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OTTÍLIA EM CENA NOVA VERSÃO

Sonho de princesa

‘Ottília em Cena’
ENCENA:

PERSONAGENS

Príncipe Ádamo
Princesa Ayme
Princesa Yasmini
Bruxa Malva
Bruxa Alda
Bruxa Fedora
Rei
Rainha
Widlow
Mensageira
Criado Um
Criado Dois
Elfo Narrador

ENTRA O NARRADOR.
NARRADOR – Houve um tempo, em um pequeno reino chamado Granar, em que um
evento de grande importância estava prestes a mudar a vida de todos os moradores de lá!
Seria um concurso, promovido pelo próprio Principe Ádamo, que elegeria sua nova esposa,
e consequentemente futura rainha de Granar. Porém, em uma data estranha, de um ano
estranho, duas estranhas candidatas apareceram querendo disputar a vaga! Donas de uma
beleza encantadora. Seus nomes? Yasmini e Ayme! E o Principe, coitado? Tinha que se
decidir entre as duas! Vamos juntos acompanhar essa história e descobrir o porquê das duas
garotas serem tão parecidas… Mas não se engane, há também no reino três criaturas muito
perigosas, bruxas poderosíssimas… Vamos!
(AS LUZES SE APAGAM, O NARRADOR SAI. QUANDO ACENDE
NOVAMENTE, VEMOS YASMINI SENTADA, MAJESTOSA E COM AR
GRANDE, EM SUA POLTRONA SENDO PAPARICADA POR DUAS CRIADAS.
ENTRA O MENSAGEIRO, AFOBADO, CAI SOB O VESTIDO DA PRINCESA.)
MENSAGEIRA – Yasmini! Yasmini!
CRIADO UM – Ora bolas, saia daí! Acabamos de arrumar o vestido de Yasmini!
ARNALDO SILVEIRA (PRIMEIRA VERSÃO) VINICIUS BORGES (ADAPTAÇÃO)
OTTÍLIA EM CENA NOVA VERSÃO
Sonho de princesa

CRIADO DOIS – Isso mesmo!


MENSAGEIRO – Peço perdão, princesa, pelo modo como entrei mas… Trago notícias do
principado!
(CRIADOS FAZEM ALVOROÇO. YASMINI DESDENHA)
YASMINI – E as notícias são boas, mensageira?
MENSAGEIRA – Não poderiam ser melhores. O Príncipe Ádamo acaba de abrir as
inscrições para as donzelas do reino que queiram candidatar-se ao casamento com ele!
(CRIADOS FESTEJAM. YASMINI LANÇA UM OLHAR FURIOSO, LEVANTA-
SE COM ELEGÂNCIA E VAI ATÉ O CENTRO DO PALCO)
YASMINI – Pois bem… Só não sei de uma coisa…. (Falsa modéstia) Será que devo
me candidatar?
CRIADO UM – Não temos dúvida alguma que deve, senhorita!
CRIADO DOIS – Isso mesmo! Ninguem nesse reino sequer ousa em ter beleza que se
assemelhe a de Yasmini!
CRIADO UM – Este concurso já está ganho!
CRIADO DOIS – Será a nova princesa e rainha de Granar!
YASMINI – (CANÇÃO)

Não sei, não sei…


Não sei se deveria.
A minha vida vai mudar,
Outros vestidos vou usar!
Com certeza!
Mas o príncipe é tão lindo
De olhos azuis,
Capazes de encantar o mundo!
Ah!!!
Já sei, já sei!
Vou me candidatar!
(CRIADOS FAZEM FESTA, MENSAGEIRO QUASE DORMINDO.)
YASMINI – Mensageiro. Mensageiro? (Grita) MENSAGEIRO!
MENSAGEIRO – (Desperta) Não fui eu! Quero dizer, sim senhorita.
YASMINI – Quero que volte ao principado e faça minha inscrição. E, óbvio,
certifique-se de saber quem são as outras… (Desprezo) candidatas. Não saia de lá enquanto
todos os nomes não forem anunciados.
MENSAGEIRO – Sim, senhora.
YASMINI – Ah… Mais uma coisinha. Veja se consegue descobrir as preferências
do Príncipe. Coisas que os rapazes acham Bonitas nas moças, como cor do cabelo, cor dos
olhos, tamanho, altura, medidas, etc.
MENSAGEIRO – Sim, senhorita.
(FICA PARADO ENCARANDO ELA.)
ARNALDO SILVEIRA (PRIMEIRA VERSÃO) VINICIUS BORGES (ADAPTAÇÃO)
OTTÍLIA EM CENA NOVA VERSÃO
Sonho de princesa

YASMINI – (Berra) Sai logo daqui!


(ELE SAI, ASSUSTADO.)
YASMINI – Assim que eu souber as preferências do Príncipe Ádamo, farei algo que
me fará ser a escolhida… Eu não nasci pra perder (ri).
(CRIADOS FESTEJAM. TODOS VIRAM ESTÁTUAS, ENTRA O NARRADOR.)
NARRADOR – Vocês viram que de santa a princesa não tem nada? Isso mesmo! Eu
posso apontar minhas orelhas pontudas que ela só quer casar com o tal príncipe para poder
mandar no reino… E você? O que você acha?
(APGAM-SE AS LUZES. TODOS SAEM. ENTRA AYME E WIDLOW.)
WIDLOW – Ayme… Me conta uma coisa: Você já sonhou ou desejou alguma vez
ser princesa?
AYME – Ora, Widlow… Qual garota já não sonhou com isso? Quantas vezes papai
levou-me ao jardim do princípado para ver o Príncipe Ádamo… (Suspiro) Ele é tão lindo!
WIDLOW – Pois então para tudo que eu tenho uma ótima notícia.
AYME – Como assim?
WIDLOW – Eu tenho um segredo.
AYME – (Curiosa) Um segredo?
WIDLOW – Sim, sim. E muito importante! Eu posso até te contar… Mas se você
prometer sigilo!
AYME – A minha boca é um túmulo! Conta! Conta!
WIDLOW – Lembra do Gahás?
AYME – Gahás? (A si própria) Não seria ele aquele seu amigo guarda, responsável por
fazer a escolta do Príncipe?
WIDLOW – Esse mesmo. Gahás me contou que o príncipe acaba de abrir as
inscrições para as candidatas que queiram concorrer ao principado com ele. Mas é claro,
as candidatas tem que ser rápidas… Oportunidades como essa acabam rápido. O que me
diz?
AYME – (Desanimada) Ah… Isso. Bem, eu não teria chance alguma. Sou pobre, nem
sequer conseguiria fazer minha inscrição Não temos carruagem e papai nem sequer vem
pra casa hoje.
WIDLOW – Quanto a isso, você não se preocupe, deixe com o melhor. Eu tenho um
plano: A gente termina o nosso lanche e sai de fininho… E você faz sua inscrição!
AYME – Widlow, eu agradeço seu interesse, de coração. Mas não posso deixar minha
mãezinha sozinha, ela está dormindo e/
WIDLOW – (Cansado) Você é chata, hein? Ayme, por favor, isso não é problema… A
gente sai junto, faz igual saci, vai em um pé só… Sua mãe nem sua falta vai sentir, dentro
de duas horas a gente tá na área de novo. Vamos logo!
AYME – Canção:
Será? Será?
A minha vida vai mudar,
Se com o príncipe eu casar.
ARNALDO SILVEIRA (PRIMEIRA VERSÃO) VINICIUS BORGES (ADAPTAÇÃO)
OTTÍLIA EM CENA NOVA VERSÃO
Sonho de princesa

Será tudo diferente,


Será que serei contente?
Mas vai mudar, com certeza!
Vai mudar, vai mudar…
Pra melhor eu sei que vai!
Outros vestidos vou usar,
Mas minha vida vai mudar!
Uma princesa… Será?
Ah! Vou me candidatar!!!
(À Widlow) Já decidi, Widlow… Eu vou!
WIDLOW – Essa é a Ayme que eu conheço! Assim que se fala. Mas vamos logo pra sua
casa antes que fique tarde pro lanche, e daí, enfim, poderemos partir fazer sua… (Respira
fundo) inscrição!
AYME – Tudo bem, então.
(OS DOIS SAEM DE CENA. ENTRA O NARRADOR.)
NARRADOR – Ora essa, que loucura, viram isso? Essa Ayme é a cara da Yasmini! São
muito parecidas! Mas como isso é possível? Espera aí… Estou me lembrando de uma
história que ouvi há muito tempo atrás! (Conta) Era um honrado cavaleiro do reino de
Granar, casado com uma simples camponesa. A função que o rei havia lhe dado era
simples: Caçar as bruxas e expulsa-las do reino. Esse cavalheiro, então, se tornou inimigo
número um das bruxas. Então, um certo dia, envolveram-se em uma batalha, na qual o
guerreiro saiu morto… Só que ele tinha uma filha, rescém nascida, que havia perdido a
mãe ao nascer. A magia das bruxas, unida as lagrimas da criança, foi tão forte, que acabou
criando um clone a sua imagem e semelhança… Yasmini! Apareceu então uma pobre
donzela, que se comoveu e decidiu criar uma das crianças, Ayme. Ela colocou a outra
criança, Yasmini, em um cesto e a deixou num grande castelo, onde ela achava que a
criança seria amada e educada. E foi assim que Yasmini e Ayme se separaram. Enquanto
Ayme teve uma criação humilde e amorosa, Yasmini foi mimada ao extremo, tornando-se
então uma garota invejosa e manipuladora…PUXA! Essas são as nossas princesas! Mas
elas não sabem que são “irmãs” … Como será que nossa história irá se desenrolar?
(NARRADOR SAI DE CENA, SERELEPE. APAGAM-SE AS LUZES, QUANDO
ACENDER, ESTARÃO EM CENA A RAINHA, O REI E O PRINCIPE ÁDAMO.)
ÁDAMO – Puxa vida, estou tão ansioso… Quem será que vai se candidatar?
REI – Tenha calma, meu filho. Tenha calma. Você pode ter a certeza que muitas
garotas irão vir se inscrever, todas sonham em casar com o famoso Príncipe Ádamo. Mas
você pode ter certeza de uma coisa: Será difícil saber se sua escolhida o ama de verdade.
RAINHA – E é exatamente por esse motivo que eu sou totalmente contra esse concurso.
Nós nunca saberemos as reais aptidões da escolhida. Nunca saberemos se foi uma boa
escolha. Caráter e berço são duas coisas que não se pode descobrir apenas olhando pra cara
de alguém!

ARNALDO SILVEIRA (PRIMEIRA VERSÃO) VINICIUS BORGES (ADAPTAÇÃO)


OTTÍLIA EM CENA NOVA VERSÃO
Sonho de princesa

ÁDAMO – Mas mamãe, você tem que entender os meus motivos. Eu abri as inscrições
para todas as donzelas do reino. Assim não só as de posses poderão concorrer, mas também
outras garotas que sonham em ser princesa. Elas vão ter a chance de ter o sonho realizado.
Acha justo anular um sonho em prol de um medo? Riscos todos nós corremos.
RAINHA – Meu filho, você é muito ingênuo. Não podemos simplesmente sair realizando
o sonho de todas as pessoas por aí. É cada um com os seus problemas…
REI – E também é muito perigoso, meu filho. Este concurso deixa o nosso castelo
extremamente vulnerável. As magias da floresta Yumann podem nos atingir,
principalmente essa época do ano.
ÁDAMO – De qual forma, papai? Não acredito que exista alguém na floresta Yumann
disposto a disputar nossa vaga.
REI – Você é muito ingênuo, filho…
RAINHA – (Sarcastica) Burrice agora virou ingenuidade… O que queremos te dizer, é
que na disputa pelo poder, vale tudo. É igual no amor e na Guerra, filho.
ÁDAMO – Você fala de tal forma, mamãe, que parece que você faria de tudo pelo poder.
REI – Tolice, meu filho. Sua mãe está sendo verdadeira, ela é sábia.
ÁDAMO – Sábia ou esperta? Existe diferença… Fale mamãe, você faria de tudo pelo
poder?
RAINHA – (Nervosa) Ora, filho, claro que não. Estou dizendo o que vejo e sei, as pessoas
lá fora são dispostas a tudo pra ter uma chance. Mas vamos mudar de assunto. Vejo que
você está decidido.
ÁDAMO – Exatamente. Nada como esperar calmo e tranquilo… Aliás, quero ver minha
princesa de perto. Então tomei a decisão de ficar disfarçado ao lado do escrivão durante as
inscrições.
REI – Meu filho, isso é ainda mais perigoso!
RAINHA – Concordo com seu pai. Aguarde na biblioteca, ou algum lugar mais reservado.
ÁDAMO – Não, mamãe. Vou ficar ao lado do escrivão e ponto final.
RAINHA – Está bem, então. Que assim seja. Qualquer coisa, nos avise, ouviu? Estaremos
lá dentro.
REI – Tome cuidado, meu filho. Nem sempre a gente vê a beleza interior de uma
pessoa logo de cara. Não se deixe enganar!
(O PRÍNCIPE OS ABRAÇA. TODOS VIRAM ESTÁTUAS. VOLTA O
NARRADOR.)
NARRADOR – Viram como o príncipe é teimoso? Mas será que ele vai fazer uma
escolha certa? Yasmini, Ayme ou nenhuma delas?
(LUZES APAGAM. TODOS SAEM. ACENDE COM AS AS TRÊS BRUXAS NO
PALCO.)
MALVA – Ada, Fedora, olhem só: O que esperávamos está começando a acontecer! O
ano que chega a cada cem anos está sorrindo para nós três!
ADA – Já percebi, Malva… Veja bem: Esse é o ano em que temos nas mãos
todos os poderes da floresta Yumann ao nosso dispor…
ARNALDO SILVEIRA (PRIMEIRA VERSÃO) VINICIUS BORGES (ADAPTAÇÃO)
OTTÍLIA EM CENA NOVA VERSÃO
Sonho de princesa

FEDORA – Não podemos perder a oportunidade! Devemos nos preparar para agir muito
em breve. Tomaremos uma atitude!
MALVA – E o que faremos deve ser algo perverso e bem lucrativo para nossas carreiras
de bruxas… Afinal de contas, depois de dez anos, só daqui a cem anos podemos fazê-lo
novamente.
ADA e FEDORA – Sim, Malva!
FEDORA – (Olha a bola de cristal)
ADA – O que foi, Fedora?
FEDORA – Olhem para a bola de cristal e vejam por si mesmas.
(MALVA E ADA OLHAM A BOLA.)
MALVA – Olhe só… O tonto do Príncipe Ádamo vai escolher sua princesinha…
FEDORA – E justamente no ano em que estamos ainda mais fortes.
MALVA – Tive até uma idéia!
ADA – Que idéia? Podemos saber?
MALVA – Estamos com a faca e o queijo na mão…
ADA – Não tô vendo não! Cadê?
MALVA – Sua tonta, é modo de dizer. Continuando, estamos com a faca e o queijo nas
mãos… Pensem bem. Imaginem se nós colocamos no caminho do Principe uma
pretendente que, muito provavelmente vencerá, nós teremos acesso ao principado de
Granar com todos os seus poderes…
FEDORA – Incluindo o cetro mágico!
ADA – Que o rei usa sem saber que é mágico.
MALVA – Isso mesmo! E, se nós nos apoderarmos do cetro, teremos o poder em nossas
mãos…
ADA – Mas Malva, o cetro só tem magia nas mãos de uma pessoa pura, coisa
que nós não somos!
MALVA – Mas nossa candidata será. Venha, vamos ver quem são as candidatas inscritas
na bola de cristal.
(ELAS SE AFASTAM PARA OLHAR NA BOLA DE CRISTAL. LUZES MAIS
FRACAS, ENTRA A MENSAGEIRA.)
MENSAGEIRO – Canção:
Nunca vi tanta beleza
Tudo nela se completa
Yasmin vencedora e logo
Uma doce e bela princesa!
Ela tem a beleza, ela tem a nobreza
Com o Príncipe vai se casar
E com ele nós vamos morar
No castelo de Granar!
(ELE SAI DE CENA.)

ARNALDO SILVEIRA (PRIMEIRA VERSÃO) VINICIUS BORGES (ADAPTAÇÃO)


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Sonho de princesa

ADA – Veja só Malva… Uma delas é a bela Yasmini. Com esse tanto de beleza,
ela tem muita chances!
MALVA – Sim, Ada. Ela está dentro dos padrões, inclusive é muito bonita. Veremos
agora se existem outras.
FEDORA – Vejam ali, caminhando pela floresta…
(ENTRAM AYME E WIDLOW, ASSIM COMO O MENSAGEIRO ENTROU.)
AYME – Widlow, vou te fazer uma pergunta… Seja sincera comigo. Você acha que eu
realmente tenho alguma chance?
WIDLOW – Se você tem alguma chance? Ora, Ayme, não seja tão boba… Imagine
só, todo aquele castelo recebendo suas ordens: Criados, façam isso. Criados, façam aquilo.
Que luxo!
AYME – Widlow! Como eu poderia mandar em alguém? Não sei fazer isso, e ainda por
cima nem sei se irei vencer o concurso…
WIDLOW – Pois eu tenho certeza absolutíssima que você ganha. Nenhuma
candidata será páreo para Ayme, a gata da floresta Yumann!
AYME – Obrigado, Widlow.
WIDLOW – Mas vamos logo! Corra, temos que fazer sua inscrição.
AYME – Tudo bem, vá na frente que eu te sigo…
(OS DOIS SAEM DE CENA. BRUXAS RETORNAM.)
ADA – Engraçado… Achei essa candidata igualzinha a outra.
FEDORA – Cara de uma, focinho de outra.
MALVA – O que há de engraçado nisso, suas idiotas? Temos que saber qual das duas
devemos escolher para ser nossa candidata!
ADA – Mas você não achou estranho elas serem tão parecidas?
MALVA – Claro que achei. Vamos ver com a nossa bola o que devemos saber.
FEDORA – Isso!
MALVA – Canção:
A nossa bola de cristal
Vai nos dizer se isso é normal.
As duas garotas serem iguais,
Como pode, como pode?
Tanta semelhança
E com qual garota, faremos nossa aliança? Ah, ah, ah, ah!
E com qual garota,
Faremos nossa aliança!
Ah, ah, ah, ah!
ADA – E então, bola de cristal, o que tem a nos dizer?
BOLA – (OFF) As duas meninas são irmãs! São gêmeas. Foram separadas quando eram
bebês, e de modo indireto a culpa é de vocês. O destino indica que a nova princesa de
Granar será Ayme, para que a paz possa continuar reinando no reino!
FEDORA – Que bonito! Emocionante história…
ARNALDO SILVEIRA (PRIMEIRA VERSÃO) VINICIUS BORGES (ADAPTAÇÃO)
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Sonho de princesa

ADA – Sua pateta! Nós não queremos paz aqui, burra. Está tudo tão calmo,
nunca acontece nada diferente… E isso há quase cem anos!
MALVA – Escutem aqui: Temos que mudar esse destino! Temos que impedir que Ayme
consiga fazer a inscrição dela.
FEDORA – E como faremos isso?
MALVA – Eu tenho um plano. Vamos impedir que ela chegue até o castelo, ao mesmo
passo em que tomaremos outras atitudes. Ada, você vai até a sonsa da Ayme, por favor.
Tome alguma atitude para que ela não faça a inscrição.
ADA – Tudo bem! Já estou indo.
MALVA – Você, Fedora, vai até o Príncipe. Ele é ingênuo e burro, vai ser fácil o enganar.
Vá!
FEDORA – E você, Malva? Vai ficar aqui com a faca e o queijo na mão?
MALVA – Claro que não, eu fico com a parte mais difícil… Eu irei até Yasmini abrir os
olhos dela sobre a concorrência. Agora suma!
(SAEM ADA E FEDORA.)
MALVA – Ayme jamais conseguirá se inscrever, ao passo que Yasmini será nossa
candidata... Ah, ah, ah, ah, ah.
(MALVA TAMBÉM SAI. ENTRAM OS DOIS CRIADOS.)
CRIADO UM – Puxa… Você acredita que a senhorita Yasmini possa ganhar esse
concurso?
CRIADO DOIS – Olhe, não fale pra ninguém, mas tenho minhas dúvidas… Embora ela
seja a mais linda de Granar, é uma cobra. Coitado do Príncipe se a escolher.
CRIADO UM – E você é falsa! Na frente dela rasgou mil elogios, agora que está falando
mal.
CRIADO DOIS – E eu sou boba? Se falo isso pra ela, ela corta minha cabeça. Aquela
jararaca!
CRIADO UM – Você não toma jeito, mesmo… Bem, acho que está na hora de nos
divertimos um pouco, anda tudo tão parado…
CRIADO DOIS – Sim! Que tal irmos ao coração da floresta? Podemos ainda receber
alguma novidade sobre o concurso.
CRIADO UM – Então vamos!
(OS DOIS SAEM. ENTRA O PRÍNCIPE ADAMO.)
ÁDAMO – Puxa vida… Estou tão cansado, pensei que repousar fosse resolver… Mas não
resolveu. E já está quase na hora de começarem as inscrições.
(ENTRA FEDORA.)
FEDORA – Belo Príncipe Ádamo… Viajei de um lugar muito distante para falar com
você!
ÁDAMO – (Assustado) Sai pra lá coisa feia! Sai de perto de mim!
FEDORA – Seu idiota! Eu quero lhe dar um recado.
ÁDAMO – Mensagem do inferno eu dispenso, criatura nefasta.
FEDORA – Bem que me disseram que você é um palerma.
ARNALDO SILVEIRA (PRIMEIRA VERSÃO) VINICIUS BORGES (ADAPTAÇÃO)
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Sonho de princesa

ÁDAMO – Olha bem como fala comigo! Eu sou o Príncipe!


FEDORA – E eu a bruxa. Vai chorar?
ÁDAMO – Oh meu Deus! Uma bruxa!
FEDORA – Descobriu sozinho?
ÁDAMO – Saia de perto. Não tenho tempo a perder com você! Se me incomodar muito
mais, te prendo no calabouço.
(ENTRA A RAINHA.)
RAINHA – Meu filho, ainda está aí…
(ELA VÊ FEDORA E DÁ UM GRITO.)
RAINHA – Você?
FEDORA – Eu.
ÁDAMO – Ela.
RAINHA – Meu filho, ela te falou alguma coisa? Por que você estava conversando com
ela?
ÁDAMO – Ela disse que trouxe um recado pra mim, mamãe, mas eu não quero ouvir.
RAINHA – Faz bem não dar ouvidos a uma bruxa.
FEDORA – Interessante esse seu desprezo pelas bruxas, dona Rainha… Será que seu filho
sabe de uma história interessante que temos em comum?
RAINHA – Calada! Saia já do meu reino!
FEDORA – Ela nunca te contou, Ádamo? Sobre o passado dela?
ÁDAMO – Do que vocês estão falando?
FEDORA – A sua mãe foi uma bruxa, Ádamo! Uma bruxa e das piores… Ela se uniu a
mim e as minhas comparsas num plano para roubar o reino, há muitos anos atrás!
ÁDAMO – Isso é verdade, mamãe?
RAINHA – Claro que não, meu filho! Não acredite no que essa bruxa fala. Ela mente.
FEDORA – Você sabe, Ádamo, que eu não minto… Embora tenha cara de idiota, burro,
tapado, vesgo e sonso, você tem sim uma inteligência sua…
ÁDAMO – Mamãe, eu sei que ela fala a verdade. Assim que eu voltar deste concurso,
contarei tudo ao papai. Adeus… Bruxas!
(PRÍNCIPE ÁDAMO SAI.)
FEDORA – Não se vá! Eu ainda não dei o recado…
RAINHA – Sua idiota! Tinha que abrir a matraca? Vocês prometeram que nunca iriam
contar! E eu não sou mais aliada de vocês!
FEDORA – Ora, Nanci, o que é podre nunca se purifica… E você sabe bem disso. Agora
eu tenho que ir. Eu tenho planos!
(FEDORA SAI.)
RAINHA – Volta aqui! Sua inútil! Que droga… O meu reino ameaçado, meu casamento
em perigo, e essas tontas me ameaçando… Preciso tomar uma providência. Vou chamar
meu Rei e iremos atrás de Ádamo. Esse concurso não pode ocorrer!
(A RAINHA TAMBÉM SAI. LUZES SE APAGAM. ENTRA O NARRADOR.)

ARNALDO SILVEIRA (PRIMEIRA VERSÃO) VINICIUS BORGES (ADAPTAÇÃO)


OTTÍLIA EM CENA NOVA VERSÃO
Sonho de princesa

NARRADOR – Isso aqui tá melhor que novela da Globo! Parece que, finalmente, nosso
Príncipe abriu os olhos! E a rainha? Quem diria que ela também já foi bruxa… Resta saber
o que ela fará pra deter Fedora. E será que o concurso vai acontecer?
(SAI O NARRADOR. ENTRAM AS CRIADAS.)
CRIADO UM – Menina, você viu que vestido feio o dela?
CRIADO DOIS – Se vi. Tentei arrumar mas não teve jeito, dei graças a Deus quando
aquela mensageira caiu em cima...
CRIADO UM – Pois eu não. Cafona sim, sujo nunca. Quem limpa? Nós.
CRIADO DOIS – Isso bem é verdade.
(ENTRA MALVA, OFEGANTE.)
MALVA – Olá.
CRIADO UM – Olha só, uma mendiga.
CRIADO DOIS – Coitada! Quer um pão velho?
MALVA – Vocês são idiotas? Eu não sou mendiga.
CRIADO UM – Mal vestida assim? Imagina se fosse.
MALVA – Ah, se eu não estivesse tão cansada, eu transformava você em sapo!
CRIADO DOIS – Que senso de humor pobre o seu, moça.
MALVA – Calem a boca! Eu só preciso saber de uma coisa.
CRIADO UM – Se for perguntar onde fica o ministério dos desabrigados, fica perto da
taberna...
CRIADO DOIS – Ministério dos desabrigados? Ela é sem teto?
MALVA – (Se controlando) Não é isso que eu quero saber. Eu quero saber sobre uma
donzela muito linda, de nome Yasmini...
CRIADO UM – Você é ..........s?
CRIADO DOIS – A Yasmini nem é tão bonita assim, eu me garanto muito mais que ela.
MALVA – Suas idiotas! Burras! Tontas! Falem logo, antes que eu me irrite com vocês!
CRIADO UM – Calma, mulher. Sossega. Fica pra lá (aponta).
CRIADO DOIS – Você vira a árvore seca e pronto, vai ver o castelo da senhorita.
CRIADO UM – Mas ouça bem... Não diga que nos viu! Diga que procurou até achar.
CRIADO DOIS – Isso mesmo. Se Yasmini descobrir que demos uma saidinha, estamos
fritas.
MALVA – Ela não vai notar a falta de vocês... E quando notar, vocês não vão voltar.
CRIADO UM – Como assim?
MALVA – Vocês me viram, e isso é fatal. Vou lançar um feitiço em vocês, para que não
contem a ninguém!
CRIADO DOIS – (À outro criado) Corre, mulher, a bicha tá satânica!
(OS CRIADOS SAEM CORRENDO. MALVA APONTA A VARINHA PARA
ELAS, QUE PARAM.)
MALVA – Como hoje eu estou de bom humor, esse feitiço apenas vai deixar vocês mais
retardadas do que já são. Venham cá!
(OD DOIS CRIADOS VÃO ATÉ ELA.)
ARNALDO SILVEIRA (PRIMEIRA VERSÃO) VINICIUS BORGES (ADAPTAÇÃO)
OTTÍLIA EM CENA NOVA VERSÃO
Sonho de princesa

MALVA – Quem sou eu?


CRIADO UM – Batatã!
CRIADO DOIS – Hã! Dã!
MALVA – Isso mesmo. Agora vão, sigam seu caminho.
(DUAS CRIADAS SAEM, SE ESTABANDO, BOBAS.)
MALVA – É assim que eu gosto. Ah, ah, ah, ah!
(MALVA SAI. ENTRA YASMINI. SE OLHA NO ESPELHO.)
YASMINI – Espelho, espelho meu… Existe alguém mais bonita do que eu?
ESPELHO – (OFF) Mais bonita jamais existirá, Yasmini...
YASMINI – Gosto assim.
ESPELHO – (OFF) Mas existe uma donzela que tem beleza igual a sua. E ela está
perto a cruzar o seu caminho...
YASMINI – Que história é essa, espelho sem noção?
ESPELHO – (OFF) A história é longa... Mas saiba que se ela chegar a se colocar em
seu caminho, seus dias com beleza estão acabados.
YASMINI – (Histérica) Como é que é? Diz o nome dela!
ESPELHO – (OFF) O que eu posso dizer é isso... Houve, há muito tempo, uma
sagrada profecia: ‘Duas garotas, tão parecidas, apenas pelo lado de fora... Do lado de
dentro, uma pobre e outra rica. O dia que uma a outra conhecer, pedra uma delas volta a
ser’.
YASMINI – Ela vai virar pedra?
ESPELHO – Talvez não...
YASMINI – Eu vou virar pedra? Espelho maldito! Como ousa inventar tal mentira
pra me irritar?
(YASMINI SE PREPARA PARA JOGAR O ESPELHO NO CHÃO. ENTRA
MALVA.)
MALVA – (Ofegante) Yasmini!
YASMINI – Saia daqui, sua mendiga!
MALVA – (Irritada) Mendiga não, queridinha! Olha como fala comigo.
YASMINI – Olha você como fala comigo. Aliás, o que quer aqui? Se for pão velho,
eu não tenho, não dou, não ajudo.
MALVA – Sua ingrata! Vim te dar um conselho.
YASMINI – Sou Yasmini. Não preciso de conselhos.
MALVA – Não ouviu o que o espelho disse, sua idiota? Quer virar pedra?
YASMINI – Você ouviu? Achei que só eu.
MALVA – De fato, só você consegue ouvir. Eu ouço pois sou uma criatura mágica. Não
vou esconder de você o que eu sou, sei que você vai entender...
YASMINI – Você é política?
MALVA – Deus me livre! Sou bruxa.
YASMINI – Menos mal. Mas fale logo o que você quer, estou sem tempo. Preciso
ganhar um concurso.
ARNALDO SILVEIRA (PRIMEIRA VERSÃO) VINICIUS BORGES (ADAPTAÇÃO)
OTTÍLIA EM CENA NOVA VERSÃO
Sonho de princesa

MALVA – É sobre isso que quero falar.


YASMINI – (Animada) Graças a deus! Vou ganhar?
MALVA – Não, você vai perder.
YASMINI – Mentira!
MALVA – Pode ser mentira. Se você cumprir minhas ordens você ganha...
YASMINI – Querida, quem é você na fila do pão? Acha mesmo que eu vou receber
ordens de uma...
MALVA – Epa! Epa! Epa! De uma o que? Se baixar o nível eu te desço a mão!
YASMINI – Cai em cima, amorzinho!
MALVA – (OFF, PENSAMENTO) Calma Malva... Mantenha o controle. Será essa
otária que vai te deixar novamente poderosa. Entre no jogo dela... Não arranje confusão!
YASMINI – E então?
MALVA – Peço perdão, futura princesa. Siga meus conselhos, sou apenas uma amiga.
Quando você for princesa, será recompensada... Poderá mandar em tudo!
YASMINI – E o que você ganha me ajudando?
MALVA – É... O que eu ganho? Uma aposta! Eu apostei minha vassoura mágica em você,
se você perder eu perco.
YASMINI – Entendi. Bom, se é assim eu te ajudo a me ajudar a te ajudar.
MALVA – Vou falar sobre sua concorrente. Se chama Ayme e é uma sonsa.
YASMINI – Ela é parecida comigo?
MALVA – Eu não acho... Imagina! Você é muito mais gata.
YASMINI – Bom saber. Mas qual o risco ela representa a mim?
MALVA – Todos os riscos possíveis! Ela fez um feitiço, e agora o Príncipe a vê com a
sua cara. Sem falar que ela vai te transformar em pedra se ela casar com ele!
YASMINI – Isso é um absurdo! Não posso deixar essa louca se casar com ele.
MALVA – Exatamente. Se você vir comigo, irei te explicar as coisas melhor... E você
ganha o concurso! Mandamos ela pra bem longe.
YASMINI – Então vamos! Não vou admitir que me transformem em pedra.
(AS DUAS SAEM. ENTRAM AS DUAS CRIADAS, RETARDADAS E ADA. ELAS
SE ESBARRAM.)
ADA – Vocês são cegas?
CRIADO UM – Hã! Gugu! Dadá!
CRIADO DOIS – Dabuga! Boringa!
ADA – Cegas e loucas, coitadas. Saiam da frente, preciso ir... Achar Ayme!
CRIADO UM – Eboga bula!
CRIADO DOIS – Cã! Cã!
ADA – Cã? Seria o feminino de cão? Tá me chamando de cadela?
CRIADO UM – Iá! Iá!
ADA – Suas patetas! Eu sou bruxa, vou jogar em vocês um feitiço...
(ADA APONTA PRA ELAS A VARINHA. AS CRIADAS COMEÇAM A SE
REMEXER, LOUCAS.)
ARNALDO SILVEIRA (PRIMEIRA VERSÃO) VINICIUS BORGES (ADAPTAÇÃO)
OTTÍLIA EM CENA NOVA VERSÃO
Sonho de princesa

ADA – Saiam daqui antes que eu faça ainda pior.


(AS CRIADAS SAEM. ADA RI. SAI DE CENA. ENTRAM NOVAMENTE AYME
E WIDLOW.)
WIDLOW – Ayme, é verdade que você consegue falar com os seres da floresta?
AYME – Claro, Widlow. Sempre falei com os seres elementais.
WIDLOW – Seres elementais? Quem são eles?
AYME – São seres que protegem a natureza de todo o mal que o ser humano pode causar
contra ela. São eles as salamandras, os duendes, as fadas, os gnomos…
WIDLOW – Xi, não sei não, Ayme. Pra mim você andou tomando alguma coisa…
AYME – Tá duvidando de mim?
WIDLOW – Se você falar com algum ser mágico na minha frente, eu acredito…
AYME – Agora?
WIDLOW – Sim.
AYME – Tudo bem… Mas você tem que se esconder. Assim eles surgem mais fácil e
você vê de longe, ok?
WIDLOW – Tudo bem, ficarei atrás daquele tronco.
(AYME SENTA-SE NO CHÃO, ABAIXA A CABEÇA E CANTA.)
AYME – Canção:
São seres naturais
Puramente elementais
Vem comigo conversar
Sou amiga e menina
Tenho a vida aos meus pés,
Quero vê-los e senti-los
Como o vento a me tocar.
(ENTRA ADA DISFARÇADA DE FADA.)
ADA – Me chamou, doce menina?
AYME – Sim… Quem é você?
ADA – Meu nome é Stuff… Sou a fada que cuida do destino das coisas, e
preciso lhe contar algo muito importante!
AYME – O que? É sério?
ADA – Sérissimo! A floresta Yumann corre um sério, muito sério… PERIGO!
AYME – Perigo? E o que eu tenho haver com isso?
ADA – Você é o perigo, Ayme! Todos na floresta são contra sua inscrição para
princesa. Isso fará com que tudo saia da realidade e entre na estação obscura! A primavera
sombria começará quando você for coroada princesa…
AYME – Puxa… Mas eu sonhei tanto em ser princesa! Acho que meu destino na
realidade é ser uma garota comum, mesmo.
ADA – Claro que não! Olhe, Ayme, existe uma maneira de você se inscrever e
burlar seu triste destino.
AYME – Diga! Diga!
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Sonho de princesa

ADA – Basta que você beije esta flor...


(MOSTRA UMA FLOR.)
ADA – Esse beijo fará com que seu carinho proteja a floresta da primavera
escura! E você poderá se inscrever!
AYME – Nossa! E você acha que um simples beijo meu poderia proteger a floresta do
mal?
ADA – Tenho total confiança no que digo. Ande! Beije!
(AYME BEIJA A FLOR. MUITA FUMAÇA. MUITO ESCURO. ACENDEM-SE AS
LUZES NOVAMENTE. ADA TIRA O CAPUZ, ROUPA DE BRUXA
NOVAMENTE, GARGALHADAS. AYME VIROU UMA ÁRVORE.)
ADA – Minha magia está pronta! Ah, ah, ah, ah, ah! (À Ayme) Sua idiota...
Agora somente com o cetro real, e sendo empunhado por uma pessoa de bom coração, você
saí daí! Ah, ah, ah, ah, ah!
(ADA SAI, GARGALHANDO. WIDLOW CORRE ATÉ AYME.)
WIDLOW – Oh meu deus, Ayme, aquela bruxa te transformou em árvore!?
AYME – Você não está vendo?
WIDLOW – Calma, queridinha! Olha o coice.
AYME – Desculpa... Mas olha o que aconteceu comigo!
WIDLOW – Aquela... Bruxa! Mas... Ayme, como você está falando comigo?
AYME – Acho que é porque eu tenho o dom de falar com os seres da floresta. Agora,
parece que o dom passou a ser o contrário... Por isso você me ouve!
WIDLOW – Chuta que é macumba! Quer dizer, estou espantado.
AYME – Então trate de se recuperar para podermos resolver pra eu sair daqui.
WIDLOW – Minha filha, você não ouviu o que aquela bruxa horrorosa e cheia de
espinhas disse? Somente o Príncipe Ádamo pode acabar com esse encanto, e com o toque
do tal cetro do rei.
AYME – Ah, Widlow... Isso é injusto comigo! Vou ser pra sempre uma árvore...
WIDLOW – Quem disse, meu amor? Você tem eu querida. Vou atrás da família real
inteira se for precisa, mas não durmo hoje sem acabar com esse feitiço horroroso. Eu juro!
AYME – Jura?
WIDLOW – Sim!
AYME – Poxa, Widlow, eu ficaria muito feliz! Mas então vá! Procure o Príncipe e peça
para que me ajude!
WIDLOW – Sim, isso mesmo.
(WIDLOW SAI. ENTRA O NARRADOR.)
NARRADOR – Puxa vida! Vocês viram isso? Aquela safada da bruxa Ada transformou
a pobre da Ayme numa árvore! Minhas orelhinhas pontudas estão ardendo de curiosidade
para saber o final dessa história! E vocês? Estão ansiosos? Então fiquem aí que tem mais!
(AS LUZES APAGAM. QUANDO ACENDE, NENHUMA DAS DUAS ESTÁ.
ENTRAM A RAINHA E O REI.)

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Sonho de princesa

REI – Essa história está muito confusa, meu bem... Não que eu esteja duvidando de
você, mas chega a ser patético crer que uma bruxa enfeitiçou nosso filho para que ele
inventasse uma mentira sobre você.
RAINHA – Eu não acredito, Orlando, que você está duvidando de mim. Eu juro que não
acredito. Essa bruxa é perigosa, meu amor! É capaz de tudo!
(ENTRAM AS DUAS CRIADAS. RAINHA E REI ESPERAM QUE ELAS FAÇAM
UMA REVERÊNCIA, O QUE NÃO ACONTECE. CRIADO UM CUTUCA O
NARIZ DA RAINHA.)
RAINHA – Mas o que é isso? O mundo decidiu enlouquecer hoje?
CRIADO UM – (Mostra o dedo) Tatu!
CRIADO DOIS – Tatu?
RAINHA – Que mané tatu... Perderam a cabeça? Ou querem que eu mande cortar?
REI – Calma, meu amor... É fácil perceber que elas são loucas, não leve a sério...
(CRIADO DOIS APONTA PARA A CALÇA DO REI.)
CRIADO DOIS – Xixi!
CRIADO UM – Xixi?
REI – Que petulância! Eu sou o rei!
CRIADO UM – Dabuga!
CRIADO DOIS – Pororoca!
(OUVE-SE O SOM DE GARGALHADAS DE BRUXA. AS CRIADAS SE
ENTREOLHAM E SAEM CORRENDO. ENTRA ADA.)
RAINHA – Você?
ADA – Eu.
REI – Ela.
RAINHA – De novo isso?
ADA – Não sei do que você está falando, Nanci, fazem quinze anos que não
vejo essa sua fucinha gorda e escandalosa.
RAINHA – Olha só quem fala. Bruxa de meia tigela!
ADA – Horrorosa!
RAINHA – Pavorosa!
ADA – Monstruosa!
REI – Posso saber o que está acontecendo aqui? De onde vocês se conhecem?
RAINHA – De lugar nenhum.
ADA – Não renegue as antigas amizades, fofa, você já foi muito minha amiga... Não
lembra?
REI – Pois se ela se lembra ou não, eu quero saber... AGORA!
RAINHA – Ela está louca, meu bem. Não há nada que você deva fazer, vamos...
ADA – Nãnaninanão. Vocês ficam. Meu caro Rei, honrado e amado, sua doce
Rainha já foi uma... Bruxa!
REI – Como?

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Sonho de princesa

ADA – Uma bruxa, seu idiota, não sabe o que é uma bruxa? Quer que eu
desenhe?
REI – Olha como fala comigo, eu sou o rei!
ADA – Vocês da família real andam tão repetitivos...
REI – Me diga, Nanci, que história é essa?
RAINHA – Quer saber? Eu cansei! Eu fui, sim, uma bruxa... Mas faz muito tempo. E eu
mudei. Ou você acha isso impossível? Eu te amo. Eu amo nosso filho. Isso importa! O
resto é passado!
REI – Você traiu nossa confiança!
ADA – Tretas de família. Adoro!
RAINHA – Calada! Orlando, meu amor, me perdoe... Só nós podemos salvar nosso filho!
REI – Pois é isso que EU vou fazer. Fique aí com a sua escória.
(O REI SAI. A RAINHA OLHANDO FURIOSA PARA ADA.)
ADA – (Assustada) Que foi? Não fiz nada.
(RAINHA COMEÇA A ESGANAR ADA. ENTRAM YASMINI E MALVA.)
MALVA – Mas o que é isso? É só eu sair que vocês se destrambelham todas? Ora, ora...
Nanci?
RAINHA – Você também? Eu estou de saco cheio de vocês me atrapalhando! Eu quero
viver com a minha família, só isso!
(A RAINHA SAI CORRENDO.)
YASMINI – Que babado é esse? Não entendi nada.
ADA – Eu é que não estou entendendo... Eu te transformei em árvore!
YASMINI – Cruzes mulher, ficou louca?
MALVA – Cala a boca as duas. Ninguém aqui tá louca, mas eu estou ficando. Primeiro,
Ada, que seu feitiço foi com a Ayme. Essa é a Yasmini.
ADA – O clone?
MALVA – Calada!
YASMINI – Não entendi nada.
MALVA – Problema o seu. Ada, eu só quero saber... Você transformou a Ayme em uma
árvore?
ADA – Sim. Nem precisa me agradecer.
MALVA – (Gritando, furiosa) Sua pateta! Mula! O que você fez? Você deveria saber que
o feitiço da árvore dura somente trinta minutos! Imbecil! E se o ela faz a inscrição? Hein?
YASMINI – Temos que correr até essa coisa copiadora! Eu é que não quero virar
pedra!
(AS TRÊS SAEM. ENTRA O PRÍNCIPE E WIDLOW. SE ESBARRAM.)
PRINCÍPE – Curve-se diante mim.
WIDLOW – Eu? Ah, mas não vou mesmo. E era justamente com você que queria
falar, Príncipe Ádamo.
PRÍNCIPE – Fale logo, não tenho tempo a perder.

ARNALDO SILVEIRA (PRIMEIRA VERSÃO) VINICIUS BORGES (ADAPTAÇÃO)


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Sonho de princesa

WIDLOW – Pode parar que eu sei que você é desocupado. O que eu tenho pra você
é muito mais importante. Uma amiga minha sofreu o feitiço de uma bruxa, bravo Príncipe!
Agora ela é uma árvore. E só você pode me ajudar.
PRÍNCIPE – Você acha que eu não sei? Aposto que isso é um plano seu com aquela
bruxa louca que me apareceu hoje cedo! Tô fora!
(O PRÍNCIPE SAI CORRENDO.)
WIDLOW – Não! Volta aqui!
(ENTRAM AS CRIADAS, PASSAM POR ELE FALANDO ‘DABUGA’ E SAEM.)
WIDLOW – O que foi isso?
(ENTRA O REI. WIDLOW SE CURVA DIANTE DELE.)
WIDLOW – Majestade! Seu filho passou agora há pouco, lhe pedi um favor e não
fui atendido... Só o senhor pode me ajudar!
REI – Diga, meu filho.
WIDLOW – Uma bruxa horrível transformou minha pobre amiga em árvore! E o
príncipe está indo até as redondezas. A bruxa falou que somente o seu cetro pode tirar o
feitiço... E creio que essa bruxa fará mal à Ádamo!
REI – Isso é muito sério. Temos que impedir! Vamos!
(OS DOIS SAEM. LUZES DIMINUEM. ENTRA O NARRADOR.)
NARRADOR – Agora todos os nossos personagens estão se dirigindo ao coração da
floresta, onde a pobre Ayme está. Mas, pelo que Yasmini nos contou, o efeito do feitiço
está passando! Quem conseguirá chegar antes até lá? Me acompanhem! Me acompanhem!
(O NARRADOR SAI. AYME EM CENA.)
AYME – Oh... Estou passando mal!
(AYME VOLTA A SER UMA MENINA.)
AYME – Pelos duendes! Voltei a ser uma garota! Mas... O que será que aconteceu? Não
interessa. Tenho que ir fazer minha inscrição e...
YASMINI – Não tão depressa, criatura...
MALVA – Você não vai a lugar algum.
ADA – Sentiu saudades?
AYME – (Paralizada em frente a Yasmini) Você... É parecida comigo!
YASMINI – Não. Você é parecida comigo, e olha lá.
ADA – Gente, para de enrolação, vocês são parecidas uma com a outra.
AYME – O que vocês querem comigo?
YASMINI – Não quero nada com você... Mas você se meteu no meu caminho. Não
vai fazer sua inscrição. Eu não vou virar pedra!
AYME – Do que você está falando?
MALVA – Caladas, as duas! Eu vou transformar você em pó, Ayme, só assim sairá do
meu caminho!
(ENTRAM AS DUAS CRIADAS E ESBARRAM EM MALVA, FAZEM ELA CAIR
NO CHÃO. AYME CORRE, SAI DE CENA. AS CRIADAS VÊM AS BRUXAS E
SAEM TAMMBÉM.)
ARNALDO SILVEIRA (PRIMEIRA VERSÃO) VINICIUS BORGES (ADAPTAÇÃO)
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Sonho de princesa

ADA – O que foi isso?


YASMINI – São minhas criadas!
MALVA – Não interessa quem são essas loucas! Vamos nos separar, TEMOS que achar
a Ayme!
(AS TRÊS SAEM. ENTRA MALVA DE NOVO.)
MALVA – Mal sabem Malva e Ada que quando o Cetro eu tiver em mãos, as duas pó
logo serão... Vou trai-las! Mas é para o bem de todos. Elas são duas patetas, só estão
atrapalhando. Mas agora tenho que encontrar essa inútil da Ayme.
(ELA SAI. ENTRA O PRINCIPE.)
PRINCÍPE – Puxa vida... Parece que hoje Granar ficou maluco...
(ENTRA YASMINI.)
YASMINI – Oh! Príncipe...
PRÍNCIPE – Espero que não seja louca!
YASMINI – Como é que é?
PRÍNCIPE – Nada. Apenas me assustei.
YASMINI – Se assustou?
PRINCIPE – Você é tão...
YASMINI – Tão o que?
PRINCIPE – Linda! Chegou a me assustar.
YASMINI – Assustar?
PRINCIPE – Você me deixou sem jeito.
YASMINI – Me desculpe.
PRINCIPE – Você se candidatou para concorrer o principado?
YASMINI – Sim.
ÁDAMO – Como pode? Eu não a vi, e fiquei durante todo o tempo ao lado do meu
escrivão.
YASMINI – É que um dos meus criados fez a inscrição. Eu queria que você ficasse
surpreso ao me ver depois. Espero que tenha gostado.
ÁDAMO – Claro! Claro! Inclusive seu nome foi sorteado.
YASMINI – Puxa! Que alegria.
ÁDAMO – Agora tenho que ir. Daqui a pouco nossa coroação será realizada no Coração
da Floresta Yumann, para que toda a natureza verifique que o equilíbrio das coisas
contínua, até que tenhamos um filho e ele venha a se casar com outra bela princesa.
YASMINI – Sim, Principe. Vá na frente.
(O PRÍNCIPE SAI. ENTRA MALVA E FEDORA.)
MALVA – Ouvimos tudo. Você foi brilhante. Mas agora é hora de firmarmos de uma vez
nosso pacto que te fez ser escolhida pelo Príncipe Ádamo.
FEDORA – Isso mesmo. Assim que você for coroada, nós provaremos que nós, Malva,
Ada e Fedora conseguimos mudar o destino...
MALVA – E se conseguimos mudar o destino, conseguiremos mudar o futuro.
FEDORA – Não é a mesma coisa, Malva?
ARNALDO SILVEIRA (PRIMEIRA VERSÃO) VINICIUS BORGES (ADAPTAÇÃO)
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Sonho de princesa

MALVA – Cale a boca. Vamos logo fazer nosso pacto.


YASMINI – O que eu tenho que fazer?
MALVA – Preste atenção que não é difícil. Precisamos que você pegue o cetro mágico
do rei. Nos entregue o mais rápido possível. Surgiremos na coroação.
FEDORA – Isso mesmo. Assim que tivermos nos apossado do cetro, nossos poderes serão
aumentados, mas ainda vamos precisar de você. Você o empunhará!
MALVA – Ou seja, você sempre terá que nos ajudar a utilizar ele, mas ninguém pode
saber disso... Senão tudo será desfeito!
YASMINI – Eu só quero saber de uma coisa... Por que querem esse dito cetro?
MALVA – Questão de honra. Nele estão todos os nossos maiores poderes. Se não fosse
Nanci, que você conhece por Rainha, eles estariam conosco.
FEDORA – Ela já foi uma bruxa, assim como eu, Malva e Ada. Mas nos traiu assim que
casou com o rei. Roubou nossos poderes e armazenou no Cetro!
YASMINI – Entendi... Está tudo explicado. Mas não posso perder tempo, preciso ir
a coroação e vocês achar Ayme. Até logo.
(YASMINI SAI. MALVA E FEDORA TAMBÉM. ENTRA AYME, CORRENDO.
PARA, CANSADA.)
AYME – Meu deus! Não posso ser pega por essas bruxas!
(ENTRA ADA.)
ADA – Mas foi... Você deu trabalho, mas não é páreo pra mim.
AYME – Socorro!
(AYME TENTA FUGIR MAS ADA APONTA O CETRO PRA ELA. ELA VOLTA
A SER UMA ÁRVORE.)
ADA – Infelizmente não posso te fazer virar pedra, pois meus poderes estão
fracos... Mas vou atrás de Malva, chegaremos aqui antes de você voltar a ser uma garota.
Ah, ah, ah, ah, ah.
(SAI ADA DE CENA. AYME FICA COMO ÁRVORE. ENTRAM ÁDAMO E
YASMINI.)
ÁDAMO – Puxa, estou tão feliz de tê-la escolhido para ser minha princesa... Espero que
você também tenha ficado feliz.
YASMINI – Se eu não quisesse ser princesa não teria feito minha inscrição...
ÁDAMO – Como?
YASMINI – Perdão. Estou muito animada! E, afinal, qual das candidatas não
gostariam de estar em meu lugar?
AYME – É verdade. Não só as candidatas...
ÁDAMO – O que foi isso? Quem falou?
YASMINI – Ádamo... Está duvidando que eu esteja feliz em ser sua princesa?
ÁDAMO – Claro que acredito. Mas alguém disse que não só as candidatas gostariam de
estar no seu lugar.
YASMINI – (Disfarçando) Não, querido, você está apenas impressionado com toda
essa situação.
ARNALDO SILVEIRA (PRIMEIRA VERSÃO) VINICIUS BORGES (ADAPTAÇÃO)
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Sonho de princesa

AYME – É mentira, Ádamo, você não está impressionado... Sou seu coração que está
batendo dentro dessa árvore que está logo atrás de você.
ÁDAMO – Yasmini, você ouviu o que eu ouvi?
YASMINI – Não ouvi nada. Eu já disse, você está impressionado com tudo o que
está acontecendo, está começando a ouvir vozes...
AYME – Ádamo, não deixe ela esconder a pureza que está no seu coração!
ÁDAMO – Devo estar ficando maluco... O que está acontecendo comigo?
YASMINI – Ádamo, pelo amor de Deus... Eu vou ser coroada daqui há pouco e você
vai ficar maluco? O que as pessoas vão dizer da sua escolha?
ÁDAMO – Você não se preocupa com o que está acontecendo comigo?
AYME – Ádamo, ela não se importa no seu amor ou no seu bem estar. O que ela quer é
o seu poder! Ouça seu coração e se aproxime de mim, seu grande amor... Venha, toque em
um dos meus galhos e sinta correr por minhas folhas o que realmente deve ser o seu amor!
ÁDAMO – Mas você é uma árvore?
YASMINI – Ádamo, não acredito que você está falando com uma árvore!
ÁDAMO – Não! Quero dizer... Não sei... Está tudo tão confuso! Ela está me dizendo
coisas que estão me deixando doido e...
YASMINI – Ora, bobinho, árvores não falam, não ouvem e não sentem nada. Quer
que eu prove?
(YASMINI QUEBRA UM DOS GALHOS DE AYME.)
YASMINI – Viu? Ela falou algo? Não! Ela não sentiu nada!
(AYME GRITA.)
AYME – Ádamo! Ela me machucou. Só você pode me ouvir e ver minhas lágrimas!
ÁDAMO – É verdade... Vejo suas lágrimas!
AYME – Por favor, não deixe que ela me machuque mais! Apanhe dela o meu galho e
coloque-o novamente com todo o carinho que você pode dar para alguém. Por favor!
YASMINI – Ádamo! Para de falar com essa... Árvore!
(ÁDAMO TENTA PEGAR O GALHO DELA, QUE NÃO DÁ. NESSE MOMENTO
ENTRAM OS OUTROS PERSONAGENS: O REI, A RAINHA, WIDLOW, ADA,
MALVA, FEDORA, A MENSAGEIRA E AS CRIADAS, MAS EM SILÊNCIO.
OBSERVAM A CENA.)
ÁDAMO – Yasmini, você é má... Não se importa com as coisas do mundo, não se importa
com os sentimentos das pessoas... Árvores... Não se importa com nada! Acha que o mundo
é só mandar!? Você deve gostar, antes de mais nada, da natureza, pois é de lá que tiramos
a essência para nossas vidas. Me dê já esse galho, ele tem lugar certo na natureza!
YASMINI – Você ficou maluco? Veja, Ádamo, seus pais chegaram! Não se
comporte como um otário na frente deles. Não estrague tudo!
AYME – Ádamo, deixe seu coração falar mais alto! Sua vida está na minha seiva... Seus
sentimentos em minhas flores... E sua dinastia em meus frutos! Ouça apenas o que seu
coração disser e me toque com o Cetro de seu pai. Verá que eu tenho uma outra forma que
lhe agradará tanto quanto a paisagem desta árvore na floresta!
ARNALDO SILVEIRA (PRIMEIRA VERSÃO) VINICIUS BORGES (ADAPTAÇÃO)
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Sonho de princesa

(YASMINI DÁ UM BERRO ESTRIDENTE. VAI ATÉ O REI E PEGA O CETRO.


TENTA FUGIR.)
YASMINI – Isso é loucura! E você, um idiota... Todas vocês são uns idiotas! Eu
odeio vocês! Mas agora EU tenho o cetro... O poder será todo meu! TODO MEU!
WIDLOW – Veja, Príncipe! Pense que as bruxas mandarão eternamente em você!
YASMINI – Cala a boca você também, seu bambi!
(WIDLOW PEGA O CETRO E DEVOLVE PARA ÁDAMO.)
WIDLOW – Pegue, Príncipe, e faça o que a árvore está pedindo. Você não vai se
arrepender!
YASMINI – Quem é você, criatura?
WIDLOW – Não é da sua conta! Mas eu vou dizer, por respeito ao príncipe, embora
ele tenha sido grosseiro comigo mais cedo... Sou Widlow, amigo de Ayme... Essa, que por
acaso, você e suas amigas transformaram em árvore. Príncipe, ande logo, liberte-a da magia
das bruxas!
AYME – Ádamo, se não for por amor, não faça nada... Pois se for com pena, prefiro ser
uma árvore, serei mais útil ao mundo.
ÁDAMO – Saiam de perto dessa árvore. Agora eu a proclamo, sem saber sua beleza
exterior, a minha princesa!
(ÁDAMO ENCOSTA O CETRO MÁGICO EM AYME. MUITA FUMAÇA.
QUANDO VOLTA AO NORMAL, APARECE ELE BEIJANDO SUA MÃO.)
ÁDAMO – Puxa... Como você é linda!
AYME – São seus olhos, e principalmente seu coração, que me fazem dessa forma.
(OS DOIS PREPARAM PARA SE BEIJAR. MALVA GRITA.)
MALVA – Está tudo muito bem, tudo muito bom... Todos prestes a serem felizes para
sempre, mais uma vez...
ADA – Mas nós não vamos permitir.
FEDORA – Isso mesmo. Cansamos do final feliz!
ÁDAMO – Bruxas! Não há nada que vocês façam que possa anular meu amor por Ayme.
E ela já foi eleita a princesa de Granar!
MALVA – Pois eu nunca vou desistir de acabar com esse conto de fadas ridículo! Você
não pode me impedir... Mas eu posso te impedir de prosseguir!
(MALVA PUXA O CETRO MÁGICO DE ÁDAMO. APONTA PARA ELES. A
RAINHA SE LANÇA NA FRENTE, É ATINGIDA E CAI.)
ÁDAMO – Mamãe! Veja o que fez, bruxa! Ela morreu!
MALVA – E o que é que você quer que eu faça? Problema o dela.
ADA – Agora Granar nos pertence! Todos vocês irão nos obedecer.
FEDORA – Conhecerão o poder de Malva, Ada e Fedora!
YASMINI – E eu vou acabar com você, Ayme! Vou te destruir!
(TUDO PARA. ESTÁTUA. ENTRA A NARRADORA.)

ARNALDO SILVEIRA (PRIMEIRA VERSÃO) VINICIUS BORGES (ADAPTAÇÃO)


OTTÍLIA EM CENA NOVA VERSÃO
Sonho de princesa

NARRADOR – Pelo amor de minhas orelhinhas pontudas! O que será que vai
acontecer? A Rainha morreu... As bruxas estão com o Cetro, e Yasmini quer destruir
Ayme... Não posso perder o final dessa história!
(ELA SAI. TUDO VOLTA AO NORMAL. WIDLOW, POR TRÁS DE MALVA,
PEGA O CETRO E CORRE PELO PALCO. TODOS COMEÇAM A PERSEGUIR
ELE. O CETRO VAI PASSANDO DE MÃO EM MÃO, ATÉ QUE AS CRIADAS
PEGUEM, O DERUBANDO NO CHÃO. LUZ DE TRAGÉDIA, MOMENTO DE
TENSÃO. MALVA, ADA E FEDORA BERRAM, ATERRORIZADAS. YASMINI
COMEÇA A SE CONTORCER.)
AYME – O que está acontecendo com ela? Ajude-a, Ádamo!
MALVA – Não adianta, sua imbecil... Você a matou! Eu disse que você faria isso...
ADA – No cetro estava armazenado toda a nossa magia escondida!
FEDORA – Magia essa, que a imbecil da sua mãe, Ádamo, armazenou dentro do Cetro.
MALVA – Agora estamos sem poder nenhum... E Yasmini é um clone de Ayme!
ADA – Foi feita a partir de uma pedra!
FEDORA – E pedra voltará a ser!
(YASMINI DÁ UM ÚLTIMO BERRO. LUZES SE APAGAM. QUANDO SE
ACENDE, YASMINI AGORA É UMA PEDRA.)
MALVA – Estou muito fraca... Vamos, vocês duas, antes que acabem conosco....
ADA – Mas nunca se esqueça, Princepezinho e Princesa songa monga...
FEDORA – Nós voltaremos!
ADA, FEDORA E MALVA – Nós sempre voltamos! Ah, ah, ah, ah, ah!
(AS TRÊS SAEM, TRIUNFANTES. A RAINHA COMEÇA A ACORDAR. REI E
ÁDAMO VÃO AO SEU SOCORRO.)
ÁDAMO – Mamãe! Que susto me deu... Pensei que tivesse lhe perdido!
REI – Meu amor! Você está viva!
RAINHA – Meu filho, meu amado... Com essa situação eu percebi que eu errei, e que o
poder não é tudo que importa na vida... Me perdoem, eu imploro.
ÁDAMO – Você salvou minha vida, mãe. Já está perdoada.
REI – Digo o mesmo.
WIDLOW – Epa, epa, epa... Só quero saber de uma coisa: Como que a coroa voltou
dos mortos?
ÁDAMO – Quando as bruxas perderam o poder, assim como Yasmini virou pedra, o
efeito da varinha perdeu o poder sobre mamãe. Assim ela voltou!
AYME – Não devemos nos questionar, devemos agradecer. Puxa, estou tão feliz!
Estamos todos bem, todos vivos... Até YAsmini, virou um belo elemento de decoração.
(TODOS DÃO RISADA.)
REI – E tudo acabou tão bem, de modo tão feliz... Acabamos nos esquecendo que
Ayme é a nova princesa de Granar! Que tal fazermos um banquete, agora mesmo no castelo
real?
RAINHA – Eu aprovo!
ARNALDO SILVEIRA (PRIMEIRA VERSÃO) VINICIUS BORGES (ADAPTAÇÃO)
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Sonho de princesa

WIDLOW – Tô varado de fome.


ÁDAMO – Eu idem.
MENSAGEIRA – Se me permitirem, vou também.
(TODOS SAEM. SÓ FICAM AS CRIADAS, VÃO ATÉ O CENTRO DO PALCO.)
CRIADO UM – Dabuga!
CRIADO DOIS – Batatã!
CRIADO UM – Tã, tã, tã!
CRIADO DOIS – Tá, tá, tá!
(ENTRA O NARRADOR.)
NARRADOR – E o que aprendemos com essa história toda? Aprendemos várias coisas.
Aprendemos que nunca devemos olhar apenas para a beleza exterior de uma pessoa.
Aprendemos, que poder não é tudo. Aprendemos também, que se for clonar um ser
humano, não faça o clone a partir de uma pedra.
CRIADOS – Batatã!
NARRADOR – Caso vocês duas não tenham percebido, a peça já acabou, as vilãs já foram
derrotas e vocês já voltaram ao normal.
CRIADO UM – Gente, e não é que é verdade?
CRIADO DOIS – Só percebi agora.
CRIADO UM – Estava tão legal daquele jeito... Mas você viu o príncipe? Um pateta!
CRIADO DOIS – Eu já tinha quebrado a porcaria daquele cetro na cabeça da Yasmini no
começo da peça.
CRIADO UM – Pior... E a rainha? Que cafona! Onde que uma rainha se veste daquele
jeito? Parece uma freira!
CRIADO DOIS – Se não parece... E o rei? Um tonto! Deixou que pegasse o cetro e tudo.
CRIADO UM – O pior é aquela Ayme... (Imita) Beija minha flor, beija minha rosa. Garota
sonsa! Eu, se fosse a Yasmini, tinha era trocado o adubo.
NARRADOR – Basta!
(NARRADOR TIRA DA ROUPA UMA VARINHA. ATINGE AS DUAS.)
NARRADOR – Nós, elfos, também temos nossos segredos... Ficou bem melhor assim.
CRIADOS – Dabuga! Batatã!
(O NARRADOR PISCA PARA A PLATEIA. TODOS OS OUTROS ENTRAM,
AGRADECEM.)
BLACK OUT, FINAL.

Texto original de Arnaldo Silveira.


Adaptação de Vinicius Borges.

ARNALDO SILVEIRA (PRIMEIRA VERSÃO) VINICIUS BORGES (ADAPTAÇÃO)

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