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Mosquetes de chamalote

(Transcrição de uma enxuta entrevista


feita a Maria Celeste, intitulada pelos
populares como ‘’Maria Paiol’’)
Maria Paiol, como a chamam, foi uma das muitas participantes dos movimentos
revolucionários em prol da independência, sua função era preparar munições para os rifles
das tropas revolucionárias, que tentavam resistir aos constantes assédios militares, e assim
Maria Celeste fez seu nome em Salvador, consagrando-se como uma das ditas heroínas da
independência brasileira, com a qual consegui um pequeno diálogo jornalístico que vossa
mercê avistará a seguir.

E(entrevistador): ‘’Freira até os vinte, guerreira da independência da nação até os


trinta, que história, hein?
M(Maria): (Risos)
E: Pois bem, Maria Celeste, iniciemos pela mais simples e perceptível questão em
voga aqui: A senhora é uma mulher.
M: Sim, fui e sou.
E: Rodeada por um ambiente tão construído em testosterona quanto o calor da
batalha, os tiros de fuzis, a violência da guerra, em nenhum momento sentiu-se só?
M: De forma nenhuma, senhor, jamais houve solidão. Eu tinha meus colegas,
confederados, e apoiamos uns aos outros na batalha contra a coroa.
E: Sabe muito bem que não é desse tipo de solidão que falo.
M: (Risos) Ah, sim, entendo. Engana-se ao achar que a testosterona era parte única
da batalha, tive muitas confederadas a meu lado também. Sim, no círculo naval, Maria
Felipa foi mulher flamejante, se é que me entende (Risos)
E: (Risos)
M: Foi uma ex-escravizada sem um pingo de subserviência, dava gosto ver as naus
portuguesas queimarem por sua mão, conheci também uma xará, Maria Quitéria,
chamavam-na José Medeiros os que acreditam em sua farsa travestida de homem, em
termos de destreza com um rifle em mãos, a mulher foi imbatível em seus tempos de glória,
dizem que foi condecorada por Pedro I, que honra essa! E, dentre essas tantas histórias de
grandes mulheres, jamais podemos esquecer uma outra camarada, que, não encontrei no
fronte, mas fez os tijolos de nosso caminho, Dona Leopoldina, que assinou o destino de
nossa bela nação, bendita seja esta mulher de Camões!
E: Mulher de Camões?
M: Sim senhor, acredito que o texto de Camões era sobre Leopoldina no que dizia:
‘’Chove nela graça tanta, que dá graça à formosura’’ o português tinha algo de brasilidade
em si, eu sei.
E: (Risos)
M: (Risos)

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