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Presidente
Marcelo Henrik
Chanceler
Manoel Joaquim Fernandes de Barros Sobrinho
Reitora
Marcia Pereira Fernandes de Barros
Turismo
reflexões sobre a dimensão territorial
Salvador
Editora Unifacs
2014
©Copyright 2014 Autores. Direitos para esta edição cedidos à Editora
Unifacs. Feito o Depósito Legal.
Capa
André Luís Debeauvais
Foto da Capa
Rodrigo Chagas
Revisão e normalização
Susane Barros
T938
Turismo: reflexões sobre a dimensão territorial / Regina Celeste de
Almeida Souza, Tiago Sá Teles Cordeiro (Organizadores). –
Salvador : Editora Unifacs, 2014.
292 p.
ISBN: 978-85-8344-061-1
CDD: 338.4791
Sumário
Apresentação 7
7
Aproveitamo-nos do ensejo para agradecer a essas consultoras
ad hoc, pela seriedade e presteza com que nos atenderam, con-
tribuindo sobremaneira para a elevação do nível dos textos ela-
borados.
Procuramos nesta coletânea mostrar, através de uma percep-
ção geográfica do turismo, já que essa atividade tem um caráter
polissêmico, como o espaço geográfico físico, com seus atribu-
tos e potencialidades, é apropriado por esta mesma atividade,
para ser transformado posteriormente em um produto ou des-
tino turístico. Nesse sentido, foram tratados os temas como “A
paisagem como recurso para o turismo”, por Tiago Sá Teles Cor-
deiro e Sueli Maria da Silva Pereira, em que são apresentados
conceitos e exercícios de interpretação da paisagem, buscando
identificar a relação existente entre paisagem, uma das catego-
rias geográficas e a atividade do turismo. Destacam ainda que a
paisagem pode ser representada por meio de substitutos, como
fotos, postais, livros, slides, gravuras etc.
“Espaço geográfico e turismo: um olhar para o desenvolvi-
mento do turismo religioso”, escrito por Josemary dos Santos
Santana e Roque Alves Silva, considerando o espaço religioso
como espaço físico e simbólico dos ritos sagrados, que atraem
fiéis/peregrinos, tomando como estudo de caso as Romarias em
Bom Jesus da Lapa – BA.
Outro conceito bastante discutido em sala de aula é o territó-
rio, sendo abordado no texto de Gisele das Chagas Costa e Regina
Celeste de Almeida Souza, intitulado “Reflexões sobre território
e turismo étnico e indígena”, analisando sites de povos indígenas
que desenvolvem experiências de turismo étnico em território
baiano, destacando que essa atividade deve ser bem planejada
para não ocorrer a mercantilização da cultura indígena.
A questão do meio ecológico é especialmente tratada por
Jaldo Borges de Souza, com artigo intitulado “Considerações
acerca do ecoturismo e sua relação com o meio ambiente e o
desenvolvimento sustentável”, em que o autor destaca a necessi-
8 - Apresentação
dade da preservação ambiental para este segmento do turismo,
e toma como referencial empírico a região do Rio Preto do Crici-
úma, em Jequié – BA, com seus atributos naturais que induzem
a um olhar mais sensível, que possibilite talvez a transformação
desta área em uma Unidade de Conservação.
O artigo “Ensaio sobre a modalidade de turismo no espaço
rural”, de Paulo Henrique Oliveira Silva, no qual o autor busca,
através de pesquisa bibliográfica, discutir o conceito de turismo
rural apontando que existe certa imprecisão nesta conceituação,
contudo, considera sua relevância para o território, visto que se
torna uma fonte de recursos para propriedades rurais fazendo
uso da mão de obra local.
Ainda na temática do turismo rural, o artigo “Aglomerações
produtivas e desenvolvimento turístico no meio rural”, produzi-
do por Leila Mendes Paixão, analisa como os sistemas de gover-
nanças podem potencializar um destino turístico, a partir da va-
lorização das tradições culturais locais, o que gera o diferencial
competitivo para o destino.
O artigo “Em nome da modernidade – transformações terri-
toriais no Vale do São Francisco: o turismo como (nova) ativida-
de econômica”, de autoria de Chelly Costa Souza, versa sobre as
transformações ocorridas no semiárido baiano em função dos
polos de irrigação modificando a dinâmica territorial e como a
população local apropriou-se do turismo como nova atividade
econômica a ser desenvolvida na região.
Mais especificamente sobre o processo de elaboração de um
produto turístico, o texto intitulado “O turismo enológico como
vetor de desenvolvimento sustentável no Vale do São Francisco:
primeiras notas”, elaborado por Ariadna da Silva Bandeira, Emí-
lia Maria Salvador Silva e Natalia Silva Coimbra de Sá, destaca a
importância da participação dos diversos atores, tais como: Esta-
do, empresários e a população local para a concepção e operacio-
nalização deste produto – o enoturismo.
10 - Apresentação
A paisagem como recurso
para o turismo
Ti a g o S á Te le s Cor d e i r o
Suel i Ma ri a d a Si lv a Pe r e i r a
Introdução
11
turistas internacionales en todo el mundo creció cerca de un
5% más que durante el mismo periodo de 2011 (22 millones
más). Aunque se pueda prever una ligera desaceleración del
crecimiento durante el resto del año, se estima que las llegadas
internacionales superarán los 1000 millones a finales de 2012.
O que é paisagem
Tipologias
Paisagem 1 – Quadro Paisagístico do vivenciado ou vivido;
Paisagem 2 – Fisionomia de espaços terrestres;
Paisagem 2ª – Aspectos fisionômicos de microespaços;
Paisagem 3 – Espaços Paisagísticos (aspectos fisionômicos próprios);
Paisagem 4 – Espaço terrestre como o conjunto de coisas que o constitui;
Paisagem 5 – Estrutura espacial ordenada;
Paisagem 6 – Ecossistema;
Paisagem 7 – Meio de Organismos;
Paisagem 8 – As relações geográfico-naturais como adversárias dos Grupos
Humanos;
Paisagem 9 – As constantes históricas de recortes espaciais;
Paisagem 9ª – Espaço terrestre com constantes características históricas;
Paisagem 10 – Sistemas limitados de interações sociais; e
Paisagem 11 – A fenomenalidade de uma expressão agradável (uso metafórico).
VEGETAÇÃO – são as diversas formas de vida vegetal, com sua respectiva dis-
tribuição, densidade etc.;
Componentes da paisagem:
• Forma da terra irregular apresentando uma encosta com
presença de rochas;
• A vegetação é um vestígio de ecossistema costeiro;
• A disposição da água evidencia ser o mar;
• Ausência de estruturas e elementos artificiais.
Componentes da paisagem:
• Forma da terra pouco precisa, remetendo a um horizon-
te não linear;
• A vegetação é o componente mais predominante;
• Ausência do elemento água e de estruturas e elementos
artificiais;
Componentes da paisagem:
• Forma da terra remete a um local plano, com um plano
mais elevado, onde se registra a fotografia;
a atividade do turismo
Considerações finais
Jo s ema ry d os Sa nt os Sa n ta n a
Ro q u e Si l va A lv e s
Introdução
41
pal de estudo da geografia que é o espaço”. Para complementar
sobre a importância da geografia para o turismo é apresentado:
[...] Torna-se evidente que, para o turismo, a geografia tem
fundamental importância. E impossível compreender a ofer-
ta original de recursos naturais e culturais em seus aspectos
diferenciais, sem identificá-los e compreendê-los corretamen-
te no espaço geográfico. A própria fisiologia da paisagem e
a observação criteriosa de seus componentes envolvem uma
maior sensibilidade de percepção e análise do espaço físico-
-ambiental. [...] (BENI, 2000; CASTRO, 2006 apud TORRES,
2009, p. 176)
1 De acordo com Andrade (2004), esta definição surge sob o imponente e res-
peitável rótulo de “viagem de estudos”, assumindo o valor de um diploma que
lhes conferia significativo status social.
6 Destaca-se ainda que a informação mais recente ofertada pelo IBGE (julho
2013), apresenta uma população estimada de 68.282 habitantes.
Considerações finais
Referências
KOCIK, L. Bom Jesus da Lapa I: resenha histórica de Bom Jesus da Lapa. Bom
Jesus da Lapa: Gráfica Bom Jesus, 1987.
KOCIK, L. Lapa: o Santuário do Bom Jesus. Bom Jesus da Lapa: Gráfica Bom
Jesus, 1978.
TURISMO religioso atrai 1,5 milhão de visitantes todo ano à Bahia, aponta Setur.
Jornal Bahia Online. 03 jan. 2013. Disponível em: < http://www.jornalbahiaonline.
com.br/noticia/20899/turismo_religioso_atrai_1,5_milhao_de_visitantes_
todo_ano_a_bahia,_aponta_setur> <http://www.jornalbahiaonline.com.br/
noticia/20899/turismo_religioso_atrai_1,5_milhao_de_visitantes_todo_ano_a_
bahia,_aponta_setur>. Acesso em: 13 jul. 2014.
Gi s el e d a s C h a g a s Cos ta
Re g i n a Ce l e s t e d e A lm e i d a Sou z a
Introdução
69
étnico, também envolve a complementação econômica para os
povos tradicionais, através da reafirmação étnica e reprodução e
venda para os turistas e visitantes de determinadas práticas cul-
turais, tais como dança, cantos, cura, reza, culinária, artesanato,
entre outros.
Centrando a discussão nas transformações socioespaciais
decorrentes da atividade turística, busca inicialmente um diá-
logo conceitual a partir de determinadas categorias geográficas,
a saber: espaço, paisagem e território, para, a seguir, focar a dis-
cussão em como essa modalidade de turismo produz novas ter-
ritorialidades buscando um contraponto entre as possibilidades
de desenvolvimento sustentável engendradas por tal prática e os
riscos de mercantilização cultural.
1 Segundo Augé (1994, p. 73), “se um lugar pode se definir como identitário, re-
lacional e histórico, um espaço que não pode se definir nem como identitário,
nem como relacional, nem como histórico definirá um não lugar.”
2 Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e
acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a
difusão das manifestações culturais.
§ 1º - O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e
afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório
nacional.
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza ma-
terial e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores
da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver [...]. (BRASIL, 1988).
Já na Reserva Jaqueira,
10 A Reserva da Jaqueira faz parte da Aldeia Coroa Vermelha, em Santa Cruz Ca-
brália/BA. Criou-se a Associação Pataxó de Ecoturismo (Aspectur) para favo-
recer o desenvolvimento sustentável da atividade na reserva.
11 Disponível em: <http://bahia.com.br/roteiros/reserva-indigena-da-jaqueira/>.
Acesso em: 23 set. 2014.
Considerações finais
Referências
CASTELLS, M. A sociedade em rede. 11. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008. (A era da
informação: economia, sociedade e cultura; 1).
PIRES, P. dos S. Paisagem litorânea de Santa Catarina como recurso turístico. In:
YAZIGI, E. (Org.). Turismo: espaço, paisagem e cultura. 2. ed. São Paulo: Hucitec,
1999.
Ja l d o Bo rg e s d e Sou z a
Introdução
99
sideram nocivo pelos impactos negativos causados aos recursos
ambientais e às comunidades das áreas de seu entorno. Sobre o
assunto, Sasaki (2006) diz que não é possível negar que o turis-
mo, local ou global, afeta cada dia mais as economias do mundo
inteiro, desde as comunidades mais afastadas dos centros urba-
nos até as metrópoles de maior expressividade comercial.
Pensar o turismo é entendê-lo de forma multifacetada:
a questão da pobreza, a conservação ambiental, a problemáti-
ca do patrimônio. Além disso, conforme Irving (2007), há de
considerar também que hoje existe uma tendência, não só no
Brasil, mas mundialmente, de entender o turismo segundo
uma nova visão de desenvolvimento regional. A autora observa
que durante muito tempo, o turismo foi entendido como uma
atividade operacional, distanciada de um panorama macro, um
setor isolado no planejamento de governo e distante de uma vi-
são estratégica de desenvolvimento. Atualmente, trabalha-se na
direção de se buscar todas as potencialidades locais. A área do
turismo rural está associada ao turismo de natureza, ao ecoturis-
mo e pode promover o desenvolvimento local.
Baseado no que ensinam Irving e outros autores, há de se
entender que a modalidade de turismo denominada turismo
ecológico, ou simplesmente ecoturismo, constitui-se um dos
alicerces na tentativa de alcançar um modelo sustentável de de-
senvolvimento.
O conceito de ecoturismo e a sua origem têm apresentado
diversas explicações, que são frequentemente questionadas ou
redefinidas. Laarman e Durst, citados por Fennel (2002), em
sua antiga referência ao ecoturismo, definiram-no como um tu-
rismo na natureza no qual o “viajante” é atraído a um destino
por causa de seu interesse em um ou mais aspectos da história
natural desse destino, combinando educação, recreação e aven-
tura. Em 1993, os autores identificaram uma diferença concei-
tual entre o ecoturismo e turismo na natureza e estabeleceram
Referência
Pa u l o Hen r i q u e O li v e i r a Si lv a
Introdução
131
na com a convivência e alojamento na sede ou em edificações
locais. Os turistas participam das atividades agropecuárias, re-
lacionam-se com a gastronomia típica e o conhecimento sobre
toda a história local. (ZIMMERMANN, 1996)
Por isso, o desenvolvimento dessa atividade depende, direta-
mente, da conservação dos atrativos naturais e culturais do local.
Para mais, essa modalidade inclui ainda um rigor maior, isto
porque tem como atrativos a vida das famílias rurais e suas pro-
priedades utilizadas originalmente no seu cotidiano.
A modalidade é relativamente nova no Brasil se comparada
ao modelo de sol e praia, por exemplo, mas é praticada em várias
partes do mundo. Segundo Rodrigues (2000), não há um marco
preciso para datar o início dessa atividade no Brasil e um dos
principais motivos é a grande extensão geográfica do país.
Entretanto, destaca-se a contribuição do município de Lages,
que fica no planalto catarinense, da Fazenda Pedras Brancas que
em 1986 acolheu visitantes para passar um dia no campo im-
pulsionando assim a prática do turismo no meio rural sendo
hoje considerado o seu marco geográfico. O município ganhou
mais notoriedade na medida em que foi ampliando as opções
de atrativo. Criou-se a Festa Nacional do Pinhão, incentivando
e resgatando as raízes e a cultura regional, além de valorizar o
saboroso fruto da terra, o pinhão, e elaborando um livro de re-
ceitas especializadas neste produto, antes subutilizado, mas tão
comum na região. (RODRIGUES, 2000)
Partindo desse entendimento, a proposta deste ensaio é
trazer informações e reflexões a respeito da atividade turística
no espaço rural, pautada na premissa de que o turismo deve
cultivar a autenticidade, para preservar a sua identidade local1
2 É definida como sendo uma unidade visível do território, que possui identi-
dade visual, caracterizada por fatores de ordem social, cultural e natural, con-
tendo espaços e tempos distintos; o passado e o presente”. (MINISTÉRIO DA
EDUCAÇÃO E DO DESPORTO, 1997, p. 11)
3 Será abordado na seção 2 deste ensaio.
7 A ruralidade indica que o espaço rural possui um sentido que vai além das
características paisagistas e das formas de uso dos recursos naturais. Trata-
-se de uma perspectiva que pretende desvincular o rural da sua base físico-
-espacial, argumentando que a ruralidade é uma forma de percepção e repre-
sentação que está relacionada à cultura e à identidade dos indivíduos e atores.
Por isso, sofre transformações através dos processos sociais e econômicos.
Ela marca a diversidade e heterogeneidade dos espaços rurais forjados pelas
mudanças contemporâneas. (SCHNEIDER, 2009)
Conclusão
BENI, M. C. Análise estrutural do turismo. 6. ed. São Paulo: Senac São Paulo, 2001.
IBGE. Mapa do Mercado de Trabalho no Brasil 1992-1997. 2013. Disponível em: <
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/mapa_mercado_trabalho/
notastecnicas.shtm>. Acesso em: 02 jun. 2013.
SANTOS, M. O espaço geográfico como categoria filosófica. São Paulo: Terra Livre,
1998.
TALAVERA, A. S. O rural como produto turístico: algo de novo brilha sob o Sol. In:
SERRANO, C. et al. (Org.). Olhares contemporâneos sobre o turismo. Campinas, SP:
Papirus, 2000.
p. 151-170.
L e i l a Men de s Pa i x ã o
Introdução
149
por representar os valores mais genuínos e bem preservados de
uma comunidade.
Os blocos mencionados, entendidos aqui como aglomera-
ções produtivas, formam territórios turísticos, podendo ser en-
tendidos também como destinos turísticos, que através do uso
de infraestruturas e equipamentos comuns permitem ao visi-
tante uma facilidade no deslocamento dentro desse território,
possibilitando o seu acesso a um número maior de atrativos,
estimulando, dessa forma, a sua permanência no destino, por
um tempo maior. Roteiros, rotas, trilhas e circuitos turísticos
explorados no meio rural vêm sendo cada vez mais utilizados
como alternativas para gerar trabalho e renda ao homem do
campo, dando-lhe uma possibilidade de se manter no seu local
de origem.
Os arranjos produtivos locais1 aparecem como espaços de
cooperação, competição, integração e inovação dos agentes en-
volvidos. Nesses modelos de governança, que contam também
com a participação de representantes dos poderes públicos e das
comunidades locais, pode-se observar uma forma de gestão di-
ferenciada que permite a tomada de decisões de forma mais ho-
rizontalizada. Na medida em que se compõe um território com
um alto grau de coesão entre os atores participantes, com um
objetivo principal, torna-se mais apto a alcançar metas, man-
tendo-se competitivo nos mercados e de forma que possibilite a
promoção do desenvolvimento naquele território.
Este texto está dividido em duas seções: na primeira seção
é discutido como a globalização atua no cenário mundial res-
significando territórios e obrigando os lugares a assumirem
papéis mais competitivos para que possam se manter presen-
tes no mercado mundial. A formação de redes possui papel de
Globalização e turismo
Considerações finais
C he l l y Co s t a Sou z a
Introdução
167
As transformações ocorridas na Bacia do São Francisco estão
relacionadas aos projetos federais de incentivo, cuja finalidade
relaciona-se à “exploração” das águas do rio. Os recursos apli-
cados no território foram direcionados principalmente para a
introdução da agricultura irrigada. Em vista disso, o lugar tor-
nou-se um polo econômico importante e em evidência. Diante
deste cenário, várias alterações são desencadeadas e ao mesmo
tempo (novas) atividades (dinamizadoras da economia) surgem
na região, a exemplo do turismo.
Por tratar-se de uma região com elevado potencial, as seg-
mentações desenvolvidas, são diversas. Há a predominância do
turismo rural, o turismo cultural, o turismo de negócio e o eno-
turismo.
O universo territorial deste artigo compreende os municípios
baianos de Juazeiro, Casa Nova e Sobradinho e os municípios per-
nambucanos Petrolina, Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista.
Como procedimentos metodológicos, o trabalho teve o le-
vantamento bibliográfico e o uso de dados secundários, através
de dados dos censos de 2010 disponibilizados pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como principais ins-
trumentos para a sua concretização.
Para alcançar o objetivo proposto, este trabalho estrutura-se
em três partes, além dessa introdução e da conclusão. A primeira
parte consiste em uma breve discussão sobre as características
da região e dos municípios escolhidos como objeto de aprecia-
ção. A segunda parte faz uma reflexão a respeito das transforma-
ções ocorridas na região e os impactos gerados por conta disso.
A terceira parte, mas não a menos importante, apresenta ao lei-
tor as modalidades de turismo existentes no território em decor-
rência das transformações relatadas no item anterior.
Sobradinho (BA)
Localiza-se a 559 km da capital baiana, Salvador, limitando-
-se com os municípios de Juazeiro – BA, Casa Nova – BA e Pe-
trolina – PE. No ano de 1989, Sobradinho foi desmembrado de
Juazeiro (BA) e elevado à categoria de município.
Está inserido na Região Administrativa Integrada de Desen-
volvi-mento do Polo Petrolina e Juazeiro (Ride) e apresenta o
maior PIB per capita da mesma, isso graças à Usina Hidrelétrica
do Sobradinho instalada na referida cidade.
Além disso, Sobradinho apresenta o maior lago artificial do
mundo, com uma área de 4 mil quilômetros2 de espelho d´água
e capacidade de armazenamento de 34 bilhões de metros3 de
água recorrentes do Rio São Francisco.
Devido à instalação da usina hidrelétrica do Sobradinho,
a pesca do surubim tornou-se uma importante atividade eco-
Petrolina (PE)
A cidade de Petrolina (PE) está localizada no estado de
Pernambuco sendo vizinha da cidade de Juazeiro (BA). Tem
Conclusão
Referências
BERMAN, M. Tudo que é sólido se desmancha no ar. São Paulo: Companhias das
Letras, 1982.
IBGE. Santa Maria da Boa Vista – Pernambuco - PE. 2010. Disponível em: <http://
biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/bahia/santamariadaboavista.pdf>
RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. Tradução: Maria Cecília França. São
Paulo: Ática, 1993.
A ri a d n a d a Si lv a B a n d e i r a
E mí l i a Ma r i a Sa lv a d or Si lv a
Na t a l i a Si lv a Coi m b r a d e S á
Introdução
193
cionais e iniciativa privada, como política pública de desenvolvi-
mento local e regional.
A vitivinicultura do semiárido brasileiro é uma excepciona-
lidade no mundo, uma vez que está localizada entre os para-
lelos 80 e 90S e produz, com escalonamento produtivo, uvas o
ano todo totalizando 2 safras e meia em condições ambientais
adversas como alta luminosidade, temperatura média anual de
260C, pluviosidade aproximada de 500mm, a 330m de altitu-
de, em solo pedregoso. Seus vinhos possuem público crescente,
porque são jovens “vinhos do sol”, peculiares nos aromas e sabo-
res, fáceis de beber e de boa relação comercial qualidade/preço.
A pesquisa O Turismo Enológico como vetor de desenvolvimento
sustentável no submédio do Vale do São Francisco – Bahia e Per-
nambuco tem como objetivo principal investigar, na região, o
crescimento do turismo enológico, a partir da sua implantação,
identificando futuras ações que promovam o crescimento turís-
tico-cultural num contexto da sustentabilidade. Nessa perspec-
tiva, inclui como seus desdobramentos a elaboração de estudos
que propõem a valorização dos elementos culturais identitários
regionais sustentáveis, agregando valor ao vinho e vinícolas da
região e, num mesmo plano, a necessidade de alinhamento do
turismo enológico da região com políticas públicas nacionais de
turismo. Em nível de resultados, objetiva a elaboração de um in-
ventário que identifique os atrativos turísticos e diagnóstico dos
principais agentes envolvidos na atividade turística com indica-
ção de interlocução entre eles e elaboração de um prognóstico
de possíveis novos serviços para o desenvolvimento sustentável
do turismo enológico e para a construção de imagem regional
integrada.
Institucionalmente, a pesquisa está em desenvolvimento no
Departamento de Ciências Humanas I, da Universidade do Esta-
do da Bahia (UNEB), em parceria com o Grupo de Pesquisa em
Turismo e Meio Ambiente (GPTURIS-PPDRU) da Universida-
de Salvador (Unifacs). Assim como estabeleceu articulação com
Revisão de Literatura
Metodologia
Resultados preliminares
Considerações parciais
4 Entrevista coletiva com Adriano Miolo durante o evento Wine Bahia, realizado
em 18 de julho de 2008.
5 A título de ilustração, três vinhos brasileiros figuram na lista dos 100 melhores
do mundo, segundo ranking realizado pela Associação Mundial de Jornalistas
e Escritores de Vinhos e Licores (WAWWJ). As bebidas nacionais ranqueadas
foram o Aurora Espumante Moscatel (56º lugar) e o Aurora Reserva Merlot
Referências
BON VIVANT. Vinhos: o berço dos vinhos tropicais no Brasil e no mundo. 2012.
Disponível em: <http://www.bonvivant.com.br/vinhos/o-berco-dos-vinhos-
tropicais/>. Acesso: 24 jul. 2014.
BRASIL. Agência Nacional das Águas. Região hidrográfica do São Francisco: águas
que contribuem para o desenvolvimento de 521 municípios. 2006. Mapa 1. 1:
1.700.000. Disponível em: <http://www2.ana.gov.br/Paginas/portais/bacias/
SaoFrancisco.aspx>. Acesso: 30 jul. 2014.
Neri v a l d o Ca r ne i r o d e Me ne z e s Ju n i or
Re g i n a Ce l e s t e d e A lm e i d a Sou z a
Introdução
213
que se deslocam e visitam os espaços festivos, não só em bus-
ca de diversão, mas também para o reencontro com familiares
e amigos. Tradicionalmente, comemora-se o São João no Nor-
deste brasileiro no mês de junho, período em que as cidades
ganham uma áurea das festas de tradição. Nessa época, nota-se
que as pessoas sentem-se contagiadas pelos costumes locais que
acompanham os folguedos em questão, desde as comidas típi-
cas aos concursos de quadrilhas, incluindo as vestes e os ritmos
musicais, como o forró, o baião e o xaxado, representando uma
especificidade própria dos festejos locais.
Por outro lado, vale ressaltar que toda a movimentação de
pessoas e a preparação de cenários para e, durante estes eventos,
tem um rebatimento espacial, que embora efêmero, modifica
temporariamente a cidade, que passa por um processo de meta-
morfose e de apropriação do seu território pelos organizadores,
para a realização desses eventos.
Buscou-se estudar essa engrenagem e suas consequências,
o que é investido, como é preparado, quais as prioridades que
são dadas pelos gestores públicos, ou pelos empresários, quais
os principais atores desse evento, visando à possibilidade de par-
cerias público-privadas. Estudar igualmente a procedência dos
visitantes e a sua real motivação para a viagem, bem como vá-
rias outras informações, foi o que se pretendeu com a pesquisa
empírica. Enfim, examinar o que pode resultar como benefícios
da festa para a cidade, para sua “imagem’’, enquanto manifesta-
ção da cultura local, sertaneja, e, ao mesmo tempo, concatenada
com a conjuntura mundial, sendo também espetacularizada;
o que pode resultar de um envolvimento de mais segmentos da
sociedade local, direcionando-os para o fortalecimento deste lu-
gar como produto turístico, estabelecendo estratégias de atração
cada vez mais fortes para um fluxo contínuo de visitantes.
Assim sendo, procurou-se estruturar este artigo em três se-
ções, incluindo a primeira que corresponde à presente introdu-
ção, onde justifica-se a escolha do tema e os objetivos do artigo.
deste artigo são frutos da experiência vivida pelos autores, nestes espaços,
estando impregnados de lembranças em seus respectivos imaginários.
3 Micareta vem de mi-carême, festa que se realizava na França, logo depois da
Semana Santa. No estado da Bahia, tem-se registrado como 1a Micareta a de
Jacobina (1917). A Micareta de Feira de Santana começou em 1937, no entanto,
tomou uma grande proporção e fama, vindo a ser considerada a mais impor-
tante do interior baiano, geralmente se realiza no mês de abril ou início de
maio.
Considerações finais
Referências
YAZIGI, E. et al. (Org.). Turismo: espaço, paisagem e cultura. São Paulo: Hucitec,
2002.
Ca ro l i n e Fa n ti n e l
Na t a l i a Si lv a Coi m b r a d e S á
235
de ação popular – tem sido, em várias ocasiões, um modo de
concentração e investimento de riquezas em benefícios sociais;
e como espetáculo – produto turístico capaz de revigorar a eco-
nomia de muitas cidades, conforme ela tenta demonstrar em
sua tese.
Miguez (2002), ao analisar os processos de formação e me-
canismos de organização do campo cultural em Salvador, des-
taca que, ao lado da língua e da religião, as festas são um dos
componentes fundamentais para a compreensão da vida e da
cultura de um povo, ou seja, é um elemento central na matriz
que dá sustentação à cultura baiana.
O caráter festivo de Salvador é algo que se perde no tempo,
tanto que a dedicação da população às festas é dos principais tra-
ços registrados por cronistas e viajantes que têm desembarcado
no local desde os tempos coloniais até hoje. Ao traçar um histó-
rico, o autor explica que o espírito festivo que fazia das procis-
sões verdadeiros cortejos carnavalescos esteve presente durante
todo o período colonial até a metade do século XIX, quando a
Igreja passou a impor um caráter mais recolhido e compassado
às festividades. No entanto, destaca:
3 O jornal brasileiro The Brasilians foi fundado pelo jornalista Jota Alves em
Nova York em 1972 como The Brazilians, tendo mudado seu nome em 1975
e, desde 1987, passando a ser comandado pelo empresário João de Mattos.
Sua equipe, comandada pelo editor-chefe do jornal, Edilberto Mendes, foi a
responsável pela criação da festa do Dia do Brasil em Nova York em setembro
de 1985, evento que passou a ser conhecido como Brazilian Day e que, atual-
mente, conta com a organização local do The Brasilians e apoio da Rede Globo
de Televisão.
É um evento que logo após essa inclusão da Rede Globo ele [ ficou]
mais direcionado. Então, a comunidade em si não está ativa no
5 Vale ressaltar que, apesar da intenção do cineasta ser esta, a festa que acon-
tece no Benim foi “levada” pelos agudás (escravos brasileiros libertos que
retornaram para a África, principalmente para o Benim). Portanto, não pode
ser considerada como uma “raiz” para a que acontece na Bahia. Mas sim, ela
partiu da Bahia para acontecer lá – como uma forma de identificação e coesão
desse “novo grupo” que se formava nessa parte da África. Mais sobre o assun-
to em Guran (2000).
Considerações finais
Referências
COELHO, T. A cultura e seu contrário: cultura, arte e política pós-2001. São Paulo:
Iluminuras, 2008.
HOBSBAWM, E.; RANGER, T. (Org.). A invenção das tradições. Trad. Celina Cardim
Cavalcanti. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
Ma ri a n a L a c e r d a B a r b oz a Fi lh a
Introdução
263
ficamente no espaço. No caso das cidades brasileiras, observa-se,
na maioria das vezes, a urbanização em prol da modernização,
mas nem sempre relacionada às questões sociais ou atendendo
ao que é definido no plano diretor.
Muitas vezes, a construção da identidade de determinadas ci-
dades não condizem com a realidade local. A utilização de estra-
tégias e aplicação de ações voltadas para captação de investidores
e mercados consumidores, resvaladas no marketing de cidades,
considera apenas parte do todo e constrói a imagem simulada
para atender aos interesses de investidores e operadores da ad-
ministração pública. (MARICATO, 2000) Os destinos turísticos
e os processos de urbanização dos mesmos enquadram-se nesta
realidade. Não se trata de uma regra, mas sim de característi-
cas típicas de localidades que não possuem em suas bases de
crescimento e desenvolvimento os princípios de planejamento
sustentável.
O principal objetivo deste trabalho é apresentar as relações
existentes entre a urbanização de destinos turísticos e o marke-
ting de lugares. Como questão norteadora para direcionamento
da pesquisa definiu-se: de que forma está estabelecida a relação
entre a urbanização para o turismo e o marketing de lugares?
Para direcionamento da pesquisa foi utilizado o referencial
teórico apresentado neste artigo, abrindo discussão acerca do
processo de industrialização do Brasil e a consequente urbani-
zação das cidades e as atividades de interesse do capital como
desdobramento de tal urbanização, a exemplo do turismo.
O urbano na perspectiva do turismo apresenta o direciona-
mento da adoção de infraestrutura composta por equipamentos
e empreendimentos para atender as demandas dos visitantes
com destaque para hospedagem, alimentação, transporte e la-
zer. Além da necessária infraestrutura básica. Dentro desta rea-
lidade, o marketing de lugares utiliza-se, dentre outros fatores,
do apelo relacionado à infraestrutura urbana e turística existente
Marketing de lugares
Considerações finais
Referências
Caroline Fantinel
Doutoranda e mestre em Cultura e Sociedade, licenciada em
Comunicação Social. E-mail: fantinel.caroline@gmail.com
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Hotelaria da Universidade do Estado da Bahia. E-mail: bilatur@
uol.com.br