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Autolimitagao Agendas Ocultas Paul e Vickie, meus amigos, velejam pelas Ilhas Virgens. Eles me con- taram um incidente que vivenciaram no mar. Um casal emitiu uma chamada de socorro: “nds estamos presos no Triangulo das Bermudas. Nao podemos sair daqui! Velejamos 20 jardas em uma diregao e, entio, paramos. Depois mais 20 em uma outra diregdo, mas ndo pudemos ir mais longe. Estamos presos no Triangulo!” Paul e Vickie velejaram para o lugar onde o outro barco estava “preso”. Quando se aproximaram, Paul podia ver a preocupacao no rosto do homem e da mulher. Con- tudo, tranqitilizou-os dizendo:“vocés nao estado presos no Triangulo das Bermudas, apenas se esqueceram de suspender a Ancora”. ‘Agendas ocultas sao estes “Triangulos das Bermudas” que prendem as pessoas. A pessoa parece fazer progresso apenas para sentir-se preju- dicada porque nao péde ir mais longe. Ela se concentra no que esta “4 sua frente” — as coisas que pensa que est4o bloqueando o seu progresso. Na verdade, aponta 0 esforgo que tem feito para fazer mudangas, ape- nas para ser impedida de alcangar suas metas. A agenda oculta, no en- tanto, € como a Ancora que nao vemos e que, a exemplo de outras, era 261 y e . ; i [BEIM superando a Resisténcia em Terapia Cognitiva para nos manter seguros. Ela nos impede de ir lentamente mar adentro, ou de naufragar em uma tempestade. Se nos esquecemos, porém, de suspendé-la, nos encontraremos fazendo movimentos limitados — fre- qiientemente para nos sabotarmos no processo. Neste capitulo, descrevo algumas agendas ocultas comuns que sao autolimitantes e quase sempre autoderrotistas. Uma variedade de pro- pésitos é abrangida por essas agendas, mas focalizarei trés metas comuns. A primeira é evitar avaliagio do self sob condicées idéais. Para realizar esta “autocamuflagem”, a pessoa manipula processos e dados de atribui- ¢ao. A segunda meta é evitar risco de uma perda maior ou repentina, inesperada e incontrolavel. O paciente se resguarda, evita tomar partido e fornece aderéncia minima.A terceira meta é evitar mais progresso, pois poderia levar a maior exposicao e humilhagdo publicas. O paciente pode pensar nisso como “um passo para frente e dois para tras”. Manobras de Atribuigao e Autolimitagao Explicagses de causalidade pessoal Um dos modelos mais influentes dos tiltimos 30 anos é a teoria da atri- buicao. Ha diferentes variagSes dessa teoria, mas todas dizem respeito a como explicamos as causas de comportamento pessoal ou 0s resultados relacionados a isso. Heider — 0 precursor do que se tornou conheci- da como “cogni¢io social” (1958) estava interessado em “psicologia ingénua”, isto é, como as pessoas entendem, bem como em explicar fendémenos psicolégicos na vida cotidiana, como inten¢ao, motivagio € caracteristicas de personalidade. H.H. Kelley levou o modelo de psicologia ingénua de Heider para a proxima etapa. A teoria da atribuicdo de Kelley (1971) propde que as pessoas usam um modelo de andlise de variancia para explicar se 0 comportamento de alguém se deve 4 pessoa ou 4 situagdo. De acordo com esse modelo, pessoas sao mais capazes de fazer uma atribuigao pessoal quando o comportamento é diferente, congruente e nao esta em consenso com os outros (Kelley, 1971). Por exemplo, imagine que alguém que eu conhega va assistir ao filme Titanic. Eu lhe pergunto apés o filme: “vocé gostou do filme?”. Ela responde que nao gostou. Se eu no tivesse visto o filme, poderia considerar sua resposta nestes ter- mos: ela gosta da maioria dos filmes, mas nao deste, quer dizer, sua resposta é diferente para esse filme? Se fosse diferente, seria mais prova- Autolimitagao ees yel que eu pensasse que o filme em questio nao é muito bom. Posso também perguntar: “como os outros respondem a este filme?”, ou seja, qual € 0 consenso? Se quase todo mundo que conhe¢o gosta do filme, eu deveria pensar que ha algo atipico nela por nao gostar do filme. Talvez seja um bom filme, mas ela no goste de espetaculos romanticos. Posso também avaliar se ela teria a mesma resposta se 0 visse novamen- te, isto é,0 quanto sua avaliacio do filme é coerente? Se ela assiste ao filme constantemente e sempre nao gosta dele, isso pode indicar algo: ela realmente nio gosta do filme. De acordo com 0 principio de covariancia de Kelly, tendemos a atribuir resultados a fatores que unicamente aca- _bariam tendo esse desfecho. Um outro modelo de atribuigio se baseia em como determinamos se a conquista ou o fracasso de alguém se deve a ele(a) ou a outros fa- tores. Weiner (1985) propés que podemos explicar sucesso ou fracasso por duas dimensGes ortogonais: interno/externo ou estavel/instavel (ver Figura 10.1). Se tenho éxito em algo, posso atribuir meu sucesso a minha habilidade ou ao meu esforco (ambos internos), a facilidade da tarefa ou 4 minha boa sorte (ambos externos). Meu esforgo e minha sorte podem mudar (cada um € instdvel). Por exemplo, se explico meu sucesso referindo-me 4 minha capacidade, me orgulharei do resultado e tenderei a generalizar essa habilidade para novas tarefas. Em compa- ra¢do, se atribuo meu sucesso ao fato de que foi uma tarefa facil na qual qualquer pessoa teria éxito, entio, nao sentirei orgulho e posso até ficar apreensivo quanto a outras tarefas. Relacionado conceitualmente 4 teoria de atribuicdo de Weiner esta o modelo esquemiatico miltiplo causal de Kelley (1971). De acordo com esse modelo, nés, com freqiiéncia, nao estamos disponiveis ou nao examinamos a gama de informagées de “covariagao”, a nao ser que dependa da simples “presenga/auséncia” de informagao. Kelley propos que as pessoas utilizam principios de desqualificacgao e acréscimo. O ee ae Instavel oc, Esforco : Sone Figura 10.1 Modelo de atribuicao de Weiner. BE@AB superando a Resisténcia em Terapia Cognitiva princtpio de desqualificagéo estipula que, se duas causas esto presentes e podem razoavelmente explicar um resultado, tendemos a desconsiderat uma delas em favor da outra. Por exemplo, se Susan vai assistir ao filme Titanic e diz que nao gosta — e ficamos sabendo que alguém lhe ofere- ceu $ 100 para nos dizer isso — se nao fizermos a associagao a sua Tes- posta ao filme, atribuindo-a ao suborno, estaremos provavelmente desqualificando-a. O suborno é visto como condi¢o suficiente para explicar o que ela nos disse. O suborno é visto como uma causa “faci- litadora’”’ uma vez que aumenta a probabilidade do desfecho. Todavia, podemos também considerar causas inibitérias. Por exem- plo, e se ficassemos sabendo que alguém lhe pagou $ 100 para dizer que gestou do filme, mas ela disse que nao gostou? Entio, concluiriamos que ela realmente © detestou, uma vez que teve de superar uma causa inibité- ria (0 suborno) para apresentar sua descri¢do. Dessa maneira, a presenga de uma causa inibitéria aumenta nossa atribuigio sobre os verdadeiros gostar e nao-gostar de Susan. Proteger a auto-estima Pessoas que desejam | proteger alguma auto-estima ndo querem descobtir que seu fracasso decorre de falta de habilidade. Auto-estima pode ainda ser protegida atribuindo-se o fracasso 4 dificuldade da tarefa ou afi mando-se que nao houve esforco. Pode-se atribuir o fracasso da ‘pessoa a uma causa “inibitoria””, como uso de Alcool ou droga, que pode ser in- terpretado como transitério (instavel) e no como reflexo das verdadeiras habilidades ou personalidade da pessoa. Além disso, criando uma catisa inibitéria — como, por exemplo, auséncia de preparagio, intoxicacio ou atraso — a pessoa pode alegar que qualquer sucesso que alcance é uma verdadeira manifestacio de génio. O desejo de proteger essa atribuicao, de modo geral, possibilita resisténcia latente a mudar. Pessoas estio motivadas, em geral, a melhorar sua auto-estima, pre- servando sua imagem como racionais, competentes e boas. Uma pessoa, quando considera tomar medidas que podem resultar em sucesso ou fracasso, em geral antecipa a “posi¢io de atribuicio” que resultara de sua a¢ao. Por exemplo, “se eu fizer a prova e fracassar, 0 que isso dirt sobre mim?” ou “se obtiver éxito, o que isso dird sobre mim?” Os mo- delos de atribuigdo j4 mencionados sao utilizados antes de decisdes para agit na expectativa de como alguém pode interpretar restiltados desco- nhecidos. Autolimitagao Peter esté pensando em fazer uma prova. Ele tem elevadas expecta— tivas de si mesmo — e os outros tém em relacio a ele. Entretanto esta agora em uma universidade que é mais competitiva do que a escola de ensino médio da qual veio. Seu dilema é 0 seguinte:“‘se estudo muito, isso aumenta as minhas chances de ir bem. Se, no entanto, estudo mui- toe me saio mal, isso significa que sou inferior aos outros estudantes aqui”. Peter se vé considerando a atribuigéo ao cubo: meu (potencial) fracasso sera atribuido 4 minha capacidade, 4 auséncia de esforgo, 4 di- ficuldade da tarefa ou 4 mA sorte? Ninguém acreditara em “ma sorte”, entio, ele tera de recorrer 4s outras explicagGes possiveis. Se os outros fazem melhor do que ele, nao pode atribuir isso 4 “dificuldade da tare- fa”. Sem diivida, ele no quer concluir que nao tem capacidade. Entao, pode considerar construir eventos para que possa razoavelmente con- cluir:“ele nao se esforcou muito”. Nao se esforgar muito é algo que ele pode mudar: pode se esforcar mais no futuro. Além disso, se for bem no exame sem se esforcar, pode concluir que é um génio. Em outras palavras, ele “supera uma causa inibitoria” — nao tentando — que aumenta sua tendéncia a atribuir o resultado a sua excepcional habilidade. Peter pode nio se sentir completamente protegido por “nao se esforcar”. Ele pode buscar outras causas inibitorias que impecam o seu desempenho. Estas poderiam incluir beber, usar drogas, ficar acordado até tarde, queixar-se sobre sua depressio e ansiedade ou queixar-se sobre sua sindrome de fadiga crénica. Como intensifica suas causas inibitérias — ou desculpas — diminui a chance de que seu fracasso dira algo sobre seu “6timo potencial” e deixa aberta a possibilidade de que seu sucesso — ele deveria ocorrer — demonstrard sua natureza genial e herdica em superar as muitas limitagSes que o cercam. A autolimitagio foca-se em evitar direcionar a avaliagao da habili- dade ou o selfda pessoa. A estratégia ao conduzir autolimitacao consis— te em que as pessoas (1) tentam proteger sua auto-estima, (2) em situacdes de indecisio, (3) obscurecendo avaliagdo ao engajar-se em geracio de desculpas, criando empecilhos para desempenho ou er- guendo barreiras para atribui¢do de habilidade (Arkin e Oleson, 1998; Berglas e Jones, 1978; Jones e Rhodewalt, 1982; Snyder, Higgins e Stucky, 1983). Desculpas incluem referéncia 4s condiges (geralmente) pre- existentes que inibem 0 desempenho:“‘nao me sinto bem. Estou fican- do doente e tenho uma prova importante amanha”. A desculpa € explicaco suficiente para o fracasso, contornando, com isso, inferéncias (SER superando a Resisténcia em Terapia Cognitiva Epsom 4 Kone oe yer” ne pe \ \ poner ats tos = “ _, intelectual. Ele parecia dedicado a beber e jogar sinuca em vez de estu- evidentes de baixa capacidade. Algumas pessoas criam dificuldades pata o desempenho, obscurecendo também a auto-avaliacio: “sei que tenh uma prova importante amanhi, mas vou sair hoje 4 noite e beber to das”. Um outro exemplo de autolimitagio inclui criar barreiras pz atribui¢io como: nao se esforgar em uma prova dificil, confund assim, a questdo quanto a seu fracasso ser decorrente da auséncia esforco ou da auséncia de habilidade. Pessoas deprimidas, j4 sofrendo de baixa auto-estima, podem empt gar manobras de atribuigéo para evitar avaliacio clara de suas “Otimas habi- lidades”. Dessa maneira, uma pessoa pode ir atras de desfechos it e de baixa probabilidade, uma vez que o fracasso nestes ni verdadeiro potencial (isto é, qualquer um teria fracassado). esforcos, largar precocemente, provocar os outros e estabelec excessivamente altos s4o outras estratégias de atribuicao que p pessoa evitar ser julgada pelo padrao pelo qual os outros sao ju res para chegar ao sucesso, visto que um fracasso a qualquer passo menot daria maior implicagdo de menos habilidade, enquanto fracassar ao “gran dioso esquema” poderia significar apenas que ela estabeleceu suas m mais alto do que as outras pessoas fizeram. Veja o caso de um estudante universitario que quase sempre se comparava com seu pai que tinha conseguido consideravel fama como * dar. Todavia fez 0s cursos mais dificeis que poderia. Sua atribuigao de autolimita¢do era de que, se fracassasse, poderia atribuir isso a sua des vinculagao do “trabalho macante” de “‘cursos sem sentido”, ao asso que, se tivesse éxito, seu sucesso provaria que era um génio. De qual-_ quer jeito, nao havia avaliacdo clara de seu verdadeiro pote dispo- nivel. Tanto fracasso quanto sucesso estavam dentro de seu “controle de atribuicio”. Perfeccionismo Protetivo Uma outra estratégia de autolimitacao ¢ exigir perfeigao como prote- ¢4o contra ver o self como mediocre, se vocé nao consegue a perfeigio = que € “tarefa extremamente dificil” —, entao obscurece inferéncias evidentes sobre habilidade pessoal (como Salvador Dali disse: “nao se preocupe com a perfeig4o.Vocé nunca a conseguir4 de qualquer jeito”). Autolimitacao Uma mulher severamente deprimida resistiu com firmeza a abandonar sua demanda por um parceiro perfeito, em parte por causa de sua cren- ga de que estes padrées perfeccionistas mantinham sua auto-estima: “se eu desisto do meu padrao, ent&o sou apenas como todo mundo. Embora nao tenha o parceiro perfeito, ainda tenho meus padroes”. Em sua perspectiva, abandonar o perfeccionismo a relegaria a um mundo de tudo ou nada, de pessoas sem importancia. Uma vez que ela aban- donou seu excessivo ideal de ego com respeito a um parceiro e a uma carreira, foi capaz de realizar mudangas significativas que ajudaram a diminuir sua depressio. Semelhante 4 atribuigio de autolimitagao ilustrada, o perfeccionis- mo permite 4 pessoa evitar ser mensurada em uma curva normal. Se ela falhar em ser 100%, entao, as tinicas conclusées garantidas sio de que ela nao é perfeita (0 que nao é instrutivo uma vez que ela nio é distin- tiva) e de que tem altos padrées (0 que ela considera admiravel). O perfeccionista evita ser julgado em uma escala-padrao para evitar de- terminar seu padrio comparativo. Modificar a Autolimitacao A paciente autolimitante enfrenta um dilema: quer mudar de maneira que possa se sentir menos impotente, porém teme que a mudanga a colocara em uma posi¢do em que o fracasso nao pode ser desatribuido a outros fatores. Dessa maneira, ela arrisca avaliagao direta de real capa- cidade. Seu segundo medo é de que estar4 muito exposta ao compro- misso, de modo que recuar sera mais dificil. Ela teme chegar ao ponto do qual nao possa voltar. No restante deste capitulo, discuto estratégias para modificar auto- limitagdo ou autoderrota. B importante que © terapeuta, ao usar esas interven¢6es, nao culpe o paciente por sua depress4o (ou problema). O terapeuta deve indicar para 0 paciente que os dois juntos podem desen- volver uma curiosidade sobre o porqué é dificil mudar:“de que maneira vocé se torna mais cauteloso?” ou “vocé estA acidental e involuntaria— mente atrapalhando sua propria vida?” (BEB superando a Resistencia em Terapia Cognitiva Preparagao da agenda % “Para qual problema vocé see de ale hoje? Voce pode especif criar e seguir uma agenda, enti de progresso na terapia pode ser atribuida ao terapeuta. Por exemp uma paciente que temia buscar sucesso no trabalho e em mentos e se recusava a abandonar sua visio idealizada do que neces tava em sua vida continuamente resistia a estabelecer uma agi Quando estabelecia uma, rapidamente desistia dela, criando quei sobre como se sentia mal. Quando o terapeuta perguntou quais as vantagens de nao seguir uma agenda, ela respondeu: “nao ten enfrentar meus problemas e ndo tenho de fazer nada”. Ela indie: temia que, uma vez que comecasse a estabelecer uma agenda e a se se, seria obrigada a fazer coisas que nao conseguiria. Identificar padroes de autoderrota Por exemplo, a paciente pode reconhecer que freqiientemente voca os homens em relacionamentos, levando-a, assim, 4 rapida 1 cdo, Isso a levou a reconhecer que tinha medo de ser rejeitada e base mais profunda, de modo que a rejeigio logo de ini uma sensa¢4o de controle. Ela também acreditava que fic: sada pela rejeigao se fosse mais intima. Dessa maneira, seu coi mento provocativo e autoderrotante lhe conferia alguma prot relacio a maiores perdas. Todavia, ela se deu conta de que essa estrat autoderrotante reforgava ainda mais a sua visio negativa dos hon fazendo com que provavelmente fosse pessimista no futuro, Examinar custos e beneficios da autoderrota a Autolimitagao Um paciente que continuamente se depreciava, quando falava so- bre seu trabalho, notou que esperava que os outros o menosprezassem. Ele também mencionou que nio queria parecer “convencido”, com receio de que isso o levasse a mais rejei¢io. O terapeuta perguntou: “se vocé nao diz que seu trabalho é algo bom, ent3o, por que outra pessoa pensaria que é?” O paciente examinou como sua vida teria sido diferen- te se no tivesse depreciado seu prdprio trabalho. Ele acreditava que es- taria muito mais adiante e que seu trabalho seria muito mais visivel. De maneira interessante, essa revelagio o levou a seu proximo medo: “mas, entao, posso fracassar de uma forma realmente grande! Pelo menos, com © que estou fazendo, meu fracasso est limitado e um tanto privado”. Monitorar a autoderrota “Vamos acompanhar quando e com que freqiiéncia vocé se resguarda (fra- cassa, provoca, se esconde etc.)” “Quais situagdes ou pensamentos pa- recem desencadear sua autoderrota?” Em vez de engajar-se em “rastrear a competéncia”, o terapeuta instrui o paciente a engajar-se em monitorar a autoderrota.A vantagem de fazer disso um alvo consciente € que a autoderrota opera mais po- derosamente quando tem uma qualidade “clandestina”, isto é, 0 pa- ciente esta mais minado por autoderrota quando os comportamentos autolimitantes nao estao claramente na consciéncia. Assim, 0 terapeuta pode dizer: ‘eu gostaria que vocé anotasse todos os exemplos de seu comportamento autoderrotista”. O terapeuta e 0 paciente podem ca- talogar exemplos desse comportamento, como “fazer afirmagGes nega- tivas sobre si mesmo para os outros”, “desconsiderar os elogios”, “colocar esfor¢o em algo, porém minimo” ou “provocar uma outra pessoa”. Esses comportamentos-alvo podem, entio, ser examinados em telagio a seus custos e beneficios. Os pensamentos ou situagdes que despertam autoderrota podem também ser identificados usando o au- tomonitoramento. Tenho observado que pacientes estio propensos a engajar-se em autoderrota quando tém uma combinagao de aumentar recentemente as expectativas com a crenga de que algo negativo esta acontecendo ou prestes a acontecer. Examinar as implicagoes negativas do sucesso s imaginar que voce obteve éxito em algo. Talvez isso tenha algumas. implicagdes negativas para voc’. Quais poderiam ser? O que acontece- (ATOM superando a Resistencia em Terapia Cognitiva tia depois? Expectativas mais altas, mais fracasso pitblico, des udessponta os outros, ter de manter 0 sucesso, no merecer ‘omo vocé lidaria com essas conseqiiéncias de si sucesso?” O terapeuta deveria examinar os sentimentos ambivalentes d ciente sobre sucesso. Embora este mostre aparente tristeza pela s falta de realizagio ou pela sua incapacidade para formar um relaciona mento, o terapeuta pode dirigir a ateng4o dele para o medo de avant demais. Por exemplo, um paciente que se queixava que estava aprisio: nado debaixo de um “‘telhado de vidro” em seu emprego, dimii seu desempenho no trabalho a ponto de ser demitido. Entretanto, por causa de mudangas de politica em sua empresa, uma nova oportunida de se abriu, sendo-lhe altamente provavel conseguir o emprego. desempenho no novo emprego seria mais Sbvio uma vez que havi claras expectativas de produgio. Isso o levou 4 procrastina¢io e daut sabotagem. O paciente indicou que temia conseguir 0 novo empre pois acreditava que isso revelaria o quanto era realmente incompetei te. Pelo menos, sentiu, no emprego atual, com seu comportament passivo-agressivo, que poderia sempre atribuir sua auséncia de suc a auséncia de esfor¢o. Desse modo, nao havia forma alguma de avaliar sua verdadeira habilidade. Como muitas personalidades autoderrotis- ___ tas, ele tinha uma alternada visio dicotémica de si mesmo: de que era ‘ “incompetente” e de que tinha “habilidades especiais”. Examinar medo de auto-avaliagao ou auto-exposicao “Algumas vezes tentamos evitar descobrir 0 que poderiamos fazer na me- Ihor das circunstincias, isto é, quando temos de colocar todos os nossos esforgos em algo em que podemos temer descobrir que nao somos tio bons o quanto pensivamos que fossemos. Voce ja teve esse medo? z coisas para ter certeza de que no consegue uma clara avalia i voce mesmo? O que vocé espera ou exige de si mesmo? O que v * pensaria se descobrisse que nao era tio bom (ou tio grande) quanto pensava que deveria ser?” Vis6es idealizadas do self e do que uma pessoa deveria cumprir fre- qiientemente resulta em esforco minimo em condi¢ées no qual o de- sempenho poderia ser um sinal de “verdadeiro potencial”. Uma estudante mencionou que estava quase sempre atrasada em entregar seus trabalhos, resultando em varios “incompletos”. Ela fazia muito pouco esforgo em seus trabalhos — ou em sua preparacdo para provas — fre- Autolimitacao (Rais giientemente desviando a aten¢ao para conversar ao telefone, assistir 4 televisio ou dormir tarde. Embora indicasse que pensava que 0 con- tetido dos cursos que fez era bastante interessante, em geral passava uma quantidade excessiva de tempo lendo o que nao estava relacionado a quaisquer avaliagGes ou testes desses cursos. Ela mencionou que sempre pensou que tinha de ser superior a todo mundo na escola, porém, quan- do foi para a universidade, se deu conta de que havia muitas outras pessoas muito inteligentes. Como resultado, reduziu seu esforgo em seus cursos, prevendo que temia descobrir que, caso se esforgasse ¢ conse- guisse terminar seus trabalhos a tempo, eles nao seriam excepcionais. Ela afirmou: “se nao sou especial e superior, entéo sou apenas como qual- quer outra pessoa. E sendo assim, entio, no tenho muito valor”. Taticas de Autolimitagao ATabela 10.1 lista “‘taticas” tipicas pela qual 0 paciente resistente tenta minar o processo de mudanga em terapia (Leahy, 1997c, 1999e). Ma- nobras claras incluem cogni¢io negativa motivada, desvalorizagio de alternativas € tentativas para provar inutilidade. Por exemplo, um es- ctitor, com considerdvel talento, insistiu em que tudo estava “péssimo” em sua vida (seu apartamento, seus relacionamentos, seu livro), que as mudangas sugeridas pelo terapeuta eram ingénuas e esttipidas e que desesperanca era a tnica alternativa racional. Esse é um exemplo de O terapeuta pode reconhecer cogni¢io negativa motivada porque © paciente sustenta de maneira vigorosa 0 aspecto negativo, a ponto de mencionar sempre material irrelevante que estava completamente ndo- relacionado ao t6pico 4 mio. Ao mostrar 0 negativo e adotar a desespe- ranca, 0 paciente pode descansar protegido dentro de seu casulo de controlavel seguranga. Quando o escritor foi confrontado com seu in- vestimento em mostrar o negativo, foi capaz de reconhecer que estava tentando evitar mais “fracasso publico” e humilhagio, os quais ele temia que ocorreriam quando completasse seu projeto. Demandas de disponibilidade sao também cruciais para pacientes re- sistentes. Essas pessoas utilizam raciocinio emocional para guid-las ao tomar uma decisio para mudar. Na verdade, preferem falar sobre seu problema do que mudar.“Tenho de sentir-me pronto para um. relacio- namento” ou “para mudar sozinho” sio exemplos de autolimitagao que limita risco. Eles freqiientemente véem 0 falar sobre o problema como TE Tabela 10.1 Taticas de autolimitagao Superando a Resisténcia em Terapia Cognitiva Cognigao negativa motivada Desvalorizagao de alternativas Distragdes fora da tarefa Demandas de disponibilidade Procrastinacaéo do perfeccionismo Mostrar desesperanca Aderéncia minima (cobertura de risco) Preocupacao somatica e vegetativa Culpar os outros. Provocar o terapeuta Desatribuicao de autolimitacao Esconder-se Discute fortemente por desesperanca, fica ii ou desanimado quando confrontado com informacao positiva. Vé alternativas positivas como ingénuas, perigosas ou sem sentido. Muda © assunto na sessao. eo discussao inrelevanteg trvializ liza sessao terapéutica com reclamacoes. Insiste em que deve sentir como se estivesse mudando ou pronto para mudar antes que esteja disposto a mudar. Foca-se em sua falta de motivacao ou desconforto. | i ee Exige uma solucao perfeita antes de estar disposto a tentar novo comportamento. ae a: Apesar de recursos positivos ou progresso, tenta mostrar que tudo é inutil. Cumpre 0 minimo esforco em auto-ajuda e, enta conclui que a terapia nao funciona. Freqtientes reclamacgdes e foco exagerado em quanto se sente fisicamente mal ou o quanto se sente exausto. Foca-se em como os outros sao as causas de seus problemas atualmente ou no passado. Insulta o terapeuta, questiona a competéncia deste ou é sexualmente provocativa. Cria “barreiras” para auto-avaliacao através de auto-sabotagem (por exemplo: embebedar-se), minimo esforco ou pegar tarefas impossiveis. Chega tarde as sessoes, rara presenca, hipersonia e afastamento. Autolimitagao o meio pelo qual podem se sentir “prontos” para alguma. ot im- prevista. Pode ser perguntado ao paciente: “o age. aconte tomasse essa medida e nao estivesse pronto?” ou “voce ja ee exercicio | quando no estava pronto para exercitar-se?” Pode ser dito 4s pessoas que se focam em disponibilidade que a motiva¢io freqiientemente Rice depois do Opa nea, e nao antes dele. Comportamento é um “exercicio de aquecimento” para a motiva¢ao (Leahy, 2000d). =e Alguns pacientes utilizam aderéncia_minima (posicionar-se de ma- neira neutra) como uma tatica autolimitante. Eles fazem um esforco minimo e largam precocemente. Da perspectiva do paciente, posicio- nar-se de modo neutro tem uma série de vantagens. Primeiro, 0 pa- ciente pode afirmar que tentou. Segundo, permite-lhe “sondar o terreno”. Se for desagradavel, pode largar precocemente e nao correr mais riscos. Terceiro, o paciente pode parecer agradar ao terapeuta, mas mantém sua estratégia de manejo de risco. Alguns pacientes modificam a agenda focando-se inteiramente em queixas somiaticas e vegetativas: “Minhas pernas doem. Estou cansado. Sinto-me muito atordoado”’. Es- sas preocupagGes nao apenas despertam a simpatia de alguns — especial- mente se 0 paciente é um “doctor shopper” — mas também fazem com que suas preocupagGes sejam imediatas, concretas e que nao estejam relacionadas 4 auto-estima. O paciente freqiientemente funciona com © pressuposto: “se meus problemas sao realmente médicos, entio, nado ha nada errado, comigo”’. Por fim, um método comum para resistir 4 mudanga é “esconder- se”— simplesmente nao aparecer. Muitos pacientes chegam tarde as sessOes, raramente comparecem, se retraem ou ficam calados, ou ainda assumem um comportamento “de nao aparecer”. Em muitos casos, esse comportamento reflete a ambivaléncia do paciente sobre o valor da terapia, mas, em alguns casos, pode também refletir a crenga do pacien- te de que terapia requer muita mudanga. Por exemplo, um paciente, cogitando separar-se de sua esposa, estava temeroso em relac4o a isso, mas estava também desmotivado a trabalhar para melhorar 0 casamen- to. Ele afirmou que as sessGes de terapia foram bastante Gteis para fazé- lo confrontar seus medos, mas quase sempre utilizava esconder-se como uma técnica tanto nas sessOes quanto em seu casamento. Superando a Resisténcia em Terapia Cognitiva Modificar a Resisténcia SRST a cst O paciente intrinsecamente demonstra desejo de mudar ao vir para a terapia, mas também pode ser incapaz de provocar essa mudanga. Podemos ver o paciente como trancado no classico conflito neurético, ou seja, tentando alcangar duas metas simultaneamente que parecem para ele contraditérias. Por exemplo, ele pode querer sentir-se menos deprimido, mas teme que a mudanga o tornara mais ainda. De certo modo, 0 conflito do paciente é com ele mesmo e apenas casualmente com o terapeuta. O papel do terapeuta é ajudar o paciente a negociar a mudanga dentro dele mesmo e este deveria ser encorajado a examinar este didlogo consigo mesmo: a parte que quer mudar e a parte que resiste. Te- nho notado que a maioria dos pacientes “resistentes” esta ciente disso e, algumas vezes, encontra confronta¢ao com essa resisténcia reconfortan- te. Isso “parece auténtico’’, eles podem dizer — e isso pode ajuda-los a abordar 0 didlogo perturbador que ocorre dentro deles: “quero mudar, mas tenho medo de que isso tornara as coisas piores”’. A Tabela 10.2 identifica uma série de intervengdes que pode ser utilizada para modificar a resisténcia. Como na negociagdo que tem princ- pios (Fisher e Dry, 1981), 0 terapeuta é o mediador, ajudando o paciente a identificar sua meta primaria e a examinar, colaborativamente, como © comportamento subseqiiente esta relacionado a ela. Por exemplo, a meta primaria do paciente pode ser estabelecer, no tratamento, inicial planejamento das sess6es: “o que vocé quer realizar em nosso trabalho em terapia?” O paciente pode indicar que sua meta é “sentir-se menos deprimido” e “escapar de um relacionamento ruim”. Essas metas se tornam o ponto de referéncia para a avaliagao de resisténcia. Depois, como 0 paciente resiste 4 mudanga atacando o terapeuta ou nao fazen- do a tarefa de casa, este deveria dirigir a atencio daquele para as metas iniciais: “como atacar-me 0 ajudard a se tornar menos deprimido?” ou “como nao fazer a ligdo lhe ajudard a resolver este problema de relacio- namento?” A resisténcia do paciente deve ser conceitualizada como uma “batalha dentro do se/f’ em vez de como “uma batalha com o terapeu- ta”, ou seja, como conflito entre as metas de principios e a resisténcia. Pacientes podem resistir ao nao estabelecer uma agenda. O tera- peuta deveria remeter para a meta priméria: “como nao estabelecer uma agenda o ajudaré a superar sua depressio?” ou “quais s4o os custos e beneficios de nao ter uma agenda?” Um paciente mencionou que 0 custo de estabelecer uma agenda era de que estaria se comprometendo Aucoimiaco RRR! Tabela 10.2 Contrastar sucesso com autolimitagao “Vocé teve sucesso em algumas coisas no passado. Quanto. ef ee isso? O que disse a si mesma? Vocé pode utilizar qualquer uma dessas estratégias recorrentes para seus problemas atuais?” “Vamos preparar alguns experimentos com pequenas doses de sucesso e ver o que desencadeia para vocé. Vocé fica ansioso, zangado, triste, confuso, arrependido etc.? Quais sao os seus pensamentos automaticos? Como vocé os desafiaria?” Ir mais devagar com o _ sucesso HEREIN superando a Resisténcia em Terapia Cognitiva Tabela 10.2 Contrastar sucesso com autolimitagao (continuacéo) Exemplo Escrever um rotei SUCessO- : a mudar. Se 0 terapeuta impés uma agenda, ele raciocinou que, ent poderia rejeitar a agenda como irrelevante — assim evitando mudar ou poderia explorar a agenda para ver se era “segura”. O terapeut pode também diretamente identificar padrées de autoderrota em ou- tras areas da vida do paciente: “tenho notado que vocé nio tet agenda para nossas sessGes. Eu me pergunto se isso éum padi _vocé pode ter em outras areas de sua vida. Por exemplo, vocé se enci tra “reagindo’ a eventos em vez de ativamente fazé-los mudar?” Estratégias de posicionar-se de modo neutro podem ser identifica~ das e examinadas em relac4o a seus custos e beneficios. Por exemplo, uma mulher que permanecia afastada e receosa com homens, embora afirmasse que queria um relacionamento, mencionou que, se resguar- dando (posicionando-se de maneira neutra), era capaz de “verificar na pratica” as verdadeiras intengdes do homem. Nio tinha lhe ocorrido que sua indiferenga era percebida pelos homens como fria rejei¢io que, entao, os levava a afastar-se, confirmando, assim, suas previsOes negativas sobre homens. O terapeuta foi capaz de convencé-la temporariamente a abandonar esse posicionamento e focar-se em monitorar qualquer atencao positiva dos homens. Ela também foi instruida a recompen- _ sar aten¢do positiva, o que compensa o posicionar-se de maneira neutra €, entao, ajudou-a a desconfirmar (parcialmente) sua visio negativa de interagao com homens. Algumas pessoas se autoderrotam porque temem nao poder se adaptar aos “custos do sucesso”. Essas pessoas acreditam que um movi- mento maior em dire¢ao a isso pode demandar maior intimidade (e Autolimitagao maior), maior sucesso (e maior queda ingreme rumo ao fracas- s maior reconhecimento publico (e maior risco de humilhagao). Sognicio negativa motivada e fortes argumentos favorecendo desespe- tanga quase sempre revelam esses medos de sucesso (vejo isso como medo das conseqiiéncias do sucesso, em vez de medo do sucesso propria- mente dito). O terapeuta pode examinar esses medos perguntando diretamente ao paciente sobre aqueles de maior demanda, de expecta- tiva mais alta, de maior exposi¢io ou de maior desapontamento, que pode acompanhar maior sucesso. O terapeuta pode perguntar como 0 paciente lidou com o sucesso no passado. Por exemplo, uma paciente indicou que foi bem em suas provas na faculdade, levando-a a um au- mento de suas esperangas, simplesmente para depois ser rejeitada por todas as escolas as quais tinha se candidatado (dada sua perfei¢ao, tinha se candidatado apenas a algumas escolas de elite). Uma outra mulher mencionou que tinha se tornado muito intima de um homem com quem planejava casar-se, mas, entao, ele repentinamente rompeu 0 noi- yado. Isso influenciou suas escolhas futuras sobre relacionamentos: ou escolhia homens que no eram tao bem-sucedidos quanto ela, permi- tindo assim, desvaloriz4-los como escolhas maritais, ou atuava através da infidelidade quando estava envolvida com homens que a viam como aceitavel companheira conjugal. Seu maior medo era de que acabasse em um casamento que nao daria certo e de que isso a levaria a um homem que a traisse ou A sensagao de fracasso. Por meio da “auto-sa- botagem”, ela era capaz de alcangar sua meta de evitar “sucesso” de avangar nos riscos de “‘traigao e fracasso”. Como indicado, avangar, para muitas dessas pessoas, pode conferir um risco maior. O paciente pode ter medo de uma exposigao maior. O escritor mencionado anteriormente temia que, se concluisse seu trabalho, seria rejeitado pela editora ou sofreria humilhacio publica quando fosse pu- blicado. Ele utilizou o fumar maconha como uma desculpa autolimi- tante: “terei tempo para meu livro quando compreender a razio de meu vicio”. Seu inflado ideal de ego — de ser um famoso escritor — re- sultou na utilizacio de numerosas estratégias autoderrotantes: hipersonia, conflitos com seu companheiro e fazer reparos em seu apartamento. Quando esses medos de auto-avaliacdo foram expostos, ele foi capaz de terminar seu livro. ‘A énfase na minimizagio de perda como estratégia € crucial para muitas pessoas resistentes 4 mudanga. Por exemplo, o paciente pode apenas procurar pela evidéncia da possibilidade de fracasso. Uma vez [BMD superando a Resisténcia em Terapia Cognitiva que encontra essa “evidéncia”, desiste. Essa abordagem de “parada da perda” pode resultar no paciente dizendo:“tentei todas essas coisas an- tes, mas elas nao deram certo”. O paciente realmente tentou se posicio- nar de maneira neutra para minimizar perdas. O terapeuta pode ajudar © paciente pedindo-Ihe um autocontrato para esforgo continuo ou duragdo mais longa em uma situa¢4o (por exemplo, um relacionamen- to), em vez de dizer que desistir é “permitido”. Normalizar a perda,em vez de catastrofizi-la, pode também ajudar o paciente a superar a estratégia de minimizacao. Por exemplo, ver a perda como uma expe- riéncia de aprendizagem, ou um passo normal em dire¢io a recom- pensas mais tarde, ou o custo de “fazer negécios”, ou ainda de maneira compartimentalizada, pode ser util ao permitir ao paciente ver expe- riéncia e perda como investimentos no futuro. Alguns pacientes agem como “comedores compulsivos” quando o sucesso ocorre. Eles “se jogam” em relacionamentos tio rapido e de ma- neira tao intensa que depois ficam profiindamente desapontados quando estes nio dao certo. O terapeuta pode introduzir a idéia de um modelo “privagao-fome” para chamar a aten¢ao para a demanda aumentada por sucesso imediato e importante. O paciente pode examinar os custos de exigir mais sucesso imediatamente — por exemplo,a tendéncia para com- prometer-se muito rapido, de modo exagerado, em relacionamentos pro- blematicos, confirmando, assim, a crenga de que “relacionamentos nio dao certo”, Em muitos casos, o processo de fome-privacdo pode afastar 0s outros, resultando nas profecias auto-realizaveis do paciente deprimi- do. Uma analogia que é util é a de “cabos de rapel” em alpinismo: peque- nas mudangas em altura ou descida so acompanhadas por readaptacdes para os cabos de seguranga. Tenho considerado util ter pacientes “menos ativos” em relagdo ao sucesso, de modo que eles ndo criam expectativas muito altas nem exigem muito dos outros. Muitas pessoas autoderrotistas tém estado ocupadas criando histé- rias sobre seus possiveis fracassos. Narrativas detalhadas sido titeis para auxiliar 0 paciente a imaginar 0 sucesso e tornd-lo convincente. Em compara¢ao, tarefa de casa em terapia cognitiva pode freqiientemente parecer muito intelectual e enfadonha — pode nao ter um “sentimento de vida real”. Histérias que tendem a ser memoraveis podem explicar sua popularidade em todas as culturas por transmitir importantes “li- goes”. Pode ser pedido 4 paciente para anotar histérias breves (duas paginas) sobre detalhes especificos de como pode conseguir desenvol- ver um relacionamento. Por exemplo, uma mulher achou itil anotar Autolimitagao fa historia curta sobre conhecer um homem, sair para um encontro, conhecerem-se melhor e desenvolverem um relacionamento significa- tivo. Embora ela tivesse vivido relacionamentos antes, disse que isso foi ‘um exercicio completamente novo, visto que raras vezes visualizava as coisas dando certo. Narrativas sio valiosas como forma de “concretizar” 95 planos que o paciente pode imaginar executar ao resolver um pro- ‘blema e alcangar uma meta. Essas narrativas podem também revelar os pontos onde o paciente fica ansioso ou deprimido: “fiquei ansiosa em minha hist6ria quando falamos sobre sexo, porque, entio, me dei conta de que pensava que ele estava apenas tentando me usar”. Os medos da paciente em relac4o a essa “exploracio” podem ser abordados pergun- tando-se 4 paciente: “o que significaria para vocé se tudo o que ele quisesse fosse sexo?” Uma mulher respondeu que isso significava que ele era superior e ela nao tinha valor. Sua expectativa dessa exploracio freqiientemente a levava a provocar o homem de modo agressivo e, assim, evitar 0 risco de intimidade. RESUMO Inibicao de movimento é, com freqiiéncia, muito adaptivel — como a inibicio para navegar em ventos fortes ou para cruzar uma ponte que balanca. A abordagem apre- sentada aqui permite a ambos, paciente e terapeuta, colaborar no entendimento do “valor” da resisténcia e explorar as implicacdes da mudanga. Ao examinar a autocom- provagao negativa de posicionar-se de maneira neutra, cobertura de risco, esconder-se € provocacao, o paciente e o terapeuta podem reatribuir “fracasso” como “elevado manejo de risco”, em vez de inadequagées pessoais e permanentes, Conceitualizar resistencia como “adapta¢ao” autoprotetiva é consideravelmente menos depreciativo para pacientes do que vé-los como “desmotivados”. Resolver o conflito interno entre © self que procura por melhoria e o self que teme perda permite que pacientes “resis- tentes” entendam como atrapalhar sua propria vida parece necessario para que eles se autoprotejam.

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