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i i i 1 0 Planejamento como um Problema entre os Homens uualquer cidadio de um pais pode-se perguntar, com rario, qual 0 sett papel na conformacZo do futuro. Estamos caminhando para ‘onde queremos? Fazemos o suficiente para alcanci-lo? O proble- ‘ma consiste em saber se somos arrastados pela forga da correnteza do rio dos acontecimentos em diregio a um fim desconhecido ou se sa- ‘emos onde chegar ¢ estamos conduzindo, ou contribuindo para con. duzir 0 movimento das coisas nesta diresio. Somos arrastados ou conduzimos? Nés hoje vivemos o que antes era 0 futuro e todos os problemas que agora se colocam diate de nds puderam ser evitados ou resolvidos. Pudemos conduvir ¢ fomos condu- zidos para onde nio queriamos, Eu governo meu destino? Meu pais go- verna seu destino? Estas interrogagées se dirigem ao planejamento © em especial a0 conceito de plano, Porque o planejamento no é outra coisa que tentar submeter i nossa vontale 0 curso encadeado dos acantecimentos coti- dlianos, os quais determinam uma direg3o e uma velocidade 4 mudanga que inevitavelmente experimenta um pais em decorréncia de_nossas 60e8, Mas ndo sd de nossas agdes. Os outros também tentam conduzir €, 8s vezes, com mais éxito que nés. __,_Manalogia com a correnteza do rio ajuda-nos a entender que a rea- Tidade social — 0 objeto do plano — esti sempre em movimento ¢ no Sspera por nds. Esse movimento contém uma forca ¢ uma dindmica que 10 Politica, Planejamento ¢ Governe se impos sobre outras para imprimir-Ihe uma direyio, O mundo, mew pais, a realidad, esta regizo ¢ 0 sew préprio muntefpio no esto paral zados & espera que alguém planeje seu destino ¢ atue em consegi Nosso destino vai-se construindo dia a dia, incessantemente, mesmo que nio saibamos a0 certo para onde que, quem quiser enfrentar 0 desafio de criar um futuro com sua von- tade, poder ¢ recursos levers, em certo sentido, navegar contra a cor~ rente, porque deverd vencer uma forga que contraslz suas intengdes ~ salvo se planejar para acelerar ¢ acentuar as tendéncias j arraigadas no sistema social, uma vez que se pode também planejar a favor da corren- te; mas este nio & 0 caso mais comum nem o principal para justificar 0 cle nos conduz. Assim & planejamento. Dessa forma, o planejamento apresenta dificuldades semethantes as cenfrentadas para se agarrar com as mos um peixe na dgua, em condi- ges de mé visibilidade, Trata-se de algo muito complexo, nio somente pelo nimero de variiveis que condicionam o éxito de nosso proposito, mas também porque tais variiveis sfo dificeis de imaginar, enumerar analisar, peixe dificulta minha tarefa de uma forma “inteligente”, ou cria- alicrando sua velocidade, diresio ¢ profundidade de maneira ines- perada, E mais: as vezes parece. que 0 peixe “sdivinha” meus movimen- tos para capturi-lo e efetua oportunamente as manobras para imped meu Exito. £ um proceso ngo redutivel a uma teoria bem estruturada © que requer muita experiéncia, perseveranga e capacidade de aprendizagem na pritica, além de forgas e recursos para alterar 0 curso dos aconteci- mentos na direggo desejada. Essa dificuldade para atuar sobre a reali- dade, vencendo um movimento © uma resisténcia, ¢ 3 que melhor just fica a analogia com a correnteza do rio, O objeto do plano no é um alvo fixo, inerte e sem inteligéncia, para 6 qual aponta o planejador. No entanto, essa alirmagdo nao ¢ absoluta, Depende de qual & 0 objeto planejado, Geralmente, quando se fala de planejamento, refer mo-nos ao processo de desenvolvimento econdmico-social, Mas 0 pla- eral, pode aplicar-se a qualquer ati- n que é necessirio um esforgo para aleanyar um objeti- nejamento, como corpo de teoria vvidade human: Teoria Social ¢ Teoria do Planejamento i vo. Nos casos de ahjetivos ¢ de sistemas que podem ser imobilizados ow movidos @ nossa vontade e nos quais inexistem outros atores que interfi- ram criativamente sobre nossos objetivos, pode ser vilida a idéia de um alvo fixo. Porém, se © planejamento refere-se a um processo social, 0 movimento é a lei de sua plena existéncia e o exemplo do rio ¢ essenc almente valido. Nao obstante, sob outra ponto de vista, 0 exemplo da correnteza do rio & mau porque nio sugere 0 problema cxato. A correnteza do rio 6 um processo natural, independente de nossa vontade. O homem no produz tal correnteza, est fora dela; interage com cla, pode alteré-la de fora, mas a sua existéncia, persisténcia ¢ criagio ndo dependem do ho- mem. Nio se trata de uma forga social, mas da natui pode dominar ou destruir, sem nunca ser ela mesma. Tudo seria mais ficil se o problema de criar ou decidir sobre 0 nosso futuro dependesse do dominio crescente do horiem sobre a natu- reza. Neste caso, todo o problema seria redutivel 3 sua dimensio tecno- légica 0 planejamento social ndo é, portanto, um mera jogo contra a na- turera, que 0 homem Na sociedade, a forga do rio encontra o sew equivalente nas ten- dEncias situacionais, no curso seguido pela mudanga secial independente de nossa vontade, Mas é independente da vontade de todos os homens? Nio. E aqui esté 0 problema real, porque todos os homens em socie- dade produzem © sio responsivels pelo curso. dos acontecimentos. ‘Todos nés constituimos a forga da correnteza que move o mundo No entanto, cada um de nds, como individuos componentes do eet em maior ou menor grau arrastados pelos fatos. = dle um movimento de curso cego onile a racionalidade fe cietiria perde-se no mar infinito das vontades e Forgas indivi Cae 8 He Produrem oats do dia a dia. Que paradora! Tudo Palit Score ra sociedad, arite-se a redundinci, « sora, porque & Peete pelos homens; mas esses mesmos homens nfo s¢ reconhecem F Betenente nos resultados de sua produgo. Todos somos respon. Por mover ou arrastar a realidade para onde queremos; mas a0 } tempo somos inconscientemente arrastados nessa dirego que 2 Politica, Planesamento ¢ Governo amos. Todos condurimos 0 processo de mudanca situacional, no dese} conduzidos. as sem capacidade de impor 0 rumo. Somos condutor Quantos casos patéticos registra a historia de lideres todo-podero sos, inegiveis condutores de processos socials, que sucumbiram diante da forga da correnteza andnima dos fatos? Revorde-se @ aso, de Robespiérre, sonhalor da liberdade em suas intengdes, implacsvel dita- dor pela forga dos fatos, todo-poderoso e dono da vida ¢ da morte de muitos homens; no entanto, as forcas para as quais cle mesmo contri- buiu no sentido de liberar levaram-no & morte pelos métodos que foram fog seus, Até onde Robespiérre era levado pela correnteza dos fatos ¢ até onde conduzia a Revolugio Francesa? © que encarna essa correnteza tio) poderosa dos fatos que pode mais que os condutores mais duros da his) com suas caracteristicas préprias, no in- toria? Parece que o individuo, terior de um agregado social, funde-se numa entidade distinta, ds vezes monstruosa, as veres herdica, is vezes também passiva e mediocre. Até onde governam os governantes? 6 agregado social, as Forgas sociais tm vida propria, préprios ecapacidade prépria. Cada individuo reconhece a sua producio individual de fatos politicus, bélicos, cconémicos, socials « eulturais, mas todos juntos, como agregado de produtores sociais, no nos reco- mhecemos como responsaveis dos resultados do sistema; € ndo nos sen- timos conduzindo ou comandando 0 curso que segue nosso pas na ter ceira pessoa. Dizemos que ele caminha sem rumo e ocultamos que no the damos rumo, A correnteza dos fatos & andnima, no tem autor Tes- ponsivel, 0 “deixar fazer” (hisser-fare), nBo hd ninguém que escreva fet destino, Alguém condur, mas n3o somos nds como individuos, s0- orginivas ow objetivos mos nas mesmos como Forgas sociais ativas Ou passivas, inorginic: ‘Aqui diluimos o peso de nossos atos no peso da multidso que pro4 duz muitos outros. O oponente somos nds, E nossa incapacidade par conduzir coletivamente. Nobel inventa a dinamite mas nfo & responsivel pelas: guerras Einstein assenta os fundamentos tedricos da teoria atamica mas nao responsivel por Hiroshima ou Nagasaki. Um empresirio aumenta pregos mas no assume a responsabilidade pela inflaga. No entant henhum destes fatos poderia ocorrer sem nossa partivipagao. © que significa entio submeter o desenvolvimento dos aconteci mentos 8 vontade humana? O que significa governar? Quando dizemos que planejar & tentar submeter o curso dos acon tecimentos 4 vontade humana, ndo deixar “que nos levern” ¢ tratarmos de ser condutores de nosso proprio futuro, estamos nos referindo a um processo social, no qual o homem individuo realiza um ato de reflexdo superior € reconhece que $6 a consciéncia ¢ a forga do homem coletivo pode encarnar tal yontad humana ¢ enfrentar a correnteza dos fatos para desviar seu curso em diregio a objetivos racionalmente decididos. Mas o homem coletivo nao é independente do homem individuo ¢ no tem objetivos ow intenydes homogéneas. Necessariamente 0 ho: ‘mem coletivo, como ator do plano, deve responder estimular a cons. citncia social de cada homem individuo, agora agrupado com muitos outros homens com interesses ou vises mais ou menos comuns formando uma forca social que decide lutar por vondurir ¢ no deixar-se conduzir, que apta por resistir 3 correnteza dos [atos v venta submeter 0 movimento da realidad & sua vontade social para alcangar o futuro que cle mesmo desenhou. do acme. home eto, como agent muda tran lo plano, converte-se no contrapeso do vazio de direg3o do. provesso social que todos produzimos como individualidades omizadas. O ho: ‘mem coletivo & condutor do processo social. Por isso o planejamento surge como um problema entre os homens: primeramente © homem individuo, que proc : 1a alcancar objetivos particulares, ¢ @ homem cole- de. que uses uma ordem ¢ uma direySo societiria: em segundo lugar © as distintas forgas sociais, nas quais se encarna © homem coletivo, que lutam por objetivos opostos. : ie robles entre os homens & eonfftante, porque cada forga gps reer rest aerosol distinus lutando, conse entemente, por ditrenes desenhos de futuro, Tas desenhes gulam 4YSes cotidianas que produzem a rea ‘ Mens sobre o futuro sia. conflitantes dade. Sv os objetivos dos ho : © planejamento nao se faz num i rosas comandado pelo cileulo téenico-vientifico Bg actirtement, 9 plncamento deve admitir que © meio no Mal se desenvolve & um meio resistente, que se opSed nossa vontade, ¢ tal oposigio nso prov al oposiio no provém da natureza, mas ee outros homens com 14 Politica, Planesamento e Governo diferentes visdes, objetivos, recursos ¢ poder, que também possuem um ciloulo sobre o futuro e tém iguais ou maiores possibilidades que nds de conduzir o provesso social por um caminho que diverge do nosso. planejamento poderia ser um problema técnico caso se referisse & re- lagdo do homem com as coisas, mas esas coisas sempre ocultam outros homens O planejamento & assim um problema entre os homens, entre go- vernantes com *g minasculo” Podemos dizer “sim” ou “no” a nosso destino, mas tal afirmagao ou negagio no supe uma luta ou conflito com objetos, com coisas ou ‘com a natureza, como problema principal. Nao & certo que podemos decidir sobre nosso futuro pensando exclusivamente na relagio: Homem —+ Instrumento > Objetivo Como se todas as dificuldades fossem redutiveis a uma resistencia inerte, visto que por tris da validade do objetivo esto novamente os homens com seus valores, ideologias € razdes humanas ¢, por tris da eficécia do instrumento ou do meio, esto também os homens com suas predisposigies, eriagd No fundo, a relagio que nos deve preocupar no Ambito do plane- jamento é aquela indicada no esquema que se segue: pode-se const tar ali que as forgas sociais (0 homem coletivo) enfrentam-se por objetives conflitantes, enquanto cada individuo mantém um conllito no proceso de identificar-se ou diferenciar-se das forgas sociais que se the apresen- tam como op¢ies. Mais ainda, na relagio do homem com as coisas surge sempre a relagSo entre os homens como um processo de cooperacio € conllit. Teremos conscitncia, assim, de que 0 objeto do planejamento esté sempre em movimento ¢ esse movimento nao ¢ distinto de nds como produtores socials. Se plancjar & sindnimo de conduzir conse reagies e comportamentos sociais mtemente, ndo existird entio alternativa ao planejamento. Ou planejamos ou somos escravos da circunstincia. Negar o planejamento ¢ negar a possibilidade de escolher fo futuro, # aceitéclo seja ele qual for Teorsa Socral # Teorsa do Plancjumento 1s [——> Individuo I [-—PHamem Coletive A ———— Instrumento —— Objetivo A L | Contito Contlito Individual Social | | [> Homem Coletivo 8 ———* Instrumento ——> Objetive B | + individuo Seo homem, um governo ou uma instituigao renuncia a conduit & e conduzir, desiste de dominar ¢ ¢ arrastado pelos fatos, abdica entdo da principal liberdade humana, que é tentar devidir por nés ¢ para és onde queremos chegar ¢ como lutar para alcangar nossos objetivos. planejamento é assim uma ferramenta das lutas permanentes que 0 homem trava desde o inicio da humanicade para conquistar graus cres- centes de liberdade. Quando o homem nio conhecia o fogo, nao dispu- nha da liberdade de escolher entre o rio 0 valor; quando 0 descobre, ore optar. Em termos de planejamento situaciona poderiamos dizer ue & capaz. de converter uma variante em uma opxio. Pode optar por ‘Mo passar frio. Antes que o homem ganhasse essa liberdade ele no po- converter essa disjuntiva numa opsai i 8a disjuntiva numa opgio; estava determinado por Variante. " — e — © termo variante quando o planejador encontra-se ante ‘mativa na qual no tem poder de decidir & a realidade decide Por ele. Se todas as dsjuntivas que enfrentamos fossem variantes, a rea sade seria completamente ingovernivel para nos. Asim, processo de 16 Politica, Planejamento ¢ Governo liberdade do homem ¢ o processo de conversdo de variantes emt opgBess nios «le sua Far%o. tornando a realidade mais governavel para os desi Certamente, apresenta-se aqui um problema de étiva ¢ legitimidade no Ja rentineia a con: processo de governo, que nio pode ser resolvido p duzir, mas sim pela democracia na construgo do futur Assim é que o planejamento nfo & um método descartavel; ¢ um modo de viver do homem em direcio 3 liberdade. 4 alternativa ao plano & a improvisagio ou a resignagio, ¢a reninela a vonquistar mais lber- dade © planejamento & uma necessidade do home « da soviedade. Cada homem é um governante de seus atos ¢ ai consiréi.e defende sua liherdade. Porém, cada homem decide também, por aga ou omissio, que 0 governo do sistema em consciente ou inconscientemente, par aque vive lute por ganhar liberdade de opcBes ou se entregue 8s circuns- Hancias. Nao sabemos se podemos conduzir o munilo para onde quere- ‘mos, mas nfo podemos renunciar a tenti-lo. Festa tentativa pode ser beneficiada pelo planejamento. Mas, com que se parcee esse planejamento que reconheceremos na pritica? Como & que algo tio importante para nds passou a ser um mé- todo secundirio, rigido, supérfluo ¢ limitaclamente aplicado 3 econo- mia? Onde est a explicagdo de seu deserddlito? Em nds ou no tipo de preva o plane planejamento que eriamos? Por que 0 politica ignora ed jamento, quando este deveria ser sua ferramenta preferila de governo? ‘Ainda que parega estranho, devemos eomieyar por renovar os ar- gumentos que sustentem 0 planejamento, 2 Necessitamos Planejar? ma forma de responder a esta pergunta consiste em interrogarmo- nos: Por que existe planejamento? O que o justilica ¢ 0 faz neces- sirio? Qual é 0 custo de desprezi-lo? Onde se situa o limite entre a mera reflexio prévin 4 acto e « planejamento propriamente dito? Os homens improvisam; fazem geralmente um cilculo que precede e preside a aco. Mas esse céleulo, sem outro requisito, pode ser chamado de planejamento? © que faz normalmente o politico antes de agir? Pla neja A sua maneira? Sv plancjar consiste em refletir antes de fazer, por que o politico di to pouro valor ao planejamento? f° necessirio o pla. nejamento? © planejamento & uma ferramenta efiesr de governo? Que Peso tem o planejamento no desempenho ilo gave O primeiro problema consiste em delimitar 6 Ambito do, planeja- mento ¢ o papel da improvisacio. Na realidade, os governantes dedicam-se muitas horas a relletit an a tomar decisdes. Como é essa rellexio? Em que se diferencia ela Planejamento formal? Em que consiste a formalidade do. planeja- Mento? Que tipo de reflex ndo constitu planejamento? Aprofundemos esta dltima pergunta Admitamos, em princs 4 em prinepio, que 0 planejamento relere-se ao calcul “Ae precede e preside a aco. A existéncia desse cilculo ¢ sufic rentar decisses? ente para 18 Politica, Planejamento Gaverno ‘Aqui surge um primeiro requisito para que a rellexio idemtifique-se com 0 planejamento: deve relacionar-se vom a ago, deve constituir uma mediagdo entre o conhveimento que se obtém com a pesquisa e a agdo que vamos empreender agora Mas de que depencle a qualidade e ofiedcia dessa reflexdo que media entre nds ¢ 2 ago? Ante esta pergunta surge um segundo requisito que se refere a profundidade, alcance e sistematicidatle da rellexio. Observemos 0 Quadro seguinte. Ali volocamoy verticalmente as diferentes instincias de tempo, e horizontalment sistematicidade ¢ amplitude do caleulo que prevede « preside a ago. Em primeiro lugar, ¢ possivel um célculo intuitive « assistemstico com um horizonte de tempo que termina hoje; & um calcula reflexive porém imediatista, assistemético e limitado vm suas perspectivas. Eo cAlculo da casa “ATO”. Em segundo lugar, & possivel um cilculo puramente intuitive que articula o curto eo longo prazos; tal célculo esti representado pela pri- meira coluna do Quadro € vai deste ATO até ATI5, Nesse caso pode mos falar do céleulo intuitivo que pres Em terceiro lugar, se tomarmos a linha horizontal superior que vai desde ATO até ETO, veremos que hi ali diferentes grous de sistemati- idade © amplitude das perspectivas de andlise. Essa linha comega com a intuiggo imediatista ¢ termina com o céleulo situacional, imediatista mas dlistintos graus de ale ¢ preside a agdo, formal. Por iiltimo, tomando-se 2 dltima coluna que comeya com ETO e termina com ET15, veremos af a articulaga do cdleulo situacional de futuro. Esse cilculo situacional articulado e sistematico precisamente 0 que chamaremos de planejamento, sem “sobrenome” O politico, com excegio do estadista, move-se geralmente na zona do imediatismo situacional planejador tecnocrata, pelo contrério, tende a situar-se na zona do futur em DTI e terminando em DTIS. O condutor estratéyic até ETS, articulando o calculo situacional em distintos horizontes de tempo. Esta é a apreciaggo situacional do estrategista. Assim & que 0) ante estrategista 8 mo tecnocrético, que Gratico identifica como D, comegando aacional ocupa a coluna *E*, desde ETO politico comum, o plancjador tecnocrata v0 gow Teoria Soctal ¢ Teorta do Planeyameno 19 situam em diferentes espacos de cdleulo © seu didlogo nio é desta forma que 0 governante comum se afasta de planejamento e os planejadores da realidade, eatcwoliny Hay TiS Yin [Stoo \, | igus, | Sieve enco- | cuo | enc Suto | eence ,—|patics | feoen_|potts, fendi esssendico | Bsetenbc|sindica Seemdtico fad er Hele Fo inedcisme Ero Tal “Ee marke © patio comm ms ntigao Planesomento Ti ono fees OT ee ev 5. Sonos cea eTs 15 one} aT 9 ors cr Gestadisa Olaneador 0 condor imi fecsecrataestotegsto A alternativa entre planejamento v improvisagSe aparece agora com péGes intermedidrias: 0 cilculo assistematico, o cdlculo imediatista, o Gleulo técnivo, ete. , Chamaremos planejamento o cdleulo situacional sistemstico que relaciona o presente com o futuro ¢ © conhevimente com a ago. A re- flexdo imediatista, tecnocritica e parcial no ravossocus sewwuischoos DesAcuMNAGAO Como tratar 0 problema da administragdo eficiente de recursos poder inicialmente disponiveis? Se os recursos de poder s30 escassos ser necessrio calcular no plano o quanto é nevessirio para produzit ul 1, e também como se alteram oy recursos de ato de intervengio soc der possuidos por cada forga apds ter produzido 0 ato de intervengd0, Teorte Social ¢ Teoris do Planesamemo 45 conhecer suas conseqjéncias. Mantém-se, diminvem ou aumentam? O uso de poder faz acumular ou desacumular poder, como se mostra no esquema anterior Se esse raciocinio é correto, surge 0 conevito de eficicla politica do processo de produgdo, através da comparagdo entre recursos de podet necessirios a produgio recursos de poder nela produzidos. Como se relacionam eficiéncia e eficicia econémica com cficiéncia ¢ eficécia poli ica? So imensas e decisivas para a teoria do planejamento ay conse- aqlncias de se aceitar que existem oponentes ao plano, que todos os atores planejam de uma ou outra forma, que © econdmico ¢ inseparavel do pol © planejamento ndo pode ser confusdido com seu pro- cesso técnico de céleulo etc, Algumas conseqifavias io as seguintes: (a) _nio & possivel raciovinar em termos de verteza, porque 0 aca~ $0 € a incerteza apareverio crescerio devido a existéncia de oponentes com planos, criagies ¢ reagBes imprevisiveis; (b) 0s meios para se alcancar os objetivos ngo podem ser caleula- dos simplesmente como inedynitas de um sistema de equagdes com um niimero linito e enumerivel de arifveis relevantes, {sso impede que os problemas de planejamento social sejam tratados como problemas bem-estruturados; (©)_nao é possivel sustentar que o planejamento esgata-se no pla no do deve ser e no desenho da norma, nem tampouco tratar © plano do pode ser ou do viivel coma um didlogo entre 0 técnico e 0 politico; & necessério um planejamento politico que dé conta do processo dindmico de vonstrugdo ow perda de viabilidade das normas e também do conilito entre efic: pol que é vidvel, porque a viabilidade ¢ um processo dindmico, tiativo e pleno de incerteza. Mas no interior do planejamento Politico um ator pode tentar conferir viabilidade aos aspects Conflitantes do plano. Se a viabilidade politica depende do ica. eficdcia técnica; o dirigente nio pode decidir sobre Contetido e eficicia do plano econdmice, como o politico po dra saber de antemao aquilo que seri politicamente vidvel no dominio econdmico? 46 Politica, Plunejamento e Governo (d) se 0 planejamento abrange 0 planejamento politico ¢ se a conjuntura politica ¢ mutavel, o plano no pode estar expres- so num plano-livro, que perde rapidamente validade, nem 0 planejamento pode afastar-se do acompanhamento constante da conjuntura politica, econdmica ¢ socials (e) seo planejamento na conjuntura é essencial a vigencia real do processo, este deve compreender comjlementarmente o cur- to prazo, 0 médio prazo ca visio de longo prazo, assim como tum sistema de avaliagSo para impedir que as restrigdes ow fa- cilidades oferecidas pela conjuntura desviem do curso que conduz 4 situagio-objetive vigente; igualmente, serd necessi- rio um sistema de avaliacio entre a situagZo-objetivo ¢ a uto- pia conereta mais longingua, 2 fim de verilicar se entre elas mantém-se uma relacio de coertncia; (£) as categorias econémicas ¢ a teoria econdmica continuam im- portantes, mas muito limitadas para apoiar uma concepgi0. mais ampla de planejamento. A pergunta ~ 0 que planejamos? jf nio podemos responder, de forma concreta porém inadle- quada e restrita, dizendo que é 0 crescimento do PIB, 0 con- sumo, 38 exportagbes, a substituigio de importagdes, etc. “Tampouco podemos responder, de forma ampla porém vaga, dizendo que so as mudangas no estilo da vida, © meio an i- ente, 0 tipo de democracia ¢ as relagdvs politicas de poder. Aparece assim a necessidade de recorrer a uma teoria da pro- duggo social mais ampla, onde cada ato produzido exige recur- s0s de poder, recursos econdmicos, recursos naturals ¢ valo- res aplicados, assim como conhecimentos, Admitida essa amplitude do processo de produggo, ser necessério também considerar as conseqiéncias de cada ato sobre as relagdes de poder, as relagées econdmicas, as relagdes ecolbgicas, as rela- bes ideoldgico-culturais e as relayBes cognitivas, como pro- ceessos de apropriaggo entre os homens com miltiplas intera- ‘Bes entre si, O bom dirigente e 0 bom planejador liberam-se, na prética, da ri- gidez do planejamento normativo. Fazem, de ato, um céleulo estrates Teoria Social ¢ Teorsa do Planejamento 47 gico. Essa liberagdo, porém, é particular, individual e geralmente defici- ente, porque é feita margem de um método de conduco. Em outros aspectos, a pritica do planejamento normativo & mais pabre que a teo- ria, Temos assim um caso curioso. A pritica do planejamento tradicio- nal € um conjunto que se intersecciona com sua tcoria, As partes no in- terseccionadas correspondem uma a seu enriquecimento na prética, ou- tra a.uma deformagio viciosa Vemos que, a partir da critica & relagio linear diagndstico — fins meios, surge 0 mundo do governo e planejamento dos processos sociais, com sua enorme complexidade Assim, surge um conceito de plano mais rico ¢ mais ampla, no qual a dimensio normativa do deve ser precisa articular-se com o plano es- tratégico do pode ser e o plano operacional na conjuntura da vontade de fazer. Tudo isso obriga-nos a perguntar quais poderiam ser os elementos basicos dessa concepeao renovada de planejamento. primeiro passo consiste em reconhecer a exisiéncia de oponen- tes, Uma teoria rica do planejamento considera pelo menos dois atores: enc o outro. 3 Eu Planejo, Tu Planejas © 2 teoria cujo tema é o verbo plane- 4 um dislogo entre a pr jar. A professora Dona Pritica pede & senhorita ‘Teoria Normativa: *Conjugue o verbo planejar". A scnhorita Normativa responde. “Eu planejo...”. “Continue, esta tudo bem” — diz Dona Pratica. “J terminei, professora’, responde senhorita Normativa, Dona Prética, Perplexa, olha para suas alunas. A senhorita Situacional esta ansiosa por + € sem que ninguém o peca recita: “Eu planejo, tu planejas, cle Planeja” etc. Quantos atores planejam? Existe o outro no planejamento tradici- onal? 4% O Modelo Normativo de Planejamento O planejamento precisa apoiar-se em alguma teoria de produgdo de 485es humanas. Os métodos de planejamento referem-se a agdes huma- ag tentam produzir efeitos num dado sistema de governabilidade. lo a riqueza ou simplicidade com que descrevemos o sistema, SttBe 0 problema de sua governabiidale sje inte ou ficticia, Com efei- “tm modelo explicativo simples do sistema social pode fazer-nos crer alta governabilidade do sistema, so Politica, Planesamento e Governo © modelo aparentemente mais governivel & aquele onde um s6 ator planeja e governa o sistema. Poderiamos descrever esse modelo com as seguintes caracteristicas i, um ator planeja e dirige, os demais sio simples agentes eco- némicos; ii, as ages que os agentes evondmicos produzem sio previsiveis © enumeriveis, porque correspondem a uma teoria do com- | portamento conhecivel e conhecida; fil, 0 sistema gora incerteza, mas ela refere-se exclusivamente & probabilidadle de ocorréncia ¢ aos efeitos das agbes previsiveis no existe 0 nJo-enumersvel ¢ o inimaginavels iv, ator que planeja e dirige no controls algumas variiveis, mas a8 variiveis ndo-controladas no tém condugio inteligente € criativa, porque no se referem a outros atores que fazem pla- nos. Em tal caso, o sistema ¢ aparentemente de alta governabilidade & opera segundo os seguintes pressupostos: i. toda acio é produto de um comportamento, exceto a prépria agio criativa que produ planos; fi, a8 variéveis fora de controle nio tém autor inteligente e criati- Yo que persegue outros objetivos; elas constituem simples- mente movimentos que nio sabemos explicar; iii. a incerteza ¢ uma incerteza bem-delinida; as possibilidades so cenumeriveis ¢ ¢ possivel atribuir-Ihes probabilidades; iv. a teoria requerida por esse tipo de planejamento & uma teoria do comportamento social que se apéia nas relagSes sistémicas de causa ¢ elvito, admitindo-se que o efvito & predizivel € constitui um comportamento. © planejamento evondmico normativo segue aproximadamente esse tipo de raciocinio hipersimplficado, Podem-se distinguir as seguif- tes variiveis nesse modelo: Peorta Social e Teoria do Planejamento St i, eu, como 0 ator-sujeito que governa, planeja ¢ monopoliza a cviatividade na ago; ji. 0 sistema como 0 objeto planejado, compreendendo agentes econdmicos que tm comportamentos sociais Esse modelo normativo de planejamento caracte-iza-se por um re. ducionismo ilegitimo de todas as agées ¢ comportamentos. Por outro lado, a elimina¢ao artificial do outro revela que, vomo pressuposto es condido, o planejamento econdmico normativo assume a existéncia do eu com poder absolute. b. Um Modelo Estratégion de Planejamento Pensemos agora num sistema cujo grau de governabilidade depen: de essencialmente do meu peso (eu) frente ao peso do outro, para pro- duzir as ages necessérias ao cumprimento de meus objetivos Nesse caso, existem varios sujeitos que planejam com chjetivos conflitantes. AAs limitacdes para governar o sistema no provém de uma escassez ot falta de controle de éncia absoluta; elas derivam, ao menos parcialmente, do fato de os re cursos que ct: ndo tenho ou nao controlo serem possultdos ou controla- dos pelo outro. Se eu no ganho, outro ganha; se perea adesio popular, outro a terd em maior grau; o que para mim ¢ ingovernavel, de avordo om minhas capacidades ¢ objetivos, pode, para 0 outro, ser govern’- vel, de acordo com suas capacitlades c objetivos. Nesse modelo de conilito, ou de poder compartilhado, apenas al- gumas agdes correspondlem a comportamentos; ay outras agdes, as Principais, sio agdes estratégicas fundamentacas num juizo estratégico. Ateoria do comportamento social &, portanto, completamente insufici- ‘ente para fundamentar a teoria do planejamento pertinente a tal caso. ‘ursos, como uma det © As Técnicas de Planejamento Quando se descobre que © planejamento pode fundamentar-se em las teorias e diversos enfoques, segundo a naturen dos problemas ¢ de aplicagso, toma-se conscitncia do planejamento como método, 52 Politica, Planesamento ¢ Governo como tcoria ¢ como tecnologia. Antes dessa conscitneia o projeto de governo (contetido propositive) e a capacidade de governo (téenicas de planejamento) parecem-nos a mesma coisa, e as misturamos rotineira mente em nossas discussdes. A valorizagao das téenicas de planejamento © governo como um espago préprio de rellexio tedrica somente se ve- rifica quando assumimos em toda sua complexidade a relagao: sas > eee CASO OU PROBLEMA = (PERTINENTES Por essa razio ¢ facil compreender que, para as pessoas que conhe- cem apenas um modo de planejamento (0 planejamento econdmico normativo), suas técnicas no constituem problema tedrico, na explica- 0 das deficiéncias préticas do planejamento na América Latina, Créem simplesmente que © problema consiste em dotar-se de boas politicas de desenvolvimento, boas politicas econémicas ¢ hons economistas. Aqui desaparece 0 triingulo de governo, ficando ele reduzido a uma de suas partes: 0 projeto de governo. A governabilidade do sistema ¢ a capaci dade de governo ficam esquecidas © mundo dos homens 6 do tamanho do seu vocabulitio, dos con- ceitos que conhece. Se para mim no existe o conceito de oponente, na minha realidade haver$ somente agentes econémicos. Se tampouco ma- nejo o conceito de ago estratégica, na realidade, para mim, somente existird a agio-comportamento que assimilei da teoria econdmica. Por essa via nego inadvertidamente uma parte da realidade, Se eu compre- endo o mundo através do vorabulario que ji conhego, nao existe forma, de enriquecer minha visio do mundo sem ampliar meu vocabuliro. © filésofo da linguagem John Searle (Speech Acts, 1969, Cam- bridge University Press) coloca o problema desta forma; O erro é supor que a aplica saiundo consiste em iguagem colar etiquetas nos objetos que, por assian dizé la, identificam se a si mesmos, Conforme minha perspectiva, 0 mundo divide-se conforme o dividimos, e nossa forma principal de dividie as coisas & Teoria Social ¢ Teorta do Planejamento 53 Nosso conceito di realidade depende de nossas categorias lingitstica. (Dislogo com John Searle, p. 194, tn B. Magee Os Homens Por Tris das ldfias, FCE, México). a Tingnagem Se a minha teoria para conhecer ¢ atuar no planejamento € limita- da, dificilmente poderei descobrir que minhas propostas coneretas de agio ¢ governo sb poderao ser por mim imaginadas nesse espago limita- do. Assim, qualquer deficiéncia da minha ago planejada para mudar 0 mundo nio pode ser atribuida por mim as teorias e métodas que redu- zom © simplificam artilicialmente o tamanho deste mundo, mas a um ‘manejo incorreto de tais teorias ou 4 sua aplica¢do inadequada. Por essa via posso ignorar o problema mais abstrato das ferramentas para conhe cor e das tSenicas para governar, ¢ focalizar toda minha atengio estrita- mente no problema mais concreto ¢ aparentemente mais prético do projeto de governo, O congelamento da minha forma de conhecer corre paralelamente A estagnagao dos conceitos que manejo. Se durante 25 anos nao pude renovar minha teoria de planejamento, isso deve-se ao fato de nio ter podido ampliar o vocabulirio da teoria social através da qual me apro- ximo do mundo. Se fixo minha capacidade de conhecer © mundo, congelo meu vo- cabulirio; se congelo meu vocabulério, fixo minha capacidade de conhe- cero mundo, Se tal ocorre, voltarei repetidamente com as mesmas per- Buntas sobre o mundo em que existo e deixarei de interrogar-me sobre @ poténcia de meu vocabulirio. Ainda mais, quando alguém usar pala- Mas novas num discurso tedrico, minha seguranga intelectual me levard consider’-las sindnimos das que jé conhego e acusarei esse perturbador de inventar palavras novas para dar novos nomes.a velhos conceitos. Assim, em vez de responder a seu discurso tebrico alternativo, dir- The-ei que ele ndo tem direito de obrigar-me a usar seu vocabulirio forma mais simples de congelar 0 vocabulirio cientifico consiste em larar como sindnimos os novos con! 6 Atores Sociais Planejam em Qualquer | Situacao, mas com Métodos Distintos ma conseqiiéncia necessiria da inevitabilidade do planejamento se em qualquer para os condutores ¢ que ele deve ¢ pode realizar situagd0. Naturalmente, a posigao de onde se planeja, as caracte risticas do ator que lidera © provesso e 0 contetido propositivo que orienta a sua agao resultario em distintos métodos de planeja mento. Tal posigGo é coerente com nossa consideracio das variivels cu eo outro. Como o outro também planeja podemos sustentar © principio Beral de que todos os atores sociais planejam, ainda que com diferentes Braus de formalidade e sistematicidade O requisito sistematicidade rofere-se 3 logicos, tedricos e metodoldgicos que apdiam 0 céleulo que precede e Preside a acio, Eles imprimem coeréncia e racionalidade particulares & 46805 conseqiientemente, a sistematicidade diferencia o planejamento da improvisacio. O requisito formalidade, por seu lado, permite distinguir diferen- 85 métodos dle planejamento segundo o grau em que estdo regulamen- Por procedimentos priticos normatizados. Dessa forma, podemos distinguir entre: (a) 0 improvisador erré ue atua conforme as circunstincias e segundo um cilculo media isténcia de corpos ideo-

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