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JDENTIDADE CULTURAL E O ENSINO DE LINGUAS ESTRANGEIRAS NO BRASIL” HERZILA MARIA DE LIMA BASTOS Universidade Federal dé Minas Gerais O sistema educacional brasileiro tem restringido o ensino de linguas estrangeiras nas escolas a lingua inglesa. Esta tornou-se signo cle status na nossa cultura, conforme estudos realizados por Paiva (1991), contidos neste volume. Para validar 0 ensino da lin- gua inglesa cm paiscs cm desenvolvimento, hi o seu inegavel valor instrumental para o acesso 4 tecnologia. Entretanto, inexis- tem justificativas para a sua exclusividade, praticada por nds até este momento. Estudos empiricos, do final da década de 80 (Bastos, 1988), mostram que estudantes brasilciros descjariam ter acesso a apren- dizagem de outras linguas estrangeiras, a exemplo do que acon- tece em outros paises, como a Argentina. Esses mesmos estudos apontam uma idealizacao de povos e paises de primeiro mundo com os quais nado ha amplo contato cultural, ou a sua lingua nao é aprendida nas escolas. E 0 caso da Franga e do povo francés. Ha entio, necessidade de se aprender a lingua e conhecer a cul- tura de povos de 1° mundo, pois, se isto nao acontecer, a conse- quiente idealizacao cesses povos pode ser indesejavel 4 formagao da identidade cultural do povo brasileiro. Acreditamos também que a aprendizagem do espanhol, quando implementada, podera ajudar no conhecimento de paises vizinhos, com culturas e pro- blemas mais semelhantes aos nossos, j4 que esse conhecimento dificilmente se dara através da indtistria cultural, incluindo-se o sistema de comunicagdo mundial. A énfase na diversidade de contatos com culturas diferentes através da aprendizagem de linguas estrangeiras justifica-se pelo sentimento de anomia, de descrédito nacional, que geralmente Permeia a cultura de povos em desenvolvimento, sujeitos 4 colo- hizacdo predatoria, como o nosso. Esses sentimentos foram pro- fundamente arraigados no passado colonial e continuam a sé-lo, — Adapticho do segundo capitulo de Dissertagaio de Mestrado orientada pelos Profs. Marco Antonio dle Oliveira ¢ Else Ribeiro Pires Vieira, em 1988, na UFMG. 31 no presente, atavés da indGstria cultural mundial. Pars ey, re omnes a eles, € importante que haja.o ensino de dive Pins exangeins, mas cle deve ser realizado de form, gi eeando-se na historia de cada povo, inclusive o na Iauvismo cultural. Por relativismo cultural entende-se i resent dn ida de que todos 05 povos e paises tm a sua prépria ine ¢ 0 seu valor, inexistindo paises ou povos melhores ou pioies si, que outros. (Canclini, 1983) tk Principalmente, 0 ensino de linguas estrangeitas deve egy var que os esterestipos atribuidos a cada povo, inclusive 6 nay to, nio sio absolutes, ou seja, nenhum povo € desse ou dey Te ito, O ser humano é complex ¢ alguma variacdo mais gent ca de comportamemto que poss existir nio se deve a caracters ticas inerentes 20s povos. Variagoes podem se dever ds crencas ¢ valores cleitos por esses povos em fun ‘CUS fi i tite ALIVO, € no re cio historia ¢ BO le sit hist6ria ¢ da sua condicao econdmica no quadro mundial, siderad historicamente. Fssas crengas ¢ valores podem ser alte tados em um processo cultural ¢ histérico que estamos todos vivendo a cada momento. Para que essa mobilidacle se fortale 6 fundamental que se questionem estercdtipos que se tornirai verdades absolutas. Cremos que caiba a educacio, atrav palmente do ensino de linguas ¢strangeiras, promover tionamento do deterministico. A midia € « informagio em ger 'S princi se ques. poderiam contrilsuir, mas ndo temos 0 controle sobre clas, rentemente da educagao. ‘A conscientizagdo através da educacio comeca pelo entencli- mento dos estercétipos

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