Plus despreza a ocorrência, durante o período da cheia, da precipitação
na albufeira assim como da evaporação e outras perdas. O erro introduzido por esta
simplificação é normalmente pequeno já que estas variáveis correspondem a volumes de água
relativamente pequenos uma vez que as cheias duram períodos de tempo curtos.
O método de Plus baseia-se na equação simplificada do balanço hídrico da albufeira
𝑑𝑆
𝐼−𝑂 =
𝑑𝑡
Em que: (3)
I – Caudal afluente (cheia) = 𝑄𝑎
O – Caudal descarregado = 𝑄𝑑
S – Volume armazenado na albufeira
𝑑𝑆
Note-se que 𝑑𝑡 corresponde a um caudal, pelo que a equação é dimensionalmente homogénea.

O método de Plus discretiza a equação diferencial em intervalos de tempo Dt. Nesse intervalo,
I e O serão representados pelas médias dos respectivos valores nos instantes t e t+Dt.

(4)
𝐼𝒕 + 𝐼𝒕+∆𝒕 𝑂𝒕 + 𝑂𝒕+∆𝒕 𝑆𝒕+∆𝒕 − 𝑆𝒕
− =
2 2 ∆𝑡

Fazendo um rearranjo desta equação, pode-se escrever (5)

2𝑆𝒕 2𝑆𝒕+∆𝒕
𝐼𝒕 + 𝐼𝒕+∆𝒕 + − 𝑂𝒕 = + 𝑂𝒕+∆𝒕
∆𝑡 ∆𝑡

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As quatro parcelas que figuram no primeiro membro da equação são todas conhecidas no
instante t+Dt: os caudais afluentes 𝐼𝒕 𝒆 𝐼𝒕+𝑫𝒕 ; o volume armazenado 𝑆𝒕 ; e o caudal
descacarregado 𝑂𝒕 . As duas parcelas do 2º membro contêm as incógnitas 𝑆𝒕+𝑫𝒕 e 𝑂𝒕+𝑫𝒕 que
ainda não foram determinadas.
Os passos a dar na aplicação do método de Plus são então os seguintes:

1º Passo
Constrói-se a curva 2S/Dt + O = f(h). Esta curva é fácil construir uma vez que:
S = S(h) é a curva dos volumes acumulados;
O = O(h) é a curva/formula de vazão do descarregador.
Dt é arbitrado; convém que Dt seja relativamente pequeno já que isso melhora a aproximação
numérica. No entanto, Dt muito pequeno tem a desvantagem de tornar os cálculos muito
laboriosos se forem feitos sem ajuda do computador. Como regra pratica, sugere-se que Dt
esteja entre 1/6 e 1/24 do tempo para o pico (𝑡𝒑 ).

2º Passo
Tomando-se para 𝒕 = 𝟎, 𝑰𝟎 = 𝑂𝟎 = 𝟎, 𝑺𝟎 = 𝑺(𝒉𝟎 = 𝑵𝑷𝑨), calcula-se o primeiro membro da
equação 8.4 para t = Dt. Como o primeiro membro = f(h), determina-se 𝒉𝑫𝒕 e a partir daí 𝑶𝑫𝒕
e 𝑺𝑫𝒕 .

3º Passo
O 2º Passo é repetido sequencialmente, substituindo-se os valores de t pelos de t+Dt e
calculando O e S para o novo instante t+Dt. Terminado o cálculo, obtêm-se os hidrogramas
h(t), S(t) 𝐎(𝐭) = 𝑄𝒅 (𝒕), assim como o volume de encaixe de cheia e o nível máximo atingido.
Quando a cheia considerada é a cheia de projecto, o nível máximo atingido é o NMC.

2.1.3 Propagação da cheia num descarregador com comportas

No caso de a barragem dispor de um descarregador com comportas, os hidrogramas do caudal


descarregado e do nível da albufeira dependem das regras de exploração durante as cheias, para

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além do conhecimento do hidrograma da cheia afluente, da curva dos volumes armazenados e


das características do descarregador.

As regras de exploração são definidas a partir de estudos que consideram os hidrogramas das
cheias históricas e simuladas, os limites de descargas para atender à ocupação da bacia a jusante
da barragem e as características da barragem e do descarregador e respetivas comportas. Elas
diferem ainda, caso se disponha ou não de um sistema fiável de previsão da cheia afluente.

Quando a barragem não dispõe de um sistema de previsão da cheia afluente, a operação é


definida em função da evolução da cheia afluente, determinada a partir dos registos dos níveis
da albufeira e do correspondente balanço hídrico em intervalos de tempo curto. Podem
considerar-se à partida as seguintes regras:

I. Na fase ascendente da cheia e a partir do momento em que se atinge o nível de pleno


armazenamento (NPA), o caudal descarregado é igual ao caudal afluente, de modo a que o
NPA não seja excedido. À medida que o caudal afluente aumenta, vão-se abrindo mais
comportas e aumentando as respetivas aberturas, habitualmente por escalões, até que as
comportas estejam completamente abertas. A partir daí, o caudal descarregado apenas pode
aumentar com a subida do nível da albufeira.

II. Na fase descendente da cheia, as comportas vão sendo fechadas, mas torna-se necessário
garantir um rápido abaixamento do nível da albufeira para o NPA, de modo a que a
barragem esteja preparada para uma segunda ponta de cheia que possa eventualmente
ocorrer. A partir daí, o caudal descarregado deve ser igual ao afluente, de maneira a manter
o nível igual ao NPA

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Figura 3: Propagação da cheia num descarregador com comportas

A determinação dos hidrogramas do caudal descarregado e do nível da albufeira é feita, tal


como no caso do descarregador sem comportas, pela resolução em sucessivos intervalos de
tempo da equação do balanço hídrico e das equações do volume armazenado e da vazão do
descarregador. Em cada instante são conhecidas as regras de exploração que definem as
aberturas das diversas comportas, o que permite que a equação do descarregador fique
completamente definida.

Quando a barragem dispõe de um sistema fiável de previsão da cheia afluente, o descarregador


pode ser operado de modo a otimizar a capacidade de encaixe da albufeira, minimizando os
prejuízos a jusante. Isto é feito iniciando descargas a partir do momento em que a previsão da
cheia é disponibilizada, permitindo, assim, aumentar o volume de encaixe disponível.

Um parâmetro que serve, em primeira aproximação, como definidor da magnitude da cheia e


dos prejuízos que ela causa é o caudal de ponta descarregado. Por isso, a operação otimizada
do descarregador consiste em minimizar o caudal de ponta descarregado. Para uma dada cheia

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afluente e determinado volume de encaixe disponível na albufeira, o caudal de ponta


descarregado será tanto menor quanto maior for a antecedência da previsão da cheia afluente.

A Figura abaixo mostra um exemplo em que uma previsão da cheia com o caudal afluente de
ponta de 14 000 m3/s, feita com uma antecedência de 20 horas, permite reduzir o caudal de
ponta descarregado em cerca de um terço. Como se vê na figura, a partir do momento da
previsão, a exploração da barragem aumenta as descargas, o que permite um caudal de ponta
inferior ao caudal de ponta correspondente à situação sem previsão de cheia. Caso seja possível,
o volume a descarregar em antecipação deve igualar o volume que corresponde ao excesso de
caudal afluente sobre o caudal descarregado.

É claro que esta otimização depende muito da confiança na previsão do hidrograma da cheia
afluente. Caso a previsão não se confirme, pode ocorrer uma perda importante da água
armazenada ou uma perda significativa da energia produtível. Para além disso, a descarga deve
ser feita com aviso prévio às populações a jusante e não deve aumentar muito bruscamente,
para permitir que haja suficiente tempo para salvaguarda de bens e vidas.

Figura 4: Hidrogramas de caudais descarregados sem e com previsão de cheia

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I. Operação de descarregadores sem previsão da cheia


Quando não existe em funcionamento um sistema de previsão de cheias, a cheia é detectada na
barragem através da subida do nível da albufeira. Neste caso, a operação é comandada
fundamentalmente pelo nível da albufeira e pela consideração de se estar na fase ascendente
ou descendente da cheia.
Podem indicar-se alguns princípios que as regras de operação devem obedecer:
• A abertura deve fazer-se por ocasiões em função do nível da albufeira, para que o caudal
a jusante não cresça subitamente.
• Na fase ascendente da cheia, 𝑄𝑑 ≤ 𝑄𝑎 ; o nível da albufeira não deve descer.
• Na fase descendente da cheia, deve procurar-se voltar rapidamente ao NPA.
• O NMC não deve ser ultrapassado pelo que, para um certo nível da albufeira (inferior
ao NMC), as comportas devem ser totalmente abertas.
• A abertura das comportas deve ser feita de forma a evitar que surjam problemas de
cavitação na soleira (aberturas muito pequenas) e perturbações na estrutura de
dissipação de energia.
A definição das regras de operação faz-se começando por arbitrar os escalões de abertura das
comportas e testando essas regras iniciais para a cheia de projecto e também para cheias com
períodos de retorno inferiores. Induzem-se sucesso de garantir que o NMC não é ultrapassado,
que o caudal descarregado não cresce muito bruscamente e que se minimiza o caudal máximo
descarregado, assim como o tempo em que o caudal descarregado esta acima de um certo
limiar, que correspondera a um certo nível de prejuízos, por exemplo, estradas importantes
inundadas.

II. Operação de descarregadores com previsão da cheia


caso se disponha de um sistema de aviso de cheias em tempo real, a operação da albufeira pode
ser melhorada tendo em vista a minimização do canal máximo descarregado. Objectivo
justificado pelo facto de, normalmente, os prejuízos serem uma função crescente de 𝑸𝒅𝒎𝒂𝒙 . A
figura ilustra a forma de operação quando se dispõe de uma previsão de cheia afluente.

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Figura 5: Hidrogramas de Qd quando se dispõe de previsão de cheia; em que tp - momento de


previsão da cheia; tc - inicio da cheia

A descarga antecipada de um caudal superior ao do caudal afluente permite aumentar o volume


disponível para o encaixe da cheia e, por conseguinte, reduzir o caudal máximo descarregado.

Procura-se, portanto, minimizar 𝑄𝑑𝑚𝑎𝑥 , sem, no entanto, descurar os princípios de abertura


gradual das comportas e de que o NMC não pode ser ultrapassado.

Mesmo quando não se dispõe de previsões em tempo real, por vezes procura-se garantir de um
volume de encaixe de cheias superior ao que corresponde à diferença de volumes armazenados
entre o NMC e o NPA.

Assim, se cheias ocorrerem quase todos os anos em determinada época, pode manter-se durante
essa época a albufeira a um nível inferior ao NPA. Corre-se, porem, o risco de não haver
ocorrência de cheia e a albufeira ficar com um volume armazenado inferior ao necessário para
a época de estiagem seguinte. É preciso, portante, comprar os valores esperados dos benefícios,
ou seja, a diminuição dos prejuízos das cheias, e os custos, isto é, as perdas devido a falta de
água na época de estiagem, para o que se pode usar um modelo de simulação.

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2.1.3.1.Cálculo da propagação da cheia pelo método de Plus num descarregador com


comportas

Para se utilizar o método de Plus num descarregador com comportas, as regras de operação têm
de estar já definidas. Conhecendo as características do descarregador e as regras de operação,
a função O(h) fica perfeitamente estabelecida, embora possa apresentar descontinuidades
devido à abertura por escalões como ilustra a figura.

Figura 5: Escalões de abertura do descarregador vs. níveis de água na albufeira

As descontinuidades não se tornam problemáticas caso se adopte um valor Dt bastante pequeno


e se for simultaneamente traçado o diagrama h(t) para eliminar as dúvidas que possam surgir
para valores de h próximos das descontinuidades.

A resolução é em tudo semelhante à do descarregador sem comportas. No entanto, para cada


nível ℎ𝑖 em que há uma variação da abertura das comportas, há que considerar dois valores de
O, nomeadamente, 𝑂+ correspondendo à maior abertura e, 𝑂− para a menor abertura, o que
naturalmente origina também dois valores de 2S/Dt + O.

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Influencia do descarregador nos custos de uma barragem

Consta-se facilmente que quanto maior for a capacidade de vazão dum descarregador maior
sera o volume descarregado durante a cheia e, portanto, maior o volume de encaixe e baixo o
NMC; ou seja, um descarregador de maior capacidade permite uma barragem de menor altura.

O objectivo a atingir sera então o de minimizar o custo total, isto é, o custo do corpo da
barragem mais o custo do descarregador. Se, por exemplo, se estiver a considerar um
descarregador sem comportas, o seu custo e a capacidade de vazão crescem com a largura do
descarregador. Pode-se calcular o NMC e daí a altura da barragem e o respectivo custo para 3
ou 4 larguras distintas. A solução de custo mínimo é facilmente identificada na figura abaixo.

Um descarregador com comportas tem evidentemente uma capacidade de vazão muito superior
à de um descarregador sem comportas para além de permitir uma operação bastante mais
flexível. Exige, no entanto, um maior investimento inicial e custos mais elevados de operação
e manutenção; estes custos devem ser transformados em valores actuais para efeitos de cálculos
de custos para a determinação da solução mais económica.

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3. Conclusão

O cálculo de propagação de vazões ou cheias em reservatórios (Albufeiras), como apresentado


neste presente trabalho, pode ser utilizado para dimensionamento de reservatórios de controle
de cheias, e para análise de operação de reservatórios em geral. Mediante algumas adaptações
o método pode ser aplicado para reservatórios com vertedores controlados por comportas e
sem comportas, assim como para outras estruturas de saída.

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4. Bibliográfia

[1] HIPÓLITO, João Reis and VAZ, Álvaro Carmo. Hidrologia e Recursos Hidrícos.
Novembro 2011

[2] VAZ, Álvaro Carmo. OBRAS HIDRÁULICAS – Universidade Eduardo


Mondlane (UEM), Maputo 2013

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5. RESOLUÇÃO DE EXERCICIOS

NOTA: DEVIDO A SUA EXTENÇÃO, OS EXERCICIOS PODEM SER ENCONTRADOS


NA PLANILHA: EXRCICIOS_MANUAL DE CARVALHO. EM QUE ESTE FOI
ENVIADO JUNTO COM O TRABALHO, SEPARADAMENTE.

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