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ALICE Wonderland

Uma Aventura Pop/Rock


Livre adaptação por Alexander Zimmer
inspirada em 'Alice No País das Maravilhas',
de Lewis Carroll

RJ, 10 de dezembro de 2015

14 PERSONAGENS + EXÉRCITO DE CARTAS

Personagens por ordem de aparição na história:

Tia Rosa
Alice Margarida
Coelho Branco Tulipa
Maçaneta Violeta
Dodô Cravo
Papagaio Jasmim
Dudu Trevo
Didi Lagarta
Foca Mister Gato
Carpinteiro Chapeleiro
Mamãe-Ostra Lebre
Ostrinha Maria Rato
Ostrinha Joana Exército de Cartas
Ostrinha Gaby Rainha
Abílio Rei

Copyright 2015©by Alexander Zimmer


Todos os direitos reservados.
ALICE Wonderland Uma Aventura Pop/Rock Alexander Zimmer

CENA 1 - BOSQUE

ALICE E SUA AMIGA LUÍZA ESTÃO VOLTADO DO COLÉGIO. LUÍZA CONVERSA, MAS ALICE
PARECE ESTAR NO MUNDO DA LUA.

LUÍZA: ...Hoje o Márcio não me deu nem ideia, só ficou conversando com aquela tal de Ana,
que senta na terceira fileira no canto e a professora com aquela matéria chata sobre os condes
de Mércia e Nortúmbria só me deixaram mais irritada... Alice!
ALICE: Oi?! Estou ouvindo.
LUÍZA: ...Pois é. Eu já não gosto de história e Ana toda se jogando nos braços do Márcio me
tirou do sério. Será quele vai cair na conversinha dela?... Alice! Você quer prestar atenção?!
ALICE: Olha, me desculpe, mas essa sua história com o Márcio é muito chata. Ele não é muito
confiável; dá em cima de todas as meninas. Eu não sei porque você escolheu ele como crush!
LUÍZA: Olha, Alice, essas coisas a gente não escolhe; simplesmente acontecem. E, me desculpe,
se minha conversa é chata para você.
ALICE: Ah, Luíza! Deixa de drama, vai! Você vai na festa do Rodrigo hoje?
LUÍZA: Não sei. Eu to querendo ir, mas nãos ei se minha mãe vai deixar; ela anda tão chata
ultimamente.
ALICE: É. Minha tia também anda bem chatinha, mas eu vou de qualquer jeito. Nem que eu
tenha que fugir escondida pela janela no meio da noite.
LUÍZA: Você é doida mesmo! Enfim… A gente se fala mais tarde. Tchau!
ALICE: Tchau... (FALANDO COM A GATINHA) Eu que não vou perder essa festa, por causa da
chatice de minha tia! Por quê que tudo tem que ser tão chato, cheio de cuidados e perigos? Ah,
fala sério! Se esse mundo fosse só meu, tudo nele seria diferente. Nada seria o que é, porque
tudo seria o que não é. E também tudo que é, por sua vez, não seria. E o que não fosse seria,
não é? No meu mundo, os gatos falariam muito mais do que um simples “Miau”! Diriam: Sim,
Alice. É verdade, você tem toda razão. Os animais falariam. Bom, no meu mundo...

NO MEU MUNDO

Meu gatinho seria irado


Ia andar todo bem arrumado
Nesse mundo só meu.

Minhas flores
Todas loucas e alucinadas
Mil sabores, diversos odores
Nesse mundo só meu.

Passarinhos multicoloridos
Todos falantes e assanhados
Cantorias muito coloridas
Nesse mundo só meu.

Viveriam todos uma vida sem fim


Quem me dera que ele fosse assim
Maravilhoso mundo só pra mim!

UM COELHO BRANCO ALUCINADO ATRAVESSA A CENA.


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ALICE: Eita! É um coelho branco... E parece bem nervoso!


COELHO: Que meus bigodes caiam, se não for tão tarde! É tarde! É tarde!
ALICE: Mas que coisa! Por que diabos um coelho estaria atrasado? Espere!
COELHO: É tarde! (MÚSICA INCIDENTAL)
ALICE: Gente, eu nunca vi um coelho atrasado. Será que é alguém fantasiado para uma festa?
Ou será que é um show? Ei, seu coelho, espere!
COELHO: Não, não, não, não, não. Me desculpe, moça, mas eu to cheio de pressa. Eu tenho um
compromisso com o tempo. Ai, ai, meu Deus, é tarde, é tarde, é tarde!

O COELHO BRANCO ENTRA NA TOCA E ALICE OLHA PELO BURACO ESCURO.

ALICE: Que lugar esquisito para uma festa ou um show... Será que é uma passagem secreta
para algum show secreto de uma banda famosa numa caverna?... As bandas às vezes inventam
essas coisas... Será que eu devo entrar? Não sei... E se pedirem algum ticket de ingresso quando
chegar lá dentro? Afinal, eu não fuiconvidada e penetra não é uma coisa legal... (ALICE
ESCORREGA E CAI NO BURACO) Aaaaaah! Caraaacaaaaaa!

CENA 2 - TOCA DO COELHO

ALICE VAI CAINDO E VENDO COISAS PASSAREM POR ELA.

ALICE: Caraca, véio! Parece que eu to caindo em câmera lenta. Meu Deus! Po, que viagem! E se
eu saísse do outro lado do mundo, de cabeça para baixo? Ah, fala sério! Ninguém... ( O COELHO
PASSA CORRENDO, ABRE E FECHA A PORTA ATRÁS DE SI) Ih!... ó, o coelho aí! Peraí, cara! Que
coisa... Esse cara tá alucinado mesmo, viu?
MAÇANETA: É, ele está sempre apressado.
ALICE: Mas quem... Oh! Caraca, véio! Eu devo estar muito doidona. Uma maçaneta falante!
MAÇANETA: É, eu sou uma maçaneta que fala! Hablas espanhol?
ALICE: Nossa! Não, não… Só português mesmo.
MAÇANETA: Ah, que pena. Mas tudo bem... o que você tá procurando?
ALICE: Eu to procurando aquele coelho branco alucinado. Pode me ajudar? (ALICE OLHA PELO
BURACO DA FECHADURA) Olha lá ele! Deixa eu passar, vai!
MAÇANETA: Ah, mas você é grande demais. Simplesmente impassável.
ALICE: Quer dizer impossível?
MAÇANETA: Não, impassável. Aqui nada é impossível. Ha! Ha! Ha! Por que não tenta essa
garrafa em cima da mesa?
ALICE: Mesa? Ah, tá! Mas o que tem dentro dela?
MAÇANETA: Tá escrito no rótulo.
ALICE: (LENDO O RÓTULO) Mas só tá escrito “Beba-me”. Hum... Melhor olhar dentro, porque
pode ser veneno ou drogas e isso nunca é legal.
MAÇANETA: Como é que é?!
ALICE: Nada, não. Só tava dando bons conselhos a mim mesma, mas... Hum... Tem gosto de
cereja, abacaxi, de mandioca...

O CENÁRIO PROJETADO AUMENTA, PARA DAR A IMPRESSÃO DE QUE ALICE DIMINUIU.

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ALICE: Caraca, véio! Que parada doida é essa?


MAÇANETA: É. Doida mesmo.
ALICE: Mas olha só! Eu fiquei pequena igual a um gnomo.
MAÇANETA: Ai, caramba! Foi mal, mas eu esqueci de te dizer... Eu estou trancada.
ALICE: Ah, não. Fala sério, né?
MAÇANETA: Mas se você tiver a chave...
ALICE: Mas que chave?
MAÇANETA: Aquela que tá lá em cima da mesa.
ALICE: Po, tá me zoando, né? Como é que eu faço agora?
MAÇANETA: Dá uma olhada naquela caixinha ali.

ALICE PEGA A CAIXINHA EMBAIXO DA MESA.

ALICE: (LENDO O RÓTULO) Coma-me. Tá bem. Só quero ver no que vai dar.

ELA COME. O CENÁRIO PROJETADO DIMINUI, PARA DAR A IMPRESSÃO DE QUE ALICE
CRESCEU. SÓ QUE ELA FICA REALMENTE GIGANTE.

ALICE: Caraca, véio! Agora, olha só!


MAÇANETA: Está parecendo uma árvore gigante e torta.
ALICE: Ah, deixa de graça! Agora que eu não consigo mesmo sair daqui.

ALICE, MUITO BRAVA, CHUTA A PORTA, QUE SE DESPEDAÇA.

MAÇANETA: Eita, que agora não tem mais porta! Ei! Eu to livre! Agora posso sair por aí!

ALICE: Que bom pra você, né? E eu, como é que fico?

MAÇANETA: Calma. Pegue novamente a garrafa!

ALICE PEGA A GARRAFA E TOMA UM NOVO GOLE, VOLTANDO A FICAR PEQUENINA.

ALICE: Ah, beleza!

ALICE ATRAVESSA A PORTA E O CENÁRIO MUDA DE REPENTE PARA UMA PRAIA.

CENA 3 - ALICE NA PRAIA

ALICE OLHA AO REDOR E ESTÁ TUDO MUITO NEVOENTO. SURGE NOVAMENTE O COELHO
BRANCO DO MEIO DO NEVOEIRO.

ALICE: O coelho branco! Ei, coelho! Coelho! Calma aí, cara! Espera!
COELHO: É tarde, é tarde, é tarde pacas!
ALICE: Coelho! Ô, coelho! Que coisa, parece que entrou por aqui.

ALICE SAI POR UMA COXIA. O CENÁRIO MUDA PARA UM BOSQUE.

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CENA 4 - OS GÊMEOS

ALICE ENTRA PELA OUTRA COXIA, OLHA PRA LÁ E PRA CÁ, ANDANDO PELO PALCO.

ALICE: Cara, cadê o diabo desse coelho? Acho que ele... (ALICE VÊ OS GÊMEOS) Eita! O quê que
isso? Parecem bonecos... (LENDO A INSCRIÇÃO NAS CAMISAS) Didi e Dudu.

ALICE ENCONTRA OS GÊMEOS.

DUDU: Então somos bonecos, não é mesmo?


DIDI: Mas, na real, somos gente, então deve pelo menos nos cumprimentar.
GÊMEOS: É isso daí!
ALICE: É... (ACHANDO-OS MUITO ESTRANHOS E COM UM POUCO DE RECEIO) Muito prazer.
Mas… Adeus.
DUDU: Que papo é esse? Acabou de chegar!
DIDI: Pois é. E quando chega uma visita devemos dizer...

GÊMEOS:
Olá! Como vai? Tudo bem com você?
Qual o seu nome! E as coisas? Como vão as coisas!

ALICE: Ah, legal. Meu nome é Alice, e eu to atrás de um coelho branco meio doidão, então...
DUDU: Ah, mas você já vai embora? Ah, não pode!
DIDI: Pois é. A visita mal começou.
ALICE: Ah... Foi mal.
GÊMEOS: Quer brincar de esconder?
ALICE: Brincar de quê? Não, obrigada. Eu...
GÊMEOS: Se demorar, podemos jogar cartas.
ALICE: Olha, vocês são muito legais, mas eu preciso ir, tá legal?
GÊMEOS: Por quê?
ALICE: Porque eu preciso encontrar esse coelho branco maluco.
GÊMEOS: Por quê?
ALICE: Ai, meu saquinho... É que quero saber para onde ele foi.
DUDU: Oh, ela é curiosa!
DIDI: Não é mesmo? As ostras também eram curiosas, não eram?
DUDU: É, muito curiosas. E você se lembra do que aconteceu, né?
GÊMEOS: É, coitadas...
ALICE: O quê que foi? O quê que aconteceu com as ostras?
GÊMEOS: Ah, você não está interessada.
ALICE: To sim.
GÊMEOS: Oh, não! Você tá muito, muito apressada.
ALICE: Mas talvez eu possa demorar um pouquinho.
GÊMEOS: Você pode? Então tá… Vamos lá!
DUDU: A foca e o carpinteiro...
DIDI: Ou a história das ostras curiosas.

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CENA 5 - A FOCA E O CARPINTEIRO

A HISTÓRIA DAS OSTRAS CURIOSAS

O sol brilhava sobre o mar


Brilhava bem, bem cheio
E bem cumpria o seu dever
Sem o menor receio

Mas qual, o que mesmo, por que?


A noite estava em meio

A foca e o carpinteiro
Estavam um dia à passear
Tudo ia bem
Mas só que tem
Que a areia era demais

CARPINTEIRO: Seu foca! A coisa não vai bem.


Vamos varrer até morrer
Se isso lhe convier

FOCA: Varrer?
Então eu digo, Oh, meu amigo

A FOCA E O CARPINTEIRO ENCONTRAR A MAMÃE OSTRA E SUAS OSTRINHAS.

FOCA: Chegou agora a vez


De se falar de coisas mais
Couves e de Reis
Do mar que está a fervilhar
De porcos e pastéis
Calou calei
Só falareis
De couves e de reis

AS OSTRINHAS FICAM ANIMADAS COM A MÚSICA E O CARINHO DA FOCA COM ELAS.

MAMÃE-OSTRA: Oh, minha filhas! Ainda são muito novinhas. Não acreditem em falsas
promessas que estranhos podem falar, ou podem nunca mais voltar.

OSTRINHA MARIA: Está bem, mamãe.


OSTRINHA JOANA: Mas parece tão animada e divertida.
OSTRINHA GABY: É mesmo, mas não sei não, Joana. A mamãe disse para não acreditarmos em
estranhos.
OSTRINHA MARIA: Isso mesmo, Gaby. Acho melhor obedecermos
OSTRINHA JOANA: Mas, Maria, ela parece tão legal! Não deve ser tão má, né?
OSTRINHA GABY: Será? Não sei mesmo... A mamãe disse...
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OSTRINHA JOANA: Talvez não seja má. Ah, a gente vai só um pouquinho e volta logo! Vamos?
OSTRINHA GABY: É. Acho que se for rapidinho, não tem problema, né?
OSTRINHA MARIA: Mas bem rapidinho, tá?
OSTRINHAS JOANA E GABY: Sim!
OSTRINHA MARIA: Ah, está bem! Então vamos!

ANIMADAS PELA MÚSICA DA FOCA, AS OSTRINHAS SEGUEM-NA.

FOCA: Muito bem, vamos ver. (OLHANDO COM MALÍCIA PARA O CARPINTEIRO) Ah, um bom
pão, não seria má ideia, não acha?.
CARPINTEIRO: Boa ideia! Que tal uma pimentinha e um molhinho, hein?
FOCA: Oh, claro. Ótima ideia. Esplêndida ideia.

O CARPINTEIRO SAI DE CENA CORRENDO E MUITO ANIMADO PARA PREPARAR AS COISAS.

FOCA: Agora, se as ostrinhas tiverem prontas... Ha! Ha! Poderemos almoçar.


OSTRAS: Almoçar?

A FOCA AVANÇA SOBRE AS OSTRINHAS, QUE GRITAM E DÁ UM B.O. QUANDO A LUZ VOLTA,
SÓ SOBRARAM AS CONCHAS.

FOCA: Eu... eu... eu sinto muito. Eu... Perdão. A sorte é muito ingrata. Embora vossa companhia
me fosse muito grata.
CARPINTEIRO: Ostrinhas?! Ostrinhas?!

O CARPINTEIRO, PERCEBENDO QUE A FOCA COMERA TODAS AS OSTRAS, ENFURECIDO CORRE


ATRÁS DELA E OS DOIS SAEM DE CENA.

CENA 6 - GÊMEOS FINAL

ALICE: Nossa! Que história mais cavernosa!


GÊMEOS: É, mas a história tem uma moral.
ALICE: É. É verdade, se a gente fosse uma ostra. OK, mas agora eu vou indo.
GÊMEOS: Que tal uma outra historinha?
ALICE: Ah, cara, foi mal, mas eu tenho que...
GÊMEOS: A história do garoto que fugiu de casa.
ALICE: Não. Na boa, gente! Eu preciso ir...
GÊMEOS: Oh, não vá, menina! Ainda temos muitas histórias, como você disse, “cavernosas”
para te contar!... (SUSPIRANDO ALTO) Está bem, então. Mas, cuidado por aí! Nunca se sabe,
né? (SAEM DE CENA)

CENA 7 - JARDIM DAS FLORES

ALICE ANDA MAIS UM POUCO PELO BOSQUE E ENCONTRA UM ENORME JARDIM DE FLORES
DE VÁRIOS TIPOS. SURGEM BORBOLETAS DE FATIAS DE PÃO ESVOAÇANDO PELO PALCO E
GIRANDO AO REDOR DE ALICE.
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ALICE: Que borboletas engraçadas.


ROSA: São fatias de pão integral com geleia natural.
ALICE: Ah, sim, claro. O que? Quem teria falado?

UMA MOSCA EM FORMATO DE CAVALO DÁ ALGUMAS VOLTAS EM ALICE.

ALICE: Que mosca. Quer dizer, moscavalo.


ROSA: Naturalmente... Existem muitos moscavalos por aqui.
ALICE: Oh, desculpe, minha senhora, mas isso é tolice. Flores não falam.
ROSA: Nós falamos sim, queridinha.
MARGARIDA : É, mas a gente só fala cás colega, ném?
TULIPA : Ou então contar os babados!
VIOLETA : Mas nós também cantamos, tá?
TULIPA : É mesmo! Quer ouvir a balada das tulipas? Posso cantar pra você!
MARGARIDA: Ou se preferir, posso cantar a música das margaridas!
VIOLETA: Ah, não! Chatão! Só aceito o heavy metal das violetas! Isso, porque nós violetas
somos muito violetas, hein!
CRAVO: Ah, não! Não tem a menor graça. Uma berraria danada. Cruz-credo! E ainda deixa o
jardim todo agitado!
TREVO: É. Tá difícil a gente se acertar aqui, né? Acho que tá faltando romantismo?
TULIPA: Ah, trevo! Você nem é flor! A gente só te deixa ficar aqui no jardim, porque você é tão
bonitinho, que parece uma flor verde.
TREVO: Pô, já ia reclamar e falar que era bullying, mas aí você disse que sou bonitinho...
JASMIM: Ih, alá! O trevo ficou vermelhinho de vergonha!
TREVO: Ih! Fiquei nada, tá?
JASMIM: Há! Há! Há! Ficou sim! Olha só, gente!
TODAS: Há! Há! Há! Há!
ROSA: Quietas! Vamos deixar de bobeira e juntas cantaremos o rock das flores. Fala de todas
nós e não tem porque ninguém reclamar. Faz um riff aí, Lili.

ROCK DAS FLORES

Borboletas e tulipas se beijam


E enchem a terra de alegrias mil
Como as flores no jardim vicejam
Como o céu primaveril
Tantas flores, tantas cores vibrando
Tantas violetas a cantar
As tigrinhas e os leões brincando
Tudo vão, se há sonhar

As lagartas da floresta
Brigam como cão gato
Margaridas boas-vindas
Na rede a sonhar
Sonhar...

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Tudo pode-se aprender entre as flores


Sobretudo aquelas em botão
Quem aspira o aroma dessas flores
Sente o bater do coração

Tudo pode-se aprender entre as flores


Sobretudo aquelas em botão
Quem aspira o aroma dessas flores
Sente o bater do coração

oh ohhhh

ALICE: Po, foi irado, aí!


ROSA: Valeu, nega!
MARGARIDA: Em que jardim você se esconde?
ALICE: Ah, eu não me "escondo" em nenhum jardim.
TULIPA: Vocês acham que ela é flor do mato?
ALICE: Ah, não. Não sou uma flor do mato.
VIOLETA: De que espécime do babado você é, hein, BB?
ALICE: Eu suponho seja genus humanus Alice!
CRAVO: Já viram uma Alice dar uma flor assim?
MARGARIDA: É, pensando bem: você já bateu de frente com alguma Alice por aí?
TULIPA: É... Será que cortaram as pétalas dela?
JASMIM: Que cor mais esquisita. E sem perfume. Acho até que tá com CC.
ALICE: Como é que é?!
CRAVO: Olhe só para os gambitos dela.
VIOLETA: Parece uns palitinhos, né?
ROSA: Eu até que acho ela bonita.
TULIPA: Ah, Rosinha, fala sério! Deixa de ser do contra!
ALICE: Mas eu não sou flor.
MARGARIDA: A-há! Sabia que ela tava escondendo alguma coisa! Deve ser uma X-9. Ela não
passa de uma mobilivulgari.
TODAS: Ah, não!
ALICE: De uma o quê?!
JASMIM: Para ser franca: um reles “matinho”.
ALICE: Não sou matinho nenhum, tá?
VIOLETAS: Não adianta esconder a parada! Entrega logo o suspeito, antes que a gente fique
ainda mais violetas! Porque nós somos muito violetas, hein? Violetas demais!
TULIPA: Isso mesmo!
CRAVO: Se você ficar aqui, vai alastrar e ficar aquele matagal horrível!
TULIPA: Não queremos flor de mato aqui.
ROSA: Calma, colegas... Sem violetas! Sem violetas!
TODAS: Sai fora!! Sai! Vai saindo!

ALICE VAI SE AFASTANDO DAS FLORES, ENQUANTO FALA E ENTRANDO NA FLORESTA.

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ALICE: Ah, querem saber? Podem pensar o que quiserem. Se eu fosse grande como antes,
arrancava vocês uma por uma, pra vocês aprenderem. A gente aprende muito com as flores...
Humpf! Coisinhas irritantes e mal-educadas! Se acham muito!

CENA 8 - A LAGARTA AZUL

ALICE COMEÇA A ESCUTAR UMA MÚSICA E VAI PERCEBENDO QUE A FLORESTA AO REDOR
ESTÁ GANHANDO UMA COLORAÇÃO ESTRANHA E PSICODÉLICA. UMA LAGARTA AZUL ESTÁ
SOBRE UM COGUMELO E CANTA SUMMERTIME (JANIS JOPLIN), EM MEIO À NUVENS DE
FUMAÇA COLORIDA. OUTRAS LAGARTAS HIPPIES DANÇAM AO REDOR DO COGUMELO E DE
ALICE, QUE FICA IMPRESSIONADA COM TUDO AO REDOR E SE DEIXA LEVAR PELOS
DANÇARINOS, DE UM LADO PARA O OUTRO. ASSIM QUE A MÚSICA TERMINA, A LAGARTA
AZUL OLHA PARA ELA.

LAGARTA: Quem é você, baby?


ALICE: E-e-eu já nem sei, sabe? Mudei tantas vezes desde hoje de manhã, que...
LAGARTA: Hm... Este mundo pode ser bastante confuso, quando não se sabe observá-lo
calmamente. Eu nada vejo, mas... enxergo muita coisa. Como você vê?
ALICE: Ó! Foi mal, mas tá difícil. To me sentindo tão estranha... Acho que to ficando meio doida
com tudo isso. Não tá vendo?
LAGARTA: Eu nada vejo, além do que acabo de ver, o que vai muito além do que todo mundo
vê. Se você tentar ser mais você mesma, talvez veja mais do que consegue enxergar.
ALICE: Não sei como vou explicar, pois, para mim, tá tudo muito confuso.
LAGARTA: Tu? Quem és tu? Uma simples pergunta, mas com uma resposta tão difícil.
ALICE: É... Nunca pensei que seria tão difícil saber quem eu sou de fato. Mas... Primeiro não
devia me dizer o seu nome?
LAGARTA: Por quê? Pra que nome? Afinal, eu sei bem quem eu sou e o nome nada significa. E
de que adianta saber meu nome, se não sabes nem quem és?
ALICE: Ai, ai. Tudo aqui é tão confuso.
LAGARTA: Não é não.
ALICE: Pois pra mim é, sim.
LAGARTA: Por quê?
ALICE: Já não posso lembrar das coisas como antigamente.
LAGARTA: Hum... Curioso...
ALICE: Hein? O que é curioso?
LAGARTA: Além de não saberes nada, também não lembras quem és. Talvez seja mais um
ninguém como tantos por aí.
ALICE: Oh! Mas é claro que sou alguém!
LAGARTA: Tu? Então... Quem és tu?
ALICE: Ai... Esse papo tá parecendo que tá dando voltas e não chega a lugar nenhum. Quer
saber? Isso aqui tá papo cabeça demais pra mim. Até mais...

ALICE VAI SAINDO DE CENA.

LAGARTA: Ei, baby! Menina! Espera! O mais importante de tudo é saber quem é você, muito
além desta simples menina que se vê. Todo o resto nada significa, se não souberes quem és de

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verdade, pois o segredo do universo está dentro de cada um de nós. Você precisa olhar pra
dentro de si mesma, baby. Olhar bem fundo...

CENA 9 - MISTER GATO

ALICE CONTINUA CAMINHANDO PELA FLORESTA. MÚSICA INCIDENTAL ESTRANHA, MAS NÃO
EXATAMENTE ASSUSTADORA.

VOZ EM OFF: Perdeu algo?

FALA ALGUÉM EM OFF. ALICE OLHA AO REDOR, SEM SABER AO CERTO DE ONDE VEM.

ALICE: Não, não. Isto é, eu estava pensando por...


VOZ EM OFF: Estou muito bem. Ah, um momentinho.

O GATO APARECE.

ALICE: Oh, você é um gato...


GATO: Mister gato. Gatinho para os íntimos. (VAI SAINDO, ENQUANTO CANTAROLA UMA
MELODIA)
ALICE: Ei, espera aí! Não vá! Espera!
GATO: Muito bem. Que tal um verso felino ou, talvez, ferino?
ALICE: Oh, não, não. Obrigada, mas eu só queria saber que caminho que eu pego.
GATO: Ah, mas isso depende do lugar aonde quer ir...
ALICE: Ah, realmente não importa, desde que eu...
GATO: Não importa que caminho tomar? Então, qualquer um serve, já que não chegarás a lugar
nenhum. Mas, oh, vamos ver... Se você quer saber, ele foi por ali.
ALICE: Ele quem?
GATO: O coelho branco?
ALICE: Foi?
GATO: Foi o quê?
ALICE: Foi por ali?
GATO: Quem foi?
ALICE: O coelho branco.
GATO: Que coelho?
ALICE: Mas não me disse que... Ai, que saco!
GATO: Olhai, se fosse eu quem procurasse o coelho branco, iria ao chapeleiro louco.
ALICE: Ele é louco? Ah, não! Não quero nada com mais loucuras.
GATO: Ou então à lebre naquela direção.
ALICE: Obrigada, então vou ver no que dá isso.
GATO: É... Ela também é maluca.
ALICE: Mas eu não quero ver gente maluca e estranha. Eu quero ver alguém normal, para
variar.
GATO: Oh, mas isso você não pode evitar. Tudo aqui é maluco e estranho. Afinal, o que é ser
realmente normal? Normal, normal, normal... Que coisa mais chata! Até a palavra é chata. E
você não notou que eu estou mais pra lá do que pra cá?
ALICE: Hum... Você é engraçado, mas também é muuuuito estranho.
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ALICE Wonderland Uma Aventura Pop/Rock Alexander Zimmer

GATO: Oh, mas isso é porque eu realmente sou estranho, BB.


ALICE: BB?

EU SOU ESTRANHO

Minha cabeça pode girar


E isso sempre é de matar
É claro que, é claro que
Eu sou estranho

Fui pescar um bacalhau


Pra comer só no natal
É claro que, é claro que
Eu sou estranho

Quando eu era só um gatinho


Eu nunca fui um bicho muito sério
Porque eu sou um gato risonho
E pra você eu sou um mistério

Tenho um travesseiro de penas


Mas na relva durmo apenas
É claro que, é claro que
Eu sou estranho

Um cão rosna quando bravo ficou


Eu rosno de contente que estou
É claro que
É claro que
Eu sou estranho

ALICE: Que coisa. Se todos aqui são assim, é melhor não contrariar. Esse tal de Mister Gato é
uma figura.

CENA 10 - A MESA DE CHÁ

ALICE ESCUTA UMA MÚSICA QUE VAI AUMENTANDO. É DESANIVERSÁRIO EM FORMA DE


LÁRÁRÁ. ENTRA EM CENA, JUNTAMENTE COM A MUDANÇA DE CENÁRIO NA PROJEÇÃO, A
MESA COM O CHAPELEIRO E A LEBRE. ALICE SE APROXIMA E SENTA NUMA CADEIRA.

DESANIVERSÁRIO

Um bom desaniversário pra mim


Pra quem?
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Pra mim.
Pra ti.

Um bom desaniversário pra ti.


Pra mim?
Sim sim.
Ó sim!

Vamos cumprimentarmos com uma xícara de chá


Um desaniversário pra tiiiii!

ALICE APLAUDE. O CHAPELEIRO E A LEBRE PERCEBEM A INTRUSA.

CHAPELEIRO: Olha, isso tá cheio!


LEBRE: É, tá muito cheio!
CHAPELEIRO E LEBRE: Ta cheio! Muito cheio! Ta cheio demais!
ALICE: Mas eu acho que há muito lugar.
LEBRE: Ah, mas é muito feio sentar sem ter sido convidada.
CHAPELEIRO: É muito feio! É muito, muito feio! É sim!
RATO: Muito, muito, muito feio. É sim.
ALICE: Olha, desculpa, mas gostei de vocês cantando e acho que...
LEBRE: Você gostou de nos ouvir?
RATO: Ora, Ora! Ela gostou de nos ouvir!
CHAPELEIRO: Oh, que encanto de menina. Fiquei muito emocionado com isso. Tão emocionado
que... Acho que... Tem que... tomar uma xícara de chá.
LEBRE: Ah, sim, sim. Isso, chá. Uma xícara de chá.
ALICE: Ah, muito obrigado! Desculpe por interromper seu chá de aniversário. Obrigada.
LEBRE: Aniversário? Há! Há! Não, senhorita menininha bonitinha chiquitinha pitulinha
xuxuquinha titizinha. Não é chá de aniversário, não.
CHAPELEIRO: Claro que não. Há! Há! Há! É um chá de desaniversário.
ALICE: Desaniversário? Olha, desculpa, mas não entendi nada.
LEBRE: É muito simples. Bom, setembro tem trinta di... Não, bem. Um desaniversário é... Se não
lhe damos parabéns, aí... Há! Há! Há! Ela não sabe o que é um desaniversário.
CHAPELEIRO: Que tolice. Oh, eu vou elucidar. As estatísticas provam que só há um aniversário.
LEBRE: Oh, um somente em cada ano e nada mais!
CHAPELEIRO: Ah! Mas há trezentos e sessenta e quadro desaniversários!
LEBRE: Por isso, nós vamos encher a cara de chá! Vamos encher a cara de chá!!!!
ALICE: Então hoje é meu desaniversário?
LEBRE: Oh, é.
CHAPELEIRO: Oh, que coincidência.
LEBRE: Bem, nesse caso.

DESANIVERSÁRIO

Um bom desaniversário pra mim


Pra quem?
Pra mim.
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Pra ti.

Um bom desaniversário pra ti.


Pra mim?
Sim sim.
Ó sim!

Vamos cumprimentarmos com uma xícara de chá


Um desaniversário pra tiiiii!

ALICE: Oh, isso foi maneiro demais! Adorei!


CHAPELEIRO: Oh, menina, você disse que queria que alguém... Perdão. Que veio aqui atrás de
uma informação especial, daquelas mais importantes do que as outras. Assim como uma super
informação diferente e cheia de qualidades e, talvez até mesmo com algumas lantejoulas, um
pouco de purpurina e vários holofotes apontados para ela, para dar um brilho legal à
informação especial.
ALICE: Olha, acho que não precisa de tudo isso, mas é importante, sim. É que eu procuro um...
CHAPELEIRO: Outra xícara, outra xícara. Mais chá!
ALICE: Mas nem usei minha xícara.
LEBRE: Mais chá, mais chá, mais chá! E mude logo de lugar! (PEQUENA COREOGRAFIA E
MÚSICA)
CHAPELEIRO: Você não quer tomar mais chá?
ALICE: Mas eu ainda não tomei nenhum! Como posso tomar mais?
LEBRE: Ah, isto é! Pelo menos, não pode tomar menos, pois menos que nada é nada.
CHAPELEIRO: É... É muuuuuuuito mais fácil tomar mais, do que nenhum.
ALICE: Mas eu acho é que...
CHAPELEIRO: Agora, queridinha, pela sua carinha e todas estas ondinhas na tua testinha, vejo
que está preocupadinha. Não quer dizer do que está atrás nesta sua... procurinha?
LEBRE: Comece do princípio do começo do início.
CHAPELEIRO: É, é! E, quando chegar ao fim, ao desenlace, ao derradeiro final, pare, sim?
ALICE: Tá... OK... Tudo começou quando eu estava voltando da escola.
LEBRE: Oh, da escola! Claro! Tinha que ser da escola! Muito interessante... Quem é uma escola?
ALICE: Escola é onde a gente vai para estudar, aprender coisas. E eu...
RATO: Escola?! Escola! Escola! Escola! Escola! Escola!

O RATINHO SAI DE DENTRO DO BULE E COMEÇA A CORRER. UMA TREMENDA CONFUSÃO,


ONDE TODOS TENTAM PEGAR O RATINHO (COREOGRAFIA COM UMA MÚSICA MALUCA DE
PERSEGUIÇÃO DE PALHAÇOS DE CIRCO), ATÉ QUE CONSEGUEM.

CHAPELEIRO E LEBRE: Pega! Pega! Pega ele! Vamos! Passe geleia no nariz dele, no nariz dele.

ALICE PEGA A GELEIA E PASSA UM POUCO NO NARIZ DO RATINHO, QUE SE ACALMA.

RATO: Ai, ai... Geleia... Adooooro geleia!

ELES COLOCAM NOVAMENTE O RATINHO DENTRO DO BULE.

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ALICE Wonderland Uma Aventura Pop/Rock Alexander Zimmer

CHAPELEIRO: Oh, que barulho. São essas escolas de hoje que me põem nervoso, uma pilha de
nervos, verdadeiramente louco, estressado, danado da vida, completamente desequilibrado!
LEBRE: Viu só o que você fez?
ALICE: Mas o que é que eu fiz afinal? Eu nem pensei...
LEBRE: Oh, mas isso é importante. Quem não pensa, não fala.
CHAPELEIRO: Mais chá, mais chá. Muda logo, muda logo de lugar.
ALICE: Mas ainda não usei minha xícara...
LEBRE: Muda, muda, muda, muda, de lugar. Mais uma xícara de chá para a visitanteeee!
(SERVE MAIS UMA XÍCARA À ALICE)
CHAPELEIRO: Vamos, vamos, meu bem. Você não gosta de chá?
ALICE: Ah, sim, gosto muito de chá.
LEBRE: Se você não gosta de chá, poderia pelo menos conversar, não é? Fica aí, caladinha!
ALICE: Desde que cheguei, quis perguntar...
LEBRE: Tenho uma excelente ideia: vamos mudar de assunto.
CHAPELEIRO: Por que um corvo se parece com a mesa?
ALICE: Uma charada? Hum... Vamos ver... Por que um corvo se parece com a mesa?
CHAPELEIRO: O que foi que disse?
ALICE: Por que um corvo se parece com a mesa?
CHAPELEIRO: Por que o quê?!
LEBRE: Cuidado! Ela está louca varrida! Maluca de pedra! Lelé da cuca! Com um parafuso a
menos! Pancadona!
RATO: Louca! Louca! Muito louca! Zuretona!
ALICE: Mas é a sua adivinhação. Você disse...
CHAPELEIRO: Calma, não se exalte. Procure manter a calma. Relaxe. Respire... (PARA O
PÚBLICO) O médico disse para não contrariar.
LEBRE: Tenta beber um pouco de chá.
ALICE: Um pouco de chá?! Olha, me desculpe, mas já tá na hora de eu ir.
LEBRE: A hora... Hum, que horas são?

SURGE NOVAMENTE O COELHO BRANCO.

COELHO: Não, não, não, não. É tarde! É tarde! É tarde! Alô, amigos! Adeus, amigos! É tarde! É
tarde!
ALICE: O coelho branco!
COELHO: Oi, to atrasado. Já perdi muito, muito tempo.

AO PASSAR PELO CHAPELEIRO, ESTE PEGA O RELÓGIO DAS MÃOS DO COELHO.

CHAPELEIRO: Não me admira que esteja. Este relógio está atrasado dois dias.
COELHO: Dois dias só?!
CHAPELEIRO: Claro que sim. Meu Deus, vamos ver qual é o defeito.

O CHAPELEIRO ABRE O RELÓGIO.

CHAPELEIRO: A-ha! Mas é claro! O defeito é que esse relógio está cheio de molas e rodinhas.

O RELÓGIO DESMONTA NA MÃO DO CHAPELEIRO, QUE SE DIVERTE COM ISSO.

COELHO: Meu pobre relógio. As molas, as rodas. Ma-ma-ma-ma...


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ALICE Wonderland Uma Aventura Pop/Rock Alexander Zimmer

CHAPELEIRO: Marteloa? Claro, precisa de martelo. Martelo!


LEBRE: Martelo!
RATO: Martelo!
COELHO: Martelo?
CHAPELEIRO: Martelo? Oh, obrigado. Martelo, ótimo. (DÁ UMAS PANCADAS COM O MARTELO
NAS ENGRENAGENS)
COELHO: Não, não, não. Não, não, não. Espera.
CHAPELEIRO: Oh, esse martelo é da melhor qualidade. Por que está resmungando?
LEBRE: Chá.
CHAPELEIRO: Chá? Sim! Um pouquinho de chá será ótimo. (PEGA O BULE E VIRA CHÁ DENTRO
DO RELÓGIO)
COELHO: Não, chá não.
LEBRE: Açúcar?
CHAPELEIRO: Duas colheres. Ah, duas colheres, obrigado. (COLOCA AÇÚCAR DENTRO DO
RELÓGIO)
COELHO: Por favor, cuidado.
CHAPELEIRO: Geleia.
COELHO: Geleia?
CHAPELEIRO: Ia esquecendo da geleia. Nunca sei onde tenho a cabeça. (COLOCA GELEIA)
LEBRE: Mostarda?
CHAPELEIRO: Mostarda. É. Mos... Mostarda?! Não seja bobo. Imagine só, colocar mostarda
num relógio! Que coisa mais absurda! (FAZ CARA DE DESAPROVAÇÃO, COMO SE FOSSE A
COISA MAIS ABSURDA E PEGA O LIMÃO) Limão! Tem que botar é limão! Agora sim! Pronto! Ta
consertado.

O RELÓGIO COMEÇA A FAZER BARULHOS ESTRANHOS E A SALTITAR EM CIMA DA MESA.

CHAPELEIRO: O que é isso?!


LEBRE: O relógio ficou maluco!
ALICE: Oh, meu Deus.
COELHO: Que horror!
LEBRE: Ta maluco, ta maluco!
CHAPELEIRO: Não consigo compreender. Usei o martelo. Talvez o chá estivesse muito quente.
LEBRE: Ta maluco! Faça ele parar!

A LEBRE PEGA UMA MARRETA E ACERTA O RELÓGIO.

CHAPELEIRO: Dois dias para... Ah, que pena... Não tem conserto.
COELHO: Oh, meu relógio.
CHAPELEIRO: Era seu?
COELHO: Era. Foi presente de desaniversário.
CHAPELEIRO: Oh, nesse caso...

DESANIVERSÁRIO

Um bom desaniversário pra mim


Pra quem?
Pra mim.
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ALICE Wonderland Uma Aventura Pop/Rock Alexander Zimmer

Pra ti.

Um bom desaniversário pra ti.


Pra mim?
Sim sim.
Ó sim!

Vamos cumprimentarmos com uma xícara de chá


Um desaniversário pra tiiiii!

O CHAPELEIRO E A LEBRE COMEÇAM A CANTAR DESANIVERSÁRIO, ENQUANTO TIRAM A


MESA DE CENA.

CENA 11 - ALICE CHORA - MISTER GATO 2

ALICE RESPIRA FUNDO E VAI ATRÁS DO COELHO BRANCO, MAS ELE JÁ SUMIU NOVAMENTE.

ALICE: Coelho, ô coelho! Pra onde será que ele foi? Nunca vi tanta maluquice junta. Este é o chá
mais idiota que eu já vi em toda minha vida. Eu to de saco cheio de tanta maluquice. Vou pra
casa, agora mesmo. Esse coelho... Não me importa mais pra onde ele foi! Ó, se não fosse por
ele, eu... Que lugar estranho. É, vamos ver. Chegando em casa vou escrever um livro sobre isto
aqui, Se eu... Se eu conseguir sair desse lugar algum dia. Ai, ai, está ficando escuro. E onde será
que eu estou? Daria tudo para sair deste lugar. Seria tão bom se tudo voltasse a ser como era
antes. Oh! O que é que eu tinha que ir atrás daquele coelho? Acabou que não tinha show
nenhum e nem festa. Queria tanto poder voltar pra casa... Vou por aqui? Vou por ali? Vou por
acolá? Ai, não, não... Estou perdida. Mas, se eu parar, eu acho que o melhor é ficar no mesmo
lugar até que alguém me ache. Mas... Mas... Mas quem é que vai pensar em vir me procurar
aqui. É um bom conselho, mas, se eu tivesse juízo não estaria aqui. Comigo é sempre assim.

Muito juízo, sempre, sempre, eu digo...


Mas eu nunca sigo, as coisas que eu digo para mim...
Paciência. Eis um conselho bom. Mas eu sou tão curiosa.
Se não fosse assim, tudo estaria bem...

ALICE: (CHORANDO) Pois é. Lá ia eu feliz da vida, tão despreocupadamente. E, de repente, eu


percebo que me enganei. Sim. Não sei... Muito digo, mas eu nunca consigo ter paciência... Mas
também, bem feito! Que é para eu aprender.

O GATO APARECE.

ALICE: Mister gato, é você!


GATO: E quem esperava? O coelho branco por acaso?
ALICE: Oh, não, não, eu não quero mais o coelho. Estou cansada. Eu quero é ir pra casa, mas
não sei qual é o caminho.
GATO: Naturalmente, é porque você não pode. Tudo aqui como você vê é da rainha.
ALICE: Mas nunca vi nenhuma rainha.
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ALICE Wonderland Uma Aventura Pop/Rock Alexander Zimmer

GATO: Não viu? Nunca viu? Oh, mas deve. Ela ficará louca, louca... louca por você.
ALICE: Mas... Mas... Como vou encontrá-la?
GATO: Uns vão por aqui, outros por ali, mas eu, particularmente, prefiro por aqui.

O GATO ABRE UMA PASSAGEM E ALICE PASSA POR ELA.

CENA 12 - A RAINHA

ALICE VAI PARAR NUM JARDIM ENORME. DE REPENTE, TROMBETAS ANUNCIAM A CHEGADA
DA RAINHA.

ALICE: Ai, meu Deus… O que será isso agora?

AO SOM DE UMA FANFARRA, ENTRAM VÁRIAS CARTAS FAZENDO UMA COREOGRAFIA


MILITAR DANÇADA (VERSÃO POP DA MÚSICA ORIGINAL DO DESENHO)

COELHO: Carta! Posição! Contar! Imperial artista, sua graça, sua excelência, sua real majestade:
a rainha de copas... E o rei.

ROCK DA RAINHA

Plebeus, abram espaço!


Sejam bonzinhos! Curvem-se direito!
Mostrem respeito, pois devo dizer!
Se pensas o contrário, melhor se conter
Porque...

Sou a Rainha de Copas


Espero que me obedeças
Senão fico irritada
E corto as cabeças!

Há! Há! Há! Há! Há!


Corto as cabeças!

Há! Há! Há! Há! Há!


Corto as cabeças!

Tudo nesta terra me pertence


Seria prudente não esquecer
Me contraria, nem sequer pense
Para eu não me aborrecer
Porque...

Sou a Rainha de Copas


Espero que me obedeças
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ALICE Wonderland Uma Aventura Pop/Rock Alexander Zimmer

Senão fico irritada


E corto as cabeças!

Há! Há! Há! Há! Há!


Corto as cabeças!

Há! Há! Há! Há! Há!


Corto as cabeças!

A RAINHA VÊ ALICE E SE APROXIMA COM CARA DE ESTRANHAMENTO.

RAINHA: Quem é isto?


REI: Ah, deixe-me ver, meu bem. Certamente não é copas. Será do naipe de paus?
RAINHA: Oh, é uma menina.
ALICE: Sou, eu só espero...
RAINHA: Olha para mim! Fala direito! Para com essas mãos! Fica em posição! Cortesia! Abre a
boca um pouco mais e diga sempre: Oh, majestade.
ALICE: Sim, oh, majestade.
RAINHA: De onde é que vieste, para onde vais?
ALICE: É que... Quero encontrar meu caminho.
RAINHA: Seu caminho?! Tudo aqui é meu! Só meu!
ALICE: Sim, eu sei, mas estava pensando...
RAINHA: Cumprimenta enquanto pensa, poupa tempo.
ALICE: Oh, sim, majestade. Mas eu ia perguntar.
RAINHA: Sou eu que pergunto! Tu jogas golf?
ALICE: Oh, sim, majestade.
RAINHA: Comecem com o jogo!
REI: Em seus lugares, para os lugares! Ordens do rei, vamos, vamos, vamos! Baralhar! Cortar!
Dar cartas! (COREOGRAFIA)
RAINHA: Silêncio!

RAINHA FAZ SUA JOGADA. SOM ENGRAÇADO DA BOLINHA PERCORRENDO O CAMINHO E


CAINDO NO BURACO. TODOS OS SÚDITOS FAZEM FESTA.

RAINHA: E, agora, tu!


ALICE: Mas... eu-eu.
RAINHA: Ó, meu bem... Jogue!

ALICE FAZ SUA JOGADA. SOM DA BOLINHA INDO, MAS ERRANDO O BURACO. TODAS AS
CARTAS RIEM. O GATO APARECE ATRÁS DA RAINHA.

GATO: Olá. Deu-se bem com ela?


ALICE: É ruim, hein?
GATO: Como é?
ALICE: Eu disse: é ruim! Significa que não.
RAINHA: Ó, com quem falas tu?
ALICE: Com o gato, majestade.

O GATO SE ESCONDE.
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ALICE Wonderland Uma Aventura Pop/Rock Alexander Zimmer

RAINHA: Gato?! Onde?!

O GATO APARECE NOVAMENTE, QUANDO A RAINHA NÃO ESTÁ OLHANDO.

ALICE: Ali! Ele voltou!

O GATO FAZ GRACINHAS O TEMPO TODO, TOMANDO O CUIDADO DE SE ESCONDER,


QUANDO A RAINHA OLHA.

RAINHA: Vou avisar-te. Se eu perder a calma, perdes a cabeça! Entendeste?!


GATO: Ei, tive uma ideia! Nós poderíamos irritá-la. Vamos tentar?
ALICE: Oh, não, não. Por favor! Não faça isso!
GATO: (MALICIOSAMENTE) Oh, vai ser tão divertido.
ALICE: Oh, não!

O GATO A EMPURRA E ELA LEVA UM TOMBO ENORME. TODA A CORTE ENLOUQUECE.

COELHO: Ai, pelos meus bigodes!


REI: Acudam! Salvem a rainha!
RAINHA: Alguém perderá a cabeça por causa disso! Tu! Cortem a cabeça...
REI: Mas considere, meu bem. Não podemos, hã... Formar um júri, primeiro?
RAINHA: Júri?!
REI: É... Um jurizinho só, hein?
RAINHA: Ora, Ora... Está muito bem.

ENTRAM OS JURADOS: PAPAGAIO, DODÔ E ABÍLIO.

RAINHA: Podem começar o julgamento!

CENÁRIO MUDA COM MÚSICA INCIDENTAL, ALGUNS RIFFS DE GUITARRA E UMA MARCHA NA
BATERIA.

CENA 13 - JULGAMENTO DE ALICE

ENTRA O CENÁRIO DO JULGAMENTO. RAINHA E REI EM SEUS TRONOS. O COELHO


DESENROLA O PERGAMINHO DA ACUSAÇÃO, UM PERGAMINHO ENORME, CUJO ROLO SAI
ROLANDO PELO CHÃO.

COELHO: Ó, majestade. Senhores jurados, fiéis súditos... E o rei. A prisioneira é acusada de


instigar sua majestade, a rainha de copas, a jogar golf e aí, propositadamente, com intuitos
maléficos, maltratou, atormentou, irritou a nossa majesta...
RAINHA: Pare de falar! Chegue ao ponto em que eu perdi a calma.
COELHO: E, assim, forçando a rainha a perder a calma.
RAINHA: Queres ouvir a sentença?
ALICE: Sentença? Ó, primeiro vem o veredito.
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ALICE Wonderland Uma Aventura Pop/Rock Alexander Zimmer

RAINHA: Sentença primeiro! O veredito depois...


ALICE: Mas não é assim que se faz.
RAINHA: Quem manda aqui?
ALICE: Sois vós, majestade.
RAINHA: Sim, meu bem... Hum... Cortem-lhe a...
REI: Mas escute, meu bem, e as testemunhas? Podemos chamar uma ou duas, hein?
RAINHA: Oh, está bem, mas vamos logo com isso!
REI: Primeira testemunha, primeira testemunha, tragam a testemunha! A lebre maluca!

ENTRA A LEBRE MALUCA.

REI: O que é que você sabe a respeito deste horrível incidente?


LEBRE: Nada.
RAINHA: Nada de nada?!
LEBRE: Nada de nada! Nadica de nada mesmo. Assim, nadinha, nadinha.
RAINHA: Muito importante! Jurados, tomem nota.
JURADOS: Nada de nada! Nadica de nada mesmo. Assim, nadinha, nadinha.
ALICE: Se isso é importante, sua majestade, sinceramente...
RAINHA: Silêncio! Outra testemunha.
REI: Ratinho.
RAINHA: Ei! Que sabes a esse respeito?
RATO: Brilha, brilha morceguinho. Brilha bem de...
RAINHA: É muito importante o depoimento que acabamos de ter. Tomem nota!
TODOS: Brilha, brilha, brilha, brilha.
ALICE: Aff!... Vê se pode.
REI: Chapeleiro!
RAINHA: Tire essa cartola!
CHAPELEIRO: Que coisa.

CHAPELEIRO TIRA A CARTOLA E EM CIMA DE SUA CABEÇA ESTÁ UMA XÍCARA DE CHÁ, QUE
ELE PEGA E BEBE, ENQUANTO FALA.

REI: E onde estavas quando este crime foi cometido?


CHAPELEIRO: Bebendo chá em casa. Hoje, sabe, é o meu desaniversário.
REI: Oh, meu bem, também é o seu desaniversário.
RAINHA: É?
CHAPELEIRO E LEBRE: Oh, é!

TODOS CANTAM E DANÇAM. ALICE COM CARA DE ENFADO.

DESANIVERSÁRIO

Um bom desaniversário pra mim


Pra quem?
Pra mim.
Pra ti.

Um bom desaniversário pra ti.


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ALICE Wonderland Uma Aventura Pop/Rock Alexander Zimmer

Pra mim?
Sim sim.
Ó sim!

Vamos cumprimentarmos com uma xícara de chá


Um desaniversário pra tiiiii!

O CHAPELEIRO DÁ UMA CAIXA DE PRESENTE PARA A RAINHA, QUE ABRE E É UMA LINDA
COROA. ELA TIRA A ANTIGA E COLOCA A NOVA. O GATO APARECE POR TRÁS DELA.

ALICE: Oh, majestade.


RAINHA: Sim, meu bem?
ALICE: Olhe, ele voltou!
RAINHA: Quem?
ALICE: O Mister Gato.
RAINHA: Gato?
RATO: Gato, gato, gato, gato, gato.

COMEÇA UMA ENORME CONFUSÃO E TODO MUNDO TENTANDO PEGAR O RATINHO.

CHAPELEIRO E LEBRE: Pega, pega! A geleia, a geleia!


REI: A geleia, a geleia, por ordem do rei.
RAINHA: A geleia, atirem aqui! A cabeça de alguém rolará por causa disto!

ESBARAM EM ALICE, JOGAM-NA NO CHÃO, PEGAM-NA NO COLO, JOGAM-NA DO OUTRO


LADO E ALICE COMEÇA A FICAR IRRITADA COM A CONFUSÃO.

ALICE: Ai, não aguento mais essa loucura toda! (PERDENDO A PACIÊNCIA)
CHEGAAAAAAAAAAA!!!! Quem a senhora pensa que é, hein, Majestade? Ah, fala sério! Esse
julgamento maluco é uma farsa. E a senhora não é uma rainha. Não passa de uma velha louca,
boba, malcriada e tirana.
RAINHA: (EXTREMAMENTE IRRITADA) Como é que é?
GATO: Oh, simplesmente que é um velha, boba, malcriada e tirana.
RAINHA: Cortem-lhe a cabeça!
REI: Cortem-lhe a cabeça! Ouviram o que a rainha disse! Cortem-lhe a cabeça!
RAINHA: Cortem a cabeça, cortem a cabeça.

ALICE SAI CORRENDO E COMEÇA NOVAMENTE UMA TREMENDA CONFUSÃO, ONDE TODOS
TENTAM PEGAR ALICE, QUE FOGE DE UM LADO PARA O OUTRO – UMA GRANDE
COREOGRAFIA AO SOM DE “CALL ME”, DA BLONDIE.

CHAPELEIRO: Um momento, não pode deixar um chá sem ter bebido um pouco, não é?
ALICE: Mas, mas... Não posso parar!
CHAPELEIRO E LEBRE: Nós insistimos, tem que tomar um gole de chá!
RAINHA: Cortem a cabeça!
ALICE: O quê que eu devo fazer?
RAINHA: Ela! Não deixem fugir! Cortem a cabeça!
MAÇANETA: Oh, ainda estou fechado, não vê?
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ALICE Wonderland Uma Aventura Pop/Rock Alexander Zimmer

ALICE: Mas a Rainha... Eu preciso passar para o meu mundo.


MAÇANETA: Mas você já está lá fora.
ALICE: O quê?
MAÇANETA: Olhe pelo buraco da fechadura.
ALICE: Oh, sou eu. Eu estou dormindo! Alice, acorde, por favor! Alice!
LUÍZA: Alice! Alice!
ALICE: Hã? Que? Você precisa olhar pra dentro de si mesma, baby. Olhar bem fundo...
LUÍZA: Alice, onde foi que aprendeu isso?
ALICE: Foi a lagarta quem me disse.
LUÍZA: A lagarta?! Ai, Alice, você viaja muito na maionese. Alice, eu... Oh, vamos. Vem! Vamos
embora. Está na hora do chá.

AS DUAS VÃO SAINDO. ALICE PARA, VOLTA UM POUCO, OLHA PARA A PLATEIA, SORRI E
PISCA UM DOS OLHOS. DEPOIS SAI CORRENDO, AO SOM DA MÚSICA DE ENCERRAMENTO.

FINALE

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