Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SIMBAD
por
Alexander Zimmer
Personagens:
Simbad
Hashan
Ária
Radu
Vizir
Haroun
Mariana
Koura
Archmed
Monstro
Gárgula
Capitão de Koura
Soldados do Vizir
Velho Abdul
Monstro do Mar
Guardião do Templo
Maga
Selvagens
Ciclope
Yeti – Monstro Branco
Seres das Trevas
1
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
CENA 1
TODOS VÃO PARA CIMA DA CRIATURA E ATACAM. A CRIATURA DEIXA CAIR UMA
PLACA DE METAL, ENQUANTO FOGE, SAINDO DE CENA. SIMBAD PERCEBE O
MEDALHÃO NO CHÃO E SE APROXIMA, ENQUANTO OS OUTROS OLHAM COM MEDO
E CANSADOS. SIMBAD SE ABAIXA PARA PEGAR A PLACA.
HASHAN – Capitão… Deixe isso pra lá. É uma coisa maligna. Eu sinto que é.
2
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
SIMBAD AGARRA O LEME, JUNTO COM RADU E FAZEM TREMENDA FORÇA. MÚSICA
DE AÇÃO E SUSPENSE.
CENA 2
SIMBAD OLHA PARA UM LADO, OLHA PARA O OUTRO. ALGUÉM SE APROXIMA PELO
OUTRO LADO, SEM QUE ELE PERCEBA.
3
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
SIMBAD INSINUA PEGAR SUA ESPADA, QUANDO ALGUÉM CHEGA POR TRÁS COM
UMA ESPADA EM PUNHO E O SURPREENDE COM UMA ESPADA APONTADA PARA ELE.
KOURA – Morrerá, se não entregá-lo. Você me fala de abuso, mas foi você quem o roubou de meu
mensageiro.
SIMBAD – Mensageiro? Aquele monstro infernal que invadiu meu barco?
KOURA – Vocês estavam em seu caminho. Tiveram sorte de ele não os destruir.
SIMBAD – Devíamos ter acabado com ele, isso sim! Mas, tudo bem. Se é o medalhão que você
quer…
SIMBAD FAZ QUE VAI RETIRAR O MEDALHÃO DO PESCOÇO, MAS ESQUIVA-SE PARA
O LADO, RETIRANDO A ESPADA DA CINTURA. COMEÇAM A LUTAR ESPADA. SIMBAD
LUTA COM OS DOIS AO MESMO TEMPO. NUM DESCUIDO DE KOURA, SIMBAD LHE DÁ
UM SOCO E KOURA CAI ATORDOADO. SEU COMPARSA TENTA FERIR SIMBAD COM A
ESPADA, MAS SIMBAD SE DESVIA COM RAPIDEZ E TAMBÉM LHE DÁ UM SOCO. O
COMPARSA TAMBÉM CAI ATORDOADO. SIMBAD FOGE E É PERSEGUIDO POR KOURA.
ENTÃO, OUVE-SE UMA TROMBETA E VÁRIOS SOLDADOS SURGEM EM CENA,
CERCANDO KOURA, QUE AO VER-SE CERCADO, USA SEUS PODERES.
KOURA – Ha! Há! Há! Há! Há! Pensam mesmo que podem capturar Koura? Aglebá! A tôuche!
Nagá! Aglebá! Zu! Zu!
VIZIR – Acabaste de arranjar um perigoso inimigo, capitão Simbad. Creio que o encontraremos
novamente em breve. Seja bem-vindo à Marábia. Estamos esperando por você há muito tempo.
Venha, Simbad! Seja nosso convidado.
SIMBAD – Acabaste de salvar minha pele, mas… como sabe meu nome?
VIZIR – Ora! Quem não conhece o famoso capitão Simbad? Venha! Conversaremos no caminho até
o palácio.
SIMBAD – Diante das circunstâncias, será um grande prazer.
4
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
CENA 3
KOURA – Dessa vez, ele escapou, Archmed. Os guardas de Marábia o ajudaram e quase me
pegaram.
ARCHMED – Mas vejo que o senhor está bem.
KOURA – Usei minha magia sobre eles, o que me deu tempo para fugir.
ARCHMED – Mas ele fugiu, mestre. Deve estar com o vizir neste momento. E o que é pior, com o
pedaço do medalhão.
KOURA – Não importa. Todas as paredes têm ouvidos e eu tenho meu espião, que os observará das
sombras.
ARCHMED – Por falar nisso, desculpe-me por não ajudá-lo, mestre. Mas aquele Simbad tem um
belo gancho de direita.
KOURA – Você terá a chance de se vingar dele, quando chegar a hora, Archmed. Vamos!
CENA 4
VIZIR – Contou-me uma história realmente estranha, capitão Simbad. Contudo, um fato me faz
acreditar nela. O amuleto em seu pescoço faz de nós aliados contra as forças malignas do mesmo
inimigo. Quero mesmo acreditar que o destino nos uniu.
SIMBAD – Por quê?
VIZIR – Nosso país tem sofrido ataques constantes e malignos pelo sombrio príncipe Koura.
SIMBAD – Koura? Foi aquele que me atacou, não foi?
VIZIR – Sim. Koura conhece todas as artes das trevas e às usa na tentativa constante de fazer este
país se ajoelhar diante dele. Também tenho uma história estranha para te contar, Simbad. Pouco
antes de morrer, nosso amado sultão, que não tinha herdeiros, fez de mim, seu grão-vizir, o herdeiro
de duas coisas, que são partes de um grande e misterioso segredo.
SIMBAD – E o que seriam essas duas coisas?
VIZIR – Você verá. A primeira é esta. (ACENDE-SE UMA PROJEÇÃO NO FUNDO DO
PALCO). A história de uma lendária profecia ainda não-realizada. Quando nosso grande sultão
morreu, corri para ler a profecia gravada nesta parede e tomar conhecimento de tudo quanto o sultão
me pediu para guardar segredo. Foi então que Koura, surgindo das sombras, invadiu esta câmara
secreta e, com seus poderes das trevas, criou uma chama sobrenatural, que queimou tudo ao redor e
destruiu meu rosto. Por isso, uso esta máscara.
SIMBAD – Sujeitinho ruim esse, hein? Mas você falou de duas coisas. Qual é a segunda?
5
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
VIZIR – Esta é a segunda. Algo que o fogo não pôde destruir. Um símbolo e também um grande
enigma. Dizem que o enigma será decifrado, quando esta placa e a que está pendurada em teu
pescoço forem levadas a um mago que habita o templo de muitos rostos. Mas ainda falta a terceira
parte.
SIMBAD – É. Elas realmente se encaixam perfeitamente. Enigma curioso. Mas o que estaria por
trás deste segredo?
VIZIR – Poder. Poder absoluto e jamais imaginado. Poder para livrar este país da ambição maligna
de Koura. Se este poder cair nas mãos dele, todo o mundo cairá em desgraça, onde a liberdade e a
felicidade serão banidas para sempre e as trevas cairão sobre todos nós, escravizando a todos. Rezo
sempre a Alah pedindo uma luz que me ajude a decifrar este enigma antes de Koura, mas ele parece
não me ouvir, pois continuo ignorante de seu significado.
SIMBAD – Eu o ajudarei. Vamos nos unir e resolver este mistério antes do príncipe Koura. Deve
haver uma pista neste medalhão. (ANALISANDO O MEDALHÃO) Há um navio desenhado.
Talvez isso signifique uma viagem. Veja! Também há o desenho de uma ilha.
VIZIR – Todos estes símbolos podem significar muitas coisas, inclusive perigo e morte. Quanto
mais eu estudo, maior fica o enigma. Não há nada escrito em lugar algum sobre este enigma. E
ainda falta a terceira parte. Sem ela, nossa terra estará em grande perigo. Temo que Koura acabe
solucionando o enigma antes de mim e então…
6
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
CENA 5
SIMBAD – Se o vento ajudar, chegaremos a esta área antes de anoitecer. E depois seguiremos por
águas que nunca naveguei antes. Não sei o que poderemos encontrar em nosso caminho.
VIZIR – Então precisamos tomar muito cuidado.
SIMBAD – Sim. Dizem que há criaturas assustadoras nestas águas desconhecidas.
VIZIR – Você acredita nestas lendas? Não pensei que um capitão experiente como Simbad
acreditasse nessas coisas.
SIMBAD – Sim, Vizir. Já naveguei por mares que outros jamais navegaram e vi coisas que
deixariam muitos homens apavorados.
VIZIR – Mas com a ajuda de Alah…
SIMBAD – Há um velho ditado que diz: “Confie em Alah, mas amarre seu camelo”.
CENA 6
7
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
KOURA – Archmed, encontre um navio e um capitão confiável que obedeça ordens, sem fazer
perguntas. Ele deve estar pronto o quanto antes. Agora que fomos descobertos, Simbad vai querer
partir o mais depressa que puder e ganhar dianteira.
ARCHMED – Sim, mestre. Já sei quem posso contratar.
KOURA – Pois então, vá! Não perca tempo.
ARCHMED – Com sua licença, mestre.
KOURA – (COM UMA EXPRESSÃO MALICIOSA) Não se livrará de mim tão fácil, Simbad.
CENA 7
VELHO – Mil perdões, ilustre senhor. Não é nossa intenção molestar-vos, mas o senhor não é o
capitão Simbad, capitão do navio que está no porto de nossa cidade?
SIMBAD – Sim. Sou eu. Quem é o senhor?
VELHO – Oh, senhor Simbad! Eu sou o velho Samir e gostaria de contratar vossos serviços.
SIMBAD – Desculpe-me, senhor, mas já estou a serviço e de partida.
VELHO – Mas não atrapalhará vossa partida, não, não! De jeito nenhum! É um trabalho muito
pequeno e pagarei muito bem.
SIMBAD – Sinto muito mesmo, velho Samir.
VELHO – Ora, por favor, senhor capitão Simbad! Pelo menos tenha a bondade de ouvir a proposta
de um pobre velho suplicante, que a mais ninguém tem a recorrer.
SIMBAD – Está bem, meu velho. Fale! Eu o escutarei.
VELHO – Oh! Obrigado por sua gentileza. Será bem rapidinho; não tomarei muito de seu precioso
tempo. (OS DOIS ANDAM ATÉ UM CANTO, ONDE HÁ UM RAPAZ JOGADO, COM CARA
DE BÊBADO) – Este é meu filho Haroun, um completo inútil, que só me dá desgosto. Olha o
estado em que se encontra esse abestado. Ele está sempre assim, entregue à bebida, à preguiça e a
boemia. Eis minha proposta: te pagarei duzentas moedas de ouro, se o senhor o levar consigo.
SIMBAD – Levá-lo comigo? (SIMBAD ANALISA O RAPAZ) Há! Há! Há! Há! Mas por que eu
quereria levá-lo comigo? Ele não me servirá para nada! Só me dará é mais trabalho, pelo visto.
VELHO – Talvez com o corajoso capitão Simbad, ele aprenda a ser responsável, um homem de
verdade. Trezentas moedas de ouro, então! Pago-lhe trezentas moedas do mais puro ouro de
Marábia!
SIMBAD – Desculpe, Samir. Vejo que és um homem bom, mas – por Alah! – eu não faço milagres.
8
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
CENA 8
SIMBAD – Pronto. Agora que estamos todos aqui… Levantar âncoras! Vamos partir!
TODOS OS MARUJOS – Levantar âncoras!
SIMBAD – Içar velas!
9
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
MÚSICA DE AVENTURA.
B.O.
CENA 9
CENA 10
NAVIO DE SIMBAD.
10
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
VIZIR – E como recompensa por acharem a ilha, em nosso retorno à Marábia, um belo prêmio em
ouro espera cada um de vocês.
TODOS – Aeeeeeeeee!
SIMBAD – Então, rumo à Lemúria! E estejam todos avisados: não teremos vagabundos nesta
viagem. Todos devem trabalhar com vontade e dedicação, para que atinjamos nosso objetivo.
HAROUN – Ué?! O que estamos fazendo no mar? Isso foi ideia de meu pai, não foi? Tudo bem.
Acho que uma volta pela costa vai me ajudar a curar a ressaca de ontem. A brisa do mar é realmente
boa para isso. Já estou até me sentindo muito melhor. Acho que agora já podemos voltar. Queira dar
meia-volta, capitão.
SIMBAD – Voltar? Sinto muito, Haroun, mas não voltaremos tão cedo. Você irá conosco até o fim.
HAROUN – Até o fim? (PENSA) Bem, poderia ser pior. Alguns dias fora de casa não é nada mau.
HAROUN – O quê? O que foi? É mais do que isso? Algumas semanas?… Um mês?… Mais de um
mês?
SIMBAD – Talvez mais ainda, quem sabe?
HAROUN – Mais do que um mês?! Ai, não posso passar tanto tempo no mar… Por favor, mostre
minha cabine. Depois dessa, acho que preciso me deitar e descansar um pouco.
SIMBAD – Nada de cabine e nada de deitar. Você dormirá no mesmo lugar de todos os outros. E se
quiser comer, terá que trabalhar como todo mundo.
HAROUN – Trabalhar? Trabalhar? Ah, meu querido Alah! Isso só pode ser um pesadelo! Deixe-me
acordar! Eu não estou acostumado com esta vida dura. Meus braços doem, minhas pernas doem,
meus dedos doem… Até minhas orelhas doem.
SIMBAD – Está bem. Vou colocá-lo na vigia.
HAROUN – Na vigia?
SIMBAD – Tudo que terá que fazer é sentar e gritar: Olhem!
HAROUN – Sentar e gritar? Adorei! Este é o meu trabalho! Perfeito, Simbad! Obrigado!
SIMBAD – (PARA OS OUTROS) Pelo menos assim, não nos dará mais trabalho do que já temos.
CENA 11
11
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
SIMBAD – Oh, não! Por favor, não se ajoelhe. (AJUDANDO-A A SE LEVANTAR) Você é minha
convidada neste navio.
MARIANA – Mas, senhor, sou sua escrava!
SIMBAD – Escrava? Não. Claro que não.
MARIANA – Mas meu antigo senhor me deu a você. Devo servir-lhe como uma boa escrava. Você
é meu dono agora.
SIMBAD – Dono? Nenhum ser humano tem o direito de ser dono de outro ser humano. A partir de
agora, você está livre. Não pertence a ninguém. Entendeu?
MARIANA – Sim.
SIMBAD – Ótimo.
ENTRA HASHAN.
OS DOIS SAEM DE CENA. MARIANA SORRI E DEPOIS SAI PELO OUTRO LADO.
MÚSICA. LUZ. NOITE.
CENA 12
12
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
SIMBAD – Vamos levá-lo a uma área de nevoeiro intenso. Há pedras e corais o bastante para cuidar
deles. Mude o rumo, Radu.
VIZIR – Mas se o levar para esse lugar, nós também estaremos em perigo.
SIMBAD - (COM EXPRESSÃO DE ESPERTO) Não exatamente. Já naveguei por essas águas.
Não é, Hashan?
HASHAN – Sim. Uma vez.
VIZIR – (ASSUSTADO) Uma vez?
13
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
NEVOEIRO NO PALCO.
CENA 13
CAPITÃO SAI.
KOURA – Não posso mais ficar a mercê de Simbad. Está na hora de ganhar uma vantagem em
cima dele.
KOURA – Nagat chebá! Tribisa Tobá! Krutza kura! Kura! Kura! KURA!
CENA 14
14
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
HAROUN – É impressionante como Simbad conhece esse lugar. Estamos no meio do nevoeiro e ele
navega tranquilo, como se fosse noite clara.
ÁRIA – Simbad já navegou para todo canto. Conhece bem o mar e suas armadilhas.
HAROUN – O que foi, Ária? Que cara é essa? Tá passando mal? Ah, para de brincadeiras, Ária.
Acho que você bebeu demais. Há! Há! Há! Há! Parece maluco!
ÁRIA – O… O… O…
HAROUN – O que? Fala direito, homem!
ÁRIA – O monstro!!
TODOS TENTAM DETER O MONSTRO, MAS ELE É MAIS FORTE QUE TODOS E OS JOGA
LONGE. O MONSTRO SAI DA COXIA COM O MAPA NA MÃO E MERGULHA NO MAR.
SOM DE ALGO CAINDO NA ÁGUA.
15
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
CENA 15
KOURA – Não precisa temer, Archmed. Ele é inofensivo e obedece a todas as minhas ordens.
(PARA O MONSTRO) Serviste-me bem. Agora, retorne para as profundezas abissais e trevosas do
oceano. Vá!
KOURA – Capitão!
CAPITÃO – (ENTRANDO EM CENA) Sim, mestre Koura.
16
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
KOURA – Tire-nos deste nevoeiro e leve-nos de volta ao curso. (ENTREGA-LHE O MAPA) Aqui
está o mapa. Já não precisamos mais de Simbad para encontrar a ilha de Lemúria. Há! Há! Há! Há!
KOURA – Meu espião, vá até Simbad e observe-o das sombras. Encontre-o! Vá!
CENA 16
SIMBAD – Finalmente Lemúria. Creio que teremos muito o que caminhar nesta terra estranha.
Fiquem atentos. Todo cuidado é pouco. Não sabemos que perigos nos aguardam.
SIMBAD – Haroun, pensei que você escolheria ficar no barco. O que o fez decidir vir?
HAROUN – Ah, capitão! Já estava cansado de ficar chacoalhando naquele barco. É bom poder
pisar em terra firme de novo. Bater pé por aí, sabe? Ver as novidades, as modas de Lemúria…
SIMBAD – Mesmo sabendo que é uma terra cheia de perigos?
HAROUN – Marábia era cheia de perigos, capitão. Que perigos maiores poderíamos encontrar por
aqui, uma ilha esquecida pelo tempo?
SIMBAD – (COLOCANDO MEDO EM HAROUN) As lendas falam de monstros mitológicos,
talvez demônios do próprio inferno, a nos espreitar atrás de alguma rocha ou dentro de alguma
caverna, prontos para arrancar nossos corações e comê-los ainda palpitantes.
17
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
HAROUN – (COM OS OLHOS ARREGALADOS DE MEDO) Ah!… Esse tipo de perigo, então!
… Demônios, né? Sei… Pensei que não tinha nada demais por aqui… Mas por que o senhor não
falou logo?
SIMBAD – Mas falamos sobre isso no barco.
HAROUN – Mas não desse jeito, né? Falou de perigos, periguinhos, que eu achei que eram só essas
coisinhas bobas… Ai, meu Pai Alah! Talvez eu devesse ter ficado no barco. Pra quê que eu fui
inventar de descer nessa ilha desgramada? Lá minha linda pele sedosa e maravilhosa estaria segura,
bem segurinha.
SIMBAD – Achei que você tinha se tornado finalmente corajoso.
HAROUN – Corajoso?… Oh! Por Alah! Ser herói dá muito trabalho. É perigoso demais esse
negócio de herói. Eu quero ser uma pessoa comum vivendo uma vida comum. Mas agora babou,
né? Que Alah nos proteja!
CENA 17
KOURA – Lemúria! Quem imaginaria que um dia estaríamos na mítica ilha dos deuses? Archmed,
mande os homens voltarem ao navio e tomarem um bom rum, enquanto aguardam nosso retorno.
Será mais prudente irmos sozinhos, para que ninguém nos veja.
ARCHMED – Sim, mestre. Capitão!
CAPITÃO – Sim, Archmed.
ARCHMED – Leve seus homens de volta ao navio e nos aguardem. Enquanto isso, mestre Koura os
presenteia com seu melhor rum. Bebam à vontade.
ARCHMED – Sei que propôs que entrássemos sozinhos nesta ilha, mas seria realmente prudente
que apenas nós dois nos aventurássemos por esta terra estranha e cheia de perigos?
KOURA – Não há o que temer, Archmed. Não nos faltará proteção. Esqueceu-se que teu mestre é o
senhor das trevas? Agora, vamos em frente, pois Simbad já está bem adiantado.
SAEM DE CENA.
18
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
CENA 18
MARIANA – Simbad, Já estamos andando há horas por entre estas estátuas gigantes e estranhas.
Será que estamos no caminho certo?
SIMBAD – Me parece que só existe esta estrada por entre estes paredões de pedra e estas enormes
estátuas. Sigamos em frente! Acredito que podemos descobrir alguma coisa logo, logo.
MARIANA – Veja, Simbad! Uma entrada naquela velha parede de pedras. Acho que é uma caverna.
HAROUN – Ai! Caverna, não! Tudo, menos caverna! Tenho pavor e caverna! Lugar escuro, cheio
de insetos estranhos e gosmentos. Além do mais, sempre acontecem coisas ruins em cavernas. Eu
me cago todo dentro de caverna!
ÁRIA – Corajoso pacas, hein, Haroun? Po!
HAROUN – Melhor ser medroso, do que colocar o fiofó em perigo.
SIMBAD – Vamos entrar.
HAROUN – Ah, não! Tá de brincadeira, né? Tá procurando! Ai, meu Alah! Agora que eu me cago
mesmo todinho nessa disgrama de caverna! E eu nem trouxe uma cueca extra.
SIMBAD – (RINDO) Ora, deixe de bobeira, Haroun! Vamos de uma vez!
TODOS SAEM.
CENA 19
VIZIR – Vejam estes enfeites. Todas estas gravuras. É exatamente como estava escrito nos
pergaminhos antigos. Um templo inigualável esculpido na rocha. Esta caverna é o templo da lenda;
é o templo do oráculo de toda sabedoria. Nunca imaginei que um dia conheceria este lugar. Vamos
achar o grande oráculo!
19
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
VIZIR – Oh, nobre guardião! Nós lhe trazemos um símbolo do sultão de Marábia. Viemos
humildemente procurar o oráculo de toda a sabedoria. Veja! Temos duas placas que se encaixam
como uma.
GUARDIÃO – Abne Ale Alavra! Sei-á! Sei-á! Alalu! Alalu-Niá! Alalu-Niá! Niá!! NIA!!!
MAGA – Dois tabletes. Apenas dois tabletes. Mas ainda falta um terceiro, que permanece oculto.
SIMBAD – Sim. Falta o terceiro.
MAGA – A busca não acabará, até que as três partes formem uma. E perto de vós segue a sombra
do mal, em forma de gente. Ele se veste com roupas de seda e segue com sedento de poder. Destino!
Destino! Destino! O homem pode escolher caminhos, mas não pode se esconder do destino final,
pois ele está marcado como um arco-íris no céu. O destino é onde bem e mal se encontrarão, para
medir seus poderes, pois os atos de fraqueza dos mortais farão pender a balança de um lado ou de
outro. Agora, vão! Vocês devem ir pelo caminho que o destino escolher. Vocês devem ir! Vão! Vão
agora! Vão!
SIMBAD – Tá bom, mas… ir para onde?
MAGA – Vão para o norte, até acharem a terra dos pagãos. Ante o deus de um só olho, a morte
espera os invasores do lugar sagrado, oculto aos olhos dos homens está o terceiro tablete de ouro.
Agora, vão! Vão! Vão para o norte!
SIMBAD – Peraí! Só mais uma pergunta.
MAGA – (COM CARA DE IMPACIÊNCIA) Mas tu é chato pacas, hein? Qual a parte do norte que
você não entendeu? Quer que eu desenhe? Tem mais pergunta coisa nenhuma, não! Vá pro norte e
pronto! Já disse. Vá pro norte! Vá logo, seu pentelho! (SAI RECLAMANDO CONSIGO MESMO)
Po! Cara chato pra caramba! Tava aqui tirando um cochilo e vem esse chato me perturbar! Isso é
falta do que fazer. Fica de barquinho pra lá e pra cá, de cá pra lá, em vez de ir lavar uma roupa. Ah!
Vai procurar um trabalho.
SIMBAD – Esse oráculo é meio sem paciência, né? Deve ser a idade. É melhor irmos logo. Vamos!
KOURA – (OFF) Vão aonde, Simbad? Já chegaram onde eu precisava que chegassem, agora podem
ficar por aí mesmo, que eu termino o serviço.
SIMBAD – Feiticeiro maldito! Eu vou…
KOURA – (OFF) Você vai o quê? Você vai o quê? Você não vai nada! Devia ter devolvido o
medalhão, quando nos encontramos. Agora é tarde. Alabá! Alabá! Arrura! Arruraaaaaaaa!
20
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
CENA 20
21
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
KOURA – Sim. Estamos num local que foi muito sagrado no passado. Veja a bela estátua do deus
Arrura.
DE REPENTE, OS DOIS SÃO CERCADOS POR SELVAGENS COM LANÇAS NAS MÃOS E
QUE FALAM UM IDIOMA DESCONHECIDO.
O CICLOPE VAI PARA CIMA DE SIMBAD, QUE TENTA SE DEFENDER COM SUA
ESPADA, MAS O CICLOPE É INVULNERÁVEL E ATACA COM MUITA HABILIDADE,
ACERTANDO-O NA CABEÇA. SIMBAD CAI DIANTE DELE. O CICLOPE AGARRA SEU
PESCOÇO, ENFORCANDO-O. TODOS TENTAM AJUDAR SIMBAD, MAS O CICLOPE É
MUITO FORTE E LUTA COM TODOS, ENQUANTO ENFORCA SIMBAD LENTAMENTE.
SIMBAD COMEÇA A PERDER AS FORÇAS. MARIANA TENTA ATACÁ-LO, MAS ELE A
JOGA NO CHÃO E PREPARA-SE PARA PISÁ-LA, QUANDO VÊ A TATUAGEM DO OLHO
NA PALMA DE SUA MÃO E LARGA SIMBAD, QUE MASSAGEIA O PESCOÇO
INCOMODADO. O CICLOPE OLHA PARA MARIANA E PARECE FASCINADO PELA
TATUAGEM.
O GRÃO VIZIR TIRA SUA MÁSCARA E REVELA SUA FACE DEFORMADA PELO FOGO. O
CICLOPE SE ASSUSTA E SAI DE CENA LEVANDO MARIANA. KOURA E ARCHMED VÃO
ATRÁS. OS SELVAGENS TAMBÉM DE ASSUSTAM E CORREM PARA FORA DE CENA,
MAS PELO LADO OPOSTO. O VIZIR TORNA A COLOCAR A MÁSCARA.
22
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
KOURA – Mate-a! Mate-a diante do altar dos mil deuses e seu sangue fará com que eu vença! As
trevas serão vitoriosas!
SIMBAD – (ENTRANDO EM CENA) Não, se eu puder impedir, Koura!
HAROUN – Pronto! Agora que babou tudo mesmo. Se um monstro já tava brabo, dois então que
fedeu tudo de uma vez. Ai, meu Alahzinho!
SIMBAD – Seu feiticeiro tolo! Sua magia matou os dois monstros. Agora, você vai perder.
KOURA – (MUITO CANSADO) Chega! Não posso vencê-lo na espada, mas as trevas farão o que
minha espada não pôde fazer!
ARCHMED – (PRISIONEIRO DOS HOMENS DE SIMBAD) Não, mestre! O senhor está muito
fraco. Não use a magia negra!
KOURA – Agebá! Ratum! Agebá…
23
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
VIZIR – Com a morte de Koura, toda a magia maligna morreu com ele. E os seres das trevas
vieram buscar o que restou do feiticeiro.
UMA LUZ MUITO FORTE SE ACENDE E, QUANDO APAGA, A MAGA ESTÁ NO PALCO.
MAGA – O bem e o mal se enfrentaram mais uma vez e o bem venceu, o que trará uma nova era de
luz para o mundo. Simbad! Você é o campeão da luz, por isso recebe a coroa de poder e riquezas
infinitas. Use-a com sabedoria.
A MAGA ENTREGA A COROA PARA SIMBAD. ELE A PEGA, VAI ATÉ A RIBALTA E
PENSA, TOMANDO UMA DECISÃO.
SIMBAD – Vizir!
SIMBAD – Você foi nomeado pelo sultão como herdeiro do reino. Portanto, acredito que esta coroa
ficará muito melhor em tua cabeça.
24
A Grande Viagem de Simbad Alexander Zimmer
O VIZIR TIRA A MÁSCARA E SEU ROSTO NÃO ESTÁ MAIS COM AS CICATRIZES DE
QUEIMADURA.
VIZIR – Amigos. Todos serão muito bem recompensados com riquezas e serão sempre muito bem-
vindos em Marábia. E, Simbad, você é o maior herói de todos os tempos e será eternizado nas
histórias que serão contadas através de gerações. Todos saberão quem foi Simbad, o marujo, o
grande herói da arábia!
TODOS FESTEJAM.
VIZIR – Vamos! Voltemos para Marábia, onde festejaremos por muitos dias e muitas noites a
vitória do bem, a vitória da luz.
MARIANA – Simbad. Por que fez isso? Por que recusou a coroa com todo seu o poder e riqueza?
Não entendo.
SIMBAD – A coroa é realmente muito bonita, mas também é muito pesada; o peso do poder; o peso
de ser rei. Um rei não tem muita liberdade e tem muitas responsabilidades de governar um reino. E
eu amo a liberdade de ser apenas eu, Simbad, o marujo. Jamais almejei me tornar rei. Todo rei
precisa se concentrar em cuidar de seu povo. Além disso… um rei não pode nem mesmo escolher
com quem se casar.
MÚSICA DE FIM.
LUZES SE APAGAM OU CORTINAS SE FECHAM.
FIM
25