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INTRODUGAO O titulo proposto para este capitulo envolve aparentemente uma inconsistén- cia Iégica, porque, embora o manejo de testes projetivos possa ser intentade em termos quantitatives, a maioria dos auto- res que defende o seu uso o faz visando A exploragdo de aspectos dindmicos da per- sonalidade que adquirem significado sob a Otica de um referencial tedrico ao qual hd dificil acesso por via psicométrica. A questdo subentendida pode ser ca- racterizada como polémica. E verdade que o termo “medida” pode ser tomado sob varias acepgies, e, se o considerar- ‘mos mais literalmente como mensuracdo, ‘© tema pode ser abordado, demonstran- do que, mesmo nas chamadas técnicas projetivas, o material identificado como projetivo sé pode ser interpretado com cautela e dentro de “limites realisticos", autorizados por alguma forma de quan- tificagéo que proporcione um grau ra- zoavel de certeza (Exner, 1989, p. 534). J& em um sentido figurado, o vocdbulo “medida” pode ser entendido como “meio de comparacdo e julgamento” (Ferreira, 1986 p. 1109) e, entao, pode-se enfatizar ‘0 métado de enfoque projetivo “diferente daquele que fundamenta os testes psico- 16 MEDIDA PROJETIVA' Jurema Alcides Cunha Maria Lucia Tiellet Nunes métricos” (Anziew, 1981, p.16). Mas aqui, novamente, pisa-se em terreno movedigo. Por um lado, projetivo é um adjetive que € utilizado, ne campo do psiecodiagnéstico, para qualificar técnicas cujos estimulos € instrugdes potencialmente _ pretendem eliciar no sujeito © processo de projecio, ainda que possam também facilitar res- postas que representam simplesmente © produta do manejo légico do material estimulo. Assim, ha autores que preferem denominar as técnicas projetivas de indi- retas (Vane e Guarnaccia, 1989). Por ou- tro lado, o termo se aplica a determinadas respostas que de forma alguma sao exclu- sivas a testes projetivos, podende emergir no contexto estruturado da testagem com instrumentos psicométricos. Como escre- ve Shneidman (1965, p. 498), em seu tex- ta classico sobre técnicas projetivas, este € um assunto complexo cujo “conceito € a prépria denominacda colocam algumas questées fundamentais que demandam reflexdo” - em grande parte, a seu ver, a partir de uma confuso entre 0 conceita de projecdio e téenicas projetivas, que en- volvem palavras “que soam similarmen- te, mas que tém significagdes diferentes” (Shneidman, 1965, p. 501). Portanto, neste capitulo, procurare- mos examinar alguns pontos discutiveis "Este eapitulo fol eserta quando.a professora Jurema Alcies Cunha ainda exereia sua atlvidade acad#mica na PUCRS. 358 LuizPasquali &cols. implicitos nas questées em foco ¢ suben- tendidos por uma expressiio pouco espe- cifica - medida projetiva -, que parece ter potencial para encontrar sentido proprio no contexto da avaliagio psicolégica, ‘como uma outra dimensao para o enten- dimento da personalidade, se considerar- mos 0 uso clinico extensivo das técnicas projetivas hoje em dia. CONCEITO DE PROJECAO ETECNICAS PROJETIVAS ‘Ainda que ndo imune a outras cor- rentes de pensamento, a maioria des au- tores, associada a técnicas projetivas du- rante as séculos XX e XXI, esteve, de uma forma ou de outra, empenhada em refle- xdes sobre pressupostos psicanaliticos e, particularmente, preocupada com as pos- sivels relagdes entre uma psicologia proje- tiva e o conceite de projegao freudiano. Podemos situar as raizes desses mo- vimentos em 1894, quando Freud come- gou timidamente a esbogar o conceito de projegao ao tentar explicar uma estratégia do psiquismo para lidar com a angiistia frente a uma excitagao interna nfo con- trolivel, 20 comportar-se “como se esti- vesse projetando tal excitacdo para fora” (Freud, 1987b, p. 109), apesar de que, provavelmente, sé tenha chegado a usar © terme “projecao” em abra publicada em 1896, conforme comentério de Stachey (Freud, 1987c). Nos anos subsequentes a 1894, Freud continuou a examinar os processos utilizados para evitar a incur- sao na consciéncia de representagies in- conscientes, em dois artigos sobre meca- nismos de defesa (Freud, 1987c; 1987d) eno Manuscrito H, enviado a Fliess com carta de 24 de janeiro de 1895 (Masson, 1986, p. 105-112). Especialmente neste Ultimo, discutiu em minicia o mecanismo tipico da paranoia, cujo objetivo seria o de “defender o eu de uma ideia insuportd- vel, que é projetada no exterior” (Masson, 1986, p. 108-109), definindo suas diferen- cas em relago a outras defesas. Também discorreu brevemente sobre 0 que consti- tuiria uma proje¢ao normal e como seria ‘0 uso inadequado desse mecanismo psi- quico. Em 1911, chegou a uma explicagao mais clara da projerao, como a substitui- Gao de percepgdes internas por externas, mediante uma tética de atribuigao dos préprios sentimentos ¢ impulsos a pesso- as ¢ objetos externos (Freud, 1969b). No ano seguinte, em Totem e tabu, ampliou ‘a conceita, ao admitir que prajegdo é um proceso que nem sempre emerge como defesa ante um conflito, considerando-o um mecanismo primitivo, que pode in- fluenciar “nossas percepgées sensoriais, e que, normalmente, desempenha um papel muito grande na determinagéo da que toma nosso mundo de modo que “as nossas percepedes inter. nas de processos emocionais ¢ de pensa- mento podem ser projetadas para 0 exte- rior da mesma maneira que as percepcdes sensoriais” (Freud, 1974b, p. 86). E, mais adiante, fez uma afirmagao muitas vezes retomada como pressuposto tedrico da psicologia projetiva, ao dizer que, assim, estamos reconhecendo a existéncia de dois estados: um em que algo ¢ diretamente fornecido aes sentidos {ou seja, estd presente neles) ¢, a0 lado deste, outro, em que a mesma coisa ¢ latente, mas acaba de reapa recer — ou, essencialmente, estamos reconhecendo a coexisténcia da per- cepgio ¢ da meméria ou, em terms mais gerais, a existéncia de processas interes inconscientes, 20 lade dos conscientes (Freud, 1974b, p. 117). Como chamam a atengio Laplan- che ¢ Pontalis (1968), Freud retomou 0 tema em uma série de outros pontos de sua obra. Nao obstante, segundo Exner (1989), é em Torem e tabu (1974b) que ele explicou a projeqio de forma mais aplicdvel ao conceito implicito em testes e respostas, que se qualificam por seu sen- tido projetivo, adotado por Murray, para esclarecer o fendmeno observado na in- terpretago que o sujeito faz no TAT, a0 integrar “experiéncias passadas e necessi- dades presentes", expressando contetidos de nivel consciente e inconsciente (Mur- ray, 1951, p. 38). Murray, conforme Bernstein (1951), admitiu que 0 conceito de projecio em- prestava peculiaridade a sua técnica, es- tabelecendo uma diferenciaco triplice no processa, como projecio externalizadora, defensiva e expressiva. No entanto, o sen- tido que deu & projecao, referido anterior- mente, fez com que Exner (1989) reca- pitulasse o ponto de vista de Shneidman (1965), ao concordar com Lindzey (1961) em sua afirmagéo de que Murray foi o res- ponsdvel, em 1938, pelo estabelecimento do elo entre o conceita de projegdo e as técnicas projetivas. Esse vinculo tem sido atribuido, inclusive par Bernstein (1951), & posig¢éo defendida por Franck, em sua obra publicada em 1939. Nao obstante, como Lindzey (1961) salientou, a popula- rizaglo das expresses “técnica projetiva” e “métoda projetivo”, sem diivida, ocor- reu pela influéncia do trabalho de Franck, ainda que, paradoxalmente, este autor te- nha demonstrado completo desinteresse pelo referencial freudiano. Ele simplesmente aproveitou “o termo, numa rudimentar analogia espa- cial”, para designar “a tendéncia geral do individu para revelar porgées significa- tivas de sua personalidade, quando estd estruturando, de forma livre, objetos do mundo exterior” (Lindzey, 1961, p. 37). Ao explicar tal conceito, segundo Shneid- man (1965, p. 501), enfatizou o cardter holistico da personalidade e a “natureza Instrumentagdopsicolégica 359 idiossincrdsica da _percepoda humana”. Mas, como suas ideias assumiram a li- deranga na psicologia projetiva, sua po- sig constituiu o ponto de partida para as crescentes dificuldades, nese campo, de harmonizar os pressupostos freudianos com o conceito implicito nas técnicas pro- Jetivas. Todavia, observa-se que a maioria dos adeptos do enfoque projetivo tem se notabilizado por seus esforcos para de- finir um embasamento tedrico de cunho psicanalitico, sofrendo, entretanto, outras influéncias de correntes de pensamento. Abt, por exemplo, procurou conciliar o referencial tedrico da psicologia da Ges- talt com. pressupostos psicanaliticos, ao analisar a natureza e a funcao da percep- io. Da ago da percepgio dependeriam todos os métodos projetivos, sustentando © autor que mecanismos de defesa, dos quais o mais importante seria a projecdo, atuariam sobre a percepcao, permitinda que ela “desempenhe um papel signifi- cativo no processo de homeostase psico- l6gica” (Abt, 1967, p. 46), ao possibilitar 0 manejo adequado da ansiedade, Como comenta Exner (1989), Abt ¢ 0 exemple de um autor que, ao lado de outros nesse século, centrou sua fundamentagao teéri- ca no cardter defensivo da projegao freu- diana, ainda que Ihe emprestando nova roupagem e enfatizando seu sentido ho- meostitico. Bellak (1967) inicialmente adotou um ponto de vista praticamente idéntico ao de Abt. Mais tarde, com base em resul- tados de investigagées, rejeitou a conota- Go indiscriminada de defesa no conceito de projecdo, Retomou a obra de Freud, mais especificamente sua discussio refe- rente & projeco em Totem e tabu (Freud, 1974b), detendo-se em sua pressuposi¢iio da coexisténcia de processos conscientes e inconscientes, para explicar a influéncia de percepgdes passadas sobre a percepciio atual dos estimulas. Julgando que a de- 360 LuizPasquali&cols. signaglo de percepsio, na época, podia estar comprometida com uma cancepgaio nao holistica da personalidade, pelo termo apercepgao (antes jé utilizado por Murray), para se referir a “uma inter- pretacdio (dinamicamente) significativa que © organismo faz de uma percepcio” (Bellak, 1967, p. 27). Caracterizou, entio, a apercepcao pela carga subjetiva de con- teides da experiéncia passada do indivi- duo, que impregnam sua percepeao atual, Provocando um fenémeno chamado de deformacio aperceptiva. Assim, a partir de uma hipétese de trabalho, subentendi- da pelo conceito de apercepgio, diferen- ciou “graus de deformagao aperceptiva” (Bellak, 1979, p. 21), que seriam: a) projegdo invertida, em que a defor- magao aperceptiva encontrada em Tespostas ao teste ¢ mais severa, por um processo de defesa, tal como Freud descreveu no caso Schreber (Freud, 1969b); b) projegio simples, em que a deformagio aperceptiva se baseia em contetidos mnémicos anteriores, que padem se transferir & nova situagdo, nao tendo necessariamente significado clinico; c) sensibilizagio, em que a deformagio aperceptiva se justifica, porque a si- tuagdo atual mobiliza um modelo de resposta aprendido anteriormente em outra situagdo com conotagbes seme- Thantes, mas que é inadequado no mo- mento; ) percepcao autistica, em que a defor- mag&o aperceptiva acontece a partir de lembrangas perceptuais associadas com impulsos basicos primitives, even- tualmente considerada come um pro- cesso de projecao simples; e e) externalizagio, que, ao contrério dos anteriores, “dos quais o individuo co- mumente no estd consciente” (Bellak, 1967, p. 29), é um processo que pode ser considerado pré-consciente, em vista de seu “facil acesso A conscién- cia” (Bellak, 1979, p. 25). Conforme Bellak (1979), enquanto Murray distinguia subtipos de projecio, analisando seu contetido especifico, ele se preocupou em definir “o grau de severi- dade ou complexidade” ou, ainda, “o grau da inconsciéncia relativa da deformaciio". Porém, ndo se deteve apenas no compor- tamento projetivo ~ que é o que envolve a deformagdo aperceptiva -, mas examinou © papel do comportamento adaptative - que tem um cardter perceptivo, porque depende fundamentalmente dos elemen- tos reais ¢ objetivos do estimulo ~ e, tam- bém, do comportamente expressive - que reflete as diferencas individuais que deter- minam n&o o conteddo da resposta, mas suas caracteristicas (Bellak, 1979) e.0 seu estilo (Wolff e Precker, 1976), afirman- do que esses comportamentos “sempre coexistem” (Bellak, 1979, p. 26). Além disso, também se diferenciou da posigao de Murray, quando, sob a influéncia das ideias de Hartmann (1968), sugeriu que 0 ego constitui uma varidvel interveniente entre o conteddo latente ¢ o manifesto, chegando a abordar a questo da regres- 40 a servico do ego na produgio imagi- nativa, tema retomado mais tarde em ou- tro contexto (Bellak, Hurvich e Gediman, 1973) e melhor explorado, em relagéo as técnicas projetivas, por Schafer (1954: 1978) e Holt (1970). Cattell (1976, p. 89) considerou er- rénea a énfase dada pelos pioneiros da psicologia projetiva ao conceito psicana- litico de projecéo, salientando que outros mecanismos de defesa poderiam contri- buir para que aspectos din@micos “rom- pessem as barreiras da consciéncia’, pelo que propés que os instrumentos para sua investigagdo se chamassem testes de di- ndmica de defesas do ego ou, simples- mente, testes de dindmica ou testes de defesa. Esses testes deveriam apresentar a qualidade metedolégica dos chamados “testes objetivos", uma vez que avaliam diferengas individuais em uma atividade Uma série de fatores poderiam ser responsiveis pela percepgao diferenciada individualmente, enquanto comparada com uma “percep¢io normal”, O estudo de tais diferengas poderia ser feito por meio de testes de apercepcao ou de per- cepgdo errénea, que permitem a investi- gacdo “de distorgdes ocasionadas por ne- cessidades dinfmicas” ¢, portanto, no se referem apenas “As suscitadas por efeitos cognitivos, associados a inteligéncia ou & meméria”, por exemplo (Cattell, 1976, p. 131-132). Essas distorgées podem resul- tar de “estados emocionais transitérios", dedesejes ou, ainda, de “tragos dinamicos permanentes” (Cattell, 1976, p. 96), que hoje seriam earacterizados como egossin- t6nicos ou no. Quanto A percepgdo errd- nea, esta é explicada a partir de um con- ceito amplo de projegdo. Cattell (1976, p. 99) diseute as diferentes modalidades de atuacao e operacionalizagao da percepgao errdnea e aplica essa classificagio tanto para uma “inferéncia ingénua”, para uma distorgdo, em que o sujeito transforma as percepgdes “em algo semelhante ao obje- to de seus desejos”, como para 0 reflexo de uma necessidade de tomar a realida- de externa compativel e consistente com aspectos subjetivos interiores ou, ainda, para um mecanismo defensivo, caracteri- zado pela atribui¢do de aspectos interio- res inaceitéveis a objetos do mundo ex- terior. Possivelmente seja em raziio desse sentido amplo que Exner (1989, p. 521) afirma que Cattell considerou a projecio simplesmente “como um processo que for- nece informagies sobre a personalidade”. Rapaport (1965) aceitou a hipétese projetiva como embasamento dos testes projetivos, mas deixou claro que o concei- to de projegao adotado nao pressupunha a atribuigdo de sentimentos e impulsos a Instrumentacio psicolégica 361 pessoas do mundo externo nem tinha o carter de mecanismo de defesa. Admitiu que a projecdo pode ocorrer em téenicas diretas ¢ indiretas de avaliacdo psicolégi- ca, porque as manifestacdes do comporta- mento do individuo so reveladorasde sua personalidade. Porém, em sua opinido, os instrumentos que podem ser considerados mais especificamente como projetivos sio aqueles “em que o sujeito, ativa e espon- taneamente, estrutura material nao estru- turado e, ao fazé-lo, revela seus principios estruturadores, que sio os principios de Sua estrutura psicalégica” (Rapaport, Gill e Schafer, 1972, p. 225). Rapaport (1978) aceita o que chama de modelo psicolégico da psicandlise por- que o entendimento das respostas dadas a uma técnica projetiva — que refletem a estrutura psicolégica do sujeito - “impli- ca uma teoria de personalidade que pres- suponha que grande parte da estrutura psicolégica née ¢ conscientemente expe- rienciada por ele”, de forma que estéio em Jogo motivacdes inconscientes; assim, & necessdria “uma teoria de personalidade que pressuponha a existéncia dessas mo- tivagtes e as explique" (Rapaport, Gill ¢ Schafer, 1972, p. 228). Nao obstante, uti- liza conceitos freudianas de forma criti- ca, porque “a personalidade se manifesta (nos testes projetivos) mediante um pro- cesso de pensamento ou um produto des- s@ processo”, e, portanto, “a exploracdo consistente dos testes projetives é uma exploragdo dos processos de pensamento” sua psicologia é “parte da psicologia do ego” (Rapaport, Gill e Schafer, p. 229). A psicologia projetiva, pois, lida fundamen- talmente com processos que ocorrem no ego, supondo-se, entretanto, a possibili- dade da emergéncia de material oriun- do do inconsciente nesses processos, em especial quando o pensamento carece de organizacdo. Em consequéncia, ¢ necessd- rio o referencial freudiano para o enten- dimento desse material, mas sao basicos 362 Luiz Pasquali &cols. os conceitos da psicologia do ego para a compreensdo dos processos de pensamen- toe dos mecanismos de defesa do ego. Neste ponto, parece oportuno repetir a pergunta levantada por Murstein e Pryer, em 1959: “Quantos tipos de projegio exis- tem?". Em sua étima revisio, para a épo- ca, da literatura existente, concluiram que ha cerca de “quatro categorizacies possi- veis do conceito de projecdo: ‘cldssica’, ‘atributiva’, ‘autistica’ e ‘racionalizada™ (Murstein ¢ Pryer, 1959, p. 353). A pri- meira corresponderia ao conceito inicial de Freud (1987), admitindo, porém, que também tragos favordveis pudessem ser projetados no mundo exterior. A projecio atributiva seria a mais amplamente utili- zada no campo da personalidade, como tatica de atribuigdo, nos termos descritos por Freud (1974b) em Totem e tabu. Jé a Projegao autistica ocorre quando a percep- cao sofre forte influéncia das necessidades do individuo, no sentido de que “os aspec- tos formais do objeto percebido sio modi- ficados de modo a se tornarem consisten- tes com a necessidade” (Freud, 1974b, p. 354). A projegdo racionalizada envolveria um processo que se mantém inconsciente, como no caso da projegio cldssica, mas © comportamento é consciente no individuo, que o justifica por meio de uma raciona- lizago. Conforme esses autores, esse tipo de projecio foi considerado uma projegio complementar por Allport, uma projegio do reciproco por Piaget, e Van Lennep a de- finiu ndo exatamente como projeso, mas como seu correlato. ‘Apés a discussie dessas categoriza- ges possiveis de projegao, conforme a utilizagio do conceito por autores va dos, Murstein e Pryer passaram a exami- nar pesquisas desenvolvidas sobre o tema, no periodo entre 1936 e 1957, analisan- do um total de 45 trabalhos. Deixando de lado alguns em que foi dificil chegar a conclusées em face dos “métodos varia- dos de mensurar 0 conceite” (Murstein e Pryer, 1959, p. 358), suas criticas, em ge- ral, se centraram na defini¢fo operacional de projegdo, afirmando que é necessario que esta “nio se afaste da significagio psicoldgica aceita do conceito” (Murstein e Pryer, p. 368). Por outro lado, a partir da revisio da literatura efetuada, propu- seram que a definigdo de projecdo se limi- tasse “i manifestaciio de comportamento do individuo, que indique algum valor ou necessidade emocional de mesmo", por- tanto, excluindo “componentes fisiolégi- ‘cos ou cognitives” e acrescentando que “tal comportamento pode variar no grau de defensividade, dependendo do con- texto situacional e da personalidade do que percebe” (Murstein ¢ Pryer, 1959, p. 370). Exner (1989) também desenvolveu pesquisas sobre a projecdo, afirmando que esta néo é uma questdo simples, em vista da propria complexidade das opera- Gbes psicolégicas que ocorrem durante © ‘processo de resposta a estimulos, como 03 do Rorschach. Por outra lado, salienta que nao € possivel partir da pressuposigao de que 0 sujeito, frente a um campo de esti- mulos néo estruturado, impregna de ele- mentos subjetivos a sua percepedo atual, pois, se isto fosse verdadeiro como todas as manchas de tinta do Rorschach envol- vem caracteristicas de escassa estrutura e ambiguidade, todas as suas respostas de- ‘veriam conter material projetivo. Exner faz uma andlise das operagdes percepto-cognitivas que se sucedem no proceso de resposta, demonstrando que, embora o processamento de informacdes seja muito rapido (1983), é possivel iden- tificar trés fases, ainda que niio totalmente distintas entre si (1989), como sao apre- sentadas no Quadro 16.1. A complexidade das operagies psico- légicas envolvidas no processo de resposta leva a certas consideragies. Por exemplo, nao se ingenuamente afirmar que, como se tratam de meras manchas de tinta, 363 Instrumentagie psicalégica QUADRO 16.1 Fases ¢ operagdes de processa de resposta Faset Fase tt ‘Faget 1. Codincagie do-campa 3. Reexploragde do campo 5. Selegio final das respostas de estimules para refinarrespostas potenciais —_potencialsrestantes 2. Classicario da A. Rojelgio de respostas potencials 6, Artioulagio da respostas -codificada ee suas partes selecionada “em respostas nto ustveis au por ondenayio ‘ou censura, na comparagic vente si Fonte xr, 1989, 9.522, © fato de o sujeito dar a resposta de morce- go a Lamina | implicaria um afrouxamento do juizo critico, em uma aplicagao estrita do conceito de regressao a servigo do ego, que seri discutido mais adiante. Além das prdéprias instrugdes serem suficientemente flexiveis, o ndmero de sujeitos que dé essa resposta, com base no conterno da man- cha, torna claro que “o exemplo mais ébvio da realidade da mancha e de seu impac- to sobre o processo de resposta é 0 escore do determinante F" (Peterson e Schilling, 1983, p. 268). Reconhece-se, portanto, que elementos do estimulo tendem a com- pelir certas respostas, “limitando ou inibin- do outras classificagdes” (Exner, 1989, p. 522), como se evidencia claramente nas respostas populares. Assim, resultados de pesquisa de Exner e Martin, citados pelo primeiro, demonstraram que, com a ex- elusio das projeges Dd 34 da mancha da Lamina 1, nenhum sujeito forneceu a tradicional resposta de morcego e ape- nas 6% produziram a resposta de animal alado. Em face disso, é possivel concluir que “as caracteristicas criticas do estimulo criam limitages na amplitude de respos- tas que podem ser geradas, sem restringir ‘as propriedades ou realidades do campo” (Exner, 1989, p. 524). Por outro lado, ou- tras caracteristicas da mancha, além da forma, podem influenciar na escolha das Fespostas potenciais alternativas. Entdo, na Lémina I, o sujeito “mais convencional, preciso € conservador em suas operagdes decisérias” valorizard o determinante cor ¢ responderd que se trata de um morcego, rejeitando a resposta borboleta, que impli- caria a desconsideragio “da incongruéncia do colorido” (Exner, 1989, p. 522). Assim, embora no se possa negar a possibilidade de o sujeito inclair material projetado em sua tradugdo do estimulo, estudos de teste e reteste realizados pela equipe de Exner revelaram que a selecéio final das respos- tas verbalizadas dependia basicamente de dois fatores: a organizagao psicalégica do sujeito e 0 seu estado psicoldgico. Jd as projegdes que, segundo Exner, se verificam conforme os processos des- critos por Freud e Murray podem ocorrer em qualquer das trés fases do processa de resposta. Na fase I, os elementos de realidade assumem enorme importdncia, diminuin- do as possibilidades de projegao. Entre- tanto, eles podem “ser violados ou igno- rados” na percepgdo. Se o fato nao resulta 364 LuizPasquali & cols. de distorgdes de ordem neurofisiolégica, é possivel pressupor que decorra “de algu- ma forma de mediagdo cognitiva”, em que aspectos psicolégicos internos modificam “uma tradugdo do campo orientada para a realidade” (Exner, 1989, p. 528). Nas fases Ie Il, em que “cada res- posta potencial é revisada, julgada ¢ refi- nada”, hd condigdes favordveis, “em que 9 sujeito pode embelezar a resposta” (Ex- ner, 1989, p. 529). Mesmo assim, se admi- te que ela possa representar uma supere- laboragao de atributes do estimulo. Para ‘testar essa pressuposiciio, foram realiza- dos estudos com sujeitos que apresenta- vam escores altos em escalas que mediam certos tracos de personalidade, como cao- peragio, agressfio ou morbidez. Foi verifi- cado que eles tendiam a dar, no Rorschach, Tespostas que envolviam contetido idénti- ‘co, em mimero aprecidvel, embora néio de modo exclusive. Em outro estudo, foram Propostas respostas alternativas para de- ‘terminadas localizagdes nas dez manchas. Os sujeitos, diferenciados por certos tragos de personalidade, tendiam a selecionar, entre tais respostas alternativas, a mais compativel com suas disposigdes internas. ‘Outra pesquisa demonstrou que, mesmo que as respostas do sujeito possam refletir influéncias sobre a expectativa de determi- nnados contetidos, ainda é possivel registrar a importancia dos efeitos de “disposicées interns, criadas por caracteristicas poten- tes da personalidade (por exemplo, ne- cessidades, interesses, aptidées, conflitos, etc.)” (Exner, 1989, p. 534). Em resumo, fica evidente que, embo- ra cada resposta constitua “uma represen- tagdo indireta das operagdes psicoldgicas do sujeito”, de forma alguma isso “signi- fica que cada resposta ou partes de cada ‘Tesposta sejam produtos de praje¢ao” (Ex- ner, 1989, p. 520). Esta é apenas possivel, nao obrigatéria. ‘Tais consideragies, feitas a partir de ‘estudos com o teste de Rorschach, sfo.apli- caveis, em diferentes graus, a questiio das Tespostas a outras técnicas. Por exemplo, o CAT é considerado uma técnica projeti- va utilizdvel a partir dos 3 anos de idade (Bellak e Bellak, 1981; Hirsch, Verthelyi e Rodriguez, 1979; Anzieu, 1981). No en- tanto, investigagGes feitas com criangas de idade pré-escolar, utilizando um sistema de escore (Cunha, Nunes e Werlang, 1990; Cunha ¢ Werlang, 1991), demonstraram que, até os 5 anos, predominam respostas de cardter no aperceptive — descrigdes ou enumerages -, porque a grande maioria desses pré-escolares ndio consegue ultra. passar a simples percepgio dos elementos de realidade do estimulo, portanto, sem evidéncias de projegio. J4 com o aumento gradual da idade, verifica-se que surgem, aos poucos, tentativas de interpretagéo que, segundo Hoar e Faust (1962, p. 245), existem, quando “sentimentos dos sujeitos sao descritns, estados psicalégicos sao infe- ridos, atividades ndo representadas nas fi- quras tém lugar”. Ora, é Idgico pensar que somente quando as respostas so de cunho interpretativo existe alguma probabilidade de ocorréncia de projegdes, sempre ressal- vada a possibilidade de constituirem so- bre-elaboragées de atributos do estimulo, principalmente quando so elegidos temas frequentemente eliciados. Antes, parece ser possivel pressupor que, nfo 86 no Rorschach, mas em outras técnicas ditas projetivas, se verifique uma série de operagées psicoldgicas no proces- so de resposta, com a ocorréncia, em uma primeira fase, de um escrutinio do campo de est(mulos ¢ uma classificacdo dos seus elementos de realidade. Estudos realiza- dos e a revisio da literatura possibilitam que se afirme que o processo - que se de- senvolve e até a elaboragdo da resposta final (seja esta uma histéria, um desenho ‘ou, mesmo, uma resposta A apresentacdo de uma mancha de tinta) - parece de- pender fundamentalmente da “maturida- de para cumprir a tarefa” (Cunha et al., 1993, p. 264) e de condigdes de integrida- de das fungdes do ego (Montagna, 1989), que podem levar ao embelezamento (Ex- ner, 1989) ou, eventualmente, 4 deterio- ragio do produto final, julgados esses em termos de parametros da realidade. Portanto, de forma subjacente ao desempenho observavel na testagem ¢ de acordo com as expectativas implicitas nas instrugdes propostas pelas diferentes técnicas, pode-se afirmar, com Rapaport (1978, p. 134), que “estd 0 processo do pensamento” naturalmente consubstan- ciado por outros processos cognitivas. O conjunto de operaées psicoldgicas que se estabelece explica 0 manejo légico do material estimulo, que ancora o desempe- nho aos elementos de realidade, em uma tarefa que envolve sempre a solucio de problema, que exige “uma adaptagio a estimulos exteriores estabelecidos, quer dizer, (que) pde em jogo a fungao de rea- lidade” (Rorschach, 1948, p. 120). Nessas circunstancias, a emergéncia de material projetivo, embora possivel, nao 6 obrigatéria, nem tio provavel ou frequente como originalmente se supu- nha. Nao obstante, 0 foco dessa discus- sdo envolve uma tentativa de deslindar o que ha de projetivo nas técnicas projet vas. Por outro lado, hd fatos observaveis que nao podem ser descartados ¢ exigem reflexdo. Assim, em protocelos de indivi- duos obsessivo-compulsivos, constata-se uma aderéncia rigida aos elementos de racionalidade e o controle estrito na for- mulacéo das respostas para se adequar & realidade. J4 em material produzido por individuos com personalidade borderline ‘ou em muitos exemplos de respostas de esquizofrénicos, podem ser destacados excertos compativeis com modos arcai- cos, primitivos, magicos de raciocinio, que contrastam extraordinariamente com as regras comuns da ldgica. Para o entendimento dessa variabili- dade que se insinua em produtos de tes- 365 Instrumentagéo psicokigica tagem, ¢ importante, de um ponto de vis- ta teérico, a consideracie do conceito de regressiio a servico do ego, “baseado na possibilidade de, com o afrouxamento de controles, haver um movimento regressi- vo ao longo de um continuum entre 0 pro- cesso secundério e 9 proceso primério” (Werlang ¢ Cunha, 1993, p, 125), Freud, principalmente em duas de suas obras (19742; 1977), mencionou a possibilidade de um tipo de pensamento caracteristico do inconsciente aparecer ao nivel da consciéncia nos chistes, nos so- nhos e na psicose. Seria o caso da regres- sio formal, em que “métodos primitives de expressdo e de representacdo tomam © lugar dos métodos habituais” (Freud, 1987, p. 501), fendmeno que, poste- riormente, foi denominado per Kris como regressiio a servigo do ego, conforme re- ferem varios autores. Trata-se de uma mu- danga no processo do pensamento (Holt, 1970). Na realidade, Rapaport (1962) su- gere que Freud associou os conceitos de processo primaria e secundario, respec- tivamente, aos dois prineipios de funcio- namente mental, De fato, encontra-se em sua obra que fantasia é uma atividade “que foi liberada do teste de realidade © permaneceu subordinada ao principio de prazer”, ao passe que o pensamento ¢ explicado como uma funcao do aparelha mental, coibida de descarga motora, de- senvolvida pela “apresentacao das ideias”, dirigida “para as relagdes entre impress6es de objetos" e que, geneticamente, “nao adquiriu outras qualidades perceptiveis & consciéncia até haver-se ligado a residuos verbais” (Freud, 1969a, p. 281). Assim, o processo primario, observa- do em modes de pensamento primitive ou desorganizado, desconsidera a realidade, regido pelo principio do prazer, mas tem propriedades formais que permitem o seu entendimento. Ja 0 proceso secundario apresenta todas as caracteristicas do pen- 366 LuizPasquali & cols. samento consciente de uma pessoa nor- mal e civilizada (Holt, 1970). Tais construtos, criados por Freud, sGo Gteis em seu sentido conceitual, mas Tepresentam uma abstracdo que realmen- te nao se apresenta por si. Antes, pode- +se imagind-los como polaridades, entre as quais pressupde-se um continuum, a0 longo do qual o pensamento flui, com “to- dos os graus de tradigéo" (Schafer, 1978, p. 89), podendo a regressfio que ocorre adquirir um cardter adaptativo, se esté a servigo do ego, ou nao. No interesse do ego, hd uma redu- cao de controle que possibilita que o pen- samento se libere das regras rigidas do processa secundério, abastecendo-se de recursos e fenémenos mais comumente ‘utilizados nos sonhos. H4 afrouxamento, mas nao perda de controles, de modo que € facilmente reversivel, culminando “em fases progressivas, em que os produtos do movimento regressivo sio claborados ‘ou sintetizados” de uma forma “orientada para a realidade objetiva” (Schafer, 1978, p. 87), resultando em uma criagdo artisti- ‘ca au em uma resposta bem organizada e embelezada a técnicas projetivas. Mesmo a servigo do ego, o movimen- to regressivo pode se mostrar vulnenivel a conflitos anteriores, ndo completamen- te elaborados, havendo indicios que faci- litam seu entendimento psicodindmico. ‘Mas, quando as fantasias so muito per- turbadoras, costumeiramente sfio mobili- zados sinais afetives de alerta que dimi- nuem os perigos que ameacam o éxito da reversdo do processo, senda que esses so mais sérios quando as fungdes do ego séo mais frageis, menos autnomas para neu- tralizar impulsos mais primitivos. Portanto, se a possibilidade de se efetuar o movimento regressivo depende de certa flexibilidade do ego, que permite um afrouxamento das regras mais rigidas do processo secundario, também a rever- ‘sfio do processo, para propdésitos adap- tativos, é possibilitada por determinadas condigées do ego. Como as regressées narmais do de- senvolvimento infantil, que séo tempord- rias € reversiveis, so processos que cons- tituem — como afirma Anna Freud (1971, p. 5), concordando com Spitz - “respostas teis & tensdo de um determinado mo- mento”, da mesma maneira se pressupbe que, numa situagio de testagem, o pra- cesso ocorre quando os estimulos pro- vocam uma mobilizacdo afetiva muito intensa. Sendo o movimento regressivo a servigo do ego, hd fatores facilitadores da reversio da processo, principalmente a existéncia de um sentido primdrio de identidade do ego, consubstanciado pelo estabelecimento de um vinculo de apego em relagdes mais precoces positivas. Essas cireunsténcias possibilitam “a tolerdneia de contetidos mais arcaicos e a percepgio de condigdes pessoais para reardend-los, emergindo da situagio com uma respos- ta de melhor nivel. Nao obstante, se tais requisitos ndo siio satisfeitos, “observa-se a fluéncia de contetidos do proceso pri- mério, com presenga ou nao de ansiedade ede recursos defensivos, mas nao se veri- fica a reversibilidade do processo” (Cunha e Nunes, 1993, p, 103). Consequentemen- te, o cardter patolégico do processo “ndo 6 determinado pela profundidade da re- gressdo, mas antes por sua natureza irre- versfvel, pelo conflito que engendra e por sua interferéncia no processo de adapta- ¢do” (Arlow ¢ Brenner, 1964, p. 82). Além de um afrouxamento de con- roles suscitado pela mobilizacio afetiva, Holt (1970) sugeriu outros motives para os testes projetivos facilitarem a emergén- da fantasia do sujeito. Fazendo referén- cia mais especifica ao teste de Rorschach, salientou que as préprias instrugdes fa- vorecem a produgio de imagens visuais, com desencorajamento implicite de ideias abstratas, que so “exelusivas do proces- so secunddrio” (Holt, 1970, p. 272). Em segundo lugar, considerou que a ambi- guidade dos estimulos nao familiares e a abertura proporcionada pela natureza das instrugdes incentivam uma abordagem mais imaginativa e, em terceiro lugar, a suposta reputacao do teste, como um ins- trumento de exploragao de aspectos mais profundos da personalidade, desencadea- ria um estado de ansiedade que eliciaria contetidos do processo primdrio. Esse tipo de regressio constitui, pois, uma fun¢do do ego. Se este é mui- to rigido, a capacidade de regressiio pode ser obstaculizada ou limitada; quando & flexivel, nao s6 tolera modos de funciona- mento mais primitivos como ¢ capaz de controlar ou de interromper a regresséo, promovendo o movimento inverso, reor- denando, elaborando ou sintetizando o material da fantasia, de acordo com os requisitos do processo secundario e com as exigéncias implicitas na tarefa. Por ou- tro lado, a perda do controle da regres- sio proporciona indicios patolégicos, eventualmente emergentes mesmo em um contexto de testagem neutro. Estes podem permitir identificar transtornos de pensamento, de valor diagnéstico em cer tos quadros nosolégicos (Carr e Goldstein, 1981; Berg, 1983; Edell, 1987; Rosenberg e Miller, 1989; Garmer, Hurt e Gartner, 1989). Por outro lado, hd muito vém sen- do feitas tentativas para criar um sistema de escore para a mensura¢de do material do processo primario (Klopfer et al., 1954; Holt e Havel, 1961; Holt, 1970). J as vi- cissitudes do proceso fornecem subsidios para o entendimento psicodinimico, ad- quirindo significado em uma perspectiva teérica. Esta ultima alternativa, com sua én- fase no modelo clinico, coloca o psicélo- go, “mais do que o teste, no centro do pro- cesso de avaliacao®, criando contravérsias com profissionais mais definidamente comprometides com uma orientagdo psi- cométrica (Korchin e Schuldberg, 1981, Instrumentagdopsicolégica 367 p. 1147), além de ser criticada por sua as- ‘sociagdo com pressupostes psicanaliticos e vista ceticamente por grupos de profis- sionais adeptos de uma pasigdo cientifica mais rigidamente sofisticada (Goldstein Hersen, 1990), Ora, considerando questées metodo- Idgicas, o enfoque projetivo est4 realmen- ‘te em desvantagem na atualidade. Ainda que uma interpretacao desse tipo deva ser feita dentro de “limites realfsticos” (Exner, 1989, p. 534), com base em evidéncias quantificéveis ¢ no simplesmente bus- cando a significagio isolada de ind{cios, ‘como a proposta por “livros de receita”, do tipo apresentado por Jolles (1992), muitas pesquisas devem ser desenvolvi- das para esclarecer melhor a questo da Pprojegéo e equaciond-la mais cientifica- Mente, antes que as técnicas projetivas ‘merecam 0 status que Ihes foi atribuido em meados do século XX ¢ que se possa falar em medida projetiva sem pruridos polémicos. FORCAS E FRAQUEZAS DAS TECNICAS PROJETIVAS Pesquisas de opinido sobre técnicas projetivas e coletas de informacées sobre 9 seu uso, ainda que nem sempre concor- dantes, ressaltam a sua importancia. Uma investigacao entre $00 psicé- logos da American Psychological Associa- tion (APA), cujos resultados foram divul- gados em 1977, sugeriu que o status das ‘téenicas projetivas nao sofreu modifica- gio desde um levantamento realizado em 1960. A grande maioria dos psicdlogos ‘utilizava téenicas projetivas, em baterias que incluiam também testes objetivos, embora reconhecesse suas limitagdes psi- cométricas (Wade ¢ Baker, 1977). Ndo ‘obstante, um estudo comparativo entre as opinides de psicdlogos clinicos de 103 de- partamentos académicos (com programas 368 Luiz Pasquali & cols aprovados pela APA), de 1968 1983, en- fatizou o desenvolvimento de uma atitude negativa em relagio &s téenicas projetivas, especialmente entre os profissionais mais Jovens. Estranhamente, embora desvalo- tizando tais instrumentos, ficou evidente a opiniao concomitante de que deveriam ser oferecidos cursos sobre eles. Por ou- tro lado, os autores (Pruitt et al., 1985) atribuiram a posic’o assumida pelos psi- célogos mais javens & sua falta de treina- mento, porque as opinides negativas se referiam inclusive a testes mais bem con- siderados na comunidade cientifica, como © Rorschach que, conforme Blatt (1986, p. 344), tem se caracterizado por “seu alto grau de refinamento ¢ consolidaco”. Outros levantamentos, revisados por Weiner (1986), feitos nas décadas de 1970 e inicio de 1980, sempre registra- ram 0 uso e 0 ensino de técnicas projeti- vas. Todavia, esse autor analisa dados de 1983, de Lubin, Matarazzo e Larsen, que assinalaram uma modificagéo na ordem de preferéncia dessas téenieas, junto com instrumentos objetivos, que aparentemen- te parece sugerir uma diminuicdo de sua utilizagao. Porém, se forem considerados os percentuais, na realidade, tal diferenca niio é aprecidvel e hd variagda quanto aos “padrées de uso de testes em distintos am- bientes clinicos” (Weiner, 1986, p. 455). De qualquer modo e por varias ra- zbes, a literatura especifica chega a men- cionar um declinio no interesse pela tes- tagem clinica e na utilizagdo de téenicas projetivas nos ultimos anos, tanto como instrumentos de avaliago como na pes- quisa, apesar de sua popularidade (Kor- chin, Schuldberg, 1981). J4 um levan- tamento divulgado em 1985 chegou & conclusao de que “as principais técnicas projetivas do passado continuam sendo populares", nao sé entre os membros da Society for Personality Assessment, mas entre os psicdlogos clinicos em geral (Pio- trowski, Sherry e Keller, 1985, p. 117). Por outro lado, os resultados de uma pesqui- sa internacional mais recente sabre o uso de testes destacaram o TAT, o Rorschach e o MMPI como os instrumentos de per- sonalidade mais populares (Hu, Oakland, 1991). Isso sugere que agora como ha 50 anos, conforme ponto de vista de trabalho anterior citado por Sargent (1945, p. 282), “os clinicos nio estiio dispastos ou nia sio capazes de se basear somente em critérios objetivas", o que significa que “continuam a suplementar métodos ideogrificos de andlise da personalidade com métodos nomotéticos”, podendo-se concluir que, se so usados, é “porque preenchem uma fungo” (Mundy, 1972, p. 795). Entretanto, em se tratando de “medi- da projetiva”, criticos poderiam afirmar, com Klein (1988, p. 460), que “infelizmen- te, a popularidade dos testes nao é um in- dice de exceléncia”. Na verdade, se a refe- réncia a teste psicolégico subentende uma definicdo tradicional mais estrita, poucos instrumentos preencheriam critérios mais aceitdveis (Berger, 1977), ¢ a qualidade das técnicas projetivas seria fortemente questionada pela dificuldade de integrar seu tipo de abordagem com outras tradi- Ses cientificas da psicologia (Macfarlane e Tuddenham, 1976). Alids, jd em 1965, Zubin, Eron e Schumer salientavam o contraste entre “o métoda, o vocabuld- rio e, mesmo, os requisites dessa drea” das técnicas projetivas com os da psico- metria (Zubin, Eron e Schumer, 1965, p. 2). Deste modo, ¢ uma tarefa complexa tentar avaliar tais técnicas de acordo com as condigdes que, segundo Lanyon e Goo- dstein (19682), deveriam ser satisfeitas para que pudessem se caracterizar como instrumentos padronizados de avaliagao. A primeira condigio seria a presenga de estrutura da resposta. De forma muito diversa dos testes abjetivos, os préprios estimulos envolvidos em téenicas projeti- ‘vas sio, em maior ou menor grau, caren- tes de estrutura, o que favorece “a liber- dade de resposta” (Phares, 1984, p. 283) 0 encorajamento 4 fantasia, suscitando uma multiplicidade variegada de respos- tas, todas elas percebidas como material importante. Similarmente, a escassez de estrutura subentende algum grau de am- biguidade. Por outro lado, mesmo quando eventualmente os estimulos se apresentam com um pouco mais de estrutura e menos ambiguidade, come em algumas laminas do TAT, sio “as instrugdes que criam uma tarefa que é ambigua”, de modo que o examinando desconhece os propésitos do examinador - alids, caracteristica “consi- derada como uma das forcas mais impor- tantes da técnica” (Martin, 1988, p. 262) =, mas, assim, nio possivel esperar que a resposta se caracterize por seu grau de estrutura, de qualquer maneira quantifi- cavel. Na realidade, conforme ponto de vista de Cronbach, de sua edigio de 1970, citado por Berger (1977, p. 207), um teste “6 um procedimento sistemético” que per- mite descrever o comportamento do sujei- to, “seja através de uma escala numérica ou de um sistema de categorias”. Entiio, ‘a questao da falta de estrutura da respos- ta em técnicas projetivas tem procurado ser equacionada com o desenvolvimento de sistemas de escore ou de categorizagao das respostas. Nao obstante, a partir de uma definicdo mais tradicional de teste, tais esforcos tém sido criticados por terem “mais o propdsito de sumariar as respos- tas do que de quantificd-las” (Maloney e Ward, 1976, p. 347). Por outro lado, mes- mo alguns adeptos de técnicas projetivas tém certas restrigdes a esses recursos, Por que tais sistemas ndo conseguem, a priori, ser suficientemente abrangentes, deixan- do de fora varidveis que poderiam levar a maior refinamento da andlise do material clinico (Blatt ¢ Berman, 1984). Encretan- to, uma das criticas mais frequentes ¢ de que dificilmente ha unanimidade entre os clinicos em relagdo ao uso dos sistemas 369 Instrumentagéo psicolégies de escore existentes (Vane e Guarnaccia, 1989). O teste de Rorschach, por exem- plo, se caracterizou, durante muito tem- po, pela convivéncia de cinco sistemas de escores, muitas vezes alterados indi- vidualmente pelos psicélogos, surgindo, ainda, sistemas “personalizados" (Exner e Exner, 1972, p. 403). Tal situago, afortu- nadamente, tende a se normalizar, com o desenvolvimento do sistema compreensi- vo (Exner, 1978; 1980; 1983) que, em um enfoque percepto-cognitivo, se concentra exatamente na estrutura da resposta (Erd- berg, 1990). Ja no que se refere ao TAT, essa questo pode ser considerada mais séria em vista da diversidade das abordagens existentes, embora haja quem saliente a necessidade de “uma sintese dos varios métodos de escore e de interpretacio” (@ollyson, Norris ¢ Ott, 1985, p. 28), em especial como instrumento de pesqui- sa. Todavia, seu uso clinico “permanece mais informal e idiossincrisico” (Lanyon ¢ Goodstein, 1982, p. 60), coerente com sua tradigao, que “é orientada para a in- terpretagio impressionista e ndo para o escore formal” (Cronbach, 1990, p. 622). Outros autores j4 acham que, se nao exis- te um sistema padronizado de escore ou de categorizagao das respostas, no ha garantia de que estas sejam analisadas com propriedade, porque a interpretagao passaria a depender “da experiéncia, do talento e do julgamento do clfnico, carac- teristicas que nfo podem ser ensinadas” (Vane e Guarnaccia, 1989, p.II). Além dis- 80, hd outras restrigdes a essa abordagem, porque favoreceria a subjetividade, dando lugar a que “a mesma resposta possa ser interpretada de varias maneiras” (Martin, 1988, p. 263) ou sob a ética de diferentes referenciais tedricos. Em relacio a outras técnicas, sio feitas criticas bastante semelhantes. No campo das téenicas projetivas grificas, es- pecialmente, exceto alguns instrumentos 370 Luiz Pasquali & cols para os quais foram desenvolvidos siste- mas de escore, a interpretacao frequen- temente é feita recorrendo a exemplos fornecides em manuais ou em catdlagos de respostas qualitativas, como o de Jol- les (1992). Mas o principal problema em relagdo a utilizagdo desses recursos ¢ que geralmente nao so fornecidos dados de pesquisa para subsidiar a interpretagio, notando-se que, as vezes, a hipétese inter- pretativa se baseia na observacaio de casos clinicos isolades (Cunha, 1993b) ou em indicios pesquisados apenas em pacientes psiquidtricos (Hirt e Genshaft, 1976). ‘Além desses aspectos discutidos, pa- rece importante chamar a atencSo para a quantidade de varidveis, muitas vezes de dificil controle ou pouco pesquisadas, que podem influenciar as respostas de crian- gas a técnicas projetivas, tomando ainda mais dificil o intento de quantificd-las, como nivel socioeconémico, sexo e, na- turalmente, idade, no desenho da figura humana (Cunha, 1992) ou, ainda, idade, Ql e habilidade para a leitura, no Rors- chach infantil (Klein, 1988). Desta manei- ra, se ndo existem subsidios adequados, o uso de téenicas projetivas com criangas é considerado com restrigées (Di Lorenzo, 1987) ou é definidamente contraindicado (Klein, 1988). Em face de tais considerages, dificil a classificagao de alguma técnica proje- tiva como um teste padronizado, se este for definido como aquele “em que os mé- todos de administragio e escore sic claros e objetivos” (Hamsher, 1990, p. 256). Gutra condicdo seria a existéncia de normas. Mas a prépria variabilidade e 0 mimera de respostas eliciadas, caracteris- ticas das técnicas projetivas, que favore- cem a projecdo “de aspectos singulares e individuais da personalidade” (Maloney e Ward, 1976, p. 346), dificultam o desen- volvimento de normas. Também a neces- sidade de administragdo individual, em muitos desses instrumentos, ndo facilita a coleta de dados normativos em gran- des amostras (Vane e Guarnaccia, 1989). Apesar disso, 0 grupo de Exner ver su- prindo o mercado com informagées rele- vantes (Erdberg, 1990), além de enfati- zar a importancia de uma base empirica para as inferéneias clinicas (Exner, 1989). Todavia, no que se refere & maioria das técnicas projetivas, “os dados normativos ou inexistem completamente, sdo ina- dequados ou se baseiam em ces ‘vagamente descritas” (Di Lorenzo, 1987, p. 75). Por outro lado, embora Mundy (1972) acredite que o cardter ambiguo dos estimulos favoreca a individualizagio das respostas sem reflexas culturais, des- de 1965, Zubin, Eron ¢ Schumer (1965) salientaram a influéncia das variagdes culturais sobre a situago ¢ 03 produtos da testagem. Assim, mesmo quando exis- tem normas, é necessdrio previamente verificar a validade da técnica, quando utilizada em outras condigdes culturais (Lanyon e Goodstein, 1982). As restrigdes feitas ao uso de testes intelectuais, quan- do ha diferencas culturais e subculturais, também repercutiram na drea de técnicas projetivas (Cunha, 1993a). As varias ver- ses do TAT, que vém sendo desenvolvidas para “melhor entender as interagGes per- sonalidade-cultura” (Jacquemin, 1982, p. 141), bem sugerem a necessidade de normas loeais, assunto que vem sendo ex- plorado por Constantino e seu grupo com a técnica TEMAS (Constantino, Malgady e Rogler, 1988), principalmente em seus esforgos para padronizd-la para grupos minoritérios (Constantino, Malgady e Ro- gler, 1988; Constantino et al., 1992). Além dos aspectos citados, Lanyon ¢ Goodstein (1982, p, 45) lembram que, embora seja possivel registrar uma série de tentativas para o desenvolvimento de normas para técnicas projetivas, nao se pode afirmar que elas “tenham sido ge- ralmente aceitas ou integradas na pritica clinica”, de mado que a interpretagdo “se torna complexa ¢ demorada”. Entretanto, ha excegies e, indubitavelmente, o teste de Rorschach é uma delas, se levarmos em conta a acumulagdo de “dados nor- mativos sobre uma variedade de grupos clinicamente relevantes” (Erdberg, 1990, p. 397). Ja no que se refere & terceira con- dicdo utilidade do instrumento -, con- forme Lanyon e Goodstein (1982, p. 46), ela é determinada pelo “mimero de vali- dades ou de relagdes validas que um teste possui e pela importincia ou significagaio dessas relagies”. Ente, considerando, por exemplo, o teste de Rorschach, que uma das téenieas que mais vém sendo estudadas em termos da validagao de hi- péteses, Cronbach (1990) observa que os resultados de pesquisas ora se mostram marcantemente favordveis, ora nao. Nao obstante, Erdberg (1990, p. 389) chama a atengdo para o fato de que certas diferen- gas entre os resultados se associam com o foco de conceitualizagao da natureza do teste. © foco percepto-cognitivo se con- centra na estrutura das respostas do su- jeito e, com este prisma, existe um grande acervo de “estudos de validade que vincu- lam varidveis estrururais do Rorschach ao ‘comportamento alheio ao teste”. Porém, quando o instrumento é utilizado como um estimulo & fantasia, o foco se dirige no para a estrutura das respostas, mas para as proprias verbalizagGes, sendo que, a partir de seu contetido, so levantadas hipdteses sobre a dindmica interna. Nes- te caso, a questiio da validade toma-se delicada ¢ complexa. Assim, levando em conta as possiveis abordagens do teste, sua validade “é objeto de continua con- trovérsia” (Lanyon e Goodstein, 1982, p. 54). No entanto, esforgos nesse sentido ha muito wém sendo feitos, destacando- se o trabalho de Zubin, Eron e Schumer (1965), que também pretenderam concei- tualizar a técnica sob um referenclal teéri- co diverso do enfoque junguiano original. Instrumentagdepsicoldgica 371 ‘Mais recentemente, registra-se o empenho de Weiner (1986), que vem trabalhando em uma abordagem conceitual para esta- belecer a validade de construto, embora salientando a importdncia também de um ‘enfoque empirica, para documentara base psicométrica das inferéncias de Rorschach sobre psicopatologia. Outros estudos vém sendo desenvolvides, mas nao é possivel ‘tentar uma revisio mais completa dentro das dimensées deste capi Da mesma forma que o Rorschach, o TAT tem se mantido como uma técnica popularmente utilizada, dando origem a uma grande série de instrumentos con- géneres, apesar da existéncia de forte controvérsia a respeito de sua validade, conforme revisées da literatura especi- fica de Lanyon e Goodstein (1982) ¢ de Lundy (1988). Alids, este ultimo autor demonstrou a complexidade do proble- ‘Ma, a0 tentar examinar as varidveis que ‘podem estar em jogo quando “dois can- juntos de pesquisadores parecem obter diferentes resultados a partir da mesmo método” (Lundy, 1988, p. 310), chegando A conclusdo de que variagdes na situagdo de testagem, em especial quanto as ins- ‘wugées, estariam afetando as respostas ao instrumento. Cronbach (1990) ana- lisa, em seu livro, este € outros estudos, chamando a atengdo para a importaneia de influéncias siruacionais cransitérias, que tém comprometido os resultados de pesquisas sobre validade. Alias, Masling (1992) corrobora esses achados, mostran- do o reflexo de varidveis situacionais e interpessoais, que acabam por ocasionar diferengas metodolégicas, interferindo ‘nos resultados de pesquisa e na situagio de avaliagao psicolégica. Ora, considerando a quantidade de pesquisas sobre o Rorschach e o TAT, bem ‘coma as aspectos controvertidos de seus resultados, tudo indica que o problema da validade das técnicas projetivas nao é simples e parece nao ter solugio & vista, 372 LuizPosquall & cols. pelo menos em termos que possam ser satisfatérios para a tradigfio psicométri- ca mais ortodoxa. Nao obstante, parecem estar emergindo novas tendéncias. Assim, na edigdio de 1956, Cronbach, citado por Masling (1992, p. 616), salientava a po- sigdo galtoniana na pesquisa com testes, definindo teste como “uma amostra das respostas do sujeito a um estimulo padro- nizado impessoal”. JA na edicdo de 1990, Cronbach (p. 4) escreve que, embora seu ‘texto se concentre mais em testes “padro- nizados", inclui, também, testes nio pa- dronizados, aos quais “se aplica a maioria dos conceitos usados para analisar” os primeiros. Discute variagdes nos méto- dos de colher informagées, chamando a atengdo, também, para diferengas na in- terpretagio entre os aplicadares de testes, notando que “alguns tém como propésito ‘medir’ 0 individuo; outros, caracterizd- -lo” (Cronbach, 1990, p. 34). Tais propdé- sitos definem estilos de testagem, em uma abordagem psicométrica ou impressionis- ta. JA chegando a questiio da validagiio, salienta que os psicometristas confiam em interpretagSes com base quantificdvel a partir de normas estatisticas derivadas de estudos prévios, endo em “interpretacdes mais subjetivas, individualizadas”. Ao contrério, “o impressionista est menos preocupado com validacdo formal”, por- que “validar ‘retratos’ é muito mais dificil do que validar predigSes numéricas. Com efeito, requer a validagao do intérprete”. Deste modo, “as abordagens psicométrica e impressionista diferem mais nitidamen- te na questdo da confianga no psicélogo” (Cronbach, 1990, p. 36). Em resumo, no estado atual da arte, nao parece possivel transformar técnicas projetivas em psicométricas. Nao obs- tante, “os psicdlogos, hoje em dia, nao apenas administram testes; eles realizam avaliagdes” (Goldstein e Hersen, 1990, p. 3). Nessa perspectiva, em um plano de avaliag&o, é possivel utilizar os dois tipos de abordagem descritos por Cronbach, vi- sando obter melhor consisténcia interna na selegdo dos dados titeis e na integra- Gio dos resultados, Também nao ¢ impos- sivel que, com o incremento de pesquisas, seja vidvel emprestar melhores qualida- des psicométricas a téenicas projetivas, especialmente pelo desenvolvimento de estudos de fidedignidade, validade ¢ pelo estabelecimento de normas que permitam aumentar o grau de certeza nas inferén- cias clinicas. Por outro lado, além de uma perspectiva empirica, jd vém sendo feitos esforgos no sentido de definir melhor a formulagao tedrica que associa as res- postas ao teste com o comportamento na situagdo de vida para a qual sd necessé- rias predicdes. Da mesma forma, também © referencial teérico que embasa a inter- pretacio projetiva tem de se constituir em um foco de novos estudos. Se nao ¢ poss{- vel testar uma teoria, construtes tedricos podem ser investigadas, desde que opera- cionalmente definidos (Cunha e Werlang, 1991a), dando renovado suporte a téeni- cas projetivas que provavelmente conti- nuardo a ser utilizadas, sobreviventes que sao de grandes controvérsias. Alids, nota- se, também, que mesmo instrumentos ‘vistas coma medidas mais diretas ¢ ob- jetivas da personalidade, como 0 MMPI, vém sendo interpretados em seus aspec- tos configuracionais, chegando a sinteses clinicas inspiradas na visio global da per- sonalidade, uma das fortes caracteristicas das téenicas projetivas. ‘Em vista de tudo isto, parece vidvel a previsdo de Millon (1984, p. 454) de um renascimento no campo da avaliagio da personalidade, com integracdo de algu- mas formulagdes tedricas, advogandouma unido instrumental em que condigies em- Piricas © quantitativas se vinculem “com as qualidades clinicamente dindmicas € integrativas, que caracterizam muitas téc- nicas intuitivas”. Se essa é a perspectiva, séo futuro dird. REFERENCIAS ‘Abt, LE. (1967). Una teoria de la psicalogia proyectiva. In LE. Abt & L, Bellak, Paicologia prayectiva (pp. 37-53). ‘Buenos Aires: Paids. ‘Anaiew, D, (1581). Os métedos projetves, Rio de Janei- 0, Rus Campus. Arlow, J.A., & Brennes, C. (1964). Pyychoanalyric con- eepts and the structural theory. New York: Intemational ‘Universities Press. Bellak, L (1967). Sobre 105 problemas del cancepto de én: une vearia de In distorcidn aperceptiva. In LE Abt & L Bellak, Pricologia propecttva (pp. 25-36). Buenos Aires: Paidés. ellak, L. (1979), £1 uso clinica de fas pruebas psicolégi- ‘as del TAT, CAT'y SAT. México: Manual Moderne. ellak, L, & Bellak, §. (1961), Teste de aperceppio te- imatica (com figuras de animais). So Paulo, SP: Mestre Jou, Bellak, L., Hurvich, M., & Gediman, HX, (1971), Ego functions in ackizophrenie, newrotics and norreals, New ‘York: Wiley-Interscience, erg, M. (1983). 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