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2.

MEDIÇÃO DA ATIVIDADE ECONÓMICA E DAS VARIÁVEIS


ECONÓMICAS
2.1 – INTRODUÇÃO
A medição da atividade económica (num contexto de diversificação produtiva e de crescente complexidade de relações
entre setores económicos e unidades produtivas, de intensificação de relações internacionais, intervenção dos Estados,
etc) não é fácil.

Contudo, num contexto de multiplicidade de unidades económicas, produtos e serviços, é fundamental. A grande questão
que se coloca é como agregar tudo isto de modo a ter uma medida de conjunto, suscetível de comparações entre diversos
períodos e países. E como podemos perceber se a riqueza produzida aumentou ou diminuiu quando comparamos
momentos?

Esta é precisamente a problemática da medição do produto (um problema que nasce com as mesmas condições que
originaram a macroeconomia, quando foi necessário apurar as grandes grandezas económicas, como o total de produção,
investimento ou consumo).

Um dos grandes nomes da medição da atividade económica foi Simon Kuznets, que teve um papel fundamental no
desenvolvimento de metodologias para o cálculo do PIB, baseadas em observações estatísticas. Kuznets formulou uma
teoria de existência de ciclos de desigualdades económicas, em que primeiro se verifica um aumento da desigualdade e
depois, quando um certo nível de rendimento é atingido, a desigualdade decresce.

Este ciclo é expresso através da “curva de Kuznets”.

Contudo, dados compilados por Piketty e Saez sobre a distribuição do rendimento nos EUA mostram o aparecimento de
um novo ciclo de aumento da desigualdade a partir dos anos 70, que coincide com a eclosão da primeira grande crise
económica do pós segunda guerra mundial. Isto coloca em causa as conclusões formadas por Kuznets de diminuição da
desigualdade com o aumento do rendimento. O que estes dados evidenciam é que o processo de diminuição da
desigualdade, que se terá verificado numa certa fase de aumento do rendimento, se terá esgotado a partir de certa altura,
dando origem a uma tendência inversa de aumento da desigualdade.

Fica assim claro o papel importante que a medição da atividade económica e a constituição de séries estatísticas pode ter
na formulação e discussão de hipóteses sobre o desenvolvimento das economias e apoiar a execução de políticas
económicas.

2.2 – MEDIÇÃO DO PRODUTO


Produto – valor de mercado dos bens e serviços finais produzidos num país ou território, durante um certo período de
tempo, utilizando como referência os preços de mercado, isto é, os preços a que são transacionados no mercado o que
permite agregar as quantidades dos diversos bens e serviços. Na medição do produto utilizamos o conceito de Produto
Interno Bruto (PIB).

A referência a bens e serviços finais é importante, na medida em que são excluídos no cálculo do produto os bens e
serviços intermédios, para evitar a dupla contagem na cadeia de produção.

Assim, a definição de PIB, divide-se em 3 partes:


• Valor de Mercado – o PIB obtém-se agregando (somando) o valor de mercado dos diferentes bens e serviços. Um
problema do uso do valor de mercado é que alguns bens (como trabalho doméstico) não têm valor de mercado.
• Bens e serviços finais – o PIB apenas engloba o valor de mercado de bens e serviços finais (produto final no processo,
aqueles que os consumidores efetivamente usam). Os bens e serviços utilizados para produzir bens finais são
chamados bens de consumo intermédio (matérias-primas, matérias auxiliares, outros inputs). Isto é feito para evitar
o problema de dupla contagem.
• Produzidos num país ou território num certo período de tempo – o termo “interno” mostra que o PIB é uma medida
do que é produzido dentro das fronteiras do país.

Contudo, ao medir a atividade económica levantam-se dois aspetos dignos de atenção:


• Se o valor dos bens e serviços finais corresponde ao seu preço de mercado, então teremos um problema no que diz
respeito, principalmente, aos serviços que não possuem um preço de mercado;
• Os preços e o valor dos bens e serviços são influenciados pelos efeitos de tributação indireta por parte da intervenção
do Estado na economia.

Deste modo, importa considerar os impostos indiretos (sobre o produto) e os subsídios (diminui o produto). Consideramos
em conjunto, a tributação corresponde aos Impostos Indiretos Líquidos de Subsídios (TIT): diferença entre os Impostos
(componente positiva) e subsídios (componente negativa).

Estes TIT tanto podem recair sobre os produtos que, ao serem incorporados nos preços, contribuem para o seu aumento
ou diminuição, mas também sobre a produção, cobrando aos agentes produtores pelo facto de estarem ligados ao
processo produtivo (independente da quantidade ou do valor dos produtos produzidos):
• Impostos Indiretos Líquidos sobre os Produtos (TIP): IVA, ISP;
• Impostos Indiretos Líquidos Ligados à Produção (TILP): IUC, licenças de exploração.

Deste modo, podemos distinguir 3 níveis de valorização dos agregados económicos, tendo em atenção a tributação direta:
• Valorização a Custo de Fatores (cf) – corresponde ao que os produtores pagam aos detentores dos fatores produtivos
utilizados na produção (renumeração dos fatores utilizados na produção). Não contabiliza impostos indiretos.
Considera apenas a renumeração dos fatores primários (trabalho e capital).
• Valorização a preços de base (pb) – considera os impostos indiretos líquidos sobre a produção que representam
custos ou receitas fixas para o produtor (TILP). É o custo do produtor.
• Valorização a preços de mercado (pm) – considera todos os impostos indiretos líquidos (TIT). É o preço relevante
para os compradores finais.

𝑃𝐼𝐵𝑝𝑏 = 𝑃𝐼𝐵𝑐𝑓 + 𝑇𝐼𝐿𝑃

𝑃𝐼𝐵𝑝𝑚 = 𝑃𝐼𝐵𝑝𝑏 + 𝑇𝐼𝑃 = 𝑃𝐼𝐵𝑐𝑓 + (𝑇𝐼𝐿𝑃 + 𝑇𝐼𝑃) = 𝑃𝐼𝐵𝑐𝑓 + 𝑇𝐼𝑇

A não consideração dos consumos intermédios é difícil quando se procura medir a atividade económica. Neste contexto,
introduz-se o conceito de Valor Acrescentado Bruto (VAB) de uma unidade produtiva, enquanto a diferença entre o valor
da Produção (Prod) e o valor das matérias-primas e de produtos intermédios adquiridos a outras unidades produtivas ou
produzido nessa unidade produtiva (CI).

𝑉𝐴𝐵𝑝𝑏 = 𝑃𝑟𝑜𝑑 − 𝐶𝐼

𝑃𝐼𝐵𝑝𝑚 = 𝑉𝐴𝐵𝑝𝑏 + 𝑇𝐼𝑃

Produto Interno Bruto – mediação da atividade económica no território de um dado país, todo o valor acrescentado em
Portugal, mesmo aquele que resulta da atividade de uma fábrica cuja propriedade é estrangeira, durante um certo
período, normalmente um ano ou um trimestre. O PIB mede o valor dos bens e serviços finais produzidos numa economia,
mas também o valor desses bens e serviços finais utilizados nessa economia. Existem 4 utilizadores finais de bens e
serviços: famílias; empresas; Estado; Resto do mundo.

É considerado o PIBpm como grandeza representativa do resultado da atividade produtiva da economia (num
determinado período). O PIBpm pode ser medido através de 3 óticas:

• Ótica do produto – somatório de todos os Valores Acrescentados (VAB), realizados nas diferentes atividades
produtivas gerados no território.
• Ótica da despesa – somatório das despesas em bens e serviços finais, realizadas pelas 4 categorias de agentes, no
território de um país.
• Ótica do rendimento – somatório dos rendimentos gerados pelos fatores produtivos utilizados no território de um
país.
MEDIÇÃO DO PIB PELA ÓTICA DA DESPESA
Quando analisamos a utilização final dos bens e serviços, identificamos 3 situações: os bens e os serviços são utilizados
nesse ano de forma a que não desapareçam no processo produtivo; podem ser guardados para utilização em anos futuros;
podem ser exportados para outras economias. Dentro da primeira situação temos 3 possibilidades: são utilizados para
satisfazer necessidade de consumo individual das famílias, da sociedade como um todo ou como bens de equipamento
destinados a aumentar a produção no futuro.

Deste modo, ao medir o PIB na ótica da despesa, temos que considerar as diferentes componentes em que os agentes
económicos efetuam as suas aquisições:
• Consumo Privado (C) – valor dos bens e serviços usados na satisfação das necessidades individuais dos membros das
famílias:
− Bens de consumo duradouros: automóveis, mobiliário, etc.
− Bens de consumo não duradouros: alimentos, roupa, etc.
− Serviços: cabeleireiros, educação, advogados, etc.
• Investimento (I) – divide-se em 3 parcelas:
− Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) – despesa realizada em bens de equipamento, instalações e eme habitação
própria (nova). Temos a FBCF das empresas (novas máquinas e instalações), a FBCF do Estado (infraestruturas,
máquinas, etc.) e o investimento em habitação por famílias.
− Variação de Existências (VE) – diferença entre o valor de existências (stocks) no final do período (STf) e o valor no
início do período (STi). Diferença entre os bens que são produzidos para serem utilizados em anos futuros e o valor
dos bens produzidos em anos anteriores e que foram utilizados no ano corrente.
𝑉𝐸 = 𝑆𝑇𝑓 − 𝑆𝑇𝑖
− Aquisições Líquidas de Cessões de Objetos de Valor (ACOV) – diferença entre o valor de aquisição e o valor de
cessão de objetos de valor, que são adquiridos como reserva de valor. Incluem-se jóias, metais preciosos,
antiguidades, obras de arte, etc.
𝐼 = 𝐹𝐵𝐶𝐹 + 𝑉𝐸 + 𝐴𝐶𝑂𝑉
• Consumo Público (G) – valor da aquisição de bens e serviços finais por parte do Estado, excluindo bens de
equipamento. Não inclui transferências (ex: subsídios de desemprego), compra de equipamentos (incluídas na FBCF)
ou juros de divida pública.
• Exportações (E) – Produção interna vendida ao exterior;
• Importações (I) – Produção comprada ao exterior;
• Exportações Líquidas (NX) – para a medição do PIB entram as exportações líquidas, isto é, as exportações deduzidas
de importações (NX = E – I).

Em contabilidade, os Recursos (origem do valor dos bens e serviços utilizados numa economia. Podem resultar da
produção interna (Prod), da produção importada ou dos TIP e têm que ser iguais aos Empregos. Assim, podemos perceber
melhor esta ótica através do T.

Empregos Recursos
𝐶𝐼 𝑃𝑟𝑜𝑑
𝐶+𝐺 𝐼𝑚
𝐹𝐵𝐶𝐹 𝑇𝐼𝑃
𝑉𝐸
𝐴𝐶𝑂𝑉
𝐸𝑥
𝑃𝐼𝐵𝑝𝑚 = 𝐶 + 𝐺 + 𝐼 + 𝑁𝑋 = 𝐷𝐼

MEDIÇÃO DO PIB PELA ÓTICA DA PRODUÇÃO


É intuitivo, para calcular o PIB na ótica da produção, somar as produções de todas as unidades produtivas para obter o
PIB. Contudo, isto é incorreto.

Para evitar o problema da dupla contagem, devemos contabilizar os bens de consumo final, de modo a evitar contabilizar
repetidamente os bens de Consumo Intermédio. Por este motivo, recorre-se ao conceito de Valor Acrescentado Bruto
(VAB) para calcular o PIB na ótica da produção.

𝑉𝐴𝐵𝑐𝑓 = 𝑃𝑟𝑜𝑑 − 𝐶𝐼 − 𝑇𝐼𝐿𝑃

𝑉𝐴𝐵𝑝𝑏 = 𝑉𝐴𝐵𝑐𝑓 + 𝑇𝐼𝐿𝑃 = 𝑃𝑟𝑜𝑑 − 𝐶𝐼


𝑉𝐴𝐵𝑝𝑚 = 𝑉𝐴𝐵𝑝𝑏 + 𝑇𝐼𝑃 = 𝑉𝐴𝐵𝑐𝑓 + 𝑇𝐼𝑇 = 𝑃𝑟𝑜𝑑 − 𝐶𝐼 + 𝑇𝐼𝑃

Empregos Recursos
𝐶𝐼 𝑃𝑟𝑜𝑑
𝑉𝐴𝐵𝑝𝑏

MEDIÇÃO DO PIB PELA ÓTICA DO RENDIMENTO


O valor acrescentado criado no processo produtivo vai corresponder à renumeração dos agentes, sendo estes Capital e
Trabalho.

Por sua vez, a Renumeração do Trabalho divide-se entre Rendimento pago pelo trabalho por conta de outrem (Rp) e o
Rendimento Misto (RM).

A renumeração do capital corresponde ao Excedente de Exploração (EE).

Empregos Recursos
𝑅𝑝 𝑉𝐴𝐵𝑝𝑏
𝑇𝐼𝐿𝑃
𝑅𝑀
𝐸𝐸
𝑉𝐴𝐵𝑝𝑏 = 𝑅𝑝 + 𝑇𝐼𝐿𝑃 + 𝑅𝑀 + 𝐸𝐸

𝑃𝐼𝐵𝑝𝑚 = 𝑉𝐴𝐵𝑝𝑏 + 𝑇𝐼𝑃 = 𝑅𝑝 + 𝑅𝑀 + 𝐸𝐸 + 𝑇𝐼𝐿𝑃 + 𝑇𝐼𝑃

𝑃𝐼𝐵𝑝𝑚 = 𝑅𝑝 + 𝑅𝑀 + 𝐸𝐸 + 𝑇𝐼𝑇

𝑅𝐼𝐵 = 𝑃𝐼𝐵𝑝𝑚

RIB – Rendimento Interno Bruto

IDENTIDADES BÁSICAS DA CONTABILIDADE NACIONAL


Estabelecidas 3 óticas, chegamos ao importante conceito de Identidades Básicas da Contabilidade Nacional (produto =
despesa = rendimento).

𝑃𝐼𝐵𝑝𝑚 (𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜) = 𝐷𝐼 (𝑑𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑎) = 𝑅𝐼𝐵 (𝑟𝑒𝑛𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜)

AGREGADOS LÍQUIDOS E BRUTOS


Um agregado líquido é dado pelo seu valor bruto deduzido do Consumo de capital Fixo (CCF):

𝑃𝐼𝐿𝑝𝑚 = 𝑃𝐼𝐵𝑝𝑚 − 𝐶𝐶𝐹

O consumo de capital fixo é o valor económico, não contabilístico, atribuído à depreciação dos equipamentos (máquinas
ou infraestruturas) – as chamadas amortizações. Como é difícil obter estatísticas fiáveis das amortizações são
normalmente divulgadas e tratadas as grandezas macroeconomicamente brutas.
ÓTICA DO TERRITÓRIO E DOS RESIDENTES (PIB VS. PNB)
Para a medição da atividade económica ser rigorosa, é preciso ter em conta vários aspetos, nomeadamente o espaço.
Este divide-se em “na economia” (território económico) e em “fora da economia” (resto do mundo).

Agente económico residente – entidade que realiza atividades económicas no território nacional durante um período de
6 meses ou mais.

Produto Interno – valor acrescentado no território económico pelos agentes económicos residentes e não residentes.

Produto Nacional – valor acrescentado no território económico e no resto do mundo pelos agentes económicos
residentes.

Considerando estes 2 tipos de agentes, somos novamente conduzidos a novas grandezas:

• Rendimentos primários de fatores produtivos trabalho e propriedade recebidos do resto do mundo (RPrrm);
• Rendimentos primários de fatores produtivos trabalho e propriedade pagos ao resto do mundo (RPprm).
• Impostos indiretos enviados para o resto do mundo líquidos de subsídios recebidos do resto do mundo (TITrm).

𝑃𝑁𝐵𝑝𝑚 = 𝑅𝑁𝐵 = 𝑃𝐼𝐵𝑝𝑚 + (𝑅𝑃𝑟𝑟𝑚 − 𝑅𝑃𝑝𝑟𝑚) − 𝑇𝐼𝑇𝑟𝑚

POUPANÇA, INVESTIMENTO E NECESSIDADE/CAPACIDADE DE FINANCIAMENTO

Aqui vai ser avaliada a posição líquida do país relativamente ao resto do mundo, em termos de capacidade de
financiamento ou de necessidade de ser financiado.

O Rendimento Disponível Bruto (RDB) é dado por:

𝑅𝐷𝐵 = 𝑅𝑁𝐵 + 𝑇𝐶𝐿

Onde TCL se refere a Transferências Correntes Líquidas do Exterior (diferença entre as transferências correntes recebidas
(TCr) e as transferências correntes pagas (TCp)). Exemplo: remessas de emigrantes.

Do RDB, o que não for consumido vai ser poupado. Assim, a Poupança Bruta (SB) é dada por:

𝑆𝐵 = 𝑅𝐷𝐵 − 𝐶𝐹

CF – Consumo Final (C+G)

Ora, o investimento de uma economia é financiado pela economia e pelas transferências de capital líquidas (TKL). Estas
TKL correspondem à diferença entre as transferências de capital recebidas (TKr) e as transferências de capital pagas (TKp).
Por exemplo, ajudas ao investimento e impostos de capital.

Assim, a Necessidade/Capacidade de Financiamento (NCF) é dada por:

𝑁𝐶𝐹 = 𝐼 − (𝑆𝐵 + 𝑇𝐾𝐿)

Se 𝑁𝐹𝐶 > 0, o país tem necessidade de financiamento;

Se 𝑁𝐹𝐶 < 0, o país tem capacidade de financiamento.

Isto acontece porque, se 𝑆𝐵 + 𝑇𝐾𝐿 > 𝐼, a economia pode financiar investimentos fora da economia.

Analogamente, se 𝑆𝐵 + 𝑇𝐾𝐿 < 𝐼, o investimento não é coberto pela parcela 𝑆𝐵 + 𝑇𝐾𝐿 e, assim, a economia necessita
de financiamento do resto do mundo.

Conclui-se, então, que o investimento é “pago” pela Poupança Bruta e pelas Transferências de Capital.
PIB REAL VS. PIB NOMINAL
O PIB num ano é importante para comparar a atividade económica entre diferentes locais. Contudo, os economistas estão
interessados em comparar níveis de atividade económica não só entre locais, mas também ao longo do tempo.

Usar o PIB para comparar atividade económica no tempo pode conduzir a enganos. Isto porque, para além de variação
de atividade económica, existe também variação dos preços ao longo do tempo. Deste modo, podemos ter uma contração
da atividade com um aumento do PIB em casos extremos.

Por esta razão, é necessário, para fazer comparações temporais, ajustar o PIB à inflação. Isto é feito medindo o PIB nos
diferentes anos com um conjunto de preços comum (de um ano base). Assim, surgem os dois conceitos de PIB:

• PIB real – as quantidades produzidas são valorizadas a preços de um ano base. Permite medir a variação em
volume da produção.
• PIB nominal – as quantidades produzidas são valorizadas a preços do corrente ano.

Um aumento do PIB real não traduz necessariamente melhorias no nível de vida. É necessário ter em conta fatores
cruciais no nível de vida como: tempo de lazer, atividades económicas não transacionadas no mercado, qualidade
ambiental, qualidade de vida, pobreza e desigualdade económica.

Contudo, o PIB real está ligado ao bem-estar: disponibilidade de bens e serviços, saúde e educação.

2.3 – MEDIÇÃO DO DESEMPREGO

O produto e o desemprego estão intrinsecamente ligados. Uma fraca dinâmica do produto reflete-se em menos procura
de trabalho por parte das entidades produtivas. Por sua vez, fases de expansão económica registam um forte impulso na
procura de trabalho. Para além da influência da conjuntura económica, a procura e oferta de trabalho também sofre os
efeitos das mudanças tecnológicas, da adequação da formação escolar e profissional, da evolução da demografia e de
múltiplos outros fatores.

O desemprego é então um indicador do estado do mercado de trabalho. Por exemplo, baixo desemprego pode ser
indicador de maior segurança no trabalho, mais empregos disponíveis, salários com tendência a aumentar ou boa situação
económica no geral.

Existem 3 tipos de desemprego:


• Desemprego friccional – de curto prazo, ligado à heterogeneidade e dinâmicas da economia e do mercado de
trabalho.
• Desemprego estrutural – crónico, de longo prazo, que existe mesmo quando a economia está em expansão (ex.: não
adaptação tecnológica).
• Desemprego Cíclico – desemprego que ocorre durante períodos de recessão.

Fica, então, claro, quando não basta os ciclos económicos para resolverem o problema do desemprego. É necessária
atenção dos decisores pela condução de políticas económicas que o minimizem, de forma sustentada.

Empregado – individuo com 15 ou mais anos que trabalhou a tempo inteiro ou em regime parcial na semana anterior e
foi renumerado por esse trabalho, ou que se encontra de férias ou baixa de um emprego regular.

Desempregado – individuo com 15 ou mais anos sem emprego na semana anterior, tendo procurado emprego nas últimas
4 semanas.

Inativo – não trabalhou na semana anterior nem procurou emprego nas últimas 4 semanas (ex.: estudantes, reformados,
donas(os) de casa, deficientes que não podem trabalhar, pessoas que desistiram de procurar emprego (desencorajados),
pessoas que, por decisão própria, não querem trabalhar)

População Ativa no período t (PAt) – número total de indivíduos empregados e desempregados num momento do
período.

Desemprego no período t (DESt) – corresponde ao número total de desempregados num momento do período.
Taxa de desemprego no período t (Ut) – relação entre a população desempregada e a população ativa. É calculada
trimestralmente pelo INE e através de inquérito por amostragem.

𝐷𝐸𝑆𝑡
𝑢𝑡 =
𝑃𝐴𝑡

Taxa de atividade no período t (tat) – peso da população ativa na população total.

𝑃𝐴𝑡
𝑡𝑎𝑡 =
𝑃𝑜𝑝𝑡

CUSTOS DO DESEMPREGO
Custos Económicos – a redução dos rendimentos (resultante do aumento do desemprego) produz um ciclo cumulativo
de redução da procura, com efeitos de redução das vendas das empresas, mais aumento do desemprego, mais redução
do rendimento e por aí fora, potenciando efeitos recessivos e depressivos sobre a economia. Por outro lado, tem efeitos
negativos nas finanças públicas (redução da receita fiscal e aumento da despesa em resultado da pressão sobre as
despesas sociais, subsídios de desemprego, etc.)

Custos Psicológicos – problemas de saúde física e mental, depressões, quebra de autoestima, perda de confiança, etc.

Custos Sociais – aumento da criminalidade, aumento da dependência de drogas, álcool e afins, aumento da violência
doméstica, aumento das atividades ilícitas, etc.

VARIAÇÃO HOMÓLOGA, TRIMESTRAL E ANUAL


Variação Homóloga – compara o nível da variável entre um trimestre e o mesmo trimestre do ano anterior. É uma taxa
que apresenta um padrão de sazonalidade estável, não afetada por oscilações desta natureza.

Variação trimestral – compara o nível da variável em dois trimestres consecutivos. Extremamente influenciada por
sazonalidade.

Variação anual – compara o nível médio da variável dos quatro trimestres do último ano com o dos quatro trimestres do
ano imediatamente anterior.

ESTATÍSTICAS DO DESEMPREGO
As estatísticas do desemprego podem subestimar o desemprego verdadeiro:
• trabalhadores desencorajados;
• trabalhadores em tempo parcial involuntário.
Mas também podem sobrestimá-lo:
• economia informal;
• fraude para beneficiar do subsídio.

2.4 – MEDIÇÃO DOS PREÇOS E DA INFLAÇÃO


Inflação – aumento continuo e generalizado dos preços numa economia.

Taxa de inflação – taxa de variação anual do nível de preços, ou seja, uma medida ou ritmo a que o nível de preços se
altera ao longo do tempo.

Normalmente, a taxa de inflação é medida através do índice de Preços do Consumidor (IPC), calculado pelo INE, que mede
a evolução temporal dos preços de um conjunto de bens e serviços representativos da estrutura de despesa de consumo
da população residente em Portugal. Ou seja, mede o custo desse cabaz num determinado período, em relação ao custo
desse mesmo cabaz num ano de referência (ano base).

O custo do cabaz de “n” bens no ano base (0) e no ano “t” é calculado, respetivamente:

Custo do cabaz de n bens no ano base:


𝑛

𝐶𝐶0 = ∑ 𝑝𝑗,0 × 𝑐𝑗,0


𝑗=1
Custo do cabaz de n bens no ano t:
𝑛

𝐶𝐶𝑡 = ∑ 𝑝𝑗,𝑡 × 𝑐𝑗,𝑡


𝑗=1

O Índice de Preços do Consumidor será dado pela expressão:

𝐶𝐶𝑡
𝐼𝑃𝐶𝑡 = × 100
𝐶𝐶0

A taxa de inflação pode ser descrita como a taxa de variação do nível de preços.

Assim, se medirmos o nível de preços (P), pelo IPC, teremos a expressão:

𝐼𝑃𝐶𝑡
𝑃𝑡 =
100

A taxa de inflação é a taxa de variação anual do nível de preços, medido, por exemplo, pelo deflator do PIB
Logo, se a taxa de inflação no 𝜋𝑡 , período t, é dada pela expressão:

Δ𝑃𝑡 𝑃𝑡 − 𝑃𝑡−1 𝑃𝑡
𝜋𝑡 = = = −1
𝑃𝑡−1 𝑃𝑡−1 𝑃𝑡−1

PREÇOS CORRENTES VS. PREÇOS CONSTANTES


A consideração do fenómeno inflacionista obriga a introduzir a diferença entre a valorização de agregados a preços
correntes e a preços constantes.

Valor nominal (preços correntes) – valor medido usando preços do período corrente em euros.

Valor real (preços constantes) – valor medido usando os preços de um determinado ano base, permitindo avaliar a
variação da variável sem ter em conta a variação de preços. Estes valores permitem avaliar a evolução “real”, isto é, em
volume, da atividade económica.

Existe, então, uma relação entre preços correntes e preços constantes, medida pela inflação.

DEFLACIONAR
A passagem de uma valorização (preços correntes ou preços constantes) para a outra chama-se deflacionar, isto é, retirar
a quantificação das variáveis económicas expressas em preços do efeito da inflação.

Podemos, então, definir uma variável X em termos reais (X(R)) dividindo o seu valor nominal (X(N)) pelo Índice de Preços
dessa variável (𝑃𝑋,𝑡 ).
(𝑁)
(𝑅) 𝑋
𝑋𝑡 = 𝑡
𝑃𝑋,𝑡

Um exemplo prático pode ser o processo para calcular o poder aquisitivo dos salários em diversos períodos, através do
salário real.

Sendo o salário médio nominal de um ano t dado por 𝑊𝑡(𝑁), o salário médio real 𝑊𝑡(𝑅), a preços de um ano base 0, é
dado pela expressão, onde 𝑃𝑡 é o IPC como nível de preços:
(𝑁)
(𝑅) 𝑊
𝑊𝑡 = 𝑡
𝑃𝑡

Para algumas variáveis não existe em deflator específico (índice de preços), recorrendo-se a deflatores “emprestados”,
pois tem sentido calcular o seu valor real.
ÍNDICES DE PAASCHE E PIB REAL
Enquanto que o IPC é um índice de Laspeyres (utiliza-se a composição do cabaz do ano base), existem índices em que se
utiliza como referência o ano final e não o ano de base. São os índices de Paasche.

São utilizados como índices específicos de algumas variáveis económicas, por exemplo, para o consumo privado (C), esse
índice chama-se Deflator do Consumo Privado (𝑃𝐶 ).

No caso do PIBpm real é usado o Deflator da Despesa Interna (PDI), já que DI=PIBpm.

A operação para deflacionar é dada por:


(𝑁)
(𝑅) 𝑃𝐼𝐵𝑝𝑚𝑡
𝑃𝐼𝐵𝑝𝑚𝑡 =
𝑃𝐷𝐼,𝑡

TAXA DE JURO NOMINAL VS. TAXA DE JURO REAL


A relação entre a taxa de juro nominal e a taxa de juro real também se prende com a inflação.

Taxa de juro nominal (𝑖𝑡 ) – ganho percentual obtido por uma unidade de capital aplicada no final de 𝑡 − 1, e que aufere
juros no final do período 𝑡.

Taxa de juro real (𝑟𝑡 ) – calculada no final de 𝑡 − 1, mede o mesmo ganho, mas em termos de poder de compra presente
(não se conhecendo a inflação de t).

1 + 𝑖𝑡 𝑖𝑡 − 𝜋𝑡𝑒
(1 + 𝑖𝑡 ) = (1 + 𝑟𝑡 )(1 + 𝜋𝑡𝑒 ) ⇔ 𝑟𝑡 = − 1 ⇔ 𝑟𝑡 =
1 + 𝜋𝑡𝑒 1 + 𝜋𝑡𝑒

Onde a parcela é a taxa de inflação esperada no período t, ou seja, uma previsão da mesma já que a taxa de juro real é
calculada no final do período 𝑡 − 1.

Caso a taxa de inflação esperada seja de valor baixo é correto utilizar a aproximação.

𝑟𝑡 = 𝑖𝑡 − 𝜋𝑡𝑒

E, portanto, a taxa de juro real será dada, aproximadamente, pela diferença entre a taxa de juro nominal e a taxa de
inflação esperada. Note-se que se a taxa de juro nominal for muito baixa, o que acontece atualmente, podemos
confrontarmo-nos com taxas de juro reais negativas, se a taxa de inflação esperada for suficientemente alta. Isto pode
ser um estímulo ao investimento, na presença de outras condições.

CUSTOS VS. BENEFÍCIOS DA INFLAÇÃO


Existe consenso de que altas taxas de inflação são perigosas para o normal desenvolvimento económico, dado que são
geradoras de diversas perturbações no sistema (de preços e fiscal) e custos vários, agrupados em 6 categorias:
• Custos de incerteza (difícil de utilizar a moeda como medida de valor, comparar preços, tomar decisões em função
da evolução dos preços, etc.);
• Custos de cobertura de riscos (prémios mais elevados, taxas de juro mais elevadas);
• Custos de redistribuição de Riqueza (os rendimentos que provêm de ativos nominais, salários, pensões, depósitos
bancários, títulos de diferente natureza, etc, saem mais prejudicados com a perda de valor desses ativos, o que afeta
particularmente os mais pobres);
• Custos de “sola de sapato” (expressão metafórica para designar custos relacionados com a menor detenção de
liquidez e a necessidade de mais e maiores deslocações aos bancos, para efetuar transações, aplicações financeiras,
etc.);
• Custos de menu (custos associados às constantes mudanças nas listas de preços);
• Custos resultantes dos diferenciais de inflação entre países (geram grandes perdas de competitividade internacional,
com reflexos a nível do produto e emprego).
• Perturba o planeamento a longo prazo;
• Distorções no sistema fiscal.

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