Você está na página 1de 33

Felipe Alves Masotti

Os profetas Arqueologia e cultura


Sargão II, rei da Assíria
“No ano em que o supremo comandante, enviado por Sargão
rei da Assíria, veio para Ashdod e a atacou e capturou—naquele
tempo o Senhor falou através de Isaías filho de Amoz.”
—(Isa 20:1–2)

❖ Esta era a única referência à Sargão II da antiguidade até que


a universidade de Chicago escavou o local de 1928 à 1935;
❖ Entre as descobertas estão paredes ricamente decoradas e
inscritas, além de uma estátua gigantesca de um boi alado
com cabeça humana (um lamas ou querub) utilizado para
guardar a entrada do palácio real.
Shebna, o enviado real
“Isso é o que o Senhor, o Senhor Poderoso, diz: “Vá, diga a este emissário, para
Shebna o administrador do palácio: O que fazes aqui e quem lhe deu permissão
para fazer uma tumba para si aqui, cortando a sua tumba nos altos e trabalhando o
seu local de descanso na rocha? “Esteja ciente de que o Senhor está prestes a lhe
tomar firmemente e lhe destruir, homem poderoso.”
—(Isa 22:15–17)

❖ Este texto denuncia um oficial do rei Ezequias por sua demonstração de luxo e
extravagância ao construir um túmulo para si mesmo em um outro lugar,
longe de sua família;
❖ Em 1870 um túmulo de pedra foi escavado no vale de Kidron e uma sugestiva
inscrição estava ali contida;
❖ Ademais, uma bulla contendo o nome “Shebnayahu” e o título “servo do rei”
foi encontrada no mercado negro em Jerusalém. Esta é possívelmente uma
outra referência ao tal mordomo real.
“1) Esta é [a tumba de Shebna]…iah, o mordomo real. Não há prata nem ouro aqui
2) mas [seus ossos] e os ossos de sua escrava-esposa com ele. Amaldiçoado o
homem 3) que abrir esta tumba!

—British Museum
Referência arqueológica ao banquete escatológico
“E o Senhor dos Exércitos dará neste monte a todos os povos uma festa com
animais gordos, uma festa de vinhos velhos, com tutanos gordos, e com
vinhos velhos, bem purificados. E destruirá neste monte a face da cobertura,
com que todos os povos andam cobertos, e o véu com que todas as nações se
cobrem. Aniquilará a morte para sempre, e assim enxugará o Senhor DEUS
as lágrimas de todos os rostos, e tirará o opróbrio do seu povo de toda a
terra; porque o SENHOR o disse. E naquele dia se dirá: Eis que este é o nosso
Deus, a quem aguardávamos, e ele nos salvará; este é o Senhor, a quem
aguardávamos; na sua salvação gozaremos e nos alegraremos.”

—(Isa 25:6–9)

❖ Um dos textos que pode indicar uma interpretação inicial do


chamado “banquete escatológico” de Isaías 25 é um texto
chamado “regras da comunidade” encontrado em Qumran.
❖ (11) Esta é a cerimônia dos homens de renome convidados para a festa, os homens do nome. Eles deverão se
assentar.
❖ (12) Deus trará o Messias para estar com eles. O sacerdote deverá entrar diante de toda a congregação de Israel
e todos
❖ (13) os seus irmãos, os filhos de Aarão, os sacerdotes que são convidados para a festa, os homens de nome.
Eles deverão se assentar
❖ (14) diante dele, cada qual de acordo com sua própria glória. E após eles o Messias de Israel deverá entrar. E os
cabeças
❖ (15) dos milhares de Israel deverão se assentar diante dele, cada homem de acordo com sua glória. (E eles
deverão se assentar diante dos dois, cada um de acordo com seu ranqueamento nos seus grupos e jornadas. E
todos
❖ (16) os cabeças dos magistrados da congregação com os seus sábios e os seus conhecedores deverão se assentar
diante deles, cada homem de acordo com
❖ (17) sua glória. E quando eles solenemente se encontrarem na mesa da comunidade para repartir o pão e o
novo vinho, e para organizar a mesa da
❖ (18) comunidade para comer e beber vinho novo, nenhum homem lançará sua mão para a primeira porção do
❖ (19) pão ou do novo vinho diante antes do sacerdote; pois ele abençoará a primeira porção do pão
❖ (20) e do vinho novo, e estenderá sua mão antes de todos. E, após isso tiver ocorrido o Messias de Israel
estenderá suas mãos
❖ (21) ao pão. Após isso toda a congregação da comunidade abençoará e tomará parte, cada homem de acordo
com sua glória. E eles agirão de acordo com este estatuto
❖ (22) sempre que a refeição for arranjada, quando tantos quantos dez homens se ajuntarem solenemente.
O cilindro de Ciro
“Assim diz o SENHOR ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita,
para abater as nações diante de sua face, e descingir os lombos dos reis, para
abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão. Eu irei adiante de ti, e
endireitarei os caminhos tortuosos; quebrarei as portas de bronze, e
despedaçarei os ferrolhos de ferro. Dar-te-ei os tesouros escondidos, e as
riquezas encobertas, para que saibas que eu sou o Senhor, o Deus de Israel, que
te chama pelo teu nome … Eu o despertei em justiça, e todos os seus caminhos
endireitarei; ele edificará a minha cidade, e soltará os meus cativos, não por
preço nem por presente, diz o Senhor dos Exércitos.

—Isa 45:1–3, 13

❖ Texto encontrado em 1879 nas reminiscências do templo babilônico para


Marduque;
❖ Recorda a tomada da Babilônia por Ciro e a soltura de povos cativos como
parte do processo de dominação.
As cartas de Lachish e a invasão de Judá por Nabucodonosor

“E falou Jeremias, o profeta, a Zedequias, rei de Judá, todas estas palavras, em


Jerusalém, Quando o exército do rei de Babilônia pelejava contra Jerusalém, e
contra todas as cidades que restavam de Judá, contra Laquis e contra Azeca;
porque estas fortes cidades foram as que ficaram dentre as cidades de Judá.”

—Jer 34:6–7

❖ Textos inscritos em ostracon foram encontrados em Laquis em 1935–


38. São cerca de 21 cartas escritas por volta do ano 600 BCE e parecem
ter sido compostas durante o cerco da cidade pelos babilônios;
❖ As cartas são parte da comunicação entre comandantes Hebreus e a
resistência na cidade.
“Nós estamos esperando (ou
vigiando) pelos sinais de fogo de
Laquis.”

❖ As cartas parecem ter sido


escritas no fervor da batalha
ou diante da invasão da cidade
pelo exército Babilônico.
Antiga literatura e iconografia das árvores sagradas

“O meu povo consulta a sua madeira, e a sua vara lhe responde, porque o
espírito da luxúria os engana, e prostituem-se, apartando-se da sujeição do seu
Deus. Sacrificam sobre os cumes dos montes, e queimam incenso sobre os
outeiros, debaixo do carvalho, e do álamo, e do olmeiro, porque é boa a sua
sombra; por isso vossas filhas se prostituem, e as vossas noras adulteram.”

—Os 4:12–13

❖ Descrições de jardins na literatura do Antigo Oriente Médio mencionam


fontes, árvores possuindo atributos divinos, e a beleza e fertilidade do local. As
árvores na montanha do cedro, o local aonde os deuses vivem são descritas
como luxuriantes;
❖ Árvores sagradas são também mencionadas nos escritos mesopotâmicos e
representadas na iconografia de palácios e templos.
Parede do palácio de Assubarnipal II
Parede do palácio de Esarhadon
A queda de Nínive
“Os escudos dos seus fortes serão vermelhos, os homens valorosos estarão vestidos de escarlate, os
carros como tochas flamejantes no dia da sua preparação, e os ciprestes serão terrivelmente abalados.
Os carros correrão furiosamente nas ruas, colidirão um contra o outro nos largos caminhos; o seu
aspecto será como o de tochas, correrão como relâmpagos. Ele se lembrará dos seus valentes; eles,
porém, tropeçarão na sua marcha; apressar-se-ão para chegar ao seu muro, quando o amparo for
preparado. As portas dos rios se abrirão, e o palácio será dissolvido. É decretado: ela será levada cativa,
conduzida para cima; e as suas servas a acompanharão, gemendo como pombas, batendo em seus
peitos. Nínive desde que existiu tem sido como um tanque de águas, porém elas agora vazam. Parai,
parai, clamar-se-á; mas ninguém olhará para trás.”
—Na 2:3–7

❖ As crônicas babilônicas, tabletes cuneiformes que incluem informação a


respeito da história dos reis babilônicos do 8o século BCE, contém informação
a respeito da queda de Nínive;
❖ Estas informações coadunam com o livro de Naum, o qual elabora
consistentemente a respeito de tal queda e da consequência das ações ímpias
daquela cidade.
“O rei de Akkad chamou seu exército e
Cyaxares, o rei de Mandahordes marchou
em direção ao rei de Akkad, … eles se
encontraram. O rei de Akkad … e Cyaxares
… eles foram transportados em balsas e
marcharam às margens do rio Tigre e … se
acamparam contra Nínive…” (ANET 304).

“Do mês Simanu ao mês Abu, três batalhas


foram travadas, então eles fizeram um
grande ataque contra a cidade. No mês de
Abu … ele infligiu sobre toda a população.
Eles transformaram a cidade em ruínas e
monturos…” (ANET 304–5).
Evidência arqueológica de crueldade em guerra na Antiguidade

“Porque eis que suscito os caldeus, nação amarga e impetuosa, que marcha sobre a
largura da terra, para apoderar-se de moradas que não são suas. Horrível e terrível é;
dela mesma sairá o seu juízo e a sua dignidade. … Ele a todos levantará com o anzol,
apanhá-los-á com a sua rede, e os ajuntará na sua rede varredoura; por isso ele se
alegrará e se regozijará.”

—Hab 1:6–7, 15

❖ Diversos textos e representações iconográficas demonstram a


crueldade em guerra do império Assírio e de seus sucessores;
❖ Imagens e descrições de tais cenas dantescas chegaram até
nós através de materiais muito bem preservados.”
“Quando uma cidade resistia o máximo possível
ao invés de se submeter imediatamente, o rei
Ashurnasirpal orgulhosamente recorda a sua
punição: ‘Eu esfolei tantos nobres quanto os que se
rebelaram contra mim e cobri a pilha de corpos
com a pele deles; alguns eu espalhei dentro da
pilha, outros eu levantei em estacas sobre a pilha
… eu esfolei muitos ao longo de minha terra e
estiquei a pele deles nos muros.”

—Albright, Nebuchadnezzar, 1956, 4.


O fim de Ecrom
“Porque Gaza será desamparada, e Ascalom assolada; Asdode ao meio-dia será expelida, e Ecrom será
desarraigada.”

—So 2:4

❖ O inimigo de Israel melhor conhecido na Bíblia eram os Filisteus. Eles emergiram de um grupo dos povos
do mar Aegeu que invadiram a planície litorânea de Canaã no 12o Século BCE;
❖ Durante o período dos juízes eles se tornaram o inimigo mais formidável de Israel, se encontrando com
Sansão, Samuel, Saul e Davi;
❖ Uma das primeiras cidades filistéias mencionadas na Bíblia é Ecrom. Esta era uma cidade de fronteira
entre as cinco maiores cidades filistéias e se tornou um dos maiores centros comerciais do 8o século BCE;
❖ Documentos assírios mencionam esta cidade, sendo sua tomada pelo exército Neo-assírio em 700 BCE
destacada em um painel no palácio de Sargão II;
❖ A cidade foi finalmente destruída em 603 BCE por Nabucodonosor, tendo Sofonias predito sua queda em
625 BCE;
❖ O local de Ecrom foi identificado em 1995 depois da descoberta daquilo que viria a ser chamado “a
inscrição de Ecrom.”
“Este templo foi construído por ‘Akish, filho de Padi, filho de Yasid, filho de
Ada, filho de Ya’ir, governante de Ecrom, para Ptygyh, sua senhora divina.
Que ela o abençoe e o guarde, e prolongue seus dias, e abençoe sua terra.”
Gitin, Dothan, e Naveh, A royal Dedicatory, 9.
O candelabro de sete pontas
“E disse-me: Que vês? E eu disse: Olho, e eis que vejo um castiçal todo de ouro, e um vaso de azeite no
seu topo, com as suas sete lâmpadas; e sete canudos, um para cada uma das lâmpadas que estão no seu
topo.”

—Zac 4:2

❖ Estudiosos discutem a configuração do candelabro/castiçal


descrito por Zacarias;
❖ Contudo, descobertas arqueológicas parecem indicar que o profeta
está descrevendo um castiçal muito utilizado em seu tempo. Este
tinha sete pontos em que pavios poderiam descansar e queimar
tirando combustível de uma espécie de bacia abaixo dos mesmos.
Evidência arqueológica sobre as condições de Judá

“Se não ouvirdes e se não propuserdes, no vosso coração, dar honra ao meu nome, diz o Senhor dos
Exércitos, enviarei a maldição contra vós, e amaldiçoarei as vossas bênçãos; e também já as tenho
amaldiçoado, porque não aplicais a isso o coração.”

—Mal 2:2

❖ O consenso na academia a respeito do livro de Malaquias é de que sua composição teria


ocorrido entre a finalização do segundo templo em 515 BCE e o trabalho de Esdras e Neemias;
❖ O período exílico e pós-exílico geralmente é tratado por livros de arqueologia como de
pequena monta, dando a impressão de que Judá tinha sido totalmente destruída;
❖ Escavações, contudo, de alguns sítios arqueológicos demonstram que muitos pequenos
assentamentos sobreviveram e, portanto, a vida pós-exílica não era formada apenas por
pessoas retornando do cativeiro mas também por grupos de judeus que nunca foram ao exílio;
❖ Em locais como Tel en-Nasbeh (Mispa), Gibeão, Betel e Tell el-Ful (Gibeah) achados
arqueológicos demonstram a existência de uma relativa vida segura entre os camponeses, que
seguiu como tal no período pós-exílico.
Papiros aramaicos de Elefantina sobre contratos de casamento

“E dizeis: Por quê? Porque o Senhor foi testemunha entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu
foste desleal, sendo ela a tua companheira, e a mulher da tua aliança.”

—Mal 2:14

❖ Há um debate sobre se a referência deste texto é à práticas cultuais ou sociais.


Contudo, uma importante e preeminente linha de interpretação toma o
contexto desta passagem como uma referência à uniões civis com mulheres
provenientes de nações pagãs, um ato de violação da lei de Moisés. Assim, Mal
2:14 seria uma referência à um segundo ato de violação pactual em que as
mulheres Israelitas estariam sendo divorciadas por seus maridos;
❖ A descoberta de documentos da ilha de Elefantina no Egito possivelmente
ajuda na compreensão deste texto ao demonstrar a existência de pelo menos
sete contratos de casamento prevendo a possibilidade (contrária às leis
divinas) de se separar.
Alusões ao retorno de Elias nos Manuscritos do Mar Morto

“Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor. E ele
converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha, e fira
a terra com maldição.”

—Mal 4:5–6

❖ A vinda do profeta Elias antes do grande e terrível dia do


Senhor descrita pelo profeta Elias é aludida em escritos
encontrados em Qumran;
❖ Um documento fragmentário conhecido como “Visão B”
contém a expectativa de Elias como aquele que vem antes do
julgamento divino do mundo. Outros documentos em Qumran
igualmente parecem se referir a esta promessa do livro de
Malaquias.
❖ Visão B: “portanto eu enviarei o profeta Elias an[tes…];
❖ Apocalipse Messiânico: “…e a lei do seu favor. E eu os
libertarei […] isso é cer[to:]. Os pais retornarão aos
filhos.”
❖ 4Q382: “Para entregá-los nas mãos de cada nação [de…]
[…] até o tempo em que um homem poderoso se
levantará […] […] […] porque para todos os espíritos e
[…] [… the pr]ofetas […].”

Você também pode gostar