Você está na página 1de 15
O TEATRO 64 sna estiticn Sem sme Cpe cara ris de SEMASTIAO RODRIGUES Indice Insrougto 9 [Note abe © eile dco, Lats Jnaat 1 Oesho een, Hin Sari 31 Como conti ote, Red Ao 55 ‘fate meio, Fir Sorel 75 © problema or et bm caperai 9 lo SX Rapmad Graal a7 A biomes, Tina 141 a ce ibn 8 estes flit 1 A Akanba, os sinbols © sine, Sion Dione 165 ‘A cenogela alana apa de 195, Cie Po 203 1S decrepit ga WSS. no o- ‘elo, Mites Peas 200 29 iat 297 ‘in Cire Ler 269 Becht © 4 ivr, Jin Tonchet 281 ‘Proce de farce de meat, A'S Ra Farah 207 Aum jor decree tial ae gba a BP He at Oe An Ro As 38 0 cubo ea esfera “Bios Sorin ‘Teno a intensio de pér, em poueas palavras, © prin= cipio de uma discusto possvel, apresentando, a propésto fo ee teattal, duas concepsoes diferentes, nlo sb da rear Tidade cénia, mas até de toda a arte teatral. Talver, até, ‘estas dat concepgdes revelem duas formas de espiito dife- Tentes; e 46 ests morflogis dos epiritos teatrais (espectay ‘ores, tore, autores) me leva a falar de spirits eslricos fou epiiter eibicos, pego desulpa, antecipadamente, desta terminologia bizarre. Deveis ter achado um pouco cai fzndtico 0 titulo que dei esta comnicagio: O Cubo © a sera. Nio tenho a minima intencio de vos propor uma adivinha, A minha dein € bastante simples © vereis que ' ponto de partida ¢, de facto, element, ‘Peto do principio de que’em todas as artes, sem excep- ‘so, mas singularmente na arte teatral, watase de apresen- far, de pér em patuidade, todo um univero: 0 universo da ‘obra, Em patuidade: uso de um termo filosfie um tanto aro que no deve perturbar-vor: designa a existéncia bri- ante, que se manifeta pederosamente nos xprits. ‘Una univerto em presenga.brilhante... um univer apreentado no seu pleno poder de acs emocionar, de nes tanstornar, de nos impor a ava realidade, de ser, para ns durante uma ou duas horas, toda a realidad. igo um utivers, Hamit no ¢ apenas Hamlet, mas também Otis, Horicio, Laertes, ligados pela acglo que fon afonts, os alters, os langa une contra of outos; & tam 3 bem o terrago de Elinor, 0 mar que o bate 0 6a nebulos ‘que pean sobre cle, a terra sob a qual caminham os fant Inast tudo iso deve tomarse-nor presente, envolver-oy dominatnos, se-nos dado, Mas dado — ab ung leonom — por un pequeno fragmento, um niclen separada dewe items Univers, e que tem a miso de, por si uscit-o inteiro em ns Porque munca & posivel reduzir o univerto ds obra 0 ‘que not é apresentada concretamente em cena, Cons eral: B prc que uma porta eja aber a fectada. Uma Imulher © am hontemn(o conde © a marquesa) entre as paredee de um sali, es tudo que nos é coneretmente apresentado, fdr tudo 0 que & carmalmente ¢ ficamente realizado diante de nfs—em presenca grnmeita, se anim poso dizer. Mas ‘quantas outrat presengas pairam em volta © que slo absolue tamente necesdrias A uoqio; que tabiam com a8 noms pperonagens uma nica e mesma aventura? Nio hi ape znat todo tim pasado ¢ todo um futuro: hk tdo © pao {gue at envolve; or invsirie que contém © que agem; hi 0 St. Gams, ovizinho de campo to outives a quem tem de levarse o nel; hia raparigar que levam os chapéus; hi a corrente dle ar que entra pela porta; hi o tempo que fis, ‘0 aguadeiro que passa pelae ruse—a wedlera edlste que castiga os exiilhos das janes, os guarda-chavas, as fran Jinhae das damas e ce burscor das chaminéss, "By a ete ‘mundo exterior, € preciso ainda juntar os mundos interiors, jgualmente invsives © igualmente csenciais & acgio: eset tentimentos, ccs pensamentos das persnagens que € pre- dio tomat presntes. Tudo io esta preente, dima prsenca tio Vaga e flutwante como aguda, evident, actual ainda que iavisivel, (Pensai, por exemplo, no Tartufo, que 6 entra em cena no terceiro acto. da peg © caja invisvel, presenga & nn entant, central desde 0 principio’). 2 Poreanto, uma vex mais, deve sernos presente todo umn universo, mis posto, sustentado, evocado por um nucleo central, por esa poquena porcio de realidade realizda, se asim pode dizerse, que se nos coloca sob of olhos © de {que o pum satis, © cago batendo vivo, 0 centro activo, 0 grupo momentinco dos actores em cena. ‘Mas como obter esa presenga total, essa vida comarn 4e todo o universo da obra, a partir deste paqueno eoracko palpitante, dese ponto central presente © setuante de que © esencial é uma minima constelaclo de personagens? aqui que se apresentam dois proceso (evidentemente, cstlze, simplifco, tomo os dois easos mais puros ¢ mais ex: fremos, na sun mais evidente opasigio). ‘Primeiro proceso: 0 que chamo do eal. Suponhamos todo 0 univeno da obra dado na sua rea- lidade suposta, com toda a sua dimensio de expago, de tempo € de humanidade (todo 0 «teino apodrecidos de. Hamlet, fu todo o Pats de aguaceios da Ports oa todo 0 grupo bar guts de Tarif, sobeposto pelo «principe inimigo da frauden). este univero, cortamon A tera um poquena cvbo —aquele, por exemplo, que contém justamente © posto da sentinels sobre 0 terayo de Elinor} om, eno, o also da marques, ‘com © seu mebiliro, os seus sesséros, a almofada sobre a eal o conde ajoelharé, a acha que pord no fogo e a face interior da porta e da jancia —sem exquecer as duas per- sonagens af reunidas. is 0 abo cio. No interior dese ‘cubo, realizase concrtamente, fscaments, em carne © 080, fem madeira e em tela, ao natural ou em «trompeTocils (pouco importa) tudo quanto deve 1d encontar-se segundo 4 hipotese. Depois, eve cubo de realidades concretas,visk- vyeis © audiveis,abrese para o espectado, elevando wm dos seutlados. E & ene cubo (cia poquena caixa aberta), com, ‘0 seu coated, que fark evideniar todo o rest. Berm volta 3 [REDONDO JestoR dele que s© constriré, bem ou mal, © s¢ ageuparé todo 0 ‘univero, que continua virtual ¢ invisivel Ete preconecito do cubo —ese proceso da relizaeo camplla dem peqies agen bem derminado ea 4 mise da obra—tem ets caracters) mareados do posto de vista eatrl, "Antes de tudo, 0 seu reams. Tudo o que é limitado pelo cibo deve ser eneamado a figurado concretamente “mais ou menos exilizado, pouco importa: em todo 0 ‘eto tornado. aparente aos rentides. (A encenacio género “Antoine, onde tudo € srdedrie no cxbo,é apenas 0 eircom do génera). Este cubo tem uma form dfiniga © limites precies; limites imutives, tanto quanto uma modanga de fea, de lugar ¢ de cena, nfo. vem apresentar-nos um futro cube, destacade, ais, do universo que nos de. Segundo facto: 2 sua erage. O pequeno cubo eats aberio de um lado para 9 espectador. Hata diante dele. ‘Tem para ele um vector, um dinamismo em fecha hori zontal. Se por inrtantes © actor volta ar costat 20 pblicn, So nese momento as suas eastas que se projectam para 0 ‘epectador. Sdoumas costas dinkmicat, Slo esas cota, ‘enquanto a acglo exigr, qu fazem flecha, que agem céni ‘eamente, que contim a frea, uma forga que € come um tro irgido para a sala, chocando com o expoctador (!. Enfim, tereeiro cardccr: @ argue dad, incimods ‘Exe pedago de univeno € onganizado interiormente, de ‘uma oganizacio fisca que se impde de repente ¢ até 0 fim a tudo que se pasar na caina. Qualguer aventura, todas at evolusses dar peronagens, todos os jogos de cena, io Limitados e porior em forma, antecipadamente, pelo Aisposiivo eénico adoptado. E deverko sujcitarse de ma- neira a que se obtenha'o melhor resultado. Assim as eolunas do tempo, no jogo de cena tho conhecido de Mounet Sully: a” Faipo cogo, que tacteis, uma a uma, as colunasy até o m meat em que esta evoligdo o condux A fente do espectador revel miscara sangrenta das pllpebras vari. Da fesma mantia, a excada de Kitty Bell (em Chatrtn) sobre ft qual Marie Dorval se deixa escreegar, mortendo com wm Tongo grito, A excada ext 1 desde © principio, © € preciso aque a Dorval a devya de uma’ manera ou de utr a mencs (gee flo queira morrer Kiem cima, Bem entendido, tudo {Sto pode ser regulado antecipadamente ¢ ab colunas ou a feeada correpondeem um cileul, anunciar profi mente o paseo trigico de Mounet ou o delizar paético Ge Donal. Nao importa: & preciso que tudo se adapte |} uma deciio cénieainicial,a'uma arquitectura preestabe- Tecida, Ate um eanapé, colocado ao meio, & uma forga de Jnereia que blocs um posto, constitui um obsticulo a uma livre dspesigto do eapaco, obriga a que se sentem nele ou ‘que evoluam & sua volta. Donde a importincia, a gravidade ‘4a questo inical, capital para a encenacio: onde deve colo fare 0 canapé? A volugio dash uma forma A cena, uma forma que serd uma fora. BE pasemos, agora, a0 principio eftrico, Verse ‘que € completamente diferente. £ outro 0 seu dinamismo Pritico © ettico (bem entendido que uma vez mais extlzo, xagero até 0 caso puro © extrem) ‘Nem cena, nem sala, nem lites. Em lugar de se ort, anteeipadamente, "um fragmento determinado no ‘mundo & instaurar, procura-se o centro dinimico, 0 corasso palpitnte,o lagar onde a aventura melhor estimula © exalex ‘stu paldico; © deixaae que ese centro irradi livremente € indefinidamente a sua forga. Os actores ou o grupo de sctores encarnam ete coragio, ee puncum sans, ese cen- % {10 dinimico do univerto da obra, slo ofiiantes, mégicor caja poder se excree sem limites fxot, num expaso infinite mente aberto¢ livre. © mundo fitcio de que sto 0 centro desenvolvese © colnca-se to vastamente quanto for poss wel a0 poder sugestivo © instauradar do grupo encantatio, les soo centro ea creunferncia no esté em parte alum —tratase de a prolongar até 0 innit, englobando es pro pris espectadores, englobando-os a sua esfera simitnda, ‘de cana! Claro que € sempre preciso um solo uilitério, um tablado qualquer para nitentar, para deixar cevoluir os actores; € precian umn’ haga, um edificio, abrigo ‘ow anfiteate, para af oloear comm cles os espectadores; mas, coro de eatedal ou pista de ete, coro de albergue iabeinn fu teatro cirular A rus, ee gar da teofania teatal no limita coisa alguma, nio impae a ua forma a0 que se pas, lo tem outro objetivo que mio seja reunie actores expec: tadores em torno deste centeo em que vibra e palita mais ardentemence do que noutro lado 2 aventura de que se anim fo universo da obra Nem qualquer cenitio, pripriamente falando, se por ‘endrio se-eatendem eieas abas de madeirs onde se pintam fem superficie plana aparénciat destinadae ser vitae de eterminado ponto, stwado em frente na. sala, Apenat © que & preciso para fear pasageiramente 0 que, no mundo ‘que se suger, deve intensificarse © marcarlocalment, nam ado monento. Porque ni simpleemente sobre wma pista redonda uma esac dupla e diss caixa se a caixa pode to ‘arse A vontade para nds cadeira ou cepo, cof on rochedo} ‘© a caiea dopla pode madar-e, segundo o instante ¢ a von” fade dramétiea, numa torre, num flanca de montana, num fantasma? No ‘outro sistema, o do cubo, todos os sees do mundo representadotinham fergosamente um ou outro deste, todos de exstincia: ou beim teas vives na cai, ox 6 dentro do limite do corte, ou ainda imatcriais e desenear- fades, além desis limites, no invsiel —nos bastidores. Nada’ de bastidres neste caso. Quando muito «mansese (como no teatro medieval) para as quais cs sees cuja pre- senga € momentineamente menos dtl se afastam para tima ‘precaca mais vaga e longingua, ¢ donde voltam para read- a isibiidade, mais presega actual locali- ‘ada, A medida que, no enquadrameato colective, slo con ttangidos a comparcecr, pela vontade do autor, sob uma eames faja pert alin, peed) lapeate Tumi rar fora do teatro a bave desta encenagio eesti, a erianca sentada numa ‘que chicotia autra e que acha iso suiciente para Imimnar que se deloea num carro ou num tend puxado por ey, numa pista do Grande Norte —convengio ainda vila fem Teatro, conquanto nds, especadores, sejamos envolvidos ‘no mest jogo, tentades a mimar como cla {au antes com (actor) o jogo de que o cancial € a Sguragio mimica © verbal da SegSo. FE pens ainda, mais porto do Teatro, tno wclown» fazendo tela a asséncia eguer a cabega, pre- tendendo que a porbs do prestidigtador ainda voa em volta dda grande cpola de tela. Mat na hiséria auténtea da arte teatral,pensai no actor Garsick fazendo 0 piblico chor yar enterecido (num salso, € certo, € no na cena) embar Jando ‘uma almofads nos brags; depois, arrancando a toda a gente gritoe de angistis, quando, com uma impreeasso fontra 0 pequenina bastardo, ata a almofida pela jancla fora. B, neste sistema, de facto, mais questo do actor do ‘que do 'acesorista, do. decorader ou do maquinista fazer oltear no of um pombo-coreio (como em Mangeromtile); fazer pasar no herizonte a caravan de Marco Pélo (com ‘em Cristide Colada) ou, para volar sempre ao mesmo exem- plo, fizer ater tim mar cinzento no terrago de Esinor. 3 B se esta futuagao, estas pasagens por subtilezas, este estizar entre a presenca completamente encarnada, a pre- Senge mal fgurada. por mn pretext, enfin, a presen mute, se opbe, no stems, no primeito carter, 20 Tudo fou Nada (reslisticamente presente on completamente ausente) {sistema do eubo, hd ainda, aur segundo ponto, diferenca, ‘opasigao. Ji no temos aqui, pelo menor temos | menos possvel face face, 1 oposicio em fecha do espectadore do actor. ‘Tanto quanto postive, nesta catedal ou em torno do estrado redondo, os espectadores figuram como participants: slo Convidades, por assim dizer, com 0 actor no universo que trata de suseitan, Extio na esfera cxjos Timites papitam podem dilatarse até 0 innit, englobando-os, wltrspssan- oon. Camo dine: com 0 cube, # 0 actor volta 38 costa fe piblico, sto as coutas do actor que agem cbnicamente ‘Agora, no s6 0 actor tabalha intero, mas também 0 seu frlunfe seria conseguir, mesmo, zee tabalhar as ensas do fSpeetador, Explicome: Seem Baie, 0 actor que inter preta Baipo, darante sew trgico inguérito, sente a Fatal ade avancar para Rip por de rs de, nat a ots, entbo tudo est bem na esfera!” Pouco importa, entio, no fundo, {que a cena aja onganizada desta ou daquela mancira.f claro {Que no prinepio edbico x encontrava, antes, tendéncia para ‘rganizagbes do género da cena & italiana (que € 0 seu pro- ‘dato natural) enquanto que a outa, a esfera, recore, antes [para onganizagtes nai larga, mais subtis, mais envolventes {quanto a0 piblico, como certs cenas & russ, ou certosanf- teatron, om certas arenas, ou certs espectéculos de ar live, ‘quer srjam actores ov espectadores, tratase de um mundo Sreumpresente, conribuindo pars am eavolvimento coma de todos no acto tetral, Mas, mesmo com uma cna a italiana tabalha-se ‘no sentido deste principio, se procura produzirse ese envlvimento univer, 2 tomar os limites Evanescentes, sia materialmente por process cenogrificos ‘Ge que, por exemple, Gondon Graig oferecea of meio, sea, {de mancira geal, por tudo que tende a romper a evidéncia dos quasdos estrutiais Formalimente ligdos ao lugar cénico. Porque, enfin, 0 duclo cena a Raliana ov, por exempl, anftestry «paleo redondo ow qualquer outro dispositive sdlogo, nto € sent um episddio ¢ uma consequénei par ticular da escola entre ester dois grandes sstemasy que tem, fame outro, ands muitae outs resondncas estticas, is, de facto, um terceio ponto de vista pelo qual ese sforgo de universal expansio do mcleo teatral eésmico se fpde, pela sua liberdade improvisadora © mobilizadora, 8 Timnitagtes arquitecturis preetabelecidas do sistema ciico (© ideal, o inreaizvel ideal sempre perseguido pelos «sf tieos (se pode flare deles como de uma Faga, de uma nacio fou de wna seta) seria a disponbilidade abseluta, pela sim ples invoeagto © como por magia, de qualquer aparénia por fnstantcr necestria, de qualquer dimensio a percorrer ow fconquistat: uma maleabilidade absoluta da. materaldade teatral, numa improviacio completa e sem obstéculcs, sem ‘ileal prévios, em obrigatoiedades, sem agénes exquses» [se me ¢ permitido citar, » propisit, Valéry,falando ape nas de veriieasio; mas, de cto, nho havers uma espécie fe parallismo entre ese problema c, nos poeas, 0, duclo {dos pardon do vero livre e do verso regular?) A falta de poderem realizar este sono, como se arranjardo 08 «espe ritos eserccsn? Na pior das hipétess, pelo proceso do Tugar vago, compleiado quer por evocagdes imagindrias ou ‘convencionai, quer por cenografias de cortinas méveis; oty ‘mais recentemente, cendrios em projecsio, nomeadamente ‘Ginematograficor (mas a fatal presenga de um dan, qual= ‘quer que ele ja, restabelece facilmente a separasion que » te pretendiaevitar); quer, ainda —a falta do paleo grattio, ‘que munca deu bons elites neste género— por cendrios ‘compartimentades (a primeira encenatio do Cid) rejuve- nescidos na América, pla iluinasio ora de um compart ‘mento ora doutro, para atiair a atengso mével dor epec- {adores eriar asim essa impreaio de evocacio instantinea deste ou daquele ponto do univero da obra, & vontade s=- sgundo 0 que couvémn 20 desenrlat patéticn da aventura © ao seu arabesco prdprio. “Mas, ao fond, 0 proceso quase puramente sugestvo, 4 magia encantatrin astentando sobre ' poténca do verbo ¢ autoridade do ator, vagamente sue liada por um minino de fguracio viiel © consientemente ‘concebida como simples pretexto imaginativo © evoeativo (podendo estar muito préximo da chamada arte abstracts) continua a ser 0 melhor meio (..e o mais ccondmico!) de jadar cosa disponibiidade, ex virtual omnipresenga ce mica que € 0 ideal ow o tonho, deste modo do pensamento ‘entra, ‘Véae com as duat grandes concepytics da Arte do Teac two so difrents, tanto no seu principio como no seu fin artstice, no seus efeitor © nor seus melee etéioon, Polo ‘menos, 4 s€ tomam no estado puro, not seus Limits, por asim dizer, nos seus extremes. ‘Mas, penguntarme-ci, qual cicolber? De qual sis partiitios? Preconizais © cubo ou a esfers? Rnvolver- ‘Noweis not Exfércos nos Cubist? Pit bem, recue-me abolutamente a esolher, no sen- tido em que um e outro principio sio concepcien validas, io auténtica uma como a qutea (ainda que anttésias) dx coisa teatal. Eo artista (astor, actor, encenador ot todoe fos das suas cquipas) quem deve exclher de que mancixa pre- tende partir o ovo. F, bem entendido, os temperamentes pes soais também servem pars alguma coisa: tal encenader, spol *” neo em soma, prefer ums tare que faz dle o bio arqui= tecto preparanda as evolugées ou os movimentos, ptéticns ou cspectaculares dos seus elementos pela engenhosa © poderosa ‘rrutura que omdenaolimpicamente dexde » orgem, talhando 0 seu hocado de realidade. Outro, mais dionsiaco, embri sgar-sed a resumirnele todas as frcas em ebulicio no pale, amplisndo livemente o ritmo, fszendose o ordenador dum sande rito evoeatério em que dixie até do pensamento ‘do priprio pblico, “Ha também, cl cespectadores, a busca do novo ou a fidlidade aos teunfos onquisados & nebreaa do pawado, "Mas tudo isto € suceptivel de uma apreciagio de con jumo ¢ talver de um esforgo de sins. ‘Um e onto, disia eu, sio autéaticese vidos, © prin cpio elric, tals primitive, mais original —em cert faspectos mais wreligioo» (no ventido mais vasto do tert) — @talver tambémn o que ofereceactualmente mais campo para ovat investigagtes, ao alargamento do Teatro a novos des tinoe, "Mat @ principio do cubo, mai slide, mais elsico (Ginda que também porss ser alargado e diverifcads), mais tun no Teatro dests tes itimos cals, tm por ele prenas cstruturas e brilhos espectacular, estlzagdes que podem dar lugar aos mais nobres engrandecimentos de ordem monu- rental. De facto, a arte teatral tem como que escildo itmicamente entre as duns tendéncias, como acontecia, pr exemplo, com o Teatro grego, que os altemava em opo- cio, na proeminéncia altemativa da orquestra e do lesion ddo coro e dor actore, O defrito do principin cibico —on se estas fatiado de ouvir sempre ests palavras— do prin- cipio da onganizasio arquitecténiea de” um bocado privi- Tegiado do univer da obra, ofrecido de fente para 0 expe tador, & que on 1 limita demasiado a reproduzir tal qual sem arte, um fragmento do real olhado como pelo buraco a Aa fechaduras ou enti esiliza,ondena, tende a posco ¢ ppuo para 0 exces do expectacaar, de qualquer mania Eeinicn A cals fichese sobre "um “estilo tado fond, diate de um cenirio de fando, tis 0% quatro Denagens fice 10. pubic, primey dorm, depois {Pocam ealidncOpicaente os seus lugar © rcomecam Aiscorrer sobre win dipstvo novo, © asim por dante até aque se tenhamn cagotado todas as combinagter de lugares EE, no entanto, em longs tervals igus, quatto ou cinco veer ao todo, dase também a forma ou o colorido da Cina, Ea preenga central do dvd ow da coadaria de Gupta vluta‘ov da etitua de Apolo rgulstn antecipada- tment o ebalet Que spirago, oly, de um alargamento de tudo Sno, um dri de toda a separa, uma explo- So través do epago, uma dacida ao ao dos pectadors, tom turbo arratando acores © epetadore para um omum fervor de exaltagia? ‘Sim, mas vem a altematva, Depois do éxito do principio feo, aparece eta caricatrn; se 30 tata do {rigico: a evolu orguéstics de vrios cos, em volta da fry, no centro da gual alguns ofclantes pralmodiam ou se faegan a una apie de tole coreografa, procedem “tsi, por uma teofania acim de tudo verbal, 8 evteagto de Gqunlguer grande leds ou de qualquer mimo (dor tempos Dads ou dor tempos future) a0 qual mares de epee= fore, sender sobre grass leurs, empresa um Inve) sleniw, dei e alacinante fervor; os tet de coma, qualquer vz e universal satura, qualquer impro- Visago ‘camavalocs nama comunitiria legit, Que se tormn no a cols verdadeiamente teatraly a arte cfnicn Pripramente dia? Que tentagio de der, por exemplo, ewe scedots Incr’ iba ewe estado ou a € cont Fo A vos digidade, delegai nos vou substerac, no dex 2 denhando agarrarse striamente tanto em acco como em palavess, diante de nés sobre as tabuas, com mimica e cené- Flos! Ou entio a exe chamarizes de earnaval: sal do meio ‘da tlt, subi a0 paleo € mostai-nos 0 que sabes fazer Sm beless. “Or nto € por uma tal operacio seleetiva, {que o Teatro nascen e renaice constantemente das suas oFi- fens religiosss ou socinlmente colectivas? Este regrsso {da esfea ao eubo no € uma reconsituigto denica do teatro? Portanto, a verdadeira vida do Teatro oscla entre os dois polos conririog, « exaltae © activese na sua Tata, 00 Sea duplo e contri impullo, na perpétaa nostalgia destes dois termos extremos, munca ‘completamente triunfantes — porque, entio, 0 teato propriamente dito morrria, {Esa antinomia esencial, este duplo principio (ou et lternativa tentarso) parecesme fazer parte do. préprio ser da coisa teatal. Se € preciso esbooar, para adogar a anti roma, a posdbilidade de uma dnt, direi que o verdadeiro ‘movimento tetra, ou pelo menos o” mais natural e 0 mais ffieaz, €0 que parte do cubo para, pouco a pouco ou bros famente, faser rorge a efera. A vantagem do cubo € fan- Sonar muito maie eaticamente © espectacularmente, por fama apresentagto que interewa os espectadores mesmo antes dd estar enfeitcadoe, © princspio efrio pede, exige ese tenfeltigamento dene a origem e, a menos que exsta uma doc Fidade’anteipadamente adquitida por qualquer convieeto ‘ou a qualquer respite numa grande espera prévia, éthe Gificil spanhar (de choque) o espectador. Mas, no eatanto, fo melhor ¢ mais total éxito da arte € obtr, cedo ou tarde, for enfeltigamento colectivo, esa alucinante presenga total do vniverto da obra, que acaba por habitar 0 auditrio inteiro, em cominhlo; comunho quase-reigion, como 0 demonstra Gouhier (qe creo als poder enfileirarsobretudo fentre ot esferistats) na sua excelente Buia do Taare (2). a que, além de tudo 0 mais, tratase da arte como da realidade: 0 homem et, todas nétstbemos, 0 mesmo tempo tno mundo aa presenga do mando, Em toda a aste como fem toda a reaidade, hi uma expécie de presenga exterior, de resto, indipensivel; e também uma expécie de presenga pelo interior nso menos tl e talvex estencialmente mais Gominadora. Eo éxito da arte teatral € momento em ‘que, em tomo da pequena organizacio arquitectnica principio apresentada de frente, cree, espand-se © dis farse uma presenga cada ver mais vasa, cada ver mais cde rica, que enfim reine, conguista, atsorve turbilhonarmente ‘ofciantes e assistentes,habitantes do mesmo univer, su ‘tudo ¢ imposto pelo acto magico da arte. Se fowe neces rio precisa, do. ponto de vista dar erganizagtes técncas f céniess, diria que o melhor teatro seria aquele que per ritiee melhor esta passigem: wma evolugio da accio que pudese, primeio, apresentarse de fente numa cens quase fem profundidade, © depos, por alargamentor sucestivos, fomstituinda momenter exencis, uma desida por degraus, até 0 meio das expectadares, para fnalmente os envlver ‘€os confundir num acto comm, ardentement ¢ livremente constrtive. "Mas para qué precisir? Cada obra apela para gua propria forma de ecloso, E precios sempre de lum microcosmos estelar, organizado arqutecturlmente, rico também de todas as poténcias da form, mas dirgindo pra 0 espectador uma acjSo cada ver minis aba, cada vez mais conquistadors, cadaver mais dilstada em presenga ‘universal. Em todo o cavo, € bem esta tansfrmagao pro- atesiva de um microcosms em macrocoame, que € 0 Seto ‘wiunfante da ate do Teatro, que nenkuma outea arte permite ‘com a mesma amplitude. Porque 0 eneicamento final universal deste triunfo sempre desjado e por vez obtida faim tio plenas vibragdes, a8 © Teatro permite eta presenca, “ meio conereta mcio caititual, meio ofereida aoe sentidos ‘¢meio slacinante, de um universo em toda a roa dimensio fe em todo 0 sew patética: ¢ & isto mesmo, este instante de resenca total, que €0 acto tetra no seu verdadeiro momento, Isto én seu momento sublime () 9 de Dezembro de 1948 NOTAS 0 prof. Sowa, loge mv praca deste ens, compa por advert © urs (2 Ir) de que se eta de uma dein Simples, de am facto clementar, qu estiliza, simplifica que ve tat de care pos, exiemon. Nom poia deisar (de ver—e 0 rir pre. Seri »vecoued mais aiante— ‘ieilmente quando mos coca pane 0 caso extreme dt tui cb urcordtr herman sua ds faces (laters de fondo) facndo spor que ve ali dass © epecador rade pode ver Toman, m0 entente, de consider ue, estado actual de ice di etn de cms, bs & pase extemar 08 dis intenas. De merma mawira ue se derabeu a fue do cabo llada pore» eipectador, pare etaler 0 caacto audi Fiotugar dramaticy, eta moder de ena tend, cada 0 ‘mais, a desfacrse dar eras its faces (cnuzendse, em ory um culo inaginéri). Aide, mano sem ree a sna irate, sempre pastel Jzer rodat imaginiia~ Imei, tars) © exo, linnando exioamente @ fae ue Intersie an exrnder, pre colacr publi do pont de esta (qe maix conenba para atingir 0 punctum aliens — ax apo de cen, segundo «mse priria conan, deiida ¢ expiada em tras entries. Na veda, tue conse em faze soda cb em tre de am iso src que passe elo punctum saliens (para “6 saror sé exes do po. Suro) de mantra a clear wierd pont de ita gu amin eco. ‘0 eubo um ligar dramdtio a tris dima 0 ere de einena im eps Groin das dimenses« comesonde, ‘rata & face do eibo ue 5 elinnou, Se 0 reliendor mategrie pretde elcar 0 epecador em frente: fon- tas de thin, Betethe deslocar « edmare para te mama jpovtn devia, deslocando com ele 0 epecair. No Tea- fre fad 0 efttader em Setar pio da sola, 0 font eta sie alter pel marcogao do ctr (0200 paso ‘meinen em cena) pla fae do eo gue seeing em ‘elie a ume sas drama anterior. "Mas a pencvagéo do aibo na efera (e nlo ms esque mes de que ma. efi & 0 limite para gue tende wm pi Ijundy 6 nimero de foes tede para ifaito ¢ a dra dass Iremas face tendo para ee) frocenase ands mama com fuse de profundidade wo sentido do iso longitudinal do Siena ceisala com 0 3 do eidrama a subitisir 0 face ‘defn do cabo (e m0 ror grande parte das fas laters) {jel esags do prs até a plata, em ctha, ot da pl tea els laters de cna De vo os problemas guts ple, no cao do cub, guano pass de expetader em reagan av stun sliens sd earlannte es mumon quando considera sistema da esr, pis fester, em qualuer da cae cepa spre um fonts Jun que the di wm pono de vita sb decd! na medida em (pu morag «conse Henri Gaskin, de face, também nutes obra (LiOewvre ‘Tektrale— 0A Asan Unifadorn) eres: A jo ton por fi faer extr peonagns. Ore rom fala de evitcin esl visa um fess existe mm (esto meio fico (0 mBlinkado nase) geen, iste, a om tudo © gue is imple? « mana ou 0 mar, 6 cidade fo camps, gruper scies com leis mois, crema eligi, ‘rage A felarevicion no dee enganar® no irda sma rl espace epundo bindne extn intern. Tits ‘etd em Roa, mae Roma tts om Tite, O meio ¢ a9 memo lao exterior «intron & pasa’ es pare rents abrtae fla pode sears completamente fess do mai. ‘Quando um dtamange ta rduir a parte do que pode ser extoivizade no mio, a natrece de ota etal > 5 opde; naa naa poi 0 seal sco de wm drama pro sore um palo mu.” Mas & persvagen mae aninine sr ‘mo eta, um omen qu pas eve mum ero mane, qe do pears nom seria da mesma mania ram out rd A ecg drandtica no tom seer signfeogio endo om rl (fo @ condeadas estas mori qut sis dass com E Gaulier expe, ends, sir adianes “

Você também pode gostar