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CAP_2~ ENSINO POR INVESTIGAGKO: PROBLEMATIZANDO AS ATIVIDADES EM SALA DE AULA Conforme Moreira (1983), a resolugao de problemas que leva a uma in- vestigagao deve estar fundamentada na aco do aluno. Os alunos devem ter oportunidade de agir ¢ o ensino deve ser acompanhado de agées ¢ demonstra- gées que 0 levem a um trabalho pritico. Para que uma atividade possa set considerada uma atividade de investi- ga¢io, a agio do aluno nao deve se limitar apenas ao trabalho de manipulagio ou observagao, ela deve também conter caracteristicas de um trabalho cient{- fico: 0 aluno deve refletir, discutir, explicar, relatar, o que dard ao seu trabalho as caracteristicas de uma investigacao cientifica, Essa investigacao, porém, deve ser fundamentada, ou seja, ¢ importante que uma atividade de investigacio faca sentido para o aluno, de modo que ele saiba o porqué de estar investigando o fendmeno que a ele é apresentado. Pa- ra isso, € fundamental nesse tipo de atividade que o professor apresente um problema sobre o que esté sendo estudado. A colocacio de uma questio ou problema aberto como ponto de partida é ainda um aspecto fundamental pa- ra criagao de um novo conhecimento. Bachelard (1996) assinala que “todo conhecimento é resposta a uma questio”, Para Lewin e Lomascélo (1998): A situacéo de formular hipéteses, preparar experiéncias, realiz4-las, reco- Iher dados, analisar resultados, quer dizer, encarar trabalhos de laboratério como ‘projetos de investigacio’, favorece fortemente a motivagio dos es- tudantes, fazendo-os adquirir atitudes tais como curiosidade, desejo de experimentar, acostumar-se a duvidar de certas afirmag6es, a confrontar resultados, a obterem profundas mudangas conceituais, metodolégicas atitudinais. Podemos dizer, portanto, que a aprendizagem de procedimentos ¢ atitu- des se torna, dentro do processo de aprendizagem, tio importante quanto a aprendizagem de conceitos e/ou contetidos. No entanto, s6 haverd a aprendizagem ¢ 0 desenvolvimento desses con- tetidos — envolvendo a acio € 0 aprendizado de procedimentos ~ se houver a acio do estudante durante a resolugaio de um problema: diante de um proble- ma colocado pelo professor, 0 aluno deve refletis, buscar explicagdes ¢ partici- par com mais ou menos intensidade (dependendo da atividade didatica pro- Posta ¢ de seus objetivos) das etapas de um processo que leve a resolugio do 21 eee Ce Ma ee eae CAP. 2 — ENSINO POR INVESTIGACAO: PROBLEMATIZANDO AS ATIVIDADES EM SALA DE AULA sgo colocadas em confronto com os fendmenos ou com resultados experimen- ais. Desse modo, por meio da observagao ¢ da acao, que sao pressupostos ba- sicos para uma atividade investigativa, os alunos podem perceber que o conhe- cimento cientifico se dé através de uma construsio, mostrando assim seu aspecto dindmico ¢ aberto, possibilitando até mesmo que o aluno participe dessa construgao, a0 contritio do que descrevem 0s livros de Ciéncias, em que “método cientifico” € mostrado como algo fechado, uma seqiiéncia légica rigida, composta de passos a serem seguidos, fazendo com que o aluno pense que a ciéncia ¢ fechada, criada a partir e somente da observagao. Gil e Castro (1996) descrevem alguns aspectos da atividade cientifica que podem ser explorados numa atividade investigativa, pois ressaltam a impor- tancia dessas atividades. Dentre eles esto: 1. apresentar situac6es probleméticas abertas; 2. favorecer a reflexdo dos estudantes sobre a relevancia e o possivel interesse das situagées propostas; 3, potencializar andlises qualitativas significativas, que ajudem a compreendes acatar as situagées planejadas e a formular perguntas operativas sobre 0 que se busca; 4, considerar a elaboracio de hipéteses como atividade central da investigacio cientifica, sendo esse processo capaz de orientar o tratamento das situa¢Ges e de fazer explicitas as pré-concepgdes dos estudantes; 5. considerar as andlises, com atengao nos resultados (sua interpretagao fisica, confiabilidade etc.), de acordo com os conhecimentos dispontveis, das hi- péteses manejadas ¢ dos resultados das demais equipes de estudantes; 6. conceder uma importancia especial 4s memérias cientificas que reflitam o trabalho realizado ¢ possam ressaltar o papel da comunicagao e do debate na atividade cientfficas 7. ressaltar a dimensio coletiva do trabalho cientifico, trabalho, que interajam entre si. Podemos dizer também que nesse tipo de trabalho hé um envolvimento emocional por parte do aluno, pois ele passa a usar suas estrucuras mentais de forma critica, suas habilidades ¢ também suas emogoes. Mais uma vet, 0 pro- cesso de aprendizagem mostra-se importante, pois se o objetivo é 0 ensino de procedimentos cientificos, 0 método ¢ contetido. por meio de grupos de 23 ENSINO DE CIENCIAS: UNINDO A PESQUISA E A PRATICA Chamamos de demonstragdes experimentais investigativas as q nragio de um problema ou de um fenémen Meng Ses que partem da apres to desse fendmeno, estuddado ¢ leva a investigagto a respel Como trabalhames as demonstracdes investigativas De maneira geral, as demonstragées feitas em sala de aula partem sey um problema, Esse problema ¢ proposto A classe pelo professor, que de questées feitas aos alunos procurt “detectar” que tipo de pensame; ele intuitive ou de senso comum, eles possuem sobre o assunto, Com rendemos que o aluno exercite suas habilidades de argumentagio, d mediante esse processo 3 elaboragao do conceito envolvido. 4 Por exemplo: mostra-se uma bexiga vazia acoplada a um etl © professor pergunta: “O que acontecerd com a bexiga quando aq erlenmayer” Para alguns alunos, muitas vezes a “solugdo” para o prob parece simples, isso porque trabalhamos diretamente com que das ao cotidiano desse aluno, mas, em geral, nenhum aluno po plicagao cientifica para o que estava sendo observado, Assim, nas “a bexiga enche” ou “a bexiga vai estourar”. F O papel do professor é 0 de construir com os alunos essa p ber cotidiano para o saber cientifico, por meio da investigagio € questionamento acerca do fendémeno. ‘ A partir da formulagio do problema e de uma discussio de aula, que se diversificou para cada experiéncia, a demonstrag dac, ai sim, iniciava-se uma discussio sobre o que havia sido © bém sobre quais seriam as explicages cientificas acerca do vezes auxiliadas por textos de histéria da Ciéncia, que do conceito envolvido. No exemplo citado, o professor CAP. 2 — ENSINO POR INVESTIGACAO: PROBLEMATIZANDO AS ATIVIDADES EM SALA DE AULA Apés a montagem do arranjo, devem passar & coleta de dados que deve «er feita de acordo com o plano de trabalho elaborado pelo grupo. Nessa fase do trabalho, o professor percorre os grupos, verificando se to- dos estio montando o material como combinado, ¢ se estao coletando os da- ‘jos e anotando de forma organizada, para o trabalho posterior. Essa fase também exige envolvimento no trabalho € possibilita a discus- sso da importincia do cuidado na obtengao de dados, jd que diferentes gru- pos podem estar testando diferentes hipdteses e, se nao ha compromisso, po- de-se chegar a conclusées erradas. Andlise dos dados Obtidos os dados, é necessario que estes sejam analisados para que possam for- necer informacées sobre a questio-problema. Essa etapa inclui a construgao de grificos, obtengao de equagoes e teste das hipéteses. Pode ser feita usando pa- pel milimetrado e reta média, ou usando o Excel, numa sala de informética. Esa éa parte do trabalho em que os alunos apresentam mais dificuldade, pois se trata da tradugao grafica ou algébrica dos resultados obtidos. Cabe ao pro- fessor mostrar que essa é a parte fundamental do trabalho cientifico, e que a linguagem matematica ajuda a generalizacao do trabalho. Condlustio Na conclusdo, deve-se formalizar uma resposta ao problema inicial discutindo a validade (ou nao) das hipéteses iniciais e as conseqiiéncias delas derivadas. Questées Abertas Chamamos de quest6es abertas aquelas em que procuramos Propo! para os alunos fatos relacionados ao seu dia-a-dia, ¢ cuja explicagio estivesse ligada a0 conceito discutido e constru{do nas aulas anteriores. Percebemos sua importincia no desenvolvimento da argumentagao dos alunos e da sua redacio, isto é, que atingia o desenvolvimento de competén- cias, hoje requisitadas pelo Enem, como demonstra o dominio da norma cul- ta da Iingua portuguesa ¢ do uso da linguagem cientificas aplicar el Para a compreensao de fenémenos naturais, selecionar ¢ organizar in! st Ses para enfrentar situagdes-problema; organizar informagdes ¢ com \e 29 ec ap, 2 ENSINO POR INVESTIGAGAO: PROBLEMATIZANDO AS ATIVIDADES EM SALA DE AULA © que se chama normalmente de resolver problemas, em Fisica, é resol ver exercicios. Na tealidade, nao se ensina a resolver problemas, quer dizer, a enfrentar se com situagdes desconhecidas, ante as quais aquele que resolve se sente inicialmente perdido, mas sim que nés, professores, explicamos solugbes que nos sio perfeitamente conhecidas € que, evidentemente, nao nos ge- ram nenhum tipo de diivida nem exigem tentativas. A pretensio do pro- fessor é que o estudante veja com clareza 0 caminho a seguir; dito com ou- tras palavras, pretendemos converter o problema em um nao-problema”, Gilet al. op. cit.). A resolucéo de problemas abertos é uma atividade bastante demorada, por incluir diversos aspectos. Asituagao problemitica deve ser interessante para o aluno, e de preferén- cia envolver a relagao Ciéncia/Tecnologia/Sociedade. Os alunos vao enfrentar essa situagao problematica aberta primeiro de uma forma qualitativa, buscan- do elaborar hipéteses, identificar situades de contorno e limites de suas hipé- teses. Como nao tém ntimeros definidos, os alunos sao de certo modo obriga- dos a passar por essa fase, desenvolvendo sua criatividade, e a ordem de seu pensamento. Segundo Einsten: Nenhum cientista pensa com formulas. Antes que o cientista comece a cal- cular, deve ter em seu cérebro 0 desenvolvimento de seus raciocinios. Es- tes tltimos, na maioria dos casos, podem ser expostos com palavras sim- ples. Os célculos e as férmulas constituem o passo seguinte. Por exemplo, o professor propée o problema: “O que acontece com a temperatura do leite quando adicionamos café?” Os alunos entao discutem o problema, procurando 0 que influi no resul- tado, ou seja: quais as temperaturas do leite e do café? Vamos misturar quanti- iguais ou diferentes? Em que ambiente se dard o fato? O ambiente influi no resultado? A xicara usada influi? O professor deve entdo coordenar a discus- S40, sem responder as quest6es, para que determinem as condigdes de contor- Ao, 0s limites de validade etc. No exemplo, podemos considerar que a mistura € répida € 0 equilibrio térmico é conseguido logo, o que diminui a influencia ambiente, ou serd que vale a pena fazer a mistura em um recipiente isolado? Desse modo, o aluno expressa a estratégia de resolugéo, ou as possiveis estraté- Bias, fundamentando sua argumentagio, evitando 0 ensaio € 0 erro. st

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