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| Ignacio Cano Nilton Santos VIOLENCIA LETAL, RENDA E DESIGUALDADE NO BRASIL dsernas] aa | 2001 © Ignacio Cano. Nilton Santos Produgio editorial Jorge Viveirosde Castro Valeska de Aguie Malia Garcia Revsio ‘Ana Cecfia Menescal Osawtoresagradecem a Marcelo Sousa ‘parseie apoio na rea de computayio, 4 Maria Helena Geordane pela primeira verso em portuguésdo testo, 4 Wilea Bruno ea Carlos Antonio Casta Ribeiro ‘pela revisio do texto ee en CANO, Ignacio ¢ SANTOS, Nilton Violénca lea, renda e desgualdade no Brasil Yi 10 Brasil Ignacio. Cano e Nilton Santos ~ 2 edicio. Rio de Janeieo: Letras, 2007, ISBN 978-85-7577-438.0 1. Violéncia. 2. Sociologia ~ desiguakdadessocais, 1. Tiulo, DD 303.6 EEC EEE ee eee eee ESTE TRABALHO FOr DESENVOLVIDO P=L0s ALTORES NO ISER E GONTOU CoM © 4PO10 D4 UNtso Euroreta, Esta PUBTICACAO FOI FINANCIADA PELA FLNDACAO FoRD. 2007 Viveios de Castro Editor Leda, Rua Jardim Bordnico 600 sala 307 Jardim Botinico— Rio de Janeiro ~RJ ~cep22461-000 (21) 2540-0076— editora@7letras.com. br wwrw.7letras.com.br SuMARIO 1. Teorias sobre a relagio entre homicidios, renda ¢ desigualdade. 2, Relagio entre homicidios, renda e desigualdade na literatura ... 3. Medicio de homicidios no Brasil ... 4, Violéncia Letal, Renda ¢Desigualdade: uma andlise exploratéria de dados ifitérnacionais .... 5. Violéncia Letal, Renda ¢ Dgsigualdade: uma comparaio entre os estados no Brasil eo 6. Violéncia Letal, Renda e Desigualdade: uma comparagio centre municipalidades no estado do Rio de Janeiro. 7. Violéncia Letal e Renda:aima comparagio de areas em cidades no Brasil 8, Conclusées Referéncias Bibliogréficas .. eosso> 1. TEORIAS SOBRE A RELAGAO ENTRE HOMICIDIOS, RENDA E DESIGUALDADE © debate acerca dos determinantes estruturais da violéncia esteve freqiientemente centrado em tentar apurar se a pobreza es timula ou nao a criminalidade ¢, em caso positivo, em que medi- da, Dato possivel impacto la riqueza ede sua distribuisao sobre 0 niimero de homicidios ser 3penas uma parte dessa questio mais amipla, Este ensaio enfocaré a’yioléncia letal, ou seja, os homici- dios, e discutiré os outros crimes violentos como contexto para a sua ocorréncia, Na realidade, houve ¢ ainda hé uma imensa controvérsia em torno desse ponto, tanto no Brasil quanto no exterior. A questio, principal poderia ser enunciada da seguinte forma: o nivel da ren- da ou sua distribuigto-sto-fatores importantes na determinacio das taxas de homicidio? A resposta tem repercussGes profundas sobre como empreender a tarefa de fazer decrescer a violencia le- tal, Por um lado, os que concordam com uma resposta positiva tendem a apoiar medidas sociais — melhoria da educagio, au- mento das oportunidades de trabalho ou redugio da desigualdade social, etc. — como as principais politicas de redugio dos homicf- digs ¢ da violéncia. Por outro lado, aqueles que questionam 0 vinculo entre renda e violéncia tendem a defender medidas rela- cionadas ao sistema de justiga criminal, como a melhoria do de- sémpenho da policia, uma vez que as medidas sociais pretendidas apresentariam um impacto insignificante em termos de redugéo da violencia, Assim, estamos sem diivida lidando com uma questio causal — o nivel da renda ou sua distribuigéo provoca violéncia fetal? —, embora o tipo de prova geralmente dispontvel sc rcfia no maximo, a uma associagzo entre os dois termos Em nossa opinio, a controvérsia se estabeleceu devido fatores principais: a) resultados contraditdrios quando a hip. € examinada em niveis diferentes ou usando populagdes distineas; ¢ b) falta de especificidade nos modelos tedricos propostos para cxemplificar a relagao entre renda ¢ homicidlios. Freqiientemente, © tipo de dado coletado no & 6 melhor pata a hipétese a ser testada ‘Vamos examinar, inicialmente, as teorias que apdiam a rela- ‘0 proposta, Aparentemente, a primeira conclusao & de qié nto hhd consenso quanto a um tinico modelo teérico para discutie a questo. Em geral, duas teorias principais podem ser citadas out inferidas. 4) A primeica perspectiva teérica é a do comportamento raci- onal de maximizagio dla renda, o homo economicus, sugerida pot economistas para analisar o crime desde Gary Becker (1968). Esse quadso teérico tem sido usado principalmente para tentar explie ar comportamentos adotados para a geragio de renda, o assim chamado crime contra a propriedade, mas tem, obviamente, con- seqiiéncias mais amplas. J4 que a violéncia é um meio necessirio para a perpetragio desses crimes contra a propriedade, um aumento na taxa de roubos, por exemplo, terminard provocando também um rniimero maior de homicidios. O problema é que os homicidios rém ctiologia variada e ocorrem em contextos muito diferentes. Parte dos homicidios s20, de fato, esultado de crimes violentos contea a pro- ptiedadle, mas outros decorrem de conflites politicos ou interpessoais ‘ou da Violéncia doméstica, que néo tém relagio clara com quests ccondmicas, Os assassinatosresultantes de hutas de poder entre gangucs ‘ou outras redes do crime também podem ser considerados de nature 2a econdmica, uma vez que a finalidade tltima dessas organizagées & 10 ‘glucro, sendo a violéncia um meio para aleangat essa finalidade (Sénche7-Jankowski ; 1997). As guerras ¢ os conllitos politicos de inaior importincia sto deixados de lado, j4 que sett carter catas- tréfico exige modelos bastante distintos. Na realidade, nem sem- pre ¢ cil determinar inequivocamente se os ctitnes teriam moti- yacio cconémica ou de outra natureza. Essas nogdes podem ser 3 's mais como tipos ideais, mas server aos nossos prop6- concebi s explicativas. ein revumo, exe modelo, poderia dar conta, na melhor das hipdreses, dos homicidios decotrentes do comportamento ilicito de maximizagao do lucto. O comportamento ilegal e violento su- pstamente gera tina renda mais alta do que o emprego legal para fs que 0 cometem, ainda que se considere a puniso aplicada no 50 de o ctiminoso ser preso.' Quando essa compensagao dife- rencial da atividade crimingsa violenta ulerapassa certo patamar, estabelecido pela consciéneig’moral do sujeito, 0 ser racional op- tatia, entio, pelo crime. Enivquitras palavras, o crime violento se- tia escolhido a fim de obter iii Iucto que de outro modo seria inatingivel. Assim, quanto menos uma pessoa espera do emprego legal, mais essa pessoa estarix propensa ao comportamento cri nnoso € vice-versa, Em contrapartida, quanto mais ricas as oucras pessoas, maior o produto do roubo esperado pelos criminosos (Fleishet, 1966). Em decorténcia disso, o aumento da desigualda- de afeta os dois extremos; uma vez que as pessoas muito pobres esperariam muito pouco do emprego legal e; a0 mesmo tempos teriam a expectativa de altos hucros recorrendo ao crime violento contra cidadaos ricos. Trata-se, aqui, de uma simplificacao, jd que muitos crimes contra a propriedade sio cometides nio contra pessoas, mas contra instituigées (como bancos), porém a idéia esté exemplificada ‘O modelo se corna mais complexo, ou se intensifica mais, pelo TX ponigio eperada , por sua ver, ealeulads normalmente como a produto da prabae bilidade de ser preso versa gravidade da sentenga. il faro de que as pessoas de melhor nivel cultural tém acesso a certos tipos de crime aleamente lucrativos e que niio exigem violéncia, 0% chamados crimes de.“colarinho.branco”, enquanto os cidadios pobtes ¢ sem educagio formal sé rcriam a alternativa do crime violento, freqiientemente muito menos lucrative e mais atsisea, do, quande decidem recorser ao comportamento ilfeito para ait ‘mentar sua renda E também concebivel que o efeito da compensacéo diferen- slal entre as atividades legais ¢ ilegais nio seja linear a0 longo do continuum da renda. Por exemplo, a populacio muito pobre es. ‘aria mais propensa a se engajar no crime violento para poder gatantir um padrio de vida minimo, enquanto os cidadios de classe. média que jd alcangaram um certo nivel de bem-estar eta. ‘lam menos inclinados a fazé-lo com a mesma expectativa de lus ro. Em ourras palayras, uma compensagio muito maior seria necessiria para indurir alguém da classe média a cometer crimes violentos. Outta importante peculiaridade dos homicidios é que o custo do engajamento no tipo de crime contra a proptiedade que porte levar a homicidio nao pode ser medido considerando-se sim- Plesmente a possiblidade de ser caprurado ¢ a gravidade da sen- tensa. Encre outras razées, as pessoas que cometem esse tipo de homicidio também correm o tisco de serem mortas, principal- mente na América Latina, A reagio da vitima, a intervengio da Policia e as lutas com membros de outras organizagSes criminosas Fepresentam risco considerével de morte. Esse tipo de comporta- ‘mento homicida pode ser considerado, difecentemente de outros homicidios relacionados A violencia doméstica ou a outros contli. tos interpessoais, uma atividade bastante petigosa, Assim, os ho- micidios relacionados a crimes contra a propriedade sfo uma a vidade de eusto muito mais alto do que os cédigos penais pociem indica. Estabelecer essa relagio entre renda ¢ homicidios traria evi- dentes implicagbes para as politicas publicas: dar aos homicidas 12 : um padrio decente de vida, para que cles no tencem obié-o por i ie crime violento, Isso tem conseqiiéncias éticas ¢ politicas. SF itwinos que a deviso final de uma pesioa dptar pelo Sar portamento ctiminoso depende no apenas de sua postura tara nas também de sua posi¢io na estrutura social, no seré tio facil ‘condeni-la tio entusiasticamente quanto seria se acreditarmos que a renda ndo tem implicagées na violencia b) A segunda perspectiva tesrica & a da hipétese frustragio- agressdo (Dollard et al., 1939), Essa hipétese propée basicamente fue necesidades ou expectatvas frustadas podem provocar a agres- ‘20, como forma de liberar a frustragio. A agressio pode ser direcionada a pessoas ou a instituigdes tidas como responséveis, pela frustragio, como no caso da hipétese da privacio relativa como explicagio para as revolugées sociais e politicas (Davies, 1962). ‘Mas a agressio também pode ser expressa de maneira mais difusa, contra varios objetos nao rebicionados & frustracao original. Nesse ‘aso, 0 comportamento suposfgmente no tem de ser racional; na realidade, ele ¢ freqiientemente irracional, uma vez que as conse- qiiéncias da agressio podem até contebui para aumentar a teasto, Assim, a difculdade econémica induziria 3 frustragio en- tee os pobrese exes a expressariam em forma de agresio genera- lizada, 0 que, por seu turnogprovocaria mais homicidios. A desi- gualdade profunda significaria que os pobres também estariam ientes da existéncia de pessoas com alto padrio de renda, 0 que provavelmente diminuiria a legitimidade das diferencas ¢, em se- gulda, aumentatia a frustragio, Considerando que estamos nos referindo a agressio difusa, ela poderia visa, inclusive, a outros nas mesmas condigées e sem qualquer responsabilidad pela si- tuagio. O vinculo que se observa entre desemprego ¢ violencia doméstica se ajusta muito bem a esse quadro, A extensio dessa ocotréncia de frustraio © agressio pode social, no qual as estruturas normativas ft para aumentar a frus- levara um estado de anos fr ¢ sociais entrariam em colapso ea violéncia reinaria incontestavel. 13 ‘Amibos os esquemas re6ricos predizem que os cidadsos pobses, em termos relatives ou absolutos, tornar-sc-io mais violentos e em uiltima instancia, cometerio mais homicidios. Por isso, essay tcotias se referem aos que cometem a violencia, No entanto, exis, tem dados mais abundantes sobre as vitimas do que sobre os crimi- nnosos. Da mesma forma, os dados sobre os criminosos tendem a softer maiores distorgées do que os dados sobre as vitimas. No Brasil, onde a taxa de elucidagio de homicfdios é caracteristicamen. te baixa (Soates, 1996), dispomos de dados apenas sobre uma fra- ‘si0 das pessoas que cometeram os crimes ¢, especificamente, sobre © tipo de pessoa que a policia, os promotores ¢ os juizes tender prendes, acusar © condenar. Adorno (1995) detecta um viés racial nas condenagGes devido, entre outras raz a0 fato de que 0s ne- gos tencemt a ser mais pobres e ndo podem contratar um advoga- do particular. Seria dificil afirmar que os individuos condenados constituem uma amostra aleatéria dos que comereram crimes, As. sim, as teorias tendem a ser testadas com dados sobre as vitimas, embora, teoricamente, elas estejam vinculadas aos criminasos Gostariamos dle acrescentar tima terceira_perspectiva teética, centrada na vi hipstese, a tenda agiria como fator de protecZo contra a violéncia letal. Os individuos de renda mais aleateriam menor probabilida- de de sezem mortos do que os de menor renda, Isso poderia ser . Ms Wain ae b) Mortes nao dassificadls. Algumas morieé so repistcadas, RR or 072 130.150 sas sem qualquer informacio complementar sobre sua natureza a aie Heat fe causes. Sio as chamadas mortes mal definidas, que corsespon- ~ 358342 2304621 dem a0 capfeulo xv1 da Nona Classificagio Intemacional de Do- mR s3ussze 6.366.622 engas€ 20 capstulo xvi da Décima Classificagio Internacional de mE 7017995 s.a0s 717 Doencas da Organizacio Mundial da Satide. Esse tem sido um a 8.995.225 7517158 dos indicadores tradicionais da qualidade das informagées sobre y isheoss oe Giornlidade.'O uso dessa categoria pode ser devido ao fato de o Di 1552.76 1552.76 cadiver ter sido encontrado em adiantado estado de decomposi- gio ou, mais comumente, 20 processamento errdneo dos dados erastl | 143.438.5369 96366714 04. aos servigos médicos deficientes. Vasconcelos (1996) cita 0 Fon Minti Se (991) Mola Bal Baca Boi percentual de mortes ndo classificadas em 1990, no Brasil, como 26 27 18,296 do iimero total de mortes, mas mostra que essa propor € muito menor em cidades do que no campo ¢ também € men pra as vtimas que sio atendidas em hospitais em comparagao 4 ue nio 0 so, Por isso, a classificacio errada depende muito ma clas condigdessociaisexistentes do que das caracteristicas da mor AAs diferengas entre os estados sfo, uma ver mais, substanciais, hora no tio intensas como no caso anterior. TABELA 2 Proporgio das Morces Nao Classificadas sobre 0 Numero Total de Morces por Estado, 1990 80 89) 14 i 43 89 63 6h 73 182 uw 30.8 ac 0 Ba 338 AM 354 RN a3 PL 3953 PE 22 To 26 ce 444 SE 444 AL wi MA 45 Pa 357 BR 132 Fonte: Cecdoes de Obi, Mininévo da ude jos também parceem se relacionar corti o desenvol- Se essudos rutnis do Nordeste que apresentam a maior proporcao Dos mal definidas. Esse € um elemento a mais a questionar |g confibilidade dos dados oe mortalidade € a companies jure estados. No cntanto, hé duas razées que diminuem a im- oe fator no caso dos homicdios A primera équea : sm geral (18%) no € tio alta quanto a das mortes no cide © = declinando ao longo do tempo devido a Gee da qualidade dos dados. A segunda é que, eonforme demonstra Vasconcelos, 0 peril de idade e de género das vitimas mostra que essa categoria é basicamente usada para criangas e, mais ainda, para idosos, em igual proporgio para ambos os géne- ‘108, O perfil ¢ oposto ao do homic{dio, que se concentra em ind ‘duos do sexo masculino entre 15 € 34 anos. Os grificos que se feguem apresentam o perfilte idade e género dos mortar no lassificados e das vitimas de;homicidio em 1990, no Brasil. GRAFICO 1 [Nomoto de Motes Nao Classfeadas (Cap XVIda CID 1X) por dade 0 rast: 1900 GRAFICO 2 [Numero de Homiciios (cédigo £98 na CID IX) por dace e sexo Brasll- 1990 ‘4000 ‘2000 ‘0000 ©. Bren sth "Se 2028 04s 6088 eer 14 tote 309950587070 knando dade O contraste entre os dois perfis permite afirmar que poucas mores no classficadasresultaram de causas externas, Isso se ajustad nogao de que, com excegio do cnvenenamento — que ¢ raro—, as causas das ‘mortes provocadas por causa externa sio mais ficeis de serem identifi cadas do que as das mortes natura, a partir de um simples exame do cadaver. Como resultado dessas consideragées, podemos concluir, com alguma certeza, que as mortes nfo classificadas nao represen- tam uma séria ameaga as comparagies de taxas de homicidios. ©) Mortes provocadas por causas externas de intengio nfo de- terminada. Aplica-se as mortes ndo naturais em que os médicos nfo especificam se resultaram de homieidio, suicidio ou acidente. Esse € um problema universal, uma vez que os médicos nem sem- pre tém conhecimento das circunstancias que originaram o trau- ma ou a lesio. As vezes, os médicos preferem nao especificar a na~ 30 da morte, de modo a evitar problemas para eles mesmos, € 4 policia a responsabilidade de apurar 0 que realmente RI sc scct0 deseas mories ora rlagia 20 numero to- fal das provocadas por causas externas pode ser alta em alguns fasoseéinversamente proporcional 3 qualidade do processamento los dados. De fato, 0 exame dos dados mostra, com freqiiéncia, fampos no preenchidos pelo médico no atestado de dbito. Além ifisso, a proporsio de casos de mortes de intengo nao determina- th nfo € constante no tempo, ou no espago, 0 que enfraquece a comparabilidade dicera das taxas de homicidio ao longo do tem- ‘ou em diferentes lugares. Para lidar com esse problema, os especialistas sugerem técni- ‘as de estimagio destinadas a aproximar a proporgio de mortes violentas de intencéo nio determinada que possam ser atribuidas ahomicidio (Murray & Lépez, 1996). A proposta defendida por Rafael Lozano (1997) & considerar todas as mortes por arma de fogo ou faca como intencidnajs, mesmo as originalmente classifi- ‘adas como acidentais, e admitir que metade das mortes restantes de intengio nao determinada (além das causadas por armas) ¢ in- tencional e a outra metade nao intencional. Essas mortes reclassi- ficadas como intencionais scriam entio distribuidas entre homi- idios suicidios, de acordo com a relagio homicidio-suicidio encontrada entre as mortes ihtencionais jé classificadas ou obser- yada em pesquisas anteriores. Por exemplo, pesquisas anteriores em outros paises da América Latina sugeriam uma divisio de 95% para homictdios e 5% para suicidios. Avabela a seguir mostra a variagio na ocorréncia de mortes de intengio nfo determinada cntre os diferentes estados do Brasil em 1997. 31 TABELA 3 Proporgio de Mortes de Intengio Desconhecida sobre o Niimero Total de Mortes por Causa Externa, segundo Estado de Residéncia da Vitima, 1997 _guitamente como homicidios. E necessirio incorporar algum tipo ide estimariva sobre os casos de intengio desconhecida, para evtar forges decorrentes da diferente qualidade dos dados, Uma mancira de avaliar a qualidade da estimagio ¢ relac nar Eaudo * ‘4c estimativas de homicfdio obtidas pot meio do sistema de sate RR - Gomn as dos registtos policiais. Conforme foi jé explicado, nao se x espera que 08 dados apresentem coincidéncia total, mas, a0 con- AL “grario, que os ntimeros da satide excedam os da policia. No entan- oe go, se aceitarmos a hipdtese de que qualquer vies nos dados poli- A dials seja constante no tempo, iremos concluir que a diferenca Mr entre as duas fontes deve ser aproximadamente constante. Em con- sc seqicia, a correlacio das duas séries no tempo devetia ser muito pe alta, muito embora os valores absolutos possam diferit. Na medi- a daem que as séries se cozrelacionem, a validade e a confiabilidade au ‘de aimbas scrio confirmadag. Inversamente, a auséncia de cortela- RO. so entre as séries poderd s¢p atribuida a problemas em um dos ce tegistros owt em ambos. Mais especificamente, a correlagio entre To a duas séries deveria ser maistalta se introduzirmos um método Ms ‘stimativo para os casos de intengio nao determinada do que se x “uslizacmos apenas as séries originals que s6 contam as mortes Ma registradas. como. homicldios. Se este for 0 caso, a validade do ee: ‘método estimativo seré fortalecida. Caso contrério, a estimativa aN poderia ser questionada. a (© préximo gréfico mostra os totais mensais de homictdios ‘TOTAL BRASIL - registrados ¢ de mortes de intengio nao determinada no estado do Rio de Janeiro, entre 1991 ¢ 1997.* A proporgéo varia entre 0, no caso de Roraima, um dado ' 510s Regitros de Mowalidade do Miniwio da Snide se rfeem 4 mores de que 0 |) sta ewes de um cand Crone de radon) independonemens de Fino teorcae tren cna no Che uma) | iedpendencncne deren davon Acoma ee nnd cu mnt Mts noranete dee aig sr resis wun are de reidente, Conuno, oo astern nde poles te de coprpison copra Fut sono exe Corer ure gura plato cea Fond pol ence dna, De quagur moto oa ila nde at suspeitamente baixo, e mais de um tergo em alguns estados, Dessa ver nao hd correlagio evidence entre o uso dessa categoria eo gra de desen- volvimento econémico, uma vez que alguns dos estados mais desen- volvidos apresentam uma proporcio razoavelment alta Esses resultados confirmam que nio ¢ adequado comparar ta- | xas de homicidio entre estados por meio das mortes classificadas | 32 33, a GRAFICO 3 Homictdios @ Mortes de intenedo Desconhecida, por Més Ministerio da Satide: Estado do Rio de Janeiro 200 ge 38 Numero de Vitimas Mortais ge8 i 100: Aparentemente, quando aumenta o niimero de homicidios registrados, em conseqiiéncia de melhor depuragdo e processamen- to dos dados, as mortes de intengio nao determinada diminue Na realidade, hé uma forte corrclagio negativa entre as dus séri (Coeficiente de Pearson= 86). A seguir, recalculamos a série de dados da satide estimando os |homicidios incluidos entre as mortes de intengio nfo determinada, de acotdo com o método sugerido por Lozano: a) toda morte rovocada por arma de fogo ou faca foi considerada intencional; b) -mtade das mortes remancscentes de intengio nao determinada (além dlas causadss por armas) foi computada como intencional; e 95% das mortes intencionais estimadas foram atribuidas a homicidios ¢ os outros 5% a suicidios, De fito, a proporgao de homicidios em tela- io aos suicidios, ances de utilizarmos qualquer mécodo estimativo, chegou muito préxima do ctitétio dos 95% para 5%. 34 “O gefico seguinte apresenta a evolucio das das séties, com e 4g estimativa, juntamente com os dados da policia. Os tiltimos Ss calculados com base na soma dos homicfdios intencionais ¢ ~ tpubos seguidos de morte. robes aE GRAFICO 4 Homicis Registrados e Estados pelo Min. da Sate € Registades pela Policia, por més - Estado do Ro de Janelro om Roiseodos (Sais) om. eens Numero de Vitinas (sade) om, Rapes (ota) ‘As séries estimadas da satide parece acompanhar as da policia “milito mais de perto do que as séties originais da satide. E somente aps 1996, quando melhoraa qualidade do processamento de da- dos, que as ts séries parecem convergir. Na realidade, o coeficien- | sede correlagio entre as scrcsestimadas da satide e os registro da + policia é muico alto (0,84), enqquanto a correlacio das séries origi “Tnlllamente, a policia registra o “roubo seguido de mone’ por incidente ¢ aio por ‘gkima, podendo assim haver mais de uma wisi em cada cao registeado. Em conie- dnci, a presente cifa subestima ofenbmeno real. De qualquer modo, 4 proporcto de oabo segudo de morte para homicidios & de 1 para 59, donde a subesinagio do meio no deve afar sgnilicaivamente os ndmeros geri. 35 iio nais da satide com os dados da policia nao chega a ser estatistic mente significativa (0,15).7 ‘As séries estimadas da satide, diferentemente das séries origi nais, se situam quase sempre acima dos registros policiais, co cera esperado, uma vez que a policia nao registra como homicidio ‘5 casos em que a vitima néo morte imediatamente apés a agressio, Esses resultados apdiam inequivocamente a validade do mét estimativo aplicado as mortes de intengio nao determinada e revela que, na auséncia de dados de boa qualidade, a anise apenas d homicfdios registrados pode resultar num sério desvio do fendmer real. Além disso, se houver qualquer mudanca na qualidade dos da dos ao longo do tempo — por exemplo, uma depuracio mais detalha da das dados que tenda a diminuir os casos de intengio nio determina da —éimperativo que um método de estimagio seja introduzido ant da realizagao de qualquer andlise longitudinal Até este momento, temos usado os dados policiais como ct tério de avaliagio da estimativa dos registros da satide. No entan- (0, conforme indicado acima, as informagées da policia também apresentam problemas sérios, como a existéncia de diversas cate gorias que podem incluir homicfdios. Esses seriam o equivalente nos registros policiais das mortes de intengio nao determinada, Por outro lado, uma certa quantidade de casos registrados como: lesdes acabario se tornando homicidios, pois as vitimas morrem num momento posterior. Assim, enfrentamos 0 desafio metodoldgico de otimizar uma medida tendo como referéncia uma outta medida que também. precisa ser otimizada, Nao hi solugao perfeita para esse problema, J que nfo existe um critério Fixo de validade, Uma estratégia pos- sivel seria utilizar uma cortelagao candnica para tentar otimizar ambas as dimensdes a0 mesmo tempo. 7 E posive ealzar esa anil, apesar da dependénciasequencial existente ness sees (ou sia, anflugncia que os dados nim momento tem sobre os dadoe nos prbimos momen- tos), uma ver que todas elas medem 05 mesmos Fendmenos e deveriam, por is, ear ‘equanimementesujcias 4s mesmas autoorrlages e process de dependéncia seria 36 ‘Arécnica da correlagdo canSnica comega com um grupo de va- ve ndependentes cout grupo de varies dependentes econ es Gicseso Nicar de eats prupoy pat que mcotclari Pie as duas combinagGes lineares seja a mais alta possvel. No tio cso, nio hd varidvelsindependentes ou dependents, pois fodas estio mensurando o mesmo fendmeno. No entanto, 0 mé- Mo seria o mesmo. © objetivo setia calcular uma combinagio Hinear de categorias da policia que possam incluir o homicidio, de edo «petite a corteagfo mais alta posstvel om uma combi tigi das ctegoriasda sade que possam abrangerohomicio.O Goefciente de cada categoria nessa combinagio linear irs indicar 0 etn que essa categoria possa estar contendo casos de homict- flo, Quanto mais alto coefciente, mais homicidos a catego FHlinchie. Esse mérodo indireto ndo garante uma soluglo perfeita, jf que nfo hi maneira de saber exatamente quantes homicidios foram classificados em cadg:éqregoria, a ndo ser por meio de uma snilise detalhada dos registeds individuais que se enconera além do {mbito deste trabalho. No enégnto, sugere-se esse método como Patalternativa para resolver a indeterminagio resultante da exis- I cits tirnerats que precisa ser otiicadaa strane ‘mente, uma com relagao a outra. {As categorias policais que pretendiamos introduzit na andlise as scguine a) total de homicidios intencionais, computado como a soma das BI de hamicitio delosoc toubs segitdo de totic da vita b) centativa de homicidio doloso (nimero de vitinas); c) encontro de cadaver (ntimero de vitimas); d) encontro de ossada (ntimero de incidentes); e) morte sem atendimento médico (ntimero de vitimas); Oa cegora que mui eqenrcment evolve hoc incon BBE (hor de Retesnesy fatten ules eh pls parse fr Bs de encrypts No cna, ime at crpeind eno tu categoria ila e198, ro prdend sine conscrao naan, Como I cade cn ple eninge ba at maieceiee ee Be pes as min upto Ger Cu, 197) 37 £) morte suspeita (ruimero de vitimas); 2g) lesio dolosa (ntimero de vitimas)? Entre essas categorias, a primeira cercamente se refere a vitim: de homic{dios intencionais, enquanto as outras so compostas homicidios e por outras mortes acidentais ou naturaise até mesmi TABELA 4 Resumo Estatistico das Categorias nos registas da Policia Civil ‘edo Ministério da Saide no estado do Rio de Janciro ‘que podem envolver homicidios: 1991 - 1997 por pessoas que softeram lesdes, mas no morreram. Nos tiltimos dois anos, a Policia Civil do Rio criou outras cate gorias, como lesio corporal com morte, lesio corporal por proj de arma de fogo, mas clas nao existiam em 1997, 0 tiltimo ano e que foi possivel dispor plenamente dos dados de mortalidade satide.'” A categoria encontro de ossada foi descartada da anil devido a scus ntimeros reduzidos, que poderiam levar a correlagi instéveis ¢ nao confidveis. As categorias do Sistema de Informages de Mortalidade dal Ministétio da Satide escolhidas para a andlise foram as seguintes: a) Homicidios registrados; b) Mortes de intengao nao determinada causadas por armas de fogo; ) Mortes de intengio nao determinada causadas por facas 4) Mortes de intengio ndo determinada causadas por meios papeasimaia outros que nio armas; 6) Mortes acidentais causadas por arma de fogo: £) Mortes acidentais causadas por faca. A primeira categoria, vale ressaltar, certamente inclui homici- dios, enquanto as outras provavelmente incluitio homic{dios, sui- cidios e acidentes. As mortes de intengio nio determinada causadas por facas foram descartadas devido a seu baixo niimero, por raz6es andlogas as relacionadas acima. ° ssa categoria € considera, jf que parte de suas wicimas pode reminar monendo pposteriormente em funcio da agressio. " Aproximadamente 98% de todos os registros de mortlidade da sae estavam clsponiveis para 0 ano de 1998 no estado do Rio quando a pesquisa comegou. Isso fa jnlgadosuficiente para a analise espacial, que ser apresentada ms tarde, mas no para ese processo estimarivo detalhado, 38 Nine | Vale | Vibe | etn | Desa a er | tain, tee | Nce | ey st | sa | aan | cares | 7200 e4 | ima | ase | 166.48 | 20,08 eo | 30 | as4 | soa | aan Fodealiveviimwtt |. 0 | 45 | 220 | w507| a179 Pokeakconmnwapye | 0 | w | 44] 22 aa 0 | 368 | 181,20 | 128.43 ima (PC) a4 | 2950 | asco | s2r803 | 305.18 . See of 4] on| os porAma Branca Gad) | 06 of 2 | om | oas eld Homi (Sid) sé | 25s | asi | sanze | iar Bife Arma ce Tiss Denorbesa 4 | 10 | 365 | asear | 117.60 fet Arma Brana Innsio Deconhecida (Sade) aw | oo} a | xix] 656 aa to Desocheida Sie) eo | es | 82 | 22015 | orm 39 Em resumo, as seguintes varidveis foram submetidas a um todo de correlagio canénica: a) Grupo 1, categorias policiais: total de homicidios in cionais, tentativas de homicidio, les6es intencionais, morces st peitas, encontros de cadver, mortes sem atendimento médico, b) Grupo 2, categorias do sistema de satide: homicidios re trados, mortes de intengio néo determinada causada por arma fogo, mortes de intengio nao determinada causada por qualq ‘meio que nio seja arma de Fogo ou faca. A primeira correlagio canénica, a que consegue a maxima coi relagio possivel entre os dois grupos de categorias, é muito al 0,895. As correlagdes candnicas remanescentes relacionam-se vvariagio ndo explicada pela primeira. Assim, é a primeira corre ao canénica que deveria refletir o fato de que ambos 0s grupos vatidveis estio medindo o mesmo fenémeno. Dessa forma, lim taremos nossa andlise & primeira correlagio, que gerou os segui tes coeficientes: TABELA 5 Coeficientes Canénicos Absolutos do primeiro rapo de varidveis: Categorias Policiais HlomicidioIntencional Total “01418 “Tentativa de Homicidio 00158 Lesio Corporal Dolosa -00045 Morte Suspita 00514 Encontro de Cadiver ,00568 Mort sem Assisténcin Medica 00031 Cocficientes Canénicos Absolutos do segundo grupo de vasiiveis: Categorias Sanitétias Homicidio Dedlarado ~01334 Morte de Intencionaidade Desconhecida por Asma de Fogo ~01590 ‘Morte de Intencionalidade Desconhcida por outros meios diferentes das armas -,00186 40 Armaioria dos coeficientes é negativa. O sinal do coeficiente, wvo ou negativo, é, na realidade, irrelevante. Q que importa é Feompatbilidade entre les. O valor absoluto dos coeficientes € ni irrelevance, uma ver que a maximizagio da correlagio tenure as combinagGes lineares nfo seré aferada por qualquer trans- ormagio linear operada em todos os coeficientes de cada grupo. {0 dlemento mais importante é a magnitude relativa dos coef Gentes das variéveis dentro do mesmo grupo, que indicaré o peso felativo de cada categoria na composigio de uma estimativa de homicidios que gere uma correlagio méxima com a estimativa Jraseada na da outta fonte. Examinaremos, inicialmente, as varidveis da policia. O total dehomicfdios intencionais apresenta um coeficiente de -0,01418. Dado que cada caso nessa categoria corresponde mais provavel- ‘mente a uma vitima de homic{dio, esse valor de -0,01418 poderia set igualado a 1, o padrap de referencia. “Tentativa de homici- dio”, “morte suspeita” e “morte sem atendimento médico” tém_ «co¢ficientes baixos e positivosyfem oposigao a0 coeficiente negati- yo de “homicidio intencional total". Podemos interpretas, por- fanto, que essas ers categorias nio englobam um ndmero signifi- tativo de homicidios que necessitaria ser somado a estimativa fi- inal de homicidios. As les6es intencionais, em contrapartida, ém tum coeficiente negativo depequena magnitude (-0,00045). Di- yidindo esse coeficiente pelo coeficiente da categoria “homicidio intencional total”, que ¢ 0 nivel de referéncia, obtemos um valor de 0,031. Uma possivel interpretacio & que aproximadamente 3% dos casos de lesdes intencionais correspondem a homicidios. Jé que a correlacio candnica nao oferece um teste de significagio do cocfici- ente de cada vatiével, nfo podemos ter certera se isso € realmente significativo. No entanto, o niimero de lesbes intencionais por més € bastante alto (mais de crés mil), o que quer dizer que 3% dessa cifta representa de fito um ntimero substancial de homicidios. Quanto as varidveis da satide, 0s “homicfdios declarados” tam- bém tém um coeficiente negativo (-0,01334) de magnitude simi- 41 lar & dos “homicidios intencionais” da policia, como era previsto, porque ambos computam, em principio, uma vitima de homicf dio por caso. A “morte de intengao no determinada causada po arma de fogo” também tem um cocficiente similar (-0,01590) que pode ser interpretado como validante da estimacéo propos por Lozano no sentido de considerar esta categoria direramen dentro das mortes intencionais. As “mortes de intengio nao de- terminada por outros meios”, por sua vez, também exibem ny esperado coeficiente negativo, porém pequeno (-0,00186). Divis dindo esse mimero pelo de homicidios registrados, que é a refe- réncia, obtemos o valor de 0,139, que pode ser interpretado no sentido de que 14% dos casos incluidos nessa categoria poderiam corresponder a homicidios. A partir desses resultados, elaboramos novas estimativas para ambas as fontes. Para os dados da policia, seguimos 0 mesmo método defendido por Lozano, com a tinica diferenca de que con- sideramos 10% das “mortes de intengio nao detetminada por out ‘tos meios” como intencionais, em vez de 50%. O dado original é 13,9%, mas, sendo essa estimativa no muito precisa, decidimos arredondar 0 ntimero para 10%. Analisando todas as correlagdes possfveis entre as duas estima- sivas da policia (a antiga ¢a nova) eas duas estimativas da satide (a antiga ¢ a revista), a correlagéo mais alta entre uma estimativa da policia e uma da satide é, de fato, a corrclacio entre as duas novas cstimativas (0,854), como seria de se esperar do resultado da cor- relagio candnica. No entanto, o resultado nao é muito mais alto do que a correlacéo da estimativa original (0,84). Por isso, 0 ele- ‘mento crucial é considerar as “mortes de intengio nio determina da causadas por arma de fogo” como homicfdios, sendo que as mortes femanescentes de inteng&o desconhecida possucm uma contribuigio menor. GRAEICO 5 Estimativas Corrigidas de Homicidio por més segundo a Fonte Estado do Rio de Janeiro o8 888888888 FONTE in. Saude Palla civ Numero de Homicidios Estimados Wy 4 Le, 0 4 4. 4G, 7%, ee %, (Os miimeros de homiefdios estimados a partir de ambas as fon- tes esto agora extremamente préximos um do outro. A média mensal é de 719 para a estinitiva da satide e 758 para a da policia. Adifetenga, 38 mortes por més, representa aproximadamente 5% do ntimero total de homic{dios ¢ deveria ser atribuida, em prinet- pio, a causas outras que no o uso diferenciado de varias catego- tias em cada Fonte. De fato, uma anilise de regressio miltipla usando a diferenca mensal entre as duas séries como a varidvel dependente e as dife- rentes categorias em cada fonte como varidveis independentes re- vela que nenhuma dessas outras categorias (tentativa de suicidio, lesio dolosa, morte suspeita, encontro de cadaver, morte sem as- sisténcia médica, morte de intengao nao determinada causada por arma de fogo, morte de intengio nfo determinada causada por O geifico a seguir apresenta a evolucao dessas duas novas esti- ‘mativas, a da policia e a do Miniscério da Satie. 42 43 ‘outros meios) tem um poder de progndstico significativo"” sob esse residuo entre as duas fontes.!? Em resumo, essas anilises sugerem uma estimativa dos dados. policia que incorpore aproximadamente 3% dos casos de “lesGes tencionais” como homicfdio © uma estimativa dos dados da sat que siga 0 método recomendado pelo BID, mas que considere 3 nas 10% das “mortes de intengio no determinada por outros que néo arma de fogo ou faca” como intencional Essas estimativas foram testadas somente em dados do est do Rio de Janeiro, mas nao temos um critério melhor para 0 tante do pafs. Por isso, sero usadas também nos outros esta do Brasil, enquanto aguardamos outras pesquisas que possam cons firmar ou melhorar essas técnicas estimativas para os demais esta dos da Federasio, Todas as anilises de homicidio apresentadas nos préximos ca pitulos para o Brasil utilizaram dados do Ministério da Satide, Eles s40 0s tinicos disponiveis para todo o pafs esio, apds a aplica ‘sl dos métodos estimativos, supostamente mais confidveis, ji que sio processados de modo mais homogéneo. "© As categorias mais importants, ou sea, cotal de homicios intencionais (plica)« Ihomicidos registrados (sade) foram deixaas de fora da anise para evtar problemas cde aulicolineariade, 44 4Nioiencia LetaL, RENDA E DESIGUALDADE:UMA 'ANALISE EXPLORATORIA DE DADOS INTERNACIONAIS, Os dados internacionais de homicidio podem também ser dobridos de duas fontes principais: o sistema de justiga criminal e 0 ‘dstema de satide. No primeiro caso, as Nagées Unidas enviam jodicamente um questionério aos paises membros solicitando jnformagdes sobre crimes notificados, inclusive os homicidios, provenientes da policia e de outras instituigoes da justiga crimi- inl. O nome dessa pesquisa-é “Pesquisa Internacional de Tendén- cias Criminais © Operagatedlos Sistemas de Justiga Criminal” (Nations Survey of Crime Treiids and Operation of Criminal Justice Systems) © a organizacio respotisivel é a Divisio de Prevengio do Grime e da Justica Criminal. Embora existam manuais técnicos que apresentam definigdes ‘operacionais para cada conccito e cada crime, ¢ impossivel evitar a influéncia de diversas categorias legais ¢ organizacionais em dife- tentcs paises. Conforme mencionado acima, essas comparacées internacionais, principalmente as que se baseiam no sistema de justica criminal, enfientam problemas sérios de confiabilidade validade, Por exemplo, pesquisas das Nagées Unidas encontraram ‘exemplos de dados representativos de operagdes da justiga crimi- nal de agéncias intermedisrias no sistema que eram mais altos do que os dados correspondentes de agéncias que efetuavam o regis- ito inicial dos fatos. Além disso, mudangas stbitas e nao explicadas foram encontradas algumas veres entre os dados do mesmo pals em anos consecutivos. Na realidade, os pesquisadores que traba- Iharam com esses dados decidiram algumas vezes descartar aque- les que pareciam menos plausiveis (ver Fajnzylber et al. , 1998). 45 Utilizamos dados da Quinta Pesquisa Nacional, relativa 20, ‘TABELA 6 iodo 1990-1994, que era a tiltima disponivel. Nesse perfoda qhyas Nacionais de Homicidio segundo Estaiticas Criminals da Sade concentramo-nos no ultimo ano disponivel, 1994. A varidvel fe “Tara de Homichtio | Diftrenya interesse & “Total de Homicidios Intencionais Cometidos ¢ or 100 mil hab. | por 100 mil kab. | entre as tras gistrados”. Um total de 58 paises prestou informagoes. A popula NSS | UN Cae Pek s0 do pais ¢ também obtida através das NagSes Unidas colocadfegagiRALiA 1a 7 02 da disposigao na mesma fonte, de modo que as taxas possam seq 4USTRUA 12 ha on araparedah ATERBAIAO. oe 67 55.2 (Quan as dados da said, a Organizagio Mundial da Saide coma BAHAMAS oa Hd a juanto aos dads da sade, a Organizagio Mundial da ees ea fe es pila um “Banco de Dados sobre Mortalidade” com informagies envi. in He 38 08 adas pelos palses membros. A causa da morte baseada na Classificagao| Sy oMniA 80 784 16 Internacional de Doengas (ICD), 9 ou 10* revisio, dependendo do} costa RICA 6 38 on ano do relatério. Como a classificacéo ¢ a mesma em todos os paises, | CROACIA 5 a2 bk PQUADOR 4 102 13 espera se um grau maior de homogeneidade ness caso, em comparae] UA a at «0 com os dados do sistema de justica criminal. As informagies di | i yxDIA 32 29 ponieis referiam-se a vétios anos até 1997, mas com um ruimero} pqancs Sua 24 decrescente de paises nos tltimos anos. Muito poucos paises tinham | GRéCTA ta 13 comegado a notificar com base na 10* revisio do ICD, de modo quea | HONG KONG ty 15 9» verso fo adotada como referéncia. © ano de 1954 foi esolhido| HUNGRY ze 3 para que se pudesse fazer a comparagio com os dados criminais tam | M4) ae é bém a fim de obter um miimero mais alto de casos. Um total de G8 | frayart Wy 89 paises apresentou informagées sobre mortalidade com base na 9® revie 1gfONIA 2 37 sio do ICD para esse ano, UMUANIA yA 1s Obviamente, enfrentamos © mesmo problema mencionado | MHCAY a te & acima com telagao as mortes de intengio nio determinada. Além |MUciiys aa bot ma disso, essas mortes nao esto separadas por meio (arma de fogo, | yjeaRacuA 35 25 7 faca etc.) nesse banco de dados, o que torna mais dificil a aplica- | REPUBLICA DE COREIA 16 13 03 sa0 de algum método de estimacio. [REE DE MOLDAVIA a4 16 oe Dado o pequena ntimero de casos ¢ as graves limitagées dos | ROMENIA te Ks : datos, depide bl ai fiabilidadl silise i RUSSIA 32,3 20,2 12,1 lados, devido a problemas de confiailidade, essa andlise interna: |Syereupa a i a5 cional deve ser considerada apenas explotatéria. SLOVENIA 21 21 oA ISANHA 09 07 02 © Para alguns pais para os quis o banco de dados no dspunha de informa SUECIA 12 18 06 populcionais,obtivemos esimativat de populacio referents 21994 do Relate de MANDA DO NORTE 61 su 1 Desenvolvimento Humano de 1997 (PNUD, 1997) edo Relitério de Desenvolvimer- OCIA fol 2 ou vo Manila prs 1996 (Bsnico Mund, 1996) 46 47 Ap6s juntar os 58 pafses com informagées ctiminais com os 6f que possufam dados da satide para 1994, apenas 35 deles possufa informagoes validas em ambas as fontes."* GRAFICO 6 ‘Taxa Necional de Horicidos segundo Estalisticas Criminals da Sade ‘00 © 100.000 nab- OMS- 1888 i 2 ° 2 @ ® o 100) emiciioe por 109.000 ab. UN Cine Tends 1804 Conforme pode set observado na tabcla e no grifico, a maio- ria dos paises apresentam taxas de homicidio mais ou menos simi lates, de acordo com as duas fontes, o que serve como validacéo parcial de ambas. De fato, 0 coeficiente de correlagio entre as duas taxas é bastante alto: 0,82. O tinico caso de forte discrepin- cla €0 Azerbaijao, onde as estatisticas da satide indicam um nile mero de homicidios quase 10 vezes mais alto da que os registros criminais. Uma inspegao minuciosa revela que os dados da satide para esse pafs, entre 1992 e 1994, mostram um valor muito mais "© Brasil nfo fornece dados da justiga criminal, uma ver que no ovate ainda um sistema de informagoescriminaisfederis eos dados dos esados vriam enormemente fem termos de dsponibildade e qualidade, 48 giro do que o resto dessa série de satide e do que as séries referentes igerimes. Dessa forma, os dados da satide do Azerbaijao parecem fer muito pouco confidveis nesse perfodo. Se descartarmos esse , 0 coeliciente de correlacio entre as duas taxas de homicfdio falta para 0,97. Apés a retirada do Azerbaijao, a média das dife- s entre as duas taxas de homicidio é de 0,6 e a mediana das diferencas € 0,01, ambas perto de 0, 0 que indica que parece nao haver forte tendéncia em uma fonte com relagio 4 outra. O des- vyio padrao dessa diferenga ¢ também razoavelmente baixo (3,8), revelando um alto grau de convergéncia entze as fontes, ‘Consideramos a possibilidade de melhorar a estimativa da satide pormeio do uso da morte violenta de intencio nao determinada, como fizemos no caso do Rio. No entanto, conforme indicado acima, nfo ha maneita de separar essas mortes de intengao nao determinada segundo os méios através dos quais foram cometidas (armas de fogo, etc). Se agrescentarmos todas essas mortes 20s hhomicidios e recalcularmas a taxa, a correlagao com a taxa de ho- micidio proveniente dos dados criminais no aumenta, mas decresce ligeiramente (0,96).'* Por outro lado, se acrescentarmos as mottes acidentais causadas por arma de fogo aos homicidios, a nova estimativa se correlaciona um pouco mais com a taxa de hhomicidios dos dados criminais (0,98), e a média ca mediana das diferenas entre as taxas de‘homicidio de ambas as fontes ficam ainda muito perto de 0; 0,2 € 0,2, respectivamente. Além disso, 0 desvio padrio da diferenga é agora menor que antes (3,0), Em conseqiiéncia, esses dados parecem indicar que a agregacdo das mortes acidentais por arma de fogo poderia melhorar a estimativa de homicidios obtida dos dados da satide. No entanto, em vista do ntimero reduzido de paises e da quantidade limicada de infor- ‘mages, decidimos nao usar uma estimativa em nossa anzlise, mas ' Retiramos o Azetbaijao de codos eses testes de estimativa, pois oe dads desse pals io so confiveis ¢ que, como easo extermo, poderia ter urn impacto despropoicional sobre os cesultados 49 continuar com o niimero de “homicidios registradi suficientemente convergente com os registros criminais. A fim de explorar a relagao entre a violéncia letal, renda ¢ desigualdade, coletamos dados econdmicos e sociais do PNUD ¢ do Banco Mundial. Os indices de renda ¢ educagio relativos a 1994 sio retirados do Relatério de Desenvolvimento Humano do PNUD referente a 1997. A renda é medida como Produto Interno Bruto ajustado per capita e é um dos trés componentes do Indice de Desenvolvimento Humano. A edueagio é medida como indice ponderado composto da taxa de alfabetizacio e a propor. 40 da populacio em certos grupos etdrios que freqiientam os trés niveis educacionais. Esse ¢ um segundo componente do Indice de Desenvolvimento Humano. Ambos os indices sio calculados numa escala de 0 a 1. O terceiro componente do {ndice de Desenvolvi- mento Humano, a expectativa de vida, nfo foi considerado, jd que é direramente afetado — embora nao muito intensamente — pelos homicfdios. A fim de evitar problemas de circularidade, de- cidimos que essa varidvel e, por extensio, 0 Indice de Desenvolvi- mento Humano geral, nio serio considerados na andlise. (Os indices de urbanizagio e desigualdade foram retirados do Relatério de Desenvolvimento Mundial, do Banco Mundial. As percentagens da populacao urbana em 1994 foram obtidas do re- latério referente a 1996. Os indices de desigualdade sio calcula- dos normalmente para um conjunto de anos de referéncia e no apenas para um tinico ano. Foi considerado que os anos de refe- réncia mais préximos de 1994 constavam do relatério de 1997. Pretendiamos usar o coeficiente Gini, a medida mais comum de desigualdade, mas o relat6rio carecia de dados para a maioria dos pafses industrializados. Em conseqiiéncia disso, optamos pela ra- ao da renda dos 20% mais ricos sobre a dos 20% mais pobres da populagio. Quanto as taxas de homicidio, preferimos usar 0s dados da satide devido a sua mais alta credibilidade e homogeneidade, ex- cegao feita ao Azerbaijao pelas razSes acima expostas. Dos 67 pa 50 a ges restantes com informages de homicfdio da satide, cinco tinham populacio estimada inferior a 200.000 habitantes: Antigua ¢ Bar- fuda, Dominica, Montserrat, Saint Kitts Nevis, Turks ¢ Ihas Caicos. Esses paises foram também descartados da andl gyitar a instabilidade de taxas calculadas com base em cifras muito baixas. Realizamos uma regresso miltipla usando as varidveis econémi- ‘eas e sociais para estimar a vaflacéo nas taxas de homicidio. As varid- ‘eis independentes foram introduzidas hierarquicamente. Primeira- ‘mente introduzimos a renda, operacionalizada como produto inter- ‘no bruto ajustado per capita. O coeficiente para essa varidvel inde pendente & -1,88 (0 que indicaria que cada délar adicional de PIB ajustado significaria perto de dois homicidios menos por ano), mas 10 €significativo (erro padr0=0,001;t=2,5s p=0,147).Naturalmente, fo niimero limitado de patses reduz.a possibilidade de se encontrar um resultado significative, maSdle qualquer modo o efeito, xe ¢ que ex te, ndo pode ser considerado forte. Quando também introduzimes Indice de Desenvolvimento Higmano da Educacio, como outro com- ponente do desenvolvimento, ambas as variéveisalcangam coeficien- tes negativos, mas nio significativos. O grau de urbanizacio no pa- rece ter impacto significativo tampouco. Entretanto, quando intro- duzimos o indice de desigualdade, 0 nivel de renda dos 20% mais ricos versus 0 dos 20% mais pobres, ha um efeito positivo significati- vo: quanto mais desigual um pais é, mais alta parece ser sua taxa de homicidio (coeficiente=1,96; erro padri0-0,72; t=2,72: p=0,011). Esse valor ¢ obtido a despeito do fato de que apenas 33 paises tém ddados sobre todas as varidveisrelevantese sio, portanto, consideradas a anilise No entanto, quando examinamos o gréfico, verificamos que esse efeiro se deve principalmente a dois paises, Russia e Colambia, que tém alto grau de violéncia letal e uma sociedade desigual. De fato, quando retiramos esses dois paises da analise, a desigual- dade se toma insignificante, mas o efeito negativo da renda se torna significativo (coeficiente=-0,0039; erro padrao=0,001; ¢=-7,013 =0,007). 51 GRAFICO 7 ‘Taxa de Homicidios Nacional segundo Indice de Desigualdade ‘Razio nto arene dos 20% mais ics #0 20% male pobres Se usamos o logaritmo'® da taxa de homicidio como varidvel dependente, a fim de compensar a assimetria da taxa de homick dio ea possivel nao-linearidade no relacionamento ente as varie veis, obtemos um resultado mais consistente onde o PIB tem in- fluéncia negativa (coeficiente=-0,0002; erro padrio=0,000; t=- 2,48; p=0,019) e a desigualdade tem impacto positivo (coeficien- te=0,07; erro padrio-0,022; t=3,50; p=0,002). Em resumo, na comparagio entre 0s palses hd claras indica bes de que baixa renda ¢ alta desigualdade estio associadas com graus mais altos de violencia letal, embora esses efeitos nao sejam muito sélidos, devido ao pequeno niimero de paises e & presenga de casos com valores extremos (“outliers”) Ne base 10. 52 +5, VIOLENCIA LeaL, RENDA E DESIGUALDADE: "YMA COMPARAGAO ENTRE OS ESTADOS NO BRASIL. Conforme explicado na segio 3, diferentes estados tém propor- diferentes de mortes violentas classificadas como de “intencio ‘nao determinada”. Em fungao disso, ¢ imperativo usar algum tipo ‘de método para realocar uma fracao dessas mortes aos homicidios, ‘se quisermos comparar as taxas de homicidios entre estados. Na _guséncia de estimativas mais precisas para todo o pats, utilizaremos ‘gestimativa que desenvolyérios para o estado do Rio de Janeiro, conforme descrevemos na seo 3. A populacio residente de cada estado, em 1997, foi estimada por extrapolagio linear, a partir do Censo de 1991 € da Contagem de 1996, realizados pelo IBGE. Conforme se pode observar, as diferencas entre os estados brasi- Icitos so marcantes, embora a maioria deles tenha altas taxas pelos ‘padres internacionais. Apenas trés estados situam-se abaixo de 10 hhomicfdios por 100.000 habitantes, sendo que a maioria apresenta taxas entre 20 40, havendo ainda trés casos que se destacam do ‘estante: Espitito Santo, Pernambuco ¢, principalmente, Rio de Janei- 4, que tem um valor duas vezes mais ato do que taxa nacional Os resultados podem ser observados graficamente no Mapa 1 (p.91).A primeira vista, fica evidente que nao sio os estados mais pobres que decém as taxas mais altas, uma vez que os estados do Nordeste, entre os mais pobres do pals, tém cifras relativamente baixas, com excecio de Pernambuco. Na realidade, 0 Sudeste, a regio mais desenvolvida do pais, abriga dois dos tés estados em que a situacao é da maior gravidade. ae 54 TABELA 7 “Taxa de Homicidio Bstimada por Estado Brasil 197 Némero de Homicfdios BSTADS por 100.000 habitantes Ry 6128 ES. 50,55 DE 50,47 MS 39,16 sp 37.48 RR 3557 AP 3552 MT 33,77 DE 33,15 RO 31,96 AC 2472 AL 2418 co 20,9 AM 20,01 RS 18,52 PR 18,26 SE 1692 BA 15,84 ce 15,52 RN 14,86 PB 14,84 PA 13,04 TO. 12,21 MG 10.36 sc 9,29 MA 793 PL 54 BRASIL 26,89 Fonte: Cetdes de Ohito procesads pelo Ministéxo da Sade ocimativa feita pelos autores, No entanto, as baixas cifras dos estados do Nordeste, poderiam .correr também de problemas de cobereura, uma ver.que, confor- explicamos anteriormente, os estados menos desenvolvidos ten- “dema ter um mimero mais alto de municipalidades com informa- ‘gees deficientes (iregulares) sobre mortalidadc, ou seja, com uma proporcio considerdvel de mortes nao registradas. Para testar esta hipdrese alternativa, examinamos as taxas es- _pecificas de mortalidadle part dois grupos etétios extremos: pes- " soas com menos de § anos; € pessoas entre os 60 ¢ 69 anos.'” Os dois grupos etérios so 0s menos afetados por homicidios. No centanto, se as baixas ciftas de homicidios do Nordeste se deves- "sem simplesmente 4 notificaao incompleta das mortes, isso de- " yeria se refletir com a mesma intensidade nas taxas gerais de mor- " talidade que também seriam mais baixas para esses estados. Por ‘outro lado, se as taxas de mortalidade para esses grupos etérios, telativamente nao aletadgg/pela violencia, forem as mesmas ou mais elevadas no Nordeste do que no resto do pats ~ como seria dese esperar devido as piorex’condigies de vida — entio a no ficagio incomplera poderia ser descartada como possivel explica- fo para as baixas taxas de homicidio. Obviamente, os dados references & mortalidade foram extraf- dos da mesma fonte que os dos homicidios: o sistema de informa- ses sobre mortalidade do Ministério da Satide. As taxas de mortalidade de criangas de menos de cinco anos revelam que hé, de fato, dois estados no Nordeste em que falta parte considerdvel dos dados: Maranhao ¢ Piauf. Os dados notifi- cados por esses estados situam-se muito abaixo do nivel dos ou- tros estados, sem qualquer razo aparente para justficar essa con- sideravel diferenga. Isso revela um problema grave de notificagio incompleta nos dois estados. No entanto, h4 outros estados no Nordeste com altas taxas de mortalidadee taxas de homicidio relati- Os grupos ctirios mais altos, como os de 70 anor para cima, foram evitados ness ‘omparacoesinterestahaas jd que a expectatva de vida e relaivo envelliceimenco da pirimide populacial em cada exado tém grande impacto sobre as taxas de mortalida- de nesses indivdos mais vlkos 55 ‘vamente baixas, como Alagoas, Sergipe e Ceard. Isso confirma qh com excegao do Maranhao e do Piaut, os baixos niveis de viola etal notificada nos estados pobres do pais nao podem ser simples ‘mente atribuidos a problemas de notificasio, Indices de Morcalidade para grupos de idade especificos, por Estado : Brasil 1997 TABELA 8 Taxa de Mortalidade Taxa de Mortalidade ESTADO | para criangas absino de 5 anos | para pessoas de 60 a 69 ano (por 1.000 habitants) (Por 1.000 habitants) MA 241 9,86 PL 251 10,89 PA 4.05 14,27 RS. 4,08 22,00 Ba 4.29 14,10 sc 439 21,94 MT 471 17.37 Go 473 20,25 TO 4,84 14,60 PR 4,92 23,29 ES 5,23 18,99 RR 5.24 1651 DE 5.37 22.70 MG 5.48 19,65 RN 554 13,60 AM 5,62 13,82 DB 5,84 14,37 sp. 5,93 22,56 RO 635 16.47 cE 644 1267 Ms 6,59 20,89) Ry 6,67 25,07 SE. 6.94 15,55, AC 7.03 18,40 AL 7M 18,54 AP 8,30 17,76 PE 8,52 20,73 Fonte: Cevidocs de Obito procesadas pelo Ministerio da Saad. Dados populacionas provenienes do Censo br 56 lero de 1991, ‘As taxas de mortalidade de residentes do estado entre 60 ¢ 69 9 apresentam resultados similares. Maranho e Piau continu- m num nivel muito mais baixo, devido & notificagio incomple- ma, embora a diferenca em relaco a0 resto nio seja tio dramdtica sno no caso anterior. Muitos dos estados do Norte ¢ do Nordes- spresentam valores médios nao muito distantes dos estados mais igos com valores mais altos. Em resume, essas comparacées com taxas gerais de mortalida- permitem uma conclusio mista. Por um lado, mostram que, fo, a notificagio incompleta pode ser uma das raz6es pelas is 0s estados mais pobres apresentam baixas taxas de homici- o. Isso é muito intenso no caso do Maranhao e do Piaus e prova- ite moderado em outros casos. Por outro lado, esses resul- tados indicam que, com excecdo dos dois estados acima mencio- s, é altamente improyvel que as baixas taxas de homicidio “apresentadas no Nordeste possam ser explicadas apenas como re- tado da notificagao incompleta. ~ Outra evidencia que aumenta a credibilidade da distribuiggo dos homicidios por estado é © fato de que as mortes provocadas ‘por outras causas tém diferentes padrdes geogrificos. Por exem- - plo, as taxas de suicidio por estado apresentam distribuigao dife- tente da dos homicidios, com os estados do Sul claramente exce- dendo os outros, conforme pode ser visto no quadro que se se- uc!" cn Mapa 2 (p. 92) "Bsc metodo de estimagioseguiu as direwies destacadas por Lozano. Todas as morte dle intencionalidade desconhecida cometidas cam armas e metade das mortes de Jtencionalidadedesconbecida cometidas por outros meos foram considera intenci- fomais. Das conseradasintencfonais, 15% —o percentul de sucidios sobre as mortes Jntencionais previamente conhecidas — foram atribuidos a suiciios 57 TABELA 9 ‘Taxa Estimada de Suicidios por Estado Brasil 197 ESTADO 'Niimero de Suicidios por 100,000 habitaaces MA 131 AL 170 BA ari TO 176 PB 1,92 PL 2 PA, 2,30 AP 3,31 cE 3,32 AM 339 RO 3.85 Ry 3,87 AC 4,01 ES 4,28 MG 442 PE 448 MT. 4,64 SE 4.74 RN 487 sp 574 RR 5.93 DF 6.37 PR 683 Go 7,06 MS 737 so 8,34 RS 10.48 BRASIL 482 58 Fonte: Certidses de Obito processaas pelo Minstrio da Saide Estimativa feita pelos autores. No entanto, os estados do Nordeste parecem cer baixas taxas se também podem ser parcialmente creditadas & notificagao in- mpleta. © caso do Maranhao é novamente evidente. “Por isso, as comparacdes e as anilises por estado devem ser respretadas com cuidado, uma vez que parece haver uma corre- go entre nivel de notificagio incompleta ¢ desenvolvimento, poderia estar contribuindo para taxas baixas em alguns esta- os, particularmente no Nordeste. Além disso, 0 Maranho e 0 Piaut serio retirados dos testes estatisticos subseqiientes, devido aos graves problemas existentes de qualidade dos dados. Os testes estatisticos da relagao entre renda e desigualdade, or um lado, e homicfdios, do outro, tém de ser realizados com dos de 1991, uma vez que este &o tltimo censo disponivel com dos de renda c desigualdade por estado. Os dados sobre urbani- foram obtidos do IBGE. Os dados sobre educagio, renda e desigualdade foram retiradny'do Atlas de Desenvolvimento Hu- 10. no Brasil (1998), estuido, realizado por virias instituigées — ‘saber, PNUD, IBGE, IPEA'@ Fundagio Joio Pinheiro — a fim de aplicar 0 Indice de Desenvolvimento Humano aos estados ¢ ‘municipalidades no pais. Este atlas foi publicado em 1998 utili- tando dados de 1991, jé que as informagées do censo séo necessé- ‘as para a maioria dos indicadores. Os indices de educagio ¢ ren- ‘da sio calculados da mesma'imaneira que no Indice de Desenvol- yimento Humano ja descrito no caso dos palses. A desigualdade & ‘medida por meio da L de Theil, de modo que quanto mais alto o coeficiente, maior a desigualdade na distribuigéo de renda. A distribuigao das taxas de homicidio no pais em 1991 € lar & de 1997, com poucas diferengas. Os estados de Roraima ¢ Ronddnia, no Norte, apresentam taxas mais altas que em 1997, enquanto 0s estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Amapé apresentam cifras ligeiramente mais baixas. TABELA 10 ‘Taxa de Homicidio Estimada por Estado Brasil 1991 ESTADO [Niimero de Homicidis por 100.000 habitants Ry 63,42 RO 45,39 PE, 2.23 RR 41,42 ES 37.35 SP. 31,68 DF 30,55 AL 26,75 AC 25,67 co 23,44 MT 224 Ms 2.36 SE 21,55 RS 20.17 AM 19,63 AP 18,66 PR 16,64 PA 16,36 PB 12,54 TO. 10,78 MG 10,37 cE 10,28 RN 9.65 MA 9,58 sc 9,26 BA 5,04 Pl 43 BRASIL, 24,01 Quando examinadas, como foi feito em relagéo a 1997, as ta- rais de mortalidade por grupo etério (de menos de cinco & “entre 60 ¢ 69) confirmamos que as taxas para os estados do Mara- ‘phio e do Piaut so irrealisticamente baixas,”” o que salienta um ‘sério problema de notificagao incomplera. Assim, esses dois estados go eliminados das regressGes miiltiplas sobre taxas de homicidio, Conforme indicado acima, 0 baixo ntimero de casos ¢ os pro- Iblemas de validade tornani'essa andlise bastante explorat6ria, A ptimeira varidvel independente a ser introduzida é a renda, © co- gficiente, 20 contririo das expectativas, é positive, embora nio aleance significacao estatistica (coeficiente=25,015; erro pa- drio=13,364; t=1,872; p=0,074). Na realidade, o gréfico mostra que os estados de renda relativamente alta podem ter taxas de homicidio altas (por exemplo, o Rio de Janeiro) ou baixas (por exemplo, Santa Catarina). Por outro lado, nao existem estados ‘em situagio econdmica pitesria que tenham altas taxas de homi- vidio. Isso ¢ precisamente-o que produz uma associagio positiva. 60 Fonte: Certidoes de Obico processdas pelo Minisrio da Sade. Estimativa feita pelos autores. GRAFICO 8 ‘Taxa Estimada de Homicidio e Renda por estado Brae - 1901 ” ge b. ae 5 Bw : i. ows 7) a) oe Indios de Renda (10H) " Tor exemplo, eles io 0s dois tnicns estos com eas de mortalidade abaixo de 2 para cada mil habitants 61 Quando introduzimos a educagio, ambas as variéveis prod zem coeficientes positives, mas nfo significativos. O grau de banizagZo foi medido de trés maneiras diferentes: percentagem, populagio residente em municipalidades de mais de um mill de habitantes, peroentagem residente em municipalidades de maig de quinhentos mil habitantes ¢ percentagem residente em mu. nicipalidades de mais de cem mil habitances. Das trés operaciona lizages acima descritas, a iltima €a que mais se correlaciona coi a taxa de homicidio. Apés a introdugao do indice de urbanizaga nna equagao, o efeito da renda se torna negativo conforme espera- do, mas ainda nao significativo, o da educagio permanece posit vo € nio significativo ¢ o do percentual da populago em. municipalidades de mais de 100.000 habirantes € 0 tinico signifi cativo (coeficiente=0,404; erro padrio=0,158; t=2,56; p=0,018), O indice de desigualdade, a L de Theil, rem um coeficiente negi- tivo mas nao significativo. Fica evidente no grafico a falta de uma correlagio clara entre desigualdade e homicfdios por estado. GRAFICO 9 ‘Taxa Estimada de Homicidios @ Desigualdade por Estado “Apés a introducio da desigualdade, a urbanizagio permanece do a varidvel aparentemente de impacto mais forte sobre a taxa cfdio, muito embora nesse momento se coloque um pou- ‘co abaixo do nivel significativo (cocficiente=0,374; erro pa- 0-0,539; (=2,07; p=0,051), o que era esperado pois o poder jo teste declina com a introdugao de novas variéveis independen- ‘eum ntimero to pequeno de casos. Usamos os logaritmos das raxas de homicidio para lidar tom varios problemas de distribui- a assimetria da taxa de homicidio; a posstvel nao-lincaridade relagées; € a influéncia de casos extremos como 0 do Rio de Janciro. Nessa situacia, a'efeito da urbanizacio é significativo, pesar da incluso de todas as varidveis independentes (coeficien- {{e=0,0075 erro padrio=0,003; t=2,18; p=0,041 ). De fato, essa é a “Gnica varidvel que produz um cocficiente significativo. O gréfico “exibe uma clara correlagio éntre urbanizacio e taxa de homicidio, com a maioria dos estados perto da linha de melhor ajuste e algu- ‘mas excegbes, como Rond6nia — um estado rural, mas relativa- ‘mente violento — ou 0 DistritoyFederal —, completamente urbano mas ndo muito violento. O caso do Distrito Federal ¢ realmente atipico, uma vez. que correspondente a uma capital construida na ~década de 50, numa érea antes deserta. ' Basi 1991 8 Hemicisoe stimadoe por 100,000 nab, 62 63

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