Você está na página 1de 15
TRANSTORNOS DA pore ee Ie a ica e NEWRA TELLECHEA RODTA RUDIMARDOSSAN WERIESGO T772__Transtomos da aprendizagem / Newra Tellechea Rotta ... [et al.].- Porto Alegre : Artmed, 2006. 480 p. il; 25 cm. ISBN 978-85-363-0683-4 1, Neurologia - Transtornos da aprendizagem. I. Rotta, Newra Tellechea, CDU 159.953.7-008:616.8 Catalogagio na publicagio: Jtlia Angst Coelho - CRB 10/1712 Capitulo 20 Dein: fanstorno da atengio ¢ sua relagdo com as idades para a aprendizagem constitui a Acipal causa que leva criancas em idade esco- S consulta neuropediatrica, Embora, nos til- 95 anos, 0 encaminhamento para avaliacao dificuldades reais da crianga tenha sido ca- mais freqiiente, essa nao é uma situacao a. Podemos dizer que, com diferentes deno- acées desde o final do século XIX, os estu- s jé se preocupavam com as criangas que, seu comportamento diferente, apresenta~ a desempenho escolar insatisfat6rio. Hi cm 1896, Bourneville descreve a instabili- @ como uma ruptura do equilibrio entre os sos ¢ as inibic6es. Foi Still, no entanto, 1900, quem pela primeira vez descreveu um dro clinico com caracteristicas de déficit de acao e hiperatividade. encour, em 1905, relata a existéncia de uma abilidade pura ou essencial, em seu trabalho emalies Mentales des Ecoliers”, e faz a dife- fa desta instabilidade com a do deficiente, p histérico e a do epiléptico Binet e Simon estabelecem nessa época uma demonstrativa do desenvolvimento inte- fual dos 3 aos 15 anos de idade. Nesse mo- Bato nasciam 0s testes psicolégicos que, a par- ; foram enriquecidos com intimeras con- iicGes. A avaliacao psicolégica permite esta- er curvas de desenvolvimento psicolégico Srianca, diagnosticar as variacdes de sua in- Transtorno da atencdo: aspectos clinicos teligéncia ¢ de suas atividades perceptivas emo- toras, além dos aspectos emocionais. Em 1907, esses autores, na monografia “Les Enfants Anormaux”, foram capazes de distinguir trés tipos de criangas que freqiientavam escolas es- peciais: os deficientes mentais, os instdveis ¢ um grupo misto, ou seja, formado por deficien- tes com problemas de comportamento. Enfati- zavam 0 instavel, que embora parecesse defi- ciente apresentava bom rendimento intelectual na ayaliacao psicoldgica. Dupré, em 1907, usa o termo paratonia para definir a incapacidade de relaxar voluntaria- mente um miisculo ou grupo muscular, ¢ esta, acompanhada de outros sinais como as sincin sias e a catalepsia, faz parte do quadro por el descrito como debilidade motora. Chama a atengio de que o “débil motor” nao apresenta paralisias ou paresias, mas sim dificuldade para realizar adequadamente os atos motores co- muns. Heuyer, em 1914, estudando a crianca ¢ 0 adolescente instdveis, relaciona debilidade mo- tora com delingiiéncia juvenil. Head, em 1921 enfatiza a importancia da integracao do esque- ma corporal no desempenho motor e afetivo durante o desenvolvimento. Em 1925, Wallon. em “L’Enfant Turbulent”, caracteriza uma constituigao especifica de instabilidade e define as alteragGes sensitivo-sensoriais que se mani- festam na esfera motora. A partir das consideragées de Dupré em 1925, em seu trabalho sobre debilidade motora, 302 capitulo 20. Transtorno da atencao fica bem clara a importancia da constituigao emocional da crianga como base essencial de sua motricidade. Dupré diz que o débil motor nao apresenta leso motora cerebral, mas tem dificuldade para realizar adequadamente os atos motores comuns. Se associarmos as obser- vagées de Dupré aos trabalhos de Schilder ¢ Bender, nos quais se estuda que todo transtor- no perceptivo e gndsico repercute na conduta do individuo, ¢ aos de Wallon, especialmente “L/Enfant Turbulent”, quando caracteriza uma constituigao especifica de instabilidade e define as alteragées sensitivo-sensoriais que se mani: festam na esfera motora, poderemos ver a im- portancia que os diferentes autores passam a dar aos problemas espectficos praxicos e gnési- cos, na constituicao do quadro psiconeurolégico das dificuldades para a aprendizagem. Burt, em 1926, reafirma os conceitos de Heuyer de que a instabilidade da crianga é a chave da delingiién- cia juvenil. Em 1951, Beley fixa a idade de sete anos co- mo limite para a instabilidade fisiolégica da crianca, considerando que a partir dessa idade se poderia cobrar um comportamento motor mais maduro. Por meio de estudos de Piaget sobre a repre- sentacdo espacial e dos trabalhos da escola fran- cesa, especialmente os de Wallon, Ajuriaguerra ¢ Stamback, tem sido salientada a importancia das practognosias. Esses estudos chamam aten- gio para o fato de que praxias e gnosias sao fungGes corticais superiores inseparaveis. Com base nas conclusdes desses autores, Strauss ¢ Lehtinen, em 1947, descreveram uma sindrome que se caracterizava pelas irregulari- dades do aprendizado, da funcéo psiquica, do comportamento e da motricidade. Afirmam que a crianca, por ser hipervigilante, ou seja, por seu cérebro ter dificuldade para controlar a in- tensa reatividade, quando exposta a estimula- ao ampla e continua, no consegue controlar seus impulsos. Torna-se instavel, desatenta a situacao da classe, com um desvio de atencao que se fixa no movimento dos colegas, em um ruido, objeto, etc. Por outro lado, comentam também a existéncia de outro tipo de crianca frente a situagao de aprendizagem: aquela que chama atencao por ser lenta, torpe, e que t bém é desatenta, com sua atenéo fixada situagées que, para uma crianga normal, riam despercebidas. Recomendam que criangas cursem classes especiais com po alunos, nao mais de 12, distanciados uns outros, com um minimo de estimulo de fui para que, dessa forma, possam se dedicar int ramente ao estimulo principal. Téo logo possivel, estas criangas devem abandonar classes especiais e voltar para as classes muns. Esses autores salientam a import da aprendizagem de ritmo, do adestrame motor ¢ da linguagem na recuperacao das culdades psiconeurolégicas. Em 1954, foi consenso a denominacao de sao cerebral minima (LCM) para essa sindt uuma ver que as ctiangas se comportavam coi se fossem lesionadas, deficientes ou epilépti sem apresentarem outros sintomas que fech sem 0 diagnéstico. Em 1962; no simpésio Oxford, foi substituida a expresso LCM disfungao cerebral minima (DCM), ja que havia sido comprovada a possibilidade de le Abercrombie, em 1968, definiu entao Di como “dificuldades especificas do aprendiza que muitas vezes se acompanham de um px irregular no WISC e/ou no teste de Bender, criangas hipercinéticas ou distraidas, torpe Com essa definicao foi possivel identificar es! tégias de manejo da DCM. Ja em 1937 Bradley relatava a agao de psicotr6pico, a benzedrina, sobre o déficit atencao, ecm 1955 sugeriu o metilfenidato, psicoestimulante até hoje fundamental no. tamento das dificuldades atencionais e da peratividade. I Definigoes Em 1966, Clements denominou “déficit atengao” a sindrome que vinha preocupant tantos especialistas. Em 1975, na classifica para doencas da Organizacao Mundial da Sat de (CID-9), ficou bem-definido o transtor em que a principal caracterfstica era um grat déficit na concentracao. Em 1980, 0 Manual Diagnéstico ¢ Estatfstico ‘Transtornos Mentais, na 3* edigéo (DMS-II1), jamou esse transtorno de “desordem do dé- icit de atencao com ou sem hiperatividade”. 1987, 0 DSM-III-R (revisado) usou a ex- ressdo desordem de déficit de atencdo e hipe- tividade. Em 1994, 0 DSM-IV definiu mais yramente esse transtorno, tendo também va- rizado, além de desatengao ¢ hiperatividade, impulsividade. Atualmente define-se 0 transtorno de déficit atencao/hiperatividade (TDAH) como uma lrome neurocomportamental com sintomas ssificados em txés categorias! desatencao, hi- alividadée impulsividadg. Portanto, oTDAB caracteriza por um nivel inadequado de aten- jo em relagao ao esperado para a idade, o que a a distiirbios motores, perceptivos, cogniti- € comportamentais. No DSM-IV sao mencionados trés subtipos TDAH: com predominio de desatengao, com dominio de hiperatividade e uma combina- de ambos. Disso resulta significative com- etimento funcional em diversas Areas, seja démica, profissional ou social. ‘Como crescimento da crianga ocorrem possi- idades crescentes de co-morbidade psiquia- a. O TDAH € considerado um disttirbio do envolvimento que inicia na primeira infan- eque pode continuar até a idade adulta. abe-se hoje que o TDAH é uma sindrome serogénea, uum dos maiores problemas clini- e de satide piiblica, que acomete criangas, lescentes ¢ adultos, causando grande im- tona sociedade pelo alto custo, pelo estresse colvido, pelas dificuldades académicas, pelos yblemas de comportamento e pela baixa au- sstima. O TDAH € definido por meio de duas tentes: a dificuldade para manter um bom | de atencdo e a hiperatividade com impul- idade. )Prevaléncia prevaléncia do TDAH é estimada em toro 3 a 30% nas criancas em idade escolar, em ferentes paises, incluindo o Brasil. Conside- 303 parte 2 Transtomos da aprendizagem rando 19 estudos com metodologia semelhante, observam-se variagdes de 2 a 17% diminuindo a prevaléncia & medida que a idade aumenta Guardiola e colaboradores, em 1993, consi- derando a histéria, o exame neurolégico ¢ © exame neurolégico evolutivo associado a avalia- Gao psicolégica, encontraram 3,6% de escolares com a sindrome. © transtorno na infancia € mais freqiiente em meninos do que em meni- nas, com uma relacao de 2:1; no entanto, de- pendendo dos critérios de incluso, pode chegar & relagao de 6,2:1, quando sao considerados ‘apenas os casos de TDAH graves. Na idade esco- lar, a relagio entre meninos e meninas aproxi ma-se de 2:1; na adolescéncia, parece haver um equilibrio de 1:1; ¢, nos adultos jovens, ocorre predominio feminino de 2:1 Sabe-se que em 10a 60% dos casos de TDAH, os sintomas podem persistir na idade adulta. Portanto, se considerarmos a prevaléncia no adulto podemos encontrar de 0,3 a 2,5%. Orisco na crianga de apresentar mau rendimento esco- lar e dificuldades de relacionamento devido ao ‘TDAH pode se transformar em delingiiéncia no jovem, ¢ em risco de acidentes de automével, abuso de alcool ou drogas, além de dificuldades profissionais, no adulto. No sexo feminino hd um predominio de de- satengao como expressao clinica, enquanto no homem sao mais expressivas a hiperatividade eaimpulsividade. Criangas com TDAH tém um risco aumentado de desenvolver outras sindro- mes disruptivas do comportamento. Estas po- dem ocorrer tanto na infancia como na adoles- céncia ena idade adulta, principalmente trans- torno opositor desafiante e transtorno de con- duta, bem como problemas académicos, com- portamento anti-social e abuso de drogas. J] Etotosia A etiologia do TDAH € multifatorial e fazem parte dela os fatores genéticos e os ambientais em diferentes combinacées. Sabe-se que nao existe um tinico “gene do TDAH”, mas sim varios genes de pequeno efei- to, que associados tém capacidade para conferir 304 — capitulo 20 Transtorno da atencio uma propensao ou vulnerabilidade para o de- senvolvimento do quadro. © gene transportador de dopamina (DAT1) € 0 gene que codifica 0 receptor de dopamina (DRD4) parecem estar en- volvidos na transmissao genética do TDAH. Essa discussdo esta expressa no capitulo anterior. Ao lado dos fatores genéticos existe fatores exégenos ou ambientais que coexistem com 0 primeiro, Os-fatores ambientais ou ex6genos podem ser divididos em pré, peri ¢ pés-natais. Esses mesmos fatores podem levar a alteragoes lesionais ou funcionais do sistema nervoso cen- tral (SNC). No caso do TDAH, sao destacadas as alteracées funcionais. Entre os fatores pré-natais, distinguem-se infecgdes maternas, as quais, atingindo 0 SNC em formagio, podem produzir alteragées no seu desenvolvimento; intoxicagdes da mae, tanto medicamentosas como por ingestao ou aspira- cdo de substancias txicas; irradiagées, tanto criminosas como terapéuticas; além de outras possibilidades que, alterando as trocas mater- no-fetais, sao causas freqiientes de comprome- timento do $NC, como doencas maternas créni- cas e traumatismos. 0s fatores perinatais, principalmente os que ocorrem no desenrolar do trabalho de parto, podem ser divididos em causas maternas, fetais e do parto. © Entre as causas maternas estao indufdas: malformacGes pélvicas; primipara idosa; anemia; hipotensao; sedacao exagerada, levando a depressao fetal; hipertensao. © Entre as causas fetais se destacam: ma- crossonia fetal; sexo masculino; primo- geneidade; prematuridade; dismaturida- de; malformacées fetais; distirbios respi- ratorios do recém-nascido (membrana hialina); sindrome de aspiracao macica; hemorragia pulmonar; incompatibilida- de sangitinea materno-fetal. * Entre os fatores do parto, sdo considera- das as distocias como: placenta prévia; deslocamento prematuro de placenta; procidéncia e anomalias de cordao; rup- tura precoce da bolsa; manobras de extra- 40; parto-cesérea. © Todas as causas supracitadas pod var, em tiltima andllise, a contusao bral, 4 hemorragia ¢ a asfixia feta Devem ser considerados como fatores natais infecodes (meningites, encefalites} morragias (malformag6es vasculares); tra tismos craniencefélicos; intoxicagées pr sos expansivos. Entre os fatores ambientais ainda tem im 1ancia o ambiente em que a crianga se desen ve, nao s6 o nivel socioecondmico, mas tamb as condigdes psicoafetivas da familia na q esté inserida. Importa ainda se a gravidez: planejada, bem aceita, ou se 0 bebé se dese veu na vida intra-uterina em um momento frustragio, de ansiedade ou de depressao dam O real papel dos fatores ex6genos nao € bem-caracterizado, mas sem dtivida existe mais no TDAH além de etiologia genética. Sabe-se que a fisiopatologia do TDAH ¢ ve o circuito regulatério neural, incluindo o: tex pré-frontal e os ganglios basais, que sao. dulados pela funcao dopaminérgica do me céfalo. Trata-se, portanto, da expressio de racées neuroquimicas do SNG, que foram descritas no capitulo anterior. O diagnéstico deve ser fundamentado no q dio clinico comportamental, uma vez que existe um marcador biolégico definido paral dos os casos de TDAH. Inicia com uma hist cujo objetivo € identificar fatores de rise queixa que motivou a consulta constitui a meira preocupacio, se foi motivada preda nantemente por desatencao, se predomi hiperatividade ou se ambas estao presentes & amesma intensidade. E importante saber d de quando a familia observou os sintomas em que situagies eles ocorrem., Sabe-se para considerar 0 diagndstico de TDAH € cessario que os sintomas ocorram em mais um Tocal, ou seja, nao sé na escola, ou na em casa. F esperado que a sintomatologia p em situacées de estresse. importante jnvestigar a hist6ria clinica na tiva de destqcar a presenca de alguma cau- potencial lesao cerebral, como prematuri- je, hemorragia intraventricular, encefalopa- hip6xico-isquémica, hidrocefalia e trauma- 10 craniano. A identificacao de sindromes podem cursar com comportamento seme- te é importante, como sindrome de Down, rome do X frdgil, sindronie de Williams ou irome alcodlica fetal. ve ser exclufda a possibilidade de que a tencao e a hiperatividade-impulsividade secundarias a um transtorno opositor de- wnte ou transtorno de conduta. Em relacéo abilidades cognitivas, devemos estar aten- 4 hist6ria de atraso de linguagem e dificul- de aprendizado em geral. A observacao cadernos e 0 resultado das avaliacdes esco- auxiliam no diagnéstico, revelando desa- o ¢ impulsividade, omo jé foi visto na discussao da etiologia, sempre ser perguntado sobre os perfodos peri e pés-natal, na procura de qualquer pa- ia prévia que possa agravar a sintomatologia historia familiar é importante, uma vez que JAH € uma patologia com base genética, se totalmente esclarecida, pelo menos com tos aspectos j4 comprovados. Estudos em .e0s e em criancas adotadas tém sido impor- {tes para o seu esclarecimento, A histéria dos , tios, avds e primos contribui para o melhor jendimento do quadro clinico. ‘Ap6s a anamnese, é importante a observacao critérios do DSM-IY, e a seguir sao realiza~ ‘exame neurol6gico (EN) e exame neurol6- evolutivo (ENE). Observa-se um desempe- abaixo do esperado para a idade em algu- ss fungées. No ENE sao destacadas nao s6 as dificulda- na habilidade motora, por meio do exame coordenacao apendicular de tronco e mem- s, como também no equilibrio estatico e di- ico, além da nogao de esquema corporal, \cipalmente considerando a nogao de direita ssquerda, no proprio corpo, no examinador e espaco, o que se refletira no livro, no caderno ‘no quadro-negro, ou em outras dificuldades parte 2 Transtornos da aprendizagem 305 gnésicas ¢ praxicas relacionadas com a desaten- a0 ea hiperatividadeyimpulsividade. Com fre- qiiéncia o ENE tem resultado imaturo e discre- pante, com maiores descensos nas provas de persisténcia motora, equilfbrio estatico, gnosias ¢ coordenacao apendicular. Podem ser usadas escalas de comportamen- to, como Conners, ACEeRS, SNAP-IV, CBCL. ‘Muitas vezes, em casos selecionados, sao neces- sdrias avaliages complementares: psicolégica, tanto cognitiva como afetiva, ¢ psicopedagégi- ca, além das avaliages visual e auditiva. Nessas avaliagées nao podemos esquecer que freqtien- temente existem co-morbidades significativas associadas. Nao existe nenhum teste psicométrico, neu- rol6gico ou laboratorial que por si s6 dé o diag- néstico de TDAH. Esse diagnéstico deve ter em- basamento clinico em um composto de evidén- cias derivadas da hist6ria, da observacao, do exame clinico ¢ neurolégico ¢ das escalas de comportamento, O diagnéstico é definido por dados obtidos em diversas fontes ¢ em diferentes situacées. Nao pode ser feito por teste terapéutico com psicoestimulantes, pois sabe-se que mesmo criangas sem TDAH respondem a essas medica- goes com melhora da atengao ¢ concentragao. Sabe-se que 0 TDAH e a dificuldade de aprendizado sao entidades diferentes, mas fre- qiientemente podem estar associadas e ter re- percussao maior no desempenho escolar. Esse motivo faz com que a investigagao do TDAH sempre seja acompanhada de uma avaliacao do desempenho académico. O transtomo se torna claro quando os sinto- mas principais — desatencao, hiperatividade e impulsividade—acontecem em uma intensida- de acima do esperado para a fase do desenvolvi- mento neuropsicomotor e cognitivo da crianca, Segundo 0 DSM-IV, os sintomas devem ocor- rer em diferentes ambientes, como, por exem- plo, em casa € na escola, com prejuizo no de- sempenho académico, bem como no relaciona- mento interpessoal e nas atividades sociais. Nos Quadros 20.1 ¢ 20.2 esto demonstrados os cri- térios do DSM-IV para TDAH. 306 capitulo 20 Transtorno da atengao —quapao 20a DIAGNOSTICOS a | Desatencio (6 ou + dos sequintes critérios : i durante pelo menos 6 meses) : + Falta de atencdo na escola, com erros | * ‘eauentes at tetas simoes | + Diculdade pare manter a atencdo em ! atividades em grupo i | + Falta de atengdo a fala direta | | * Erros em seguir instrucdes, com | | dificuldade para finalizar tarefas | © Dificuldade para organizar atividades | © escolares etarefas ; Falta de éxito na execugio de tarefas i escolares que requerem atencao sustentada + Distracdo facil 20s estimulos externos Hiperatividade (6 ou + dos seguintes | critérios durante pelo menos 6 meses) | + Movimentos constantes de bracos e pernas ‘+ Freqdentemente levanta durante a aula ‘+ Hébito de correr em situacdes inadequadas + Dificuldade de permanecer sentado ou participar de atividades em grupo ‘+ Habito de falar em excesso Impulsividade Dificuldade para esperar sua vez InterrupcBes ou intromissées na conversa dos outros I Diagnéstico diferencial Em criangas que vém A consulta com queixas de desatengao, comportamento hiperativo e im- pulsivo, é importante estar atento para 0 fato de que esses sintomas podem estar presentes em outros quadros, e a procura de um diagnés- tico diferencial se impée. Por outro lado, € im- portante fazer uma abordagem que considere as co-morbidades, as condigdes psicossociais, as desordens comportamentais e psiquidtricas, as alteragGes cognitivas e de aprendizado, que podem ser responsdveis parcial ou totalmente pelos sintomas. No diagnéstico diferencial, deve-se conside- Tar que muitos sintomas podem ser secundarios Sintomas presentes por mais de 6 meses Algum sintoma presente antes dos 7 ai Algum problema relacionado aos sintor presentes em 2 ou mais lugares (casa e escola) Problemas significativos (socials, académicos ou ocupacionais) Excluidas outras desordens mentais a outros diagnésticos, como epilepsia, p mente do tipo auséncia infantil; déficit vo; déficit visual; seqiielas de lesao cerebs dromes genéticas; doencas neurodegenex doengas crénicas; doencas da tiredide; t ambientais ¢ teratogénicas; desordens do: desordens neuropsiquidtricas; transton aprendizado; deficiéncia mental; além de sas psicossociais. © que orienta o raciocinio em rela diagnéstico diferencial €a anamnese ¢ a ria pregressa, 0 exame fisico, 0 EN ¢ 0 E triagem para déficits auditivos e visuais, a liacdo objetiva da atencéo, do nivel de a 40 e de cognicao, além da avaliacao psicol completa, que inclui testes cognitivos e afi (ver Capitulo 21). £ evidente que, com possibilidades para o diagnéstico difere seja essencial 0 diagnéstico correto de para o manejo clinico ser adequado. I] co-morbidades O diagnéstico isolado de TDAH nem sem suficiente para 0 planejamento do manej rapéutico, uma vez que criancas com geralmente tém outras co-morbidades cli e/ou psicologicas tao ou mais importantes qj tanstorno em relagao a sua expressao cli terapéutica. Dessa forma, énecessério consi a presenca de sinais de outras co-morbid: que podem estar associadas ao caso, ant iniciar o planejamento terapéutico. As pring co-morbidades estado listadas no Quadro 20. ‘Transtorno de aprendizagem Transtorno de linguagem Epilepsia ‘Transtorno opositor desafiante Transtorno de conduta Transtorno de ansiedade Transtorno do humor Tiques Enurese ‘Abuso de substncias Sabe-se que criancas com TDAH podem presentar dificuldades de aprendizado em 19 26% dos casos. Entre estas observam-se trans- prnos especificos, como dislexia, disgrafia ¢ sscalculia, sendo a dislexia a co-morbidade ais freqiiente, Em muitos casos, os transtornos da lingua- em estdo presentes, seja por distairbios da fala, pmo dificuldades articulatérias, alteragao do 10 da fala e da qualidade da vocalizacio, mas ibém por distiirbios da linguagem tanto na ‘cepeao como na elaboracao, como falhas no cesso lexical, dificuldades de estruturagio sin itico-semanticas ¢ falhas no processamento ja informaco. Em torno de 60% dos casos apresentam algu- a evidéncia de transtorno dpositor desafiante, sociado ao humor instavel, com irritabilidade cil, podendo chegar a acessos de raiva incon- goldveis. Em 30 a 50% dos casos, o comporta- ento € anti-social, configurando transtorno conduta, com falta de respeito as regras so- ais, fugas, atos cruéis, incluindo abuso sexual Em 25a 40% dos casos, € relatado transtorno © ansiedade, a crianga tem muitos medos, cocupa-se exageradamente com problemas iliares e com as atividades escolares. Ocorre pecialmente nas criancas menores e com pre- ominio de desatengio. O transtomno do humor pode ocorrer em 50% 95 casos, caracterizado tanto por um quadro omportamental bipolar, com altemancia de presso e mania, como também por uma de- sso grave e duradoura Parte 2 Transtornos da aprendizagem 307 s tiques s4o freqiientes, e podem fazer par- te da doenca dos tiques ou doenga Tourette, on- de so observados, além dos tiques motores, tiques guturais. 0 abuso de substancias é outra co-morbidade possivel. O prognéstico € pior quando 0 TDAH € acompanhado de uma ou mais co-morbidades. Os exames complementares costumam auxi- liar no diagnéstico diferencial. Alteragoes ele- trencefalogrdficas em criangas com TDAH tém sido relatadas por varios autores, e foi observa- do que alteracées do tipo epileptiformes sao observadas com mais freqiiéncia nesses pacien- tes do que em criangas normais. 0 eletrencefa- lograma (EEG) apresenta mais freqiientemente resultados alterados quando 0 exame foi reali- zado com ativago pela hiperventilacao e fo- toestimulacao. 0 significado real dessas anor- malidades epileptiformes é desconhecido. Um. EEG com resultado normal pode significar que criangas com TDAH tenham um risco minimo para convuls6es, 0 que nao difere da populacao em geral; por outro lado, anormalidades epilep- tiformes em criancas sem histéria de crises € com TDAH apontam para um isco consideravel de ocorréncia de convulsao. Por isso, recomen- da-se na pratica didria a realizacao de EEG na avaliacéo de pacientes com TDAH, uma vez que, além do que foi relatado, sabe-se que a medica- Gao psicoestimulante e antidepressiva pode bai- xar 0 limiar para convulsoes. A avaliagao do TDAH por meio de recursos de neuroimagem esté indicada naqueles casos em que se faz necessario 0 diagnéstico diferen- cial com entidades que apresentam lesio cere- bral estrutural. Os exames de neuroimagem es- tao restritos a pesquisa e ainda nao tém qualquer fungio diagnéstica validada para a pratica clinica. ee | As alteracées de comportamento sao muito re- levantes, sendo a desatencao um distiirbio que surge pela alteracio (j4 comentada no capitulo anterior) dos sistemas que regulam a vigilia, especialmente os sistemas reticular, talamico cortical. Devem sempre ser consideradas 2s 308 capitulo 20 Transtorno da atengéo duas areas corticais para a atengao: a area pos- terior occipitotemporal, cuja maturacao se faz mais precocemente; € a area anterior pré-fron- tal, cuja maturagao é mais tardia. A ciianca com TDAH tem dificuldade em prestar atengao a detalhes e, por esse motivo, freqiientemente comete erros em atividades es- colares, nao consegue acompanhar instrucées longas e nao permanece atenta até o final das tarefas escolares ou domésticas. Demonstra dificuldade na organizagéo, no planejamento e em realizar tarefas que envol- vam esforco mental sustentado. Perde com faci: lidade seus pertences, em casa e na escola, € se distrai facilmente com estimulos do ambiente. A hiperatividade é uma caracteristica que chama muito a atengao porque a atividade mo- tora se apresenta exageradamente intensa. AS criancas sao incapazes de se manter por poucos instantes em situagao de controle do préprio corpo, exibindo uma atividade motora intitil que parasita o ato motor voluntario; acredita- se que por esse motivo foi inicialmente chama- da de hipercinética. Esse sintoma comumente € acompanhado por hiperatividade verbal ou ideativa. A crianga nao pode manter um foco de atividade cognitiva e, como resultado, a pro- dugdo intelectual empobrece. Fica prejudicada a capacidade de inibigao da acao, quando essa inibigdo se torna necessdria A hiperatividade pode ser detectada pelos comportamentos de agitar as maos ou os pés ou se remexer na cadeira; nao conseguir perma- necer sentado; correr em demasia; falar muito; nao conseguir envolver-se em atividades de la- zer de modo silencioso; parecer “estar a mil por hora” ou “a todo vapor” Os sintomas de impulsividade podem se ma- nifestar por dificuldade em aguardar a ver; res- ponder a pergunta antes do seu término; intro- meter-se na conversa dos outros. Associado com a impulsividade, observa-se também insta- bilidade, apatia, irritabilidade, agressividade, perseveranca, baixo limiar a frustragdes e rea- Ges catastroficas. Essas possibilidades interfe- rem também na relac&o com as outras pessoas. Podemos distinguir trés ordens de alteracies no quadro clinico da crianca com TDAE: sinais neurolégicos, alteracdes comportamentais problemas escolares. Entre os sinais neurolégicos mais freqiient observados no EN e ENE destacam-se desat do, inquictacéo, instabilidade motora, torp motora, distarbios da fala e dificuldades gné sicas, principalmente relacionadas & nogéo ‘esquema corporal Quanto as alterag6es comportamentais, be-se que elas nao sao especificas do TDAH. entanto, é muito claro, para quem atende cri as, que em tal situagao os distiirbios do co portamento passam pelo binémio instabilidi de motora ¢ instabilidade emocional, que se troalimentam, constituindo um cfrculo vicic de dificil manejo em casa, na escola ou na ati dade social. Resulta dai que o manejo é, mui vezes, inadequado, levando a comportargent mais comprometidos, com aumento da imp sividade e presenca de destrutibilidade, reac catastréficas e baixo limiar a frustragées. Os problemas escolares costumam ser de dos nao s6 aos trés sintomas principais TDAH — desatengéo, hiperatividade e imp vidade — como também aos resultados da as ciagdo com torpeza motora e falhas da nc do esquema corporal. No entanto, nao raras zes, esto associados com dislexia, disgrafia discalculia, que sao co-morbidades neurol cas freqiientes observadas no TDAH Os sintomas de TDAH diminuem ¢ se al ram com o passar da idade, desde a infan até a idade adulta. Pode-se dizer que 0 inici dessa listagem é mais prevalente na crianca o final é mais prevalente no adulto, e que modificagées suportam pequenas variacées caso para caso. E assim que, da infancia a i de adulta, se observam as alteragées express no Quadro 20.4. Podemos explicar em parte tais sintomas Ja imaturidade cortical, do que resulta inibi cortical deficiente, ou por outras alterag funcionais, mas sem dtivida o manejo inadeq do do meio ambiente (familia, escola e socie de) repercute de forma decisiva para o seu a vamento. A conduta dessas criangas, frustrani 08 pais ou os professores, perturba o seu relaci namento com o ambiente que, ao reprimir, Hiperatividade Agressividade Baixa toleréncia a frustracao Impulsividade Mudanga de atividade Aborrecimento facil Impaciéncia * Descontentamento (gar ou superproteger, aumenta a inseguran- gera ansiedade e, a partir daf, piora a sinto- atologia, estabelecendo-se um circulo vicioso. Criancas, adolescentes e adultos jovens com DAH tém alto risco para mau rendimento olar; dificuldade de relacionamento; delin- Géncia; acidentes de automével; abuso de Al- 901 ou drogas; dificuldades profissionais. Essas juagdes podem ser prevenidas ou melhoradas om. 0 tratamento correto, enfocando, além do mntoma principal, as possfveis co-morbidades. ita o diagnéstico de TDAH, deve ficar bem claro para a familia que se trata de um problema erénico, e que o objetivo do tratamento nao é r4-lo, mas reorganiza-lo e viabilizar um com- portamento funcional satisfatério na familia, escola ena sociedade. Dessa forma, se evita a crianga seja discriminada por suas dife- encas. Para 0 atendimento do TDAH é€ necessario manejo completo, multifatorial e interdis- ciplinar, em que deve ser avaliado cada fator specifico envolvido no caso: sintomas predo- minantes, nivel de desenvolvimento, sexo, ida- de, ambiente familiar, ambiente escolar, nivel social. Nao ha uma tinica abordagem terapéuti- ca que seja comum a todos os casos. O trata~ mento deve ser planejado individualmente. 0 manejo no caso de TDAH 6, portanto, dividido ‘em quatro importantes iten: 309 parte 2/ Transtornos da aprendizagem modificacdo do comportamento; ajustamento académico; atendimento psicoterdpico; terapia farmacolégica. Os pais e 0s professores devem estar bem es- clarecidos a respeito do TDAH, facilitando a crianca, em casa e na escola, melhora de sua auto-imagem e das habilidades sociais. Os pais devem estar cientes de que 0 portador de TDAH tem uma tendéncia maior a delingiiéncia juve- nil e ao envolvimento com drogas de abuso. 0 professor, entendendo bem a situacao do escolar, deve colocé-lo sentadona primeira fila, em turmas com pequeno néimero de alunos, ¢ em classes individuais, quando necessario Deve haver disponibilidade especial do profes- sor, possiveis aulas de reforco, estabelecimen- tode rotinas, como, por exemplo, na realizacao das tarefas, ¢ reestruturagao dos hordrios de atividades nao-académicas, a fim de otimizar as condig6es de aprendizagem. £ importante que, conhecendo as dificuldades do aluno, 0 professor consinta em um tempo maior para a realizacao de tarefas ¢ de provas. Muitas vezes a crianga ou o adolescente deve fazer avaliacéo psiquidtrica para tratamento ¢s- pecifico em psicoterapia e/ou uso de medicacio, quando estdo presentes co-morbidades como transtorno do humor, transtorno de conduta, transtorno opositor desafiante; ¢ quando ha conseqtiéncias emocionais secundarias com de- sestruturagio familiar, O tratamento farmacolégico do TDAH difere quando existe ou nao alguma co-morbidade as- sociada. Nos casos sem co-morbidades, ini se 0 tratamento farmacolégico com farmaco psicoestimulante, 0 qual age de tal maneira que: © aumenta as catecolaminas na fenda si- néptica (dopamina e norepinefrina); © diminui a impulsividade e a atividade motora; aumenta a vigilancia; melhora a meméria recente, o que reper- cute positivamente no tempo de reacao, no aprendizado verbal e nao-verbal; 310 capitulo 20. Transtorno da atengéo ® melhora da performance académica ¢ so- cial; * permite melhores condic6es para as inter- ‘vengées terapéuticas. E importante lembrar que os psicoestimu- lantes sao dose-dependentes. Portanto, o uso durante 0 ano letivo leva muitas vezes & neces- sidade de aumento na dose durante o segundo semestre. Entre os farmacos psicoestimulantes se des- tacam 0 metilfenidato, o pemoline ¢ as anfeta- minas. No Brasil s6 esta disponivel o metilfe- nidato, que é também o psicoestimulante mais usado internacionalmente. Alguns estudos tém mostrado que, embora tenha excelente efeito comportamental, o metilfenidato nao melhora a auto-estima da crianga ¢ do adolescente. No entanto, em outras situagoes, se observa que 0 ajuste social € capaz de também melhorar a au- to-estima. O metilfenidato est disponfyel com o nome de Ritalina, na apresentagao convencional de 10 mg, com uma duracdo pequena de 3 a4 ho- ras, 0 que nao cobre todo o periodo escolar, ea Ritalina de longa duracao, com trés apresenta- Ges: 20 mg, 30 mg € 40 mg, que duram de 6 até 8 horas. O metilfenidato também é encon- trado com o nome de Concerta, com apresenta- des de 18 mg, 36 mg e 54 mg, com um tempo de ago de 10 até 12 horas. Essas apresentacées facilitam a administracao, que é feita em uma tomada didria pela manha, tendo a vantagem de nao expor a situagdo de se usar medicacao na escola O metilfenidato tem efeito predominante- mente sobre o sistema reticular ativador ascen- dente e a corticalidade cerebral. Tem um efeito Ronee eee Pier ee cd eve sobre 0 aparelho cardiovascular e é bolizado no figado. A medicagao psicoestimulante costuma usada pelo escolar durante o perfodo letive na maioria dos casos, é suspensa no final semana, a nao ser quando a hiperatividade impulsividade sejam tao intensas que impege © convivio social adequado. O metilfenidato também é usado em de semana, quando a crianga necessita estud para provas ou esta em recuperacao de algur matéria. © escolar suspende a medicacao d rante as férias e de acordo com suas necessi des o tratamento recomeca no inicio do pro mo ano letivo. No Quadro 20.5 é apresentad conversdo das doses didrias recomendad entre Ritalina convencional e Concerta, de lo ga duracao. J Cerca de 25% dos casos com TDAH nao tém uma boa resposta com 0 uso de psico mulantes e sao utilizadas outras drogas, en elas os antidepressivos triciclicos, como a i pramina (Tofranil), também usados como p meira escolha quando hé enurese noturna dose da imipramina varia de 2 a5 mg/kg/dia deve-se sempre fazer eletrocardiograma de iniciar 0 uso de antidepressivo, por seus € tos cardiotéxicos. 0 uso de psicoestimulantes, como de res de qualquer medicagao, pode ser acompat por efeitos secundarios. Entre eles sao citad anorexia, durante o perfodo de duragao da d ga, sendo importante privilegiar a alimentaga nos outros hordrios; ins6nia, se a medica for usada no final do dia — por esse motivo si gere-se a tiltima tomada no inicio da tarde nas f6rmulas de acdo prolongada, nunca depe eee oe Metilfenidato D-anfetamina 0,25-2 mg/kg/cia 0,2-0,5 ma/kg/dia 1-2 ma/kg/dia 37,5 mg/kg/dia 15-20 mg/ka/dia 1-3 maykg/dia 0,5-2 mg/kg/dia 1-3 ma/ka/dia 0,5-2 mg/kg/dia 15 ma/kg/dia 1,2-1,9 mg/ka/dia Imipramina Pemoline Deanol Nortriptilina Amitriptilina Clorimipramina Fluoxetina Bupropiona Atomexetina jas 10 horas da manha; dor abdominal, que 2 maior parte das vezes desaparece com a con- muidade do tratamento; perda de peso, que ostuma ter repercussao discreta nos casos que uspendem a medicagao nos finais de semana; ques, embora pareca claro que s6 ocorrem jando j4 ha uma tendéncia, sao portanto de- \cadeados, ¢ nao motivados pelo metilfeni- ato. Com a suspensao da medicacao, os tiques aparece. A preocupacao com a parada do scimento ¢ com a perda de peso nao ocorre gando se faz a parada nos fins de semana. wo efeito secundario é a hepatotoxicidade, ue ocorre principalmente com o uso de pe- joline. No Quadro 20.6 esto listados os jacos € as doses utilizados na crianca com DAH, mesmo aqueles que ainda nao estao dis- oniveis no Bras A imipramina tem a vantagem de ter efeito longa duragéo, podendo ser usada s6 uma ao dia, e tem risco minimo para abuso. Os atidepressivos nao-triciclicos, como a fluoxe- ma (Prozac), também tém sido usados com ons resultados. Em 1997 publicamos um estudo controlado, om 70 escolares com TDAH divididos em qua- £0 grupos terapéuticos com metilfenidato, imi- amina, nortriptilina e placebo. Todos os gru- 9s em que foram utilizados os farmacos, com- ados com 0 grupo placebo, mostraram-se sficazes no tratamento, Em 1999, um ensaio a parte 2 Transtornos da aprendizagem 311 clinico mostrou que a amitriptilina foi capan’ de melhorar significativamente os sintomas d= hiperatividade e desatengao. Quando ocorre depressao ou transtorno de ansiedade como co-morbidade, além dos ani depressivos, sdo utilizados 0s inibidores seleti vos de recaptagio da serotonina como coadju- vantes, uma vez que esses sintomas no podem ser totalmente resolvidos s6 com 0 uso de psi- coestimulantes. Nesses casos, a bupropiona € usada na dose de 1,5 a 6 mg/kg/dia, que deve ser dividida em 2 ou 3 tomadas didrias, Os re- sultados costumam ser excelentes, mas um fa- tor limitante € a possibilidade de convulses, quando séo empregadas doses acima de 450 mg/dia, Quando ocorrem tiques como co-morbidade, a clonidina (Atensina), um agonista alfa-adre- nérgico, € uma boa alternativa, na dose de 0,03 a 0,05 mg/kg/dia. E uma medicagdo que tam- bém nao deve ser desprezada quando outros fa- macos falharem, mesmo na auséncia de tiques A atomoxetina (Stratera), um inibidor da re- captagio danorepinefrina, ¢ outra alternativa te- rapéutica quando nao se pode usar a primeira es- colha. Como ndo é um psicoestimulante, nao in- terfere na emotividade e nao desencadeia tiques, além de ter 6tima acéo na hiperatividade. © pro- blema de seu uso € 0 fato de que tem pouco efeito sobre a atengio. A dose é de 1,2.a 1,9 mg/kg/dia, € a meia-vida € de 5 horas; no entanto, 0 efeito terapéutico € observado por 10 a 12 horas. Nos casos em que a co-morbidade € epilepsia, 0 uso de medicacao especifica pode, ao mesmo tempo em que trata essa co-morbidade, melho- rar a atencdo. Alguns autores relatam que a car- bamazepina pode melhorar 0 desempenbo es- colar, enquanto outros encontram melhoras na performance ap6s a interrupgio do tratamento. Quando necessario, se associa a droga antiepi- Jéptica ao metilfenidato. Varios autores tém observado que, em pa- cientes epilépticos bem-controlados pela me- dicacao especifica, no ha risco de desencadear convulsées. O problema pode estar relacionado coma situagao de EEG alterado em crianca sem crises e que esteja em uso de psicoestimulantes ou de antidepressivos, 312 capitulo 20. Transtorno da atencao Hemmie colaboradores, em 2001, estudando 234 criangas com TDAH, antes de iniciarem 0 tratamento, observaram que em 84,6% dos ca- sos 0 BEG era normal e em 15,4% era alterado. © tratamento medicamentoso com psicoesti- mulante foi realizado em 205 pacientes e destes tiveram convulsdes 0,6% do grupo com EEG normal e 16,7% do grupo com EEG alterado. Discute-se, no entanto, a extensao do com- promisso da medicacao estimulante na ocorrén- cia de convulsées. Quando a co-morbidade é retardo mental moderado ou grave, parece haver uma reposta mais efetiva com 0 uso de medicagao antipsi- cética do que com psicoestimulantes. Podem ser usados 0s antipsicéticos tipicos, como a tioridazina, ou atipicos, como a risperi- dona. ‘Um grande nimero de drogas tém sido testa- das no tratamento do TDAH e novas drogas es- tao sendo testadas, entre elas citam-se 0 mo- dafinil, que é um novo neuroestimulante. Os agentes ativadores colinérgicos, como 0 done- pasil, ¢ 0 patch de nicotina tém sido utilizados em varios estudos. Existem evidéncias cada vez maiores de que © arsenal terapéutico no TDAH permitiré, no futuro, resultados significativos com menor ni- mero de efeitos secundarios. Dessa forma, sera conseguido o resultado que se persegue durante mais de um século, que é a real integraco do individuo com TDAH, seja crianga, adolescente ou adulto. BIBLIOGRAFIA SELECIONADA ACCARDO, PA rational approach to the medical assessment of the child wich attention-deficivhyperactvity disorder, Pediat. Clin. North Aam., 46, .5, p.845-857, 1999. AMARAL, AH; GUERREIRO, M.M. Transtorno do déficit de atencio ¢ hiperatividade: proposta de avaliacao neuropsicol6gica para diagndstica, Arg. Neuropsiquiatr, v59, 1.4, p. 884-888, 2001 AMERICAN ACADEMY OF GHILD AND ADOLESCENT PSYCHIATRY (AACAP). Practice parameters for the assessment and treatment of children, adolescents and adults whit attention-deficitfayperactivity disorder. Journal of American Academy of Child and Adolescent Psychiatry 36, p.85S-1215, 1997. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (Al Diagnostic and statistical manual of mentat disorders (DSM 4th ed. Washington, DC, 1994, ANDRADE, E.R. Quadro clinico do transtomo de dé! atengao/hiperatividade. In: ROHDE, L.A.; MATTOS, P ( Principios e préticas em dah: transtorno de déficit de ‘Gdo/hiperatividade. Porto Alegre: Artmed, 2003. p.75: ARTIGAS-PALLARES, J. Problemas asociados ala disk Rex. Neurologia, v.34, p. $1-S7, 2002. Supl. 1 BARKLEY, R.A. Behavioral inhibition, sustained att and executive functions: constructing a unifying the ADHD. Pyychol. Bull, .121, p. 65-94, 1997. BARRY, RJ. et al. EEG coherence in attention-de hyperactivity disorder: a comparative study of DS! types. Clin. Neurophysiol, v 113, n.4, p.579-585, 2002, CASTANO, J. Aportes de la neuropsicologia al diagné y tratamiento de los transtornos de aprendizaje. Rev. Ne lgia, v34, 2002. Supl. 1 CASTELLANOS, FX.;'ACOSTA, M-T. El sindrome de cit de atencién con hiperactividad como expresi6# de transtorno funcional organico, Rex. Neurologia, p. 1-11, 26 CLARKE, AR. et al. EEG differences between good poor responders to methylphenidate in boys with inattentive type of attention-deficit/hyperactivity dis Clin. Neurophysiol, v.113, n.8, p.1191-1198, 2002, CONNOR, D-F; FLETCHER, KE; SWANSON, LM. A: analyis of clonidine for symptoms of ADHD. J. Am. Child Adolesc. Psychiatry v38, p.1551-1559, 1999. COOK, E.D. etal. Association of attention-deticit disor and the dopamine transporter gene. Am. J. Hum. G 36, p.993-998, 1995, ELIA, J; AMBROSINI, PJ; RAPOPORT, J.L. Treatment attention-deficit-hyperactivity disorder. N. Engl. J 340, n.10, p. 780-787, 1999, ETCHEPAREBORDA, M.C. Detecci6n precoz de a dis y enfoque terapéutico. Rev. Newrlagia,p.$13, 2002. Supl ___- Modelos de intervencién farmacolégica en el tra tomo por déficit de atenciGn e hiperactividad. Rev. New gia, p. 98-106, 2002. Supl. GOLDMAN, LS. etal. Diagnosis and treatment of attent deficit hyperactivity disorder in children and adolescent JAMA, 279, p. 1100-1107, 1998, GUARDIOLA, A.; FUCHS, FD,; ROTA, N-T Prevalence: attention-deficit hyperactgivity disorders in students comparisons between DSM-IV and neuropsychologi criteria, Arg. Newr. Psiquiatr, v.58, n.2-B, p. 401-407, 2000. HERMMER, A‘. ct al. Stimulant therapy and seizure risk i children with ADED. Pefiztric Neurlagy 24, 2, p.99-102, 2001 JOHNSON, J:H.; O'HARE, E, ADHD comorbidity. In: Mac RIA, BL. Current management in child neurology. Londot Hamilton, 1999, p.81-84. PEVRE, A.B. Exame neurolégico evolutivo. In IENT, AJ; CYPEL, S. (Ed). Neurologa infatil-Lefere. . Sao Paulo: Atheneu, 1989. p.99-108. CGREGOR, D.L. ADHD mimicry and differential gnosis. In: MARIA, B.L. Current management in child logy. London: Hamilton, 1999. p.77-80. RCUGLIANO, M. What is atrention-deficit/ eractivity disorder? Pediair. Clin, North Am., v.46, 0.5, 1-843, 1999. (ELSON, D. et al. Atomoxetine in the ueatment of fildren and adolescents with attention-deficit/ jeractivity disorder: a randomized, placebo- itroled,dose-reponse study, Pediatrics, v.108, E83, 2001. DA, A.; GARCIA, R.; PRESENTACION, MJ. Factores: paladores de la eficdcia de uma intervencién psicosocial ninds con transtorno por déficit de atencién con actividad. Rev Neurologia, p. 91-97, 2002, Supl. ILAS, F et al, Efectos de los psicoestimulantes en cl de- speno cognitivo y conductual de los nis con. déficit latenci6n ¢ hiperactividad subtipo combinado, Rew New- a, p. 17-24, 2002, 10 por déficit de atencién em la edad adulta. Rev. Neuro p. 24-28, 2002. SCUAL-CASTROVIEIO, I Enfermedad comérbida del jrome de déficit de atencién con hiperactividad. Rev rologia, v.35, n.1, p. 11-17, 2002. Sindrome de deficit de atencién ¢ hiperactividad YAH). In: Sindrome de deficit de atencién com vided: guia practca, diagnéstca y terapéutica, 2. ed. selona: César Viguera, 2001 parte 2 Transtornos da aprendizagem 313, RICHER, LP; SHEVELL, M.L.; ROSENBLATT, BR Epileptiform abnormalities in children with attention deficit-hyperactivity disorder. Pediatric Neurology v.26, m2 125-129, 2002, RODHE, L.A. et al. Transtomo de déficit de atencio © hiperatividade. Rev Bras, Psiquiatr, v.22, p.7-11, 2000. Supl. 2 ROMAN, T.etal. Dopamine transporter gene and response to methylphenidate in attention-deficit/hyperactivity disorder. Pharmacogenetics, 12, .5,p. 1-3, 2002, RUDIMAR, R.; ROHDE, L.A. Transtorno de déficit de aten- Gao e hiperatividade na infancia. In: KAPEZINSKI, F; QUEVEDO, J IZQUIERDO, I. (Fd.). Bases bolégicas dos trans- 1tornos psiquidericos. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. p. 337; 345, SHAYWITZ, B.A; FLETCHER, J.M.: SHAYWITZ, S.E.

Você também pode gostar