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I - Um facto é notório quando o juiz o conhece como tal, colocado na posição

do cidadão comum, regularmente informado, sem necessitar de recorrer a


operações lógicas e cognitivas, nem a juízos presuntivos. De acordo com este
tipo de consideração, a Relação, ao abrigo do disposto no artigo 514.°, n.° 1,
do CPC pode considerar certos factos como notórios, independentemente - até
- de os mesmos, no caso de terem sido levados ao questionário, terem obtido
resposta negativa por parte do tribunal.

II - Não carecendo o facto notório nem de alegação, nem de prova, não deve
figurar no questionário.

III – Os danos não patrimoniais, mesmo que não provados em audiência,


devem ser tomados em conta se forem considerados factos notórios.

Acordam, em Conferência, na Secção Cível do Tribunal da Relação de


Coimbra:

I - A Causa:

M (…) instaurou a presente acção, com processo sumário contra A (…) e I


(…), pedindo que os réus sejam condenados solidariamente a pagar-lhe a
quantia de 9 743,37 euros acrescida dos juros vincendos até integral
pagamento.

Como fundamento do seu pedido a autora alega, em síntese, que, no final


do mês de Junho de 2005, foi agredida fisicamente pelos réus e, em
virtude dessa agressão, veio a receber assistência no Hospital de ... o que
originou despesas, no montante de 4 283,77 euros, que a autora liquidou,
na convicção de que os réus a reembolsariam.

Mais alega que, em virtude da agressão sofrida e das injúrias perpetradas,


na mesma data, pelos réus, a autora passou noites sem dormir,
angustiada e atormentada pela imagem que não conseguiu esquecer do
seu filho e nora a agredirem-na. Todos os dias da sua vida são
assombrados pelo temor e pânico de que tais agressões possam vir a
repetir-se já que, constantemente, é ameaçada pelos réus.

Regularmente citados, os réus contestaram, defendendo-se por


impugnação, negando a prática de qualquer agressão ou injúria à autora.

Alegam, ainda, que foi o réu quem pagou as despesas do Hospital, o que
fez por liberalidade e por ser filho da autora.

Oportunamente, foi proferida decisão onde se consagrou que


Pelo exposto, e nos termos dos fundamentos de direito invocados, julgo
parcialmente provada e procedente a presente acção e,
consequentemente, condeno os réus A (…) e I (…) a pagar solidariamente
à autora M (…) a quantia de €4 283,77 (quatro mil duzentos e oitenta e
três euros e setenta e sete cêntimos), à qual acrescem juros moratórios à
taxa legal, desde a data da citação até integral pagamento.

M (…), A. na acção que moveu contra A (…) e mulher I (…), não se


conformando com a sentença proferida, veio dela interpor recurso de
apelação, alegando e concluindo que:

1- Foi dado como provado na douta sentença recorrida:

“ 1. No final do mês de Junho de 2005, a autora encontrava-se na sua residência,


junto do seu falecido marido, alimentando-o.

2- Que se encontrava acamado/imobilizado, por lhe ter dado um A VC.

3- Nessa altura, os réus moravam na casa ao lado da casa da autora.

4- Em 20.07.2009, os réus empurraram a autora.

5- Com a conduta referida, a autora caiu ao chão, onde ficou imobilizada.

6- Sem que os réus lhe tenham prestado qualquer tipo de auxílio.

7- Então a autora gritou pelo seu outro filho, com quem vive, para que este a
pudesse ajudar.

8- Este, indo de encontro à sua mãe, mas sem saber o que fazer, agarrou-a pelos
braços até à sala, onde estava o telefone.

9- Chamados os Bombeiros transportaram a autora ao serviço de urgências do


hospital de ....

10- De tal conduta dos réus resultaram para a autora os ferimentos descritos na
“perícia de avaliação do dano corporal “junta fis. 11 e seguintes, que aqui se dá por
integralmente reproduzida.

11- Em consequência da conduta dos réus a autora foi internada no Hospital de ...
de ... a 20 de Julho de 2005, tendo sido operada no dia 25 do mesmo mês e tendo
alta no dia 4 de Agosto do mesmo ano.

12- Ainda     em consequência das descritas agressões a autora ficou limitada na


sua movimentação, só conseguindo andar com auxílio de canadianas.
2. No entanto, a Meretissima Juiz “a quo” entendeu não fixar qualquer montante a
título de indemnização por danos não patrimoniais;

3.      No nosso modesto entendimento a decisão da Meritíssima Juiz “a quo” pecou


no que à prova dos danos não patrimoniais concerne e apenas e tão só
relativamente aos mesmos.

4.      Uma vez, que existe contradição entre os factos provados e a decisão
proferida.

5.      Está provado que os RR. perpetraram agressões físicas e verbais contra a A.,
mas não estão provados os danos patrimoniais, o que se requer.

Assim sendo,

6.      A A. em virtude das agressões perpetradas pelos RR. passou noites sem
dormir, angustiada e atormentada pela imagem que não conseguiu esquecer do seu
filho e nora a agredirem-na. Todos os dias da sua vida são assombrados pelo temor
e pânico de que tais agressões possam vir a repetir-se já que, constantemente, é
ameaçada pelos RR.

7.      Qual é mãe que não sofre com esta situação?

8.      Carecem tais factos de ser provados, perguntamos nós.

9.      Tais factos consubstanciam um facto notório ao abrigo do disposto no artigo


514.° n.° 1.° do Código de Processo Civil.

10. Dispõe aquele artigo “Não carecem de prova nem de alegação os factos
notórios, devendo considerar — se como tais os factos que são do conhecimento
geral “.

11. Facto notório é aquele que é do conhecimento geral. Como refere Calamandrei
(Per La Definizione Dei Fatto Notorio, 1925, 1°, pg. 309), trata-se do
conhecimento comum das pessoas que pertencem a uma determinada esfera social,
sendo esta constituída por um conjunto de pessoas que, por diversos motivos - de
tempo, religião, de profissão, de cultura, etc.-, têm interesses comuns. Daí que, a
doutrina tem classificado os factos notórios em duas espécies.

- Os acontecimentos de que a generalidade das pessoas tomou conhecimento (v.g.,


um terramoto, uma guerra, um ciclone, uma inundação, um incêndio, uma
revolução política, etc.),

- Os factos que adquiriram o carácter de notórios por via indirecta, ou seja, através
de raciocínios desenvolvidos a partir de factos do conhecimento comum.
12. Nesta senda, Alberto dos Reis (CPC Anotado, III, p. 261) classifica como
‘factos notórios apenas aqueles que sejam do conhecimento geral, ou seja, os que
sejam do conhecimento da massa dos cidadãos portugueses regularmente
informados, isto é, com acesso aos meios normais de informação “.
Consequentemente, não se podem considerar como notórios os factos que sejam do
conhecimento de um sector restrito de pessoas, com informação muito acima da
média ou de um sector muito específico (ex. problemas de natureza económica,
ocorrências ou práticas de funcionais de uma profissão).

13. Os danos não patrimoniais, mesmo que se entenda que não foram provados em
Audiência de Discussão e Julgamento, ainda assim,

14. deveriam ter sido dado como provados, por se tratarem de factos notórios e,
como tal, não carecerem de prova, porque subsumíveis no disposto no artigo 514.°,
n.° 1 do C.P.C.

15. Violou assim a douta decisão recorrida, o disposto no art° 514.° n.°1.° do
Código de Processo Civil e demais normas legais no que apenas e tão somente
concerne aos danos não patrimoniais por não terem sido provados.

16. Assim, devem os RR. serem condenados no pagamento da indemnização a


titulo de danos não patrimoniais peticionados correspondentes ao montante de
5000,00€.

Não foram produzidas contra-alegações.

II. Os Fundamentos:

Colhidos os vistos legais, cumpre decidir:

Matéria de Facto assente na 1ª Instância e que consta da sentença


recorrida:

1. No final do mês de Junho de 2005, a autora encontrava-se na sua


residência, junto do seu falecido marido, alimentando-o.

2. Que se encontrava acamado/imobilizado, por lhe ter dado um AVC.

3. Nessa altura, os réus moravam na casa ao lado da casa da autora.

4. Em 20.07.2009, os réus empurraram a autora.

5. Com a conduta referida, a autora caiu ao chão, onde ficou imobilizada.

6. Sem que os réus lhe tenham prestado qualquer tipo de auxilio.


7. Então a autora gritou pelo seu outro filho, com quem vive, para que este
a pudesse ajudar.

8. Este, indo de encontro à sua mãe, mas sem saber o que fazer, agarrou-
a pelos braços e arrastou-a até à sala, onde estava o telefone.

9. Chamados os Bombeiros transportaram a autora ao serviço de


urgências do hospital de ....

10. De tal conduta dos réus resultaram para a autora os ferimentos


descritos na “perícia de avaliação do dano corporal” junta a fls. 11 e
seguintes, que aqui se dá por integralmente reproduzida.

11. Em consequência da conduta dos réus a autora foi internada no


Hospital de ... de ... a 20 de Julho de 2005, tendo sido operada no dia 25
do mesmo mês e tendo alta no dia 4 de Agosto do mesmo ano.

12. Ainda em consequência das descritas agressões a autora ficou


limitada na sua movimentação, só conseguindo andar com o auxílio de
canadianas.

13. O réu A (…) recebeu em sua casa uma notificação do Hospital de ..., S
.A, de ..., para que procedesse ao pagamento das despesas efectuadas
naquele, no montante de 4 283,77 euros (quatro mil duzentos e oitenta e
três euros e setenta e sete cêntimos), relativos à assistência prestada à
autora.

14. Os réus, depois de recebida aquela, dirigiram-se a casa da autora,


informando-a do sucedido e que não iriam pagar.

15. Tendo-a convencido a acompanhá-los àqueles serviços para


regularizarem a situação.

16. A autora pagou a divida hospitalar.

Nos termos do art. 684°, n°3, e 690°,n°1, do CPC, o objecto do recurso


acha-se delimitado pelas conclusões do recorrente, sem prejuízo do
disposto na última parte do n°2, do art. 660°, do mesmo Código.

Das conclusões, ressalta a seguinte questão:

1. Os danos não patrimoniais, mesmo que se entenda que não foram


provados em Audiência de Discussão e Julgamento, ainda assim,
deveriam ter sido dado como provados, por se tratarem de factos
notórios e, como tal, não carecerem de prova, porque subsumíveis no
disposto no artigo 514.°, n.° 1 do C.P.C, que, assim, sai violado.
 Apreciando, diga-se que a indemnização correspondente a danos não
patrimoniais deverá ser fixada segundo a equidade, tendo-se em conta
ainda o grau de culpabilidade do agente, a situação económica deste e do
lesado e as demais circunstâncias do caso que se tenham por justificadas
(Ac. STJ. 31- 3-1993:BMJ, 425-544).

Na vinculação do disposto no art. 496°, Cód. Civil, a indemnização por


danos não patrimoniais não visa reconstituir a situação que existiria se não
se tivesse verificado o evento mas sim compensar de alguma forma o
lesado pelas dores físicas ou morais sofridas e também sancionar a
conduta do lesante (Ac. RC. 31-3-1 987: CJ 1987. 2.°- 85). A indemnização
dos danos não patrimoniais visa, assim, compensar o lesado e sancionar o
lesante.

Equidade, por sua vez, não é sinónimo de arbitrariedade, mas sim um


critério para correcção do direito, em ordem a que se tenham em
consideração, fundamentalmente, as circunstâncias do caso concreto (Ac.
RE. 13-10-1988: BMJ.380.°-560).

Os «danos morais», ou «prejuízos de natureza não patrimonial».


correspondem, finalmente, àquilo que, na linguagem jurídica se costuma
designar por pretium doloris, ou ressarcimento tendencial da angústia, da
dor física, da doença, ou do abalo psíquico-emocional resultante de uma
situação de «luto» (transporte afectivo e das faculdades psíquicas
originado por uma situação de perda de objecto ou do «ser» amado) (do
Ac. STJ. 28- 10-1 992: BMJ, 420-550).

Na vinculação do disposto no art. 562°, CC, a determinação/fixação


indemnizatória devida por danos morais, para além da factualidade
atendível, deverá sê-lo segundo critérios de equidade, que nos conduzem
para o plano jurídico, para uma questão de direito. Determinar o valor dos
danos e/ou lucros cessantes é matéria de facto da exclusiva competência
das instâncias, bem como a correcção ou actualização dos valores
monetários. Todavia, é matéria de direito a determinação e fixação dos
elementos a considerar no sentido de saber quais os danos indemnizáveis,
assim como a determinação do âmbito material e temporal da correcção
monetária (Ac. STJ, 26-2-1 991: BMJ, 404.°- 424).

O que leva a concluir pela inadequação do firmado, na sua expressão,


assim impossibilitando o seu sufrágio. Com efeito, tal retórica
argumentativa não pode postergar outro tipo de considerações
pressuponentes. Com efeito, configura-se como conveniente distinguir
entre a «notoriedade» definida no art. 514.°, n.° 1, do Cód. Proc. Civil e
que se traduz no «conhecimento geral» dos factos que a revestem —
tornado dispensável a sua prova e até a sua alegação — e o carácter
«notório» dos factos que a lei, ao invés, exige que sejam aduzidos e
demonstrados, cuja noção, correspondente à formulada pela doutrina
civilística (cfr. Profs. Pires de Lima e Antunes Varela, Cód. Anotado vol. 1°,
p. 166) se inseriu no n.° 2 do art. 257.° do Cód. de 1966: «O facto é
notório, quando uma pessoa de normal diligência o teria podido notar».

Aflora aí a lição do Prof. Manuel de Andrade (Teoria Geral, vol. 2.°, p. 89)
enquanto tinha por notório «tanto aquilo que é geralmente sabido, como
aquilo que é de per si evidente».

Na verdade, o que se «evidencia» torna-se susceptível de ser notado por


qualquer pessoa de normal diligência, independentemente do seu
«generalizado conhecimento» (do Ac. STJ, de 1.10.1974: BMJ, 240.°-234).

Ou seja, um facto é notório quando o juiz o conhece como tal, colocado na


posição do cidadão comum, regularmente informado, sem necessitar de
recorrer a operações lógicas e cognitivas, nem a juízos presuntivos (A. dos
Reis, CPC Anot., 3.°-259 e ss.; Castro Mendes, Do conceito de prova,
págs. 711 e ss., com grandes desenvolvimentos; Vaz Serra, Provas, em
BMJ, 110.°- 61 e ss.).

De acordo com este tipo de consideração, a Relação, ao abrigo do


disposto no artigo 514.°, n.° 1, do Cód. Proc. Civil, pode considerar certos
factos como notórios, independentemente - até - de os mesmos, no caso
de terem sido levados ao questionário, terem obtido resposta negativa por
parte do tribunal (Ac. STJ, de 24.4.1986: BMJ, 356.°-295).

Vale isto por dizer que esta aplicação legal do conceito indeterminado
«factos notórios» «aos factos que são do conhecimento geral», tem o seu
eco no comentário de J. A. dos Reis sobre «o conhecimento geral», no
sentido de que é o conhecimento tido por parte da grande maioria dos
cidadãos do País, regularmente informada». Sobre o que a doutrina
entende por «facto notório», e pensando-se no leque de opiniões fundadas
na lei, muito se tem escrito, não sendo ora momento azado para uma
referência, ainda que sumária, aos critérios normalmente seguidos para o
efeito. Em todo o caso, acha-se oportuna a indicação de que a
«notoriedade», vista no facto x ou y, histórico, sociológico, etc., é a
conhecida pelo juiz, sem que este necessite de recorrer a operações
lógicas e cognitivas, como a juízos presuntivos: o facto apresenta-se
notório ao juiz, porque ele o conhece como tal, colocado na posição do
cidadão comum, regularmente informado (J. A. dos Reis — Código de
Processo Civil Anotado, vol. III, págs. 259 e segs.; J. Castro Mendes, Do
Conceito de Prova em Processo Civil, págs. 711 e segs., onde o assunto
vem desenvolvidamente tratado; e A. Vaz Serra, «Provas (Direito
Probatório Material)», Boletim do Ministério da Justiça, n.° 110, págs. 61 e
segs. — só para nos cingirmos à literatura jurídica portuguesa)» (do Ac.
STJ, de 11.12.1991: BMJ, 411.°-574).

Um facto é notório quando o juiz o conhece como tal, colocado na posição


do cidadão comum, regularmente informado, sem necessitar de recorrer a
operações lógicas e cognitivas, nem a juízos presuntivos. A circunstância
de, porventura, ser dispensada a sua alegação e prova não significa que
os factos notórios não tenham de ser fixados pelas instâncias, sem
prejuízo de o STJ poder apreciar a violação de norma legal, nos termos do
n.° 2 do art. 722.º do CPC (Ac. STJ, de 28.5.2002, Rev. n.° 1163/02-2.ª:
Sumários, 5/2002).

Com tal esquisso, revertendo à situação dos factos, constata-se que a


apelante - como a decisão dá conta a fls. 172 dos Autos -,

“designadamente, alega que, em virtude da agressão sofrida e das injúrias


perpetradas, na mesma data, pelos réus, a autora passou noites sem dormir,
angustiada e atormentada pela imagem que não conseguiu esquecer do seu filho e
nora a agredirem-na.

Todos os dias da sua vida são assombrados pelo temor e pânico de que tais
agressões possam vir a repetir-se já que, constantemente, é ameaçada pelos réus”.

Apreciando, considera,

 “porém, nenhuns destes factos, acabados de referir, foram provados pela autora,
assim, porque a autora apenas pediu danos não patrimoniais, em virtude dessa
factualidade, e não, por exemplo, em virtude das dores que com certeza padeceu
nem por ter estado imobilizada, terá de improceder na totalidade esta parte do
pedido”.

Mas a verdade é que, também, de mais não precisava, neste contexto,


pois que saiu demonstrado que

4. Em 20.07.2009, os réus empurraram a autora.

5. Com a conduta referida, a autora caiu ao chão, onde ficou imobilizada.

6. Sem que os réus lhe tenham prestado qualquer tipo de auxilio.

7. Então a autora gritou pelo seu outro filho, com quem vive, para que este a
pudesse ajudar.

8. Este, indo de encontro à sua mãe, mas sem saber o que fazer, agarrou-a pelos
braços e arrastou-a até à sala, onde estava o telefone.
9. Chamados os Bombeiros transportaram a autora ao serviço de urgências do
hospital de ....

10. De tal conduta dos réus resultaram para a autora os ferimentos descritos
na “perícia de avaliação do dano corporal” junta a fls. 11 e seguintes, que aqui
se dá por integralmente reproduzida.

11. Em consequência da conduta dos réus a autora foi internada no Hospital


de ... de ... a 20 de Julho de 2005, tendo sido operada no dia 25 do mesmo mês
e tendo alta no dia 4 de Agosto do mesmo ano.

12. Ainda em consequência das descritas agressões a autora ficou limitada na


sua movimentação, só conseguindo andar com o auxílio de canadianas.

Tal, inequivocamente, consubstancia situação que, de forma evidenciada


acarretou dores, incómodos e limitações de tal provenientes para a
recorrente, revelados como factos notórios.

Em interpretação, de resto concordante com específica orientação


jurisprudencial que, em termos similares, apreciou (ac. do TRP de 8.1.91,
ALVES CORREIA, BMJ, 403, p. 487):

“Não carecendo o facto notório nem de alegação, nem de prova, não deve figurar
no questionário.

É facto notório, do conhecimento geral pertinente à cultura média ou comum,


fazendo parte de cultura geral do juiz, que a fractura de um punho provoca dores,
incómodos e limitações a quem a sofre.

A resposta negativa ao quesito em que se perguntava se o autor sofreu dores,


incómodos ou limitações provenientes da fractura não releva, podendo o juiz, na
sentença, tomar em conta esse facto, notório, nos termos dos artigos 664º. e 514º.
do Código de Processo Civil”;

Ou (Ac. do TRP de 21.6.95, JUDAK FIGUEIREDO, www.dgsi.pt proc.


9540320) determinando que, como tal, se consideram “as dores provocadas
por um murro que rasga o lábio do agredido”,

por ser notório, não carece de prova que um murro desferido com tal violência que
produziu rasgamento de um dos lábios do queixoso, deixando-o a sangrar, provoca
necessariamente dores mais ou menos duradouras.

Consignando-se na decisão que o lesado não logrou demonstrar que do murro que
lhe foi desferido e lhe causou sangramento do lábio lhe advieram quaisquer dores,
há erro de julgamento, pois os danos não patrimoniais são notórios e merecem a
tutela do direito atenta a intensidade da ofensa”.

Tendo-se mesmo decidido que

“o tribunal da Relação pode considerar certos factos como notórios,


independentemente (até) de terem obtido resposta negativa por parte do tribunal
que tenha julgado a matéria de facto em 1ª . instância (ac. do STJ de 24.4.86,
SOLANO VIANA, BMJ, 356, p. 295).

Com base  na circunstância que,

“de acordo com o artigo 514°, n.° 1, do Código de Processo Civil, não carecem de
prova nem de alegação os factos notórios, devendo considerar-se como tais os
factos que são do conhecimento geral.

A Relação, o abrigo desta disposição legal, pode considerar certos factos como
factos notórios, independentemente de os mesmos, no caso de terem sido levados
ao questionário, terem obtido resposta negativa por parte do Tribunal.

Pode acontecer que não se tenha feito prova de determinado facto na audiência de
discussão e julgamento, face aos meios de prova ali produzidos, e que a Relação, a
quem compete a fixação da matéria de facto, venha a considerar esse facto como
facto notório, que como tal está dispensado de prova e até de alegação”.

Foi o que sucedeu no presente caso, nos Autos. O que leva a considerar
os factos descritos, dados como não provados pelo Tribunal, como factos
notórios, não carecendo, portanto, de prova.     

Consequentemente, porque os réus empurraram a autora e de tal conduta


dos réus resultaram para a autora os ferimentos descritos na “perícia de
avaliação do dano corporal” junta a fls. 11 e seguintes, levando em
consideração que em consequência da conduta dos réus a autora foi
internada no Hospital de ... de ... a 20 de Julho de 2005, tendo sido
operada no dia 25 do mesmo mês e tendo alta no dia 4 de Agosto do
mesmo ano, e que, ainda em consequência das descritas agressões, a
autora ficou limitada na sua movimentação, só conseguindo andar com o
auxílio de canadianas, tais factos são de considerar como notórios,
independentemente de os mesmos, no caso de terem sido levados ao
questionário, terem obtido resposta negativa por parte do tribunal.

Face aos factos provados, entende-se adequada a importância de


5.000,00 Euros peticionada pelos prejuízos de ordem não patrimonial,
sofridos pela autora, em virtude da conduta dos Réus.
Podendo, assim, concluir-se que:

1. Na vinculação do disposto no art. 496°, Cód. Civil, a indemnização por danos


não patrimoniais não visa reconstituir a situação que existiria se não se tivesse
verificado o evento, mas sim compensar de alguma forma o lesado pelas dores
físicas ou morais sofridas e também sancionar a conduta do lesante. A
indemnização dos danos não patrimoniais visa, assim, compensar o lesado e
sancionar o lesante.

 2. Equidade, por sua vez, não é sinónimo de arbitrariedade, mas sim um critério
para correcção do direito, em ordem a que se tenham em consideração,
fundamentalmente, as circunstâncias do caso concreto.

3. Os «danos morais», ou «prejuízos de natureza não patrimonial». correspondem,


finalmente, àquilo que, na linguagem jurídica se costuma designar por pretium
doloris, ou ressarcimento tendencial da angústia, da dor física, da doença, ou do
abalo psíquico-emocional resultante de uma situação.

4. Um facto é notório quando o juiz o conhece como tal, colocado na posição do
cidadão comum, regularmente informado, sem necessitar de recorrer a operações
lógicas e cognitivas, nem a juízos presuntivos. De acordo com este tipo de
consideração, a Relação, ao abrigo do disposto no artigo 514.°, n.° 1, do Cód. Proc.
Civil, pode considerar certos factos como notórios, independentemente - até - de os
mesmos, no caso de terem sido levados ao questionário, terem obtido resposta
negativa por parte do tribunal.

5. Não carecendo o facto notório nem de alegação, nem de prova, não deve figurar
no questionário.

6. Porque os réus empurraram a autora e de tal conduta dos réus resultaram para a
autora os ferimentos descritos na “perícia de avaliação do dano corporal” junta a
fls. 11 e seguintes, levando em consideração que em consequência da conduta dos
réus a autora foi internada no Hospital de ... de ... a 20 de Julho de 2005, tendo sido
operada no dia 25 do mesmo mês e tendo alta no dia 4 de Agosto do mesmo ano, e
que, ainda em consequência das descritas agressões, a autora ficou limitada na sua
movimentação, só conseguindo andar com o auxílio de canadianas, tais factos são
de considerar como notórios, independentemente de os mesmos, no caso de terem
sido levados ao questionário, terem obtido resposta negativa por parte do tribunal,
nos termos dos artes. 664º e 514º do CPC.

A Decisão:

Pelas razões expostas, concede-se provimento ao recurso interposto,


julgando a acção provada e procedente, em consequência do que se
condenam os RR., solidariamente, ao pagamento de indemnização à A. -
para lá do fixado (€ 4.283,77), a título de danos não patrimoniais
peticionados e correspondentes à quantia de 5. 000, 00 Euros, o que tudo
perfaz € 9.743,37, acrescida dos juros vincendos até integral pagamento.

Sem custas.

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