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btn | cris ao CRAIG Crendo em Deus, mas vivendo como se ele n istis Ocrispdoateu CRAIG GROESCHEL vy Vida Eprrora VIDA Rua Conde de Sarzedas, 246 Liberdade CEP 01512-070 Sao Paulo, SP ‘Tel. 0 xx 11 2618 7000 Fax: 0 xx 11 2618 7030 www.editoravida.com.br Editor responsivel: Marcelo Smargiasse Eeditor-assistente: Gisele Romao da Cruz Santiago Editor de qualidade e estilo: Sonia Freire Lula Almeida ‘Tradugao: Jurandy Bravo Revisio de tradugdo: Josemar de Souza Pinto Revisao de provas: Noemi Lucilia Soares Ferreira Projeto grifico e diagramagao: Claudia Fatel Lino Capa: Arte Peniel 1 I reimp.: 2 reimp. 34 reimp.: 4 reimp.: St reimp.: Dados Internacionais de Groeschel, Craig, cristao ateu: crer em Deus, mas viver como se ele nio e» (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) ©2010, Craig Groeschel tulo do original ‘The Christian Atheist Copyright da edigio brasileira ©2012, Editora Vida “Tradugao de Jurandy Bravo Edigfo publicada com perm ‘ZONDERVAN (Grand Rapids, Michigan, EUA) sao de ‘Todos os direitos em lingua portuguesa reservados por Editora Vida. PROIBIDA A REPRODUGAO POR QUAISQUER MEIOS, SALVO EM BREVES CITAGOES, COM INDICAGAO DA FONTE, Scripture quotations taken from Biblia Sagrada, Nova Versao Internacional, NVI® Copyright © 1993, 2000 by International Bible Society ®. Used by permission IBS-STL. US. All rights reserved worldwide. Edigao publicada por Editora Vida, salvo indicagéo em contritio. “Todas as citagdes biblicas e de terceiros foram adaptadas segundo o Acordo Ortogeatfico da Lingua Portuguesa, assinado em 1990, em vigor desde janeiro de 2009, . edicdo: jun. 2012 set. 2012 nov. 2012 jun. 2013 out. 2014 jun. 2016 Catalogago na Publicagao (CIP) tisse / Craig Groeschel; [traduglo Jurandy Bravo}. — Sao Paulo: Editora Vida, 2012, Titulo original: The Christian Atheist: Believing in God but Living as if He Doesn't Exist. ISBN 978-85-383-0238-4 1. Conversio 2. Mudangas de vida — Acontecimentos 3. Vida crista 1. Titulo. 12.03567 cpp -248.28 Indices para catélogo sistemitico: 1. Superagdo : Experiéncia crista istianismo 248.25 Eles afirmam que conhecem a Deus, ‘mas por seus atos 0 negam; sao detestaveis, desobedientes e desqualificados para qualquer boa obra. —Tito 1.16 Agradecimentos A TODOS QUE CONTRIBU[RAM com O cristdo ateu, sou-lhes muito grato. Reconhego que estou em débito particularmente com Dudley Delffs, Angela Scheff, Tom Dean, Brian Phipps ¢ toda a equipe da Zondervan — é uma honra associar-me a vocés. ‘Tom Winters — obrigado por acreditar neste projeto muito antes de qualquer um. Brannon Golden ¢ Brian Smith — vocés sao incriveis com as palavras. Ali Bergin, Lori Bailey, Bongi Wenyika e Sarah Mclean — obriga- do por lerem 0 manuscrito ¢ pelas sugestées valiosas. Catie, Mandy, Anna, Sam, Bookie ¢ Joy — nao hd pai no mundo mais abencoado do que eu. Amy — vocé éa melhor crista que conheco. Vamos envelhecer juntos. Introdugao Capitulo 1 Capitulo 2 Capitulo 3 Sumario Agradecimentos ..... Carta ao leitor.... Um cristéo ateu em recuperagéo ... Quando vocé cré em Deus, mas nao 0 conhece de verdad Quando vocé cré em Deus, mas tem vergonha do seu pasado... Quando vocé cré em Deus, mas ndo tem certeza de que ele 0 ama... | O cristao ateu Capitulo 4 Quando voce cré. em Deus, mas nao na OrAgad verre OL Capitulo 5 Quando voce cré em Deus, mas ndo 0 considera justo 77 Capitulo 6 Quando vocé cré em Deus, mas se recusa a perdoar ..........93 Capitulo 7 Quando vocé cré em Deus, mas néo se acha capaz de MUAAT sse.erse.- a ie Capitulo 8 Quando vocé cré em Deus, mas ainda vive 0 tempo todo preocupado ........00+» pase sessseee LIZ, Capitulo 9 Quando vocé cré em Deus, mas busca a felicidade a qualquer prego... .131 Capitulo 10 Quando vocé cré em Deus, mas confia mais no dinheiro coeast vebsees eee 2 Capitulo 11 Quando vocé cré em Deus, mas ndo compartilha sua fe so eed 57. Capitulo 12 Quando vocé cré em Deus, mas nao na igreja dele.....1..175 Posfacio Fé para a terceira linha... oe see el Ot Carta ao leitor SENTAR-SE AO LADO DE estranhos em um aviao proporciona diversio e surpresas infinitas — ainda mais no meu caso, que sou pastor. Antes que os viajantes inocentes descubram como ganho a vida, hossa interag4o costuma ser fécil ¢ prazerosa. Mas, assim que desco- brem minha profissao, a conversa toma outro rumo. As vezes a discus- so ganha maior sentido, fato decorrente de um laco espiritual comum. Outras vezes torna-se acalorada quando as pessoas descarregam suas - dividas, confusées ou feridas espirituais. Também acontece de fones de ouvido ser acionados e palpebras se fecharem, sem deixar dtividas de que a conversa terminou. Em uma viagem recente, precisei tomar dois voos para chegar a meu destino. No meu primeiro, sentei-me ao lado de Travis, casado, meia- -idade, pai de dois filhos, voltando para casa depois de uma viagem de negécios bem-sucedida. No voo seguinte, sentei-me junto a Michelle, O cristao ateu uma universitaria excepcionalmente espirituosa ¢ brilhante, de 23 anos, no comego das férias de verdo. Ambos estavam cansados. Ambos ansio- sos por chegar & casa deles. ambos ateus — embora de tipos muito diferentes. ‘Travis era um atcu convencional. Como a maioria deles, negava por completo a existéncia de Deus. Nao orava, nao lia a Biblia, nao frequen- ianismo era a tava uma igreja. A tnica coisa que lhe agradava no cri possibilidade de fazer piadas dos pregadores televisivos. Soltou uma gar- galhada alta ¢, imitando um sotaque denso, meloso, declarou: — Nao acredito em Deus! Na primeira parte do voo, discutimos a dificil situagdo profissional de Travis no mercado financeiro. Dois anos antes cle ocupara 0 topo do mundo, onde a rotina consistia em fechar contratos em diversos mercados, Agora nao conseguir negociar pregos em bazar do tipo “familia vende tudo”. A economia debilitada ea renda menor forgaram-no a implementar mudancas significativas de estilo de vida. Contudo, ele demonstrou ter calma e esperanga de que tudo voltaria a0 normal em pouco tempo, Foi quando Travis vociferou: — Quer dizer entao que vocé é pastor? — Esforcando-se ao maxi- mo para manter a cordialidade, ele perguntou em tom evidentemente sarcdstico: — Isso quer dizer que vocé acredita na criagéo literal em sete dias, imagino cu? Sem me deixar responder, Travis se pos a despejar uma répida en- xurrada de palavras anticristas: — Nao quero ser desrespeitoso, mas 0s cristéos so 0 povo mais fraco que existe. Usam a religiao como muleta para evitar 0 mundo real. E, quanto mais falam do cristianismo, mais hipécritas sao. Varios minutos depois desse discurso bombistico ¢ ininterrupto, Travis de repente parou. Quase como se apresentasse a possibilidade de uma trégua, disse: Carta ao leitor — Bom, se existir uma eternidade, tenho certeza de que vocé estara garantido, j4 que é pastor. Quanto a mim, creio que me sairei tio bem quanto a maior parte das pessoas. O resto da conversa foi agradavel. Travis nao mudou meu ponto de vista sobre Deus, nem eu o dele. Ambos esperévamos que a economia melhorasse logo ¢ nos despedimos com um amigivel adeus. Michelle, a jovem universitdria ao lado de quem me sentei no voo seguinte, enquadra-se em um tipo muito diferente de ateu — 0 cristo. Os cristaos ateus est4o por toda parte. Frequentam igrejas catdlicas, batistas, pentecostais, nao denominacionais e até aquelas em que o pas- tor diz “Deus!” em tom denso ¢ meloso durante a pregacao. Frequentam grandes seminarios, as dez maiores universidades do pais e outras facul- dades em geral. Ha de todas as idades, ragas ¢ profissoes — alguns até leem a Biblia todos os dias. Os cristaos ateus se parecem muito com os demais. Apenas vivem de maneira muito parecida com a de Travis. Antes de 0 aviao decolar, Michelle deu infcio 4 nossa conversa. Um pouco nervosa por ter de voar, parecia ansiosa para falar com alguém, como se isso ajudasse a fazer que a viagem passasse mais depressa. Apds descrever suas dificuldades pata equilibrar as finangas e lidar com os pais divorciados ¢ com 0 namorado com quem morava — ¢ que morria de medo de casamento —, perguntou-me sobre minha vida. Para evitar ir direto ao “sou pastor”, expliquei que tenho esposa e seis filhos. — Seis?! Ainda nao descobriu como elas nascem? — brincou. Depois de mais alguma conversa superficial, Michelle perguntou como ganho a vida. Incapaz de me esquivar do inevitavel, respondi: — Bom, na verdade, sou pastor de uma igreja. A revelagao permitiu a Michelle soltar uma torrente de palavras € histérias cristas. Inserindo um “Deus me disse” ¢ “Deus é bom” de vez ui O cristao ateu em quando na fala, sorria de leve ao descrever como “entregara a vida a Jesus” aos 15 anos, em um acampamento cristéo para jovens. Na época, depois de orar com toda a sinceridade, nao vira a hora de voltar para a escola a fim de compartilhar sua fé ¢ viver uma vida de pureza ¢ integri- dade espiritual. Apegara-se 4 nova crenga em Deus, mas logo resvalara para o antigo estilo de vida. Como se em um confessiondrio, Michelle continuou despejando os detalhes mais obscuros da sua vida. Abaixou o olhar ao admitir fazer com 0 namorado, com quem morava, coisas que sabia serem impréprias. Contou-me que desejava ir igreja, mas o trabalho ¢ 0 estudo a ocupa- vam demais. Orava sim, muitas noites — a maior parte das vezes para que o namorado se tornasse cristéo como cla. — Se pelo menos ele acreditasse em Jesus, entao talvex quisesse ca- sar comigo — afirmou, enxugando as ldgrimas. No fim, Michelle deu voz a uma tltima confissao: — Sei que minha vida nao tem muito a ver com a vida crista como ela deve ser, mas acredito mesmo em Deus. Bem-vindo ao ateismo cristéo, no qual as pessoas creem em Deus, mas vivem como se ele nao existisse. Por menos que me agrade aceité-lo, vejo esse tipo de ateismo em mim também. Pode-se achar que um pastor nao lutaria com nenhuma forma de atefsmo, mas com certeza eu 0 fago. Lamentavelmente, 0 ateismo cristao esta em toda parte. Tem de haver um jeito melhor de viver. Este livro foi escrito para todo aquele corajoso o bastante para admitir a prépria hipocrisia. Espero que ele instigue voce, que o desafie e incomode. E, se vocé for sincero diante de Deus — como estou ten- tando ser —, talvez juntos consigamos nos libertar de parte da nossa hipocrisia e levar uma vida que de fato glorifique a Cristo. Introdugao Um cristéo ateu em recuperacdo OLA. Meu Nome £ Craig Groeschel, e sou um cristao ateu. Desde quando posso lembrar, creio em Deus. Mas nem sempre vivi como se ele existisse. Hoje meu ateismo cristéo deixou de ser um proble- ma tio grande quanto jé foi, mas ainda luto contra ele. Como 0 alcod- latra em recuperagao cuida para nunca imaginar garantida a sobriedade, tenho de viver um dia por vez. Vocé talvez ache estranho um pastor lutando para nao viver como se Deus nao existisse. Contudo, no meu canto do mundo, o ateismo cristao é uma pandemia espiritual que se dissemina com rapidez, capaz de envenenar, adoecer ¢ até matar para todo o sempre. Mesmo assim, ele é extremamente dificil de ser reconhecido — ainda mais por quem esta infectado. 1s | O cristdo ateu Minha histéria ilustra os sintomas. Nasci em uma familia “crista”. Criamos em Deus € famos & igreja quando convinha — e no Natal ou na Pascoa também. Quando o faziamos, era sempre muito chato. Homens de mais idade, trajando algo parecido com um vestido, ocupavam o pul- pito por uma eternidade, falando sobre coisas sem sentido para mim. Lembro-me de quando contei quantas vezes 0 pregador ergueu a mao no ar — 53 em um sé sermao ainda deve ser 0 recorde mundial. Embora eu nunca a levasse a igreja, tinhamos uma Biblia dourada do tamanho de um furgao pequeno, disposta em local de destaque na mesinha lateral da nossa sala de estar. As gravuras me evocavam senti- mentos afetuosos, espirituais, formigamentos, mas as palavras formavam uma rede impenetravel de tu e vés. Os pais de dois amigos sempre nos faziam orar antes das refeicdes: — Deus é grande. Deus é bom. Agradecemos agora pela comida. A auséncia de rima na oragio, quando ela parecia ser necesséria, sempre me incomodou ¢ me fez pensar se Deus também se incomodava com isso. Na casa dos meus avés, nds oravamos: — Vem, Jesus, sé nosso convidado, ¢ este alimento seja por ti abengoado. Nenhuma das duas tinha importancia para mim, mas pelo menos a segunda rimava. Para o inferno, nao! Com 8 anos, frequentei uma escola biblica de férias no quintal da casa de alguém. Senti-me um pouco nervoso, mas as brincadeiras, os prémios, as historias ¢ os biscoitos em forma de animais ¢ quantidade ili- mitada, servidos com Q-suco de uva, conquistaram-me. As criangas pa- reciam bastante normais, exceto Alex, que molhava as calgas duas vezes por dia. (Se estiver lendo isto, Alex, lembre-se que me deve um grande favor por cu deixar seu sobrenome de fora.) Um cristao ateu em recuperagao Acontece que tudo nao passava de uma armacao para o Ultimo dia, quando os professores fizeram subir a temperatura espiritual do evento. Como a bola ultrarrdpida do atirador Nolan Ryan, com seus 150 quilémetros por hora, eles também me derrubaram sem que eu visse 0 que me atingira. — Fechem os olhos. Curvem a cabeca — disse a Adulta n° 1, 0 tom de voz de uma seriedade mortal. — Nao quero ninguém olhando em volta. Seguiu-se uma pausa dramatica. — Se vocé morresse esta noite, tem certeza absoluta de que passaria a eternidade no céu? Se nao tiver certeza, por favor, levante a mao. Ainda superestimulado pelas dezenas de biscoitos em formato de animais ¢ sem certeza de nada que estivesse relacionado a meu destino eterno, ergui a mao direita. De repente a Adulta n® 2 se juntou & Adulta n® 1 para me pegarem por debaixo de ambos os bragos ¢ me levar ao fundo da garagem. Minhas roras de fuga estavam bloqueadas pelo fundo da garagem em si, por uma cerca de arame trangado ¢ pelo olhar penetrante das adultas completan- do 0 triangulo. Senti-me encurralado, absolutamente despreparado para o que aconteceria a seguir. — Se vocé nao tem certeza de onde passard a eternidade, entao, se morter, ird para o inferno. Inferno! Inferno? Naquele momento, o inferno até me pareceu a op¢ao mais segura. Pensando em tudo que aconteceu, estou certo de que as duas mulheres adultas ¢ atenciosas estavam cobertas das mais puras intenc6es. Ao mesmo tempo, quase me mataram de medo, apesar de todos os biscoitos de animais que devorara. No melhor estilo dos filmes infantis da época, encolhi-me todo e arremeti, passando pelo meio das pernas da Adulta n® 2 ¢ correndo mais depressa que Forrest Gump até * | O crist&o ateu minha casa. Ainda apavorado com 0 deménio sérdido ¢ o fogo sulfiireo por cle reservado para criangas como eu, entrincheirei-me dentro do ar- mario ¢ gritei para Deus: — Por favor, néo me mande para o inferno! Eu acreditava em Deus, nao havia 0 que questionar. Estava certo da existéncia de um céu — embora nao pretendesse ir para la tao cedo — e um inferno. Jé me queimara acidentalmente com fésforos, de modo que qualquer lugar cheio de fumaga, fogo ¢ enxofre era para onde eu jamais sim 4 noite: gostaria de ir. Durante anos orei z — Deus, por favor, no me mande para o inferno. Repetia as palavras sem parar, até pegar no sono. Pela manha, de vez em quando eu acordava ¢ percebia minha ne- gligéncia em me despedir do Juiz do meu destino — nem um “amém”, nem um “fui”, nem um “cambio, desligo”. Deixara Deus esperando. Nao conhecia todos os Dez Mandamentos, mas tinha quase certeza de que 0 protocolo da oragao adequada prescrevia uma dessas despedidas. Com medo de ser um pecador nas maos de um Deus irado, orava entao: — Amém. Amém. Amém. Amém. As vezes apelava para a multiplicagio: — Amém vezes amém vezes amém vezes amém. Quando entrei no ensino médio, contava com um estoque de cerca de 47 zilhdes de améns, bem como um problema crescente envolvendo medo ¢ inseguranca espirituais. Hipocrisia colegial Com 16 anos, resolvi ir sozinho & igreja em uma manha de do- mingo. (Esta bem, parte dessa decisdo talvez se devesse ao fato de que acabara de tirar minha carteira de motorista e dirigia para todo lado com alegria; mas a atragao pela igreja foi sincera.) Meditando no que Un cristio atew em recuperagio significa “estar de bem com Deus”, subi os degraus da igreja me sentei no terceiro banco. Mais um sermao passou por mim sem causar nenhum impacto. Fui embora decepcionado. O pastor sc posicionara estrategicamente 4 saida principal para apertar a mao das pessoas & medida que safam. Aproveitando minha oportunidade, perguntei-lhe se podia marcar um hordrio para conversarmos sobre Deus. Na quarta-feira seguinte, depois da escola, vi-me sentado no escri- trio do pastor, 0 que logo percebi ser o lugar mais assustador sobre a face da terra. Gostaria de saber se ele detectou 0 tremor em minha voz, quando perguntei: — Como sei se tenho sido bom o bastante para ir para 0 céu? Embora nao me recorde de tudo que o pastor disse, lembro-me do conselho para nao agir como um arruaceiro, nao correr atras das meni- nas nem beber cerveja — em outras palavras, tudo isso era ruim. Meus amigos eram bebedores Avidos de cerveja, arruaceiros que nao sabiam fazer outra coisa além de correr atras das meninas. Embora eu nao fosse o general daquele exército, com certeza era pelo menos um tenente, com sério potencial para receber uma promocao. Sai do escritério dele determinado a parar de pecar. Era hora de abracar a religiao e de me acertar com Deus de uma vez por todas. Atma- do com um novo chamado, enfrentei a semana seguinte na escola com fogo espiritual para viver direito. Até que a noite de sexta-feira chegou. S6 anos mais tarde descobri as palavras de Paulo em Romanos 7. Disse ele que nao fazia o que desejava. E 0 que nao queria, praticava. Sua historia era a minha hist6ria. Eu queria levar uma vida justa, mas parecia incapaz de agir certo por mais que cinco minutos. Cria em Deus, no entanto continuava colando na escola, bebendo a cerveja mais barata 2» | O cristaéo ateu gue encontrasse, mentindo acerca do que fazia com as namoradas € es- perando achar uma Playboy esquecida no lugar errado de vez.em quando. — Deus, por favor, ndo me mande para o inferno. Amém vezes amém. Meu primeiro grande despertar No terceiro ano do ensino médio, fui eleito presidente pelo grupo de jovens da minha igreja. Parece que as qualificagoes para o cargo nada tinham a ver com levar uma vida crista de verdade. Quando dei por mim, meu mandato de um ano me “garantira” uma bolsa de estudos parcial em universidade crista. Com 0 atletismo para cobrir 0 resto das despesas com moradia, embarquei naquele que esperava tornar-se um novo comeso, agradavel a Deus. Parti com uma carrada de roupas, canetas Bic, meu péster da Cindy Crawford e sonhos grandiosos. Em vez de me ver rodeado de jovens Billy Grahams e Madres’Teresas, no entanto, fui assaltado por Lindsay Lohans e Kanye Wests em miniatura ¢ rapidamente arrastado para a vida das festas. © pecado é divertido — ao menos por algum tempo. Mas é infa- livel; um dia ele volta para assombré-lo, em geral quando vocé menos espera. Como um espirro, a principio o pecado causa uma sensagio boa, mas deixa enorme confusao atras de si. No segundo ano da faculdade, varios dos meus irmaos de fraternidade foram presos por um grande furto, colocando todos nds em risco de sermos expulsos do campus. Mais ou menos na mesma época, por causa de uma ressaca enorme, dormi na hora do treino de ténis, o que me colocou a um passo de distancia de per- der a bolsa de estudos por praticar esporte. Além disso, muita gente no campus me desprezava pelo modo com que cu tratara algumas meninas. Sentindo-me cada vez mais por baixo, decidi voltar os olhos para Deus — outra vez. Resolvi comegar um estudo biblico na sede da nossa fraternidade. Vendi a ideia incomum para os demais integrantes da fraternidade, Um cristéo ateu em recuperagao explicando que a iniciativa funcionaria como excelente publicidade para nés ¢ ajudaria a melhorar nossa reputagao tao suja. Para ser fran- co, eu queria aprender mais sobre Deus. Ja que a igreja nao me ajudara muito nesse departamento, achei que podia recorrer direto 4 Biblia para ver 0 que conseguia descobrir sozinho. Na manhi da terca-feira anterior a0 nosso primeiro estudo, eu pas- seava pelo campus no intervalo entre aulas quando me ocorreu que nao tinha uma Biblia. (Deixara a Biblia dourada da familia em casa.) A ca- minho da aula de literatura mundial, um senhor de mais idade se apre- sentou a mim como um Gidedo. Perguntou-me se eu gostaria de ganhar uma Biblia gratuita. Mesmo sem saber 0 que era um Gideao, no que me dizia respeito, ele bem poderia ser um dos anjos de Deus. A noite, em um grupo pequeno, comecamos a ler a Béblia na sala acanhada, ensopada de suor e cheia de manchas de festas na sede da Lamba Chi Alpha. Comegamos a ler em Mateus, capitulo 1, e, uma vez superada a parte de quem gerou quem, acertamos o ritmo. No final do nosso estudo biblico de principiante, fizemos a tinica oragao que conheciamos: — Deus, proteja-nos quando dermos festa. Deus, faca que a na- morada do Joe nao engravide. Deus, nao permita que sejamos pegos colando na prova de histéria norte-americana. Nao foi uma oragio tipica da uniao de estudantes batistas, mas foi sincera Eramos um grupo de rapazes que acreditava em Deus, mas nao fazia ideia de quem ele na verdade é. Embora sem saber 0 que estévamos fazendo, nosso grupo de estudo comegou a crescer. Aparentemente, muitos de nossos amigos tinham a mesma curiosidade espiritual. Quanto mais lfamos a Biblia, quanto mais orévamos, mais pessoas apareciam e mais Deus parecia agit. Terminamos Mateus e entéo descobrimos que Marcos, Lucas e Joao contavam ias das mesmas histérias. No capitulo 3 de Atos nos sentimos 2 O cristao ateu entediados e pulamos para Romanos. No meio do caminho de Romanos, entusiasmei-me tanto que comecei a adiantar a leitura. Chegando a Efésios, encontrei dois versiculos que mudariam minha vida para sempre: “Pois vocés sao salvos pela graca, por meio da fé, ¢ isto nao vem de voces, édom de Deus; nao por obras, para que ninguém se glorie”.' Seria mesmo verdade? Somos salvos pela graca de Deus ¢ s6 por ela? Nao por nossas obras? Por que ninguém me contou? Senti-me como um animal enjaulado ¢ precisei fugir da sala mintis- cula, Havia alguém sentado na frente da tinica porta, de modo que me esgueirei pela janela mais préxima ¢ pulei para fora. Pressentindo algo importante, disparei para um campo de softbol perto dali. Precisava ficar sozinho com Deus. O que aconteceu a seguir é dificil de explicar e ainda mais dificil de crer para mim. A presenga de Deus se tornou real. Sempre achei que s6 os malucos escutavam a voz de Deus. Claro, vocé ouviu Deus falar. E tem um anjinho mintisculo em cima do seu ombro neste exato momento, orientando-o quanto ao que vocé deve fazer a seguir, acertei? Bem, naquela noite tornei-me um desses malucos. Ajoclhado na grama, ouvi uma voz. Nao audivel — na verdade, ela soou alto demais para ser audivel, presente demais em meu interior. — Sem mim, vocé nao tem nada. Comigo, tem tudo. Ajoelhei-me ¢ fiz. a oragao mais curta, mais poderosa e cheia de fé da minha vida. Menos sussurrando que s6 mexendo 0s labios, pedi a Deus: — Toma a minha vida. Sé isso. Era uma pessoa quando me ajoclhei no campo de softbol e outra totalmente diferente quando me levantei. Tinha o mesmo cor- po, a mesma voz ¢ a mesma cabega, mas nao era o mesmo. Mais tarde ' Efésios 2.8,9. 23 Um cristéo ateu em recuperagéo aprendi que me tornara o que a Biblia chama de “nova criagao”.? As coisas antigas tinham passado; era o inicio das novas. Enfim, me transformara de cristao ateu em cristo. Pela primeira vez na vida, cri em Deus ¢ comecei a viver como se ele fosse real. Missao nao cumprida Agora uma nova pessoa, conscientizei-me de que tinha uma nova missao: difundir 0 evangelho em toda a terra — comegando por meu colega de quarto. Ninguém estava imune a minha fé contagiosa. Nem os atletas meus colegas, nem os irmaos de fraternidade, nem os amigos de festas, nem meus professores. Dizer que me tornei fandtico significaria amenizar demais a verdade. Em pouco tempo colecionava convertidos ao cristianismo como Michael Phelps coleciona medalhas de ouro. Quanto mais Deus fazia, mais eu entendia que cle me chamava para dedicar a vida ao ministério em tempo integral, como uma profissao de fato. No momento exato, quando eu contava 23 anos, Deus abriu uma porta que me permitiu trabalhar em uma igreja histérica no centro da cidade. Meu sonho transformado em realidade aos poucos virou um pe- sadelo espiritual. O que comegou como uma coisa boa, logo se tornou uma obsessao. Meu servico nunca era suficiente. E, embora meu amor pelo ministério ardesse cada vez mais, minha paixao por Cristo esfriava. A misséo se tornara um emprego para mim. Em vez de estudar a Palavra de Deus por devogao pessoal, s6 0 fazia para poder pregar. Em ver de pregar mensagens que trouxessem a gloria de Deus, pregava para trazer pessoas & igreja. Prometi orar pelos feridos, mas em geral ndo cum- pria o que dissera. Com 25 anos, tornara-me pastor em tempo integral e seguidor de Cristo em meio periodo. ?V. 2Corintios 5.17. 24 | O cristao ateu Um convite Voce identifica alguma dessas histérias em sua experiéncia tam- bém? Jé houve um tempo em sua vida em que vocé estava mais pro- ximo de Deus do que hoje? Se for como eu, seu distanciamento das coisas espirituais nao aconteceu de propésito. Como um pequeno furo em um pneu, devagar, mas constante, sua paixdo espiritual foi indo embora sem fazer alarde. Talvez s6 agora isso tenha ficado claro para yocé. No lugar de dedicado seguidor de Cristo, sem querer vocé se transformou em mie, estudante ou bancario em tempo integral — e seguidor de Cristo em meio perfodo. ‘Talvez, como tantos outros, vocé seja membro de uma igreja, mas, em segredo, ainda se envergonha do seu passado. Talvez tenha ouvi- do falar do amor de Deus, mas ainda nao esté convencido de que ele © ama por completo, Ou, embora esteja persuadido da existéncia de Deus, ua vida de oracao nao € como sabe que deveria ser. Como mui- tos outros cristios bem-intencionados, talvez vocé saiba 0 que Deus quer que faca, mas ainda age como bem entende. Ou é genuino seu desejo de confiar em Deus como seu provedor, mas acha dificil demais viver de acordo com ele. E provavel que vocé acredite em céu ¢ inferno, mas compartilhar sua fé com as pessoas ainda Ihe é algo estranho ou mesmo assustador demais. Ou talvez vocé acredite em Deus, mas nao sinta muita necessidade de igreja. Serei sincero em relagao a minhas lutas e espero que vocé também © seja. Juntos entao, com a ajuda de Deus, talvez possamos aprender a conhecé-lo ¢ a andar com ele em maior intimidade. Capitulo 1 Quando vocé cré em Deus, mas nao o conhece de verdade — CRAIG, VOCE PRECISA CONHECER essa menina. Ela é esquisita, igual a vocé. Quer dizer, é fandtica por Deus. Alucinada mesmo por ele. “Esquisita igual a vocé” nao estava entre as dez principais quali- - dades que eu buscava em uma menina, mas tanta gente veio me falar de Amy que precisei conhecé-la. Estava no iiltimo ano de faculdade ¢ orava todos os dias para conhecer alguém apaixonada por Cristo tanto quanto eu. A julgar por todos os relatos, Amy era tudo com que eu sonhava e mais um pouco. Nosso relacionamento comegou com varios telefonemas antes de enfim nos conhecermos pessoalmente. Alguém Ihe disse que eu parecia 26 | O cristao ateu o Tom Cruise. Quando abriu a porta e me viu pela primeira vez, seu sorriso de expectativa hesitou. Acho que eu no era tao parecido com Maverick de Top Gun — Ases indomdveis. (Mas tenho cabelo preto ¢ nariz grande.) Naquela noite fomos a um estudo biblico que Amy conduzia para meninas em idade de colegial. Ela era incrivel, ¢ todos os clichés amoro- sos que eu ouvira ao longo dos anos aconteceram comigo. Quando ela orou por “suas meninas’, 0 céu pareceu se abrir. Quando entoou cinti- cos de adoracao, 0 tempo parou. Cada vez que olhava em minha diregao, punha-me a louvar o Senhor ao mesmo tempo em que me derretia todo. Fla era divertida, leal sincera. Sem falar que, em uma escala de um a dez, sua nota seria 498 milhdes. (Ainda é.) Lembro-me de ter pensado: “Deus, o Senhor é étimo. Bom trabalho”. Transbordando de expectativa, eu passava 0 tempo todo querendo causar boa impressio, mostrar meu melhor Craig. Usava as camisas mais novas, passava um tanto extra de perfume, lavava o carro e produzia a fita cassete perfeita (cheia com a mais recente combinagao de musica cristae cangoes de amor da década de 1980). Mais que isso, no entanto, tentei me certificar de que estava em minha melhor forma espiritual, orando 0 tempo todo para traté-la com respeito ¢ sem malicia. Seis meses depois do primeiro encontro com Amy, pedi-lhe a mao na igreja, diante de todos os nossos queridos. (Gragas a Deus ela disse sim; do contratio, teria sido constrangedor.) Cinco meses mais tarde, casamo-nos. Isso foi ha dezenove anos. Hoje nosso casamento tem idade oficial suficiente para sair de casa e se mudar para 0 campus de uma faculdade. Durante todo esse tempo, aprendi a conhecer Amy melhor do que qual- quer outra pessoa no mundo. Em uma sala com 40 mulheres falando ao mesmo tempo, sou capaz de identificar a voz dela. Se entrar em um sa- guao abarrotado de gente, com pessoas espremidas umas contra as outras, meus olhos encontram os dela no mesmo instante. Conhego seu cheiro, Quando vocé cré em Deus, mas néo o conhrece de verdade | € basta uma lufada que o traga até mim para pensar nela pelo resto do dia. Sei qual € sua cor, sua muisica, seu prato favorito, e de qual das mi- nhas camisas ela mais gosta. Apesar de nos conhecermos tanto assim — mesmo depois de quase duas décadas — nossa intimidade continua a crescer. Estamos 0 tempo todo aprendendo a estabelecer conexées ¢ a nos comunicarmos em maior profundidade. Quase sou capaz de ler sua mente. Surge uma situacdo em que cla nao esté presente ¢ sei exatamente o que Amy faria. Conheco seus valores. Sei como ela processa suas decisées. Compartilhamos uma histéria— acontecimentos, experiéncias, um monte de criangas. E nos amamos. Cremos um no outro. Em resumo, conhecemo-nos. Crer versus conhecer Recente pesquisa do Gallup concluiu que 94% dos norte-america- nos afirmam crer em Deus ou em um espitito universal. Todavia, um rapido folheio das Escrituras, e nossa cultura deixa bastante evidente que nao chega nem perto de 94% 0 porcentual dos que conhecem a Deus. Quero dizer, conhecem-no de verdade — na sua intimidade. Crenga nao € 0 mesmo que conhecimento pessoal. Para muita gente, a simples ideia de que se pode conhecer a Deus em nivel de relacionamento parece im- provavel, irreal, inatingivel. Parte da confusao nasce do fracasso em reconhecer os diferentes niveis de intimidade quando se trata de conhecer a Deus. Alguns de nés conhecem a Deus sé de reputacio, como quando um amigo préximo nos fala de determinada moga ou rapaz. Podemos saber alguma coisa sobre ele — talvez por termos ido 2 igreja umas poucas ve- Zes, OU porque nos contaram algumas histérias da Biblia, ou por termos um versiculo favorito em um ima de geladeira. Mas tudo isso nao passa de conhecimento de segunda mao. 28 O cristao ateu Outros conhecem a Deus como uma lembranga. Experimenta- mos de verdade sua bondade, sua graga ¢ seu amor no passado. Como aconteceu ha pouco tempo, quando topei com um velho companheiro de faculdade. Ha vinte anos, éramos inseparaveis. Assistiamos as aulas juntos, praticévamos esportes juntos € conhecemos a Cristo juntos. Depois que nos formamos, perdemos contato. Conheci-o anos atrés, mas nao posso dizer que o conheco agora. E outros ainda conhecem a Deus na intimidade. Aqui, agora, neste exato momento. Esse & 0 tipo de conhecimento amoroso que Deus promete para quando o buscamos.' Quando tivermos sede de Deus, ele nos satisfard. E, se continuarmos a buscé-lo, passaremos a conhecé-lo em intimidade cada vez maior. Ao ouvirmos a sua voz, nés a reconheceremos no mesmo instante, Falaremos com Deus 0 tempo todo e sentiremos sua falta quando as circunstancias nos distrafrem da sua presenga. Construiremos uma histé- ria juntos, acumulando casos € mais casos de experiéncias compartilhadas. Amaremos a Deus. Confiaremos em Deus. Conheceremos a Deus. No conhecer a Deus Talvez vocé esteja pensando: “Eu creio em Deus. Nao basta? Quer dizer, muita gente nem cré em Deus, mas eu creio. Nao ¢ 0 que ele quer de mim?”. Perguntas muito justas. Mas crer nao é tudo o que ele deseja de nés. O livro de Tiago diz. que até os deménios creem em Deus, no entanto tremem por saberem que estéo separados dele e nao podem se relacionar com ele Evidentemente, portanto, ser cristio € mais do que s6 crer em Deus. 1 V, Deuteronédmio 4.29; Jeremias 29.13; Mateus 7.7,8; Atos 17.27. 2 V, Tiago 2.19. Quando vocé cré em Deus, mas néo o conbece de verdade Na minha infancia e adolescéncia, minha familia era 0 que eu cha- maria de “cristaos culturais”. [amos a igreja no Natal e na Piscoa. Ajuda- vamos um vizinho em necessidade. Dodvamos comida enlatada nas cam- panhas que visavam a dar de comer aos menos favorecidos. Ordvamos no almogo do Dia de Acao de Gracas. Nada muito além disso. Embora eu cresse em Deus, tudo que sabia era sobre ele — e muito pouco. Nao o conhecia. E por nao o conhecer como melhores amigos ou cénjuges se conhecem, vivia de acordo com minhas regras. Os atos que praticava revelavam minha falta de conhecimento intimo de Deus. De acordo com IJoio 2.3,4, “Sabemos que o conhecemos, se obedecemos aos seus mandamentos. Aquele que diz: ‘Eu 0 conheco’, mas nao obedece aos seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade nao est nele”, Severo demais? Prefiro considerar direto ¢ honesto. Dito com sin- ceridade por alguém que se importa de verdade e quer o melhor para nés. Precisamos ter em mente que os mandamentos de Deus sao de amor. O que ele pede para seus filhos fazerem — coisas como praticar a justica, amar a misericdrdia ¢ andar com humildade? — é 0 que de- sejamos fazer de um jeito ou de outro, ao menos em nossos melhores momentos. Somos criados para servir de exemplo vivo do amor de Deus para com um mundo ferido. Deus se importa com como vivemos. Um relacionamento com ele resultard naturalmente em atos e atitudes didrios. Assim, se vocé pare- cer bom, significa que é bom, certo? Bem, talvez nao. Conhecer a Deus pode levar a um estilo de vida positivo, mas o contrario nao é verdadeiro. Nossos atos exteriores isolados nao provam que desfrutamos de um rela- cionamento intimo com Deus. S6 porque praticamos o bem nao quer dizer que conhecemos Aquele que ¢ bom. Como quando vi Amy pela primeira vez. A principio nao a conhecia, mas tentei fazer que isso acontecesse. > V. Miqueias 6.8, Almeida Revista e Atualizada. ar O cristao ateu Se nao fizesse nenhum esforco, nunca nos conheceriamos de fato. Preci- samos nos esforgar para conhecer a Deus. Ele esta interessado nao sé em nossos atos, mas também em nosso corago — acima de tudo, em nossa atitude para com ele. Nossas boas obras transbordam do fato de 0 conhecermos? Ou vivemos como se ele apenas nos observasse e fosse ticando nossas realizacées em uma espécie de lista de tarefas celestial? Vocé ganha uma estrela por ir a igreja? Por ser bom? Por doar dinhciro para filantropia? Alguns dentre nés tentam fazer por merecer a aceitagao divina sem conhecer de fato 0 coragio de Deus. E, depois que a vida acabar, Jesus lhes dird: “Vocés nao quiseram saber de se relacionar comigo. Vao embora”.* Um ntimero incontavel de pessoas bem-intencionadas cré em Deus, mas nao o conhece pessoalmente. Muitos de nés se enquadram nesse grupo. Ou entéo achamos que somos cristéos porque, bem, budistas é que nao somos. Cremos em Deus, mas nossa vida nao reflete quem ele de fato é. Sem conhecer a Deus muito bem Vocé jé ouviu falar de George Brett, o lendario jogador de beisebol da terceira base, que atuou na equipe do Kansas City Royals? Quando eu era crianga, colecionava todo cartao de beisebol de George Brett que lancavam e sabia tudo sobre sua carreira. Em 1988, disputei o campeonato de ténis da NAIA, a associagio nacional de atletismo intercolegial, em Kansas City. Passeando pelo cen- tro da cidade, vi George Brett sentado a uma mesinha de calgada de um café. Nao pude evitar — aproximei-me dele, estendi a mao e anunciei — Sei que isso acontece com o senhor 0 tempo todo. Sinto muito. $6 precisava dizer que o senhor é 0 cara! Em 1980, o senhor rebateu .390 — ‘ V, Mateus 7.21-23. 31 Quando voce cré em Deus, mas néo 0 conhece de verdade | quase mais de .400 — o que significaria bater 0 recorde de Ted Williams em 1941. O senhor marcou 118 pontos em apenas 117 jogos. O se- nhor € 0 cara! Um pouco repetitivo, sei disso, mas eu estava nervoso. Ora, nunca me encontrara pessoalmente com George Brett, mas tinha informagées sobre ele. Ouvira dizer que era arrogante e rude. Por minha experiéncia, no entanto, ele é 0 oposto disso. — Vocé sabe tudo isso sobre mim? — ele perguntou. — Oh, cu mal comecei. — Impressionante! Por que nao se senta aqui conosco? Vamos conversar um pouco. Ele puxou uma cadcira para que cu me sentasse. Depois de quinze minutos de conversa, George quis saber: — Afinal, 0 que o traz a Kansas City? Contei-lhe que participaria de um grande torneio de ténis no dia seguinte. Ele me parabenizou e disse: — Sabe de uma coisa? Vocé me acompanhou todos esses anos. Farei 0 possivel para ir vé-lo jogar amanha. No dia seguinte, conquistei 0 titulo de campeao nacional de ténis... e George Brett torcia por mim na primeira fila. (A cena do sonho desa- parece a0s poucos ¢ comega a tocar uma musica etérea.) - Nada disso aconteceu de verdade, claro, embora fosse um grande final para essa histéria, A realidade € que George nao apareceu, eu perdi na segunda rodada ¢ fui embora me sentindo massacrado. ‘Tecnicamente, poderia dizer que conheco George Brett em raz4o do nosso encontro tinico. Mas é evidente que nao o conheco de fato. Se voct o lembrasse do nosso encontro em Kansas City, ele talvez nem se lembrasse de nada. 32 | O cristao ateu Rebobinemos agora a fita da narrativa hist6rica alguns milhares de anos. Quando o apéstolo Paulo escreveu sua carta aos Gdlatas (segui- dores de Jesus que viviam na regiéo da Galdcia, atual Turquia), eles ja tinham provado do Deus real ¢ vivo, mas tinham caido na armadilha do legalismo fazia pouco tempo. Conheciam a Deus, mas nao o suficiente para evitar que fossem sugados de volta a uma vida baseada na Lei em vez de no amor. Em Galatas 4.8,9, Paulo escreveu: “Antes, quando vocés nao conheciam a Deus, eram escravos daqueles que, por natureza, nao sao deuses. Mas agora, conhecendo a Deus, ou melhor, sendo por ele co- nhecidos, como é que esto voltando aqueles mesmos principios elemen- tares, fracos ¢ sem poder? Querem ser escravizados por eles outra ve7?”. Em esséncia, ele esté dizendo: “Vocés conhecem a Deus, mas nao 0 bastante para evitar seus velhos habitos — as atitudes que feriram vocés ¢ impediram sua proximidade de Deus”. No século XXI, seria sébio da nossa parte se indagassemos: “Isso também serve para nés?”. ‘Talvez nés “meio que” conhegamos a Deus. Em algum momento do passado, pode ser que tenhamos orado ¢ pedido a Jesus que transformasse nossa vida. Talvez tenhamos um entendimento basico de Deus. Pode ser que, um dia, tenhamos nos sentido préximos de verdade dele. Mas nao o conhecemos bem agora. Conhecendo a Deus na intimidade Por fim, existem aquelas pessoas que conhecem a Deus na intimidade eservem a cle de todo 0 coracéo. Para mim, sei que isso esta acontecendo quando tenho cada vez mais consciéncia da presenga de Deus em mim, de sua proviséo, poder e paz. Nao sinto que Deus esté “ld fora”, aguar- dando que eu dispare uma oragio na diregio dele de vez em quando. E mais como uma conversa ininterrupta. — Oi, Deus. Fi, ouga: 0 que o senhor acha disso? Entao acredito com toda a sinceridade que Deus me fala por meio de sua Palavra escrita ¢ do Espirito. Quando vocé eré em Deus, mas nao o conhece de verdade E como se de alguma forma meu espirito se conectasse a ele, ¢ eu conseguisse ouvir o que ele diz, Hé uma espécie de voz baixa, uma cons- ciéncia constante e atenta de que Deus orquestra as coisas e envia pessoas a minha vida & medida que meu dia se desenrola. Isso é viver com Deus. Em outras época Deus pode nao parecer tao perto. Pela fé, todavia, sei que ele esta comigo. Nao importa o que sinto, mantenho a seguranga de que Deus nunca me deixa. E ele nio deixaré voce. O salmista Davi descreve em Salmos 63.1-4 seu relacionamento com Deus. Na verdade, ele afirma que a experiéncia de conhecer 0 Deus pes- soal cria um anseio mais profundo por ainda mais conhecimento intimo de Deus. O versiculo 1 comega: “O Deus, tu és 0 meu Deus [...]”. Nao © Deus de outra pessoa, do qual acabo de ouvir falar. Ta és 0 meu Deus. Davi continua: “[...] eu te busco intensamente; a minha alma tem sede de ti! Todo o meu ser anseia por ti, numa terra seca, exausta ¢ sem Agua’. Nao ha nada que me satisfaga neste mundo. Sinto fome, alimento- -me € mais tarde sentirei fome de novo. $6 Deus pode satisfazer plena- mente. Eu 0 amo tanto, Deus, que anseio por ti! Necessito mais de ti. Vocé jé sentiu esse tipo de amor por alguém? Longe, mal pode es- perar para estar com a pessoa de novo. Quando fico longe de Amy, mal posso esperar para ouvir a voz dela de novo. Imagine quando acontece com Deus. O salmista prossegue: “Contemplei-te no teu santuério, ¢ vi o teu poder e a tua gléria” (Almeida Edigdo Contempordnea). Bu te vi. Eu te conhego. Reconheco-te s6 de te ver. Sei como és. ‘Teu poder e majestade ilimitados, o fulgor repentino do teu esplendor, tua beleza — tudo isso é maior do que sou capaz de imaginar ou descrever. O versiculo 3 diz: “O teu amor é melhor do que a vida! Por isso os meus labios te exaltarao”. Melhor do que a vida? Ele esta dizendo que, se eu tivesse de escolher — ficar com o amor de Deus ¢ assistir 4 morte do meu corpo mortal, ou perder seu amor e viver —, eu escolheria morrer, 34 | O cristao ateu Préximo versiculo: “Enquanto eu viver te bendirei, e em teu nome is serei o mesmo. Fui tao transfor- levantarei as minhas maos”. Nunca m: mado, tao dominado por ti que nao me constranjo em fazer seja 0 que for para me expressar diante de ti. Nao consigo manter as maos paradas. Vou estendé-las na tua diregao. Sorrirei. Jogarei a cabega para tras e me aquecerei em tua gléria magnificente. O nome diz tudo A maioria dos historiadores biblicos concorda que Davi também escreveu Salmos 9.10, que afirma, em relacao a Deus: “Os que conhecem © teu nome confiam em ti [...]”. Como vocé chama Deus? A maneira de voce dirigir-se ou referir-se a cle pode revelar 0 quanto é profunda sua intimidade. Ou a falta dela. Deixe-me ilustrar, Como vocé me chama revela claramente 0 quanto me conhece bem — até se de fato me conhece. Meu telefone toca. Atendo. Do outro lado da linha, voce diz: — Boa-tarde, senhor Groes-shal. Gostaria de conversar um pouco sobre o servigo telefSnico que o senhor recebe. Uma coisa posso dizer de imediato: vocé nao me conhece. Nio sabe 1 meu nome! nem pronuni Ou minha esposa ¢ eu vamos a um restaurante, e digo meu nome A recepcionista enquanto aguardamos uma mesa. Depois de poucos minutos, ela chama: — Grow-shell, mesa para dois! A recepcionista sabe meu nome e como pronuncid-lo. Mas nunca nos viramos senao ha poucos instantes. Nao nos conhecemos de verdade. Se vocé me chama de “pastor Craig”, as chances de que saiba algu- ma coisa a meu respeito sao maiores. Sabe o que faco, talvez me tenha ouvido falar e esteja familiarizado com alguns dos meus temas prediletos Quando vocé cré em Deus, mas nao o conbece de verdade € com minha franqueza. Mas 0 uso que vocé faz do meu titulo nao quer dizer que me conhega pessoalmente. Vocé poderia chamar-me s6 de “Craig”, ¢ eu presumiria que vocé me conhece ainda melhor. Meus amigos me chamam de Craig. So- mo proximos. Contudo, se me chamar de “Groesch”, isso quer dizer que somos amigos ha muito tempo. Quer dizer que temos histérias. (E vocé prome- teu nao as contar.) “Groesch” data de pelo menos vinte anos atrds. Hé ainda aqueles que tém direitos exclusivos a poucas formas de tratamento especiais, bem mais fntimas. Sao seis pessoinhas lindas, muito caras para mim, ds quais permito até que subam no meu colo. Elas esfregam as maos no meu rosto ¢ dizem coisas como “Voce precisa fazer a barba” e “Vocé é 0 maximo” ou “Posso comer bala?”. Chamam- -me de “papai”. Conhecem-me muito melhor do que quem me chama de “Groesch”. O nome revela a intimidade. Como vocé chama Deus? O Cara lé do céu? O Homem do andar de cima? Querido bebé Jesus de 3,8 quilos? Entio vocé nao o conhece. Esses titulos podem ser inteligentes ou engracados, mas com certeza nao sao intimos. Se vocé conhece Deus, é provavel que seja bem mais especifico com cle. As palavras que usa devem refletir com precisio seu nivel de conheci- mento dele, Talvez ele o tenha perdoado graciosamente por duas décadas de pecados e vocé, agradecido, o chame de “Salvador”. Talvez ao orar Vocé o chame de “Médico dos médicos” porque ele curou seu coracgao partido. Ou de “Consolador” porque ele esté do seu lado sempre e serve de companhia em sua tristeza. Ou de minha “Fortaleza”, “Rocha” ou “Fora”. Talvez quando se viu acuado, sem ter para onde se voltar, com os credores telefonando sem parar, ele tenha sido seu “Provedor”. Se vocé é mulher ¢ o homem da sua vida a abandonou, pode até chamé-lo de “Marido”. Quando se sente completamente s6, pode ser que voce © 36 | O cristaéo ateu chame de “Amigo”. Talvez seu pai terreno nunca tenha sido presente em sua vida e, para voce, Deus é “ Como vocé chama Deus? Sua resposta pode ser 0 indicio de como vocé o conhece bem. Ou nao. O melhor esta por vir : vocé o conhece? E hora de ser honesto cons igo mesmo e com Deu Se sim, até que ponto? Se admite com sinceridade que nao 0 conhece, identifico-me com vocé. Por tempo demais, acreditei em Deus, mas nao 0 conheci. Agora 0 conhego. E conhecé-lo me absorve por completo. Faz que cada momen- to valha a pena. Deus tem transformado sua vida? Vocé é diferente em razao dele? Se nio, talvez seja um cristéo ateu. Deus 0 ama e deseja ardentemente infelicidade, 0 pecado nos separa de um revelar-se a vocé. Para nossz Deus santo. Em sua misericérdia e graca, ele enviou seu Filho, Jesus, para se tornar o sacrificio perfeito pelo perdao dos nossos pecados. Jesus, o Filho de Deus sem pecado, fez-se pecado em nosso favor sobre actuz, Ele é 0 “cordeiro de Deus” que morreu em nosso lugar. Roma- nos 10.13 diz: “[...] todo aquele que invocar 0 nome do Senhor sera salvo”. “Todo” inclui vocé ¢ cu. Se nao o conhece, vocé pode passat a conhecé-lo. Se um dia ja esteve perto dele, pode voltar a essa posi¢ao. Conhecé-lo néo é dificil e nada tem a ver com o cumprimento de um monte de regras. Sim, Deus quer 10. Ele diz vezes ¢ mais ve sua obediéncia, porém muito mais seu cora que, se vocé buscd-lo, o encontrara.° Pode acontecer ao ler sua Biblia; ele esté af desde o inicio. F, quando comegar a buscé-lo, descobrird que cle vem correndo em sua diregao, seu filho amado. Aprenda a conhecé-lo e permita que a presenga dele impacte cada area da sua vida, todos os dias. * V. Deuteronémio 4.29; Jeremias 29.13; Mateus 7,7,8; Atos 17.27. Quando vocé eré em Deus, mas nao 0 conhece de verdade A medida que o conhecer melhor, vocé mudaré. Um relacionamen- to vibrante ¢ intimo com Deus o capacitard a curar as feridas do passado, a perdoar o que parece imperdoavel e a mudar o que parece imutavel em si mesmo. Andar com Deus quebraré 0 poder do materialismo em sua vida ¢ levard vocé a uma generosidade radical. Em vez de viver para si ¢ para o momento, vocé viverd por Cristo ¢ para a eternidade. Seu coracao comegara a se quebrantar por motivos e causas que partem 0 coracao de Deus. Vocé o serviré com fidelidade como parte da sua noiva, a Igreja. Em vez de viver atormentado pela preocupacao ¢ 0 medo, aprendera a experimentar paz, graca ¢ confianca. A medida que aprender a conhecé- -lo, vocé vivera para ele com ousadia, compartilhando entusiasmado sua fé com as pessoas, cada vez menos pensando no que os outros acham. Conhecé-lo 0 levard a ansiar por falar &s pessoas sobre ele. Aprenda a conhecer Deus. A partir do momento em que o fizer, vocé nunca mais ser4 0 mesmo. Capitulo 2 Quando vocé cré em Deus, mas tem vergonha do seu passado Quanpo Eu CURSAVA O sétimo ano do ensino fundamental, tive uma queda por uma mulher mais velha. Missy era a vizinha de cabelos loiros, olhos azuis, absolutamente misteriosa, de outra turma. Bastava que ba- langasse 0 cabelo para fazer meu coracao palpitar. Era 0 pacote completo. Ou seja, sabia subir em drvores — e pescar lagostim. Sempre que me aproximava de Missy, eu congelava feito um lago de Dakota do Norte em dezembro. Tentei conquistar-lhe 0 amor da maneira tradicional. Meu amigo the passou um bilhere por meio da amiga dela perguntando se, por al- gum estranho capricho do destino, caso eu... er... gostasse dela, se ela... 40 | O cristdo ateu em... acreditava que poderia, sabe, talvez... me corresponder? Via tele- b dit: de be, tab Jer? Via tel fone sem fio da escola, deixei claro (mas sendo muito sutil) que, se ela quisesse “sai comigo”, era provavel que eu também estivesse disposto a air com ela”. Seja la 0 que isso quisesse dizer. Durante o dia eu rastreava cada movimento dela e, & noite, sonhava em salvé-la de piratas malvados. Em vio. Missy nao estava interessada em um garoto mais jovem. Entao aconteceu. Uma tarde gloriosa, ela me convidou para ira sua casa ver um sapo que apanhara. Foi nojento. Prendendo Caco, 0 sapo, dentro de uma lata de café Folgers, Missy me perguntou se achava que ela devia maté-lo. Nunca fui grande fa de sapocidio, mas, quando ela per- guntou, tinha no rosto a expressao de quem diz “Vocé deveria concordar comigo se quer que cu veleje naquele seu navio pirata para sempre”. Por isso, cegado por um ca so agudo de amor adolescente, concordei que ela deveria matar 0 sapo. Missy deitou o sapo de costas. A barriga branca dele ficou voleada para cima, as pernas chutando o ar em desespero, tentando se agarrarem a alguma coisa. Fiquei apenas observando enquanto minha linda maluca esmagava 0 sapo sob as bordas asperas ¢ enferrujadas da lata de café. A boca do saltador indefeso escancarou-se. Seus olhos saltaram fora da cabeca enquanto ele sofria uma morte longa, lenta. Nunca mais consegui olhar para Missy — ou para mim mesmo — do mesmo jeito depois daquilo. Saber que minha opgao custara a vida a um sapo inocente me fez mergulhar em uma depressao repleta de vergonha. Na minha mente de aluno do final do ensino fundamental, cometera um pecado horrendo. Daquele momento em diante, minha vida pareceu mais obscura. Antes daquele encontro terrfvel, via-me como um garoto basic: mente bom. Claro, roubava goma de mascar, fofocava com minha irma € cortia pelos corredores da escola, Mas tirar a vida daquele sapo cruzara Quando vocé eré em Deus, mas tem vergonba do seu passado algum limite moral do Universo. Eu cometera um ato ruim. Pela primei- ra vez na vida, senti vergonha. Nao seria a ultima. A vergonha foi uma contribuinte direta para meus anos de atefsmo cristo, como é para muita gente. Quando nos sentimos consumidos pela vergonha em relacio a decisées ¢ agées, a crenga em Deus nao se pode desenvolver para um relacionamento de amor. Com o tempo, acu- mulamos uma lista tao longa de pecados que nao conseguimos entender como seria possivel que Deus nos perdoasse. Trancafiados em uma prisio de vergonha, muitos cristaos ateus odeiam o préprio passado e a si mes- mos em igual medida — e parece nao haver esperanga de fuga. Na condigéo de assassino em segundo grau de um sapo, aprendi a equiparar 0 que fiz com quem eu era. Entao, nos anos seguintes, toda vez que pecava, a li 0 era reforcada. Eu nao fizera algo ruim; eu era ruim. Acreditava mesmo que, se as pessoas conhecessem meu verdadeiro eu, no gostariam de mim. E isso valia em dobro em se tratando de Deus. Ano apés ano permancci escondido atrés de uma falsa confianga, de realizagoes ¢ relacionamentos superficiais. Poucas pessoas, se é que havia alguma, conheciam meu verdadeiro eu. Em pouco tempo deixei de ter certeza se ew mesmo 0 conhecia. Sempre a vergonha Como pastor, tenho descoberto que muita gente morre aos poucos dentro de um timulo secreto de vergonha. Algumas pessoas se envergo- nham da condicéo financeira precéria, importunadas pela culpa em ra- za0 de gastos ¢ dividas irresponsaveis. Outras se envergonham de pecado sexual do passado. Muitas carregam consigo, para dentro de relaciona- mentos futuros, extrema culpa. Um numero incalculavel vive mutilado pela vergonha dos vicios secreto: . Ha pessoas que chegam a conviver com a falsa culpa depois de sofrer abuso sexual. 4 | O cristdo ateu Em geral, a vergonha segue um padrio — um ciclo de autorre- criminagao ¢ mentiras a reivindicar uma vida apés a outra. Primei- ro vivenciamos um acontecimento intensamente doloroso. Segundo, cremos na mentira de que somos nossa dor e fracasso — eles nao sao apenas algo que fazemos, ou fizemos para nés — ¢ experimentamos vergonha. Por fim, nossos sentimentos de vergonha nos prendem na armadilha de fazer-nos pensar que talvez nunca nos recuperemos — que, na verdade, nem o merecerfamos. Alguns anos atrés, nossa igreja desenvolveu o site www.mysecret.tv, no qual as pessoas podiam confessar qualquer coisa e convidar outros a orar por elas, Muitas das confiss6es ali registradas, de uma sinceridade angustiante, ilustram as mentiras do ciclo da vergonha em que pessoas feridas acreditam. Uma moga escreveu: “Fui estuprada aos 9 anos e, por algum tem- po, envolvi-me sexualmente com diversos meninos. Envergonho-me disso e s6 contei para duas pessoas sobre o estupro. Sei que era apenas uma crianga, mas isso ainda me faz achar que sou uma pessoa horrivel. Por causa do que fiz, sinto-me suja ¢ nao acho que alguém va me amar de verdade”. Um rapaz confessou: “Gravei um video de minha irma mais nova tirando a roupa. Gragas a Deus ela me pegou logo na primeira vez, Meti- -me em enorme confusao ¢ fico contente por isso. Do contrario, poderia ter enveredado por um caminho muito ruim, Nunca mais fiz nada pa- recido, mas me odeio por esse episédio. Sinto como se tivesse arruinado minha familia inteira. Minha irma me odeia. Minha familia me odeia. Todo mundo me odeia. Sou um monstro”. Quando a dor do pasado se transforma em sua identidade presen- te, 0 ciclo da vergonha fez mais uma vitima, Como a crianga que tira a casquinha de uma ferida repetidas vezes, muita gente machucada vive debaixo da dor nao curada. Quando vocé cré em Deus, mas tem vergonha do seu pasiado Encontrando uma saida Por favor, entenda, ha uma safda desse ciclo. Ela é diferente para cada pessoa, mas também possivel para todo mundo, pela graga de Deus. Por mais incrivel e irreversivel que seja a vergonha da pessoa em seu po- der de incapacitar. Quando permitimos 4 vergonha controlar nossos atos, ficamos im- possibilitados de conhecer a Deus, pois nao conseguimos viver para ele. Os cristaos ateus vivem como se Deus nao existisse porque, em seu ciclo de vergonha, ele nao parece existir. Um dos discfpulos de Jesus, Pedro, escapou da sua prisio de vergo- nha, embora a luta tenha sido longa. Jesus previu a traigao desse pescador convertido em discipulo, ¢ Pedro imediata ¢ apaixonadamente negou que algum dia fosse capaz de dar as costas para Jesus. “Permanecerei fiel do seu lado até o fim”, ele insistiu. E lamentavel, mas os acontecimentos da vida real logo provaram que Pedro estava errado. O canto de um galo o lembrou da previsao de Jesus, forcando-o a enfrentar seu fracasso triplo ¢ esmagador. Todavia, Pedro se recusou a acreditar na mentira de que sua tr agora © estigmatizava como um traidor. Fragilizado e arrependido, ele clamou a Deus por perdio. Apés sua ressutteicéo, Jesus honrou a stipli- ca desesperada de Pedro. Seu perdao e restaura¢io concederam a Pedro uma paixao renovada, ¢ a coragem para pregar uma mensagem ousada Seu fracasso — no Pentecoste e tornar-se um dos lideres da igreja crist transformado de tragédia em triunfo por intermédio do arrependimento e do perdio de Deus — passou a ser uma licao de desenvolvimento de carter que abriu caminho para a vitéria do Reino. Quebrando as algemas da vergonha Como Pedro, 0s cristaos ateus podem se libertar do ciclo da vergonha. Vivemos debaixo da derrota privada, mas Deus quer renovar nosso coracao O cristdo ateu € nossa mente € enviar-nos a seu mundo como luzes que brilham na escu- ridao. Como Pedro, podemos nos deixar convencer pela verdade, qual seja, nao somos 0 nosso pecado. Tampouco 0 que os outros nos tém feito. Em vez disso, somos quem Deus afirma que somos: seus filhos. Perdoaveis Mutaveis. Capazes. Moldaveis. E constrangidos pelo amor divino ilimitado. O primeito passo para vencer a vergonha é aceitar aquilo que nao pode ser mudado. No Antigo Testamento, 0 rei Davi seduziu a esposa do amigo, engravidou-a ¢ usou seu poder para a segurar que o amigo fosse morto em batalha. ‘Tempos depois, um profeta chamado Nata confrontou Davi acerca do seu pecado. O rei devia achar que tinha todos os motivos do mundo para dar ouvidos As mentiras da vergonha. No entanto, em vez de ceder a.um ciclo que Ihe ocupasse a vida inteira, ele expds 0 prdprio passado, na esperanga de encontrar um caminho para seguir em frente. Encontrar um modo de seguir em frente. O salmo 51 registra o belo arrependimen- to de um rei caid ‘Tem misericérdia de mim, 6 Deus, por teu amor; por tua grande compaixio apaga as minhas transgressdes. Lava-me de toda a minha cul- pae pt Deus, ¢ renova dentro de mim um espitito estével. Nao me expulses da ifica-me do meu pecado, Cria em mim um coragio puro, 6 tua presenca, nem tires de mim o teu Santo Espirito. Devolve-me a ale- gria da tua salvacao e sustenta-me com um espitito pronto a obedecer.! Davi nao tenta fingir inocéncia — foi sincero. Tampouco permitiu que a armadilha da culpa o roubasse — ou a Deus — da alegria de uma vida redimida e restaurada. Sabia que nao podia mudar o passado, mas esperava poder mudar o futuro. ' Salmos 51.1,2,10-12. 4s Quando vocé eré em Deus, mas tem vergonha do seu passado Quando esperamos naquilo que Deus tem prometido — ordenado —, nossa esperanga é a mesma coisa que certeza. Pouco antes de entregar minha vida a Cristo na faculdade, tomei uma decisao ruim, muito semelhante & de Davi. Estava namorando uma doce garota cristé. Como eu nao era cristo, cedi a uma tentacao des- trutiva. Na época, cu era presidente da minha fraternidade ¢ tinha um “irmaozinho”, um membro mais novo sob meus cuidados. Ele também tinha um namoro sério. Certa noite, durante uma festa a que ele nao comparecera por estar fora da cidade, sua namorada deu em cima de mim. Resisti a principio, mas, depois de alguns drinques a mais, traf mi- nha namorada e meu irmao. Em questao de dias, 0 fato de termos ficado juntos caiu no conhecimento piblico. Passei de lider respeitado a traidor desprezado. A vida como eu a conhecia acabara. Nao via como alguém podia ser resgatado depois de cometer tama- nha traicao. Mas temia o suficiente por meu futuro — ¢ ousava acalentar esperanca suficiente para ele. Por isso, de alguma forma permiti que meu pecado me conduzisse em diregao a Deus, nao para longe dele. Pela graga de Deus, em ver. de me voltar para dentro, para uma prisio de vergonha, voltei-me para cima, para o Deus da cura ¢ da esperanga. Com a ajuda de um amigo sabio, percebi que, embora nao pu- desse desfazer meu erro, podia agir certo daquele momento em diante. Minha tentativa de reparagéo comegou com varios pedidos sinceros de perdao. Nao fiquei surpreso ao descobrir que as pessoas que ferira no me quiseram perdoar de imediato. Meu arrependimento, no entanto, foi o primeiro passo na diregao correta, Apesar de minhas tentativas de cortigir 0 erro nao terem reparado na mesma hora nossos relacio- namentos destruidos, ajudaram a dar inicio 4 cura do meu quebran- tamento interior. Com 0 tempo, em virtude do poder restaurador de Cristo, ficamos amigos de novo. Para muitos, € dificil aceitar que 0 passado ficou para trds. As vezes custa muito deixé-lo ali, no lugar que Ihe é devido. Mas, enquanto nao 0 46 | O cristao ateu fizermos, nao conseguiremos fazer as pazes com o presente, nem avangar rumo ao futuro com esperanga. Mudando seu futuro Tendo acei do a imutabilidade do passado, precisamos adotar a ideia de que Deus pode mudar nosso futuro. Sempre nos lembraremos do que aconteceu, mas nao somos 0 que aconteceu. E é nisso que preci samos acreditar. Somos quem Deus diz. que somos — nova criacao.? Ao rejeitarmos o que nossa vergonha diz a nosso respeito, enfim consegui- mos escutar 0 que Deus diz sobre nés. Ele trabalha em todas as coisas para produzir o bem em nossa vida porque 0 amamos e somos chamados de acordo com seu propésito. Por feliz. que parecesse, Rebecca, uma voluntatia fiel da nossa igre- ja, ma e de duas criangas, guardava um segredo sombrio. Durante anos, ela devorou toda comida que sentiu vontade de comer, s6 para depois se refugiar em um banheiro ¢ vomitar tudo. Com vergonha da prépria luta, de alguma forma ela conseguiu manter a bulimia escondida de todo mundo. Presumindo que a filha de 3 anos nao entenderia o que ela es- iondyel, entrasse tava fazendo, permitiu que a menina, bastante impr uma vez com ela no banheiro ea visse vomitar. Rebecca nunca imaginou que a filha comecaria a imité-la enfiando 0 dedo na garganta. Com 0 tempo, ciente de que a menina repetia seu comportamento, Rebecca concluiu que era hora de abrir 0 jogo com relacao a seu dilema. Jamais esquecerei suas lagrimas enquanto ela confessava a varios de nés da igreja. Em vez de Ihe voltarem as costas, todos — incluindo seu marido — mais que depressa a abracaram. Rebecca, por inciativa pré- pria, buscou a ajuda de um terapeuta cristéo ¢ aos poucos foi vencendo as trevas da sua dor até sair para a luz curadora de Cristo. Felizmente, 2 V, 2Corintios 5.17. * V. Romanos 8.28, Quando vocé cré em Deus, mas tem vergonha do seu passado Deus tem transformado essa luta em ministério. Rebecca reconhece sem rodeios os desafios do passado e vem ajudando diversas mulheres que tém vivido na mesma escuridao particular. Se vocé convive com uma grande vergonha, Deus pode operar um milagre semelhante em seu favor. E, quando ele faz, podemos passar a ser melhores do que novos! Uma vez curado, 0 osso quebrado costuma ficar mais forte na extremidade da fratura. De igual modo, Deus pode dar novo destino & vergonha de fracassos passados para que contribuam maravilhosamente com seu sucesso futuro. Taf meus amigos de facul- dade. Na verdade, trair as namoradas fazia parte da minha rotina. No fundo, perguntava-me se algum dia conseguiria ser fiel a uma mulher no casamento. Por seu poder, Deus levou embora a vergonha do meu passado, perdoou-me ¢ me fez melhor do que novo. Minha fraqueza de outrora foi substituida por uma forca igual e oposta. Minha fidelidade para com minha esposa, em todos os aspectos, representa uma parte im- portante da minha histéria. © que jé foi um profundo senso de pecado e vergonha, Deus usou para o bem. Ele esta ansioso por fazer 0 mesmo com vocé. Capitulo 3 Quando vocé cré em Deus, mas ndo tem certeza de que ele 0 ama Murros anos arrds, ALMOCEI com um homem que acabara de conhe- cer. Por algum motivo, ele se abriu comigo em relacdo a seu casamento problematico. Quando lhe perguntei como Deus se encaixava nesse ca- samento, seu semblante ficou triste, ¢ ele me interrompeu: — No creio em Deus ¢ nao quero falar sobre religiéo. Sem ter a intengo de insistir demais, respeitei seu ponto de vista ¢ continuei a conversar sobre seu casamento sem mencionar mais nada a respeito de Deus. Ele me interrompeu de novo, repetindo que nao acte- ditava em Deus ¢ nao desejava que eu Ihe impusesse 0 assunto religiao. Calei-me estupefato, mas entéo retomei a conversa, ainda mais re- solvido a nao mencionar Deus. Pela terceira vez ele disparou: so | O cristao ateu — Nio quero falar sobre Deus. Nao acredito nele. Afinal ficou claro para mim: aquele homem ferido na verdade que- ria muito falar sobre Deus. Como nao deixava de lado 0 assunto, pedi com toda a cautela — Fale-me sobre esse Deus em quem vocé nio acredita. Ele ficou feliz em me atender. Disse nao crer em um Deus colético, sempre a espreita para pegar as pessoas agindo errado, e que se deliciava em mandé-las para o inferno. Dessa vez eu interrompi: — Interessante. Nem eu acredito ni Ele pareceu confuso: — Mas pensei que vocé fosse pastor. Enxergando uma porta entreaberta, expliquei: — Creio em um Deus bom que nutre um interesse pessoal por to- dos nés. Meu Deus amou 0 mundo de tal maneira que se dispds a enviar seu Filho, Jesus, para morrer por nds. Creio em um Deus que o ama mais do que vocé jamais poderia imaginar. © homem olhou para mim com ar de tristeza, evidentemente carregando um fardo pesado de dor espiritual. Depois de um instan- te, ele disse: — Gostaria de poder crer nese Deus como vocé. Suas palavras sinceras deram voz a uma realidade que muitos experi mentamos em siléncio, dia apés dia. Ouvi a expresso “Deus ama voce” a vida inteira. Vejo-a no para-choque dos carros, ougo-a nos sermées e nas cangGes que tocam nas rédios cristas. Uma coisa é tomar conhecimento disso com nossos ouvidos; outra coisa, entender com 0 coracao. Eis a raiz de um desafio para muitos cristios ateus: a crenca em Deus nao resulta na crenga automdtica — uma conviccao genuina do coragdo — de que Deus nos ama. 31 Quando vocé cré em Deus, mas néo tem certeza de que ele o ama Por estranho que pareca, nossa descrenga nao questiona necessa- riamente se Deus pode amar ou ama de fato as pessoas. Nés, cristaos ateu: conseguimos crer com facilidade que Deus ama os outros; s6 nao entendemos como ou por que ele zos ama. Escondemos nosso eu verdadeiro das pessoas, a fim de assegurar que nao nos rejeitaréo. Mui- to mais de Deus! E simplesmente imposstuel para Deus amar alguém téo indigno e mau quanto eu. Amor imerecido Quando Amy ¢ eu nos casamos, compramos uma casa pequenina, construida em 1910. Lamentavelmente, sé havia dois armirios, do ta- manho de caixa de sapatos, na casa inteira — espaco suficiente para pen- durar meia dtizia de camisas, mas sem lugar para pendurar os casacos das visitas, esconder um desentupidor de pia ou guardar um pacote de racao de cachorro, Para nossa felicidade, podiamos guardar coisas no porao, 0 que funcionou muito bem até 0 nosso primeiro temporal. Nosso corretor de iméveis esquecera-se de nos contar que 0 po- rao inundava diversas vezes ao longo do ano, 0 que descobrimos um dia quando chegamos debaixo de uma chuva torrencial. Chovia nao a cantaros, mas a caixas d’égua. Apés cerca de uma hora de aguaceiro, chegamos a casa sé para encontrar 0 porao inundado por quase 1 metro de agua. Os poucos bens de valor que tinhamos ali, para nosso desalento, esforgavam-se ao maximo para se fazer de esponjas. * Pulei dentro da dgua e me vi submerso até a cintura. Amy, espiando da seguranga de quatro degraus acima, colaborou lembrando que os pro- prietarios anteriores tinham deixado uma bomba d’gua no porio. Sabia que a vira, de modo que sai tateando para todo lado até encontra-la. Eo acabar?) Olhando 4 minha volta em busca de uma tomada, notei a extremidade de um cabo respectivo cabo de energia. (Jé percebeu como is de extensao pendendo da viga acima da minha cabeca. Com dgua pela O cristdo ateu cintura, um cabo em cada mao, uma inspiragio me ocorreu como uma descarga elétrica — por assim dizer: se plugar os dois cabos bem, bem, bem, mas bem depressa mesmo, talvez nao leve choque. Introduzi os pinos de metal do cabo da bomba nos orificios cor- respondentes do cabo da extensao. Assim que os conectei, foi-me dado contemplar outra dimensio. Meu corpo se transformou em via de acesso para bilhes ¢ bilhoes de mintisculos elétrons, um canal aberto para as correntes elétricas que atravessaram os cabos. O choque intenso ativou determinados neurdnios do centro da linguagem localizado em meu cérebro, que abrigava uma . Milionésimos palavra ha muito nao utilizada — uma palavra muito fei de segundos depois, a forca bruta da corrente elétrica projetou a palavra mé para a frente do meu rosto e para fora da minha boca. Lembro-me de ter erguido os olhos e contemplado o horror no rosto da minha esposa. Seu marido-pregador acabava de proferir a mae de todos os palavrées. Ela também tinha certeza de que seria a tiltima coisa que ele diria na vida, Claro, sobrevivi para ver outro dia. E a bomba entrou em ago. Mas aquele instante me chocou em varios sentidos. Como podia 0 mesmo coracéo que fala de amor e glorifica Cristo proferir tamanha imundicie? E, mais importante, como podia Deus amar alguém téo mau como eu? Talvez vocé esteja pensando: “Isso nao é nada!” Tem razio. Fizera tantas outras coisas piores! Mas isso fora na minha velha vida. Agora era pastor. Recém-casado, ainda tentava provar para mim mesmo que era digno do amor de Amy. E de Deus. Senti-me mal comigo mesmo e distante de Deus em razio de minha Ppropensao para pecar. J6, o homem que perdeu tudo, disse: “Meus ouvidos ja tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram. Por isso menosprezo a mim mesmo [...]”.! Ja se sentiu assim? Quanto mais ' J6 42.5,6. Quando vocé cré em Deus, mas néo tem certeza de que ele 0 ama me aproximo de Deus, mais percebo como sou ruim. Até o apéstolo Pau- lo — que escreveu dois tergos do Novo Testamento — tinha sentimentos negativos bastante sérios acerca de si mesmo. Disse ele: “Pois sou o menor dos apéstolos ¢ nem sequer mereco ser chamado apdstolo, porque persegui a igreja de Deus”.? Se Paulo se sentiu assim, nao admira que tenha me per- guntado como Deus podia amar alguém téo perverso como eu. Nao € s6 nosso senso de culpa que nos impede de acreditar que as vezes é um simples senso de insignificancia. Deus nos ama Quando os cristdos ateus contemplam 0 mundo — a fome, a seca, as epidemias, a aids, a guerra, a pobreza, 0 tréfico humano, o genocidio —, perguntamo-nos por que Deus amaria gente tao insignificante como nés. Seis bilhdes de pessoas habitam este planeta; ele conseguiria amar todas? Nao parece possivel, menos ainda provavel. Com certeza Deus tem coisas maiores em mente. Acontece que, na Biblia, muita gente lutou contra sentimentos de insignificancia iguais a esses. Quando Deus pediu a Moisés que liber- tasse seu povo da escravidao, ouviu a resposta: “[...] Quem sou eu para apresentar-me ao farad ¢ tirat os israelitas do Egito?”.’ O rei Davi, que foi descrito como homem segundo 0 coracao de Deus, fez exatamente a mesma pergunta: “Mas quem sou eu ¢ quem é 0 meu povo para que tenhamos a ousadia de dar alguma coisa a ti?”.‘ Quando um anjo do Senhor o incentivou a atacar os midianitas, na mesma hora Gidedo apre- sentou seu curriculo bem pouco impressionante para provar por que nao ““‘Ah, Senhor [...], como posso libertar Israel? Meu cla é 0 menos importante de Manassés, estava & altura da tarefa. O guerreiro inseguro diss € cu sou o menor da minha familia’ ”.5 2 1Corintios 15.9. } Exodo 3.11. ‘ 1Crénicas 29.14, A Mensagem. > Juizes 6.15. O cristao ateu Se essas histérias nos dizem alguma coisa, é que estamos em boa companhia, se ja sentimos que nao somos bons o suficiente, ou impor- tantes o suficiente, para sermos amados por Deus. Sé comecei a compreender como Deus podia amar tanta gente ao mesmo tempo depois que tive mais de um filho. Em 1994, nasceu Catie, nossa primeira filha. Desde o instante em que sorriu pela primeira vez, Catie me manteve a seus pés. Era a cldssica filhinha do papai. Ao desco- brirmos que teriamos outro filho, lembro-me de haver pensador: “Como faremos para amar o segundo tanto quanto a primeira?”. Parecia impos- sivel. Entao Mandy nasceu. Ela é 0 oposto de Catie em varios sentidos. No entanto, encontrei mais amor em meu coragao. Amo-a igual a Catie, mas meu amor individualizado. Trés anos mais tarde, Anna nasceu. vir, De novo, descobri uma reserva intacta de amor que desconhecia poss O mesmo se deu com Sam, depois mais tarde com Stephen e, por fim, com Joy. Deus nos deu seis filhos muito diferentes. Amo-os igualmente, mas amo cada um como um individuo. E assim que Deus 0 ama. Vocé é um dos seus filhos. Ele é louco por voce. Nada que vocé fizer poderd levé-lo a amar vocé mais. E nada do que fizer poder levé-lo a amar vocé menos. Amor nao é algo que Deus da. Eo que ele é. E por ser quem é, Deus ama. Ponto final. Amor que vem do alto Os cristaos ateus acteditam em Deus ¢ até que ele ama as pessoas, mas sempre as outras, menos pecadoras ou mais importantes. Para superar de uma vez esse sentimento, precisamos compreender quem & Deus. De acordo com LJoao 4.8, Deus é amor. Isso quer dizer que ele nao escolhe e separa quem ama — nao tem como fazer isso! Deus é amor, € nés, amados. Cada um dos 6 bilhdes de nés, gente pecadora, indigna. Esse fato muda tudo. 55 Quando voce eré em Deus, mas néo tem certeza de que ele 0 ama Que estranho! Tao contrario as expectativas, a tudo em que cres- cemos crendo sobre nés mesmos ¢€ nosso Deus. Pois ficard ainda mais estranho: Deus nos amou primeiro. Romanos 5.8 traduz assim esse amor agressivo: “Mas Deus demonstra seu amor por nés: Cristo mor- reu em nosso favor quando ainda éramos pecadores”. Pense no salmo 139, com qual aprendemos que Deus nos amou no titero da nossa mie. Pense no filho prédigo caminhando com dificuldade no retorno para casa, envergonhado, ¢ de repente erguer os olhos ¢ ver seu pai jd correndo em sua diregao em amor.‘ Um amigo meu listou todas as categorias de pessoas que Deus ama, comegando da letra A. Deus ama os artistas, os astronautas, os aero- nautas. Ama os acordeonistas, os artilheiros, os ativistas dos direitos dos animais, os aeroportudrios. Também ama os atletas, os acrobatas ¢ os advogados — seja quem for que eles pegarem para defender. Deus ama pessoas do Alabama, do Alasca, da Africa e da Albania, Ama os avoados, 08 agressivos € os apaticos; os autoritdrios, os antissociais e os arruaceiros. E quanto a letra B? Deus ama bebés e babis, “boyzinhos”, banqueiros ¢ barmen — mesmo quando nao tiram um bom café. Ama as bandei- rantes, os bons-mocos ¢ os burocratas. Mas também os fas do bumeran- gue, da BBC e da boina. Deus também ama os bobos e os bogais. Os belos, os baderneiros ¢ os bem-humorados ele ama igualmente. Também os balconistas, os boxeadores e os bon-vivants. Bem-educados? Ele ama. Até os batistas, ele ama. Em resumo, nao hé nada que possamos fazer para conquistar o amor de Deus. Jé somos e sempre seremos amados pelo simples fato de que Deus nos criou e ama todas ¢ cada uma das suas criaturas. Nao hd o que possamos fazer para conseguir que Deus nos ame menos. © V. Lucas 15.20. ) O cristdo ateu Cobertos pelo amor Se vocé ja se sentiu distante de Deus em razao do seu pecado, nao esta sozinho, S6 nao se esqueca da verdade contida em Pedro 4.8: “[...] porque o amor cobre multidao de pecados” [Almeida Revista e Atualizada|. Nao importa 0 que vocé fez, o amor ¢ o perdao de Deus sio maiores do que seu maior pecado. Quando enfim compreendemos que Deus nos ama de fato, tudo muda. Ser amado abre as portas do nosso coragao, removendo cadeados ¢ travas que nos mantinham isolados. Uma noite, na época da faculdade, vi as portas do coragdo de um novo amigo praticamente voarem das dobradi¢as. Como antes de desco- brir o amor de Deus por mim eu frequentava bares, resolvi voltar 14 para compartilhar o amor dele com outras pessoas. Descobri que bébados na verdade gostam de falar sobre Deus. E todos me amam. Sempre dizem com a voz um pouco embargada: — Amo vocé, cara. Uma noite, eu estava bebendo dgua no bar, conversando com um sujeito que exagerara um pouco na quantidade de cerveja. Apesar da embriaguez dele, travavamos uma conversa bastante espiritual ¢ cheia de significado. Ele perguntou se podiamos sair um pouco, para falar sem ter de gritar mais alto que a mtsica. A caminho da rua, fomos confron- tados por um pregador de rua que agitava os bracos e gritava do alto da plataforma de um trailer. “Que Deus bom!”, pensei. “Enviou reforgos”. Infelizmente, o tal pregador nao encarou a situagdo desse mesmo modo. Apontou o dedo ossudo para mim ¢ esbravejou: — Rapaz, vocé esté indo para o inferno! Em seguida, continuou despejando palavras de condenacao em cima de mim. Meu amigo bébado, inflamado para me defender, nao se dispés a engolir nada daquilo. Com o brilho quente do amor e do Alcool, esse novo amigo pulou em cima do trailer, atacou a testemunha 37 Quando voce ¢ é em Deus, mas néo tem certeza de que ele 0 ama de Deus e prendeu-a com firmeza no meio do braco. Foi quando meus teflexos de pantera assumiram 0 controle. Intrometi-me por instinto na briga ¢ os apartei. (Anos fingindo lutar caraté na frente do espelho enfim se pagaram.) Como um rojao que dispara feito louco para o ar, as emogées do meu amigo bébado ¢ perturbado explodiram em todas as diregdes. Em uma combinagio rara de raiva, mégoa, desapontamento ¢ desgosto, cle deu vazio a uma enxurrada reprimida de dor espiritual. — Esta vendo? Deus nao me ama. Nem poderia! Nao sou bom o bastante. Vocé, sim, € um bom sujeito. Se aquele pregador acha que vocé vai para o inferno, entao também vou, com certeza. Deus jamais amaria alguém tao mau como eu! Compartilho da dor dele. Também a experimentara fazia pouco tempo. ‘Tentei lhe falar do amor de Deus. Citei as Escrituras, contei historias, até me ofereci para orar. Resoluto, ele resistiu a todos os meus esforgos. Por fim, senti Deus me instigando a usar uma abordagem diferente. — Deus nao me ama! Tenho sido ruim demais! — disse ele de novo entre lagrimas. Fiz que sim com a cabega, em sinal de concordancia. — Sim, é provavel que vocé tenha razio. Ele estacou com ar de estranha surpresa no rosto, uma centelha de consciéncia ardendo atras da cobertura vitrificada dos seus olhos. Pego de surpresa, Sbvio, indagou: — Hum? Continuci: — Nio, quero dizer, é provavel que vocé tenha razéo. Deus ama as outras pessoas, menos vocé, pelo visto. Meu amigo bébado vacilou: — Bem... Pode ser que Deus me ame! 58 O cristo ateu Progrediamos. Continuei, argumentando contra o amor de Deus, enquanto ele de repente se mostrava inflexfvel na defesa de Deus. Em frente a um bar, aquele sujeito bébado ¢ alquebrado se convenceu do amor incondicional de Deus e foi conduzido a Cristo. (Uma retratagio importante: essa nao é uma técnica que eu recomendo. Se vocé for pastor e disser & congregagio que de modo nenhum Deus amaria um bando de pecadores como eles, nao posso garantir um resultado tao favoravel.) Deus é amor, e cada um de nés é amado a cada instante da nossa vida. O amor de Deus nao é como 0 jogo com que minha irma ¢ suas amigas da escola de ensino fundamental brincavam ao pensar em um garoto bonito de que gostavam. Apanhavam um pote de margarida ¢ comegavam a arrancar as pétalas: — Ele me ama. Ele nao me ama. Ele me ama. Ele nao me ama. Apés um bom dia de trabalho, alguns dizem: “Deus me ama”. Se perdemos a cabeca no trabalho, reclamamos: “Deus néo me ama”. Aju- damos alguém em necessidade. Ele me ama. Passamos direto por uma pessoa carente. Ele néo me ama. Tiramos nota maxima na prova de qui- Mata mica. Ele me ama mos a aula de espanhol para tomar sol na piscina. Ele néo me ama. Deus s6 cultiva margaridas de uma pétala no jardim do seu amor. (Imagem estranha, eu sei. Mas tente acompanhar 0 raciocinio.) Deus nos ama porque ele... é... amor. Aquela noite, na frente do bar, meu amigo entendeu pela primeira vez que, apesar dos seus intimeros erros cometi- dos, Deus ainda o amava. KA avaliagdo do amor O amor de Deus nao apenas cobre nossas escolhas ruins — tam- bém nos confere importincia. Mesmo em um mundo com tanta gente ¢ tantos problemas, cada um de nés é amado por Deus. E amado de uma forma diferente — melhor — da que o set humano ama. 59 Quando vocé cré em Deus, mas néo tem certeza de que ele 0 ama A vida tem treinado muitos de nés a pensar 0 amor como algo temporario ¢ condicional. Como na histéria da moga que oferece seu retrato emoldurado ao namorado. No verso, ela escreve um curto bi- Ihete: “Amo vocé mais que a propria vida. Sou sua para sempre. Com amor eterno, Ashley”. Esse compromisso incondicional exibia 0 se- guinte adendo: “P.S.: Se algum dia rompermos, quero o retrato de volta — €0 tinico que tenho”. O conc rio se estende a vida adulta. Ainda na ito de amor tempo semana passada, conversei com um casal bem-sucedido que formara os trés filhos na faculdade e nao conseguia imaginar como seguir em frente agora que 0 nino ficara vazio. Acerca do marido que a acompanhava havia vinte e oito anos, a mulher comentou muito desanimada: — Simplesmente nao 0 amo mais. O amor de Deus é diferente. Ele é permanente ¢ imutavel. Jere- mias 31.3 0 descreve do seguinte modo: “O SeNuor lhe apareceu no pasado, dizendo: Eu a amei com amor eterno; com amor leal a atraf’ ”. Enquanto as pessoas podem amé-lo hoje ¢ abandoné-lo amanha, 0 amor de Deus nunca muda. Por isso, vocé sempre sera um individuo impor- tante, valioso. Paulo escreve em Romanos 8.38,39: “Pois estou convencido de que hem morte nem vida, nem anjos nem deménios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criagao seré capaz de nos separar do amor de Deus que esté em Cristo Jesus, nosso Senhor”. Paulo cobre todas as pos- sibilidades — nada pode nos separar do amor de Deus. Em Lucas 15, Jesus estava na companhia de coletores de impos- tos ¢ pecadores, algo que ofendia demais os fariscus, tao virtuosos aos préprios olhos. Para auxilia-los a entender por que optara por favorecer pessoas, Jesus lhes contou trés histérias emocionantes, il do amor de Deus. | O cristao ateu us A primeira é sobre um pastor que tinha cem ovelhas sob os s cuidados. Quando uma delas se desgarrou, 0 pastor deixou as 99 para encontrar a faltante. A historia seguinte fala de uma vitiva dona de dez moedas valiosas. Quando ela perdeu uma, procurou em toda parte, revirando a casa até encontra-la. A ultima historia fala de um pai de dois filhos. Um filho saiu de casa, mas o pai aguardou todos os dias por seu retorno. Esses relatos tém em comum 0 fato de que quem buscava algo ou alguém, ao encontrar, deu uma festa para comemorar, Contaram aos amigos, vizinhos e entes queridos: — O que se perdeu foi encontrado! Adivinhe. Vocé é esse que se perdeu! Deus 0 ama tanto que esta vasculhando a noite escura ¢ deserta para o salvar. Afastou a mobilia, ras- gou o tapete, s6 para chegar até vocé. Observa cada instante de cada dia, aguardando sua volta para casa. E, quando vocé ainda for um pontinho no horizonte, ele sa iré correndo em sua direcao, bracos bem estendidos ¢ um sorriso de alegria a iluminar-lhe 0 rosto. Ouse reivindicar a verdade de Joao 3.16 para vocé: “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigénito, para que todo 0 que nele crer nao perega, mas tenha a vida eterna” Por que le amaria vocé? Por ser 0 que é amor. O que o torna quem vocé é amado. Capitulo 4 Quando vocé cré em Deus, mas nado na orac¢do CeRTA VEZ UM PasToR pediu & sua igreja para orar a fim de que Deus fe- chasse um bar da vizinhanca. A igreja inteira se reuniu a noite em oragao, suplicando a Deus que livrasse 0 bairro dos maleficios do bar. Poucas 6 restaram cinzas. semanas depois, um raio atingiu o bar, do qual Tendo ouvido falar da cruzada de oragéo na igreja, 0 proprietétio do bar mais que depressa moveu uma acio contra a igreja. Na audiénc ele argumentou com paixdo que Deus atingira seu bar com o raio por causa das oracées dos membros da igreja. O pastor recuou, querendo fugir as acusacées. Admitiu que a igreja orara, mas também afirmou que ninguém em sua congregacao esperava de verdade que alguma coisa acontecesse. "| O cristao ateu O juiz recostou-se na cadeira, no rosto uma expressao entre diverti- da e perplexa. Enfim, disse: — Nao posso acreditar no que estou ouvindo. Tenho na minha nte um proprietério de bar que acredita no poder da oracio ¢ um pastor que nao acredita. A verdade é que alguns cristos ateus creem em Deus, mas nao na oragao. Sao capazes de afirmar crer que a oragio funciona, mas seus atos dizem outta coisa. Alguns oram raramente e, quando o fazem, nao espe- ram que nada mude. Durante anos, isso aconteceu comigo. Os perigos da oragao Minha confissao talvez surpreenda vocé, j4 que sou pastor. Mas nunca fui bom em oracio. Ela sempre me intimidou, ¢ as reunides dedicadas a cla ocupavam lugar pouco acima da manutengao da fossa séptica em minha lista de responsabilidades menos favoritas. Consigo identificar tragos da minha aversao a essas reunides desde o tempo de faculdade. Todd, meu colega de quarto, adorava orar... e orar... e orar. Para ele, quanto mais longas as oragdes, melhor. ‘Varias noites por semana, Todd convidava pessoas para suas reunides de oragao terriveis de tao longas. Todo mundo que realmente amava Deus comparecia, claro, a0 passo que quem néo o amava mantinha distancia. Eu ficava no meio, sem saber como me decidir: amava Deus, mas menosprezava aquelas maratonas de oraco. Nao falhava nunca: 05 figis se sentavam de pernas cruzadas, em circulo, ¢ oravam. Durante horas. As vezes me entediava de tal maneira que pegava no sono. (Ain- da bem que tinha aqueles améns estocados.) As pessoas que oravam ali cram bastante agradéveis, mas aquela histéria de dar as mios me enlouquecia. Quando stiplicas ¢ pedidos ganhavam forga ¢ a reunido esquentava, alguns guerreiros espirituais 6 Quando voce cré em Dens, mas néo na oragéo demonstravam o fervor apertando mais a mao que seguravam. Mais forte, mais forte — “Amém, Senhor!” — mais forte — “Aleluia!” — mais forte. Muitas vezes minha mao era tao espremida que, caso me esquecesse de tirar a larga alianca de ouro da década de 1980, ela ficava enterrada nos dedos vizinhos, formando pequenas crateras em forma de pepitas de ouro. (Vocé também reclamaria se seus dedos fossem espremidos.) Uma vez, quando pedi a um sujeito para nao apertar tanto minha mao, ele me lembrou de que Jesus sofreu por mim, portanto eu nao deveria reclamar. Ter a mao apertada me incomodava muito, mas nao chegava nem perto do problema do suor. Tem gente que sua muito. Demais, na ver- dade. Tem algo muito errado em buscar a Deus segurando uma mao pegajosa que desliza para longe dos seus dedos 0 tempo todo, como um peixe escorregadio. Ou seja, voce jé percebeu por que nunca fui muito de oracéo. Sempre me senti inseguro orando em voz alta. Nunca achei que minhas orac6es fossem longas ou poderosas 0 suficiente. Enquanto as de algumas pessoas —como as do meu colega de quarto, Todd — saem fluidas e faceis, a mi- nha soa como a de um menino do primeiro ano que pede em favor do seu hamster doente. Se a oragao fosse um esporte ¢ alguém estivesse formando as equipes, digamos que eu seria o ultimo a ser escolhido. Por que orar? s cristéos ateus Sei que nao sou 0 tinico pouco afeito 4 oragéo. Muit “criam longas listas de motivos para ndo orar que vao de nao se sentirem bons o bastante nisso a ficarem entediados quando oram; de nao querer incomodar Deus com seus pedidos a nao achar que nossas oracées sio mesmo capazes de fazer alguma diferenca. Tudo isso as vezes parece obs- ticulos gigantescos que nao podemos superar, mas 0 fato é que podemos sim. Eu mesmo encarei cada um deles. Mas, com 0 tempo, Deus tem mudado meu coragao e minha atitude para com a oragao. Em vez de

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