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me Sg a Waa ae eV 7 aU a QUEM ELA FOI, trae DIFERENGA QUE FAZ PRAZER EM CONHECER Ha a ALE of Wetettter lo} _» Elina Dorneles CASA PUBLICADORA BRASILEIRA Bra ‘Ticulo original em inglés: MEETING ELLEN Wire Copyright © da edigio em inglés: Review and Herald, Silver Spring, EUA. Direicos incernacionais reservados, Direitos de tradugio e publicagéo em lingua portignesa reservados @ CASA PUBLICADORA BRASILEIRA Rodovia SP 127 — km 106 Caixa Postal 34 — 18270-970 — Taruf, SP “Tel: (15) 3205-8800 — Fax: (15) 3205-8900 Atendimento ao cliente: (15) 3205-8888 www.epb.com.br Tedigio: 4 mil 2018 Coordenagiio Editorial: Diogo Cavalcanti Editoracéa: Glauber Aratijo Reviséo: Luciana Gruber e Adriana Serato Editor de Arte: Thiago Lobo Projeto Grejico: Cristiano Soares Vieira e Rodrigo Neto Programagao Visual: Rodsigo Nevo Capa: Cristiano Soares Vieira IMPRESSO NO BRASIL / Printed in Brazil ‘Dados Incernacionais cle Catalogagio na Publicago (CIP) (Cimaca Brasileien do Liveo, SP, Beasil) Knight, George R. Prazcr em conhecer Ellen White : quem ela foi, o que fez. ea diferenca que faz.! George R. Knight; [eradugéo Elina Dorneles]. ~ Tacuf, SP : Casa Publicadora Brasileira, 2018. ‘Tiaulo original: Meeting Ellen White. ISBN 978-85-345-2614.2 1, White, Ellen Gould Harmon, 1827-1915 2. Adventistas do Sétimo Dia - Estados Unidos - Biografia 3. Adventistas do Sécimo Dia - Doucrinss I. Titulo. 18-18607 CDD-286.7092 Tandices pars enilogo sisemiicos SSS 1, Adventistas do Sécimo Dia : Biografia 286,7092 Tolanda Rodsigues Biode - Bibliovectsia - CRB-8/10014 Os textos biblicos cicados neste liveo foram extrafdos da versio Almeida Revista e Atualizada, 21 edigio, salvo outra indicagio. aleir | “Todos os diceitos ceservados. Proibida a reprodugio coral ou parcial, meas | POC qualquer meio, son préviaautorizario excita da Baicora, ‘Tipologis: New Caledonia LT Sed, 10,5/15 ~ 16707/38869 i LISTA DE ABREVIATURAS CARTA AO LEITOR DEDICATORIA PRIMEIRA PARTE: Vida e Ministério de Ellen White... CAPITULO 1 - Orientagao Profética Para os Mileritas Desapontados (1827-1850) CAPITULO 2 - Orientagao Profética Para uma Igreja em Crescimento (1850-1888) CAPITULO 3 - Orientacdo Profética Para uma Igreja Internacional (1888-1915)... CAPITULO 4 - Orientacao Profética Desde 1915. SEGUNDA PARTE : Escritos e Temas.... CAPITULO 5 - Introdugao aos Escritos de Ellen White. oe 105 CAPITULO 6 - Andlise dos Principais Temas de Ellen White..........0. 123 LISTA DE ABREVIATURAS AH Advent Herald cc Caminho a Cristo CEv O Colportor-Evangelista CPPE Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes CVB A Giéncia do Bom Viver DIN O Desejado de Todas as Nagées Ed Educagaéo Ev Evangelismo FEC Fundamentos da Educagio Crista GC O Grande Conflito ccB General Conference Bulletin HR Historia da Redengdo Ls Life Sketches of Ellen G. White M1888 The Ellen G. White 1888 Materials (4.v.) MC Midnight Cry ME Mensagens Escothidas (3 v.) MR Ellen. G. White Manuscript Releases (21 v.) Ms Manuscritos de Ellen White MW Morning Watch OE Obreiros Evangélicos PE Primeiros Escritos Py Pardbolas de Jesus PP Patriarcas e Profetas RH Review and Herald sc Spiritual Gifts (4v.) SWo The Southern Work T Testemunhos Para Igreja (9 v.) TM Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos WLF A Word to the “Little Flock” rs CARTA AO LEITOR Ellen G, White (1827-1915), sem chivida, foi a personagem mais in- fluente na histéria da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Sua presenga pessoal e seus escritos exerceram um importante papel em moldar e orientar o ad- ventismo durante suas sete décadas de ministério profético. Mesmo depois de sua morte, em 1915, seus conselhos e suas ideias continuam a direcionar a denominagio. Entretanto, vocé pode estar pensando: “Quem foi Ellen White?” Este pequeno livro procura responder a essa pergunta. Os dois primeiros tergos do livro apresentam uma visio biogréfica da autora. No momento, as biografias de referéncia so a sua autobiografia Life Sketches, de 500 paginas, e a biografia de seis volumes publicada por Arthur L. White de 1981 a 1986. O presente estudo oferece uma biografia sucinta para um leitor nfio especializado. A segunda segfo de Prazer em Conhecer Ellen White categoriza e examina seus escritos, Ela também apresenta aos leitores os principais temas abordados em suas obras. Esses temas conectam seus escritos e fornecem perspectivas que dao tiva do conflito entre o bem e o mal, Embora se possa argumentar que eu poderia ter escolhido outros temas, fiz meu melhor para escolher aqueles que fornecem 0 quadro interpretativo mais completo acerca de seu pensamento. Talvez o leitor considere minha selego como apenas parte de uma lista, da qual cada um de nés precisa completar o restante enquanto continuamos a icados césmicos a seus livros ¢ artigos na perspec- estudar a vida e obra de Ellen White. Assim, a segdo serve como uma intro- dugio a seus varios livros e manuscritos. Gostaria de expressar meus agradecimentos a Bonnie Beres, que corrigiu meu manuscrito; a Merlin D. Burt, Paul A. Gordon, Jerry Moon, Jim Nix, Robert W, Olson e Tim Poirier, que leram o manuscrito e ofe- receram sugest6es para melhoré-lo; a Gerald Wheeler e Tim Crosby por conduzirem a publicagao do material; e 4 administragao da Universidade Andrews por fornecer apoio financeiro ¢ tempo para pesquisa ¢ escrita. En 7 PRAZER EM CONHECER ELLEN WHITE Durante alguns anos, houve a necessidade de uma introdugao coneisa sobre a vida de Hllen White, seus escritos e temas integrantes. O livro Prazer em Conhecer Ellen White foi escrito pava atender a essa necessidade. Espero que este volume seja wma béngao tanto para os membros da igreja como para os nfo adventistas que buscam melhor compreensio sobre essa personalidade e sua obra. George R. Knight Universidade Andrews Berrien Springs, Michigan DEDICATORIA DEDICADO A ROBERT W. OLSON, MEU PRIMEIRO PROFESSOR DE BIBLIA E MINHA INSPIRACAO NA CAMINHADA PESSOAL COM JESUS. =! ET a PRIMEIRA PARTE: VIDA E MINISTERIO DE ELLEN WHITE ORIENTACAO PROFETICA PARA 0S MILERITAS DESAPONTADOS (1827-1850) Aunensfi @akin Cal Joone LEEECC id é Gia Gyo DA fee, tnged G YG fod Ob acl Myon lds (Goerorg, Yorn Cece Leses Feces Petree? left Gre bcme (gears age and 9 beane Gillen but Bete Mlamisa od tag ancl US Whe jean (Iebetcle on ub Mectladeen 2 Lheawe (ih Gell Mech Wet Irrue 8 bowd gan Ut Bnatter ot Mand ds | erent, hud Fear DP pect Weed Mees Due deo je Eome, Ble (oils Bn See Dab tes Mt Gbietily Clete: ths Lillie (yom cs lh Gvanvy 7 Ui ea, and tke forte (ito Ln Gut comm mtuad iit Gor, Get Gtas a Songh ptine Prem Wee Goan Gen Pinal thane lee beawany Mle 0 potacrsn g and i pectsbern tenet {th yew Or bur (pid Le Adéanded 2a Qtrrfid Ger 4 filiael we! Lee pew Confit, fet (6 Le eee ee et Iroetss 7 fathius rept Aews Ch atin fos ben I hat “ah elon (ye (heed Accrne tel grtore Gens leche Rann BAS AAS. dec That chaaracdes Malina tect Lb hy. PRAZER EM CONHECER ELLEN WHITE “Enquanto eu estava orando junto ao altar da familia, o Espiri- to Santo me sobreveio, e pareceu-me estar subindo mais.e mais alto da escura Terra, Voltei-me para ver 0 povo do advento no mundo, mas nao © pude achar, quando uma voz me disse: ‘Olha novamente, e olha um pouco mais para cima.’ Com isto, olhei mais para o alto e vi um caminho reto e estreito, levantado em lugar elevado do mundo. O povo do advento estava nesse caminho, a viajar para a cidade que se achava na sua extre- midade mais afastada” (PE, 14). QUEM FOI ESSA JOVEM VISIONARIA? Essas palavras registram a primeira visao de Ellen G. Harmon, aos 17 anos, em dezembro de 1844. Ellen e sua irma gémea eram as mais novas dentre as ito criangas de uma familia em Gorham, no estado americano do Maine. Elas nasceram em 26 de novembro de 1827, Por decisiio do pai, fabricante e vendedor de chapéus, a familia posteriormente se mudou para a cidade de Portland, tam- bém no Maine. Foi aos nove anos, em Portland, que Ellen sofreu um acidente que afetou profundamente sua vida. Atingida no rosto por uma pedra lan- gada por um colega de classe, ficou A beira da morte por varias semanas. Depois, ela se recuperou, mas a experiéncia a deixou com uma satide to fragil que nfio péde continuar a educagio formal, mesmo que tentasse com todas as forgas. A satide debilitada continuaria a atormenté-la du- rante grande parte da vida. A incapacidade de frequentar a escola nao interrompeu sua edu- cagio informal. Seus esbogos autobiograficos refletem uma moga com uma mente impressionante e uma natureza sensivel. Essa sensibilidade transparece nfo apenas em seu relacionamento com outras pessoas, mas também com Deus. De fato, mesmo wma leitura casual de sua autobiografia leva & conclusiio de que Ellen era extrema- mente sincera em sua religifio desde os primeiros anos. ee ORIENTAGAO PROFETICA PARA OS MILERITAS DESAPONTADOS (1827-1850) A jovem era principalmente atormentada pelo pensamento de que Jesus poderia retornar em questo de anos. A primeira vez em que se deparou com esse ensino foi aos oito anos, quando ela encontrou um pedago de papel no caminho para a escola, indicando que Jesus pode- ria voltar em pouco tempo. “Eu fui”, relatou ela, “tomada de terror. [...] O impacto causado pelo pequeno pardgrafo em minha mente foi tio grande que quase nfo consegui dormir por varias noites. Eu orava con- tinuamente para estar preparada para quando Jesus voltasse” (LS, 20, 21), Esses sentimentos se intensificaram em marco de 1840, quando ela ouviu Guilherme Miller pregar em Portland que Jesus retornaria no ano de 1843. Os temores de Ellen sobre a segunda vinda de Cristo surgiram por dois motivos, O primeiro era um profundo senso de indignidade: “Eu pensava que jamais poderia me tornar digna de ser chamada filha de Deus. [...] Parecia-me, contudo, nao ser suficientemente boa para entrar no Céu” (LS, 21). Seus sentimentos de indignidade estavam diretamente relaciona- dos & sua crenga em um eterno inferno ardente. Por causa de seus peca- dos, ela temia “sofrer eternamente nas chamas do inferno, enquanto Deus existisse”. Além de sua preocupagio, 0 problema gerava sérias dtividas teolégicas em sua mente. “Quando o pensamento de que Deus tem prazer em torturar Suas criaturas tomou posse de minha mente [...] uma cortina de trevas pareceu separar-me Dele. [...] Perdi a esperanga de que um Ser ‘Go cruel e tirfinico consentiria em me salvar da condenagio do pecado.” Esses pensamentos a levaram a uma “escuridao total” (LS, 31). Durante anos Ellen lutou com essas questdes em seu coragio. O problema foi agravado por duas falsas crengas: primeiro, de que ela precisava ser boa, ou mesmo perfeita, antes que Deus pudesse aceité-la; segundo, a ideia de que, se ela fosse verdadeiramente salva, experiementaria sentimentos de éxtase espiritual. No entanto, para seu alivio, a escuridao comegou a se dissipar durante o verfo de 1841, quando participou de uma reunifo campal De PRAZER EM CONHECER ELLEN WHITE metodista em Buxton, Maine. La, Ellen ouviu em um sermio a afir- magio de que toda autodependéncia e todo esforgo eram iniiteis para ganhar o favor de Deus. Ela percebeu que “é unicamente ligando-se a Jesus pela fé que o pecador se torna filho de Deus, cheio de esperanga e confianga”. Desde entio, ela passou a buscar fervorosamente 0 per dao de seus pecados ¢ se entregar inteiramente ao Senhor. “Toda a lin- guagem do meu coragao”, ela escreveu mais tarde, “era: ‘Auxilia-me, Jesus; salva-me, eu perego!”” Entéo, algo aconteceu: “Meu fardo me deixou, e meu coragao se sentiu aliviado” (LS, 28). Ellen pensou que isso era bom demais para ser verdade. Como resultado, tentou reassumir a carga de angtistia e culpa que constan- temente a acompanhavam. Conforme ela mesma confessou: “Julgava nao ter o direito de me sentir alegre e feliz” (LS, 23). Aos poucos, ela passou a entender a maravilhosa graga redentora de Deus. Logo depois de retornar da reunido campal, Ellen foi batizada por imersao e se juntou a Igreja Metodista. Ignorando os argumentos dos membros da igreja que se opunham ao batismo por imersao, ela assim escolheu porque acreditava ser a maneira correta de ser batiza- da, de acordo com a Biblia. Apesar de suas novas descobertas, ela ainda era atormentada por dtvidas, pois nem sempre tinha os sentimentos de éxtase que acredita- ‘va serem necessarios para se sentir realmente salva. Como resultado, continuon a temer que nao fosse perfeita o suficiente para encontrar o Salvador no dia de Seu advento. Naquela época, Guilherme Miller retornou a Portland para uma série de conferéncias em junho de 1842, ELLEN WHITE E 0 MOVIMENTO MILERITA Nessa conferéncia, Miller pregou que Jesus retornaria “por volta do ano cle 1843”, Parte de sua explicagao para essa data era a compreensfio de Daniel 8:14 (“Até duas mil e trezentas tardes e manhis; e o santudrio seré purificado”). Ele interpretou o santudrio como sendo a terra ea igreja; I | ORIENTACAO PROFETICA PARA OS MILERITAS DESAPONTADOS (1827-1850) a purificagaio como sendo pelo fogo na segunda vinda de Jesus, e o fim dos 2.300 dias como sendo a data em que o fogo purificaria a Terra. As- sim como muitos outros intérpretes, ele previu que o cumprimento da profecia dos 2,300 dias aconteceria na década de 1840, préximo de 1843, para ser mais preciso. Assim, Miller ensinou que Jesus apareceria naque- le tempo. Dezenas de milhares aceitaram seu ensino 4 medida que a data se aproximava. Ellen Harmon foi wna delas. Porém, essa mesma crenga continuou a incomodéJa, uma vez que permanecia o medo de que nfo era “suficien- temente boa”. Além disso, o pensamento do interminavel inferno de fogo também a perturbava. Enquanto Ellen estava mergulhada nesse estado mental, sua mae sugeriu que ela se aconselhasse com Levi Stockman, um pastor metodista que aceitou o milerismo. Stockman aliviou a mente de Ellen, falando-lhe “do amor de Deus a Seus filhos errantes; disse que, em vez de Se ale- grar em sua destruig&o, Ele almeja atraf-los a Si com {6 e confianga singela. Ele se demorou a falar do grande amor de Cristo e do plano da redeng&o.” “Pode ficar tranquila”, ele lhe disse; “volte para sua casa confiante em Jesus, pois Ele nao retiraré Seu amor de todo aquele que O busca verdadeiramente” (ILS, 36, 37). Essa conversa foi um dos grandes momentos da vida de Ellen Harmon. Daquele dia em diante, ela passou a enxergar a Deus como “um Pai bondoso e terno, ao invés de tirano severo que forga as pessoas a.uma obediéncia cega”. O coragéio da jovem “deixava-se levar a Ele em amor profundo e fervoroso. A obediéncia 4 Sua vontade me parecia um prazer; era para mim uma alegria estar a Seu servigo” (LS, 39). Mais ou menos na mesma época, Ellen chegou a uma compreensio mais completa sobre a condig&o das pessoas na morte. Suas conclusdes sobre o tema eram: (1) a alma niio é naturalmente imortal; (2) a morte é uma condigfo na qual as pessoas dormem no tiimulo até a ressurreigfio na segunda vinda de Jesus; e (8) “A Biblia nfo nos dé prova de que haja um inferno a arder eternamente” (LS, 49). ee = |7 PRAZER EM CONHECER ELLEN WHITE Essas perspectivas trouxeram grande alivio A mente e ao coragio de Ellen. Afinal, conforme ela concluiu: “Se, por ocasifio da morte a alma, entra na felicidade ou desgraga eternas, onde estaria a necessidade de ressurreigio para os mfseros corpos que se reduzem ao pé?” (LS, 49, 50). Sua nova compreensio a respeito da imortalidade condicional nfo s6 a ajudou a entender o ensino da Biblia sobre ressurreigéo como também a libertou do equivoco de que Deus era um Ser temfvel que torturaria as pessoas no inferno durante os séculos da eternidade. Mais tarde, ela explicou que “esta além da capacidade humana avaliar o mal provocado pela heresia do tormento eterno”. Esse ensino sobre o inferno ardente tornou “milhdes” em “céticos ¢ incrédulos”. Isso nfo poderia, afirmava ela, estar em harmonia com os ensinamentos da Biblia sobre o amor de Deus (GC, 536). Sua descoberta de que Deus era um “Pai terno” a motivou a espalhar a noticia da segunda vinda, para que outros pudessem se pre- parar para esse evento alegre. Assim, ao contrério de sua natureza nor maimente timida, ela comegou a orar em ptiblico, compartilhar com outros em reunides da escola metodista sua crenga no poder salvifico de Jesus e em Seu breve retorno. Também comegou a ajuntar dinheiro para comprar material impresso e espallar a mensagem do advento, Essa ul- tima atividade particularmente a sobrecarregou. Devido A Jamentavel condigio de sua satide, ela precisava se apoiar na cama e fazer meias de malha a 25 centavos de délar por dia para financiar sua parte. Ellen mantinha uma enorme seriedade em tudo, e essa conviegdo podia ser vista em todos os aspectos de sua vida. Isso levou muitos de seus jovens amigos & {é em Jesus. Além de Ellen, seus pais e irmaos zelavam pela verdade do advento pregada por Miller, No entanto, sua igreja local, que ensinava que Cristo nfio voltaria antes de mil anos de paz e abundancia, nfo gostou da dou- trina do breve retorno de Cristo. Como resultado, em setembro de 1843, a familia Harmon foi removida do rol de membros da Igreja Metodista. Sua experiéncia refletia a de muitos outros adventistas mileritas que se Ss ORIENTACAO PROFETICA PARA OS MILERITAS DESAPONTADOS (1827-1850) yecusavam a permanecer calados sobre o tema do breve retorno de Jesus. A medida que a data se aproximava, o conflito aumentava, a ponto de gerar uma crise. No entanto, os adventistas mileritas nao estavam muito preocupa- dos com sua remogiio das varias denominacGes. Afinal, Jesus voltaria em. poucos meses, e assim, todos seus problemas acabariam. Com essa espe- yanga em mente, os mileritas continuaram se reunindo a fim de encorajar uns aos outros, 4 medida que o tempo previsto se aproximava. O coragao deles se enchia de alegria. Como Ellen afirmou mais tarde, 0 ano que se estendeu de 1843 a 1844 “foi o ano mais feliz de minha vida” (LS, 59). Os adventistas mal podiam esperar para encontrar Jesus face a face. A partir de um estudo sobre as festas anuais judaicas, os mileri- tas finalmente conclufram que a purificagiio do santuério (que eles acre- ditavam ser a segunda vinda de Jesus) ocorreria no dia 22 de outubro de 1844, Porém, essa data passou sem deixar sinal da chegada de Jesus. Como disse Hiram Edson: “Nossas maiores esperangas e expectativas foram destruidas, e tal espirito de pranto veio sobre nés como nunca haviamos sentido antes. [...] Choramos e choramos, até 0 dia amanhecer” (manuscrito Edson). O desapontamento de outubro de 1844 colocou o adventismo em deserenga, E quase impossfvel deserever a confuséo. Muitos abandona- ram a esperanga na segunda vinda de Cristo. Entre aqueles que mantive- ram suas esperangas, todo tipo de teorias comegaram a surgir, Embora a maioria dos fiéis acreditasse que deveriam esperar um pouco mais para 0 retorno de Cristo, depois do desapontamento, muitos divergiam quanto ao que, de fato, havia acontecido em 22 de outubro de 1844. Certo grupo acreditava que algo significativo havia acontecido; mas, no fim de novem- bro e inicio de dezembro, a maioria deles concluiu que estivera enganada em relagéo & data, Ellen Harmon pertencia a esse grupo. Ela desistiu da crenga de que a profecia em Daniel 8:14 havia se cumprido em outubro de 1844, Foi nesse estado de espirito que ela reeebeu sua primeira visio. a |) PRAZER EM CONHECER ELLEN WHITE CHAMADA PARA O MINISTERIO PROFETICO Em dezembro de 1844, Ellen Harmon estava orando com outras quatro mulheres na casa da Sra. Haines, de Portland. “Enquanto esté- vamos orando”, observou Ellen, “o poder de Deus me sobreveio como nunca o havia sentido antes” (LS, 64). Durante essa experiéncia, ela escreveu: Pareceu-me estar subindo mais e mais alto da escura Terra. Voltei-me para ver o povo do advenio. [...], mas nfo o pude achar, quando uma voz me disse: “Olha novamente, e olha um pouco mais para cima.” Com isto, olhei mais para o alto e vi um caminho reto e estreito, levantado em um lugar elevado do mundo. O povo do advento estava nesse caminho, a viajar para a cidade que se achava na sua extremidade mais afastada. Havia uma luz brilhante colocada por tras deles no comego do caminho, a qual um anjo me disse ser o “clamor da meia-noite” [a mensagem de que 22 de outubro era o cumprimento de Daniel 8:14]. Essa luz brilhava em toda extensio do caminho, e proporcionava claridade para seus pés, para que assim nao tropegassem. Se conservavam o olhar fixo em Jesus, que Se achava precisamente diante deles, guiando-os para a cidade, estavam seguros. Mas, logo, alguns ficaram cansados ¢ dis- seram que a cidade estava muito longe e esperavam nela ter entrado antes. Ent&o Jesus os animava. [...] Outros temeraria- mente negavam a existéncia da luz atrés deles e diziam que nao fora Deus quem os guiara tao longe. Entéo, a luz atrés deles desaparecia, deixando-lhes os pés em densas trevas; de modo que tropegavam e, perdendo de vista o sinal e a Jesus, caiam do caminho para baixo, no mundo tenebroso e impio (PE, 14, 15). 0 ORIENTACAO PROFETICA PARA OS MILERITAS DESAPONTADOS (1827-1850) A intengao da visio era, obviamente, encorajar os adventistas mileritas decepcionados, oferecendo-lhes seguranga e conforto. Entretanto, mais do que isso, ela provia instrugdes em varios aspectos. Em primeiro lugar, afirma- va que o movimento de 22 de outubro néo havia sido um erro. Pelo contrario, 22, de outubro fora testemunha do cumprimento da profecia. Como tal, era uma ‘“Zuz brilhante” na retaguarda do caminho para ajudar os adventistas de- sapontados a caminharem e a orienté-los no futuro. Em segundo lugar, Jesus continuaria a lideré-los, mas precisavam manter seus ollios fixos Nele. Assim, oadventismo tinha dois pontos de orientagiio: 22 de outubro em sua histéria passada e a lideranga continua de Jesus no futuro.-Em terceiro lugar, a vistio parecia indicar que levaria mais tempo do que o esperado até que Jesus vol- tasse. Em quarto lugar, foi um grave erro os mileritas adventistas desprezarem sua experiéncia passada no movimento de 1844 e alegar que nao provinha de Deus. Aqueles que cometeram esse erro entrariam em escuridio espiritual e perderiam seu caminho, A visio proporcionou uma série de ligdes positivas. No entanto, perceba que ela nfo indicou o que aconteceu em 22 de outubro de 1844. Esse conhecimento se tornaria claro mais tarde, por meio do estudo da Biblia, como veremos a seguir. Em vez de prover explicages especificas, a primeira visio de Ellen se limitou a ressaltar o fato de que Deus ainda estava liderando um povo, apesar da decep¢ao e confustio pelo qual pas- saram. Esse foi o primero sinal de seu ouidado e da orientagio profética por intermédio de Ellen Harmon. Mais ou menosuma semana depois, Ellen recebeu uma segunda visio em que era ordenada a relatar aos adventistas o que lhe havia sido revelado. A visfio também mostrou que ela encontraria grande oposigao. Contudo, ela recusou cumprir seu dever. Afinal, pensava que tinha pouca satide, tinha apenas 17 anos e era naturalmente timida. “Por varios dias”, ela revelou mais tarde, “orei pedindo para que esse fardo pudesse ser retirado de mim e colocado sobre alguém mais capaz de suporté-lo. No entanto, a luz do dever nfo se apagou, e as palavras do anjo soa- yam continuamente em meus ouvidos: “Transmita aos outros o que lhe a 2 | PRAZER EM CONHECER ELLEN WHITE revelei” (LS, 69). Ellen ent&o percebeu que preferia a morte em vez da tarefa que estava diante cle si. Tendo perdido a doce paz que viera coma sua converséo, ela novamente se encontrou em desespero. Nao é de admirar que Ellen Harmon tenha ficado sentida em ter que falar em puiblico. Afinal, a populagao em geral desprezava aberta- mente os mileritas. Além disso, erros doutrinérios graves e varias formas de fanatismo manchavam a forma como o milerismo era visto. Mais es- pecificamente, o dom profético era suspeito tanto pelo povo em geral quanto pelos adventistas mileritas daqueles dias. No vero de 1844, por exemplo, Joseph Smith, o “profeta” mérmon, perdeu a vida ao ser ata- cado por uma multidao em Illinois. Além deste, no fim de 1844 e inicio de 1845 surgiram varios “profetas” adventistas de conduta questionavel, e um niimero razoavel deles atuando no estado do Maine. Na primavera de 1845, 0 maior grupo de adventistas votaria que “nao confiavam nas novas mensagens, nem em visdes, sonhos, linguas, milagres, dons extra- ordinrios, revelagdes” e assim por diante (MW, 15/5/1845). Nesse contexto, nao é de suspreender que a jovem Ellen Harmon tenha procurado se esquivar do chamado ao ministério profético. Apesar de seus medos pessoais, ela se aventurou e comegou a apresentar 0 conselho confortador de Deus para os adventistas confusos. Mesmo um olhar su- perficial sobre suas primeiras declaragées autobiogréficas notara que ela passou por grande oposic&o pessoal e suspeita de fanatismo. Algumas de suas visdes iniciais contestavam a oposigaio que ela recebia e a fanatismo disseminado, dando conselhos e repreensGes que, muitas vezes, eram de natureza bastante pessoal. Sua reagao natural era suavizar as mensagens e tornd-las o mais favoravel possivel para o individuo receptor, mas ela percebeu que, a0 fazer isso, estava diluindo a mensagem de Deus. Posteriormente, teve uma visio em que aqueles a quem ela nao entregara fielmente as men- sagens, lhe apareceram tendo estampado no rosto “a prépria expressiio do desespero e terror”. “Achegaram-se a mim’, ela escreveu, “e rogaram suas vestes nas minhas. Quando olhei as minhas vestes, vi que estavam 2. ee ORIENTACAO PROFETICA PARA OS MILERITAS DESAPONTADOS (1827-1850) manchadas de sangue”. Assim como Ezequiel em um tempo anterior, Ellen Harmon aprendeu em visio que ela seria a responsdvel se nao fosse fiel em transmitix as mensagens de Deus a Seu povo (T5, 656, 657). Como resultado dessas e de outras experiéncias, ela comegou a viajar mais intensamente a fim de apresentar suas mensagens tanto em encontros mileritas como para individuos especificos, mas alguns proble- mas comegaram a surgir. Um deles era que ela nao podia viajar sozinha. Infelizmente, seu irmfo Robert estava muito doente para acompanhé-la, e seu pai tinha uma familia para sustentar, A solug&o para esse problema acabou se tornando um jovem pregador milerita da Conexo Crista, chamado Tiago White, Durante algum tempo, Tiago e uma ou duas colegas acompanharam Ellen em seus varios compromissos. Mesmo assim, essa solugfio deixava Tiago e Ellen vulnerdveis a possiveis criticas. A solugio para o problema era 0 casamento, ainda que muitos dos mileritas daquele tempo acreditassem que novos casamentos eram uma negagiio da £6, considerando o retor- no imediato de Cristo. Afinal, realizar um casamento sugeriria que os envolvidos acreditavam que a vida nesta terra continuaria. Apesar das criticas, Ellen Harmon e Tiago White se casaram em Portland, Maine, em 30 de agosto de 1846. As viagens subsequentes se tomaram mais faceis, mas sustentar-se financeiramente nfo era uma tarefa facil. Isso se tornou principal- mente diffcil com o nascimento dos dois primeiros filhos do casal: Henry, em agosto de 1847; e James Edson, em julho de 1849. Os primeiros anos foram uma época de pobreza e viagens incessantes, 4 medida que os White pregavam e apresentavam as mensagens de Deus aos dispersos e confusos ex-mileritas adventistas. A tinica coisa que ajudava o jovem casal a continuar era sua esperanca no iminente retorno de Jesus ¢ a convicgaio de que Ellen tinha conselhos de Deus a ser entregues ao povo clo advento, Com o passar do tempo, 0 conceito de um movimento especial do advento comegou a tomar forma. Era um povo que comegava a se unir es 23 PRAZER EM CONHECER ELLEN WHITE por meio de um conjunto de doutrinas enraizadas na experiéncia mileri- ta. Tanto as doutrinas como a relagiio de Ellen White com o desenvolvi- mento doutrindrio so topicos importantes neste livro. SEU PAPEL NO DESENVOLVIMENTO DO ADVENTISMO SABATISTA Talvez a compreensdo mais importante que podemos obter em relagfio ao papel de Ellen White no desenvolvimento do adventismo sabatista (os adventistas sabatistas se organizaram como Igreja Adventista do Sétimo Dia de 1861 a 1863) é que suas vises iniciais quase sempre confirmaram posigdes doutrindrias que outros jé tinham defendido por meio de intenso estudo bfblico. Assim, devemos ver sua participagiio na formag&o doutrindria mais em termos de confirmagiio, e nfo como uma iniciagao doutrinaria. Essa generalizagéo em relagao 4 doutrina, porém, nem sempre é valida no que se refere ao estilo de vida. Como veremos no préximo capitulo, Ellen White muitas vezes desempenhou um papel mais proeminente no desenvolvimento da compreensto adventista sobre o estilo de vida do que na formagfo doutrinéria. O principal entendimento doutrindrio em torno do qual os ad- ventistas sabatistas comegaram a convergir era que algo realmente importante ocorrera em 22 de outubro de 1844. A primeira visio de Ellen White, em dezembro de 1844, confirmou esse fato, embora nao tenha explicado 0 que acontecera nessa data. O primeiro vislumbre de compreensao nesse aspecto veio pela percepeao de Hiram Edson (um fazendeiro metodista de Port Gibson, Nova York), em 23 de outubro. Anos mais tarde, ele se lembraria de-que, naquela data, entendera pela primeira vez que: Em vez de nosso Sumo Sacerdote [Jesus] descer do lugar santis- simo do santuério celestial para vir & Terra no décimo dia do séti- mo més, no fim dos 2.300 dias [22 de outubro de 1844], naquele dia, pela primeira vez Ele entrou no segundo compartimento ee ORIENTACAO PROFETICA PARA OS MILERITAS DESAPONTADOS (1827-1850) desse santuério; pois tinha um trabalho a realizar no lugar santis- simo antes de voltar & Terra (Manuscrito Edson), A percepgiio de Edson o levou, bem como a O. R. L. Crosier e o doutor F. B. Hahn a um estudo bfblico mais aprofundado sobre o tema. Eles descobriram que o santuario a ser purificado em Daniel 8:14 nfio era a Terra, mas 0 santudrio celestial, mencionado no livro de Hebreus. Eles também conclufram que o ministério de Cristo no Céu tinha duas fases. A primeira comegou no lugar santo por ocasio de Sua ascensfio, enquanto a segunda comecou em 2% de outubro de 1844, quando Cristo saiu do primeiro compartimento do santuario celestial para o segundo, a fim de comegar o dia da expiagtio antitipica ou celestial. Cristo nfio retornaria & ‘Terra até que tivesse completado 0 ministério do segundo compartimento, Edson, Hahn e Crosier chegaram a essas conclusGes independen- temente de qualquer contato com Ellen Harmon. Crosier, mais tarde, publicou as descobertas deles com o titulo “The Law of Moses” [A Lei de Moisés] no jornal Day-Star Extra, em 7 de fevereiro de 1846. Um ano depois, Ellen escreveu uma carta a Eli Curtis, observando que o Senhor lhe havia mostrado “em visio [...] que o irm&o Crosier tinha a luz verdadeira sobre a purificagao do santudrio, e assim por diante, e era da vontade do Senhor que o irméo C. publicasse sobre a compreensiio que ele nos deu no Day-Star Extra” (WLF, 12). Ela recomendou o artigo a todos os fiéis adventistas. Enquanto isso, em meados de fevereiro de 1845, Ellen White havia recebido uma visio que apontava para o ministério de Cristo nos dois compartimentos e uma mudanga ocorrida nesse ministério em 1844, mas sem os detalhes fornecidos por Crosier e seus colegas gragas a seu estudo da Biblia. Ela s6é publicou essa vistio em 14 de margo de 1846 — um més depois da publicagtio do artigo de Crosier, Assim, as visdes de Ellen White tiveram uma fungio de confirmagao no desenvolvimento da doutrina do santuério. O estudo da Biblia forneceu o contetido basico do entendimento adventista que estava sendo desenvolvido sobre o tema. Pe 2. PRAZER EM CONHECER ELLEN WHITE A participagiio da irma White assegurava que o estudo bfblico estava indo na diregao certa. Essa relagfo entre a fung&o de Ellen White ea formagio doutriné- via adventista sabatista nem sempre foi clara para seus oponentes. Assim, Miles Grant (um ministro lider da denominagao Crista do Advento, outro grupo milerita) escreveu em 1874 que “o santudrio que os adventistas do sétimo dia afirmam que ser purificado no fim dos 1.300 [2.300] dias, mencionado em Daniel 8:13 e 14, esta no céu e a purificagio deste come- gou no outono de 1844 d.C, Se alguém tentasse perguntar por que eles acreditam assim, a resposta seria: a informagio veio por meio de uma das visées da Sra. Ellen G. White.” Em resposta, Uriah Smith (editor do principal periédico adventis- ta do sétimo dia, Review and Herald) observou: Centenas de artigos foram escritos sobre o-assunto; mas, em nenhum deles as visdes sio nem mesmo referidas como sendo autoridade sobre esse assunto ou como fontes para se estabe- lecer esta compreensio, [...] O apelo é invariavelmente para a Biblia, onde ha evidéncias abundantes para as opinides que temos sobre esse assunto (REI, 22/19/1874). Ainda podemos, é claro, verificar a veracidade da resposta de Smith, uma vez que os documentos ainda existem. Paul Gordon empreendeu uma pesqitisa nessa mesma linha e a publicou sob o titulo The Sanctuary, 1844, and the Pioneers [O Santuario, 1844 e 0 Pioneiros; Review and Herald, 1983]. Smith, como Gordon demonstrou, estava correto. A hist6ria infelizmente revela que alguns adventistas de hoje estiio mais propensos a declarar Ellen White como uma autoridade doutri- néria do que os fundadores do movimento o fizeram. Existem varias raz6es para isso. 5m primeiro lugar, a aceitagio dela no movimento sa- batista foi gradual, pois as pessoas lentamente comegaram a perceber que ela de fato tinha conselhos pertinentes para os individuos e para o 6 ORIENTACAO PROFETICA PARA OS NILERITAS DESAPONTADOS (1827-1850) movimento como um todo. Em segundo lugar — e 0 mais importante -, os primeiros lfderes adventistas eram um povo da Biblia. Isso foi © que os levou ao milerismo, e essa orientago permaneceu central & medida que seu segmento dentro do adventismo milerita se tornou o ad- yentismo do sétimo dia. Ellen White concordava plenamente com essa posigéio bibliocéntrica. Veremos no tiltimo capitulo deste livro que ela sempre elevou a Biblia como autoridade central na vida do cristtio, Con- forme a pr6pria Ellen recomendou, seus escritos deveriam direcionar as pessoas de volta & Biblia. O que afirmamos sobre a fungaio de confirmagéio desempenhada por Ellen White em relagdo ao desenvolvimento da doutrina adventista sabatista em relagio ao santudrio também é valido para a doutrina do sabado. Por causa da influéncia dos batistas do sétimo dia, 0 sabado se tor- nou um assunto problemético entre alguns adventistas mileritas mesmo antes do grande desapontamento. A primeira pessoa entre os fundadores do movimento adventista sabatista a estudara doutrina na Biblia ea aceita- Ja foi José Bates. Ele adotou o sabado no inicio de 1845, e, posteriormen- te, compartilhou sua crenga com Crosier, Hahn e Edson. Pelo menos dois deles aceitaram a nova descoberta biblica. Eles compartilharam com Bates os frutos de seu estudo biblico sobre o santuario celestial, o que ele aceitou prontamente. Mais tarde, Bates apresentou sua nova compreensao sobre o sébado a Tiago White e Ellen Harmon. A reagfo inicial deles foi negativa, mas no outono de 1846, apds extenso estudo biblico sobre o tema, Ellen e seu marido comegaram “a observar o sabado biblico, a ensin4-lo e defendé-lo” (TI, 75). Somente depois, em abril de 1847, foi que ela teve uma visao confir- mando a importancia do sébado. Como resultado, ela escreveu: “Acei- tei a verdade sobre a questiio do sfbado antes de ter visto em visio qual- quer coisa concernente ao assunto. S6 meses depois de ter comegado a guardar o sébado é que me foi mostrada sua importancia e seu lugar na terceira mensagem angélica” (MRS, 238). A essa altura, Bates ja havia Ss = 27 PRAZER EM CONHECER ELLEN WHITE publicado os extensos resultados de seu estudo biblico sobre o tema. A publicagiio nfo sé destacava a importancia do sabado, mas também o integrava com a compreensio baseada na Biblia sobre a segunda vinda, © santuario celestial e as trés mensagens angélicas de Apocalipse 14 (ver o livro de Bates, intitulado Seventh-day Sabbath: A Perpetual Sign, janeiro de 1847). © mesmo papel confirmador desempenhado por Ellen White pode ser notado no caso das duas outras principais crengas adventistas que diferiam das igrejas principais: o advento pré-milenial de Cristo e a nao imortaliclacle da alma. Como jé vimos, ambos os ensinamentos ja exis- tiam antes do inicio do ministério profético de Ellen White. Os primeiros adwentistas do sétimo dia eram, de fato, um povo da Biblia, Isso nfo significa que as vis6es colocavam 0 selo de aprovacio so- bre aquilo que todos jé acreditavam. A questfio é que as doutrinas distin- tivas centrais desenvolvidas pelos sabatisias tinham sua base no estudo biblico e nfo nas visées de Ellen White. Mesmo assim, as visdes dela afastaram os primeiros sabatistas de varias armadilhas. Uma delas tinha sido a possfvel rejeig¢o do cumpri- mento da profecia em outubro de 1844, Como observado anteriormen- te, a primeira visio de Ellen White apontou para o cumprimento da profecia, embora nfo indicasse o significado desse cumprimento. Como resultado, a visdio influenciou Ellen e outros em Portland, Maine, a re- considerar a interpretagiio milerita de Daniel 8:14. Outra armadilha que as visdes dela evitaram foi a marcagtio de novas datas para a volta de Jesus. Como j4 observamos, 0 movimento de Miller, em parte, estava baseado na ideia de que era possivel marcar 0 tempo aproximado do retorno de Cristo por meio do estudo da Biblia. Essa linha de pensamento se tornou ainda mais predominante durante 0 veraio de 1844, j4 que certos mileritas indicaram que o cumprimento da purificagio do santudrio de Daniel 8:14 aconteceria no dia 22 de outubro. Era natural que os adventistas desapontados continuassem a estabelecer datas para o retorno de Cristo depois de outubro de 1844. 25 es ORIENTACAO PROFETICA PARA OS MILERITAS DESAPONTADOS (1827-1850) Como resultado dessas tentativas, Ellen Harmon, Tiago White e mui- tos outros chegaram a acreditar que a segunda vinda de Jesus ocorreria em outubro de 1845. No entanto, Tiago relatou que alguns dias antes da data de 1845, Ellen “viu em vistio que deverfamos estar desapontados, ¢ que os santos devem passar pelo ‘tempo de provagiio de Jacé’, que estava no futuro, Sua visio sobre a provagio de Jacé era totalmente nova para nés, assim como para ela mesma” (WLF, 22). Essa vistio niio s6 salvou a maioria dos sabatistas dos repetitivos desapontamentos gerados pela marcagao de datas — tendéncia que prejudicava muitos outros grupos adventistas no fim dos anos 1840, 1850 e 1860 -, como também reforgou a ideia implicita em sua primeira visto de que o advento poderia estar ainda distante no futuro. Assim, as vis6es fizeram mais do que simplesmente confirmar a dou- trina estabelecida, Elas também forneceram orientagHo para o crescente ntimero de adventistas sabatistas enquanto abriam caminho no labirinto de possfveis desastres que os cercavam no fim da década de 1840. Talvez o “retrato” mais claro que tenhamos do relacionamento en- tre Ellen White e a formagio da doutrina adventista sabatista esteja na seguinte declaragio, feita por ela mesma: Muitos de nosso povo nfo reconhecem quito firmemente fo- ram langados os alicerces de nossa f6. Meu esposo, o pastor José Bates, o pai Pierce, o pastor [Hiram] Edson, e outros que eram inteligentes, nobres ¢ verdadeiros, achavam-se entre os que, expirado o tempo em 1844, buscavam a verdade como a tesouros escondidos. Reunia-me com eles, e estudévamos ¢ ordvamos fervorosamente. Muitas vezes ficévamos reunidos até alta noite, e As vezes a noite toda, pedindo luz e estudando a Palavra. Repetidas vezes esses irmios se reuniram para estudar a Biblia, a fim de que conhecessem seu sentido e estivessem preparados para ensiné-la com poder. Quando, em seu estu- do, chegavam a ponto de dizerem: ‘Nada mais podemos fazer’, Le PRAZER EM CONHECER ELLEN WHITE 0 Espirito do Senhor vinha sobre mim, e eu era arrebatada em visfio, e era-me dada uma clara explanago das passagens que estivéramos estudando, com instrugdes quanto 4 maneira em que deviamos trabalhar e ensinar eficientemente. Assim nos foi proporcionada luz que nos ajudou a compreender as passagens acerca de Cristo, Sua missio e Seu sacerdécio, Foi-me tornada clara uma cadeia de verdades que se estendia daquele tempo até ao tempo em que entraremos na cidade de Deus, e transmi- ti aos outros as instrugdes que o Senhor me dera. Durante todo o tempo eu nfo podia compreender 0 arrazoamen- to dos irmiaios. Minha mente estava por assim dizer fechada, nao podia compreender o sentido das passagens que estudaévamos. Esta foi uma das maiores tristezas de minha vida. Fiquei neste estado de espirito até que nos fossem tomados claros todos os pontos principais de nossa fé, em harmonia com a Palavra de Deus. Os irmfos sabiam que, quando nfo em visio, eu nao compreendia esses assuntos, e aceitaram como luz direta do Céu as revelagdes dadas (MEL, 206, 207). A irma White continuou a notar que sua mente permaneceu “cer- yada ao entendimento das Escrituras” por cerca de dois ou trés anos. Naquela época, a posig&o doutrindria dos sabatistas estava em vigor, ¢ eles estavam prontos para divulgar sua mensagem por meio de confe- réncias bfblicas e da publicago cle wm periédico. Antes de passar para esse assunto, precisamos examinar mais de perto a relagao entre o dom de Ellen White e a Biblia, como também algumas reagies iniciais em relagio a seu trabalho. ARELACAO DO DOM DE ELLEN WHITE COM A BIBLIA Os primeiros adventistas sabatistas acreclitavam que a Biblia ensi- nava que os dons espirituais, incluindo o dom profético, continuariam a 0 ORIENTACAO PROFETICA PARA DS MILERITAS DESAPONTADOS (1827-1850) existir na igreja até o segundo advento. Uriah Smith forneceu aos primei- ros adventistas uma ilustragao que vai direto ao ponto: Vamos supor que estejamos prestes a comecar uma viagem. O proprietario da embarcag&o nos dé wm livro de instrugées, dizendo-nos que este contém todas as instrugdes necessérias para nossa jornada, e que, se seguirmos tudo corretamente, chegaremos em seguranga ao nosso destino final. Ao partir- mos, abrimos o livro para aprender seu contetido. Descobri- mos que seu autor estabelece principios gerais para nos guiar em nossa viagem, e nos instrui na medida do possivel, tocan- do as varias contingéncias que possam surgir até o fim; mas ele também nos diz que a tltima parte da nossa jornada ser4 extremamente perigosa; que as caracteristicas da costa sem- pre mudam devido a areias movedigas e tempestades; “mas durante esta parte da jornada”, ele diz, “providenciarei para vocés um piloto que ira encontré-los e fornecer instrugdes 4 medida que as circunstancias e os perigos forem surgindo; lembrem-se de prestar muita atengZo nele.” Com estas ins- trugdes, chega o tempo perigoso descrito pelo proprietario, 0 piloto, de acordo com a promessa, aparece. No entanto, parte da tripulagio, & medida que ele oferece seus servigos, se levanta contra ele. “Temos 0 livro original com as instrugdes”, eles dizem, “e isso nos basta. Esta 6 a nossa posigo, e nao mudaremos; nfo queremos nada com vocé.” Quem agora est4 seguindo corretamente o livro com as instrugSes? Aqueles que rejeitam o piloto, ou aqueles que o aceitam, como esse livro os instruiu? Tire suas conclusdes. No entanto, alguns [...] podem estar se perguntando: “Entao devemos entender que a irma White é nosso piloto, nao é?” # para evitar todo movimento nessa direg&o que a pergunta foi feita. Porém, essa nfo é a resposta. A resposta correta a essa DL PRAZER EM CONKECER ELLEN WHITE pergunta é: os dons do Espirito sao concedidos ao nosso piloto durante esses tempos de perigo, ¢ seja onde for, ouem quem encon- trarmos a manifestagao genuina desses dons, devemos respeité-los. Caso fagamos 0 contrario, estaremos rejeitando a Palavra de Deus que nos orienta a aceit4-los (RH, 13/1/1863). Entre os textos que os primeiros sabatistas usaram para ilustrar seu ponte de vista sobre a disponibilicdade continua do dom profético até o segundo advent, estavam 1 Corfntios 12:8 a 10 ¢ 28 e Efésios 4:11 a 13. Contudo, eles ficaram impressionados, principalmente, com o texto de Joel 2:28 a 32, que indica que, nos dltimos dias, Deus derramaré Seu Espirito sobre toda came e “vossos filhos e vossas filhas profetizaraio”. A carta de 1 Tessalonicenses 5:19 a 21 também foi importante, pois instruiu os crist&os a nfo desprezarem a profecia, mas a julgar “to- das as coisas” e “reter o que é bom”. Como resultado, o adventismo inicialmente comegou a ensinar que os crist#os nfo deviam rejeitar aqueles que alegam ter o dom profético, mas deviam testé-los para ver se falam de acordo com “a lei e [o] testemunho” (Is 8:20, isto é, ver se seus ensinamentos estio de acordo com a Biblia) e se seus “frutos” (vida e ensinamentos) indicam que sfo verdadeiros ou falsos profetas (Mt 7:15-20). Além desses textos, os primeiros adventistas sabatistas conclufram que a igreja dos tiltimos dias (“remanescente”) proclamaria “os man- damentos de Deus € 0 testemunho de Jesus” (Ap 12:17). Este dltimo, acreditavam eles, era o dom profético (Ap 19:10). Por causa desses e outros textos, Uriah Smith exortou aos leitores da Review “a evitar o conselho daqueles que professam tomar a Biblia como regra de fé e pratica, mas menosprezam ou rejeitam a parte que nos ensina a buscar e esperar o poder ¢ os dons do Espirito” (RH, 24/7/1856). Enquanto uma das preocupagdes concernentes ao relacionamento entre Ellen White e a Biblia no inicio do adventismo era verificar se as Es- crituras ensinavam e previam a manifestagtio genuina do dom profético, 2 ee ORIENTAGAG PROFETICA PARA OS MILERITAS DESAPONTABOS (1827-1850) uma segunda preocupagio se referia & primazia da Biblia em assuntos espirituais, 4 medida que os seguidores de Deus buscar luz espiritual. Assim, neste contexto, Tiago White escreveu: “O reavivamento de qual- quer um ou de todos os dons nunca substituird a necessidade de buscar a Palavra [Bfblia] a fim de aprender a verdade” (RH, 28/2/1856). Novamente, ele afirmou que um cristZio nao tem liberdade para se afastar dela [a Biblia] a fim de apren- der seu dever por meio de qualquer um dos dons. Dizemos que, no momento em que ele assim o faz, coloca os dons em um lugar errado e assume uma posigio extremamente perigo- sa. A Palavra deve estar 4 frente, e o olhar da igreja deve se po- sicionar sobre ela, como regra a seguir, fonte do saber, de onde se aprende qual é seu dever, [...] Mas, se uma parte da igreja falhar com as verdades da Biblia e tornar-se fraca e doentia, ¢ o rebanho se dispersar, de modo que seja necessério Deus empregar os dons do Espirito para corrigir, reavivar e curar os erros, devemos deixé-lo trabalhar. Mais ainda, devemos orar para que Ele atue, e implorar com sinceridade que trabalhe por intermédio do poder do Espirito e leve a ovelha perdida até seu campo (RH, 28/2/1856). Mais uma vez, Tiago White deixou clara a sua compreensao a respeito da prioridade da Biblia sobre 0 dom de sua esposa. Em no- vembro de 1855, os lideres sabatistas, depois de um estudo completo da Biblia, chegaram a um consenso sobre uma questio teoldgica (0 horario em que o sébado deveria comegar) que os dividia hé anos, mas Bates e Ellen White ainda discordavam com o restante do grupo de crentes. Nesse ponto, a irma White recebeu uma visdo confirmando a coneluséo a que haviam chegado por meio de um estudo completo das Eserituras. Isso foi o suficiente para que Bates, Ellen White e outros entrassem em harmonia com a maioria, De 3; PRAZER EM CONHECER ELLEN WHITE Surgiu.a dévida do porqué Deus no havia resolvido a quest&o por meio de uma visio desde o inicio. A resposta de Tiago White é escla- recedora. Ele disse: Nao parece ser desejo do Senhor ensinar Seu povo em ques- tdes biblicas por meio do dom do Espirito até que Seus servos tenham diligentemente pesquisado a Palavra, [...] Deixe que os dons tenham seu lugar apropriado na igreja. Deus nunca os colocou em lugar de maior importancia nem ordenou que olhdssemos para eles como um guia para o caminho da ver- - dade e o caminho para o Céu. Em vez disso, Ele engrandeceu Sua Palavra. As Escrituras do Antigo e Novo Testamentos so como lampada que ilumina o caminho do ser humano até o reino. Siga isso; mas, se vocé falhar com a verdade da Biblia e correr o risco de se perder, pode ser que Deus, no tempo que Ele escolher, corrija vocé ¢ o traga de volta 4 Biblia e o salve” (RH, 25/2/1868). Em sua, os primeiros adventistas eram um povo da Biblia. O fato de eles-acreditarem na Biblia os tornou abertos ao dom profético atual, Esse dom era complementar a seu estudo bfblico, sendo assim, nfo deve- ria tomar o lugar das Eserituras. Na verdade, a fungao do dom era trazer as pessoas de volta & Biblia como a palavra auioritativa de Deus. REACOES AO DOM DE ELLEN WHITE Como era de se esperar, Ellen White tinha pouca autoridade no inicio de seu ministério profético. A maioria dos crentes a considerava uma voz entre muitas. Apenas quando os adeptos do adventismo tive- ram tempo para examinar suas mensagens e avalid-las & luz da Biblia 6 que eles passaram a acreditar que ela realmente falava as mensagens de Deus. ee ORIENTACAO PROFETICA PARA OS MILERITAS DESAPONTADOS (1827-1850) Mesmo assim, nem todos os que conheciam seu trabalho 0 aceita- ram como sendo divinamente inspirado. Certo adventista em meados da década de 1840 registrou o seguinte: N§o consigo endossar as vis6es da irm& Ellen como inspiragtio divina, como voeé [Tiago] e ela pensam sex. No entanto, nao suspeito de que haja qualquer tipo de desonestidade em qual- quer de vocés neste assunto. [...] Penso que o que vocés consi- deram como vises do Senhor sfo apenas devaneios religiosos, nos quais sua imaginagao funciona sem controle sobre temas nos quais ela est mais interessada. [...] Nao penso, de modo algum, que suas visdes sejam diabélicas (WLF, 22). Outros nao eram to generosos. Alguns adventistas tinham certeza de que ela tinha um demSnio, e eles nfio eram timidos ao dizer isso. Isso vinha principalmente daqueles propensos ao fanatismo que afligiu varios setores do adventismo por alguns anos apés o desapontamento de 1844. Como afirmou Ellen White: “Quando eu os avisei de seus perigos, alguns se alegraram por Deus ter me enviado; outros se recusaram a ouvir meu testemunho assim que perceberam que eu nio estava em unio com o espirito deles, Eles diziam que eu voltaria ao mundo” por causa do desa- cordo com suas ideias distorcidas (MR8, 233). Uma resposta muito interessante foi a de José Bates, 0 homem que se uniu a Tiago e Ellen White para fundar a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Bates afirma que a primeira vez que ouviu Ellen relatar suas visdes foi em 1845, porém, ele nfo ficou impressionado. Bates escreveu: Apesar de nfo conseguir ver algo nelas que militasse contra a Palavra, sentia-me, todavia, muito inquieto e tentado; e, durante muito tempo, indisposto a crer que aquilo era algo maior do que © que se pode produzir pelo estado de prolongada debilidade fisica da vidente, Se 35 PRAZER EM CONHECER ELLEN WHITE Portanto, procurei oportunidade na presenga de outros, quan- do seu espirito parecia livre de agitagfio (fora das reuniées), para, com insisténcia, interrogar no somente ela, mas tam- bém os amigos que a acompanhavam, especialmente a sua irma mais velha, a fim de obter, caso possfvel, a verdade. [.. Eu a vi em visio diversas vezes [...], e todos quantos presen- ciaram algumas dessas cenas agitadas bem sabem com que interesse e avidez eu escutava cada palavra e observava todo movimento para surpreender a armadilha ou influéncia mes- meriana (WLF, 21). O ponto decisivo para Bates foi depois de uma visio em Topsham, Maine, em novembro de 1846, Nessa visdo, Ellen White deu informagées astronémicas que, de maneira alguma, do ponto de vista humano, ela poderia saber. Bates, um ex-marinheiro que sempre se mantinha atua- lizado em assuntos de astronomia, a questionou posteriormente sobre seu conhecimento nessa drea, Ao percebé-la bastante mal-informada, ele conchuiu que Deus realmente tinha mostrado a ela em visto fatos recen- tes sobre conhecimento astronémico. Apés essa experiéncia, ele passou a acreditar firmemente no ministério de Ellen White. Todas as reagdes ao ministério profético de Ellen White que aqui descrevemos tém algo em comum, Cada pessoa, quando confrontada com suas reivindicag6es, foi obrigada a testar e avaliar se seu chamado era de Deus ou nao. Era exatamente dessa maneira que os primeiros adventistas sabatistas esperavam que suas alegag&es fossem tratadas. Conforme Paulo ensina, eles acreditavam, o grupo nfo deveria rejeitar completamente aqueles que alegavam ter o dom profético, mas deveriam testar essas afirmagées & luz da Biblia. Os individuos deveriam “[julgar] todas as coisas” e “[reter] 0 que é bom” (1Ts 5:19-21). Assim, a aceitagio de Ellen White como profetisa se deu gragas a um processo que levou tempo, na medida em que seu ministério e mensagem eram comparados com a mensagem da Biblia, ee ORIENTAGAG PROFETICA PARA OS MILERITAS DESAPONTADOS (1827-1850) O PAPEL DE ELLEN WHITE DURANTE 0 “TEMPO D0 AJUNTAMENTO” Tiago White, Ellen White e José Bates passaram a enxergar os anos pés-desapontamento (de 1844 a 1848) como o “tempo de dispersao” para os adventistas mileritas. Até o fim de 1848, porém, os lfderes sabatistas jé haviam aderido a um conjunto de doutrinas bsicas, as quais eles acreditavam ter a responsabilidade de compar- tilhar com os adventistas ainda confusos sobre o que acontecera em outubro de 1844. Os Iideres sabatistas desenvolveram duas abordagens para al- cangar 0 piiblico-alvo enquanto procuravam reunir o grupo de crentes em torno de sua compreensio do que acontecera em 22 de outubro de 1844 e de suas doutrinas centrais. Esse novo periodo passou a ser considerado por eles como o “tempo do ajuntamento”. O ministério profético de Ellen White pode ser visto em ambas as abordagens. A primeira abordagem consistia em uma série de conferéncias ou reuniGes sabatistas que aconteceram entre 1848 e 1850. De acor- do com Tiago White, o propésito das conferéncias era “unir os irmaos no assunto sobre as grandes verdades ligadas 4 mensagem do terceiro anjo”, de Apocalipse 14:9 a 12 (RH, 6/5/1852). No inicio, a perspectiva estava longe de ser encorajadora. Ellen White relatou sobre a conferén- cia em Volney, Nova York, dizendo que “dificilmente haveria dois que estivessem de acordo entre si” e “todos eram extenuantes em seu ponto de vista, enfatizando que estavam de acordo com a Biblia”. Enquanto todos estavam ansiosos para mostrar seus pontos de vista peculiares, “foi-lhes dito que nfo viemos de to longe para ouvi-los, mas que vie- mos ensinar a eles a verdade” (SG2, 97, 98). Bates e 0 casal White acreditavam nos frutos de seu estudo da Biblia e permaneceram firmes na pregagfio de sua mensagem doutrinéria a seus amigos adventistas. Foi somente com a ajuda de uma forte lide- ranga que conseguiram a adestio daquele grupo de crist%os com menta- lidade semelhante dentre o quadro cadtico de mileritas desapontados. a = 37 PRAZER EM CONHECER ELLEN WHITE Como era de se esperar, o dom profético de Ellen White entrava em agio durante essas conferéncias. Seu papel era trazer harmonia de espfrito & perspectiva quando esses dons chegavam a um impasse. A segunda abordagem utilizada pelos lideres sabatistas no tempo do ajuntamento envolvia a publicagaio de seus pontos de vista. O dom profético de Ellen White era mais evidente aqui. Até novembro de 1848, os sabatistas ji haviam publicado alguns livros e panfletos curtos, mas sem pexiddicos. No entanto, naquele més, Ellen recebeu wma visio cuja mensagem era para o marido: Vocé deve comegar a publicar um pequeno folheto e envié-lo ao povo. Deve ser pequeno a principio; mas, lendo-o 0 povo lhe enviar& recursos para imprimi-lo, e aleangard bom éxito desde o principio. Desde esse pequeno comego foi-me mostra- do assemelhar-se a torrentes de luz que circundavam 0 mundo (LS, 195). Sua previstio de um programa de publicagaio mundial dificilmente poderia funcionar de forma encorajadora entre os crentes sabatistas daque- la época, Do ponto de vista humano, parecia algo absurdo. O que alguns pobres pregadores, apoiados por apenas 100 fiéis, conseguiriam realizar? Apesar das circunstncias, Tiago publicou a primeira edigio da revista The Present Truth (A Verdade Presente, precursora da Revista Adventista) em julho de 1849. A partir daquele pequeno comego, as pu- blicagdes adventistas continuaram crescendo, até que, em 2015, a igreja j contava com 61 editoras que emitiam cerca de 356 periédicos além de uma miriade de outras literaturas, Realmente, a predigao das “torrentes de Juz que circundavam o mundo” se tornou uma realidade, apesar das circunstancias aparentemente impossiveis em que a visao foi dada. ee ORIENTACAG PROFETICA PARA OS MILERITAS DESAPONTADOS (1827~1850) SAIBA MAIS: Gordon, Paul A. Herald of the Midnight Cry. Boise, ID: Pacific Press, 1990. Uma abordagem breve, mas util sobre a vida de Guilherme Miller, Knight, George R. Uma Igreja Mundial: Breve Histéria dos Ad- ventistas do Sétimo Dia. Tatui, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000, p. 9-48. Investiga 0 desenvolvimento do adventismo até 1850. . Adventismo: Origem e Impacto do Movimento Milerita. ‘Tatuf, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015. Uma pesquisa abrangente sobre o milerismo que abrange o surgimento do adventismo sabatista. Robinson, Virgil. James White. Washington, DC: Review and Herald, 1976, p. 13-67. Trata da vida de Tiago White até 1850. White, Arthur L, Ellen White: Mulher de Visto. Tatuf, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015, p. 1-52, Uma abordagem biogréfica sobre Ellen White até 1850. White, Ellen G. Primeiros Escritos. Tatuf, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013. Uma compilagao de algumas das primeiras obras de Ellen White. Fornece uma ampla visio do seu ministério inicial. . Life Sketches of Ellen G. White. Mountain View, CA: Pacific Press, 1943, p. 17-128. Um util esbogo autobiografico dos primei- ros anos de Ellen White. . Spiritual Gifts. Battle Creek, MI: Tiago White, 1858- 1864, v. 2, p. 7-143. Outro esbogo autobiogréfico de seus primeiros anos. . Testemunhos Para a Igreja. Tatuf, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012, v. 1, p, 9-96, Ainda outra obra autobiografica tratando dos anos iniciais do ministério de Ellen White, . William Miller: Herald of the Blessed Hope. Hagerstown, MD: Review and Herald, 1994. Apresenta a perspectiva de Ellen White sobre Miller e seu trabalho. ee 3) ORIENTACAO PROFETICA PARA UMA IGREJA EM CRESCIMENTO (1850-1888) Brncn sf Batty Ox from LECCE Brean Garo DB fae raged Ly li bpinity li ford Ob Una Gon, (Mee (Peoreney » Gon Case tecre Gace Garnet! AEX Acme ear age ne 9 heaue Yrlliai or Bepeeg ad gard Ue jpuclba (Jebeiah a1 ni: Heatilabaers g “Lowe Od Yel Mat Borne (© hans gon BZOnase at Lizard Os lyencnadl{, Lud peen-D fece lleed Wit bine Lexa come, Ole il Oa'ble Ural Jus Ud Daigle Bleter fhe on eu led Granny g Wai petty and tle os Ly cecimontuted i Ger, Gem Glitz a Sengh olont a tons be(PmatAeaue Ce Aewiny Mid ajnarng ond t lec hens cee fo benen bm Gned ob he acencled a cued Cle ORIENTAGAO PROFETICA PARA UMA IGREJA EM CRESCIMENTO (1850-1988) Em 1850, 0 periodo inicial de dificuldades para a igreja em desen- volvimento havia chegado ao fim. Embora o adventismo ainda estivesse longe de ser forte, ja tinha uma identidade estabelecida e um corpo de adepios em crescimento. O mesmo pode ser dito da voz profética do movimento, manifes- tado no ministério de Ellen White. Cada vez mais, os adventistas saba- tistas podiam sentir a autoridade profética nela e em suas mensagens, embora a aceitagao ainda niio fosse universal, Tanto o adventismo como o envolvimento de sua profetiza passa- ram por um ¢crescimento entre 1850 e 1888. Além disso, a identidade da denominagiio e a de Ellen White se tornaram cada vez mais integradas, Esse perfodo testemunhou as estruturas basicas e as rotinas da existéncia denominacional tomarem forma. Nao s6 as publicagSes saba- tistas cresceram, mas a denominag&o em desenvolvimento organizou e alcangou novas freas como missées, reforma da satide e educagiio. O mi- nistério de Ellen White podia ser visto em cada um desses campos. Além desses aspectos, o capitulo 2 examinard mais de perto a vida particular da irma White e a crenca no dom profético por parte da igreja. ACEITAR AS VISOES E UMA PROVA DE COMUNHAO? ‘Um problema que inicialmente surgiu entre os sabatistas era a questo da aceitagio das visdes e a incluso na membresia do grupo. Uma ‘vez que seus detratores alegavam regularmente que os lideres sabatistas faziam das visées um teste de comunhio, esse era um assunto que difi- cilmente conseguiriam evitar responder. Assim, Tiago White escreveu no inicio de 1856 que “é bem sabido que temos sido acusados de testar as pessoas pelas visdes dela e de torné-las a nossa regra de £6. Esta é uma mentira ousada” (RH, 14/2/1856). Ele prosseguiu dizendo que a Bfblia era sua regra de fé e pratica. Por outro lado, os primeiros adventistas acreditavam que a crenga na doutrina bfblica dos dons espirituais era uma prova de comunhio. Re || PRAZER EM CONHECER ELLEN WHITE Por exemplo, Uriah Smith afirmou em 1862 que “a perpetuidade dos dons é um dos pontos fundamentais na erenga desse povo. Em relagao Aqueles que diferem desta crenga, nosso nivel de comunh&o com eles é 0 mesmo que temos com aqueles que diferem da nossa crenga sobre a vinda de Cristo, do batismo, do sabado, ete.” (RH, 14/1/1862). John Nevins Andrews resumiu bem a posigio da denominagaio em 1870 quando escreveu que “na recepgio de membros em nossas igrejas, desejamos saber duas coisas sobre esse assunto: (1) que eles acreditam na doutrina bfblica dos dons espirituais; e (2) que eles vao se familiarizar de forma sincera com as visdes da irma White” (RH, 15/2/1870). Em outras palavras, Andrews sugeriu que os membros de- veriam estar dispostos a seguir a injungfio da Biblia a fim de testar os profetas (of. 1Ts 5:19-21). Entretanto, uma vez que os membros aceitavam as visdes como provindas de Deus, argumentou Tiago White, elas se tornavam uma au- toridade na vida da pessoa. Com isso em mente, ele escreveu que as vi- s6es eram realmente “uma prova para aqueles que acreditam nelas como [sendo] celestiais” (RH, 14/2/1856). Em outra ocasifio, Tiago observou que aqueles que tinham evidéncias de que o dom de Ellen era de Deus, e ainda optavam por lutar contra ele ativamente e publicamente poderiamn ser desassociados da igreja. Nesses casos, “nosso povo reivindica o direito de se separar dessas pessoas, para que possam desfrutar seus sentimentos em paz e tranquilidade” (RH, 19/6/1871). Ellen White concordava com a posigio dos Iideres da igreja ja mencionados. Alguns individuos, ela indicou em 1862, tinham “motivo suficiente” para se tornarem céticos devido a ideias extremas defendidas por outros membros com relagao as visdes. Aqueles que eram desligados pelos excessos de outros, que nfo haviam tido a oportunidade de exami- nar as visdes por si, ou que nao haviam chegado a conclusées definitivas, “no dev[iam] ser separados dos beneficios e privilégios de membros da igreja, se no demais a sua vida crist& se prova correta, e tenham um bom carter cristao. [...] Estes nao devem, por isso, ser postos de lado, ee ORIENTAGAO PROFETICA PARA UMA IGREJA EM CRESCIMENTO (1850-1888) cumprindo trat4-los com paciéncia e amor fraternal até que tomem po- sigéo e tenham opinifio definida contra ou a favor delas.” No entanto, ninguém deveria ser “afastado” se “no tiver tomado uma posigio em relagao as visdes” (T1, 328). Por outro lado, ela prosseguiu, se eles “comecarem a combater as visdes” abertamente ¢ se sentirem irritados com aqueles que acreditam nelas, “a igreja pode saber que eles no esto certos”. O povo de Deus nao deve se curvar servilmente ou se submeter a esses descontentes, e abrir mio de sua liberdade. Deus pés os dons na igreja para que ela possa ser beneficiada por eles. E, quando professos crentes na verdade se opdem aos dons e lutam contra as visGes, pessoas ficam em perigo, e é entao tem- po de trabalhar em favor delas, para que os fracos nfo sejam desviados por influéncia desses (T1, 328, 329), Por essa razio, George I. Butler (o presidente da denominagio) escreveu em 1883: “Muitos dentre nds nao acreditam nas vis6es, [...] esto em nossas igrejas e nao foram desassociados” (anexo da RH, 14/8/1883). DIVULGAGAO DA MENSAGEM PROFETICA Ellen White propagou a mensagem que acreditava ser dada por Deus por meio da fala e da escrita. Desde 0 inicio de seu ministério, ela atuou na pregagio ¢ no ensino tanto para grupos quanto para individuos, Os lugares eram muitas vezes igrejas e conversas particulares, mas as reunides gerais da igreja também lhe proporcionaram grandes oportuni- dades para se dirigir aos lideres do movimento. Apés 0 estabelecimento, em 1868, de um sistema adventista anual de reunides campais, ela des- cobriu que esse férum seria excelente para apresentar sua mensagem, Ela passou a maior parte de sua vida em extensas reunides de confe- réncias campais. Pe PRAZER EM CONHECER ELLEN WHITE Além de ela ser eficaz na abordagem oral, seus escritos influen- ciaram e multiplicaram seu impacto muitas vezes. Nao sé seus ser- mées, palestras e conselhos mais importantes foram impressos, mas ela mesma logo comegou a dedicar boa parte de seu tempo e energia para preparar material em forma impressa. Ela seria um dos princi- pais participantes no cumprimento de sua viséo da literatura adventis- ta, tornando-se como “torrentes de luz que circundavam ao redor do mundo” (LS, 125). Seus primeiros escritos apareceram em uma revista adventista nfo sabatista intitulada Day-Star. No entanto, ela logo perdeu esse meio quando os sabatistas comegaram a desenvolver uma identidade distinta da de outros grupos adventistas no final da década de 1840. Em 1849, os sabatistas comegaram a publicar o prdprio periédico. Esse desenvolvimento, porém, nao resolveu imediatamente o problema. O marido da irma White, o primeiro editor sabatista, exerceu grande in- fluéncia na questdo da publicagdo das visdes, j4 que muitos inimigos acusavam os sabatistas de colocarem énfase demasiada nas visdes, tornando-a uma prova de comunhio e sustentando suas crengas nos ensinamentos dela, em vez da Biblia, Como resultado, apesar de Tiago ter publicado varias das vis6es de sua esposa em 1849 e 1850, a partir do fim de 1850, as paginas da Review and Herald obtiveram muito pouco da caneta de Ellen White. No total, apenas 15 artigos de sua autoria foram publicados na Review durante a década de 1850, Esse ntimero duplicou para pouco mais de 31 na década de 1860, mas a década de 1870 testemunhou uma mudanga, com quase 100 artigos dela publicados na Review. Entio, a partir do inicio da década de 1880 até sua morte em 1915, a revista passou a apresentar seus artigos quase que semanalmente. Essas estatisticas nos revelam muito sobre a reticéncia dos pri- meiros sabatistas em colocar muita énfase nas visGes em seu principal periédico (um documento que era enviado para sabatistas e nfio sabatistas) diante daquele ptiblico critico. Como Tiago acreditava ser importante Fe ORIENTACKO PROFETICA PARA UMA IGREJA EM CRESCIMENTO (1850-1888) colocar as mensagens de Ellen diante dos adventistas sabatistas, em 1851, ele publicou a Review and Herald Extra, direcionada para esse piiblico mais seleto. Ele explicou na edigao de 21 de julho de 1851, no Extra: Esse artigo esté no formato em que esperamos publicar uma vez a cada duas semanas, [...] Como muitos tém preconceitos contra as visGes, achamos melhor, neste momento, nao inserir algo dessa natureza na revista. Vamos, portanto, publicar as vi- s6es por si s6 em beneficio daqueles que acreditam que Deus pode cumprir Sua palavra e mostrar vis6es “nos tltimos dias” (RH Extra, 21/7/1851). O Extra, é claro, pretendia ter uma circulagao muito mais limi- tada do que a que normalmente tinha a Review, mas acabou tendo uma existéncia curta, com apenas uma edigfo. Grande parte do contetido do Extra logo apareceu em forma de livreto com 0 titulo A Sketch of the Christian Experience and Views of Ellen G. White [Esbogo da Experiéncia e das Visdes de Ellen G. White]. Esse livreto de 64 paginas saiu da imprensa no vero de 1851. A lideran- ga denominacional logo determinou que pequenos livros ou panfletos seriam a maneira ideal de publicar os escritos de Ellen, pois eles tinham avantagem de disponibilizar seu conselho de forma mais permanente. Seu primeiro livreto era um relato autobiogréfico de seu ministé- rio, contendo algumas de suas visdes anteriores. O panfleto seguinte saiu em 1854 com 0 titulo Supplement to the Experience and Views of Ellen G. White [Suplemento & Experiéncia ¢ as Visdes de Ellen G, White]. Entéo, em 1855, ocorreu um evento de grande importancia para os escritos de Ellen White. Naquele ano, foi publicado o primeiro volu- me de Testimonies for the Church [Testemunhos Para a Igreja]. Esse li- vreto de 16 péginas deu continuidade a uma série com adigdes regulares de varias formas até 1909, e, a essa altura, seus depoimentos publicados j@ somavam quase 5 mil paginas. ne 5 PRAZER EM CONHECER ELLEN WHITE Finalmente, a irma White havia encontrado uma forma eficaz de comunicar suas mensagens aos adventistas sabatistas. Seus Testimonies [Zestemunhos] estabeleceram as linhas principais para seu primeiro con- selho em um formato que proporcionaya tanto a permanéncia quanto a facilidade de distribuigdo para interessados. Além dos Testemunhos, que abordavam assuntos gerais, Ellen White logo comegou a apresentar seus conselhos a individuos por meio de conversas particulares e cartas pessoais. Dentro de alguns anos, ela percebeu que muitos desses conselhos tinham valor para a igreja em ge- ral, uma vez que muitos individuos tinham as mesmas perguntas e/ou pro- blemas. Assim, seus Testemunhos logo passaram a conter mensagens selecionadas originalmente a partir de individuos em particular, além de conselhos gerais para a igreja em geral. Como Ellen White disse: Ao repreender os erros de alguém, Ele [Deus] pretende corrigir a muitos. [...] Ele torna patentes as faltas de uns, para que outros se deem por avisados e temam, procurando evité-las. [...] Fuiinstrufda a destacar alguns princfpios gerais, oralmente e por escrito, ¢ a0 mesmo tempo especificar os perigos, erros e pecadas de alguns in- dividuos, para que todos fossem advertidos, reprovados e aconselha- dos. [...] Eu vi que todos devem fazer um exame minucioso de sua consciéncia para saber se nao tém cometiclo os mesmos erros pelos quais outros foram repreendidos, [...] Em caso afirmativo, devem sentir que esses conselhos ¢ repreensdes foram dados também a eles, ¢ fazer deles uma aplicagio tio pratica como se tivessem sido dirigidos especialmente a eles (T5, 659, 660). A irmi White desenvolven a pratica de excluir nomes de pessoas em seus Testemunhos, a fim de proteger a privacidade daqueles a quem seus conselhos haviam sido enviados pela primeira vez. Por isso, 0 leitor dos Testemunhos niio sabe sobre quem esté lendo. CT ORIENTAGAO PROFETICA PARA UMA IGREJA EM CRESCIMENTO (1850-1808) A denominagaio em desenvolvimento logo percebeu o valor dos Testemunhos de Ellen White. Como resultado, os primeiros livretos fo- xam reeditados em varios formatos diversas vezes, mas foi sé em 1883 que a Associagaio Geral dos Adventista do Sétimo Dia votou publicar todos os Testemunhos até aquele momento (30 no total) em “quatro volumes de setecentas ou oitocentas paginas cada” (RH, 27/11/1883). Eles sairam em 1885 e permanecem neste formato padrao (assim como os volumes de 5 a9) até o presente momento. Antes de republicar os Testemunhos, Ellen White decidiu que deveriam ser feitas revisGes editoriais apropriadas. Ela sentiu que essa tarefa era necessdria, uma vez que algumas das mensagens haviam sido originalmente levadas as pressas para impressao por causa da onda de eventos que estavam acontecendo no momento. Ellen White e seu fi- Iho W. C. White tinham uma visao bastante flexivel do processo edito- sial quando se tratava de revisar suas palavras e frases. Essa flexibilidade provocou uma grande discussao entre os lfderes da denominagao sobre as mudangas que poderiam ser inseridas nos Testemunhos quando estes fossem reeditados, Na preparagao para o proceso de revisao, a sesstio da Conferéncia Geral de 1883 votou que “a iluminagiio da mente” do profeta-no processo de inspiragao ocorre por meio da “comunicagao de pensamentos, e nao (exceto em casos raros) das palavras exatas com as quais as ideias devem ser expressas” (RH, 27/11/1883). Embora os lideres da igreja tenham aceitado a inspiragiio em forma de pensamento, eles tiveram dificuldade com este coneeito na pritica. Como resultado, Ellen White precisou cor- rigir varias das revisdes que ela havia feito em seus primeiros Testemunhos com 0 objetivo de que suas frases flufssem melhor ¢ expressassem seus pensamentos da maneira mais precisa, Assim, os volumes publicados nfo ficaram da forma como ela queria que ficassem. Além de seus primeiros livretos autobiograficos e dos Testemunhos, a terceira etapa na redagio dos livros de Ellen White ocorreu de 1858 a 1864, em seu desenvolvimento de quatro volumes intitulados Spiritual ee | PRAZER EM CONHECER ELLEN WHITE Gifts. Enquanto parte desses volumes continha material autobiogré- fico e alguns escritos sobre satide, bem como alguns trechos de seus primeiros Testemunhos, a principal contribuigo que eles ofereceram era a exposigao inicial do grande conflito césmico entre o bem e 0 mal. Assim, 0 primeiro volume, resultante de uma visio em Lovett’s Grove, Ohio, em margo de 1858, trazia o subtitulo The Great Controversy Between Christ and His Angels and Satan and His Angels [O Grande Conflito entre Cristo e Seus anjos e Satanés e seus anjos]. Esse pequeno livro foi o precursor da nossa edigfio atual (1911) de O Grande Conflito. De maneira semelhante, os volumes 3 e 4 de Spiritual Gifis tratavam. sobre 0 perfodo patriarcal da hist6ria btblica e apresentavam 0 contetido atualmente encontrado em Patriarcas e Profetas. Em Spiritual Gifts, en- contramos as ideas principais que ela, mais tarde, expandiu em quatro volumes intitulados The Spirit of Prophecy (1870-1884) e, posteriormen- te, foram transformadas na atual Série Conflito dos Séculos de cinco vo- lumes (1888-1917). A prineipal e mais importante 4rea da produgiio de livros de Ellen White entre 1850 e 1890 é no dominio da satide. Examinaremos abaixo esse desenvolvimento em nossa discussio sobre sua contribuigdo aos con- ceitos adventistas de vida saudavel. RECEBENDO E COMUNICANDO VISOES A recep¢ao e comunicagiio das visdes de Ellen White é um tépico complexo (assim como muitos outros neste livro), por isso o abordaremos de forma breve. Esta segiio, em vez de tratar esse assunto por completo, apenas tragara alguns dos pontos principais que nos ajudariio a comegar a entender o assunto. Em 1860, a irm& White escreveu que vinha recebendo perguntas frequentes quanto a seu estado em visio e & experiéncia depois de sair dela, Em resposta, explicou: Ce ORIENTAGAO PROFETICA PARA UMA IGREJA EM CRESCIMENTO (1850-1888) quando o Senhor acha por bem dar uma visdo, sou levada & presenga de Jesus e dos anjos, e fico inteiramente fora das coisas terrenas. Nao posso ver além daquilo a que o anjo me dirige. Minha atengiio é muitas vezes encaminhada a cenas a acontecerem sobre a Terra. Sou por vezes levada muito adiante, no futuro, e é-me mostra- do o que hé de acontecer. De outras, stio-me mostradas coisas como ocorreram no passado. Depois que saio da visio, niio me recordo imediatamente de tudo o que vi, e o assunto nao me é to claro até que eu escrevo; ent&o a cena surge diante de mim como me foi apresentada em visio, e eu posso escrever com liberdade. Certas ocasides aquilo que vi me é oculto depois que saio da visfio, e nfio o posso evocar até que me encontro perante um grupo de pessoas no lugar a que se aplica a visio; entio as coisas que vi me vém com forga 4 mente. Sou tio dependente do Espfrito do Senhor ao relatar ou escrever uma visto, como ao ter essa visio, E-me impossfvel evocar o que me foi mostrado a menos que o Senhor mo traga diante de mim ao tempo que é de Seu agrado que euo relate ou escreva” (MEI, 36, 37). Da mesma forma, alguns anos depois, Ellen White observou que dependia “tanto do Espirito do Senhor para escrever” sua compreen- sfio como também para recebé-la. E acrescentou: “todavia, as palavras que emprego ao descrever o que vi sto minhas” (MEL, p. 87). Em outra ocasiiio, ela relatou que, as vezes, quando quebrava a cabega tentando encontrar a melhor palavra para usar em sua redagio, Deus lhe trazia & mente a palavra certa para expressar seu pensamento “de forma clara e distinta” (Carta 127, 1902). Assim, como Ellen White percebeu, sua experiéncia era seme- Thante & dos profetas biblicos, uma interagdo entre o humano e¢ o divi- no, Deus lhe concedeu as visdes e a ajudou a comunicé-las aos outros. Se |) PRAZER EM CONHECER ELLEN WHITE Por outro lado, as palavras eram dela, exceto nos casos em que afirmou ter recebido as palavras exatas, Contudo, a partir de suas descrigées, 0 ultimo caso parece ter acontecido raramente. Nao devemos pensar que tudo 0 que Ellen White escreveu es- tava diretamente ligado a uma visdo. Por exemplo, em uma de suas primeiras declaragSes autobiograficas, ela comentou: Ao preparar as paginas que seguem, labutei sob condigdes gran- demente desfavoraveis, pois em muitos casos tive de depender da memoria, nao tendo mantido nenhum diério até bem poucos anos atrés. Em diversos casos enviei os manuscritos a amigos que se achavam presentes quando ocorreram as circunsténcias relatadas, para que os examinassem, antes que fossem para o prelo (ME, 57, 58). Ela continuou dizendo que havia descoberto muitas datas pela verificagio cruzada de suas cartas anteriores. Em resumo, Ellen White usou algumas das técnicas empregadas por historiadores, bem como sua meméria, na reconstrugio de seus relatos. Pesquisas hist6ricas também aparecem no desenvolvimento de O Grande Conflito, publicado em 1888. Assim, ela citou livremente escrito- res histéricos, nfo tanto pela autoridade, mas porque suas declaragdes pro- porcionaram “uma apresentag&o do assunto, pronta e positiva” (GC, 14). De igual modo, seu filho enfatizou A lideranga da Associagiio Geral por ovasifio da revisfio de O Grande Conflito, em 1911: Mamie nunca pretendeu ser autoridade em Histéria. As coisas que ela escreveu sio descrigdes de répidas cenas ¢ outras apre- sentagGes que lhe foram dadas quanto as agdes dos homens, e a influéncia dessas ages sobre a obra de Deus para a salvagiio dos homens, com vistas da hist6ria passada, presente e futura em suas relagSes com esta obra. Em ligagaio com o ato de escrever I | ORIENTACAO PROFETICA PARA UMA IGREJA EM CRESCIMENTO (1850-1888) essas vises, ela fez uso de declaragdes histéricas boas e claras, a fim de ajudar a esclarecer ao leitor as coisas que se esforga por apresentar (MES, 437). Ele continuou dizendo que as leituras que Ellen White realizava na Grea da histéria da igreja “a [ajudaram] a localizar e descrever muitos dos acontecimentos e movimentos a ela apresentados em visdo” (ibid.). Assim, sua pesquisa a ajudou a preencher os antecedentes ¢ o contexto das “rapidas cenas” recebidas por meio de revelagio. O uso que Ellen White fez das obras de outros autores nfo se res- tringiu a t6picos histéricos. Como uma grande leitora, ela escolheu e adap- tou ideias ¢ fraseologias de outros escritores quando sentia que eles falavam da melhor forma possivel em que a mensagem precisava ser transmitida. Assim, W. C. White observou que sua mie nfo sé leu amplamen- te de outros autores sobre a vida de Cristo, mas que ela “admirava a linguagem em que outros escritores haviam apresentado a seus leitores as cenas que Deus lhe mostrara em visio, e considerava [...] um prazer, uma conveniéncia e uma economia de tempo usar a linguagem deles na integra ou em parte ao apresentar as coisas que ela conhecia pela reve- lagio e que desejava transmitir a seus leitores” em O Desejado de Todas as Nagées (MES, 460). Observagdes semelhantes poderiam ser feitas em relagiio a outros escritos de Ellen White. Assim como os profetas da Biblia empregaram documentos literdrios ¢ histéricos em sua escrita, ela também o fez (ver, por exemplo, Nm 21:14, 15; 1Cr 29:29; Le 1:1-4; Jd 14, 15). Inspiragio nem sempre implica originalidade. Por outro lado, a inspiracdo reivindica a orientagao de Deus no desenvolvimento profé- tico e selegao de materiais. Note-se que o uso de fontes por Ellen White nao acontecia de forma mecfinica. Pelo contrario, ela escolheu os pensamentos e frases que estavam em consonancia com a verdade da forma que acreditava, enquanto, ao mesmo tempo, exclufa ou adaptava ideias e fraseologias que estavam em desarmonia com a mensagem dela. Pe || PRAZER EM CONHECER ELLEN WHITE Outra ligfo que obtemos de seu trabalho vem da percepgiio de que nem todos os seus conselhos para individuos e para a igreja tinham origem em visdes especificas sobre aquela situagéio. Ela comparou sua experiéncia com a de Paulo, cuja mente tinha sido instrufda a respeito dos princfpios cristaos e dos perigos que a igreja corria, por meio de vi- sdes amplas e gerais que havia recebido. Como resultado, o apéstolo foi capaz de julgar os desenvolvimentos dentro da igreja com base na visio divina que recebera, embora nfo tivesse recebido uma visao especifi- ca para cada situagéio em particular. Assim, a irma White escreveu: “O Senhor n&o dé uma visto especial para enfrentar cada emergéncia que possa surgir.” Em vez disso, muitas vezes 6 0 método de Deus “impres- sionar o espirito de seus servos escolhidos com as necessidades e perigos de sua causa e dos individuos, e impor sobre eles 0 encargo de aconselhar e advertir” (T5, 685). Uma grande parte de seus conselhos parece se encaixar nessa tltima categoria; uma categoria em que os princfpios di- vinos originalmente fornecidos em visto parecem servir, por intermédio da impress%o do Espirito Santo, em uma ampla variedade de situagdes especfficas as quais esses princfpios poderiam ser aplicados. ORGANIZANDO A IGREJA Uma 4rea importante do desenvolvimento adventista do sétimo dia na década de 1850, em que Ellen White desempenhou um papel crucial, foi a organizagio da igreja. Em geral, o movimento milerita até aquele momento tinha sido antiorganizacional, uma postura que se de- senvolveu por varias razdes. Uma delas era que, como Jesus viria em breve, os mileritas acreditavam que nfo precisavam de uma organizagao. O segundo fator por trés da antipatia de muitos mileritas com relagiio & organizagiio era seu passado em movimentos que se opunham a qualquer coisa que nfo fosse a forma mais pobre da estrutura eclesias- tica. Um desses movimentos foi a Conexio Crista. José Bates, Tiago White ¢ varios dos Ifderes mileritas pertenciam & Conexfo. es ORIENTAGAO PROFETICA PARA UMA IGREJA EM CRESCIMENTO (1850-1888) O terceiro fator para a postura dos grupos mileritas pés-1844 contra a organizagtio da igreja surgiu de sua expulsao de denomina- gdes organizadas em 1843 e 1844, Essa experiéncia levou a maioria deles a concluir que a organizagio da igreja tinha um mal inerente. Como resultado, George Storrs (um lider milerita proeminente) es- creveu, em 1844, que “nenhuma igreja deve ser organizada por ini- ciativa humana, pois no momento em que é organizada se torna uma Babilénia” (MC, 15/2/1844). Por esses motivos, todos os grupos pés-mileritas achavam quase impossfvel organizar uma estrutura eclesidstica. Ninguém o fez antes do inicio da década de 1860, e o tinico a formar uma estrutura adequada foram os adventistas sabatistas. Ellen White © seu marido foram os prineipais individuos por trés do desenvolvimento da organizaciio entre aqueles que formaram a Igreja Adventista do Sétimo Dia na década de 1860. Na tentativa de trabalhar com os crist&os unidos na plataforma douirindria sabatista, o casal logo coneluiu que o que eles chamavam de “ordem evangélica” era essencial. A outra opgfio era a desordem que tanto caracterizou o adventismo pés- milerita no fim dos anos 1840 e infcio da década de 1850. As primeiras observagGes de Ellen White sobre o assunto vieram em dezembro de 1850: “Vi que no Céu tudo esté em perfeita ordem. Dis- se 0 anjo: “Vejam. Cristo é a cabega, movei-vos em ordem, movei-vos em ordem, ‘Tende um propésito para cada coisa.’ Disse 0 anjo: ‘Vede e sabei quiio perfeita, quiio bela é a ordem no Céu; imitai-a’” (MS, 11, 1850). De 1850 a 1854, o adventismo sabatista cresceu rapidamente e atraiu muitos dentre os desorientados crentes do movimento do segundo advento. Também enfrentou o problema de pregadores nfo qualificados instruindo seus adeptos, bem como a questo da disciplina da igreja para aqueles crentes em desarmonia com 0 corpo doutrinario, Foi nessa situagdo que Ellen White publicou um artigo contunden- te intitulado “Gospel Order” [“A Organizagiio do Evangelho”] no inicio de 1854. Ela afirmou no parfgrafo inicial, a ne 5: PRAZER EM CONHECER ELLEN WHITE O Senhor tem mostrado que a ordem evangélica tem sido de- masiado temida e negligenciada. A formalidade deve ser banida, mas por fazé-lo néio deve ser a ordem negligenciada, H4 ordem no Cénu. Havia ordem na igreja quando Cristo esteve na Terra, € depois que Ele partin a ordem foi estritamente observada entre Seus apéstolos. E agora nestes tiltimos dias, quando Deus esté levando Seus filhos & unidade da fé, ha mais real necessidade de ordem que jamais houve; pois ao passo que Deus une Seus filhos, Satands € seus anjos mans esto bem ocupados procurando evitar essa uniaio e buscando destruf-la (PE, 97). Note-se que Ellen White uniu a organizagio da igreja 4 missfo dos adventistas sabatistas para se formar um s6 povo nos iiltimos dias. Assim, elaa vinculou ao alcance efetivo da missiio. A organizagao nfo era um fim em si, mas um meio para um fim. Ao longo da década de 1850, Tiago e Ellen White lutaram lado a lado para levar organizagio aos sabatistas. Porém, eles continuamente enfrentavam a oposig&o de lideres proeminentes no préprio movimen- to. Assim, R. F. Cottrell argumentou na Review and Herald de margo de 1860 que ele achava que “seria errado ‘dar um nome’ a esta organi- zagao, uma vez que essa pratica tem sua base da Babilénia. Eu néo creio que Deus aprova isso” (RH, 22/3/1860). Tiago e sua esposa n&o concordavam com Cottrell e seus esforgos contra a organizagio, por isso enfrentaram abertamente o desafio. Eles jé haviam testemunhado mmuitas das consequéncias da falta de estrutura ¢ ordem formal. Em resposta ao argumento oposto & organizagio, Ellen White disse: Foi-me exposto que alguns temiam que nossas igrejas se tornassem Babilénia caso se organizasse; mas aqueles no centro do Estado de Nova York tém sido uma babilénia perfeita, uma confusao. A menos que as igrejas sejam tao organizadas que possam impora 5 ORIENTAGAO PROFETICA PARA UMA IGREJA EM CRESCIMENTO (1850-1888) ordem, nada tém por que esperar; sero desfeitas em fragmentos. Ensinos anteriores nutriram os elementos de desunifo. [...] Se os ministros de Deus assumissem, unidos, sua posigiio, e se com fir- meza mantivessem sua decisfo, haveria uma influéncia unificadora entre o rebanho de Deus. [...] Entio, haveria poder e forga nas fileiras dos observadores do sbado, que excederiam a tudo quanto temos testemunhado” (T1, 270, 271). A luta pela organizagao, liderada por Ellen White e seu marido, fi- nalmente triunfou de 1861 a 1863. Nessa tiltima data, a Associagfio Geral da denominagfio entrou em ago para unir as varias igrejas e associagdes locais a um corpo unificado: a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Esse desenvolvimento organizacional proporcionou ao ainda pequeno corpo de adventistas sabatistas uma estrutura que lhes permitiria se fortalecer e se tornar o maior corpo de adventistas na virada do século. No entanto, por esse perfodo, a denominagfio jé havia superado sua estrutura de 1863. O adventismo do sétimo dia precisava de uma reorganizagiio drastica para que houvesse crescimento. Em 1901 e 1903, Ellen White se posicionou novamente (como ve- remos no préximo capitulo) no coragao do movimento a fim de reorganizar a igreja para uma missio efetiva. Ela ainda via a organizagao funcional da instituiggo como um elemento crucial na expansio da igreja e na pregacao do evangelho a todo o planeta. Ao contrario de alguns de seus colegas no ministério, ela nao confundiu estruturas externas que se tomnaram obsole- tas com a organizagaio dinamica necessfria, uma vez que a denominagao tinha a missfio de congregar um povo em preparo para o segundo advento. CONSELHOS SOBRE VIDA SAUDAVEL Uma das visdes mais significativas de Ellen White em termos de efeito a longo prazo na formagao do adventismo ocorreu em 5 de junho de 1863. No dia seguinte, ela registrou: De PRAZER EM CONHECER ELLEN WHITE ‘Vi que era um dever sagrado zelar de nossa satide, e despertar outros para seu dever. [...] Temos, porém, o dever de falar e de batalhar contra a intemperanga de toda espécie — intemperanga no trabalho, no comer, no beber e no uso de medicamentos — indicando-lhes entao o grande remédio de Deus: Agua, 4gua pura, para doengas, para a satide, para limpeza e como regalo. [...] Vi que niio devemos nos calar a respeito do assunto da satide, mas despertar as pessoas para isso” (MES, 280). “A obra que Deus requer de nés nfo nos isenta de cuidar de nossa satide, Quanto mais perfeita for nossa satide, tanto mais perfeito ser o nosso trabalho” (ibid., 279). Note-se que a reforma de satide para os adventistas do sétimo dia no era para ser apenas uma coisa pessoal. Havia implicagdes sociais e missiondrias envolvidas. Isso ficou mais claro em dezembro de 1865, quando Ellen White teve uma segunda grande visio sobre o assunto. A visio solicitava que os adventistas estabelecessem a propria institui- gio de satide. Essa instituig&io n&o s6 proveria aos membros adventistas a oportunidade de recuperar a satide em um ambiente espiritualmente agradavel e de aprenderem “a cuidar de si mesmos e prevenir doengas” (T1, 553), mas também um local onde pudessem exercer impacto sobre os nao adventistas. Quando os descrentes frequentam uma instituigfio dedicada ao tratamento bem-sucedido de doengas e que é dirigida por médicos observadores do sabado, séo postos sob direta in- fluéncia da verdade. Tornando-se relacionados com nosso povo e nossa f€, seu preconceito ser superado, ¢ eles favoravel- mente impressionados. Colocando-se assim sob a influéncia da verdade alguns nfo apenas obtero alivio para suas enfermida- des fisicas, mas encontrarfio cura para seu coragio perturbado pelo pecado. .] Essas preciosas pessoas salvas serao de maior 6 ORIENTAGAO PROFETICA PARA UMA IGREJA EM CRESCIMENTO (1850-1888) valor do que todos os meios necessérios para estabelecer tal instituig&o (T1, 493). A vistio de 25 de dezembro de 1865 nfo sé indicou a necessidade de uma instituigao de satide, mas apontou para uma reforma de satide integrada & teologia adventista, mostrando que “a reforma de satide faz parte da mensagem do terceiro anjo, e esté tic intimamente ligada a ela como o brago e a milo esto ao corpo” (ibid., 486). A reforma de satide, do ponto de vista de Ellen White, deveria exercer uma fungao prepara~ t6ria. Era para preparar 0 povo de Deus “para o alto clamor do terceiro anjo” € para ajudé-los a estarem “preparados para a trasladagao” (ibid.). Em outras palavras, a reforma da satide deveria ser fundamental na pre- paragiio dos adventistas para a segunda vinda. Assim como a organizagio da igreja, a reforma de satide deveria ser um meio para um fim e nfo um fim em si mesma. Alguns pregadores © crentes nfo se atentaram a esses aspectos da visdo e se deixaram levar pelo entusiasmo da mensagem da reforma da satide. Como resultado, alguns meses depois, Ellen White corrigiu cui- dadosamente todas as impressdes erradas que ela talvez tenha deixado sobre o assunto, escrevendo que “a reforma de satide esté intimamente ligada & obra da mensagem do terceiro anjo [mensagem do adventismo do sétimo dia], mas no 6 a mensagem em si. Nossos pregadores de- veriam ensinar a reforma de satide, entretanto, sem fazer dela o tema principal, [...] Seu lugar esta posto entre os assuntos que apresentam a obra preparatéria para enfrentar os eventos mostrados pela mensagem.” Entre essas obras “preparatrias”, ela notou que a reforma da satide deve ter um lugar “proeminente” (T1, 559; italico acrescentado). © conselho acima é de importancia crucial, j4 que alguns adventis- tas tendiam ao extremo fanatismo, enquanto outros colocavam a reforma de satide no centro da mensagem da denominag&o. Se assim continuasse, a irma White teria que perseverar em sua argumentagao contra essas perver- sdes do seu ensinamento pelo restante de sua vida. Para ela, a reforma da en 57

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