Você está na página 1de 18
Copyright © 2015 by Vicente Salles Editora PakaTatu Rua Veiga Cabral, 1169 Baltro: Campina, CEP: 6023-709, Belémn-PA ‘Telefone: (91) 3242-5403 contatocpaka-tatu.com.br \wusweditorapakatatu.com.br Projeto editorial Editor geral Editora Paka-Tatu ‘Armando Alves Filho Capa: one Sena Editora-adjunta, ‘Sylvia Calandtini llustragéo da capa: Biratan Porto Edlitoracao Eletronica: lone Sena Conselho Editorial a ana Aldrin Figueiredo Revisdo: Paulo Maués Corréa aye Gutemberg Armando Diniz Guerra José Alves de Souza Jénior dosé Maia Bezerra Neto Paulo Maués Corréa Paulo Nunes Dados Internacionais de Catalogagao na Publicacao (CIP) (Mauricio Amormino Junior, CRBG/2422) s168n Salles, Vicente, 19: 2018. 0 negro na formaeao da sociedade paraense: textos reunidos / Vicente Salles. ~ 2, ed. ~ Belém (PA): Paka-Tatu, 2015, 260 p. ik ; 18,5.x21,50m ISBN 978-85-7803-246-3 1. Negros - Pard. 2. Pard — Usos e costumes. I, Titulo. CDD-305.8908115 APRESENTAGAO O Negro na Formagao da Sociedade Paraense Ainda ha muito 0 que ser descoberto sobre o trabalho de Vicente Salles A obra de Vicente Salles abrange varias éreas da cultura: historia, antropologia, folclore, musica, caricatura, literatura e 0 estudo sobre 0 negro no Paré. Tenho encontrado muitos textos inéditos, como 0 segundo e o terceiro volumes de A Miisica e ‘0 Tempo no Grao-Pard (foram editados o primeito e 0 quarto volumes, ambos esgotados), obra importantissima para a historiografia musical. Conversando com a jornalista ¢ historiadora Rose Silveira, na XVIII Feira Pan-Amazénica do Livro, em 2014, na Praca Vicente Salles, estande da Editora da UFPA, ela me informou que diversos livros de Vicente estavam esgotados, inclusive O Negro na Formagdo da Sociedade Paraense. Diante de seu argumento, procurei o professor Armando Alves, da Editora Paka-Tatu, para uma segunda edicao. Houve uma grande receptividade, pois a primeira edigao tinha sido realizada por eles. Portanto, estou muito feliz com a impresséo da segunda edicéo de O Negro na Formagao da Sociedade Paraense. E um trabalho que desenvolve varios aspectos da cultura do negro, paraense, A reedicao deste livro importante para a historia do Paré, pois aborda temas sobre a Cabanagem, a escravidao, os engenhos, 0s quilombos, a capoeira, o folclore, a miisica e outros assuntos. Estimulada por esse resultado, penso também em editar a obra inédita de Vicente por ser importante e abranger temas amplos da cultura brasileira. O NEGRO-E AS TRANSFORMACOES SOCIAIS NO FIM DO sECULO XIX No GrAo-Para” IntRODUGAO No artigo intitulado “Os Trabalhadores da Escravidéo”, publicado em 1957 e reproduzido no livro Ladinos e crioulos, Edison Carneiro enu- mera trés tipos de trabalhadores produzidos pela escravidao do negro no Brasil: + negro de campo * negro de offcio * negro doméstico O tiltimo tipo produziu, secundariamente, nas cidades, 0 negro de aluguel eo negro de ganho. Desse conjunto de trabalhadores da escravidao destacou-se logo © negro de officio, que teria se especializado na moenda dos engenhos de acticar, a “primeira oficina” instalada na colénia portuguesa: oficina relativamente complexa, contando com casa da caldeira, casa de purgat, a caixaria do engenho com suas méquinas ainda rudimentates. A agroindiistria canavieira exigiu, para essa oficina, pequeno ntimero de escravos selecionados, os primeiros especialistas entte a escravaria, reservando parte considerdvel da mao de obra para a lavoura propriamente dita. Até ao Gréo-Pard chegou o sistema organizado pelo colonizador ¢ ficou documentado nas memaérias e estampas de Alexandre Rodrigues Feneira, Viagem Filosdfica, 1783-1792. “Texto ido em 6/0541 Musou Paraense Emi no Seminario sobre Aboligéo/Eseravidso promovido pelo Secretaria Estadual de Cultura 59 Vicente Salles As exigéncias materiais dos colonizadores abrangiam, no entanto, especializac6es e servicos mais diversificados, necessidades que se impunham aqui e ali, na mineracdo, na extragao de madeiras, na arquitetura — militar, josa -, na indtistria naval, construgao e reparagao de navios, na de veiculos terrestres etc. Embora impedida de ter estabelecimentos fabri, a coldnia pode suprir parte cor suas necessidades materiais com prodiutos elaboraclos pelos artesaos da terra, sistema colonial nao permitiu a instalagao entre nés das corporagies de oficios, o modelo europeu de organizacao do trabalho da era pré-industtial, mas apenas confrarias e irmandades que associavam, 0s trabalhadores mais pelos lacos religiosos que profissionais. O rebaixamento e a dispersao do trabalho manual impedia também a nucleacao de trabalhadores. As corporacées, conforme © modelo europeu, avam o trabalho artesanal e cada oficina era ao mesmo tempo uma escola, com sua rigida hierarquia: aprendiz, oficial e mestre. Na colénia, os missionarios foram particularmente ativos no adestramento da mao de obra nas suasaldeias e colégios. Numa lista do pessoal do Colégio do Para, datada de 1718, indicam-se nominalmente {ndios e negros, oriundos das miss6es, trabalhando como pedreitos, ferreiros, carpinteiros, escultores, alfaiates e tecel6es.' A pedagogia missioneira visava, portanto, tipo de educacdo geradora de desenvolvimento, Mas havia dificuldade instruindo indios livres em oficios, pois, apenas se instrufam “procuravam logo os moradores ¢ governantes subalternos alicié-los para os seus servigos desorganizando as aldeias”.* Nao podendo reter os indios livres, apesar das garantias expressas nas ordens régias, os missiondtios tomaram © alvitre de manter trabalhadores protegidos das pressdes externas: foram ‘05 escravos negros.* Late, Serfim. Artes e ofios dos jesutas no Bras, 2 1d, 1953, p25, © Ses, V “Artesanate in Histéria Geral do Arto ro Bresl, 1983, €O negrono Pard, 1971, Cap. “Trabalho e lazer do escavo" 60 p25, O Negro na Formagao da Sociedade Paraense Francisco Xavier de Mendonca Furtado, govemador e capitio general do Estado do Maranhao e Grao-Paré, em 1757, sentiu a jecessidade de criar corporagées de oficiais mecénicos na cidade e nao dispersé-los pelas missGes e estabelecimentos rurais, como eta costume. ia estabelecer um “corpo poderoso das artes febris”, para torné- I a0 comércio e aos lavradores, consumindo-lhes os géneros. As propriedades acastelavam o sistema social e econémico. O amento da urbes, pela dispersao dos trabalhadores, ¢ a aversao {que os brancos tinham por qualquer trabalho manual exigiam acio ‘ou, porém. Os costumes ;duraram durante todo 0 perodo colonial. Chegaram aos meados do lo XIX, conforme observou Wallace tando o engenho de um tal {o, no rio Capim, que tinha “sapateiros, alfaiates, pedreiros, quer cescravos, quer indios, alguns dos quais sabiam mesmo fabricar boas fechaduras para as portas, malas e caixas e varios utensflios de folhas de flandres e de cobre. Observa Edison Cameito que os negros que se distinguiam pelas suas habilidades manuais e pela sua inteligéncia passavam a const um escaléo superior da massa escrava.* Podiam mais facilmente aqui a alforria. O mestre: de acticar, por exemplo, ao tempo de Vilhena (1802), ja era de ordinétio forro, e ajustado por certa quantia, quer por toda a safra, quer por pao de acticar fabricacio, Em 1837, Frederico L. C, Burlamaqui informava que o escravo, em geral, custava 4008; entretanto se, no momento da compra, jé era oficial, seu preco oscilava, entre 600$, 8008 e até um conto de réis. O jornal médio do negro de , na ocasido, era de 640 réis ~ © dobro dos demais. Pagava-se seu investimento com cerca de mi 3 anos. Em 1847 0 bardo de Pati do Alferes aconselhava: “Tende 0 cuidado, logo em principio, de por alguns escravos mogos a aprender 08 oficios de carpinteito, ferteiro e pedreito; em pouco tempo estardo oficiais, e tereis de casa operétios...".° “ Wneance, Alfredo R, Viogens pelo Amazcnas e rio Negro, 1939, p. 138, CCarnzno, Edison, Ladinos ecrioutos, 1964, p. 7. * Apud Cars, Edison. Op. ct, 1964, p. 7. 61 Vicente Salles Desta maneira, o negro escravo ou liberto constituiu a base da médo de obra quando se implantaram as primeiras fébricas no Brasil, forcados a se especializar em todos os servicos, O quadro anexo, elaborado com os dados de 1872, mostra a eficiéncia do sistema. Mostra, de modo claro, sua extensao pelo Brasil O Necro E As TRANSFORMAGOES Socials A Hist6nis Econ6mica da Amazénia (1800-1920), de Roberto Santos, comeca na decadéncia e conclui no declinio, Decadéncia do fomento agricola da Ultima etapa do mercantilismo colonial, Declinio do extrativismo da borracha. Houve momento de progresso, um s6, definido entre 1840-77, destaque da expansio gomifera. Essa é a histéria da faléncia, da quebradeira: a primeira na transicéo do regime colonial para © independente; a segunda, na transigao da Monarquia para a Repiiblica p No comeco dessa historia, nova ordem econdmica, politica esocial | impunha-se em toda a parte. Mas a Amaz6nia s6 conseguiu sacudir Jugo colonial e integrar-se ao estado nacional brasileiro apés o desfecho trégico da Cabanagem. RECENSEAMENTO DE 1572 ESCRAVA DO BRASIL, 1872, SEGUNDO A PROFISSAO Reorganizou-se a sociedade mediante agéo manu militar restabeleceu-se a orcem escravista, como seu prdspero neg 8 vencidos, sem terrase outs haveres, foram forcados a integrar o Corpo de Tiabalhadores, criadlo em 25/04/1838, composto de “indios, mesticos pretos, que nao fossem escravos e néo tivessem propriedades, ou estabelecimentos a que se aplicassem constantemente”, POPULACAO, Aos individuos assim alistados mandou a lei empregar no servico da lavoura, do comércio e das obras ptiblicas, “autorizando a qualquer articular a contraté-los para o seu servico”, comenta o presidente Jeronimo Francisco Coelho na sua Falla drigida & Assombleia Legislativa Provincial em 1°/10/1848, 62 ONegro na Formacao da Sociedade Paraense. Sa ea ase a | as [ave erat] war =e ps [se aw a mae te mee as ee ae |e [ am er | ae em se Pe SS Pr | a] = = [ae pao [as | |r || am ar aa [|e |e aa es [oe [ae [es a ra [a ey ere Lo en Cs | [sn |x nom ac] a [a Fonte: Diretoria Geral de Etatistica ae es eT [i a a 0 total nio cortespande 8 soma das parelas,erbora sjao reistrado pela fonte FrCrSSCeS OOS Fninsie Seams — fe a art bbb a a Vicente Salles Nove foram os Corpos mantidos pela Provincia e em 1849 estavam bastante desorganizados “pela falta de alistamentos regulares, e pela auséncia de grande ntimero de alistados”. Nos mapas desse ano figura um efetivo de 7.626 trabalhadores,” Eram portanto os sem-terra, parcela considerdvel da populagio, Potencialmente revoluciondtia, reduzida a servidao por iniciativa do Estado, os alistados no Corpo de Trabalhadores. Mao de obra abundante, e barata, responsavel pela reconstrucao da provincia devastada pela guerra, frequentemente empregada pelos Comandantes dos corpos e outras autoridades locais, a pretexto do servico piblico, no préprio servigo particular ou no de seus amigos intimos; destinada, em especie extracéo do latex. Comecou 0 boom da borracha exatamente em 1840 e se expand até 1877, quando aumento o fluxo de nordestinos, tangidos dos sertdes elas secas, Mudangas no mundo se refletem no Brasil e na Amazénia. A economia capitalista implantada definitivamente no Império depois de 1850 - quando as grandes somas empregadas no trafico cle escravos encontraram aplicagéo mais rencosa e ttil em bancos, empresas de navegacio, ind\istrias e companhia de comércio —teve ampla repercusséo na Amazénia, exigindo a tediviséio do espaco fisico (instalacéo efetiva da Provincia do Amazonas em 1852, ciada em 1850); a introdugéo da navegacao a vapor, 1853, iniciativa de Mau, “fato que parece ter tido muito mais importancia econémica e pol Amazonas a navegaca Rapidamente as oficinas da Companhia do Amazonas tiveram grande desenvolvimento, tomando-se titeis & provincia, inclusive Porque nelas “recebem ensino pratico grande mimero de mancebos que se dedicam a profissao mecénica, tendo jé safdo dali alguns bons maquinistas”, afiancava o presidente Joaquim Raimundo Delamare em seu Relat6rio de 1867, p. 7, acrescentando: 10 Francisco, Fla caida peta. Pa, 1848, p. 31.2 * Siam, R. Histéria Eoonémica da Amana, 1980, p. 5. 64 “Outra utilidade tem dele resultado: é a propagagao das maquinas a vapor aplicadas aos engenhos de acticar e aguardente, as olarias e outras fébricas, pela facilidade e prontiddo com que se pode ali obter aparelhos precisos ou substituir e reparar os que existem nesses estabelecimentos.”” ‘A navegagao a vapor revolucionou a Amazénia. Surgiram em Belém e Manaus, como em Obidos e Santarém, estaleiros ara a construgao de lanchas e pequenos vapores. Roberto Santos: “A verificagéo da eficiéncia da maquina levou alguns dos pequenos industriais e donos de engenho da regio a mecanizarem suas usinas”. A novidade influiu no comércio, na indtistria, na agroindtistria, até mesmo no comportamento da populacao amazénica, testemunhou Henrique Bates: “os costumes mudaram rapidamente nesse particular, quando 03 vapores comecaram a navegar no Amazonas (1853), trazendo i307 uma onda de novas ideias e modas para a regio’ las @ modas, dando como resultado acelerar © processo abolicionista, a entrada de imigrantes, as fugas de escravos, as alforrias compradas ou doadas, a decadéncia das lavouras, a proletarizacéo do negro e do caboclo, livres ou escravos, recrutados pela indtistria nascente, principalmente a que se associou as oficinas das companhias de navegacao a vapor e aos estabelecimentos militares instalados ha muito na regiao, como os arsenais de marinha e de guerra.’ Desde 0 comego da década de 1860 notava-se 0 fluxo de jgrantes europeus para Belém, atrafdos pelo boom da borracha. A “indiistria” que aqui se desenvolve é basicamente estimulada por mestres europeus, de diferentes origens, principalmente alemaes, ©” Druasune, Joaquin Raymundo, Relatrio present 1867, p.7. ida no livio Memorial da Cabanagem, conclu em 1985, anda inéito por ‘casita da redagio deste trabalho, 65 Vicente Salles franceses, italianos, espanhéis; norte-americanos e ingleses ocupavam- se da administracao do capital aplicado a exportacéo da borracha; mascates arabes e judeus exploravam o pequeno comércio de regatao, subindo todos os rios, chegando aos mais distantes rincées; portugueses dedicavam-se ao comércio a retalho nas principais cidades do vale. Com os imigrantes, ¢ com paraenses educados na Europa, vém ideias mutualistas como iniciativa eminentemente popular, associando trabalhadores. Organizaram-se sucessivamente: + Sociepave Benericenre Awrisrica ParaeNse, ida. por um. grupo de operdrios ou artifices, instalada em 26/06/1865. Seus criadores foram: Guilherme Possidénio Borges, natural do Rio de Janeiro, negro, serra imedo Estelita dos Reis Guimaraes, pernambucano, negro, alfaiate; Luis Tomas Espindola, paraense, mulato, m Joao Floréncio de Melo, paraense, alfaiate; de Paula Ribeiro, paraense, ourives; Inocéncio José Mendes, paraense, sapateiro; Laurindo Augusto das Neves, maranhense, negro, alfaiate; Jodo Onofre Damasceno, paraense, santeiro, e Raimundo Cameiro de Lima Tupiassu, paraense, alfaiate Ainda ativa em 1988, sem ostentar o prestigio de outrora. + Soctepabe BENERCENTE UNO PaRasnse, organizada em dezembro de 1868 e instalada em janeiro de 1870, com 17 instituidores, cartegadores de bagagens; dissolvida em agosto de 1881. + Soctepape Benzricente 2 pe Dezemano, fundada em 12/01/1871. + Clup BENEFICENTE PoruLAR, iniciativa do jornalista Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha Il (1841-1919), fundado em 1873 e acusado de representar no Para ideias socialistas da I Internacional. + Benenéarta Soctepabe Benericenre Mecavica Parsense, fundada em 1878, presidida pelo operario Augusto Domingos Ruivo, mestie das oficinas mecanicas da Companhia do Amazonas. Tinha como vvice-presidente o operdtro José da Cunha Guimaraes; 1° secretatio 66 © Negro na Formacéo da Sociedade Paraense Luis Anténio Bosque e 2° dito Marcal Tavares Bastos. Agrupava operarios das oficinas mecénicas em geral, principalmente dos estaleiros de construgéo e reparacéo de navios. Existiu mais de 40 anos. + Sociepape Arristica BENEFICENTE Dos SapaTEIROs, com estatutos aprovados pelo presidente da provincia em 9/ 01/1881 + Associacio InreRNAcioNaL. De Socorros Mtruos, beneficente e assistencialista, que se inspirou nas equivalentes europeias. Recrutava associados principalmente entre artistas (operéirios) de diversas categorias profissionais. Foi institufda com 143 sécios e teve seus estatutos aprovados em 23/12/1881, instalada em 15/01/1882. + Soctebape BENEFICENTE Dos PeDREIROS E Canpinas, data de fundagao nao apurada, ainda ativa em 1883 + Soctzpape BeNericenre 28 pe SeteMBRo, organizada pelos catraieiros do porto de Belém, teve destacada atuacdo na campanha .. O nome, aliés, lembra a data da Lei do Ventre Livre, que teve ampla repsercussio em todo o Brasil. Em 1884, tomaram os, catraigivos a decisio de nao mais transportar escravos embarcados ou desembarcacios no porto de Belém. Na mesma época surge © movimento em prol da educagéo popular e proletatia, Além do Instituto Paraense de Educandos Artfices, criado a vista do art. 9 da Lei Provincial n.° 660, de 31/10/1870, criaram- se na capital paraense trés outros estabelecimentos: 1. Escora Norurna Para Aputros Livres, mantida pela Sociedade Propagadora da Instrucao Popular, instituida em 2/10/1871. 2. Escots Natura Para Aputtos Escravos, fundada em 23/10/1871 pelo padre Félix Vicente Leo e os cidadéios Henrique Joao Cordeiro, Manuel da Fonseca Bernal e Joao José Nogueira, prestando-se os trés Gltimos a lecionar gratuitamente e o primeiro a custear a aula. Ficou instalada no Colégio de Santa Matia de Belém e oferecia aulas de leitura, escrita e as 4 operagées de aritmetica. o7 Vicente Salles 3. Escota Norurna 0a CAmara MunicipaL, fundada e custeada pela Camara por proposta dos vereadores Joao Diogo da Gama Malcher e Padre Félix Vicente Leao, instalada em 11/09/1871. A hisl6ria das sociedades mutualistas é rica e, por vezes, esta associada a historia dos clubes abolicionistas e republicanos. Muitas classes tiveram dificuldades em organizar-se, mas no deixaram de manifestar-se. Os tipdgrafos tentaram associar-se pela primeira vez em. 1881, tentativa mal dirigida. Nos “Solicitados” do Didrio de Noticias, Belém, 1 e 2/09/1881, lemos alguma coisa a respeito, A defesa dla causa dos escravos s6 adquiriu forma organizada com a criacao das sociedacles emancipadoras, movimento iniciado na década de 1850, apés a extingdo do trafico. No Para, em 1858, 0 médico Anténio David Vasconcelos Canavarro, o jornalista Joao Batista de Figueiredo Tenreito Aranha e 0 professor José Teodoro Saraiva da Costa agitaram a ideia da fundacao \ulantes, noticiados pela imprensa como “atos de filantropia”. Em 1869, por ‘a do austriaco Carlos S: estabelecido em Belém, foi organizada a Associacéo Filant Emancipagio dos Eseravos, que pretendia libertar escravos por “meios pacificos e titeis aos escravos e aos senhores”, sem prejuizo do de proptiedade. Informa Ernesto Cruz que, mais tarde, “com a queda do ministério lo pelo bardo de Cotegipe, e a consequente ascensio ao poder do gabinete Joao Alfredo, redobraram de atividade os abolicioni: paraenses”."* Na verdade, admite-se que a guerra do Paraguai (1865-1870) fora habilmente explorada para sustar, em nome da unidade nacional, a pressio abolicionista. Indica Edison Carneiro, entre outras medidas ® Cia, E,Procado dos dco, 1952, p13 68 O Negro na Formagao da Sociedade Paraense protelatérias, quando todos os patriotas clamavam novamente pela aboligdo — que o Império decretara, por demagogia, no pais vencido ~ indo se lancava aos quatro ventos o Manifesto Republicano (1870). governo imperial sancionou a Lei do Ventre Livre, 1871, ideia jendida na Constituinte de 1823 por José Bonifacio, em 1850, por a Guimaraes e outros deputados, em 1863 por Perdigao Malheiro. Além desse grande atraso, verificou-se que a medida foi burlada m toda a parte. Nos leildes de escravos venderam-se impunemente auucamas e moleques nascidos depois de 1881 A lei dos sexagenétios, 1885, quando chegou a sangao, estava 10 seca, téo encarquilhada, tao “sexagenaria” mesmo — seu embrido ambém se encontra no projeto de José Bonifacio — que nem sequer obteve o transitério éxito popular da lei antecedente.!* A situagio torava-se tensa, no Paré, como em toda parte. Aqui .ouve tentativa de envolvimento politico das sociedades mutualistas; ma questéo rumorosa foi suscitada em 1882 quando a Artistica Paraense negou apoio & candidatura do dr. José Agostinho Reis, tendo provocado a ira do dr. Domingos Ant6nio Raiol, barao de Guajara, 2° vice-presidente da: provincia elevado ao poder entre 15 de mai 26106/1882. 0 Diério de Noticias atribui ao sr. barao expressées insultuosas, referindo-se aos artistas, tais como “ao canalha, caceteiros de eleig&es e que no tém onde cair mortos, pois o pouco que ganham de dia nao Ihes chega para a taverna...”, inda mais que “isto de artistas ¢ uma Sacia (!!) que convém ter sempre debaixo do relho...”. E acusa aquela autoridade de intervir indebitamente na sociedade. O assunto rendeu ¢ foi objeto de polémica entre 0 Liberal do Para, partidario de Raiol, e © Ditrio de Noticias, defensor dos artistas. Ao lado da questao religiosa, que tanto repercutiu no Gréo- Par, coloca-se nesse momento a questo social, certamente do maior interesse das classes oprimidas, parcela considerdvel ainda vergada sob © jugo da escravidao. (Cuuseto, E, Op. cll, 1964, p. 96. 69 Vicente Salles Alguns fatos importantes se manifesta neste contexto submetido agora a uma dinémica peculiar: a tepercusséo dos acontecimentos na Franca, instalaco da reptiblica burguesa, a guerra franco-prussiana, a curta e dramatica experiéncia da Comuna de Paris; — o fim da guerra do Paraguai, trazendo os voluntétios, muitos deles com viséo critica —a chegada do vapor Jerome, em 1870, trazendo da Ingla- terra técnicos e equipamentos para a construgso da estrada de ferro Madeira-Mamoré, a aventura capitalista mais dispendiosa na regido; =a fundagao, em Belém, do jornal A Tribuna, 1870, que vai exprimir a inquietacao reinante, agitar ideias republicanas, o nativismo exacer- bado que nao pode deixar de ser analisado e repensado, a despeito da opiniao contraria de José Verissimo; a criacéo do Club Popular, 1873, niicleo da I Internacional em Belém, iniciativa do jornalista Bento de Figueiredo Tenveiro Aranha I e que vinha se destacando na imprensa popular e panfletéria.!* A guerra do Paraguai descapitalizou a Amazénia no exato mo- mento da expansio do comércio gomifero, instalando um sistema de drenagem do capital, nao s6 para as matrizes estrangeiras, como também para 6 lesouro nacional. Pode-se dizer que a borracha financiou parte considerével do esforco bélico que a monarquia brasi submeter os paraquaios, na aquisicao de armas, munigées, navios etc. Luis Cordeiro, historiador de nossa economia, viu com clareza a situagdo nesse periodo da guerra do Paraguai, que gerou entre nés ressentimentos e pruridos separatistas: “Nossos dirigentes tinham a viséo perfeita do futuro, mas a Metropole foi sempre surda aos noss clamores, como ainda o é. Queriam era rendas ¢ estas subiam sempre’ Outro aspecto da descapitalizagdo da Amazénia diz respeito a concesséo de servigos, como os da navegagéo, transportes urbanos e ferrovidtios, instalagdes portuérias, Agua, esgoto, iluminagao e outros que se instalaréo no decorrer das préximas décadas, entre os quais ® Ver Marxism, socialism e os mitantes exclutdos. Belém, 2001, LL 0 Estado do Par, seu commercio e industrios de 1719 a 1920. Belém, 1920, O Negro na Formagio da Sociedade Paraense © telégrafo, 0 telefone e a energia elétrica. A economia capitalista, considerada fator do desenvolvimento regional, ganhou portanto defensores que, a esse tempo, exerciam cumnulativamente cargos puiblicos administrativos, legislativos e judiciatios. que promoveré a desnacionalizaco da nossa economia a0 dependéncia mais espoliadora, desmascarada em 1903 pelo militar ¢ financista paraense Inocéncio Serzedelo Corréa com 0 volume Problema Econémico do Brasil. Em conirapartida, as camadas populares comecam a participar dos acontecimentos, como agentes da histéria, de modo a incomodar. (0 papel dos intelectuais é, mais uma vez, importante. Os artesdos ¢ operatios especializados, procedentes de vérias regiées da Europa, somando-se aos nativos, haveriam de influir culturalmente ¢ na fermentacao de noves ideias. A inquietacSo intelectual esta demonstrada agora por uma imprensa mais ativa e polémica, Em 1870 comeca a circular em Belém A Tribuna, jornal de tendéncia nacionalista-reformista que reflete, em cima dos acontecimentos, ideias da Reptiblica e da Comuna de: D, A. Gomes Perche! de ideias “comunistas” entre eles ¢ os liberais paraenses no seu livro Questées do Paré, Lisboa, 1875, p. 146. Tendéncias radicais se definem, por exemplo, no poeta e jomnalista Julio César Ribeiro de Sousa (1843-1887), famoso por suas experiéncias ‘aerosiaticas e que também utara nos campos do Paraguai, retornando ‘ao Para em 1870 com ideias republicanas, expressas no jornal O Tira- Denies, langado em 14/02/1871, Os radicais mais exaltados, com tendéncias republicanas- revolucionérias, nacionalistas e/ou reformistas, abrigaram-se na redagio de A Tribuna, dito “periédico popula”, editado pelo capitéo Marcelino Nery, ex-combatente no Paraguai, irmao de Frederico José de 7: Vicente Salles Santa-Anna Nery (1841-1901), o bardo, que residia em Paris ao tempo da queda da monarquia francesa, era catélico, frequentador dos sales burgueses, bonapartista. Na redacao de A Tribuna destacaram-se Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha Il (1841-1919), socialista e fundador do Club Popular em 1873, os poetas Luis Demétrio Juvenal Tavares 850-1907), republicano convicto, refor ¢ Joaquim Francisco de Mendonea Jintor (18? -1904), talvez o mais radical, que adotou diferentes pseudénimos de inspitagao francesa: ¢ shan que, com outro, René Moustache (talvez Juvenal Tavares), publicou folhetins politicos inflamados sob o titulo A Comédia Paraense, itados em folheto, Belém, 1884. Esses intelectuais engajaram-se Imente na campanha abolicionista. De tendéncias radicais, como destacou-se Bento Aranha, herdeiro do nome ilustre, nao da tuna, provavelmente primeiro intelectual paraense francamente cialista, interessado no movimento europeu, criador do Club Popular, leo local da I Internacional Socialista. O bacharel paraense José Agostinho dos Reis também emprestou jonismo e ao movimento operario, nesse momento, No dia 3/06/1883, no Pavilhao de Recreios, pronunciou “Pelo corteio recebemos a seguinte carta: Pard, 29 de maio 83. limo. Sr. A associagao secreta Club Revoluciondrio Abolicionista resolveu hoje em sesséo extraordinétia intimar av. ou a quem suas vezes fizer, ndo aceitar publicagéo alguma, sobre venda, fuga ou qualquer outra a favor dos escravocratas, sob pena de morte. 2 © Negro na Formacéo da Sociedade Paraense Creia v. que executaremos a promessa, se nao cumprir 0 apelo que fazemos em prol da mais santa das causas; € para que possamos conhecer dos seus sentimentos, pedimos que no; imediato ao recebimento desta declare em sua folha que faré ‘que ordenamos. / A Comissio. / Rochefort / Louise Michel / Blanqui Por nossa parte, julgamo-nos livre da terrivel morte, porque ha bastante tempo que nao publicamos antincios de escravos. Preparem-se, porém, os colegas da Constituicdo e do Belém: ‘vao morter, de morte macaca, coitados!” Nao ha indicios da existéncia real desse Club Revolucionério ‘Abolicionista, talvez invengao dos redatores do Diario de Noticias, jornal que tomara partido dos abolicionistas e certamente gozava os confrades que publicavam tais antincios. ‘A campanha abolicionista articulou-se muitas vezes com 0 movimento mais geral das lutas operérias em Belém. As classes trabalhadoras comecaram a agitar-se a partir do segundo semestre de 1883. Descolamos pronunciamentos por motivos salariais, a exemplo da gavetilha publicada no Didrio de Noticias, Belém, 29/07/1883, p. 3: “SaLAnios — Os operdtios calafates fazem ciente aos mestres dos estaleiros e ao corpo comercial, tanto da capital como do interior que de 1° de agosto do corrente ano os seus traballhos sero feitos a cinco mil réis didrios. ‘Todos os calafates.” ‘ManifestagGes mais ousadas da luta de classes também aparece impressas, como neste aviso publicado no Baixo Amazonas, Santarém, ano VIll, n. 1, 5/05/1878, p. 3, debaixo do titulo “Quem nao degenera’ Vicente Salles “Ost, Major Adriano Pederneira, que tem o costume de insultar ‘aos operéios ocupados no reparo da casa do Sr. Joao B..., abstenha-se de reproduzir os seus insultos, e de ameacar com @ espada, devendo-se lembrar-se que um pedreiro ainda Ihe pode rebocar a cara com a colher, visto ja ter ela sido bern macerada pelo general Pederneira, Perca o habito, porque seno... et caetera e tal... pontinhos, O mestre Elias.” Os trabalhadores aprenderam a impor suas reivindicagoes de maneira organizada. A 11/12/1888 houve greve dos aguadeiros de Belém pela razdo de ter sido vendida em hasta publica uma pipa Pertencente a um aguadeiro que se recusara ao pagamento da muilta a ¢le imposta por ter faltado ao incéndio da trav, da Princesa. O movimento repercutiu em toda a imprensa paraense. Ja 0 noticiétio do segundo semesire de 1883 comeca a falar da Liga Operdria, @ frente da qual achava-se 0 mesmo dr. José Agostinho dos Reis, o que permite enfatizar que a causa abolicionista confundia-se ‘as vezes com a causa dos trabalhadores em geral, _ José Agostinho dos Reis substitu Bento Aranha, que fora forcado a emigrar para o Amazonas. A Liga Operéria substituiu também o Club Populs, emprestando-Ihe sentido classista na tentativa de mobilizar © proletariado em passeatas e greves, atticular-se com o movimento aboli ‘ionista e unir os interesses das varias associagGes mutualistas entao existentes. A 17/01/1884 houve a eleicao da primeira diretor ue ficou assim constituida: Presidente, Raimundo da Silva e Sousa; 1° secretério, Torquato Passos; 2° dito, Joaquim Cameiro; tesoureiro, Luts Antnio Bosque; orador, Augusto Domingos Ruivo, Exam todos figuras modestas. Lufs Anténio Bosque e Augusto Domingos Ruivo, oper em 1881 estavam na diretoria da Mecanica Paraense. Ruivo era a dde metecimento, mestre das oficinas de méquinas da Companhia do ‘Amazonas. A 27/01/1884 houve sesso de instalagao da Liga Operaria e posse da diretoria, realizada no saléo da Imperial Sociedade Artistica 14, . O Negro na Formagao da Sociedade Paraense_ Paraense, presidida pelo dr. José Agostinho dos Reis, com numerosa concorréncia, Falaram sobre o objeto da festa os operdrios Céndido le Deus e Silva, pela Artistica Paraense, lider negro, ¢ A. Lima, pela Benemérita Sociedade Beneficente Mecanica Paraense. O dr. Reis, presidente honorario da Liga Operétia, foi escolhido orador para 0 que tinha lugar e falou sobre a Lei do Trabalho e a necessidade educagéo profissional durante uma hora e meia, muito aplaudido. A Liga Operdtia comegou anunciando, em 1883, a criacéo de las pata os trabalhaclores. Funcionava ainda na sede da Sociedade lecdnica, rua da Pedreira n.° 41, e j4 promovia passeatas abolicionistas @ operatias. Joaquim Carneiro era o secretério que assinava as convocagées. Augusto Domingos Ruivo néo chegou a desempenhar faleceu em Belém a 15/02/1884, aos 38 nticleo da I Internacional Socialista, institufdo em 1873. A Liga Operéria dava um passo a frente, unindo os trabalhadores, a despeito das iras do dr. Domingos Anténio © historiador da Cabanagem, eventualmente presidente da Provincia do Grao-Paré, numa curta interinidade, para quem 0s artistas como os escravos constitufam uma ‘que convém ter sempre debaixo do relho...”. Na sua propriedade, na Vigia, ainda se quarda meméria da opuléncia e da severidade com que 08 escravos do ilusire barao eram tratados. ODidrio de Noticias, de Joo Campbell, engajou-se decididamente na campanha abolicionista, suprimindo de suas paginas quaisquer antincios relativos aos escravos e matérias de interesse dos escravocratas. Tinha como principal redator, na primeira fase, 0 escritor cearense Domingos Olympio Braga Cavalcanti, conservador, célebre autor do romance Luzia-Flomem. No comeco da década de 1880 a campanha abolicionista atingia © auge, em toda a parte. Muitas provincias haviam fechado suas alfandegas a importagdo de escravos; mas abriam-nas a exporta¢do... 0 que permitiu, na tiltima década da monarquia, negécio rendoso e muito ativo. O Paré se transformou nessa ocasiéo num grande importador 15 Vicente Salles de escravos e contra esse negécio se colocaram os abolicionistas. O Diério de Noticias, engajado nessa luta, desde o primeiro momento, passou a publicar, quase diariamente, noticia da importagio e descarga no porto de Belém da mercadoria humana, Na edicéo de 3/07/1881, p.2, advertiu debaixo do titulo — “Comercio pe NEcR ’ “No intuito de prosseguir na tarefa do progresso contra igndbil comércio, que vai tornar-se empério esta cay deliberamos fechar as nossas colunas a todo e qualquer escrito, quer contra as ideias abolicionistas, quer telativa a venda, fuga de escravos, cacao tendente a auxiliar 0 tréfico. Franqueamos a nossa folha a todos os artigos abolicionistas, bem como a defesa dos infelizes escravos. 3 Apelamos para os colegas da imprensa, a fim de tomarem igual resolucao...” A parlir de entao, debaixo do titulo “Pete Necra", registrou a : a no porto de Belém da carga humana pata ser vendida nesta api + *Ovapor Bahia trouxe 13 escravos para serem vendicos nesta provincia, gracas a protecao facultada pela Assembleia aos especuladores dessa torpissima indust -N? 6/07/1881, p. 2. See! + “Nos consta que no vapor Pernambuco vieram do Maranhao 4 escravos @ consignagao de um st. Martins, atualmente o principal importador dessa mercadoria”. —N.° 179, 5/08/1881, p. 2. + “Vieram 7 escravos para o grande mercado do Pate Que vergonha!” —N.° 200, 7/11/1881, p. 2. ieram para esta Provincia pelo vapor Pernambuco 6 escravos”. - N.° 200, 7/11/1881, p. 2. * “Do Maranhao entrou ontem 0 vapor Alcantara, trazendo 0 formidavel carregamento de 57 escravos e 20 ingénuos. 16 ‘O Negro na Formagio da Sociedade Paraense Esses infelizes vieram com destino a Olaria do st. Domingos Noguez. Eis af a civilizadora e humanitatia obra da nossa Assemb! Deixou abertas as portas ¢ a torrente da emigracéo negra ige-se para esta provincia, o inico mercado franco a esse famissimo comércio! Trancados 0s portos das provincias do Sul e do Norte, a excegio do Para, os comerciantes desse ramo de negécio nao tém outro remédio sendo correrem para aqui @ assim vai-se dificultando entre nés a emancipagao do trabalho, a0 passo {que se vai faciltando nas provincias exportadoras. Este fato depée seriamente contra ‘nés, e devemas 0 conceito péssimo feito a nosso respeito, dentro e fora do pas, unicamente ’ palticagem dos nossos deputados.” ~ 24/06/1882, p. 2 0 dinveito de propriedade foi largamente discutido, encontrando- se matéria abundante em artigos de fundo e em folhetins. Extenso trabalho publicado no Digrio de Noticias, 6/04/1884, assinado por Gil Félix, conclui que ‘osenhor “o escravo representa um valor, do qual é propris or titulos ou de compra ou de heranca; os abolicionistas S40 conspiradores contra o prinefpio da propriedade, subvversores da ordem, demolidores da sociedade...” Na edigéo de 3008/1884, José Penido escreve “O direito de proptiedade do elemento servl’,afirmando que essa propriedade é um roubo. ‘As lets geradas pelo movimento abolicionista eram burladas er toda a parte. No Gréo-Paré ndo s6 as leis eram burladas, como as autoridades policiais —¢ até mesmo alguns magistrados ~ protegiam os escravocratas e 0s traficantes. ‘Ainda 0 Didrio de Noticias, 19/04/1884, trata da burla da let em relagéo 20 pagamento do imposto de um conto de xéis por escravo 7 Vicente Salles que entrasse na provincia em companhia de seu senhor, Semelhante isencdo prestou-se aos mais infames fins dos traficantes de escravos. Lancaram mao de todos os meios para iludir a mesma lei, sendo o mais frequente o seguinte: chega um vapor do sul e nele vem o st. Fulano trazendo em sua companhia 10, 20.0u 30 escravos, de sua propriedade. Desembarcados estes, tratava 0 negreiro de vendé-los imediatamente @ 08 que nao achavam pronto comprador ficavam arrendados, ou alugados, regressando o tipo muitas vezes no mesmo vapor, a fim de promover novos carregamentos. comércio entre 0 Para e Maranhao foi particularmente ativo, como vimos, e 0 jornal, a partir desse momento, comecou a denunciar veementemente os negreiros, identificando-os até nominalmente, ¢ incitando a desobediéncia civil. No mesmo exemplar acima indicado, .3, debaixo do ~ “Um infame bacharel negreiro pretende trazer do Maranhio ara a nossa provincia um lote de escravos. Alerta povol Todos 4 quarda-moria! Nao consintais no desembarque do batalhdo negreiro!” bacharel traficante de escravos era Antonio Miguel da Costa Lima, is vezes denunciado, por essa atividade, como “infame negreiro”. Na edicdo de 24/04/1884, reiterava a desobediéncia civil: “A briosa sociedade libertadora Perseveranga e Porvir acaba de obter do bravo catraieiro Joao Agostinho da Cunha, capataz do trafico do porto, a honrosa promessa de que nenhum individuo ‘que para aqui venha a titulo de escravo desembarque nos botes que se empregam no servigo do porto.” Interpondo-se como autoridade zelosa do cumprimento das leis © chefe de policia do Para, dr, Bruno Jansen Pereira, diante da resis- téncia dos catraieiros da capital, promoveu a baldeagio dos escravos do negreiro Alfredo da Cunha Martins do vapor Espirito Santo para 0 8 O Negro na Formagéo da Sociedade Paraense A Alfandega do Para ainda no exercicio de 1887 recolhia taxas ¢ emolumentos sobre escravos desembarcados no porto de Belém (Doc. inédito do Acervo icente Salles ~ UFPA ~ Belém do Par Vicente Salles Tocantins, que na mesma noite seguiu para Cameté, Esse mesmo Jan- sen, bacharel maranhense, nao s6 protegia o tréfico como era racista destemperado, como logo veremos. Belém contava, nessa ocasiao, com diversos intelectuais negros ativos nos jornais. As lutas partidérias colocavam em oposi¢&o 0s jor. nai engajados numa ou noutra faceao. Embora fechado aos antincios dos escravocratas, 0 Didrio de Noticias deixou-se infiltrar pelos racistas, escravocratas embucados, e chegou a publicar textos ofensivos a um desses negros intelectuais, de nome Joao da Cruz, natural do Mara. ho. Nos “Souicrranos” da edigao de 25/12/1882, por exemplo, lemos © sequinte triolet assinado por Jansen, que era o citado Bruno Janson Pereira, bachatel, chefe de policia no Para. Pago a quem me trouxer Um escravo de cor escura, Robusto e de boa altura; Eu pago a quem me trouxer. Fugiu-me, nao sei dizer A que tempo. O carafue Se chama = Jodo da Cruz — Eu pago a quem m’o trouxer. Eo negro mais petulante Que de Atenas hé fugido, Além de vethaco atrevide... E o negro mais petulante, Passa por livre o birbante O patife, o mariola, O preto Jodo d’Angola, E o negro mais petulante. ‘Jotio da Cruz mereceu outros triolets de Jansen e do seu comparsa Borges Pai, numa evidente mostra de que a campanha abolicionista nndo conseguia aplacar o racismo e os preconceitos de raga e de classe seradlos pela sociedade escravista. Mais um destaque, para mostrar 0 nivel da agressao: Tem 0 Cruz doi De mui grande 80 ‘O Negro na Formagao da Sociedade Paraense Sua patente de alferes E acarta de liberciade Com 0 primeiro ele prova Que é mogo enobrecido Com 0 segundo também Que nao é preto fugido. A grande marcha abolicionista gerou, entretanto, literatura mais expressiva, destacando-se varios poetas, como Miicio davrot, Juvenal Tavares, Inécio Moura, entre outros, que trilharam as sendas do roman- ismo condoreito. Em 1877, Luis Demétrio Juvenal Tavares, empolgadlo pelas ideias socialites, publicau A Viola de Joana, versos dedicados aos proletérios do Paré. Num dos poemas, ou “modinha”, previa a redencao dos cativos: ‘Mulata ~ sangue de gato, ‘Mulata ~ sangue sem lei, Se tu queres ser rainha, ‘Toma o meu cetro de rei. Verds, mulatinha bella, Que varinha de condaol. = Faz esquecer ao cativo As dores da escravidei Faz desprezar os deleites Da préxima Redencéo. luita poesia de boa qualidade circulou an6nima, Nada se com- para er Be oftavas de Tobias Bareto, que descolamos anénimas da primeira pagina do Diério de Noticias, Belém, 2/07/1884: ‘Se Deus é quem deixa 0 mundo Sob 0 peso que 0 oprime Se ele consente este crime Que se chama escraviciao; Para fazer homens livres, Para arraned-los do abismo, Existe um patriotismo, Maior que a religiéo! 81 Vicente Salles Se ndo the importa 0 escravo Que a seus pés queixas deponha, Cobrindo assim de vergonha A face dos anjos seus, E um delirio inefével, Praticando a caridade, Nesta hora a mocidade Corrige um erro de Deus. Eram essas oitavas recitadas em todas a festas de doa¢ao de car- tas de liberdade, muitas delas realizadas com grande pompa no palco do Theatro da Paz, tao frequentes e, por vezes, tao acompanhadas de ridicularias, que foram satirizadas pela imprensa caricata. A discussdo das quest6es sociais subiu aos palcos paraenses nas duas tiltimas décadas do império. As conferéncias de socialistas e abolicionistas se sucediam nos teatros, sendo particularmente ativos os drs. Ricardo Borges Leal Castelo Branco e José Agostinho dos Reis. Em junho de 1884 era a vez do bacharel paraense, advogado do nosso foro, ativo abolicionista, pronunciar no Theatro da Paz uma série de conferéncias sobre o tema “A Redencao da Amaz6nia, pelo ensino pratico, trabalho livre, abolicao da escravatura, e colonizagao”."” Em 17/01/1885, p. 2, 0 artigo vencedora”, considera 0 direito de propriedade do negro um diteito nefasto ¢ defende o direito de fugit. ¥ Abordou os seguntes pont: Anresentago (da conferéacia IA pollca de Apemantus Il imo reduto da eseravatura, Deveres das Assembleas provinlas cAmaras XI. O presidente da provincia; ochete de pol de érfose misoriveis a intervengio que dt aboiconisias e sua importnca; 7 ‘estrangeiros, Esforgs da nagto bras, O imperadr; XVI Apelo ao presidente da provincia 82 O Negro na Formagao da Sociedade Paraense ce ci at d da Paz pela Sétiza das festas de doagio de cartas de liberdade no Theatro immprensa humorstica paraense. A Semana lustrada. Belém, 30/03/1884. 83 Vicente Salles AVida Paraense 5 A IDEA CAMINHA sie cena pt wo ts ee deen cer erie cnn ha ta Imagem reratando a reencio de Benevides do trabalho escravo. A Vida Paraense. Belém, 30/03/1884. 84 O Negro na Formaco da Sociedade Paraense Bastante movimentado foi esse ano de 1884. Além dessas atividades, 0 Didrio de Noticias, 12/07/1884, estampou matéria abundante e noticidrio sobre fatos palpitantes, tais como a demissio de funcionérios abolicionistas, ampla repercussao da emancipagéo dos eseravos no Amazonas, dedicando vérias edigdes em homenagem. { provincia do Amazonas; na caca aos escravos fugides denuncia 0 capitdo “negreira” Jodo Carlos de Faria. Sob o titulo “Necro Esret4cuto”, publica em 30/08/1884, p. 2: “Deram entrada ontem nesta cidade, a luz plena do dia, uns mifseros escravizados, que se achavam em fuga. Vinham amarrados dois a dois! Aesse Necro Esetcuto, original de nossa policia e do diteito de homem branco sobre o homem preto, crescide mimero de brancos e de pretos assistiu justamente indignado. 0, damos de nossa civilizagéo um atestado Falsos abolicionistas se revelaram tefinados tratantes, obtendo vantagens e explorando os escravos. Foi 0 caso do individuo Paulo Ribeiro, que presidiu a Sociedade Abolicionista 28 de Setembro, ¢ se apropriou do peciilio dos escravos.!* Esté claro que a produgio intelectual inclui também abundante iteratura dos aliados do escravismo, encastelados na imprensa tanto iberal como conservadora. Poucos porém foram téo ostensivos como 08 drs. Domingos Anténio Rayol e © magistrado conselheiro Samuel Wallace Mac-Dowell. Nada impediu, contudlo, a marcha dos acontecimentos. Didrio de Notas, Belém, 30'08/1884, p. 2 Vicente Salles A escravidao proporcionou 0 desenvolvimento histérico da Sociedade brasileira marcada por essas lutas e a esperanca de setores, Progressistas de superar essas desiqualdades, a partir de suas bases, Adestrando e diversificando os meios de luta da massa dos trabalhadores foriou, sem diivida, a consciéncia da unidade do roletariado nacional. Em toda a parte repercutiram, apés a abolica Pronunciamentos a respeito. No interior do Paré, cidade da Vigia, publicava-se © Liberal da Vigia que, embora distante, refletiu o que se passava no Brasil, No n° 10, ano XIV, 26/03/1889, p. 2, estampou: “Em S. Paulo, no dia 6 do corrente, realizou-se uma reuniéo dlos homens de cor, a que compareceram intimeros cidadaos. Foi votada unanimemente a sequinte mocao: ‘Os homens de cor, residentes nesta Capital, reunidos em , teconhecendo a abolicao do elemento servil no Bra: fez-se unicamente em virtude de esforcos populares, nao estao dispostos a auxiliar a quem quer que seja no plano de dividi: o ais em castas, plantando édios de raca no solo da nossa patiia Declaram, portanto, que em qualquer emergéncia, estao do lado do pove’ No dia 13 efetuou-se em Santos uma outra reuniao de homens de cor, tomando parte cerca de quinhentas pessoas. Foi votada e assinada por mais de trezentas pessoas a seguinte mocao: ‘Os homens de cor reconhecem que a abolicéo é obra do povo, € nao da coroa; que os ex-esctavos em todas as emergéncias devem estar ao lado do povo; que protestam contra os especuladores que pretendem auxiliar os pretos e arma-los contra os brancos em defesa de um governo que s6 soube persegui-los.”” Estas mogées, que repercutiram tanto, chegando até os confins da Amazénia, significam que os negros, em toda a parte, estavam Preparados para as grandes mudancas do final do século, Para eles, 86 aa NE Pree, PY FE QNegro na Formacio da Sociedade Paraense também, a Aboligao, ou a Lei Aurea, como se chamou 0 ato de 13 de io de 1888, era “o fruto que pendia de apodrecido’, na expressao lesabusada ~ mas verdadeira — de Silvio Romero, E foi unicamente obra dos esforcos populares, ConcLusio Mais do que as sociedades abolicionistas, as associagGes de classe feram fundamental importancia na marcha dos acontecimentos que esembocaram na queda da Monarquia e instalaco da Repiiblica entre Essa base concreta nao tem sido levada em conta pelos analistas Falando na Sociedade Paraense Promotora da Instrucao, em 1883, sobre “O Movimento Intelectual Brasileiro nos Anos”, José Verissimo desenhou o perfil, com tragos mui Ageis, da ossa vida intelectual. Reconheceu, com Silvio Romero, que a data de 1873 marca efetivamente o ingresso do Brasil no movimento intelectual contemporaneo, Investigando as cauisas geradoras do fenémeno, disse ‘que estavam todas em fatos estranhos & vida intelectual: a guerra do Paraguai, 0 movimento republicano francés de 1870, a guerra franco-prussiana e, por fim, a impropriamente chamada questdo religiosa. Foram, portanto, causas simultaneamente locais, nacionais ¢ universais que teriam despertado, segundo Verissimo, a consciéncia nacional, fazendo-a voltar para si mesma, Ao findar 0 séc. XIX, exatamente em 1899, o critico paraense ou 0 volume O Século XIX, s{ntese magistral dos principais acon- 03 titimos 30 anos desse século estao ais: pul tecimentos da centiria, Para marcados por trés fatos pri 1- amilltarizagao 2— oprogresso do socialismo e de outros partidos revolucionarios 3 ~ oimperialismo em expanséo, ota tendéncia para a conquista de tertitorios. 87 Vicente Salles Depois do 13 de Maio de 1888, jomais caricatos de Belém satirizaram a “ascensao social” do negro. A ea Ilustrada, ° a 3, Belém. ano Il, n? 20, 25/06/1888, pag. 8, desenho assinado por “Duc” (Colecéo Vicente Salles) Q Negro na Formagio da Sociedade Paraense Essa marca dos 30 anos fixa novamente nos 70 0 fulero dos principais acontecimentos e Ihe permite prever agora os “novos ter os", “quando se houver dado a profunda revolugéo social que tudo anuncia proxima” Mas o que acontecia entre nés? Proclamada sem sangue ¢ sem participacdo popular, a Replica difundira o caucilismo politico, es- pécie peculiar de autoritarismo, vendo inimigos por toda parte. ‘No plano nacional, registrou-se o duro governo de Floriano Pel- oto (1891-1894) e em seguida o tremendo equivoco histérico que foi a mobilizagéo do Pais contra 0: sertanejo Anténio Conselheiro, inclusive ‘com participacéo de tropas do Para e Amazonas. No plano local, as facc6es disputavam o poder depois da adesao ime sob a suspeita do pequeno ntimero de “repu- maciga a novo blicanos histéricos”. 0 governo, organizado oligarquicamente, entéo endurecia. O primeiro decénio do regime republicano no Paré marcou o requinte da repressdo policial e do patrulhamento ideolégico, que pressentira José Verissimo num de seus estudos e fora uma das causas do seu exilio voluntario no Rio de Janeiro. ‘Asantigas sociedades abolicionistas foram naturalmente extintas, wutualistas tiveram de adaptar-se as normas criadas 10, Eram normas que baniam as atividades ein.” 173, de 10/09/1893. as associagées mt pelo novo regime republican politicas, como as introduzidas pela |Até 0 final do século, outras sociedades de classe se instalarao no Paré, Uma das mais importantes, pela quantidade de filiados, foi a ‘Associacéo Liga Maritima, cada em 2/07/1899, que obediente alein.® 173, deixou expresso nas disposigGes gerais de seus estatutos proibicoes a atividades politicas: “Art. 44 — E absolutamente proibide a Associacao envolver- se em politica, fazer manifestages ou tomar parte nas que tiverem caréter politico. 89 Vicente Salles 7 JERRAS AOS QUILOMBOLAS NO GrAo-ParA’ ‘Art, 45 ~ Se a Diretoria permitir que algum séclo trate de politica em nome da Liga e néc tomar providéncias imediatas, cera demitida e se procederd a nova eleigao para substitutla, ‘Art. 46 ~ Se for a propria Diretotia que tratar de p sécios componentes da mesma seréo eliminados da Liga. Art, 47 - Se metade e mais ur dos sécios se reunirem ¢ em nome da Liga tratarem de politica, ser aquela dissolvida ¢ seus bens passarao a pertencer a alguma Associagao Pia, previamente designada pela Assembleia Geral. TEmbora tardia a ocupacéo e colonizagio do Gréo-Paré e Maranhio e pbjoto do efetivo interesse lusitano apés ur século de ocupacie @ povoamento da faa litoranea ‘ectondida no leste brasileiro ~, © proceso aquia mesma forma de mposico do modelo europeu de cultra wridade colonial, des regionais no modificaram substan Imente a vncw o modus faciendi do colonizkior. No este, come MO Freioe, que foram escravizados e, 08 que Sobre foram absor ys pela mesticagem. A maioria nao yesistiu ao cativeiro. Fscasseando no Jeste agrario, essa mao de obra mais barata comecou ‘a ser preada na Amaz6nia para exportagao. C holandés Joan Nieuhof, testemunhando 08 fos afirmouque 0 abrangia negros ¢ indios. Os indios caves 1m “comprados no Maranhao dentre prisioneiros de guerra ou: adqui- los dos tapuias que também 0s. escravizavam Ou executavam, segundo: vas costumes guerreiros”. Portanto, holandeses, em Pernambuco, néo se distinguiram da itica escravista portuguesa yelativamente ao indigena. Nieuhof: ‘ogo apés a entrada dos holandeses nO Brasil, ficou decidido ave ndo (ek avizasser 0s indigenas (salvo quando ‘comprados aos taptias ou jrazidos do Maranhéo)”." ‘A ressalva, entre parénteses, como no original confirma que 08 intoresses escravistas eram os mesmos. Mas é sabido que @ hvoura prosperou com o brago do negro. A lavoure de géneros exportavels, principal empenho dos colons. incipal empenho Co O Negro lutou pela conquista da cidadania durante séculos de opresséo. ‘A Repiiblica, inspirando-se em ideais da liberdade e da igualdade, acabou criando sétias restrigbes ao progresso da sociedade, ‘A classe operéria viveu 0 primeito decénio republicano, no Para, acuada pela policia do dr. José Gomes Coimbra, que serviu a varios governos, desde 1891, e zelou pela aplicacao da forca policial no empastelamento de jomails, represséo aos movimentos grevistas, fos folguedos “turbulentos” dos negros, capociras e brincantes de boi-bumbés, até mesmo na eliminagao do Partido Operatrio do Para, falado em 1891, que resistiu valentemente até 1894 e publicou a ‘Tribuna Operéria. 0 cidadao de pele negra vai lutar durante muito tempo pelo simples direito de sobreviver & margem das conquistas do mundo moderno, Essa luta é percebida quando se transforma em personagem importante na ficgSo de Inglés de Sousa, Marques de Carvalho, Lauro Palhano e, principalmente, Dalefdio Jurandit. © mundo da ficgdo ainda é 0 melhor dos mundos possiveis. Embora duro de viver. Teno erento ern 12.06.1985. * Teorde! iagem marina eterere oo Bras. 1942 o1 90

Você também pode gostar