Você está na página 1de 25

A Grande Viagem de

SIMBAD
por
Alexander Zimmer

Personagens:

Simbad
Hashan
Ária
Radu
Vizir
Haroun
Mariana

Koura
Archmed
Monstro
Gárgula
Capitão de Koura

Soldados do Vizir
Velho Abdul
Monstro do Mar
Guardião do Templo
Maga
Selvagens
Ciclope
Yeti – Monstro Branco
Seres das Trevas

Copyright 2019©by Alexander Zimmer


Todos os direitos reservados.

1
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

CENA 1

MÚSICA DE ABERTURA. MIXA PARA MÚSICA DE LUTA. ABREM-SE AS CORTINAS E HÁ


UMA LUTA NO PALCO. SIMBAD E SUA TRIPULAÇÃO LUTAM CONTRA UMA CRIATURA
HORRENDA.

RADU – Mas com mil demônios! A criatura parece incansável, Simbad!


SIMBAD – Enquanto continuarmos atacando-a individualmente, não teremos resultado algum.
Vamos atacá-la todos juntos!
ÁRIA – Sim, capitão. Precisamos acabar com ela, antes que ela traga a má sorte sobre nós!
SIMBAD – Antes que ela acabe conosco, você quer dizer, né? Todos juntos! Agora!

TODOS VÃO PARA CIMA DA CRIATURA E ATACAM. A CRIATURA DEIXA CAIR UMA
PLACA DE METAL, ENQUANTO FOGE, SAINDO DE CENA. SIMBAD PERCEBE O
MEDALHÃO NO CHÃO E SE APROXIMA, ENQUANTO OS OUTROS OLHAM COM MEDO
E CANSADOS. SIMBAD SE ABAIXA PARA PEGAR A PLACA.

HASHAN – Capitão… Deixe isso pra lá. É uma coisa maligna. Eu sinto que é.

SIMBAD PEGA O OBJETO NAS MÃOS E FICA EM TRANSE. HASHAN PERCEBE E SE


ACERCA DE SIMBAD.

HASHAN – Por amor de Alah, capitão! Capitão! O senhor.. Acorde, capitão!


SIMBAD – (SAINDO DO TRANSE) O que?… Hashan? O que foi que…
HASHAN – O senhor entrou em transe, assim que pegou o medalhão… Jogue isso no mar. Essa
coisa vai nos trazer má sorte.
SIMBAD – Não. Tudo isso é muito interessante. Acho que vou ficar com ele. Algo me diz que é
importante.

SIMBAD PENDURA A PLACA NO PESCOÇO, ENQUANTO HASHAN FAZ CARA DE QUE


NÃO ACHA BOA IDEIA. LOGO OUVE-SE UM ENORME ESTRONDO DE TROVÃO E O
TEMPO COMEÇA A FECHAR. TODOS OLHAM ASSUSTADOS.

SIMBAD – Preparem-se todos! Uma grande tempestade está se formando! Vamos!


ÁRIA – Mas como é possível? O tempo estava claro e o céu profundamente azul.
HASHAN – É um mau agouro! Só pode ser coisa dessa placa amaldiçoada, capitão.
SIMBAD – Não importa! Tomem seus lugares! Precisamos preparar o barco para a tempestade!
RADU – Capitão, não estou conseguindo manobrar o barco. Ele está sendo levado pelo vento e pela
própria maré, como se fosse uma força sobrenatural. Seremos jogados contra as pedras!
SIMBAD – Alah, dai-me forças!

2
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

SIMBAD AGARRA O LEME, JUNTO COM RADU E FAZEM TREMENDA FORÇA. MÚSICA
DE AÇÃO E SUSPENSE.

RADU – Conseguimos desviar das pedras, capitão!

PARA ESPANTO DE TODOS, A TEMPESTADE PASSA DE REPENTE.

ÁRIA – Por Alah! Nunca vi uma tempestade passar desse jeito!

TODOS SE OLHAM ASSUSTADOS. HASHAN REPARA EM ALGO AO LONGE.

HASHAN – Vejam! Terra à vista!


SIMBAD – Vamos nos aproximar.
RADU – Não precisamos fazer nada, capitão. A maré está nos levando direto para lá. Já dá até para
ver a cidade.
SIMBAD – Conheço essas torres… É Marábia!
HASHAN – Marábia? Nossa, capitão! Estamos bem fora do curso…
SIMBAD – Não, Hashan. Este é o lugar onde deveríamos estar.
HASHAN – Mas, Simbad, estávamos indo para Gauta, quando aquela criatura invadiu o barco e...
SIMBAD – Eu tive um sonho, Hashan. Um sonho acordado, quando peguei no medalhão. Isto faz
parte dele. Fomos trazidos aqui por forças misteriosas.
HASHAN – Não sei, não, capitão. Não gosto destas coisas. Se posso escolher, prefiro ficar longe e
coisas sobrenaturais.
SIMBAD – Não dizem que um sábio deve esforçar-se para realizar seu sonho?
HASHAN – Dizem que é através dos sonhos que Alah fala aos mortais. Então, renunciar ao
sonho…
SIMBAD – Seria renunciar ao próprio Alah!
HASHAN – Olha, não sei, não, Capitão… Será mesmo que isso é coisa de Alah?
SIMBAD – Confie em mim, Hashan. Ancorem o navio neste atracadouro e esperem por mim. Vou
descer em terra. Vocês aguardam no navio.

SIMBAD DESCE E AFASTA-SE, ANDANDO ATÉ O PROSCÊNIO. OS OUTROS SAEM DE


CENA.

CENA 2

SIMBAD OLHA PARA UM LADO, OLHA PARA O OUTRO. ALGUÉM SE APROXIMA PELO
OUTRO LADO, SEM QUE ELE PERCEBA.

KOURA – Você é o capitão Simbad?

3
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

SIMBAD – (SOBRESSALTADO) Sim. Sou eu.


KOURA – Pelo visto, além de capitão, também é um ladrão.
SIMBAD – Como é que é? O que você quer dizer com isso?
KOURA – O medalhão pendurado em teu pescoço é meu. Entregue-o a mim, ou não terá mais
pescoço onde pendurar qualquer coisa, a começar por sua cabeça.
SIMBAD – Você é bastante confiante, estranho. Além de extremamente abusado.

SIMBAD INSINUA PEGAR SUA ESPADA, QUANDO ALGUÉM CHEGA POR TRÁS COM
UMA ESPADA EM PUNHO E O SURPREENDE COM UMA ESPADA APONTADA PARA ELE.

KOURA – Morrerá, se não entregá-lo. Você me fala de abuso, mas foi você quem o roubou de meu
mensageiro.
SIMBAD – Mensageiro? Aquele monstro infernal que invadiu meu barco?
KOURA – Vocês estavam em seu caminho. Tiveram sorte de ele não os destruir.
SIMBAD – Devíamos ter acabado com ele, isso sim! Mas, tudo bem. Se é o medalhão que você
quer…

SIMBAD FAZ QUE VAI RETIRAR O MEDALHÃO DO PESCOÇO, MAS ESQUIVA-SE PARA
O LADO, RETIRANDO A ESPADA DA CINTURA. COMEÇAM A LUTAR ESPADA. SIMBAD
LUTA COM OS DOIS AO MESMO TEMPO. NUM DESCUIDO DE KOURA, SIMBAD LHE DÁ
UM SOCO E KOURA CAI ATORDOADO. SEU COMPARSA TENTA FERIR SIMBAD COM A
ESPADA, MAS SIMBAD SE DESVIA COM RAPIDEZ E TAMBÉM LHE DÁ UM SOCO. O
COMPARSA TAMBÉM CAI ATORDOADO. SIMBAD FOGE E É PERSEGUIDO POR KOURA.
ENTÃO, OUVE-SE UMA TROMBETA E VÁRIOS SOLDADOS SURGEM EM CENA,
CERCANDO KOURA, QUE AO VER-SE CERCADO, USA SEUS PODERES.

KOURA – Ha! Há! Há! Há! Há! Pensam mesmo que podem capturar Koura? Aglebá! A tôuche!
Nagá! Aglebá! Zu! Zu!

OUVE-SE UM ESTRONDO E TODOS CAEM ATORDOADOS. KOURA APROVEITA E FOGE,


SAINDO DE CENA. OS SOLDADOS SE LEVANTAM. ENTRA O GRÃO-VIZIR, UM HOMEM
QUE USA UMA CURIOSA MÁSCARA QUE COBRE TODA SUA CABEÇA.

VIZIR – Acabaste de arranjar um perigoso inimigo, capitão Simbad. Creio que o encontraremos
novamente em breve. Seja bem-vindo à Marábia. Estamos esperando por você há muito tempo.
Venha, Simbad! Seja nosso convidado.
SIMBAD – Acabaste de salvar minha pele, mas… como sabe meu nome?
VIZIR – Ora! Quem não conhece o famoso capitão Simbad? Venha! Conversaremos no caminho até
o palácio.
SIMBAD – Diante das circunstâncias, será um grande prazer.

OS DOIS SAEM DE CENA.

4
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

CENA 3

ENTRAM EM CENA KOURA E ARCHMED.

KOURA – Dessa vez, ele escapou, Archmed. Os guardas de Marábia o ajudaram e quase me
pegaram.
ARCHMED – Mas vejo que o senhor está bem.
KOURA – Usei minha magia sobre eles, o que me deu tempo para fugir.
ARCHMED – Mas ele fugiu, mestre. Deve estar com o vizir neste momento. E o que é pior, com o
pedaço do medalhão.
KOURA – Não importa. Todas as paredes têm ouvidos e eu tenho meu espião, que os observará das
sombras.
ARCHMED – Por falar nisso, desculpe-me por não ajudá-lo, mestre. Mas aquele Simbad tem um
belo gancho de direita.
KOURA – Você terá a chance de se vingar dele, quando chegar a hora, Archmed. Vamos!

OS DOIS SAEM DE CENA.

CENA 4

SIMBAD E O VIZIR ENTRAM EM CENA.

VIZIR – Contou-me uma história realmente estranha, capitão Simbad. Contudo, um fato me faz
acreditar nela. O amuleto em seu pescoço faz de nós aliados contra as forças malignas do mesmo
inimigo. Quero mesmo acreditar que o destino nos uniu.
SIMBAD – Por quê?
VIZIR – Nosso país tem sofrido ataques constantes e malignos pelo sombrio príncipe Koura.
SIMBAD – Koura? Foi aquele que me atacou, não foi?
VIZIR – Sim. Koura conhece todas as artes das trevas e às usa na tentativa constante de fazer este
país se ajoelhar diante dele. Também tenho uma história estranha para te contar, Simbad. Pouco
antes de morrer, nosso amado sultão, que não tinha herdeiros, fez de mim, seu grão-vizir, o herdeiro
de duas coisas, que são partes de um grande e misterioso segredo.
SIMBAD – E o que seriam essas duas coisas?
VIZIR – Você verá. A primeira é esta. (ACENDE-SE UMA PROJEÇÃO NO FUNDO DO
PALCO). A história de uma lendária profecia ainda não-realizada. Quando nosso grande sultão
morreu, corri para ler a profecia gravada nesta parede e tomar conhecimento de tudo quanto o sultão
me pediu para guardar segredo. Foi então que Koura, surgindo das sombras, invadiu esta câmara
secreta e, com seus poderes das trevas, criou uma chama sobrenatural, que queimou tudo ao redor e
destruiu meu rosto. Por isso, uso esta máscara.
SIMBAD – Sujeitinho ruim esse, hein? Mas você falou de duas coisas. Qual é a segunda?

5
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

O VIZIR ABRE A BOLSA QUE CARREGA A TIRACOLO E TIRA DE DENTRO OUTRO


MEDALHÃO. NAS SOMBRAS, O GÁRGULA OS OBSERVA, SEM QUE ELES PERCEBAM.

VIZIR – Esta é a segunda. Algo que o fogo não pôde destruir. Um símbolo e também um grande
enigma. Dizem que o enigma será decifrado, quando esta placa e a que está pendurada em teu
pescoço forem levadas a um mago que habita o templo de muitos rostos. Mas ainda falta a terceira
parte.

SIMBAD PEGA AS DUAS PLACAS, JUNTANDO-AS.

SIMBAD – É. Elas realmente se encaixam perfeitamente. Enigma curioso. Mas o que estaria por
trás deste segredo?
VIZIR – Poder. Poder absoluto e jamais imaginado. Poder para livrar este país da ambição maligna
de Koura. Se este poder cair nas mãos dele, todo o mundo cairá em desgraça, onde a liberdade e a
felicidade serão banidas para sempre e as trevas cairão sobre todos nós, escravizando a todos. Rezo
sempre a Alah pedindo uma luz que me ajude a decifrar este enigma antes de Koura, mas ele parece
não me ouvir, pois continuo ignorante de seu significado.
SIMBAD – Eu o ajudarei. Vamos nos unir e resolver este mistério antes do príncipe Koura. Deve
haver uma pista neste medalhão. (ANALISANDO O MEDALHÃO) Há um navio desenhado.
Talvez isso signifique uma viagem. Veja! Também há o desenho de uma ilha.
VIZIR – Todos estes símbolos podem significar muitas coisas, inclusive perigo e morte. Quanto
mais eu estudo, maior fica o enigma. Não há nada escrito em lugar algum sobre este enigma. E
ainda falta a terceira parte. Sem ela, nossa terra estará em grande perigo. Temo que Koura acabe
solucionando o enigma antes de mim e então…

SIMBAD CONTINUA OBSERVANDO COM CUIDADO O MEDALHÃO E PERCEBE ALGO.

SIMBAD – Espere um pouco… Veja! Eu reconheço essas encostas e este mar.


VIZIR – Sim! Mas é claro! Você é capitão de um navio; deve conhecer muitos mapas! Eu jamais
perceberia isso. Então o medalhão…
SIMBAD – O medalhão é um mapa! E esta pintura na parede é a parte que está faltando, mostrando
um mar que jamais foi navegado antes. Dizem que é um lugar além deste mar que conhecemos, um
lugar perigoso, cheio de seres míticos.
VIZIR – Sim. Já escutei sobre este lugar. Você está falando da Lemúria?
SIMBAD – Sim. A mítica Lemúria.
VIZIR – O continente perdido!
SIMBAD – Antes era um grande continente, mas há milhares de anos aconteceu um grande
cataclismo e ele afundou, sobrando apenas uma ilha em seu lugar, a ilha de Lemúria.
VIZIR – É isso! Alah seja louvado! Você conseguiu decifrar o medalhão, capitão Simbad! Vamos
nos preparar. Precisamos partir o quanto antes!
SIMBAD – Sim. Temos que ser rápidos.

6
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

B.O. MÚSICA DE TRANSIÇÃO – SUSPENSE.

CENA 5

SIMBAD E O VIZIR ENTRAM EM CENA. SIMBAD SEGURA UM MAPA.

SIMBAD – Se o vento ajudar, chegaremos a esta área antes de anoitecer. E depois seguiremos por
águas que nunca naveguei antes. Não sei o que poderemos encontrar em nosso caminho.
VIZIR – Então precisamos tomar muito cuidado.
SIMBAD – Sim. Dizem que há criaturas assustadoras nestas águas desconhecidas.
VIZIR – Você acredita nestas lendas? Não pensei que um capitão experiente como Simbad
acreditasse nessas coisas.
SIMBAD – Sim, Vizir. Já naveguei por mares que outros jamais navegaram e vi coisas que
deixariam muitos homens apavorados.
VIZIR – Mas com a ajuda de Alah…
SIMBAD – Há um velho ditado que diz: “Confie em Alah, mas amarre seu camelo”.

DE REPENTE, UM BARULHO DE ALGO SE MEXENDO NO ESCURO. O VIZIR USA SUA


BENGALA E BATE NA SOMBRA. OUVE-SE UM GRITO E O GÁRGULA PULA DAS
SOMBRAS.

GÁRGULA – Ai! Seus malditos! Seus malditos!

O GÁRGULA CORRE DE VOLTA PARA AS SOMBRAS E DESAPARECE.

VIZIR – É o espião de Koura.


SIMBAD – Pra onde ele foi?
VIZIR – Voltou para as trevas e desapareceu. Tudo que esse bicho vê e ouve, Koura também vê e
ouve. E agora ele sabe tanto quanto nós.
SIMBAD – Então temos que correr! Ele também vai procurar pela Lemúria, assim como nós.
Precisamos correr com os preparativos e tomar cuidado para não sermos pegos numa emboscada.
Vamos!

OS DOIS SAEM DE CENA

CENA 6

KOURA E ARCHMED ENTRANDO.

7
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

KOURA – Archmed, encontre um navio e um capitão confiável que obedeça ordens, sem fazer
perguntas. Ele deve estar pronto o quanto antes. Agora que fomos descobertos, Simbad vai querer
partir o mais depressa que puder e ganhar dianteira.
ARCHMED – Sim, mestre. Já sei quem posso contratar.
KOURA – Pois então, vá! Não perca tempo.
ARCHMED – Com sua licença, mestre.

ARCHMED SAI DE CENA.

KOURA – (COM UMA EXPRESSÃO MALICIOSA) Não se livrará de mim tão fácil, Simbad.

KOURA GARGALHA MALIGNAMENTE, ENQUANTO SAI DE CENA.

CENA 7

UM VELHO ÁRABE ESTÁ PARADO OBSERVANDO, QUANDO ENTRA SIMBAD.

VELHO – Mil perdões, ilustre senhor. Não é nossa intenção molestar-vos, mas o senhor não é o
capitão Simbad, capitão do navio que está no porto de nossa cidade?
SIMBAD – Sim. Sou eu. Quem é o senhor?
VELHO – Oh, senhor Simbad! Eu sou o velho Samir e gostaria de contratar vossos serviços.
SIMBAD – Desculpe-me, senhor, mas já estou a serviço e de partida.
VELHO – Mas não atrapalhará vossa partida, não, não! De jeito nenhum! É um trabalho muito
pequeno e pagarei muito bem.
SIMBAD – Sinto muito mesmo, velho Samir.
VELHO – Ora, por favor, senhor capitão Simbad! Pelo menos tenha a bondade de ouvir a proposta
de um pobre velho suplicante, que a mais ninguém tem a recorrer.
SIMBAD – Está bem, meu velho. Fale! Eu o escutarei.
VELHO – Oh! Obrigado por sua gentileza. Será bem rapidinho; não tomarei muito de seu precioso
tempo. (OS DOIS ANDAM ATÉ UM CANTO, ONDE HÁ UM RAPAZ JOGADO, COM CARA
DE BÊBADO) – Este é meu filho Haroun, um completo inútil, que só me dá desgosto. Olha o
estado em que se encontra esse abestado. Ele está sempre assim, entregue à bebida, à preguiça e a
boemia. Eis minha proposta: te pagarei duzentas moedas de ouro, se o senhor o levar consigo.
SIMBAD – Levá-lo comigo? (SIMBAD ANALISA O RAPAZ) Há! Há! Há! Há! Mas por que eu
quereria levá-lo comigo? Ele não me servirá para nada! Só me dará é mais trabalho, pelo visto.
VELHO – Talvez com o corajoso capitão Simbad, ele aprenda a ser responsável, um homem de
verdade. Trezentas moedas de ouro, então! Pago-lhe trezentas moedas do mais puro ouro de
Marábia!
SIMBAD – Desculpe, Samir. Vejo que és um homem bom, mas – por Alah! – eu não faço milagres.

8
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

ENTRA UMA MENINA COM UM ESPANADOR LIMPANDO COISAS IMAGINÁRIAS.

VELHO – Mariana! Vá buscar vinho para nosso ilustre convidado!

SIMBAD FICA SOBRESSALTADO AO VER A MENINA, COMO SE A RECONHECESSE.

SIMBAD – (PARA A MENINA) Espere! (PARA O VELHO) Samir, quem é a garota?


VELHO (FAZENDO CARA DE DESDENHO) Ela? Ah, é só uma escrava inútil!… Ah! Gostou
dela? Ela agradou vossos olhos? Então, ela agora é sua. É um presente, junto com meu filho e mais
quatrocentas moedas de ouro. E então? O que me diz? Uma oferta dessas não se joga fora!
SIMBAD – (PARA A MENINA) Aquela marca em sua mão. Como a conseguiu?
MARIANA – Não sei, senhor. Tenho-a desde criança.
SIMBAD – Um olho que tudo vê.
MARIANA – Ela foi posta aqui quando eu ainda era um bebê. Por isso, não me recordo.
SIMBAD – Talvez seja algo bom, como um amuleto de proteção.
VELHO – Isso! Isso! É para afastar os maus espíritos!
SIMBAD – (PARA O VELHO) Não tem mais nada para me contar, Samir?
VELHO – Não, senhor. Ela até que é bonita, mas para um velho como eu, só serve mesmo para
enfeitar a casa e fazer muito mal o trabalho de escrava.
SIMBAD – Está bem. Eu aceito tua oferta.
VELHO – Mas que beleza! Que beleza! Trato feito! Foi uma ótima barganha, não foi? E senhor
ainda saiu lucrando! Alah, com certeza, sorrirá para o senhor.
SIMBAD – (OLHANDO PARA O RAPAZ) Acho que ele já deve estar rindo muito de mim agora,
por aceitar este trato absurdo. Mande-os para meu navio.
VELHO – Pode deixar, capitão Simbad! Será feito! Logo, logo eles serão levados para o senhor.

TODOS SAEM DE CENA E O VELHO SAI COMEMORANDO, POR TER SE LIVRADO DO


FILHO.

CENA 8

NO NAVIO DE SIMBAD, TUDO ESTÁ PRONTO. ENTRA O GRÃO-VIZIR.

SIMBAD – Grão-vizir, seja bem-vindo! Estávamos apenas esperando-o.

O VIZIR FAZ UM CUMPRIMENTO.

SIMBAD – Pronto. Agora que estamos todos aqui… Levantar âncoras! Vamos partir!
TODOS OS MARUJOS – Levantar âncoras!
SIMBAD – Içar velas!

9
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

TODOS OS MARUJOS – Içar velas!


HASHAN – O vento está favorável, capitão.
SIMBAD – SIM. Graças a Alah.

MÚSICA DE AVENTURA.
B.O.

CENA 9

ENTRAM EM CENA KOURA, ARCHMED E O CAPITÃO.

KOURA – Sabe o que espero de você, capitão?


CAPITÃO – Sim, meu senhor.
KOURA – Daqui a pouco, o navio de Simbad passará lá adiante rumando para o mar aberto. Siga-o,
capitão. Siga-o devagar. Bem discretamente. Mas mantenha-o sempre à vista, sem que ele perceba
que o estamos seguindo. Tome a primeira parte de suas moedas de outro, como combinado.

KOURA ENTREGA UM SACO DE MOEDAS AO CAPITÃO, QUE SORRI COM AMBIÇÃO


NOS OLHOS.
B.O.

CENA 10

NAVIO DE SIMBAD.

SIMBAD – Você concorda comigo, Hashan?


HASHAN – Sim, capitão. Se existe uma ilha para além, há grande chance de ser mesmo a tal
Lemúria.
SIMBAD – Foi o que pensei.
HASHAN – Os homens a procuram há séculos. Será que conseguiremos encontrá-la, Simbad?
SIMBAD – É o que veremos, amigo Hashan. Com este novo mapa, talvez não seja tão difícil.
HASHAN – Dizem que é um lugar assustador e de perigos incontáveis.
SIMBAD – Dizem também que quem tem medo do desconhecido, tem medo até de sua própria
sombra. (FALA ALTO PARA TODOS) É isso que todos ouviram! Procuramos pela mítica ilha de
Lemúria! Seremos testados e nossas habilidades serão postas à prova. Espero que, mais uma vez,
mostrem vossa coragem.

10
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

VIZIR – E como recompensa por acharem a ilha, em nosso retorno à Marábia, um belo prêmio em
ouro espera cada um de vocês.
TODOS – Aeeeeeeeee!
SIMBAD – Então, rumo à Lemúria! E estejam todos avisados: não teremos vagabundos nesta
viagem. Todos devem trabalhar com vontade e dedicação, para que atinjamos nosso objetivo.

HAROUN ENTRA EM CENA E SE ASSUSTA.

HAROUN – Ué?! O que estamos fazendo no mar? Isso foi ideia de meu pai, não foi? Tudo bem.
Acho que uma volta pela costa vai me ajudar a curar a ressaca de ontem. A brisa do mar é realmente
boa para isso. Já estou até me sentindo muito melhor. Acho que agora já podemos voltar. Queira dar
meia-volta, capitão.
SIMBAD – Voltar? Sinto muito, Haroun, mas não voltaremos tão cedo. Você irá conosco até o fim.
HAROUN – Até o fim? (PENSA) Bem, poderia ser pior. Alguns dias fora de casa não é nada mau.

SIMBAD SORRI. TODOS OS OUTROS TAMBÉM RIEM.

HAROUN – O quê? O que foi? É mais do que isso? Algumas semanas?… Um mês?… Mais de um
mês?
SIMBAD – Talvez mais ainda, quem sabe?
HAROUN – Mais do que um mês?! Ai, não posso passar tanto tempo no mar… Por favor, mostre
minha cabine. Depois dessa, acho que preciso me deitar e descansar um pouco.
SIMBAD – Nada de cabine e nada de deitar. Você dormirá no mesmo lugar de todos os outros. E se
quiser comer, terá que trabalhar como todo mundo.
HAROUN – Trabalhar? Trabalhar? Ah, meu querido Alah! Isso só pode ser um pesadelo! Deixe-me
acordar! Eu não estou acostumado com esta vida dura. Meus braços doem, minhas pernas doem,
meus dedos doem… Até minhas orelhas doem.
SIMBAD – Está bem. Vou colocá-lo na vigia.
HAROUN – Na vigia?
SIMBAD – Tudo que terá que fazer é sentar e gritar: Olhem!
HAROUN – Sentar e gritar? Adorei! Este é o meu trabalho! Perfeito, Simbad! Obrigado!
SIMBAD – (PARA OS OUTROS) Pelo menos assim, não nos dará mais trabalho do que já temos.

MÚSICA. PASSAGEM DE TEMPO. LUZ.


TODOS SAEM DE CENA.

CENA 11

ENTRA MARIANA. EM SEGUIDA, ENTRA SIMBAD.

SIMBAD – Boa noite, Mariana.

11
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

MARIANA SE AJOELHA À SUA FRENTE.

SIMBAD – Oh, não! Por favor, não se ajoelhe. (AJUDANDO-A A SE LEVANTAR) Você é minha
convidada neste navio.
MARIANA – Mas, senhor, sou sua escrava!
SIMBAD – Escrava? Não. Claro que não.
MARIANA – Mas meu antigo senhor me deu a você. Devo servir-lhe como uma boa escrava. Você
é meu dono agora.
SIMBAD – Dono? Nenhum ser humano tem o direito de ser dono de outro ser humano. A partir de
agora, você está livre. Não pertence a ninguém. Entendeu?
MARIANA – Sim.
SIMBAD – Ótimo.

ENTRA HASHAN.

HASHAN – Capitão Simbad!


SIMBAD – Sim?
HASHAN – Haroun viu uma luz no horizonte. Acho que o senhor deveria ver.
SIMBAD – Uma luz? É melhor mesmo verificarmos isso.

OS DOIS SAEM DE CENA. MARIANA SORRI E DEPOIS SAI PELO OUTRO LADO.
MÚSICA. LUZ. NOITE.

CENA 12

CONVÉS DO NAVIO. ENTRAM SIMBAD, O VIZIR, HASHAN E RADU.

HASHAN – Foi naquela direção.


SIMBAD – (OLHA NO TELESCÓPIO) É um navio.
HASHAN – Acha que estamos sendo seguidos?
SIMBAD – Acho que sim. Vamos continuar no nosso curso.
HASHAN – Pode deixar.
SIMBAD – (OLHANDO NO TELESCÓPIO) Hm…
VIZIR – É Koura?
SIMBAD – Sim. Vamos tentar despistá-lo. Radu!
RADU – Sim, capitão!
SIMBAD – Mude o curso para noroeste.
RADU – Sim, senhor.

12
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

SIMBAD – Vamos levá-lo a uma área de nevoeiro intenso. Há pedras e corais o bastante para cuidar
deles. Mude o rumo, Radu.
VIZIR – Mas se o levar para esse lugar, nós também estaremos em perigo.
SIMBAD - (COM EXPRESSÃO DE ESPERTO) Não exatamente. Já naveguei por essas águas.
Não é, Hashan?
HASHAN – Sim. Uma vez.
VIZIR – (ASSUSTADO) Uma vez?

SIMBAD E RADU SORRIEM COM A BRINCADEIRA. MÚSICA. TODOS SAEM DE CENA.


PASSAGEM DE TEMPO. NOITE.
SIMBAD OLHA O MAR. MARIANA ENTRA EM CENA E, DELICADAMENTE, VAI ATÉ
ELE.

MARIANA – Eu nunca tinha visto a noite no mar.


SIMBAD – Nunca?
MARIANA – Nunca. Como escrava, sempre trabalhei na casa de meu senhor Samir.
SIMBAD – E o que achou da noite no mar?
MARIANA – Nossa! São tantas estrelas e é tudo tão quieto e belo. A gente sente uma paz…
SIMBAD – Sim. Mas, às vezes, a noite no mar nos reserva surpresas nem sempre muito agradáveis.
MARIANA – Por que diz isso?
SIMBAD – Porque é verdade. Neste momento estamos sendo caçados. Preciso nos livrar de quem
nos segue.
MARIANA – E quem está nos seguindo?
SIMBAD – Um homem maligno. Ele é um dos motivos de estar aqui, além da tatuagem em tua
mão. Você não me perguntou porque eu a trouxe nesta viagem. Não ficou curiosa?
MARIANA – Eu acabei de me tornar uma mulher livre, graças a tua bondade. Escravos não fazem
perguntas. Não estou acostumada.
SIMBAD – Por favor, sinta-se à vontade para perguntar o que quiser.
MARIANA – Está bem… O que tem a marca em minha mão a ver com o fato de você querer me
trazer?
SIMBAD – Quando peguei este medalhão em minha mão, tive um sonho acordado e você aparecia
neste sonho, mostrando-me a tatuagem em tua mão. Quando a vi na casa do velho Samir, em
Marábia, logo a reconheci do sonho. Por isso a trouxe comigo.
MARIANA – Mas, por quê? O que tem a ver esta tatuagem com a viagem?
SIMBAD – Isso, eu também gostaria de saber. Enfim… O tempo dirá.
MARIANA – Simbad… Estou feliz por ter me trazido.

ÁRIA ENTRA EM CENA.

ÁRIA – Capitão, nos aproximamos do nevoeiro.


SIMBAD – Ótimo. Preparem-se!
ÁRIA – Todos atentos!

13
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

NEVOEIRO NO PALCO.

HAROUN – Como conseguem manobrar o navio, se não conseguem ver nada?


ÁRIA – O capitão Simbad não precisa ver.
RADU – Sim. Simbad sente o caminho.
HAROUN – Que coisa mais sobrenatural. Ui! Que meda de vocês!

LUZ EM RESISTÊNCIA. TODOS SAEM. FUMAÇA NO PALCO.

CENA 13

NAVIO DE KOURA. ENTRAM KOURA E O CAPITÃO.

KOURA – Continue seguindo aquele navio!


CAPITÃO – Mas não podemos continuar no meio desse nevoeiro! Acabaremos por bater numa
rocha e afundaremos!
KOURA – Se Simbad consegue navegar por estas águas é porque ele tem um mapa. Portanto,
continue seguindo-o. Tomarei algumas providências.
CAPITÃO – Sim, mestre Koura.

CAPITÃO SAI.

KOURA – Não posso mais ficar a mercê de Simbad. Está na hora de ganhar uma vantagem em
cima dele.

KOURA SE CONCENTRA, LEVANTA OS BRAÇOS E RECITA PALAVRAS MÁGICAS.

KOURA – Nagat chebá! Tribisa Tobá! Krutza kura! Kura! Kura! KURA!

SOM DE VENTO SINISTRO – MÚSICA DE SUSPENSE


B.O.

CENA 14

HAROUN E ÁRIA ENTRAM EM CENA CONVERSANDO. SEM QUE ELES PERCEBAM, UM


MONSTRO DO MAR ENTRA NO BARCO.

14
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

HAROUN – É impressionante como Simbad conhece esse lugar. Estamos no meio do nevoeiro e ele
navega tranquilo, como se fosse noite clara.
ÁRIA – Simbad já navegou para todo canto. Conhece bem o mar e suas armadilhas.

ÁRIA VÊ O MONSTRO CHEGANDO POR TRÁS DE HAROUN E, ENTRANDO EM PÂNICO,


FICA MUDO E FAZENDO GESTOS PARA HAROUN.

HAROUN – O que foi, Ária? Que cara é essa? Tá passando mal? Ah, para de brincadeiras, Ária.
Acho que você bebeu demais. Há! Há! Há! Há! Parece maluco!
ÁRIA – O… O… O…
HAROUN – O que? Fala direito, homem!
ÁRIA – O monstro!!

HAROUN SE VIRA E TOMA UM BAITA SUSTO. OS DOIS CORREM E TENTAM FUGIR DO


MONSTRO.

HAROUN – Socorro! Alguém me acuda! Um monstro! Socorro!

HASHAN ENTRA EM CENA E JÁ TOMA UM TAPA DO MONSTRO, CAINDO DO OUTRO


LADO. LOGO, TODOS ESTÃO EM CENA, ASSUSTADOS E TENTANDO ATACAR O
MONSTRO, QUE SEMPRE LEVA A MELHOR NA LUTA. SIMBAD ENTRA EM CENA E O
MONSTRO O JOGA LONGE.
OUVE-SE A VOZ FANTASMAGÓRICA DE KOURA EM OFF.

KOURA – (OFF) Entre na cabine! Pegue o mapa!

O MONSTRO DIRIGE-SE PARA UMA DAS COXIAS.

ÁRIA – Capitão, o monstro está entrando na cabine!


SIMBAD – Detenham-no! O mapa está lá dentro!

TODOS TENTAM DETER O MONSTRO, MAS ELE É MAIS FORTE QUE TODOS E OS JOGA
LONGE. O MONSTRO SAI DA COXIA COM O MAPA NA MÃO E MERGULHA NO MAR.
SOM DE ALGO CAINDO NA ÁGUA.

RADU – Com mil demônios! Ele levou o mapa, capitão!


HASHAN – E agora? Como faremos?
ÁRIA – Sem o mapa, como conseguiremos chegar à Lemúria?
SIMBAD – Não tem problema. Com certeza, essa é mais uma das criaturas malignas de Koura.
VIZIR – Realmente, Simbad. Ele foi direto ao mapa. E, sem o mapa, estamos perdidos.
SIMBAD – Não exatamente.

15
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

VIZIR – O que quer dizer com isso?


SIMBAD – Não preciso do mapa; ele está aqui (APONTA PARA A PRÓPRIA CABEÇA). Tomei o
cuidado de memorizá-lo, no caso de algum imprevisto, como esse. Só queria evitar que
perdêssemos a vantagem. Agora, Koura também saberá o caminho e não precisará nos seguir.
Precisamos correr para chegarmos antes dele. Todos a postos! Vamos!

TODOS CORREM ARRUMANDO AS COISAS E SAEM DE CENA.

CENA 15

NAVIO DE KOURA. KOURA ENTRA EM CENA CAMBALEANTE E FRACO, CAINDO EM


SEGUIDA. ARCHMED SE ASSUSTA AO VÊ-LO.

ARCHMED – Mestre! O que houve? O senhor… O senhor parece doente.


KOURA – Ajude-me a levantar.
ARCHMED – (ENQUANTO AJUDA) Mas o que aconteceu, mestre?
KOURA – A magia negra me faz muito poderoso, mas também me cobra um preço. E, às vezes,
esse preço é muito alto. A cada vez que me utilizo dela, os seres das trevas levam um pedaço de
minha vida.
ARCHMED – Mestre, o senhor precisa se poupar. Acabará morrendo antes de chegarmos ao nosso
destino se continuar assim.
KOURA – Não se preocupe. Assim que conseguirmos o tesouro, recuperarei minha saúde e ficarei
absolutamente poderoso. Vamos, Archmed! Não temos tempo a perder. Minha criatura já está
chegando. Veja!

O MONSTRO DO MAR ENTRA EM CENA.

KOURA – Venha, minha querida criatura do oceano. Entregue-me o mapa.

O MONSTRO SE APROXIMA E LHE ENTREGA O MAPA. ARCHMED ESTÁ ASSUSTADO E


COM MEDO.

KOURA – Não precisa temer, Archmed. Ele é inofensivo e obedece a todas as minhas ordens.
(PARA O MONSTRO) Serviste-me bem. Agora, retorne para as profundezas abissais e trevosas do
oceano. Vá!

O MONSTRO SAI DE CENA.


SOM DE ALGO CAINDO NA ÁGUA.

KOURA – Capitão!
CAPITÃO – (ENTRANDO EM CENA) Sim, mestre Koura.

16
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

KOURA – Tire-nos deste nevoeiro e leve-nos de volta ao curso. (ENTREGA-LHE O MAPA) Aqui
está o mapa. Já não precisamos mais de Simbad para encontrar a ilha de Lemúria. Há! Há! Há! Há!

O CAPITÃO SAI DE CENA.

ARCHMED – O que faremos com Simbad?


KOURA – Não podemos ultrapassá-lo, pois ele está muito à nossa frente. E, agora, vai procurar
aumentar sua velocidade. Mas não importa, Archmed. Eu já esperava que isso acontecesse. Já estou
preparado. Venha, Manthur!

OUVE-SE UM GRUNHIDO E ENTRA EM CENA O GÁRGULA.

KOURA – Meu espião, vá até Simbad e observe-o das sombras. Encontre-o! Vá!

O GÁRGULA SAI DE CENA SIMULANDO VOAR.

KOURA – Agora saberei de tudo o que Simbad descobrir. Vamos, Archmed!

OS DOIS SAEM DE CENA.

CENA 16

LEMÚRIA. SOM DE MAR BATENDO NA PRAIA. ENTRAM SIMBAD E TODOS OS


OUTROS.

SIMBAD – Finalmente Lemúria. Creio que teremos muito o que caminhar nesta terra estranha.
Fiquem atentos. Todo cuidado é pouco. Não sabemos que perigos nos aguardam.

TODOS CAMINHAM. MÚSICA DE AVENTURA E SUSPENSE. O GÁRGULA OS OBSERVA


DAS SOMBRAS, POR TRÁS DE UMA DAS COXIAS.

SIMBAD – Haroun, pensei que você escolheria ficar no barco. O que o fez decidir vir?
HAROUN – Ah, capitão! Já estava cansado de ficar chacoalhando naquele barco. É bom poder
pisar em terra firme de novo. Bater pé por aí, sabe? Ver as novidades, as modas de Lemúria…
SIMBAD – Mesmo sabendo que é uma terra cheia de perigos?
HAROUN – Marábia era cheia de perigos, capitão. Que perigos maiores poderíamos encontrar por
aqui, uma ilha esquecida pelo tempo?
SIMBAD – (COLOCANDO MEDO EM HAROUN) As lendas falam de monstros mitológicos,
talvez demônios do próprio inferno, a nos espreitar atrás de alguma rocha ou dentro de alguma
caverna, prontos para arrancar nossos corações e comê-los ainda palpitantes.

17
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

HAROUN – (COM OS OLHOS ARREGALADOS DE MEDO) Ah!… Esse tipo de perigo, então!
… Demônios, né? Sei… Pensei que não tinha nada demais por aqui… Mas por que o senhor não
falou logo?
SIMBAD – Mas falamos sobre isso no barco.
HAROUN – Mas não desse jeito, né? Falou de perigos, periguinhos, que eu achei que eram só essas
coisinhas bobas… Ai, meu Pai Alah! Talvez eu devesse ter ficado no barco. Pra quê que eu fui
inventar de descer nessa ilha desgramada? Lá minha linda pele sedosa e maravilhosa estaria segura,
bem segurinha.
SIMBAD – Achei que você tinha se tornado finalmente corajoso.
HAROUN – Corajoso?… Oh! Por Alah! Ser herói dá muito trabalho. É perigoso demais esse
negócio de herói. Eu quero ser uma pessoa comum vivendo uma vida comum. Mas agora babou,
né? Que Alah nos proteja!

TODOS SAEM DE CENA.

CENA 17

LEMÚRIA. SOM DE MAR BATENDO NA PRAIA. KOURA E SUA TRIPULAÇÃO ENTRAM


EM CENA.

KOURA – Lemúria! Quem imaginaria que um dia estaríamos na mítica ilha dos deuses? Archmed,
mande os homens voltarem ao navio e tomarem um bom rum, enquanto aguardam nosso retorno.
Será mais prudente irmos sozinhos, para que ninguém nos veja.
ARCHMED – Sim, mestre. Capitão!
CAPITÃO – Sim, Archmed.
ARCHMED – Leve seus homens de volta ao navio e nos aguardem. Enquanto isso, mestre Koura os
presenteia com seu melhor rum. Bebam à vontade.

TODOS COMEMORAM, ENQUANTO SAEM DE CENA. FICAM KOURA E ARCHMED.

ARCHMED – Sei que propôs que entrássemos sozinhos nesta ilha, mas seria realmente prudente
que apenas nós dois nos aventurássemos por esta terra estranha e cheia de perigos?
KOURA – Não há o que temer, Archmed. Não nos faltará proteção. Esqueceu-se que teu mestre é o
senhor das trevas? Agora, vamos em frente, pois Simbad já está bem adiantado.

SAEM DE CENA.

18
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

CENA 18

SIMBAD E SEUS HOMENS ENTRAM EM CENA. ALGO SE MOVE FURTIVAMENTE


ENTRE UMA COXIA E OUTRA.

MARIANA – Simbad, Já estamos andando há horas por entre estas estátuas gigantes e estranhas.
Será que estamos no caminho certo?
SIMBAD – Me parece que só existe esta estrada por entre estes paredões de pedra e estas enormes
estátuas. Sigamos em frente! Acredito que podemos descobrir alguma coisa logo, logo.
MARIANA – Veja, Simbad! Uma entrada naquela velha parede de pedras. Acho que é uma caverna.
HAROUN – Ai! Caverna, não! Tudo, menos caverna! Tenho pavor e caverna! Lugar escuro, cheio
de insetos estranhos e gosmentos. Além do mais, sempre acontecem coisas ruins em cavernas. Eu
me cago todo dentro de caverna!
ÁRIA – Corajoso pacas, hein, Haroun? Po!
HAROUN – Melhor ser medroso, do que colocar o fiofó em perigo.
SIMBAD – Vamos entrar.
HAROUN – Ah, não! Tá de brincadeira, né? Tá procurando! Ai, meu Alah! Agora que eu me cago
mesmo todinho nessa disgrama de caverna! E eu nem trouxe uma cueca extra.
SIMBAD – (RINDO) Ora, deixe de bobeira, Haroun! Vamos de uma vez!

TODOS SAEM.

CENA 19

O CENÁRIO MUDA. TODOS ENTRAM EM CENA PELO OUTRO LADO.

VIZIR – Vejam estes enfeites. Todas estas gravuras. É exatamente como estava escrito nos
pergaminhos antigos. Um templo inigualável esculpido na rocha. Esta caverna é o templo da lenda;
é o templo do oráculo de toda sabedoria. Nunca imaginei que um dia conheceria este lugar. Vamos
achar o grande oráculo!

TODOS ANDAM PELA PLATEIA. NAS SOMBRAS, O GÁRGULA OS ACOMPANHA. AO


SUBIREM NO PALCO, A LUZ SE ACENDE E LÁ ESTÁ UM SER ENCAPUZADO.

SIMBAD – Quem será aquele? Será o oráculo?


VIZIR – Não. Ainda não é o oráculo. É o guardião do templo, a quem devemos nos apresentar.
Vamos!

ELES SE APROXIMAM DO GUARDIÃO.

19
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

VIZIR – Oh, nobre guardião! Nós lhe trazemos um símbolo do sultão de Marábia. Viemos
humildemente procurar o oráculo de toda a sabedoria. Veja! Temos duas placas que se encaixam
como uma.

SIMBAD TIRA SEU MEDALHÃO DO PESCOÇO E ENTREGA AO VIZIR, QUE, JUNTANDO


OS DOIS, ENTREGA PARA O GUARDIÃO. ESTE ELEVA OS BRAÇOS E COMEÇA A
EVOCAR O ORÁCULO.

GUARDIÃO – Abne Ale Alavra! Sei-á! Sei-á! Alalu! Alalu-Niá! Alalu-Niá! Niá!! NIA!!!

OUVE-SE SONS DE VENTO E TROVÕES. O PALCO ENCHE DE FUMAÇA E LUZES


SOTURNAS. SURGE EM CENA A IMAGEM DE UMA VELHA MAGA.

MAGA – Dois tabletes. Apenas dois tabletes. Mas ainda falta um terceiro, que permanece oculto.
SIMBAD – Sim. Falta o terceiro.
MAGA – A busca não acabará, até que as três partes formem uma. E perto de vós segue a sombra
do mal, em forma de gente. Ele se veste com roupas de seda e segue com sedento de poder. Destino!
Destino! Destino! O homem pode escolher caminhos, mas não pode se esconder do destino final,
pois ele está marcado como um arco-íris no céu. O destino é onde bem e mal se encontrarão, para
medir seus poderes, pois os atos de fraqueza dos mortais farão pender a balança de um lado ou de
outro. Agora, vão! Vocês devem ir pelo caminho que o destino escolher. Vocês devem ir! Vão! Vão
agora! Vão!
SIMBAD – Tá bom, mas… ir para onde?
MAGA – Vão para o norte, até acharem a terra dos pagãos. Ante o deus de um só olho, a morte
espera os invasores do lugar sagrado, oculto aos olhos dos homens está o terceiro tablete de ouro.
Agora, vão! Vão! Vão para o norte!
SIMBAD – Peraí! Só mais uma pergunta.
MAGA – (COM CARA DE IMPACIÊNCIA) Mas tu é chato pacas, hein? Qual a parte do norte que
você não entendeu? Quer que eu desenhe? Tem mais pergunta coisa nenhuma, não! Vá pro norte e
pronto! Já disse. Vá pro norte! Vá logo, seu pentelho! (SAI RECLAMANDO CONSIGO MESMO)
Po! Cara chato pra caramba! Tava aqui tirando um cochilo e vem esse chato me perturbar! Isso é
falta do que fazer. Fica de barquinho pra lá e pra cá, de cá pra lá, em vez de ir lavar uma roupa. Ah!
Vai procurar um trabalho.

VIZIR PEGA OS TABLETES E ENTREGA A SIMBAD SUA PARTE.

SIMBAD – Esse oráculo é meio sem paciência, né? Deve ser a idade. É melhor irmos logo. Vamos!
KOURA – (OFF) Vão aonde, Simbad? Já chegaram onde eu precisava que chegassem, agora podem
ficar por aí mesmo, que eu termino o serviço.
SIMBAD – Feiticeiro maldito! Eu vou…
KOURA – (OFF) Você vai o quê? Você vai o quê? Você não vai nada! Devia ter devolvido o
medalhão, quando nos encontramos. Agora é tarde. Alabá! Alabá! Arrura! Arruraaaaaaaa!

20
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

SONS DE ESTRONDOS E DE PEDRAS CAINDO.

SIMBAD – Por Alah! Protejam-se! A entrada da caverna está desmoronando!


HAROUN – Eu não disse que caverna é sempre uma furada? Olha aí, a bagaça que a gente se
meteu!
HASHAN – O que faremos agora? Estamos todos presos aqui.
ÁRIA – Maldito Koura e sua magia maligna! Desse jeito será difícil vencermos. Como sairemos
daqui?
RADU – E o que será que vem a seguir?
SIMBAD – Não importa. Enfrentaremos o que vier. Não chegamos até aqui para desistirmos.
Lembrem-se que essa e uma luta do bem contra o mal. Não podemos deixar o mal vencer, senão a
escuridão das trevas se espalhará pelo mundo. Vamos!
VIZIR – Se me permite, Simbad... Não sou tão poderoso quanto Koura, mas acredito que posso
ajudar de alguma forma, com a magia de minha joia elementar.
SIMBAD – Esta é uma ótima surpresa, Vizir. Fique à vontade. Precisamos de toda ajuda neste
momento, senão Koura vencerá.

O VIZIR AJOELHA-SE E, TIRANDO UMA JOIA BRILHANTE DE DENTRO DE SUA ROUPA


E QUE ESTA PENDURADA NUM CORDÃO EM SEU PESCOÇO, FALA ALGUMAS
PALAVRAS.

VIZIR – Admoestam… Lux! Lux! Artio! Artio!

A JOIA SE ILUMINA, OUVEM-SE ESTRONDOS E O SOM DE PEDRAS ROLANDO. O


PALCO SE ILUMINA.

ÁRIA – Vejam! Ele conseguiu! Estamos livres novamente!


SIMBAD – Vamos! Koura já passou nossa frente. Não temos tempo a perder!

TODOS SAEM CORRENDO.


B.O. MÚSICA DE AÇÃO/AVENTURA.

CENA 20

KOURA E ARCHMED ENTRAM EM CENA.

KOURA – Veja, Archmed! O lendário templo de Arrura.


ARCHMED – Mestre, nunca vi algo igual em toda minha vida.

21
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

KOURA – Sim. Estamos num local que foi muito sagrado no passado. Veja a bela estátua do deus
Arrura.

DE REPENTE, OS DOIS SÃO CERCADOS POR SELVAGENS COM LANÇAS NAS MÃOS E
QUE FALAM UM IDIOMA DESCONHECIDO.

ARCHMED – Mestre! E agora?


KOURA – Acalme-se, Archmed. Chegou a hora de novamente trazer o sagrado de volta a vida.
Agá! Agá! Vitaê! Vitaê! Arrura! Arrura! Arrurááááá!

ENTRA EM CENA O GIGANTE DE UM OLHO SÓ. OS SELVAGENS FICAM APAVORADOS


E SE PROSTRAM DIANTE DELE. NESTE MOMENTO CHEGAM SIMBAD E SEUS
HOMENS.

SIMBAD – Koura, seu… Mas com mil demônios! O que é isso?


KOURA – Ciclope, acabe com eles!

O CICLOPE VAI PARA CIMA DE SIMBAD, QUE TENTA SE DEFENDER COM SUA
ESPADA, MAS O CICLOPE É INVULNERÁVEL E ATACA COM MUITA HABILIDADE,
ACERTANDO-O NA CABEÇA. SIMBAD CAI DIANTE DELE. O CICLOPE AGARRA SEU
PESCOÇO, ENFORCANDO-O. TODOS TENTAM AJUDAR SIMBAD, MAS O CICLOPE É
MUITO FORTE E LUTA COM TODOS, ENQUANTO ENFORCA SIMBAD LENTAMENTE.
SIMBAD COMEÇA A PERDER AS FORÇAS. MARIANA TENTA ATACÁ-LO, MAS ELE A
JOGA NO CHÃO E PREPARA-SE PARA PISÁ-LA, QUANDO VÊ A TATUAGEM DO OLHO
NA PALMA DE SUA MÃO E LARGA SIMBAD, QUE MASSAGEIA O PESCOÇO
INCOMODADO. O CICLOPE OLHA PARA MARIANA E PARECE FASCINADO PELA
TATUAGEM.

SIMBAD – Você salvou minha vida.


MARIANA – E você me deu a liberdade. Estamos quites.
SIMBAD – Parece que a tatuagem serviu para alguma coisa afinal.
VIZIR – A tatuagem significa que ela foi prometida ao deus de um olho só. ELE é esse deus.
Cuidado!

O GIGANTE, DE REPENTE, PEGA MARIANA.

MARIANA – Não! Me solte! Aaaaaaargh!


SIMBAD – Vizir! Mostre teu rosto! Mostre! Agora!

O GRÃO VIZIR TIRA SUA MÁSCARA E REVELA SUA FACE DEFORMADA PELO FOGO. O
CICLOPE SE ASSUSTA E SAI DE CENA LEVANDO MARIANA. KOURA E ARCHMED VÃO
ATRÁS. OS SELVAGENS TAMBÉM DE ASSUSTAM E CORREM PARA FORA DE CENA,
MAS PELO LADO OPOSTO. O VIZIR TORNA A COLOCAR A MÁSCARA.

22
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

SIMBAD – Vamos! Precisamos salvar Mariana daquele monstro!


ÁRIA – Koura foi atrás do monstro, Simbad!
SIMBAD – Vamos! Antes que ele a mate!

TODOS SAEM DE CENA. O MONSTRO ENTRA PELO OUTRO LADO TRAZENDO


MARIANA NOS BRAÇOS. KOURA VEM ATRÁS.

KOURA – Mate-a! Mate-a diante do altar dos mil deuses e seu sangue fará com que eu vença! As
trevas serão vitoriosas!
SIMBAD – (ENTRANDO EM CENA) Não, se eu puder impedir, Koura!

O MONSTRO, CONFUSO, OLHA PARA UM LADO E PARA O OUTRO.

MAGA – (OFF) O bem e o mal se enfrentarão!

DE REPENTE, ENTRA EM CENA UM OUTRO MONSTRO GIGANTE, PELUDO E BRANCO.

HAROUN – Pronto! Agora que babou tudo mesmo. Se um monstro já tava brabo, dois então que
fedeu tudo de uma vez. Ai, meu Alahzinho!

O CICLOPE SOLTA MARIANA E VAI PARA CIMA DA OUTRA CRIATURA. OS DOIS


COMEÇAM UMA LUTA. TODOS OBSERVAM ASSUSTADOS.

SIMBAD – Agora seremos apenas nós dois, feiticeiro maldito.


KOURA – Morrerá na ponta de minha espada! Mas antes…

KOURA BATE PALMAS. UM ESTRONDO DE TROVÃO E LUZES DE RELÂMPAGOS


PISCAM NA CENA. O GIGANTE BRANCO SOLTA UM GRITO E CAI MORTO. O CICLOPE
FICA CONFUSO, MEXENDO NO CORPO E SEM ENTENDER.

SIMBAD – Seu feiticeiro tolo! Sua magia matou os dois monstros. Agora, você vai perder.

SIMBAD E KOURA LUTAM ESPADAS. SIMBAD COMEÇA A VENCER E KOURA FOGE


PARA UM CANTO, LEVANTANDO A MÃO AMEAÇADORAMENTE.

KOURA – (MUITO CANSADO) Chega! Não posso vencê-lo na espada, mas as trevas farão o que
minha espada não pôde fazer!
ARCHMED – (PRISIONEIRO DOS HOMENS DE SIMBAD) Não, mestre! O senhor está muito
fraco. Não use a magia negra!
KOURA – Agebá! Ratum! Agebá…

23
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

SONS DE TROVÕES E DE VENTO. SOM DE RAIO CAINDO.

KOURA – AAAAAAAAAAH! (CAI MORTO)


ARCHMED – Mestreeeeee!!!
SIMBAD – O maldito caiu fulminado por seu próprio poder.
HAROUN – Simbad, a criatura! Olhe!

O CICLOPE COMEÇA A SE CONTORCER E, SOLTANDO UM GRUNHIDO ALTO, CAI


MORTO.
SONS DE GRITOS E GARGALHADAS. MÚSICA DE SUSPENSE. ENTRAM EM CENA
VÁRIOS SERES ASSUSTADORES COM ROUPAS NEGRAS E ARRASTAM KOURA PARA
AS SOMBRAS.

VIZIR – Com a morte de Koura, toda a magia maligna morreu com ele. E os seres das trevas
vieram buscar o que restou do feiticeiro.

LUZES COMEÇAM A PISCAR.

MARIANA – Por Alah! O que será isso agora?


RADU – Que outra surpresa esta ilha maldita nos reserva?
HAROUN – Ai, ai, ai! Toda hora é uma treta! Isso não acaba nunca.

UMA LUZ MUITO FORTE SE ACENDE E, QUANDO APAGA, A MAGA ESTÁ NO PALCO.

MAGA – O bem e o mal se enfrentaram mais uma vez e o bem venceu, o que trará uma nova era de
luz para o mundo. Simbad! Você é o campeão da luz, por isso recebe a coroa de poder e riquezas
infinitas. Use-a com sabedoria.

A MAGA ENTREGA A COROA PARA SIMBAD. ELE A PEGA, VAI ATÉ A RIBALTA E
PENSA, TOMANDO UMA DECISÃO.

SIMBAD – Vizir!

VIZIR - (SE APROXIMANDO) Sim, Simbad.

SIMBAD – Você foi nomeado pelo sultão como herdeiro do reino. Portanto, acredito que esta coroa
ficará muito melhor em tua cabeça.

SIMBAD COLOCA A COROA SOBRE A CABEÇA DO VIZIR. COMEÇA UM SOM


ESTRANHO. MÚSICA DE SUSPENSE.

VIZIR – Oh! Algo… Algo está acontecendo.

24
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer

O VIZIR TIRA A MÁSCARA E SEU ROSTO NÃO ESTÁ MAIS COM AS CICATRIZES DE
QUEIMADURA.

MARIANA – Vejam! As cicatrizes sumiram! É um milagre!


RADU – Alah seja louvado!

O VIZIR SORRI E VIRA PARA TODOS.

VIZIR – Amigos. Todos serão muito bem recompensados com riquezas e serão sempre muito bem-
vindos em Marábia. E, Simbad, você é o maior herói de todos os tempos e será eternizado nas
histórias que serão contadas através de gerações. Todos saberão quem foi Simbad, o marujo, o
grande herói da arábia!

TODOS FESTEJAM.

VIZIR – Vamos! Voltemos para Marábia, onde festejaremos por muitos dias e muitas noites a
vitória do bem, a vitória da luz.

TODOS SAEM DE CENA FESTEJANDO. FICAM SIMBAD E MARIANA, QUE, CONFUSA,


SE APROXIMA DE SIMBAD, ENQUANTO ESTE OLHA PARA O HORIZONTE.

MARIANA – Simbad. Por que fez isso? Por que recusou a coroa com todo seu o poder e riqueza?
Não entendo.
SIMBAD – A coroa é realmente muito bonita, mas também é muito pesada; o peso do poder; o peso
de ser rei. Um rei não tem muita liberdade e tem muitas responsabilidades de governar um reino. E
eu amo a liberdade de ser apenas eu, Simbad, o marujo. Jamais almejei me tornar rei. Todo rei
precisa se concentrar em cuidar de seu povo. Além disso… um rei não pode nem mesmo escolher
com quem se casar.

SIMBAD SE APROXIMA DE MARIANA. OS DOIS SE ABRAÇAM. OLHOS NOS OLHOS,


BEIJAM-SE APAIXONADOS.

MÚSICA DE FIM.
LUZES SE APAGAM OU CORTINAS SE FECHAM.

FIM

25

Você também pode gostar