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Universidade Federal do Pará

Instituto de Tecnologia
Disciplina: Hidráulica Aplicada
Prof. M.Sc. Rodrigo Rodrigues

Unidade III – Hidrometria

1. Hidrometria

A hidrometria é a ciência que mede e analisa as características físicas e químicas da


água, incluindo métodos, técnicas e instrumentação utilizados na hidráulica e na hidrologia. É
um componente muito importante para a gestão hídrica, já que cuida de questões como: medidas
de profundidade, de variação do nível d’água, das seções de escoamento, das pressões, das
velocidades, das vazões, medições da água entre os componentes do ciclo hidrológico.

Na hidrologia, sobretudo para a gestão e gerenciamento de bacias hidrográficas,


destacam-se as medições de precipitações (pluviometria) e interceptação, infiltração, utilizando
de instrumentos específicos e diversos modelos para sua determinação.

Já na hidráulica, destaca-se a fluviometria. As determinações de vazão em corpos


hídricos realizam-se para diversos fins. Entre eles, citam-se sistemas de abastecimento de água
(público e industrial), estudos de lançamentos de esgotos, instalações hidrelétricas, obras de
irrigação, defesa contra inundações (previsão de cheias).

2. Processos de Medição de Vazões


2.1. Processos Diretos

Os processos diretos consistem na medição direta em recipiente de volume conhecido


(V): mede-se o tempo (t) de enchimento do recipiente, obtendo-se:

Quanto maior o tempo de determinação, maior é a precisão.

Este processo só é aplicável em casos de pequenas descargas, como por exemplo,


fontes, riachos, bicas e canalizações de pequenos diâmetros.

No caso de riachos, córregos, para que toda a água aflua para o recipiente, às vezes
torna-se necessária a construção de um pequeno dique de terra a fim de que o recipiente possa
entrar livremente à jusante do dique; neste caso a água é conduzida ao recipiente através de uma
calha qualquer (telha, pedaço de tubo, bambu, etc.). A figura 1, a seguir ilustra essa situação.

Hidráulica Geral II - Notas de aula


 
2
 

Figura 1 – Dique de terra construído para medição de vazão.

No laboratório de hidráulica, a medição direta da vazão pode ser feita num tanque ou
reservatório de dimensões conhecidas (tanque volumétrico). Pode-se, ainda, empregar uma
balança (medição pelo peso), determinando-se a vazão da seguinte forma:

∴ ∴
.

Onde Peso é o peso da quantidade de água no tanque ou reservatório e é o peso


específico da água.

Este método é aplicável a pequenas vazões ( 10 / ); devem ser feitas pelo menos
três medições do tempo e trabalhar com a média.

2.2. Orifícios

Orifícios são perfurações (geralmente de forma geométrica conhecida) feitas abaixo da


superfície livre do líquido em paredes de reservatórios, tanques, canais ou tubulações, com a
finalidade de medição de vazão.

Nas instalações de tratamento de água, frequentemente são empregados orifícios


calibrados e ajustáveis, para medir vazões de soluções químicas. O nível de água é mantido
constante por uma válvula de bóia.

2.2.1. Classificação

Eles podem ser classificados da seguinte maneira:

 Quanto à forma geométrica: retangulares, circulares, triangulares, outros;

 Quanto às dimensões: pequenos (quando suas dimensões forem muito menores do que a
profundidade e que se encontram; na prática, /3) e grandes ( /3);
3
 

Figura 2 – Dimensões dos orifícios.

 Quanto à natureza das paredes: parede delgada (a veia líquida toca apenas a face interna
da parede do reservatório; ) e parede espessa (nesse caso, a veia líquida toca
quase toda a parede do reservatório; ; nesse caso, é incluído nos estudos dos
bocais);

Figura 3 – Orifícios de parede espessa e delgada.

 Quanto ao escoamento: livres ou afogados.

Figura 4 – Orifícios livre e afogado.

2.2.2. Cálculo da Vazão para Orifícios Livres

Experimentalmente, constata-se que o jato d’água se contrai logo após sair do orifício.
Assim, há um coeficiente de contração dado por:

Pela aplicação da equação de Bernoulli, pode-se calcular a velocidade teórica do jato no


orifício, sem considerar a perda de carga:
4
 

2 2

Figura 5 – Vazão em orifícios livres.

Como a área do reservatório é muito maior do que a área do orifício, pode-se considerar
0. A pressão tanto no reservatório quanto no orifício é a pressão atmosférica, portanto,
0. Assim, a aplicação da equação de Bernoulli se reduz a:

Como há perda de carga no reservatório, a velocidade no orifício é menor do que a


velocidade teórica calculada, utilizando um coeficiente de redução de velocidade:

A vazão em um orifício pode então ser dada por:

Substituindo os valores de área e velocidade encontrados anteriormente, tem-se:

. . . 2

. . 2

Exercício 1: Qual a velocidade do jato e qual a descarga de um orifício padrão (Cv = 0,98 e
Cc = 0,61), com 6 cm de diâmetro, situado na parede vertical de um reservatório, com o
centro 3 m abaixo da superfície da água?
5
 
Exercício 2: Qual o diâmetro que deve ser dado a uma comporta circular de coeficiente de
vazão 0,62 e com o centro a 3 m abaixo do nível do reservatório, para que a mesma dê
escoamento de 200 l/s?

Exercício 3: A velocidade na seção contraída do jato que sai de um orifício de 3 cm de


diâmetro, sob uma carga de 2 m é de 10,0 m/s. Qual o valor dos coeficientes de velocidade,
contração e descarga? Sabendo-se que a vazão é de 10,0 l/s.

2.2.3. Cálculo da Vazão para Orifícios Afogados

Neste caso, a expressão de Torricelli ainda continua válida, substituindo-se apenas a


carga do reservatório pela diferença de carga de montante e de jusante:

. . 2

Figura 6 – Vazão em orifícios afogados.

Exercício 4: Dado o seguinte esquema de orifício afogado, qual a vazão que escoa no
orifício, sabendo que A = 2,4 cm2, Cc = 0,6, Cv = 0,98, h0 = 5 cm e h1 = 2,5 cm.
6
 

2.2.4. Escoamento com Nível Variável

O escoamento com variação de nível é a situação mais comum na prática, quando a


carga do reservatório vai diminuindo com o tempo, em consequência do escoamento pelo
orifício. Com a redução da carga, a vazão pelo orifício também decresce.

O problema consiste, na prática, em se determinar o tempo necessário para


esvaziamento do reservatório.

Assim, em um intervalo de tempo igual a dt, a vazão é:

. . 2

e o volume descarregado durante este tempo é:

. . 2 .

Nesse intervalo de tempo, o volume no reservatório baixará em uma quantidade dh que,


em volume, é dada por:

Onde AR é a área do reservatório. Como esse volume é o mesmo que sai pelo reservatório, tem-
se:

. . . 2 .

Portanto,

.
. . 2

Integrando entre os níveis inicial e final, h1 e h2, resulta:

/
. . 2

2. / /
. . 2

Exercício 5: Um tanque retangular de base 5 m x 1,2 m, contém uma lâmina d’água de 1,2
metros de altura. Sabendo-se que para esvaziar o tanque através de um orifício de 100
mm, localizado no fundo do mesmo, gastam-se 10 minutos, calcule o coeficiente de
descarga desse orifício.
7
 
2.3. Bocais

Os bocais são peças tubulares adaptadas aos orifícios com a finalidade de dirigir o jato.
Podem ser classificados em:

 Bocais: peças com comprimento de 1,5 a 5 vezes o diâmetro do orifício;


 Tubos curtos: peças com comprimento de 5 a 100 vezes o diâmetro do orifício;
 Canalizações: peças com comprimento superior a 100 vezes o diâmetro do orifício.

Os bocais podem ser classificados como: cilíndricos externos, cilíndricos internos,


cônicos convergentes e cônicos divergentes.

Figura 7 – Tipos de bocais.

Para se determinar a vazão nos bocais, se aplica a fórmula geral deduzida anteriormente
para os orifícios pequenos:

. . 2

Neste caso, os valores do coeficiente de vazão, , variam de acordo com o tipo de


bocal.

Exercício 6: De quanto aumentará a vazão, quando adaptarmos um bocal cilíndrico


externo ao orifício da figura abaixo? Dados: CQ (orifício) = 0,61; CQ (bocal) = 0,82).
8
 
2.4. Vertedores

São passagens feitas no alto de uma parede por onde a água escoa livremente,
apresentando, portanto, a superfície sujeita à pressão atmosférica.

Figura 8 – Partes componentes de um vertedor.

São utilizados na medição de vazão de pequenos cursos d’água, canais, nascentes.


Também são utilizados como descarregadores de reservatórios e controladores de vazão.

Figura 9 – Vertedor com duas contrações laterais em um curso d´água.


9
 

Figura 10 – Vertedor triangular em um curso d´água.

Figura 11 – Vertedor do tipo tulipa em um grande reservatório.

2.4.1. Classificação

Os vertedores podem ser classificados da seguinte maneira:

 Quanto à forma: retangular, triangular, trapezoidal, circular, etc;


 Quanto à espessura da parede: parede ou soleira delgada (a espessura não é
suficiente para que, sobre ela, se estabeleça o paralelismo das linhas de corrente:
) e parede ou soleira espessa (a espessura é suficiente para que, sobre ela, se
estabeleça o paralelismo das linhas de corrente: ;
10
 

Figura 12 – Espessura da parede de um vertedor.

 Quanto ao comprimento da soleira: sem contração lateral ( ) ou com contração


lateral ( ).

Figura 13 – Vertedor sem contração lateral.

Figura 14 – Vertedor com uma contração lateral.

Figura 15 – Vertedor com duas contrações laterais.


11
 

Cuidados na instalação do vertedor:

a) Deve-se empregar um vertedor de tipo já experimentado;


b) A lâmina deve ser livre;
c) A soleira deve ser bem talhada e deve ficar na posição horizontal;
d) Toda água deve passar sobre o vertedor;
e) A carga H deve ser medida a montante, a uma distância de compreendida entre 5H e
10H e nunca inferior a 2,5H.

2.4.2. Vertedores Retangulares de Parede Delgada

Para determinação da vazão utilizando o vertedor retangular, utilizam-se as seguintes


fórmulas, conforme exista ou não contração lateral:

 Sem contração (Fórmula de Francis):


/
1,838 . .

 Com contração:
/
1,838 . 0,1 .
/
1,838 . 0,2 .

Onde: Q é a vazão, em m3/s, H é a carga hidráulica, em m e L é a largura da soleira, em m.

Exercício 7: Determine a vazão do canal, sabendo que a soleira do vertedor retangular


(sem contração lateral) tem 2 m e a carga hidráulica é de 35 cm.
12
 
2.4.3. Vertedores Triangulares de Parede Delgada

Os vertedores triangulares são mais precisos do que os retangulares para pequenas


vazões. O ângulo usual de construção é de 900.
/
Fórmula de Thompson: 1,4.

Onde: Q é a vazão, em m3/s e H é a carga hidráulica, em


m.

Exercício 8: Determine a vazão de um canal sabendo que o vertedor triangular tem um


ângulo de 900 e a carga hidráulica é de 20 cm.

2.4.4. Vertedor Trapezoidal de Parede Delgada

O vertedor trapezoidal deve possuir inclinação de 4:1 para compensar o efeito das
contrações laterais. Este tipo de vertedor também é denominado de vertedor Cipoletti. Para
determinar a vazão neste tipo de dispositivo, utiliza-se a fórmula:
/
1,86. .

Onde: Q é a vazão, em m3/s, H é a carga hidráulica, em m e L é a largura da soleira, em m.

Exercício 9: Determine qual deve ser a largura da soleira de um vertedor trapezoidal para
medir uma vazão de 1700 l/s com uma carga hidráulica de 50 cm.
13
 
2.4.5. Vertedor Retangular de Parede Espessa

Neste caso, a espessura da parede é suficiente para que se estabeleça o paralelismo entre
os filetes, ou seja, a linhas de corrente sejam paralelas, que confere uma distribuição hidrostática
de pressões.

/
0,385. 2 . . .

Experiências realizadas para determinação de CQ apresentaram valores diferentes para


este coeficiente, variando de acordo com a carga hidráulica e o comprimento da soleira. Assim,
a expressão fica:
/
. 1,7. .

Figura 16 – Vertedor de parede espessa

O vertedor de parede delgada é empregado exclusivamente como medidor de vazão e o


de parede espessa, geralmente faz parte de uma estrutura hidráulica (vertedor de barragem, por
exemplo), podendo também ser utilizado como medidor de vazão.

Exercício 10: Determinar a vazão que escoa em um vertedor retangular que apresenta
largura de soleira de 20 cm, carga hidráulica de 15 cm e espessura da parede igual a 12
cm. Considere o coeficiente de vazão igual a 0,91.
14
 
2.5. Medidores de Regime Crítico

Os medidores de regime crítico podem constituir num simples estrangulamento de


seção, no alteamento ou rebaixo fundo ou ainda numa combinação conveniente dessas
singularidades capazes de ocasionar o regime livre de escoamento.

Os medidores de regime crítico mais conhecidos são os medidores Parshall, ou, mais
comumente, as chamadas calhas Parshall. A calha Parshall consta basicamente de três seções:
uma seção com paredes laterais convergentes e o fundo nivelado, uma seção com paredes
paralelas (garganta) e o fundo com declividade, e uma seção (à jusante) com paredes laterais
divergentes e o fundo em aclive. A garganta atua como uma seção de controle, onde ocorrem
velocidade e altura de escoamento críticas, que permitem a determinação da vazão com precisão
com uma única leitura do nível de água na seção convergente da calha.

Figura 17 – Esquema de uma calha Parshall convencional

Figura 18 – Calha Parshall


15
 
Sob as condições de descarga livre, a vazão do Parshall depende da largura da garganta
e da altura de carga medida em um ponto, na seção convergente, afastado da entrada da garganta
de 2/3 de A.

Empiricamente, foi estabelecida a relação:

.
Em que Q = vazão (m3/s); Ho = altura do nível d’água no ponto 0 (m);  e n são
coeficientes que variam de acordo com o tamanho da calha (ver Tabela 1). Esta carga pode ser
medida com uma régua junto à parede ou através de um poço lateral de medição que se
comunica com o Parshall.

As calhas Parshall são indicadas nominalmente pela largura da seção estrangulada


(garganta). A Tabela 1 a seguir dá as dimensões padronizadas para os medidores Parshall.

Tabela 1 – Dimensões da Calha Parshall

Segundo Azevedo Netto (1998), o tamanho do medidor Parshall mais conveniente para
qualquer gama de vazão envolve considerações, como largura de canal existente, profundidade
da água nesse canal, perda de carga admissível, possibilidade de vazões futuras diferentes, etc.

Para a fixação das dimensões definitivas, pode-se partir de um tamanho escolhido


inicialmente, fazendo-se para o mesmo e para outros tamanhos próximos os respectivos
cálculos. Na tabela 1 acima também podem ser verificados os limites de aplicação desses
medidores.

Os medidores Parshall empregados para a medição de vazão devem ser instalados


procurando-se evitar grandes turbulências em sua seção inicial. Não devem, portanto, ser
instalados logo após uma curva ou comporta, pois os turbilhonamentos causados na água podem
causar ondas ou sobrelevações capazes de comprometer a precisão dos resultados. O ideal é
dimensionar essas calhas em trechos retilíneos do canal.

Exercício 11: Determinar a vazão que escoa em uma calha Parshall de 3’ (0,915 m) cuja
leitura da carga hidráulica no ponto determinado é de 0,52 m.
16
 
2.6. Medidores Diferenciais para Tubulações

Os medidores diferenciais são dispositivos que consistem em uma redução na seção de


escoamento de uma tubulação, de modo a produzir uma diferença de pressão, em consequência
ao aumento de velocidade.

Considere o caso de um orifício ou diafragma de diâmetro instalado no interior de uma


canalização de diâmetro D. A diferença de pressão h entre os pontos 1 e 2 será dada por:


2 2

2 ∆

Sendo d o diâmetro da abertura da passagem:

4 4

Que, substituída na equação de Bernoulli, resulta em:

2 ∆

2 ∆

Obtendo-se a expressão para a vazão (em função dos diâmetros):

2 ∆
. .
4
1

√∆
, . . .

Em que Q é a vazão, em m3/s, CQ é o coeficiente de vazão, D é o diâmetro da canalização, em


m, d é o diâmetro da seção reduzida, em m e h é a diferença de pressão provocada entre os
dois pontos.

Essa expressão geral aplica-se a todos os medidores diferenciais: orifícios, diafragmas,


bocais internos, Venturi curtos, Venturi longos, entre outros.

Uma vez conhecidos os diâmetros e medido o valor de h, determina-se a vazão Q.


17
 
Para orifícios concêntricos, o valor de CQ varia de 0,60 a 0,62, podendo-se admitir o
valor médio 0,61. Para os medidores Venturi do tipo longo, o valor médio de CQ está em torno
de 0,975.

2.6.1. Venturi

O tubo de Venturi é um dispositivo de redução da seção de escoamento da tubulação,


graças ao qual a carga piezométrica é transformada em carga de velocidade. Medindo-se esta
queda de pressão, pode-se calcular a velocidade de escoamento e, consequentemente, a vazão. A
queda de pressão que se verifica entre a entrada do venturímetro e a garganta pode ser
relacionada à vazão através da expressão (em função das áreas):


. .

Em que Q é a vazão (m3/s), CQ é o coeficiente de vazão (geralmente em torno de 0,98), AG é a


área da garganta, em m2 e AE é a área da entrada, em m2, h é a diferença de pressão medida
entre a entrada e a garganta (mca).

Figura 19 – Tubo de Venturi.

Quando o venturímetro está acoplado a um manômetro diferencial, a diferença de


pressão medida pode ser determinada da seguinte maneira:

1                   2 
y
.
 x 

Assim, a carga devida à diferença de pressão, h, é dada por:


18
 

Exercício 12: Um tubo de Venturi, com os pontos 1 e 2 na horizontal, liga-se a um


manômetro diferencial. Sendo Q = 3,14 L/s e V1 = 1 m/s, calcule os diâmetros D1 e D2 do
Venturi, desprezando as perdas de carga. Dado m = 13.600 Kg/m3; H2O = 1.000 Kg/m3;
1Pa = 1,02.10-4 Pa.

2.6.2. Diafragma

O diafragma consiste em uma placa com um orifício instalada em uma tubulação. O


funcionamento é semelhante ao tubo de Venturi. O aumento da velocidade de escoamento
através do orifício implica em uma queda de pressão entre as faces de montante e jusante da
placa. A equação do tubo de Venturi para determinação de vazão pode ser utilizada para o
diafragma, sendo adotado um CQ médio de 0,61.

Figura 20 – Diafragma.

Os orifícios concêntricos intercalados nos encanamentos constituem um dos processos


mais simples de medição de vazões. A execução do orifício é relativamente fácil: o orifício de
diâmetro conveniente (entre 50 e 70% do diâmetro do tubo) é executado em uma chapa metálica
instalada entre flanges do encanamento.

Exercício 13: Deseja-se instalar um diafragma em uma linha de recalque de 550 mm de


diâmetro para medir vazões em torno de 275 L/s. Calcule a diferença de carga produzida.
Considere um orifício de 60% do diâmetro da tubulação.
19
 

2.7. Medidores Magnéticos e Ultrassônicos

Os medidores magnéticos baseiam-se no seguinte princípio: quando um condutor


elétrico se desloca através de um campo eletromagnético, a força eletromotiva induzida no
condutor é proporcional à sua velocidade. No caso, o condutor é a própria água e o campo
eletromagnético é formado por espiras em volta do tubo. A força eletromotiva é medida por
meio de eletrodos que devem ter contato com o líquido. Os medidores magnéticos são
produzidos normalmente para tubulações desde 50 até 900 mm. São peças caras, mas possuem a
vantagem de não causarem perda de carga.

O princípio de medição dos medidores ultrassônicos se baseia na diferença de


propagação de ondas ultrassônicas encaminhadas nos dois sentidos (montante e jusante). Sua
maior vantagem é a facilidade de instalação, sem a necessidade de interromper o funcionamento
(não há nenhuma peça dentro do tubo). Neste tipo de medidor também não há perda de carga.

Figura 21 – Medidores magnético e ultrassônico.

2.8. Rotâmetros

O medidor de área variável, ou rotâmetro, é um aparelho constituído por um tubo cônico


transparente, com a seção maior voltada para cima. Por esse tubo passa o líquido cuja vazão
deve ser medida, existindo um flutuador de forma adequada que se desloca com o movimento
do líquido.

Para cada vazão existe uma altura correspondente do flutuador, uma vez que a área da
passagem existente entre o flutuador e as paredes do tubo varia.

Figura 22 – Rotâmetro.
20
 

2.9. Hidrômetros

Os hidrômetros são aparelhos destinados à medição da quantidade de água que escoa


em intervalos de tempo relativamente longos. São muito empregados para medir o consumo de
água nas instalações prediais e industriais.

Existem dois tipos de hidrômetros, o hidrômetro de velocidade e o de volume. O


hidrômetro de velocidade possui uma turbina cujo número de rotações que mede indiretamente
a quantidade de água que passa pelo aparelho. O hidrômetro de volume possui um
compartimento que enche e esvazia continuamente, determinando assim o volume que escoa em
um certo intervalo de tempo.

Figura 23 – Hidrômetro.

2.10. Processos Químicos, Colorimétricos e Radiativos

Esses tipos de processos só são utilizados em casos particulares.

Um deles consiste em se descarregar, na corrente a ser medida, uma solução


concentrada de sal, com uma vazão constante q. Determinando-se a concentração final, obtém-
se a vazão procurada, da seguinte maneira:

Em que:

C0 é a concentração inicial na corrente;


C1 é a concentração da solução;
C2 é a concentração final na corrente;
q é a vazão da solução concentrada;
Q é a vazão na corrente.
21
 
O processo descrito pode ser aplicado satisfatoriamente apenas no caso de correntes
turbulentas ou de águas que passam por bombas ou turbinas, para garantir a mistura da solução
com a água.

Outro processo químico é baseado na condutividade da água, que se eleva quando um


sal é dissolvido. Empregam-se dois pares de eletrodos, cada par sendo instalado em uma seção
do conduto. Em um determinado instante, lança-se no conduto uma solução salina concentrada.
A passagem dessa pelas seções 1 e 2 é indicada por um medidor, registrando-se, desta forma, o
tempo decorrido no percurso. Como a distância entre as seções é conhecida, obtém-se a
velocidade da água.

Os processos colorimétricos são semelhantes: verifica-se, visualmente, a passagem do


líquido colorido. No caso de esgotos, é usado o processo colorimétrico para determinar a vazão.

Também é possível o uso de isótopos radiativos (traçadores) para estudo do movimento


da água e determinações de velocidades e vazões.

3. Determinação da Velocidade
3.1. Flutuadores

Este método possui pouca precisão, sendo usado normalmente em cursos d'água onde é
impraticável a medição por outros métodos.

Consiste em medir a velocidade média de escoamento da água em um trecho do curso


d'água previamente escolhido, com o auxílio de um flutuador e determinar a seção média do
referido trecho.

A velocidade superficial é, na maioria das vezes, superior à velocidade média do


escoamento. A velocidade média corresponde de 80 a 90% da velocidade superficial.
Multiplicando-se a velocidade média pela área molhada (área da seção transversal por onde está
ocorrendo o escoamento), obtém-se a vazão:

A determinação do tempo que o flutuador leva para percorrer o trecho escolhido deve
ser feita pelo menos três vezes, usando-se a média.

Figura 24 – Flutuadores.
22
 
3.2. Molinetes

Os instrumentos mais comuns para medição de velocidade de água em rios são os


molinetes, que são aparelhos constituídos de pequenas hélices que giram impulsionados pela
passagem da água.

Os molinetes são instrumentos projetados para girar em velocidades diferentes de


acordo com a velocidade da água. A relação entre velocidade da água e velocidade de rotação
do molinete é a equação do molinete. Esta equação é fornecida pelo fabricante do molinete,
porém deve ser verificada periodicamente, porque pode ser alterada pelo desgaste das peças.

De um modo geral, a velocidade da água em um rio diminui da superfície para o fundo e


do centro para as margens. É uma grandeza extremamente variável de ponto pra ponto e no
decorrer do tempo, para o mesmo ponto.

O método para determinação da vazão consiste nos seguintes passos:

 divisão da seção do rio em um certo número de posições para levantamento do


perfil de velocidades;
 levantamento do perfil de velocidades;
 cálculo da velocidade média de cada perfil;
 determinação da vazão pelo somatório do produto de cada velocidade média por sua
área de influência.

O número de pontos que devem ser posicionados os molinetes dependem da


profundidade do curso de água em estudo.

Figura 25 – Perfis de velocidade em uma seção transversal.

3.3. Requisitos para Medição de Vazão em Cursos D’água

Uma estação hidrométrica é uma seção do rio, com dispositivos de medição do nível da
água (réguas linimétricas ou linígrafas, devidamente referidos a uma cota conhecida e
materializada no terreno), facilidades para medição de vazão (botes, pontes, etc.) e estruturas
artificiais de controle, se for necessário.

A avaliação diária da vazão por um processo direto (medição e integração do campo de


velocidades na seção transversal) seria excessivamente oneroso e complicado, por este motivo
opta-se pelo registro dos níveis do rio e determina-se uma relação entre a vazão e o nível
denominada curva-chave.

Na escolha do local de instalação das estações fluviométricas deve-se procurar um local


do rio onde a calha obedece a alguns requisitos básicos:
23
 
 boas condições de acesso à estação;
 presença de observador em potencial, com duas leituras diárias (7 e 17 hrs);
 leito regular e estável (preferencialmente, que não sofra alterações);
 sem obstrução à jusante ou seja, sem controle de jusante;
 trecho reto, ambas margens bem definidas, altas e estáveis, e de fácil acesso durante
as cheias;
 local de águas tranquilas, protegidas contra a ação de objetos carregados pelas
cheias;
 relação unívoca cota x vazão.
 deverão ser colhidas informações seguras sobre cotas atingidas por enchentes e
estiagens notáveis.

Quanto à operação de uma estação fluviométrica, consiste basicamente, em realizar


leituras diárias das cotas pelos observadores e a realização periódica de medições de vazão pelos
hidrometristas.

Quanto à conservação e inspeção dos postos fluviométricos, devem ser observados os


seguintes itens:

 As escalas, no caso de não serem de placas de ferro, devem ser pintadas de branco
pelo menos uma vez ao ano;
 Quando as escalas forem fixadas em estacas, verificações de nivelamento deverão
ser feitas pelo menos duas vezes ao ano;
 As seções de medição deverão ser livres de vegetação junto às margens;
 Os observadores terão sob sua responsabilidade as réguas, os RNs, as estacas
existentes no posto fluviométricos e todos os demais equipamentos deixados no
local;
 As equipes que visitarem um posto fluviométrico, procedendo ou não a medição de
descarga, devem enviar relatórios para informar o estado do posto.

Bibliografia

AZEVEDO NETO, J. M. (1998). Manual de Hidráulica. 669p. São Paulo. Ed. Edgard
Blucher.

PORTO, R.M. (1998). Hidráulica Básica. 519p. São Carlos (SP). Ed. EESC/USP.

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