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Segredos

Carlie Ferrer
Copyright ©2015 Carlie Ferrer
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19/02/19982.
Segredos
Precisava me afastar da confusão
que havia em minha casa por conta
do casamento de minha irmã caçula.
Dei uma volta pela cidade com minha
amiga e fomos parar em um barzinho
com música ao vivo. Estávamos
animadas e meio bêbadas, quando o
vi. Numa mesa próxima a nossa,
beijando uma mulher desconhecida,
estava Eduardo, o noivo da minha
imã. Estaquei olhando-o, e foi como
se ele sentisse que havia sido
descoberto. Seus olhos pousaram em
mim e ele pareceu em pânico. Mais do
que depressa levantei-me e corri dali,
ouvindo-o gritar meu nome.
Foi uma noite péssima, eu precisava
contar à Lisa. Dormi pouco, e fui
acordada por ela, me pedindo ajuda
com a decoração. Nunca havia visto
minha irmã tão feliz, isso acabaria
quando contasse o que havia visto.
Será que acreditaria em mim? Eu
tinha que contar. Mas as palavras não
saíam. Era errado deixar que aquilo
fosse mais longe, esse casamento não
podia acontecer, mas me doía acabar
com sua felicidade. Após uma
coragem que não sei de onde surgiu, a
chamei. E bem nessa hora, ele
apareceu. Eduardo.
Lisa se jogou em seus braços
relatando as escolhas que
havíamos feito naquela tarde, ele
sorriu satisfeito ao constatar que não
havia dito nada. Assim que Lisa se
afastou, ele me segurou pelo braço.
— Sara, por favor, não diga nada.
Não traio sua irmã, foi um deslize.
Nunca mais irá acontecer.
— Está maluco se acha que
esconderei isso dela. Você deveria
contar, não eu.
— Não posso fazer isso. Eu a amo e
ela jamais me perdoaria. Por favor,
Sara.
— Pensasse nisso antes de
protagonizar uma cena daquelas em
um local público. Já pensou que assim
como eu vi, outro conhecido de Lisa
pode ter visto? Pensou no quanto a
está expondo ao ridículo?
— Não pensei, estava bêbado. Por
favor, Sara, amo sua irmã. Não conte.
— Conte a ela, Eduardo, você tem
até hoje à noite para contar, senão eu
mesma o farei. – Assim afastei-me,
deixando as coisas de uma forma
justa, ele devia contar, eu estaria aqui
para ampará-la quando ele o fizesse.
Mas ele não contou. Passou o
jantar ao lado dela, posando de noivo
perfeito perante minha família. Me
olhava de forma suplicante. Não sabia
mais o que fazer. Naquela noite, fui
ao quarto de Lisa. Estava radiante e
me convidou a escolher com ela o
vestido, comecei a me desesperar.
— Sara, o que há com você? Parece
estranha desde cedo.
— Lisa, se você soubesse algo que
fosse me machucar, mas que fosse
impedir a maior burrada da minha
vida, me contaria?
Ela estranhou e respondeu com um
semblante preocupado.
— Claro que contaria. Não guardo
segredos de você. O que está
havendo? Por que está tão
preocupada?
— Lisa, isso pode magoá-la. Mas
preciso que saiba...
O toque de seu celular me
interrompeu. Ouvi Lisa pedir a
Eduardo para ligar depois, pois estava
conversando comigo. Ele a prendeu
ao telefone o máximo que pôde. Não
conseguiria contar nada aquela noite.
Fui para o meu quarto, teria que
revelar a verdade no dia seguinte.
Lisa saiu cedo no dia seguinte, e só
voltou a noite, acompanhada por ele.
Eduardo me olhava de forma
ameaçadora. Assim que pude, o puxei
em um canto.
— Você já contou?
— Sabe que não posso fazer isso,
Sara, por favor, entenda.
— Essa noite, Eduardo, conte essa
noite ou contarei.
Esperava que ele contasse, eu não
deveria estar com esse peso sobre
minhas costas. Ele deveria falar, era o
justo. Mas não falou. E ficou para
dormir. Fez isso o resto da semana. A
cercava o tempo todo, eu não
conseguia ficar a sós com ela.
Certa noite, Lisa procurou-me.
— Tenho sido uma péssima irmã,
Sara. Edu tem monopolizado meu
tempo. Amanhã passaremos o dia
juntas e você colocará para fora o que
a tem perturbado.
Concordei e Eduardo atrás dela,
pareceu em pânico.
Não conseguia dormir, no dia
seguinte eu contaria. Assustei-me com
a porta sendo aberta, apenas a luz do
corredor iluminou sua sombra.
— O que está fazendo? Saia daqui!
— Sara, por favor. Não diga a ela,
não acabe com nosso amor.
— Vou contar! Você deveria fazer
isso. Não pode continuar enganando-
a.
Ele aproximou-se a passos largos.
Levantei-me para enfrentá-lo,
enquanto implorava que eu não
dissesse nada. Até que soltou:
— Lisa está grávida, Sara.
Foi como uma bomba, por que ela
não havia me dito? Não guardávamos
segredo uma da outra. O que eu faria?
Não contaria, ela que arcasse com as
consequências de suas escolhas.
O som da marcha nupcial anunciou
a entrada de minha irmã. Estava
linda, mas seu olhar perdido. Eduardo
sorria satisfeito. Laçou-me um olhar
de aviso, mas eu não faria nada. Mal a
cerimônia começou, a porta da igreja
foi aberta. A morena alta estava ali,
parada no corredor, a mesma que
estava beijando Eduardo. E quando
ele a viu, pareceu perder o ar.
— Leticia, o que está fazendo aqui?
— Então era verdade — a mulher
gritou os prantos. O que estava
acontecendo?
Lisa olhou-me, confusa e
desesperada.
— Não se importa com nossos seis
anos juntos. Não se importa com
nossos filhos. Você não se importa
com nada, Eduardo. Não merece viver
— acusou Leticia, então de repente
sacou uma arma. Não deu tempo de
ninguém alcançá-la. As pessoas
começaram a gritar, corri em direção à
Lisa, ela não podia feri-la, Lisa não
tinha culpa de nada. Mas os tiros
foram disparados antes que eu a
alcançasse. Em um segundo, Eduardo
caiu ferido ao chão, e no segundo
seguinte, Lisa.
— Não!
Mas ela fora atingida no peito.
Leticia não fez questão de fugir. Foi
presa. Contou que a reação de
Eduardo ao me ver no bar e correr
atrás de mim a fez seguir-me. Achou
que eu era sua amante, e então
descobriu Lisa.
Lisa não estava grávida. Nunca
existiu segredos por parte dela. E o
único que guardei dela, pode tirar sua
vida. Eu poderia ter evitado, se tivesse
contado. Tive tantas chances, achei
ter feito a escolha perfeita, achei que
ela deveria arcar com suas escolhas.
Segredos são perigosos, e sempre
pagamos ao guardá-los.

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