LEHFELD, Neide A. de Souza. Uma abordagem populacional para um problema
estrutural: A habitação. 1º Ed. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1988.
Lehfeld destaca as problemáticas encontradas nas residências informais
localizadas nas margens urbanas da região sul do Brasil. Os tipos de habitações descritas evidenciam a necessidade de sobrevivência dos indivíduos, porquanto em sua maioria não possuem renda para adquirir um terreno e legalizar seu patrimônio junto aos órgãos públicos, fazendo-se necessário a ocupação ilegal de terrenos. Adquirir habitações não registradas é uma das formas mais comuns e baratas na sociedade, onde não há uma infraestrutura adequada nas ruas, os equipamentos urbanos são quase inexistentes e não há saneamento básico. As ocupações irregulares nos bairros afetam diretamente no bem-estar dos moradores e na imagem arquitetônica do local, adquirindo ruas assimétricas e inacessíveis. Lehfeld constata a falta de apoio público a essas pessoas, o qual não poderão adquirir seu próprio imóvel ou não possuem renda suficiente para aluguéis, necessitando assim, compartilhar moradia com outras famílias em cortiços. As favelas têm suas problemáticas relacionadas à infraestrutura urbana e aglomeramento nos bairros, onde os indivíduos possuem suas próprias regras coletivas; esses moradores lutam por melhorias no bairro, fazendo com que representantes da esfera pública se unam a fim de sancionar suas petições. Em relação às autoconstruções, os donos estão diretamente ligados ao processo criativo e construtivo da residência, utilizando todos os seus recursos financeiros e tempo livre para construir. “A falta de asfalto, serviços públicos como coleta de lixo, fazem com que estas áreas se degradem pouco a pouco. Proliferam insetos e animais daninhos, péssimas condições sanitárias e de segurança. A administração municipal se recusa frequentemente a realizar as benfeitorias no bairro que juridicamente não existe, porém, contraditoriamente, exige do morador o pagamento do imposto predial.” (LEHFELD, 1988, p.39) “Esta mudança de linha se deve principalmente às pressões populares dos grupos favelados frequentemente organizados em associação. Mas também é produto de uma ação dos Assistentes Sociais que atualmente consideram a organização da população favelada como primeiro passo de uma intervenção no problema. (LEHFELD, 1988, p.43) “As famílias desta forma vão procurando arranjar um jeito de morar e com isso vão criando um universo de tipos de moradias, soluções cada vez mais representativas e demonstrativas da evolução de um processo de pauperização, acentuado por variáveis como o aumento do desemprego, o crescimento do subemprego, a instabilidade do mercado de trabalho, o crescimento inflacionário e reduzida participação política.” (LEHFELD, 1988, p.46)