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IX FÓRUM DE MINERAÇÃO

O Panorama da Mineração Frente aos Novos Desafios


Econômicos, Sociais e Tecnológicos

Caracterização tecnológica do rejeito magnético do


beneficiamento de minério de apatita da região sul do
Piauí

OMITIDO PARA REVISÃO RESUMO:


CEGA O Brasil é o 5º maior produtor mundial de fosfato e gera em sua cadeia produtiva mais
de 30 milhões de toneladas de rejeitos, os quais se configuram como passivo ambiental
ao serem descartados de forma inadequada. Este trabalho caracterizou dois tipos de
rejeitos de fosfato aqui denominados de Rejeito de Baixo Campo Magnético (RBCM)
e Rejeito de Alto Campo Magnético (RACM) provenientes da região sul do estado do
Piauí, visando seu aproveitamento como subproduto mineral e consequente redução
dos impactos ambientais. A caracterização dos rejeitos foi realizada em duas fases:
análise química semi-quantitativa através de fluorescência de raios-X, sendo
encontrados teores médios para o RBCM de P 2O5 de 10,60% e de de Fe 2O3 54,75%, e
no RACM teores de P2O5 de 20,68% e de 14,61% de Fe 2O3; e análise granulométrica
com posterior difratometria de raios-X, que indicou a presença de hematita e
magnetita. Os resultados mostraram que o RBCM, por sua granulometria e o alto teor
de ferro, pode ser aplicado como carga de asfalto e aterro para recuperação de vias
vicinais; e o RACM pode passar por concentração através de flotação e ser utilizado
como concentrado fosfático para abastecer o mercado interno de fertilizantes. Conclui-
se que os rejeitos RBCM e RACM têm grande potencial para retornarem como
subprodutos ao ciclo produtivo da indústria da mineração.

Palavras-chave: Fosfato; Caracterização tecnológica; Minério de Ferro,


Aproveitamento de rejeitos.

ABSTRACT:
Brazil is the fifth largest producer of phosphate in the world, generating in its
production chain more than 30 million tons of tailings, which are set as environmental
liabilities when discarded in an inadequate way. If these tailings are well
characterized, they may be reused as secondary ore. This paper characterizes two types
of phosphate tailings referred to as low magnetic field tailings – LMFT and high
magnetic field tailings – HMFT, from the drought polygon in Bahia with the objective
of better targeting its use as a by-product of the mineral and consequent reduction of
the environmental impacts of the surroundings and expansion of the original
productive chain. The characterization of the tailings was carried out in two phases. In
the first one, the X-ray fluorescence was made, resulting in average values for the
redox LMFT of P2O5 10.60% and Fe2O3 54.75%, and in the HMFT tailings resulted in
P2O5 20.68% and Fe2O3 14.61%. In the second phase the tailings were submitted to a
granulometric analysis and an X-ray diffraction analysis that indicated the presence of
hematite and magnetite. In the granulometric analysis, a size of 230 μm was obtained
for the D50 of the LMFT waste and for the HMFT a size of 220 μm. Due to its
granulometry and the high iron content, the LMFT waste can be used both as asphalt
load and for vicinal recovery. To be used in the steel industry it is recommended that
this waste be floated in an attempt to remove the phosphate. The reject HMFT can be
floated and used as a phosphate mineral to supply the domestic fertilizer market.

Palavras-chave: Phosphate; Technological characterization; Iron Ore; Waste

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management.

REVISTA GEOMETRIA GRÁFICA, Ano XX, Vol. Xx: PX-PY 2


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1. INTRODUÇÃO

Segundo Luz, (2008) o impacto ambiental gerado pelo setor mineral, sobretudo o
visual, possui amplas dimensões pelo fato do mesmo ser de fácil verificação e constatação in
loco, particularmente nas minas e atividades de extração a céu aberto. Assim, existe uma
pressão crescente advinda dos órgãos ambientais e da sociedade civil sobre o setor mineral,
exigindo a adoção de práticas ambientais sob a ótica da sustentabilidade no sentido de mitigar
os impactos causados por estes no entorno do empreendimento e no meio ambiente de forma
geral (GOMES ET ALL, 2011).
A preocupação com as questões relacionadas à conservação ambiental tem feito
com que a indústria mineral busque cada vez mais inserir-se no contexto do desenvolvimento
sustentável Borges (2014), adotando técnicas alternativas de produção que tenham o potencial
de ampliar a cadeia produtiva original e de promover a economia circular, o que minimiza os
efeitos do esgotamento das jazidas minerais e atende ao crescente aumento do consumo de
bens minerais (SILVA ET ALL, 2015).
Dentre as possibilidades para se alcançar tal objetivo, o aproveitamento dos rejeitos
de mineração das barragens ou minérios ultrafinos provenientes das diversas etapas do
processo de beneficiamento configura-se uma excelente alternativa Gomes et all (2011). Esse
aproveitamento pode ocorrer por meio da utilização dos rejeitos em outras aplicações ou ainda
pela concentração desses rejeitos através do emprego de novas tecnologias de beneficiamento
(BORGES, 2014).
A investigação da potencial utilização dos rejeitos de mineração deve ser realizada
através de uma etapa fundamental para o máximo aproveitamento de um recurso mineral,
denominada caracterização tecnológica, que consiste em um ramo especializado aplicado ao
beneficiamento de minérios que estuda aspectos específicos da mineralogia dos minérios
sendo essas informações utilizadas para desenvolvimento e otimização de processos Gomes
(1984). Essa caracterização envolve, de forma geral, caracterização mineralógica,
granulométrica, química e ensaios tecnológicos específicos para um determinado emprego
(REIS, 2005).
Até há pouco tempo as técnicas de caracterização eram pouco aplicadas no estudo
dos rejeitos de usinas de beneficiamento de minérios, sendo esses descartados sem maior
conhecimento de suas características físicas, químicas e mineralógicas. Nos últimos anos esta
prática vem mudando por questões ambientais, de escassez dos minérios e de esgotamento de
reservas minerais com a consequente diminuição dos teores das minas, o que é de grande
importância pois o conhecimento dos rejeitos favorece a possibilidade de seu aproveitamento
como subproduto na própria usina ou em outro segmento industrial, minimizando o impacto
ambiental e promovendo a geração de receitas onde antes haviam apenas despesas (BORGES,
2008).
O Brasil, por ser um expressivo produtor mineral, gera uma grande quantidade de
rejeitos nas diversas etapas do processo de beneficiamento de minérios, e alguns destes
materiais possuem grande potencial de serem aproveitados como subprodutos nos diversos
setores industriais (LUZ ET ALL, 2010).
Nos últimos anos, o Brasil, juntamente com os Estados Unidos, vem liderando a
produção de fosfato no continente americano, e ocupa atualmente a 5ª posição no ranking

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mundial Fonseca (2015). Segundo o Anuário estatístico do setor de transformação não


metálica (2017) a rocha fosfática é utilizada principalmente como matéria-prima na indústria
de fertilizantes, sendo um recurso mineral bem distribuído no globo terrestre e sem
perspectivas de exaustão das jazidas. Seu mineral-minério é a apatita, que ocorre associada a
outros minerais de titânio, nióbio, ferro, sílica e bário.
O processo de beneficiamento mineral de apatita, que compreende basicamente as
etapas de britagem, secagem, homogeneização, secagem, moagem primária, resfriamento,
peneiramento, moagem secundária e separação magnética de baixo, médio e alto campo, tem
como principal objetivo atingir um concentrado apatítico com a qualidade adequada para sua
utilização como matéria prima na fabricação de fertilizantes. Isso significa que este deve ter
um teor médio de 35% de P2O5 e baixos teores de impurezas (TESTA, 2008).
Segundo o Ministério de Minas e Energia (MME) em seu anuário estatístico de
(2017), o Brasil foi responsável pela produção de cerca de 6,7 milhões de toneladas de fosfato
concentrado, produção esta que gerou uma quantidade de 34.536.000 toneladas de rejeitos,
que retornaram à natureza na forma de pilhas, impactando o meio ambiente no seu entorno,
além de gerar perdas em termos econômicos no processo produtivo desse mineral-minério
estratégico. Assim, torna-se imperativo e de grande relevância que o setor mineral continue
investindo em tecnologias de reaproveitamento do rejeito proveniente do beneficiamento
mineral, buscando alternativas para sua aplicação (SAMPAIO, 2007).
Neste contexto, o presente estudo teve por objetivo realizar a caracterização
tecnológica química e física do Rejeito fosfático de Baixo Campo Magnético (RBCM) e o
Rejeito fosfático de Alto Campo Magnético (RACM) de uma mina de fosfato da região Sul
do estado do Piauí, visando o aproveitamento dos mesmos como subprodutos e a consequente
mitigação dos impactos ambientais nas Áreas Diretamente Afetadas (ADA) e nas Áreas de
Influência Direta (AID) do empreendimento em que foram coletadas as amostras.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Os rejeitos caracterizados são provenientes de uma mineração de fosfato localizada


no Polígono da Seca, mais precisamente na região sul do Estado do Piauí. Em relação ao
contexto litológico, a área está inserida no Complexo Metacarbonatítico de Angico dos Dias
(CMCAD), que está situado na divisa entre o município de Campo Alegre de Lourdes,
extremo noroeste do Estado da Bahia, e o município de Caracol, extremo sul do Estado do
Piauí, na região econômica do Médio São Francisco (Figura 1) (LUCIANO, 2017).

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Figure 1. Mapa de situação com a localização da área de ocorrência do CMCAD.

Fonte: Luciano (2016)

O depósito fosfático do CMCAD consiste em uma cobertura laterítica desenvolvida


sobre rochas alcalino-carbonatíticas pré-cambrianas com reservas da ordem de 12,5 milhões
de toneladas de fosfato residual com teor médio de 15,4% de P2O5 e 0,75% de Óxidos de
Minerais Terras Raras Liberal (1989). De modo geral, o complexo geológico em que se situa
o depósito de fosfato em estudo se caracteriza por apresentar composição média semelhante
às rochas metacarbonatíticas mineralizadas em fosfato, que apresentam composição modal de
±50% de carbonato, ±20% de apatita, ±11% de pseudomorfos de olivina, ±10% de
biotita/flogopita, ±5% de magnetita com exsoluções de ilmenita, além de badeleíta, monazita,
pirrotita e pirita como acessórios (4%) mais comuns. Segundo Silva et al. (1988), o conteúdo
de apatita neste carbonatito é, em média, superior a 14%. (BRINDLEY, 1980)
Na região as atividades de lavra do minério fosfático são realizadas a céu aberto, e no
processo de beneficiamento é empregada a tecnologia de beneficiamento realizado a seco, a
qual compreende as etapas básicas do processo de beneficiamento já citadas anteriormente
por Testa (2008), com recuperação do minério em torno de 35% de P2O5, o que implica na
geração de um alto volume de rejeitos. (FONSECA, 2015)
Assim, após o minério passar pelas operações de britagem e moagem este se
encontra com um determinado grau de liberação, seguindo para a etapa de desmagnetização a
seco em que são gerados os rejeitos dos tipos RBCM e RACM. Com o objetivo de melhor
orientar a deposição dos rejeitos ou o seu aproveitamento foram realizados ensaios de
caracterização tecnológica qualitativos e quantitativos.
A metodologia experimental do estudo consistiu em realizar a caracterização
tecnológica química e física dos rejeitos RBCM e RACM oriundos do processo de
processamento a seco, que ocorreu em duas fases:

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 Fase 1: no período de setembro de 2005 a agosto de 2013, coletou-se, a cada


24 horas, 500 gramas (g) de amostras de RBCM e RACM na correia transportadora para
realização de análise química através da técnica de fluorescência de raios X, por energia
dispersiva. Para a determinação dos teores dos minerais presentes no rejeito (potencialmente
ferro e fósforo) utilizou-se o equipamento Epsilon 3 XL. As amostras foram pulverizadas em
um moinho de disco HSM 100 e prensadas na proporção de 1 g de cera para 5 g de amostra
em uma prensa HTP 40, ambos da marca Herzog;
 Fase 2: em setembro de 2013 foram coletadas na correia transportadora uma
amostra de RBCM e outra de RACM, ambas com 3 quilogramas (kg), para realização da
análise granulométrica e dos testes de difratometria de raios X (DRX).
Após a coleta, as amostras foram enviadas ao Laboratório de Tecnologia Mineral do
Departamento de Engenharia Mineral da Universidade Federal de Pernambuco
(LTM/DEMINAS/UFPE), onde cada uma foi homogeneizada e quarteada por meio de duas
pilhas cônicas e uma pilha triangular alongada tipo Chevron, como pode ser observado na
figura 2.

Figura 2. Rejeitos do processo de beneficiamento do fosfato.

De cada pilha de RBCM e de RACM foram retiradas 3 (três) alíquotas de


aproximadamente 300 g cada para a realização de ensaios granulométricos e 1 aliquota de
aproximadamente de 100 g para o teste da difração de raios X. Para obter melhores resultados
na análise granulométrica e menor influência de aglomerantes, umedeceu-se o material e o
mesmo foi passado em uma peneira de malha 0,147 mm, sendo o material retido chamado de
fração grossa e o passante de fração fina. Após esta etapa o material foi levado a uma estufa a
aproximadamente 90º C para secagem (SAMPAIO, 2007).
A análise granulométrica da fração grossa foi realizada a seco em um vibrador de
peneiras. Foram utilizadas 8 (oito) peneiras da série Tyler com aberturas entre 1,68 mm e
0,147 mm. O material ficou por 10 minutos no vibrador de peneiras. As frações retidas em
cada peneira foram pesadas e o passante em 0,147 mm foi adicionado ao material fino.
A granulometria da fração fina do material foi determinada via úmido, em um
vibrador de peneiras. Foram utilizadas 4 (quatro) peneiras da série Tyler com aberturas entre

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0,088 mm e 0,044 mm. As frações retidas em cada peneira foram pesadas, e o passante na
peneira de 0,044 mm após todo o material decantar foi seco e pesado.
Para a realização da análise dos rejeitos por difratometria de raios X, a alíquota de
100 g foi quarteada em um quarteador Jones, sendo o material subdividido em alíquotas de
aproximadamente 6,2 g. Em seguida, 2 (duas) alíquotas resultantes foram unidas e
cominuídas em um almofariz de Ágata para pulverização das partículas. Após esse
procedimento a amostra foi colocada em um porta-amostra sem utilização de aglomerantes.
Os testes de difração foram realizados em um aparelho Bruker D2 Phaser com tubo
de cobre, com uma potência de 300 VA (30 KV, 10 ma), com o comprimento de onda da
radiação Cu-Kα de 1,54060 Ǻ. As varreduras 2θ foram realizadas entre 4º e 80º, com o porta-
amostra girando em torno de seu próprio eixo com taxa de 20 rotações por minuto (rpm).
Os picos de difração foram indexados com o aplicativo Bruker-AXS Diffrac.Eva® e
o banco de dados COD2010:94715. O aplicativo Bruker-AXS Diffrac.Topas® foi empregado
para verificar o erro nas indexações efetuadas, subtraindo do difratograma obtido os
difratogramas simulados de cada uma das fases minerais identificadas. Os difratogramas
foram indexados sem subtrair a contribuição da radiação Kα2 (CRISÓSTOMO, 2015).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

As concentrações químicas de ferro e fósforo encontradas nos dois tipos de rejeito


provenientes do processamento do minério fosfático estão apresentadas na tabela 1 e foram
determinadas através de ensaios de fluorescência de raios X durante todo o período de coleta
das amostras.

Tabela 1. Teores de ferro e fosforo encontrados nos rejeitos RBCM e RACM.

Rejeito Substâncias Teor (%)

P2O5 10,60

RBCM Fe2O3 54,75

Produção (t) 346.469,75

P2O5 20,68
RAC
Fe2O3 14,61
M
Produção (t) 379.863,83

Os resultados obtidos na análise granulométrica dos rejeitos RBCM e RACM são


apresentados nas tabelas 2 e 3.

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Tabela 2. Resultados da análise granulométrica do RBCM.

Abertura Acumulado
Faixa Retido (g) Passante (%)
(mm) (%)

10 1,680 0,41 0,14 99,86

10 x 12 1,410 1,14 0,52 99,48

12 x 20 0,833 13,96 5,25 94,75

20 x 28 0,589 32,94 16,40 83,60

28 x 32 0,500 21,28 23,60 76,40

32 x 48 0,295 57,42 43,04 56,96

48 x 65 0,208 50,10 59,99 40,01

65 x 100 0,147 32,65 71,04 28,96

100 x 170 0,088 32,38 82,00 18,00

170 x 200 0,074 4,03 83,37 16,63

200 x 250 0,063 7,43 85,88 14,12

250 x 325 0,044 7,71 88,49 11,51

> 325 34,00 100,00 0,00

Total 295,45

Quant. inicial 301,00

Perda (%) 1,84

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Tabela 3. Resultados da análise granulométrica do RACM

Faixa Abertura (mm) Retido (g) Acumulado (%) Passante (%)

10 1,680 0,44 0,15 99,85

10 x 12 1,410 1,17 0,54 99,46

12 x 20 0,833 13,54 5,07 94,93

20 x 28 0,589 32,64 15,98 84,02

28 x 32 0,500 19,32 22,44 77,56

32 x 48 0,295 49,93 39,14 60,86

48 x 65 0,208 43,24 53,60 46,40

65 x 100 0,147 29,91 63,60 36,40

100 x 170 0,088 32,38 74,43 25,57

170 x 200 0,074 4,03 75,78 24,22

200 x 250 0,063 7,43 78,26 21,74

250 x 325 0,044 7,71 80,84 19,16

> 325 57,30 100,00 0,00

Total 299,04

Quant. Inicial 300,00

Perda (%) 0,32

A partir dos dados das tabelas foi possível construir as curvas de distribuição
granulométrica das amostras dos materiais RBCM e RACM (figura 3) na escala mono-log.

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Figura 3. Gráficos da curvas de distribuição granulométrica dos materiais RBCM e RACM.

100 RBCM 100 RACM

Fração Passante (%)


80
Fração Passante (%)

80
60 60

40 40

20 20

0 0
0.02 0.2 2 0.02 0.2 2
Abertura (mm) Abertura (mm)

Neste material em especifico o aumento da fração inferior a 0,1 mm, dificulta o


processo de desmagnetização, pois foi observado que este material adere ao tambor magnetico
dificultando a separção do rejeito, dado que a distribuição granulométrica é um fator
determinante na limitação de utilização de água no processamento mineral, pois segundo a
literatura o método de separação magnética a seco é usado, em geral, para partículas com
granulometria grosseira (140# ou 0,105 mm) e o método a úmido para granulometrias mais
finas (325# ou 0,0036 mm) (CRISÓSTOMO, 2015).
Os resultados obtidos permitem afirmar também que nesta faixa granulometrica o
material já foi liberado, constituindo um fator limitante para o potencial aproveitamento
destes rejeitos, visto que estas partículas permitem apenas processos de beneficiamento a seco
através da desmagnetização de baixo, médio e alto campo magnetico, que já é o procedimento
padrão realizado na mineração para este material, o que implica dizer que ressubmeter o
rejeito a um processo de separação a seco não garantirá melhores resultados, já que o mesmo
necessitaria passar por um novo processo de cominuição, para liberar as particulas que ainda
não se encontram liberadas. Assim, entende-se que, para uma tentativa de otimização no
processo de separação magnética de baixa intensidade do minério fosfático devem–se
empregar processos via úmido; entretanto para tal processo os rejeitos devem ter uma
granulometria menor que 0,04 mm, e os resultados mostram que os rejeitos em análise
possuem apenas uma pequena fração neste tamanho de partícula, sendo possivél criar uma
nova rota de processo para melhor aproveitar este material, através da deslamagem ou de uma
flotação, possibilitando um ganho de mineral fosfatico para o RACM e a retirada do fósfato
deste rejeito RBCM possibilitando a utilização do mesmo como minério de ferro.
As curvas de distribuição granulométrica dos rejeitos fosfáticos também
possibilitaram determinar os diâmetros médios (d50) das particulas deste processo que utiliza a
metodologia via seco, assim como valores de diâmetro em que passa 90% das partículas (d 90)
e diâmetro no qual tem-se apenas 10% de partículas passantes (d 10). Na tabela 4 pode-se
verificar os valores dos diâmetros em micrômetros (µm) das amostras dos rejeitos analisados.

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Tabela 4. Valores estimados para os diâmetros característicos das amostras analisadas

Amostra d90 (µm) d50 (µm) d10 (µm)

RBCM 830 230 37

RACM 830 220 < 20

d90: abertura da malha por onde passa 90% do material; d50: abertura da malha por onde passa 50% do
material; d10: abertura da malha por onde passa 10% do material.

Os resultados das análises por difratometria de raios X estão apresentados nas figuras
4 e 5. A partir dos picos de difração foi possível identificar as fases mineralógicas, que são
exibidas nos difratogramas das amostras dos materiais RBCM e RACM. Cada fase mineral é
representada por picos com intensidades diferentes, já que para confirmação da presença da
fase mineral na amostra tem-se que encontrar ao menos 3 (três) picos do mesmo mineral. Este
método gera uma alta intensidade de ruído de fundo (acima de 2000 contagens) devido à
fluorescência gerada pelos átomos de ferro e é inevitável quando se utiliza a radiação de
Cobre para análise de materiais ferrosos.
As fases minerais identificadas na amostra do material RBCM foram: magnetita,
hematita, goethita, hidroxiapatita, fluorapatita, biotita, muscovita, caolinita, montmorilonita e
nontronita.

Figura 4. DRX da amostra do RBCM.

Na amostra do material RACM, as fases minerais encontradas foram: hidroxiapatita,


fluorapatita, magnetita, hematita, goethita, biotita, caolinita, montmorilonita, nontronita e
muscovita.

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Figura 5. DRX da amostra RACM.

A tabela 5 foi construída a partir dos resultados das análises de DRX e contém as
fases minerais encontradas e respectivas fórmulas moleculares, a fim de facilitar a verificação
de quais minerais possuem ferro em sua composição e assim indicar possíveis processos de
tratamento para remoção do mineral de interesse.

Tabela 5. Fórmulas moleculares dos minerias indentificados nas amostras do rejeito magnético

Fase Mineral
Fórmula molecular
indentificada

Hidroxiapatita Ca5[PO4]3(OH)

Fluorapatita Ca5[PO4]3(F)

Magnetita Fe3O4

Hematita Fe2O3

Goethita FeOOH

Biotita K(Fe,Mg)3[Si3AlO10](O,F)2

Muscovita KAl2[Si3AlO10](O,F)2

Caolinita Al4[Si4O10](OH)8

Montmorilonita (Al,Mg)2[Si4O10](OH)2.4H2O

Nontronita (Fe,Al)2[Si,Al4O10](OH)2.4H2O

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4. CONCLUSÕES

A caracterização tecnológica dos rejeitos oriundos da etapa de separação magnética


(rejeito de baixo campo magnético e rejeito de alta campo magnético) do processamento do
minério fosfático mostrou um teor médio de cerca de 16% de apatita e constituição
mineralógica predominante de minerais ferrosos.
O alto teor de minério de ferro é encontrado principalmente no RBCM, que mostra
alta concentração de minerais que contém ferro em sua estrutura química, como observado na
tabela 5. Este rejeito tem alto potencial de aproveitamento, já que o mesmo já foi utilizado
como carga de asfalto e na aplicação direta no revestimento de vias vicinais, que pode ter sua
utilização facilitada através de parcerias público privada. Além disso, para este rejeito são
necessários novos ensaios de caracterização na tentativa de viabilizar a extração do minério de
ferro como subproduto visto que o teor de P2O5 encontrado no mesmo é igual ao teor de corte
de algumas minas de fosfato (cerca de 10%) e impossibilita sua utilização na siderurgia.
O rejeito de alto campo magnético tem potencial aproveitamento para o setor do
agronegócio nacional. Para tal, este rejeito deve passar por uma etapa posterior de
concentração cleanner para remoção do ferro ou uma etapa de flotação para a remoção do
fosfato.
Com este estudo observa-se a importância e necessidade de caracterização de rejeitos
dos processos de beneficiamento mineral de modo que os mesmos possam ser aproveitados,
seja como subproduto ou aplicados em outros setores industriais. A tendência cada vez maior
é que os rejeitos que são devolvidos ao descartados no meio ambiente devem ser
reaproveitados nas cadeias produtivas dos empreendimentos de mineração, já que as jazidas
minerais estão cada vez mais difíceis de serem encontradas e exploradas, os custos de
produção tendem a ser cada vez mais altos e os teores dos minerais-minérios cada vez mais
baixos.
Desta forma os resultados obtidos evidenciam que os impactos ambientais
decorrentes da deposição dos rejeitos da produção de fosfato podem ser minimizados através
do aproveitamento dos materiais RBCM e RACM, que mostraram grande potencial para
obtenção de subprodutos com potencial de aproveitamento econômico industrial e no setor da
construção civil.
A caracterização tecnológica de rejeitos de processamenteo mineral é uma etapa
fundamental para o desenvolvimento de processos para obtenção de subprodutos industriais e
atende aos princípios da sustentabilidade no setor de mineração.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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IX FORUM DE MINERAÇAO – Maio/2019 – Recife, Pernambuco – PX-PY 14

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