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REPUBLICA DE MOCAMBIQUE TRIBUNAL ADMINISTRATIVO PRIMEIRA SECCAO Processo n.° 101/2017 — 1.3 ACORDAO N.°}:) (2018 Acordam, em conferéncia, na Primeira Secgdo do Tribunal Administrativo; Rodrigues Domingos Tembo, com os demais sinais de identificagio nos autos do processo acima indicado, inconformado com o Acérd3o n.° 11/TAPNSS/2017, de 2 de Maio, que indeferiu 0 recurso contencioso por ele interposto, com fundamento na caducidade do direito de interposicio, veio agravar da referida decisdo, alegando, em resumo: O acérdao recorrido é ilegal porque a instancia @ quo confundiu as figuras juridicas de caducidade e prescrigéo, 0 que configura ma interpretag&o da lei, que resultou do facto de a mesma instancia nao ter qualificado 0 vicio de nulidade que inquina o acto recorrido. ba OF Sr 44 2 Tal vicio decorre da violag&o do direito de defesa, previsto no artigo 62 da Constituigio da Republica, em virtude da nulidade da citagao edital quando a entidade recorrida conhecia 0 seu paradeiro, o que nao the permitiu exercer 0 contraditério, facto provado pelo parecer da Direcg&o de Administragdo e Recursos Humanos, constantes do Processo Disciplinar que reconhece a violagao das alineas b), d) e h) do n.° 1 do artigo 109 do EGFAE. Ainda, 0 acto recorrido enferma do vicio de falta de fundamentagao substantiva da decisdo, porquanto, a mesma apresenta-se com um caracter descritivo, apenas com o objectivo de cumprimento do ritual juridico e néo para permitir o controlo da validade substancial da mesma, Para além deste vicio, verifica-se a violagao do principio da boa-fé, previsto no artigo 8 da Lei n.° 14/2011, de 10 de Agosto, pelo facto de a actuagdo da Administracdo Publica ter sido guiada pelo vil desejo de vinganga contra o recorrente, por ter conseguido obter dos orgSos centrais a autorizag¢éo da transferéncia_ para Nampula que Ihe era recusada localmente. Conclui, dizendo que o presente recurso vem na seguéncia de a instancia a guo nao ter qualificado devidamente o vicio de falta de comunicagao da nota de acusacéo, cuja génese tem a ver com a sucessiva recusa do seu pedido de transferéncia para Nampula, que 2 veio obter por autorizagéo da Secretaria Permanente, 0 que causou inconformismo dos colegas, oS quais resolveram instaurar processo disciplinar que culminou na sua expulsdo sem que tivesse exercido o direito de defesa. Termina, requerendo a procedéncia do presente recurso de agravo, com a consequente revogagao da decisdo recorrida. No mais, vide as alegagdes de fls. 2. a 15 dos autos, que se dao por integralmente reproduzidos, para todos os efeitos legais. Notificada para contra- alegar, a entidade recorrida veio sustentar 0 acérdao recorrido, invocando, primeiro, a excepgao de caducidade do direito de interposigo do presente de recurso, por violagdo do prazo previsto no artigo 167 da Lei n.° 7/2014, de 28 de Fevereiro, porquanto, deu entrada do recurso no 19 de Junho de 2017, passados dois dias sobre o prazo legal. No que a matéria de fundo diz respeito, a entidade recorrida sustenta 0 acérdao, dizendo que o despacho recorrido é de 6 de Novembro de 2015, data em que comegam a correr os prazos para 0 exercicio das garantias, porém, o recorrente interpds © respectivo recurso contencioso passado um ano, contrariamente ao prazo de noventa dias previsto na lei. Foi expulso, nao por ma-fé, mas, sim, porque cometeu 74 (setenta e quatro) faltas injustificadas, violando o disposto nos nos 7 e 14 do artigo 39 do Estatuto Geral dos Funcionarios e Agentes do Estado (EGFAE), e nao pelo alegado descontentamento pela sua transferéncia. Alias, 0 processo foi instaurado antes do conhecimento da dita autorizagéo de transferéncia, pois teve inicio no dia 6 de Outubro e foi encerrada a 6 de Novembro de 2015, ¢ a transferéncia do recorrido sé foi comunicada a 4 de Dezembro de 2015. Mais, 0 recorrente foi contactado via telemével, com o n.° 824012510, no dia 8/10/2015, para tomar conhecimento da nota de culpa, tendo informado que se encontrava algures em Nampula, para onde, por intermédio da Direccao Provincial de Finangas, foi a mesma remetida, por fax, no dia 9 do mesmo més, tendo o recorrente recusado recebé-la, facto testemunhado por Flavia Tabo e Tinga Marcelino, conforme consta do processo disciplinar, 0 que afasta a alegada nulidade, nos termos do disposto nas alineas b) e c) do n.° 2 do artigo 108 do EGFAE. Conclui, dizendo que as alegagées do recorrente sdo meramente dilatérias, pois a excepgéio de caducidade acolhida pelo Tribunal esta provada, para além de o presente recurso ser, Igualmente, extemporaneo. Afirma, ainda, que o processo disciplinar foi instaurado antes do conhecimento da transferéncia, pelo que no existe qualquer mé-fé ou espirito de retaliagéo, e obedeceu todas as formalidades do procedimento disciplinar e foi decido dentro do prazo legal, pelo que nao existe qualquer nulidade e 0 acérddo recorrido no enferma de qualquer irregularidade. Termina, requerendo 0 nao provimento do recurso interposto pelo recorrente. No mais, dao-se por integralmente reproduzidos, para todos os efeitos legais, as alegagdes de fis. 23 a 28 dos autos. Continuados os autos com vista ao Ministério Publico, o Dignissimo Magistrado promoveu a improcedéncia do recurso e a manutencgao do acérd&o, por constatar-se que 0 processo disciplinar obedeceu todas as formalidades legais do procedimento disciplinar, tendo por fundamento o cometimento de 74 (setenta e quatro) faltas pelo recorrente, 0 que constitui violagao dos deveres previstos nes nes 7 e 14 do artigo 39 do EGFAE, bem como por estar evidente que o arguido recusou receber a nota de culpa (vide fis. 46 € 47). Foram colhidos os vistos legais. Tudo visto. O recorrido invocou excepc§o de caducidade do direito de interposicio do presente recurso de agravo, por alegadamente o requerimento ter dado entrada no dia 19 de Junho de 2017, passados dois dias sobre o prazo legal, matéria que a luz do disposto no n.° 1 do artigo 87 da Lei n.° 7/2014, de 28 de Fevereiro — Lei das Procedimentos atinentes ao Processo Administrative Contencioso (LPPAC). A referida excepcao que ndo procede por este ter sido o primeiro dia util a seguir aquele em que alegadamente terminada o prazo. Nao se constatando qualquer outra questéo que impede o recebimento e decisdo do presente recurso, cumpre referir que 0 seu objecto € 0 Acérd&o n.° 11/TAPNSS/2017, de 2 de Maio, que nao apreciou o mérito do recurso contencioso contra oO despacho de expulsio do recorrente, alegadamente, porque deu entrada da respectiva petic&o inicial passado mais de um ano sobre a data do conhecimento do despacho impugnado. 4 a Q Conclusos os presentes autos para o Juiz Relator na instancia 4 quo, foi proferido o despacho de fis. 20, ordenando ao Cartério da Primeira Seccdo deste Tribunal para que oficiasse ao TAP-Niassa a remessa dos autos do processo em que 0 acdrdéo recorrido foi proferido. Ao invés de remeter 0 proceso solicitado, a instancia a quo remeteu cépias avulsas das pegas processuais do referido processo. Ndo obstante, vislumbra-se no rol das pecas processuais avulsas remetidas a esta instancia uma cdpia da peticao inicial que deu entrada na instAncia 2 quo no dia 07 de Novembro de 2016 em cujo articulado 5.° o recorrente afirma: Curiosa e estranhamente, depois do Recorrente ter sido transferido foi colhido com surpresa sobre o Despacho de Expulso da Sua Excia 0 Senhor Governador da Provincia de Niassa, 0 qual Ihe foi comunicado no dia 08 de Agosto de 2016, conforme se pode ver a documento em anexo como documento 6, 0 qual constitu objecto do presente recurso. Peias razdes acima expostas, nao foi possivel a esta instancia ad quem compulsar 0 referido anexo 6, alegadamente, através do qual o recorrente tomou conhecimento do despacho impugnado. Porém, no penultimo pardgrafo da copia do acérdéo constante das cépias remetidas a esta inst&ncia, o Tribunal @ quo refere o seguinte: Compulsados os autos, ressalta claramente a vista que 0 despacho impugnado foi exarado a 6 de Novembro de 2015 e objecto de divulgac&o no jornal de maior circulagao no pais. E sobre estes dois pontos que iremos incidir detidamente. A data efectiva em que a decisdo punitiva foi produzida é de capital importancia, pois, 6 a partir dela que se dé 0 inicio a produgo de efeitos na esfera juridica do recorrente, desde ent&o comeca a correr 0 prazo para o exercicio de garantias graciosas e jurisdicionais que a lei confere — vide artigos 127 a 134 do EGFAE, artigo 18 da Lei n.° 14/2011, de 10 de Agosto, e artigo 31 da Lei n.° 7/2012, de 8 de Fevereiro. O que se pretende aqui sublinhar & que o recorrente teve conhecimento da decis&o punitiva ainda no decurso do ano de 2015. Ora, nao resulta cristalino para esta instancia ad’ quem que o recorrente tenha tido conhecimento do despacho punitivo nas datas x — ee José Luis Maria Pereira Cardoso ‘hase y isl . David Zefanias Sibambo Pelo Ministério Publico (Fui presente) ‘afoo Caetano Mucobora (Procurador-Geral Adjunto) acima referidas, porquanto, a divulgagéo no jornal de maior circulagdo n&o constitui uma forma tipica de notificagdo de actos administrativos sancionatorios, em processo disciplinar, atento ao disposto no artigo 112 do Estatuto Geral dos Funcionarios e Agentes do Estado ent&o em vigor, conjugado com 0 artigo 176 do respectivo Regulamento. Ademais, resulta dos autos que a entidade recorrida tinha o contacto telefonico do recorrente e o conhecimento da sua tocalizagéo em Nampula, enderecos pelos quais foi notificado para intervir no processo, raz%o por que, alegadamente, compareceu na Direccdo Provincial de Financas no 19 de Outubro de 2015 para ser notificado da nota de acusaciio. Destarte, no estando devidamente provado que o recorrente tomou conhecimento da decisdo da sua expulsdo em data nao especificada de 2015, nao pode esta instancia sufragar 0 provimento da excepgao de caducidade do direito de interposicéo de recurso contencioso. Termos em que acordam os Juizes Conselheiros da Primeira Secco do Tribunal Administrativo em julgar procedente o recurso de agravo, interposto por Rodrigues Domingos Tempo, com a consequente declaragio de nulidade do Acérdéo n.° 11/TAPNSS/2017, de 2 de Maio, @ a baixa dos autos para o Tribunal Administrativo da Provincia de Niassa para efeitos de apreciagéo e julgamento do mérito da causa. Sem custas. Registe-se € notifique-se, com mengao da possibilidade de interposigdo de recurso para o Plendrio no prazo de 30 (trinta) dias, nos termos do disposto no artigo 167 da Lei n.° 7/2014, de 28 de Fevereiro. Maputo, 18 de Setembro de 2018. Sih Paulo Daniel Comoane —Relator

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