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captTuLo 2 AAngustia na Contemporaneidade co que acéncia moderna conseguiu dominar em grande | exaloas eidemis bacterianas que antigamente dzimavs | espais.Provaelmente a técnica, quase todo-poderosy, | tanbém acabord com o atual perigo da poluito da dgue 4007 daterra,Iqualmente hé bastante esperanca de conte «perio de anquilagofisica da humanidade por explosdee de bombas atémicas. Mas tudo isto sto antes tentatvas save de primero plano. O préprio mage mats ints sr fumano se encontra em extreme perigo. Gois.oelocionamas W [Merdard Boss, Anguistio, Culpa ¢ Liberia, - ‘ser (1989) deixa evidente a possivel rela 40 entre as realizagées ayy mesmo tempo em que dis ‘Podemos dizer que a angiis- a do existencial anguistia. Este € refletr sobre a angistia na contem- Neste inicio de reflexio sobre a contemporaneidade, a principal in- terlocucao se fara com Zigmunt Bauman, que sublinhou de maneira relevante as questdes sociais e suas relagdes com o campo da subjetivi- dade. Principal mas nao exclusiva, pois a contribuigdo de outros autores, também esta presente. Apés esse quadro geral sobre o contemporaineo sua forma recorrente de encobrimento da angistia, pensaremos sobre as consideragies de Martin Heidegger acerca do nosso contexto hist6rico ¢ sua relevancia para o campo da Psicologia. inn Angistiae Existéncia na Comemporancidade | °O Contemporaneo eo Espetaculo 0 mundo parece-nos uma versio monstruosamente gb, gruélica da internet: por toda parte, todo mundo aumen to univers de Hix mas ninguém parece visualize gg quanto mais controls Por toda parte desenrol-se un ogg troe sem regras legiveis a governé-lo. Por toda parte, cada ‘rpea gadorjoga um ogo particuls; mas nnguém becom crea gay Ge jogo et jogendo, se que hi algun.” (Zigmunt Bauran, gy Iniciamos nosso estudo. apresentando a sociedade contemporinea com inserida em uma época de méquinas cibernéticas e computadores que a comunicagio instanténea e o controle continuo parecem formar subjetvidades marcadas pela velocidade e pelo imediatismo dos fs da propria vida. Temos a configuragao de uma sociedadecaleada em ‘modelos fluidos de controle da subjetividade, em prazeres descartves, cem relagoes passageiras e obsoletas. Falamos, entéo, de uma sociedade fluida que se caracteriza pela des centralizagéo, pela invisibilidade e-pela.onipresenca e que implica un modo-de-controle do. tempo, do corpo.¢.da. vida, Vida que, por seu ce riter trigico, comporta a angiistia, Esta, por sua ve7, deve ser encoberta a fim de nao se tornar um impedimento para as chamadas realizagoes pessoais. ‘A contemporaneidade parece criar saberes/verdades que nao apenas justificam a angistia como algo patolégico a ser evitado como, sobretu- do, corrobora o uso dos mais variados meios, inclusive farmacéuticos, para traté-la, Essas regras do jogo pela sobrevivéncia sio ao mesmo tem po individualizantes e totalizantes na produgao de uma subjetividade esperada pelo capital. Na medida em que opera pela produgio de uma subjetividade liqui- da (Bauman, 1998), a sociedade imprime um novo contorno do social ‘no qual somos intimados a agir incessantemente na busca pelo prestigi® pelo reconhecimento, pela informacio € pelo conhecimento. Estamos Pe que podemos chamar de campo do espeticulo que vai muito Se See ema ae ‘explica que o espetaculo é uma forma de sociedade ae Que a vida real — ree fragmentiria,€ 0s individuos s80 obtigados a con e + ef passivamente as imagens de tudo 0 que Ihes fl ‘ wal epeticulo & uma verdadetra rel veil templar e Ita na vida ial, em que ele proprio criou, a radical a todo ¢ terrena e mate! ohomem se exé governado por algo que, na verdade, 0 ponto de partida do seu pensamento é uma critic. qualquer tipo de imagem que leve 6 homem & passividade e & aceitacio dos valores preestabelecidos pelo capitalism: “O-espetéculo nao eum é Ok essoas, mm la Porimagens’-(Bebord, 1997, p. 7), Para 0 filésofo, cineasta e ativista francés, contaminada pelas imagens, sombras do que efetivamente existe, O es- Petéculo é, a0 mesmo tempo, parte da Sociedade, a propria sociedade e seu instrumento de unificacéo, @ sociedade encontra-se “O espeticulo, Compreendido na sua totalidade, & simultaneamente © resultado ¢ 0 Projeto do modo de producio existente. Ele nio é um complemento do mundo real, um aderego decorativo, E o coragio da ‘tvealidade da sociedade real. Sob todas as suas formes Particulares de {informasio ou propaganda, publicidade ou co nimento, dominant mnsumo direto do entrete © espetaculo constitui o modelo presente da vida socialmente Ne. Ele € afirmagdo onipresente da escolhajé feta na produ ‘#0, €n0 seu corolirio - © consumo." (Debord, 1997, p. 13) Debord (1997) afirma que, na vida das sociedades nas quais reinam. &smodernas condicdes de pro \dugao, tudo o que era vivido diretamente . Ou seja, pela mediacdo das imagens e ensagens dos meios de comunicagio de massa, 0s individuos em so- iedade abdicam da dura realidade dos acontecimentos da vida, e pas- fornou-se uma representaci : : aréncias e pelo consumo ‘am a viver em um mundo movido pelas ap: a m ; i jercadorias. Nesse mar de Permanente de fatos, noticias, produtos ¢ mercado ; : imos a imagem ao objeto, a cépia ao ori- ieee Juco a ter que refletir Binal, o simulacro ao real. Preferimos qualquer solugio a ter q “ ee . i famento de Sobre no: isténcia e sua inerente tragicidade. No oc ‘ sproien is ficiente, Na blemas, qualquer produto ou mereadoria € ma , ae éncia da angtistia di passa- base e cauterizar nossas dores, # experiéncia a i a por gutica instantinea que alivie esse wu terapéutica inst gem a qualquer medicamento “mal-estar”. A Angistia na Contemporaneidade | culo das brevidades, das slug&es répidas dss, .s controlar, nos faz encobrir sistematicaments cs ‘mesmo que por alguns instantes, nos tre dnd ] prazeres ou na busca de pequenas a | speticulo, como bem afirma Debor da passividade moderna. Reco indefinidamente na sua préprig Esse espet que tudo podemo quer fendmeno que, teiro incessante na busca de de felicidade. Este mundo do es nao tem poente no império o sol que toda a superficie do mundo e banha-se i lia” (1997, p. 24). Ccspetéculo pode deatual, Tl espeticulo consste na multiplicag principalmente através dos meios de comunicaca ‘pém dos rituats politicos, religiosos e habitos de consumo, de tudo aqui Jebridades, atores, politicos, Jo que falta vida real do homem comum: personalidades, gurus, mensagens publicitérias ~ tudo transmite uma sensacao de permanente aventura, flicidade, grandiosidade ¢ ousadia. a aparéncia que confere integridade€ sentido a uma sociedade esfacelada e dividida. E a forma mais celaborada de uma sociedade que desenvolveu ao extremo o“fetichismo da mercalo- | ria’, onde a felicidade identifica-se com o consumo. Os meios de comunt- cagio de massa, dz Debord (1997), sio apenas ‘a manifestagio superficial mais esmagadora da sociedade do espeticulo, que faz do individuo um set infeliz, andnimo e solitério em meio & massa de consumidores” (p. 23). ‘Com a presenga incessante dos meios de comunicacao de mass, 0 homem passa a ser €viver uma vida sonhada e iealizada, Vivendo i nesse imaginério, ele se perde no impessoal que Ihe fornece toda a est" produgao da socieds 1 de cones e imagers, 10 de massa, mas tam- Angistia€ Existéncia na Contemporaneidade | & espetdculo se mostra como tura de sentido esperada e previs prevst, Na medida em : se romy wee “controle onfrontam: : i Uma anguistia que, forcosamente sufocada, ndo nos sinaliza outras préprias de existéncia, ae Nesta sociedade do espeticulo, temos uma vida im wadid. gens, operacionalizando modos de subjetividade, 'a pelas ima- as ver ¢ medicalizadas. Nesseroteito das aparéncias, qualques ej reas Wer tipo de mento’ entre eles a anglstia, deve ser extirpado na media ‘sofri- dem qui 'e pode Ue atrofia os idedrios capitalistas de consumo permanente, de desejos cae in- saciaveis ede insatisfagao constante. : [Nesse panorama que engorda o individualismo e alimenta o narci- sismo exacerbado, Debord coloca: “[-] no plano das técnicas, a imagem construida eescolhida por out pesoase toma incl doin como mundeqee an tes, ele olhava por si mesmo, de cada lugar aonde pudesse i. A partir de enti, Event queaimagem seria sustentaso de ops eno de ‘uma imagem é possivelustapor sem contradigio qualquer coisa, O fluxo MAS, a0 denonninada iquida, Tudo & emporio, Ascoy ae ode ser lic volatilidade.” tivas; ‘ciam os fluxos, a flexibilidade, a (Cametene, 2094 ae fica dificil pensar 0 mecanismo de a imentog ntte ge nesascorcaoes 180 $40 oy, Meng fe angistia vivido m8 contemporaneidade. Produzimos We don mento a 30 con, bi reser estar que “sam 0 imediatismo, a estetizacio do corpo, © 8 econ : seo ber-esta supremo. Na contemporancdade Roam, 0 era guale ; i Pum eke, paperanian ansta pouco vivid como momento de fematiza io ical, se jago des. Néo penstn0s ¢ angiistia como um fenémeno que aor aatil, Be caida singularza € 8 reflexdo temética sobre nossa existén- “ompreender es ot meiramente apensarios COmO Um ‘mal-estar a ser extirpado na atl, nem qe rua a caela dos uxos do contemporaneo. Fluxos pel gdos pa voltiade por valores S08 ‘marcados pela labilida- *Sentiicam dee instantaneidade. "PO er gue, ovis, quando falamos de angistia podemos dies com ccerta tran- digea que aide, que em nenbuma outa époct ieros tantas e to signifi- sulo XX, Podemos dizer também que @ ‘ativas mudangas quanto no séci certa inquietacio, e que por isso pensamos logo em ‘realizam angistia nos traz cus con- tratamento ou cura, acreditando que seja um mal a ser eliminado. Na eapelo ior parte das vezes,consideramos a angistia uma patologia ue A ae esconforto e preocupesao. A angista eo sofrimentoexistencial foram vide absorvidos pela gica de mercado ¢ transformados em uma quimica ‘ade a ser ingerida cotidianamente em uma maneira “eficiente” e “pritica” de resolugdo dos problemas que atravessam a vide atual. A banaliza- lorido dos diversos. oda existéncia humana se revigoraentao pelo ol podicamentosfacilmentereceitados por qualquer um, em qualquer Ii- ‘gar Assistimos ao surgimento dos consumidores que curtem a quimica do bem-estar consigo mesmo € com 0 mundo. Angustiar-se por qué? Seem nenhuma outra época tivemos disponiveis tantos medicamentos quanto atualmente! Entender a angistia Pare qué? ‘Na contemmporaneidade parece haver o predominio de uma dinami- ca psiquica que pode ser lida através das novas formas de apropriacio do corpo, da estetizagao do cotidiano, das novas formas de construgao denier, dos rituas da vide eda mort, bem como as formas perma- nentemente atualizadas de parologizagao da angtistia. Nessas tentativas de fomentar e ocular 4 angtistia, nosso momento atual aponta para in- rrangas que caracterizam 0 nosso tempo. Escapamos de certezas e insest! jode-sipara permanecer mergulhados na impessoalidade, uma apropriagé ‘A Angistia na Contemporaneiase | 8 Angiistiae Existéncia na Contemporaneldade | Isto porque o mundo de fato melhorou teenologicament, Hios aspectos tomnou-se extremamente indspito parg Ee Pe ve humana. Somos intimados a participar de um mundo em me acelerado, imediatista, efémero, que Promove o ‘um modo de relagio objetivo e especifico entre os h imeniy narcisismo exacerbadg, a jomens, De fato, o cenério contemporaneo delineia uma estr, utura poli. a margem de tes. O8 proj. em que acomo. co-social que coloca qualquer manifestacio de angiistia qualquer reflexao sobre os modos de subjetivacao vigem tos de vida individuais nao encontram terreno estivel dem uma ancora, O sentimento dominante agora é a sensacdo de um novo tipo de incerteza, nao limitada a prépria sorte e aos dons de uma pessoa, mss igualmente a respeito da futura configuragio do mundo, da maneita correta de viver nele e dos critérios pelos quais julgar os acertos ¢ os er- os da maneira de viver. Abragada a essa incerteza temos a angiistia que encontra morada e remédio nesse panorama atual. Temos uma mensa- gem constante de indeterminago e maleabilidade do mundo. ‘Todos esses pontos constituem uma configuragao de mundo vulne- ravel e fugaz no que se refere aos modos de estar no mundo e nos tipos de relacao que se estabelece com ele. Tendo referéncias tdo fluidase sen- sages to inconstantes, somos provocados pela proliferacio de forgas que abalam continuamente nossas ilusées identitérias, bem como nos- sas ilusdes de controle sobre o devir. Nesse contexto, podemos falar de angiistia? Podemos falar de uma anguistia frente 4 dimensio trégica da vida? Frente & falta de determinago? Frente ao nada? © Mundo Globalizado dos Turistas e dos Vagabundos ‘Um mundo que se pretende definido e disposto segundo as linhas € 0 ‘compasso da ciéncia e do poder nao se coloca essas questoes, uma vez que esta dimensio trigica da vida deveria fazer parte somente das elt- cubragies filosoficas e psicoldgicas. Assistimos a um eficaz aprisiona- mento que se efetua em lugares universalmente chamados de interiores. Interiores que, segundo Baptista (1999), se expressam em solitarios € cos inconscientes ou personalidades, torn, nb = : wando a vida prj mons individual & margem da historia, Esta recta re a compreensao usual da angiistia como algo pertence, nie a une jan eto st queneEESSa Ser aconselhadocietadoe, weal 0, elicado sta existéncia privada, individualizada e ag ‘etes prisioneira dos esencialismos, ditados por deuses on estruturas Pensaraexisténci: a ‘iginaric | Heigemumarelagéo de cooriginariedadecomomundo | 5 contraria a ideia de uma simbolos, que, de acordo com Baptista (1999), Gonsumidora de matéria apodrecida pela ideia e Scomo globalizagao, Ela estd na ordem do dia, uma palavra uestao de segundos, tornou-se um Jema, uma encantagio ma- e acordo com Paul Veyne (1988), se para alguns essa encantacio BObalizadora diz o que devemos fazer para sermos felizes, para outros €sta mesma encantagao é causa de infelicidade. Todavia, existe algo que é 40 & 0 destino irremediivel do mundo, um ©comum a todos: a globalizagio &0 destino irremediavel d i a todos com maior ou menor intensida Processo irreversivel que afeta a todos com lizados. Existe neste mundo globalizado ‘ie, Estamos todos sendo globalizados ean 1? Existem momentos para indagagbes e ing 0 para a angtisti 4 que somos mergulhados em uma ime cia? Ou ser que s les sobre a exist pessoalidade onde noss Mistio ng Contemporaneidade | Angistia@ xstencia na Contemporaneidade | tanto divide como une; divide enquanto une = a0 idénticas as que promovem a uniformidade do dor antag poe Fast Em algumas de suas obras, Bauman destaca unng Metiforne) faces ratifie ‘rr um slo 0s herds ¢ a5 vias do capitalism feet — or cegando PA ane sven ete os tars os vagaundos¢4 air eas gies? divisio da sociedade contemporinea,tefletindo uma sociedademay, wag or umn tempo um expago flesveis, em muta consate end + gamos ‘ele €ahabildade de se mover Por um ado tos otra ee nobis ue recusam qualquer forma de ixago; movimentam-se peru, vores Preferems saem e chegam a qualquer tempo eem qualquer espago pan ios realizar seus sonhos, suas fantasia, suas necessidades de consume coy angular «atilo de vida, Por outro, emos os *vagabundos, que “so has eae asta A sue refltem o brilho de sbisbrilhantes, 0s restos do mundo que anto«

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