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COMENTARIOS Circulac&o Atmosférica do Brasil (Contribuicéo ao Estudo da Climatologia do Brasil) Epon NimER ‘Geoerato do. ONG. A experiéncia tem-nos mostrado que nenhum fendmeno da natureza pode ser compreendido, quando encarado isoladamente, fora dos demais circundantes. Qualquer acontecimento natural pode ser convertido num contra-senso quando anallsado fora das condiedes que 0 rodelam; ao contriirio, se considerado em Hgacio com os demais poderd ser compreendido ¢ justifieado. © quadro vege- taclonal, por exemplo, ndo pode ser justifieado nem bem compreendido se con- siderado isolado do seu meio atmosférico, isto é, do que o domina. 0 mesmo ooorre com éste ultimo ‘mesm's ‘Tédas as massas de ar responsiveis pelas condigées climaticas na América o Sul atuam, no Brasil, direta ou indiretamente, a saber: Equatorial attantica (mEa), Equatorial continental (mEe), Equatorial pacifica (mEp), Equatorial norte (mBn), Tropical atlantica (mTa), Tropical continental (me), Tropical pacifica (mTp), Antértica (mA), Polar ‘atléntica (mPa), Polar pacifiea (mPp), Su- erior (mS), Para melhor compreensio veremos, primeiramente, as regides de origem fe propriedades das massas de ar, a distribuicio média da pressio e ventos (cireulagio normal) e, finalmente, as perturbacdes (circulacdo secundaria) I — REGIOES DE ORIGEM E PROPRIEDADES DAS MASSAS DE AR 1 — Massas Equatoriais — Quatro sio as fontes de origem, trés maritimas fe uma continental, 0 que nos leva a distingulr quatro massas de ar: a) Zona dos alisios de SE do anticiclone do Atléntico Sul, fonte da massa Equatorial atlintica (Ba) ; b) Zona dos alisios de SE do anticiclone do Pacifico Sul, fonte da massa Equatorial pacifica (Ep); ©) Zona dos alisios de NE do anticiclone do Atlintico Norte (dos Aedres) fonte da massa Equatorial norte (En). Bssas trés fontes slo separadas entre si pelo continente e pelas calmas equatorials, Tédas trés possuem subsidéncia e consegiientemente uma inversio térmica que dificulta a mistura assegurando-Ihe estabilidade 4) Zona aquecida e caracterizada pela presenea de florestas e savanas onde dominam as calmarias do regime deprosstonirio continental, fonte da massa Equatorial continental. Vejamos com alguns detalhes as propriedades das massas Ba ¢ Be, pois para o Brasil estas intervém diretamente. ‘mEa — Constituida pelos alisios de SE do Atlantico, compée-se de duas correntes, uma inferior fresca ¢ carregada de umidade oriunda da evaporacéo do oceano, ¢ outra superior quente e séea, de direcdo idéntica, mas separadas por uma inversio de temperatura, a qual ndo permite o fluxo vertical do comentarios Ea vapor, assim barrado, assegurando bom tempo. Entretanto, em suas bordas, no doldrum ou no litoral do Brasil, a descontinuldade térmica se eleva e enfraquece bruseamente, permitindo a ascensdo conjunta de ambas as camadas dos alisios. Désse modo a massa torna-se ai instavel, causando as fortes chuvas equatoriais fe as da costa leste do continente, estas agravadas pela orografia, ‘mEe — Como vimos, essa massa se forma sdbre o continente aquecido onde dominam as calmas e ventos fracos do regime depressiondrio, sobretudo no verio. Nesta época, o continente é um centro quente para o qual afluem de norte e leste os ventos oceanicos orlundos na massa En mais fria, vindo cons- tituir, em terra, a massa Ec Na depressio térmica produz-se acentuada ascencio, que, dada a falta de subsidéncia, empresta-Ihe um cardter de instabilidade convectiva, Isto permite que a umidade especifica se distribua mais uniformemente com a altura, Por ee tratar da massa constituida de ventos oceanicos, e sujelta a freqiiente con densacdo, a umidade relativa é elevada, sendo caracteristica a formacio de gran- des ciimulos-nimbos e precipitagio abundante, 2 — Massas Tropieais — Zona de ventos varlavets e divergentes das cal matias subtropieais, ou seja, dos anticiclones semi-fixos do Atlantica e do Paci- fico, Limitam ao sul com as massas polares, e se estendem 20 norte até a zona os alisios de SE, Estas massas de divergéncla anticiciénica, possuem subsidéncia superior, a qual favorece a mistura lateral e impede a vertical, dando-Ihe um caréter de homogeneldade. ‘Vejamos a seguir com mais detalhes as massas Tropical atlantica e Tropical continental, que nos Interessam diretamente, a) mTa — Forma-se na regido maritima quente do Atlantico Sul, reeebendo por isso, multo calor e umidade na superficie. © movimento do ar nessa regiio 6 determinada pelo antleielone subtropical, bastante persistente. O ar é muito uniforme na superficle, com muita umidade e calor, porém sua uniformidade nao se estende a grandes alturas, porque na parte leste dessa alta subtropical ha um persistente movimento de subsidéncia a uns 500 a 1000 metros acima do mar. A umidade absorvida do oceano se limita & camada superficial, Na parte oeste das altas subtropieals hé um ligeiro movimento ascendente com grande mobilidade vertical do ar que eleva a subsidéncia para aclma de 1 500m. Como conseqiléncia, a umidade absorvida do oceano penetra até grandes alturas tormando 0 setor oeidental da massa tropical maritima mais sujelta a instabliidade que 0 setor oriental. Além disso, devido & presenca da corrente maritima (quente), a massa sofre grande aqueclmento na costa da América do Sul, sobre- tudo no ‘vero, quando é maior a temperatura daquela corrente, tornando-se per isso instavel. A diferenca entre a estrutura da massa de ar nas partes leste e oeste da alta subtropical pode ser constatada comparando a precl- pitagio no geste da Africa com a do leste da América do Sul. A inversio supe- rior que é mais alta a oeste, eleva-se pouco a pouco, desaparecendo a sudoeste a0 se aproximar da frente polar. Isto possibilita a mistura por conveccdo da umidade espeeifiea que se achava concentrada abaixo da inversio, realizando a instabilidade com @ ascensio frontal nas latitudes subtropicais. b) mTo — Essa massa adquire maior importncla durante overdo, ou melhor, dos fins da primavera ao infcio do outono. Sua regido de origem é a estreita zona baixa, quemte e rida, a leste dos Andes e ao sul do Tropico. © oriunda da frontélise na Frente Polar Pacifica, cujos elclones se movem para sudeste celuindo depois de transpor os Andes, onde sofrem efeito de dissecagio adiabatlea, Bsse fato, ligado & grande insolacio do solsticio de verdo, deve con tribuir para a elevada temperatura e secura da massa, A Depressio térmica do Chaco se constitul assim em fonte da mTc. Esta é constituida por uma eireulagdo eielética na superficie, de forte convergéncla. Entretanto, sua baixa tumidade, aliada a forte subsidéncia da Alta superior, dificulta a formagao de ag, 4 — Jumo-Sembro de 1866 as REVISTA DRASILEIRA DE GROGRAFIA nuyens de convectio ¢ trovoadas, sendo, portanto, responsavel por tempo quente e steo. 3 — Massa Antértica — Sua tonte é regiio polar de superficie gelada, constituida pelo continente antirtico e pela banquiza fixa, Seu limite comeide aproximadamente com a isoterma de 0° na superficie do mar. Ai se instala ‘um anticiclone permanente, cuja inversio superior é mauito baixa, assegurando a essa massa notavel estabilidade. Quando a massa quente superior emite cor- rentes de ar para baixo, éste possuindo velocidade muito fraca, permanece durante intervalos de longo tempo em contacto com a superficie subjacente gelada, e a adaptacao entre o ar e essa superficie ¢ mais ou menos completa. Com essas caracteristicas o ar 6 distribuido pela divergéncia anticiclonica, em todas as direcGes, mas sempre com desvio para oeste, 4—Massas Polares — Originam-se na zona subantartica ocupada pelo “pack” e outros gelos flutuantes levados pelas correntes antérticas. Trata-se de uma zona de transiedo entre o ar polar e o tropical. Dessa zona partem os anticiclones subpolares que perlédicamente invadem o continente sul-americano, com ventos de SW a W. Estas massas quase nfo possuem subsidéneis, 0 que permite a distribuigdo, em altitude, do calor e umidade colhidos na superficie quente do mar, aumentados & proporgdo que a massa caminha para o tropico. Em decorréncia de sua temperatura baixa, chuvas mais ou menos abundantes assinalam sua passagem, 5 — Massas Superiores — Sio formadas nos nivels elevados dos centros de agio, Formam-se entre 900 a 2000 metros nos anticiclones polares, contendo ar séeo e aquecido pela descida, podends atingir o solo, sobretude no verfo. Contudo, as mais importantes regides de origem dessas massas parecem ser as zonas dos alisios, onde constituem as correntes quentes e sécas das camadas superiores, ou seja, a subsidéncia dos anticiclones semifixos dos oceanos, Estendem-se sobre téda rea ocupada pelos alisios de SE do Pacifico e do Atlantico sul, e sébre 08 alisios de NE do Atlantico norte, acima do nivel compreendido entre 500 a 2000m. A origem de tais correntes superiores ainda ndo fot explicada. O certo 6 que sua existéncia, nessa ou naquela masa de ar, é um fator importantissimo ara as condicées do tempo. Assegura ela bom tempo, e desde que desapareca, 4 Instabllidade se reallza, II — CIRCULAGAO NORMAL — DISTRIBUIGAO ISOBARICA EVENTOS * 1 — Verdo (janeiro) — Nesta época do ano, em virtude do maior aquect- mento do continente em relagdo a0 mar, acham-se enfraquecidos 0 anticiclone semifixo do Atléntico e o anticiclone da Antértica, A depressio térmica con- tinental (Baixa do Chaco) e a Depressio do Alto Amazonas, acham-se apro- fundadas, Conseqiientemente as massas Ea e Ta tangenciam 0 litoral leste do Brasil com ventos (alisios) de SE e E, ao norte de 10S e de NE a NW, desta latitude até a de 40°S, Parte déstes iiltimos adquire componentes para o interior em térno a Depressio continental. © anticiclone antértico esta muito ao sul (além de 63°), 0 mesmo sucedendo & falxa depressiondria eircumpolar, de onde pariem as Frentes Polares, agora ao sul de 40°. Os alisios de NE do anticiclone do Atlantico norte (mEn), sob 0 efeito do grande aquecimento terrestre, sio aspirados para o interlor do continente, formando a “mongéo do verso” do norte do Brasil, esta fortalece a mle a qual se estende por quase todo 0 nosso terri- térlo sem, contudo, aleangar a Regiio Nordeste, que permanece sob dominio dos alisios de SE e B (mEa), 2 — Inverno (jutho) — Nesta época no existe a Depressiio continental, © que permite ao anticiclone do Atlintico, agora com pressio maxima, avangar sobre o continente, O antleiclone frio do Antartico tem suas pressées aumentadas, Pig, 50 — Juthosetembro de 1906 CIRCULAGAO_NORMAL (Fig a REVISTA BRASILEIRA DE GROGRAFIA enguanto a zona depressionéria clreumpolar alcanga a latitude média de 35°, © anticiclone norte continua a tangenciar o continente, mas desaparece a moneo da estaeso quente. Embora no litoral norte do Brasil seja muito acen- tuado © vento maritimo do hemisfério norte, sua penetraco para o interior torna-se eseassa. Conseqiientemente a mEe acha-se enfraquecida e Iimitada a0 vale do Alto Amazonas que seri assim a tnlea zona instdvel durante todo o ano, a0 sul do equador. 3 — Primavera (outubro) e Outono (abril) — Com excecio da zona equato- rial nos aceanos e da costa setentrional do Brasil, a clrculacdo nestas épocas 6 muito semelhante, ¢ apresenta um aspecto intermedidrio entre as de janeiro (verdo) e julho (inverno). A penetracio dos ventos de Leste sobre o Brasil ¢ bem maior que a de Janeiro e menor que a de julho, representados sobretudo pela mTa, desde o Prata até as latitudes de 15° a 20°. Em latitudes inferiores os ventés de SE ¢ E da mEa nflo conseguem penetrar muito para o interior, em virtude da barreira formada pelos ventcs de oeste da mic. Isto indlea um dominio notavel do anticiclone do Atlantico sdbre 0 continente e uma posicio ‘mais setentrional, da Baixa da Amazdnla (mc) Na zona equatorial, em setembro-outubro a faixa de calmas e os alisios de NE do hemisfério norte aleancam sua poslesio mais setentrional, enquanto que fem mareo-abril éles se encontram ng localizagao mais meridional, Daf se conclut (que, nas latitudes mais elevadas o aspecto da citculacio apresenta malores dife- rengas nos solsticios, enquanto na zona equatorial aquelas ocorrem nos equinécios MT — CIRCULAGAO SECUNDARIA ‘Vimos @ distribulesio Isobariea e a clreulacio geral nas diversas épocas do ano, O eonhecimento déstes aspectos, embora fundamental para a compreensio do estado do tempo, no ¢ o tinico, Periddicamente a circulacio geral € pertur- ‘pada pelo aparecimento de frentes, ciclones e anticiclones méveis que so, aliis, necessirios & manutencio da mesma, Na linha de choque entre duas massas de temperatura diferentes forma-se uma superficle de descontinuidade térmica que denominamos Frente. Uma frente ‘ao longo da qual 0 ar jrio substitul o ar quente, chama-se Frente Fria (KF); @ aguela ao longo da quat o ar jrio é substituido por ar quente, denominamos Frente Quente (WF). Quando 0 contraste das massas acarreta uma intensifi- cagdo das frentes dizemos que estas estdo em Frontogénese (FG); quando, ao contrério, elas entram em dissoluedo, ao fato chamamos de Frontdtise (FL). As frentes no hemusfério sul geralmente se estendem na direodo noroeste- -sudeste, ao longo delag formam-se ciclones, que se deslocam segundo a mesma Giregdo, no seio dos quats existem acentuada mudanca do vento, chuva forte, nuvens baias ¢ escuras, visibilidade reduzida, forte turbuléncia e possibilidade aa formacdo de granizo e trovoadas, $éo seguidas por chuvas finas e continuas, para finalmente, sob 0 dominio do antictclone polar, 0 céu sa tornar limpo com declinio acentuado da temperatura. Prézimo ao tépo da “cipula” de ar frio, 0 ar quente pode destizar para baixo, 0 que além de produzir um aquectmento adiabético, torna a atmosfera mais séca. Ao longo da WF, a exemplo da KF, o ar quente se destoca para etma seguindo 1 inclinagdo da superficle frontal, formando um extenso sistema pré-frontal de nuvens. A velocidade dessas jrentes em geral é pouco maior que a metade registrada pelas frentes frias. As frentes quentes ndo se caracterizam tao bem como as frias, pois a chuva quente aquece ¢ umedece 0 ar frio através do quai cai, alterando grandemente num tempo relativamente curto as caracteristicas fisieas da massa de ar frio, ComeNTARIos i FRENTE POLAR ‘As massas que delxam o continente antértieo (anticiclones mévels) pene- tram nos oceanos onde se aquecem e umedecem rapidamente. Com o desapare- cimento da subsidéncia, elas se tornam instévels ¢, com tal estrutura. invadem © continente sul-amerieano, entre os dois centros de acho, do Pacifico e do Atlantico, seguindo duas trajetdrias diferentes cordicienadas pela orografia: a primeira, a oeste dos Andes, e a segunda, sob a forma de grandes anticiclones, a leste dessa cordilbeira Na primeira trajetéria, a ceste dos Andes, os ventos frlos da massa Polar no enecntro com os ventos quentes da massa 'p constituem uma zona de FG denominada Frente Polar Pacifica. No verao essa trajetéria é muito comum, pois, com o enfraquecimento do anticiclone do Pacifico e 0 afastamento inicial da FPP do continente americano, o ar polar encontra menor resistincla em sua marcha para o norte, Jé no inverno, com o anticiclone do Pacifico avancado para o litoral e a FPP sendo multo mais ativa, as massas frias percorrem, de preferéncia as zonas a leste da cordilhelra, depois de transpé-la em sua extremidade meridional, seguindo novo pereurso. Neste, que ser a segunda trajetdria seguida pelo ar polar, a descontinul- dade térmica oriunda do encontro entre os ventos frios da massa Polar com 6s quentes do sistema tropical, constitui a Frente Polar Atlantica (FPA) que nos interessa diretamente. Condicionado pelo contraste térmico (continente- ~oceano) ¢ pela orografia, essa frente divide-se em dois ramos que seguem ca~ minhos distintos: o da depressio geografica continental( Chaco), a oeste do Macico Brasileiro; e 0 do oceano Atlintico, a leste déste Macico. Em ambos as caminhos para 0 equador — 0 continental e 0 oceanico — sao notaveis 0 aquecimento inferior, eo aumento da umidade, sobretudo no verio, Pelo litaral, sto 6, pelo seu ramo maritima, a FPA se desloca para nordeste com ondulagées cielonicas, sobretudo no mar. A partir de 1598 de latitude apro- ximadamente, tais frentes, em contacto com os alisios, de SE, perdem sua niti- der pela incorporacao ao antictelone semitixo do Atlantico, No inverno, em virtude do forte gradiente térmico equador-polo, ¢ muito mais vigorosa a circula¢io secundaria, as massas frias atingem mals facilmente 0s alistos de SE (lat. 10°) podendo, ‘por vézes, alcancar latitudes mals baixas (Recife). Na primavera, atingem geralmente o tropico de Capricérnio, Sio Paulo-Rio, podendo cobrir 0 norte capixaba. No vero, em virtude do forte aque~ cimento do continente, a energia frontal é geralmente muito fraca, e o ramo mari- timo da frente toma, via de regra, uma orientagdo NE-SW sobre o oceano, rara~ mente ultrapassando 0 trépleo. No outono as condieées de FG 34 sio mais favo- ravels, ea FPA normalmente ultrapassa aquéle paralelo; no entanto, a conver- génela intertropical (a qual estudaremos posteriormente) , nesta época impelida para 0 hemisfério sul, impede um maior avanco da FPA para as latitudes balxas Pelo interior, isto é, pelo seu ramo continental, o avango da FPA também varia latitudinalmente conforme a época do ano. Durante o inverno, quando as eondi¢des de FG so mais acentuadas, os avancos tormam-se mais vigoros0s, atingindo comumente o norte de Mato Grosso (lat. 8°8), podendo, nio raro, alcancar 0 Alto Amazonas, provocando, em casos excopoionais de grande intensidade, a chamada “friagem”. Esta consiste numa Imvasio, durante o inverno, de vigoroso anticiclone frio de massa polar, euja ‘twajetiria ultrapassa praticamente 0 equador. O fenémeno, conforme diz A. Serra, apresenta-se notével, nao sé pela sua raridade, como também pela extraordinatie queda de temperatura que acarreta, muito prejudiclal aos mora dores habituados av asvecimento da regio. Na primavera suas incursdes, embora raras, podem atingir a latitude de 10° em Mato Grosso. No verio, o forte aque- cimento da regiio do Chaco impede, geralmente a passagem de ‘ar polar para Pag, 51 — Fuo-Setembro ce 1966 a8 REVISTA BRASILEIRA D¥ GEOGRAFIA as latitudes baixas. Durante 0 outono 0 comportamento da elreulacio secun- daria proveniente do polo é muito semelhante ao da primavera, como transi¢io entre 0 quadro din&mteo do verio ¢ inverno, Necessiirio se torna dizer que, ssmente quando ha duas passagens frontals sucessivas no sul do Brasil, a FPA consegue ultrapassar 0 trépico, 0 que ocorre comumente no inverno, e raramente no verao; isto porque, embora sob a in- fluéncia da frente polar, a regiio do Chaco se tenha resfriado, a intensa radia elo nesta época logo se faz sentir restabelecendo a Balxa local, e dificultando assim 0 suprimento do ar polar no Brasil Enquanto a FPA 6 impedida de seguir 0 caminho da depressio geografica do Chaco, seu ramo maritime prossegue no percurso para o norte até o para~ lelo de 22° aproximadamente, Ai estaciona em média um a dois dias, para em seguida sofrer FL e recuar como WF, provocando chuvas persistentes no sudeste do Brasil, até desaparecer no oceano. Enquanto isso, 9 anticiclone do Atlantico volta a dominar a costa e caminha para oeste & medida que a Baixa do Chaco se restabelece, retornando téda cireulacio ao seu quadro natural. Antes, contudo, da circulacio se ter normalizado, o ar frio, que estivera estactonado no trépieo, é injetado no centro de acdo constituindo um refdrco do alisio, Este, renovado, avanca para a costa do Nordesie sob a forma de Frentes Tropicais, produzindo as perturbagdes cognominadas ondas de leste. Enquanto sso acontece no ltoral, na zona interior s6 indiretamente a FPA acarreta resfriamento. Nesta regio 0 aquecimento continental eleva o ar polar, sendo éste transportado pelas correntes de SW da Alta superior (massas supe- riores) para o norte. Isto renova a instabilidade da mEe, cujas trovoadas so mais devidas ao ar frlo superior que a0 proprio aquecimento superficial, que ¢ contudo indispensavel. ‘Ao lado das ondulacdes e mobilidade da FPA devomos ainda considerar seu desdobramento em frentes complementares, Quando a FPA, apés ter avancado no sul do Brasil, vem a estacionar ou recuar como WF, forma-se uma descon- inuidade no trépico, denominada Frente Polar Refleza (FPR). Esta traduz a separacio entre o ar polar, ja modificado (massa Polar Velha) pela mistura com 0 ar tropical, e 0 ar tropical maritimo. Esta frente induzida mantém-se sempre mals ligada ao litoral do que a0 interior. Sendo um reflexo da frente principal, sua existéncia acusa marcado contraste com as condicdes daquela. Quando a frente principal (PPA) entra em FG, a frente complementar (FPR) sofre FL, recua em sua direcdo ou mesmo se dissolve. Quando, ao contrario, a FPA est em FL, a FPR entra em FG. ‘Uma vez constituida a FPR, ela progride para norte, no méxlmo 15 a 20 quil6- metros, sempre que nova FG ocorre no Prata, com FPA localizada nesta regio. Na FPR as precipitacdes se devem mals & convergéncia e divergéncla que propriamente & ascensao frontal. Quando a FPA avanca sob a forma de KF intensa, aleangando 0 Rio Grande do Sul a FPR desaparece, acarretando forte limpeza pré-frontal no tréplea CONVERGENCIA INTERTROPICAL (CIT) Outra regio frontogenética ¢ a zona equatorial. Ai, da convergéncla dos aliseos dos dois hemisférios resulta uma descontinuidade térmica denominada Convergéncla Intertropical (CIT). A ascenso conjunta do ar na CIT produy uma faixa de calmas denominadas dotdrum, zona de aguacelros e trovesdas. ‘A posigio dessa convergéncia varia com 0 movimento geral do Sol na evlitica. xm virtude da sua grande area continental 9 hemisfério Norte 6 mals quente em média que o Sul. Por ésse motivo, a CIT se encontra na maior parte do ano sdbre 0 primeito. Em julho o resfriamento do hemisférin Austral mantém a CIT cérea de 10°N, Em janeiro o resiriamento do hesifério Boreal consegue desio- cé-la para o Austral, mas a massa de ar déste ultimo, pouco aquecida mesmo COMENTARIOS 0 no vero, detém a CIT pouco abalxo do equador. Suas posicdes extremas se dio no fim do verio e no inverno, quando é maior a diferenca de temperatura entre os hemistérlos (marco-abril para o hemisfério Sul ¢ setembro-outubro para © Norte). A orientagio da CIT nfo é também sempre a mesma. Esta depende da posiedo dos antiefclones. Na maior parte do ano ela mantém orientagio zonal (E-W). Entretanto, de janeiro a abril, em virtude do tragado dos continentes, © anticiclone do Atlantico Sul fica muito a leste do nucleo dos Agéres 0 que forca a CIT a um movimento de rotacéo que a orienta no sentido NE-SW. Esta ‘altima posigéo 6 a responsivel pelos pequenos totals pluviométricos do Sertao do Nordeste, justamente na época da sua estagéo chuvosa (fim do verao e principio do outono). TROUGHS OU LINHAS DE INSTABILIDADES TROPICAIS (1T) Outros fendmenos que merecem apreciacio na circulacio secundaria sto 0s chamados Unhas de Instabitidades Tropicais, Nestas, o ar em convergéncla pode acarretar chuvas caso 0 ar seja convectivamente instavel. Tais fendmenos ‘S40 comuns no Brasil, separando no lltoral, dorsais da massa Tropical, e no interior, da massa Equatorial continental. Sua origem esta ligada principalmente ao movimento ondulatérlo que se verifica na FG da FPA, onde a sucedo do ar quente do quadrante notte, em contacto com o ar frio polar, d4 origem a elclo- nes a partir dos quais surgem instabilidades tropicais praticamente normals & KF. As IT se propagam precedendo & KF, por vézes, 1000 quilémetros, anun- clando sua chegada com a formacio de altos elimules e cirrus, que se desiocam em correlagio & KF. Os avancos da FPA para norte impelem as IT para leste, voltando para oeste assim que a FPA estaclona no trépico, dissolvendo ou recuando como WF. Caso as IT estejam diretamente ligadas A FPR, seus deslo- camentos se efetuam para leste e posteriormente para sul, quando aquela dissolvida por nova FG na FPA. Dentre as IT devemos destacar aquelas que se formam no setor orlental do Brasil, A primeira divide, em altitude, o centro de acio do Atlantico, com orientaco N-S ao longo dos meridianos de 45° a 40°, sendo mais freqiente no verfio e raro no inverno, geralmente limitado ao norte pelo paralelo de 15° aproximadamente. Quando a FPA inicla o seu avanco para o trépico sob a forma de KF, surge uma IT estendida N-S 2 6 quilémetros de altitude, e caminha para leste, mergu- Thando no oceano A medida que avanca a KF, antecipando-se & mesma pelo menos 24 horas. Com o recuo da KF esta IT ‘se desloca para oeste, podendo provocar chuvas no Iitoral leste e sudeste, que sio as zonas mals atingldas pelos efeitos de tals fendmenos, A segunda IT 6 também de cardter semi- “permanente e sua falxa de aco é 0 litoral oriental do Nordeste, cuja descricio sera feita simultineamente com as chamadas ondas de leste. ONDAS DE LESTE (EW) ‘Vimos que a massa Ea possui duas camadas: a inferior, fresca ¢ tmida, e a superior, quente e séca, separadas por uma inversio de temperatura que assegura estabilidade. vimos também que no litoral do Nordeste esta inversio desaparece, dando lugar s uma IT que costuma ai dividir o centro de agio do Atlantic em duas dorsais — a de leste e a de oeste, Na IT a convergéncia do ar acarreta jnstabilidade, mas nem sempre chuvas, em virtude da elevada temperatura. Bstando » #PR Inealizada no Estado do Rio, J4 no Htoral do Nordeste a TT produz uma EW. Tal formagio é mais ou menos fixa e persiste cérea de dois dias na costa, com ventos de SB, eéu eneoberto lg, 83 — Jumo-detenbro de 1966 ¢ chuyas continuas, que nao ultrapassam a Borborema, ficando o interior sob a divergéneia da dorsal de oeste com nebulosidade 8-8 de estratos-cimulos. ‘Assim que uma nova FPA chega a Sio Paulo, a EW se dissolve, e os ventos voltam & direciio E-NE (circulacéo normal), e a temperatura cal. © estacio- namento da KF no trépico e a conseqiiente formacao da FPR provoca novas EW. Se a propria KF avancar até a Bahia acarreta aquecimento na costa do Nordeste, 0 que resulta em frontdlise da EW. ‘A passagem da KF até o Rio Grande do Sul (principalmente com estacio- namento) provoca forte instabilidade e chuvas de IT no litoral do Nordeste, porém as tipicas EW ocorrem quando ha formacio de FPR no Estado do Rio, Como a KF raramente alcanca o trépleo no verdo, mals comumente atingindo-o no inverno, as ondas de leste sio mais freqlientes nesta iiltima estaclo. Se a KF avanca pelo interior até Mato Grosso as EW se deslocam para leste, acom- panhando 0 recuo do anticiclone para 0 oceano, IV — ALGUNS ASPECTOS DA CLIMATOLOGIA DINAMICA Dissemos no principio déste trabalho que os estudos de massas de ar sio hhoje 0s prineiplos bésicos da climatologia. Dai a denominacio de Climatologi Dinamica ao ramo dessa cléncia a suceder a Climatologia Fisica e a Bio-Cli- matolopia, Entretanto as andlises das massas de ar devem aqui ser compreen- @idas no seu sentido mais amplo, abrangendo ainda as Frentes, os ciclones e fe anticiclones méveis, e demais fendmenos dinamicos, ou soja, 0 estudo da cireulagio atmosfériea, Pode parecer aos menos avisados que Climatologia Dindmica e Meteorologia (@Astitvem uma inleaTeiénela) Entretanto, entre elas a distine’o é bastante grande, ndo apenas entre seus métodos de investigacio como também nos objetivos e resultados alcancados. Enquanto o meteorologista se interessa por massas de ar e frentes como problemas individuals que éle tem que enfrentar em seu trabalho didrio, 0 climatologista dinamico, conforme define BERGERON os usa como instrumentos para explicar os fendmenos climaticos persistentes Ble no esta, como 0 meteorologista, interessado em nenhum elclone individua- zado, mas sim na persisténeia de certos tipos de ciclones ou de trentes, em suas tendéncias a seguir certas trajetdrias ¢ em suas diferenciacdes ou analogias ¢e uma reglio para outra. Em suma, est interessado em outra felcdo da elreulacio atmosférica: compreender o porqué de certos anos serem mais limidos ou mais frlos que outros, Esta questio sdmente pode ser respondida pelos métodos da Climatologia Dinimica, ndo podendo A mesma responder a Meteorologia, nem mesmo a Climatologia Fislea ou a Blo-Climatologla. ‘A andllise da Climatologia Dinimica de uma regio é levada a efeito pela inspegio de cartas sindticas da regio, que cubram major periodo de tempo possivel. Dessa inspecio so anotadas as seguintes informagées 1 — um sumério da classificagao, propriedades ¢ regides ae origem das massas de ar que afetam a regio, Este sumério em gers! € desdobrado em: a) estudo das freqiiéncias de cada massa de ar expressa em porcentagem do tempo que cada uma esta presente sobre a *#i0, para pelo menos 4 meses a0 ano. Levando em conta a posiedo ao Sol em relagio & Terra, so esco- hides por conveneao, Janeiro, abril, julho e outubro, meses cujas condicées de cireulagio atmosféries so mais afetados pelos solsticios e equinécios. Os graficos de Circulacéo Atmosfériea que apresentamos nesse trabalho sio um exemplo, MAPA DO TEMPO AA. Frente trio ZIILL conersincio interropical mm Frente cuente R= = Instopiicase trovice ainda que néles nfo estejam as freqiiéncias de cada massa de ar representadas em percentagem, e sim, apenas a predominaneia desta cu daquela massa: b) estudo das propriedades, as quails so melhor expressas em mapas de iscietas, de mimero de dias de chuva, mapas de temperaturas mensals ¢ diurnas (médias e amplitudes) ¢ outros elementos significativos, para os quatro meses citados, sempre correlacionando @ situacéo dinamica da atmosfera da- queles momentos ¢ perfodos observades. 2 — Trajetérias dos clelones, anticlclones ¢ frentes que afetam a regio, com a observineia das modificagdes das massas de ar e precipitacio, periodos de séea e periodes de chuva associados a ésses deslocamentos ¢ observados para os quatro meses padrao. MAPA DO TEMPO BALA. Freste trio = = intotitisede tropicat LIZZ comersincie interteopicat Nes figuras de 1a 9 pretendemos dar exemplos de algumas situagdes de tempo no Brasil que sio representativos das freqiiéneias observadas de alguns désses elementos para os quatro meses padrio. Vero — A Frente Fria apés avancar até o tréplco, tem sua atividade decli- nada e entra em dissoluedo. Inicialmente no interior, impedida, pela Baixa do Chaco, onde seu ramo continental recua como Frente Quente, mantendo-se a instabilidade nos Estados do Sul. Enquanto isso, no interior surgem lnhas de Instabllidades Tropicals e trovoadas esparsas nas areas por elas atingidas. A CIT permanece no hemisfério setentrional, distante do litoral norte (Fig. 2) Nesta época, difieilmente a Frente Fria consegue ultrapassar 0 trépico e alean- car o literal baiano, Fntretanto, mesmo quando isso acontece normalmente sew MAPA DO TEMPO BAA Fenefio ee Instobilidede tropical ranio continental no consegue alcancar latitudes baixas. ste, apds recuar como Frente Quente, é absorvido pela Baixa do Chaco, muito intensa nessa estagtio. Enguanto isso, IT induzidas na massa Eo, ¢ entre esta e a massa Ta acarretam instabilidades com trovoadas e chuvas esparsas. O notdvel avango da Frente Fria, mantendo orientacdo E-W, provoea a descida da CIT até o litoral Norte e Amaz6nia com chuvas ao longo da massa (Fig. 3). Se a Frente Fria nio tiver muita energia ¢ ficar estaclonada no Rio Grande do Sul, a partir @ela, formam-se IT como mostra a Fig. 4, quando um déstes fendmenos se estende de Assungéo a Salvador, dividindo a massa Tropleal em dois niicleos, tendendo a aleangar 0 litoral do Nordeste. Assim, enquanto nas convergéncias polar ¢ da IT ocorrem chuvas, no interior, sob massa Tropieal o tempo perma- nece séeo ¢ a CIT nao desce para o hemisfério Meridional. PAs, 90 — sethonsetembro do 1956 — 7 MAPA DO TEMPO SES cosobien toeg) BALA Frente trio LILI converséncia intertropicat Inverno — Com a Frente Fria distante, o antlelelone do Atlantico Su (formador das massas Ta e Ha) domina quase todo o pais, mantendo o tempo bom com nevoelros pela manha, enquanto a CIT mantem-se no hemisfério Norte (Fig. 5). Mas logo que a frente fria aleanca 0 Rio Grande do Sul o anticiclone do Atlintico comeca a ser dividido (Fig. 6), para finalmente, fragmentar-s no literal do Nordeste onde surge uma IT assim que forma um ciclone no Rio Grande do Sul (Fig. 7). Nesta época a Baixa do Chaco acha-se bastante enfra~ queeida e freqiientemente absorvida pela massa Polar, cujo anticiclone, por vézes, leva a Frente Fria a atingir o litoral do Nordeste para logo 2 seguir entrar em celusio, quando a CIT, que se achava no hemisfério Norte, muito afastada, desce costa Norte, o que raramente ocorre no Inverno (Fig. 8) Pls, 9 — Julho-setembeo de 008 MAPA DO TEMPO Fig. 6 BALA Frente tro = Inetonitiaase topica! ZIT comersincia inrertroiest Primavera ¢ Outono — Na primavera, mesmo quando a Frente Fria aleanca © Estado da Bahla, nfo é suficlente para trazer a CIT ao litoral Norte, isto porque nesta época a referida frente se acha em sua posieéo mais setentrional (Fig. 9). Enquanto que no outono o estacionamento da Frente Fria no Rio Grande do Sul é o suficiente para atrair a CIT para o litoral Norte, uma vez ‘que nessa época sua Posiedo média 6 a mais meridional (Fig. 10). 3 — Finalmente, com bases nas observacSes dos fatos dindmicos podemas fazer uma repartigio do ano em estacdes que podem dar resultados que diferem de uma repartigio baseada apenas em consideragées de ordem fisica, Ajudam- -nos @ explicar multos fenémenos climéticos que séo inexplicaveis sem uma MAPA DO TEMPO BALA. Freote trio ZLILLL convergincia intertropicet mm, Frente quente a. = tnstabiticase topieat andlise da circulagéo. Por exemplo: a existéncia de estacio séca relativamente curta no Nordeste do Brasil na encosta leste da Borborema, enquanto no Sertiio a estaglo sea 6 muito longa; a inexisténcia de estacdo séea curta ou muito curta no Ltoral oriental do Brasil enquanto o Planalto experimenta um periodo de séca prolongada; o fato de no Brasil entre os paralelos de 5° a 16°, princi- palmente, o clima apis ser mais umido no litoral, torna-se semi-drldo no Pla- nalto, para novamente registrar-se imido na regido mais interiorizada a partir do meridiano de 50° aproximadamente. O relévo, a latitude e a continentalidade por si sé néo explicam, As respostas s6 podem ser encontradas apds o estudo dos fendmenos dinamicos; massas de ar, anticiclones, Frentes, ciclones, insta~ Pig, 62 — Jutho-Setembro de 1966 —l4 MAPA DO TEMPO BAA. Frente trio ZILLI conergtocia interropicat Af LL Frente couse bilidades tropicais, ete., cuja atuagdo, nao apenas 6 maior ou menor para as diversas regides, como também sofre variagao de intensidade no decorrer do ‘ano em épocas diferentes para cada fendmeno. O relévo, a latitude e a conti- nentalidade sio fatéres geogrdficos que complementam o fator mals importante a clroulagdo atmostérica CONCLUSAO Para 0 previsor do tempo a Climatologia Dindmica 6 Climatologia, Isto poderia como gedgrafos levantar-nos suspeltas. Poder-se-ia até argumentar que Pg, 63 — Jutho-Setarobro de 1966 “4 MAPA DO TEMPO in Fig. 9 BALA. Frente trio “climatologia dinamlea” nada mais é que um novo nome para a meteorologia sinotiea, construedo e andlise dos mapas sinéticos do tempo. Entretanto éste seria um argumento sem profundidade, uma vez que o previsor de tempo se interessa por massas de ar e frentes como problemas individuals que éle tem que enfrentar em seu trabalho diario, enquanto que o clmatologista dinamice, conforme 0 define BERGERON, os usa como instrumentos para explicar os tenémenos climéticos persistentes. fle nao est4 interessado em nenhum clclone individualizado, mas sim na persisténcia de certos tipos de clelone, na sua tendéncia em seguir certas trajetérias e na sua diferenciacio de uma regiio para outra, Portanto, esta éle interessado em outra feigdo da clreulacdo atmos- férica, A questo porque um ano é mais timldo que outro somente pode sor respondida por ésses métodos. comenraRros 20 MAPA DO TEMPO BALA Frovte trie ZLTTT convergincia wrertropicat Chegamos agora 20 ponto em que podemos decidir se éste ponto de vista fem relagio elimatologia deve despertar a atencic dos gedgratos. Para solugio désse problema nos parece necessirio aventar duas questbes: ‘A Climatologia Dinamica 6 de alguma maneira uma parte da Geografla? Seus ‘métodos e resultadas podem ser de interésse e titeis ao gedgrafo? Com relacdo & primeira pergunta podemos responder negativamente. A Geo~ sgrafia se preocupa com o clima somente até onde éle explica o meig fisico ea influéneia. déste sdbre as atividades do homem. Preocupa-se com a chuva, @ no com seus processos geradores, mais com os resultados finals do que com os mecanismos. A segunda pergunta, entretanto, podemos responder afirmativamente, No podemos efetivamente descrever 0 clima — mesmo seus resultados finals, — a menos que compreendamos os mecanismos em interacdo, e éstes so muito mais freqlentemente dinamicos que estéticos. Sumariamente podemos a0 REVISTA BRASILEIRA DE GROGRAFIA assinalar 0 interésse e utilidade da Climatologia Dindmlca nos seguintes reves tépicos: 8) 03 métodos da Climatologia Dinimica apresentam uma flagrante seme- Ihanga com os do geégrafo. As massas de ar e as frentes seriam as regides ¢ fas frontelras regionais da atmosfera a superficie da Terra, e reclamam para seu reconhecimento as mesmas aproximacbes e premissas caras ao gedgrafo. b) Através dessa disciplina podemos interpolar dados climéticos com muito major éxito do que com aplicagdo de métados convencionals que dado seu cardter rigido e generalizagao leva sous aplicadores, nio poucas vézes, a erros grosselros, © uso de métodos dindmicos ¢ de especial importdncla em areas cujas estagGes de observacdo so muito esparsas, tals como, o drtico e sub-Artico canadense, a Amazénia e outras regides. Podemos também mais prontamente correlacionar um elemento com outro, o que geralmente é impossivel com 0 material estitico existente. ©) Com o desenvolvimento das comunicagdes aéreas tornou-se importante especificar 0 efelto do clima no vo, 0 que é quase impossivel sem os métodos Ginfimicos, Na Amazdnia e no norte canadense, onde 0 acesso rapido é feito pelo ar, éste aspecto do problema assume importancia capital — prineipalmente no Canada onde as condicdes climaticas sio mais instévels — uma ver que as possibilidades de transporte sio fundamentais para o desenvolvimento dossas regides. BIBLIOGRAFIA Diretoria de Acronéutica Civil: “Meteorologia para Pilotos”, Boletim Técnico ‘210 7, Ministério da Aerondutica, Rio de Janeiro, 1950. Havwrre, Bernhard and Ausmix, James M.: “Climatology”, Me Graw-Hill Book Company, Ine, New York and London, 1944. 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