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A NOVA ERA DO LÍTIO – PRÓS E CONTRAS

Aníbal Cabral (1), Eugénio Neves (1) e Isabel Fernandes(1)


(1) Doutoramento Sustentabilidade Social e Desenvolvimento, Universidade Aberta, Portugal

1. Enquadramento

O programa Prós e Contras da RTP, de 12 de novembro de 2019, intitulado “A nova era do Lítio”, durante 1h 40m 30s,
com duas partes assentes na exploração do lítio em Portugal, as possíveis vantagens e consequências, objetivando
compreender a interação entre as diferentes posturas e interesses dos diversos participantes face à exploração do lítio
em geral, particularmente no local, de modo a ser possível (1) identificar a posição de pessoas/grupos a favor ou não da
exploração do lítio e (2) avaliar os interesses dos diferentes atores sobre a exploração do lítio para as comunidades, no
YouTube realizou-se observação não participante, individualmente o evento para alcançar os objetivos propostos. Dada
a quantidade e riqueza informativa obtida e consequente perigo de difusão e perda de informação registada em grelha
de análise os dados para depois as compilarem no presente relatório.

2. A nova era do Lítio – Prós e Contras

O programa televisivo Prós e Contras foi dinamizado num auditório amplo onde, no palco, estiveram
presentes cinco participantes, a saber: do lado direito ao fundo, o Secretário de Estado da Energia, João
Galamba (P1) e ao seu lado, o vice-presidente do Laboratório Nacional de Energia e Geologia, Machado
Leite (P2); e à esquerda ao fundo, a Geóloga, Teresa Fontão (P3) e ao seu lado, o Geógrafo, Anselmo Mendes
(P4). Dispondo-se, cada parte de participantes, frente a frente neste debate. Ainda ao fundo e no meio do
palco, virada de frente para a plateia, estava presente a moderadora do debate, Fátima Campos Ferreira (P5),
movimentando-se, para a direita, para a esquerda, para trás e para frente, às vezes ficava também sentada
consoante a posição do interveniente e a própria pressão quando havia tentativa de intervenção sem a sua
autorização.

Para além destes cinco participantes, na plateia estiveram especialistas, autarcas, representantes das
populações e movimentos de cidadania, que foram previamente rastreados para o debate, ocupando a
primeira e segunda filas da frente (cf., Imagem 1), ainda se encontravam na mesma plateia diferentes
pessoas não rastreadas para participarem no debate, manifestando a sua opinião através de aplausos, risos e
ruídos diversos.
Imagem 1. Disposição dos participantes no auditório. Fonte: https://www.youtube.com/watch?
v=uYXAvkthWJo&t=124s

A moderadora iniciou o programa, contextualizando a exploração do lítio em Portugal e no contexto


internacional para de seguida uma curta reportagem sobre municípios visados para a exploração do lítio.
Depois, o Secretário de Estado da Energia defende, entre outras ideias, a imprescindibilidade do governo
quanto a esta exploração mineira, a existência de bons exemplos nesta matéria, justificando que os casos
polémicos como de Boticas e Montalegre remontam os anos 2006 e 2012, respetivamente ligados ao governo
anterior. Contudo, afirmou que o último despacho referente à prospeção contempla parecer positivo de
várias entidades responsáveis, inclusive dos representantes locais. Este dirigente destacou a necessidade de
um concurso de prospeção e pesquisa cuja exploração requer certa dimensão capaz de a tornar
economicamente viável, frisando haver negociações em curso entre Governo português e uma empresa que
quer garantir toda a cadeia de baterias na Europa.

Ainda, referiu que nas minutas do contrato de prospeção e pesquisa futuras a concessão só será atribuída
mediante a valorização do recurso existente em território nacional, garantindo a existência de conversações
com a empresa para sensibilizá-los sobre a importância de se realizar todo o processo em Portugal.
Questionando a inexistência de fundamentos que alegam consequências negativas da exploração sem um
estudo prévio da exploração. Referindo pelo contrário, o crescimento da caça, a agricultura e o turismo.
Terminando com a promessa de que a lei pressupõe o envolvimento de todos e que o governo se
compromete a não cometer os erros do passado.

Os especialistas presentes deram esclarecimento da tipologia do lítio, da qualidade (valor monetário) e da


quantidade existente nos municípios, advertindo para as consequências de exploração sem uso de grandes
tecnologias para Portugal, também aconselham para os discursos mais “explícito”, “rigoroso”, sendo a
avaliação e o potencial para a exploração reservadas às empresas na prospeção e pesquisa, salientando
necessidade de valorizar os residentes locais, bem como da consulta dos mesmos face à exploração.
Questionou-se também tanto da importância que lhe querem dar e se a descarbonização depende
exclusivamente deste mineiro, bem como a competitividade do mercado que Portugal irá ter face à sua
comercialização. Contudo, entre eles, a quem considera que este minério constitui atualmente a solução com
maior maturidade tecnológica, provavelmente haverá uma “corrida ao lítio'', ou seja, o petróleo da
atualidade.

Face a um debate bastante desafiante entre as partes, marcado pela acusação quanto à desconfiança e à
transparência na exploração do lítio, simultaneamente formulados convites entre si a visitarem bons e maus
exemplos da exploração nas localidades em Portugal. Os representantes das populações e movimentos de
cidadania preocupados com a sustentabilidade das localidades expressaram dependência das suas vidas a
agricultura, a apicultura, a floresta, apelando a conservação da natureza e dos valores da biodiversidade,
das tradições, da paisagem, ainda um debate mais racional, a apresentação de critérios e de valores para a
exploração, questiona o “rigor ambiental e a seriedade dos EIA” e que a exploração precisará de muita água
enquanto riqueza portuguesa e não o lítio, expressando necessidade de maior envolvimento das Câmaras e
as populações neste processo”.
3. Considerações Finais

Durante o debate foi perceptível que a distribuição do tempo de antena dos participantes foi desigual, sendo
que o P1 tomou mais tempo de palavra pois, segundo a P5 “enquanto entidade do governo, é ele que tem de
dar respostas”. O P1 foi também o participante que demonstrou mais alterações de postura corporal e de
voz de acordo com os temas e intervenientes. Durante todo o evento, a plateia manifestou-se ativamente
contra o processo de exploração do lítio, através de palmas, apupos, murmúrios e exclamações. Este debate e
reações levam a crer que o processo da exploração do lítio não é aceite pela maioria dos participantes e
comunidades envolvidas. Por isso, sugere-se que deve haver maior envolvimento das populações,
promoção de debates e discussões públicas entre todos os atores, transparência nos concursos e EIA, porque
foram destacados sinais de desconfiança, aliás foi dito por autarcas e representantes populacionais que
realçaram a falta de transparência, sentimento do receio e medo de perderem os bens, inclusive a parte dos
territórios. Ainda assim, para corroborar estas considerações finais, sugere-se a aplicação de novos estudos,
recorrendo a outras técnicas como entrevistas individuais de forma a possibilitar aprofundar estes temas.

Referências
RTP (2019). A Nova Era do Lítio - Prós e Contras - 1ª Parte, Boticas. https://www.youtube.com/watch?
v=uYXAvkthWJo&t=124s
RTP (2019). A Nova Era do Lítio - Prós e Contras - 2ª Parte, Boticas. https://www.youtube.com/watch?
v=M0RtkBKGGWs

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