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II - Não carecendo o facto notório nem de alegação, nem de prova, não deve
figurar no questionário.
I - A Causa:
Alegam, ainda, que foi o réu quem pagou as despesas do Hospital, o que
fez por liberalidade e por ser filho da autora.
7- Então a autora gritou pelo seu outro filho, com quem vive, para que este a
pudesse ajudar.
8- Este, indo de encontro à sua mãe, mas sem saber o que fazer, agarrou-a pelos
braços até à sala, onde estava o telefone.
10- De tal conduta dos réus resultaram para a autora os ferimentos descritos na
“perícia de avaliação do dano corporal “junta fis. 11 e seguintes, que aqui se dá por
integralmente reproduzida.
11- Em consequência da conduta dos réus a autora foi internada no Hospital de ...
de ... a 20 de Julho de 2005, tendo sido operada no dia 25 do mesmo mês e tendo
alta no dia 4 de Agosto do mesmo ano.
4. Uma vez, que existe contradição entre os factos provados e a decisão
proferida.
5. Está provado que os RR. perpetraram agressões físicas e verbais contra a A.,
mas não estão provados os danos patrimoniais, o que se requer.
Assim sendo,
6. A A. em virtude das agressões perpetradas pelos RR. passou noites sem
dormir, angustiada e atormentada pela imagem que não conseguiu esquecer do seu
filho e nora a agredirem-na. Todos os dias da sua vida são assombrados pelo temor
e pânico de que tais agressões possam vir a repetir-se já que, constantemente, é
ameaçada pelos RR.
10. Dispõe aquele artigo “Não carecem de prova nem de alegação os factos
notórios, devendo considerar — se como tais os factos que são do conhecimento
geral “.
11. Facto notório é aquele que é do conhecimento geral. Como refere Calamandrei
(Per La Definizione Dei Fatto Notorio, 1925, 1°, pg. 309), trata-se do
conhecimento comum das pessoas que pertencem a uma determinada esfera social,
sendo esta constituída por um conjunto de pessoas que, por diversos motivos - de
tempo, religião, de profissão, de cultura, etc.-, têm interesses comuns. Daí que, a
doutrina tem classificado os factos notórios em duas espécies.
- Os factos que adquiriram o carácter de notórios por via indirecta, ou seja, através
de raciocínios desenvolvidos a partir de factos do conhecimento comum.
12. Nesta senda, Alberto dos Reis (CPC Anotado, III, p. 261) classifica como
‘factos notórios apenas aqueles que sejam do conhecimento geral, ou seja, os que
sejam do conhecimento da massa dos cidadãos portugueses regularmente
informados, isto é, com acesso aos meios normais de informação “.
Consequentemente, não se podem considerar como notórios os factos que sejam do
conhecimento de um sector restrito de pessoas, com informação muito acima da
média ou de um sector muito específico (ex. problemas de natureza económica,
ocorrências ou práticas de funcionais de uma profissão).
13. Os danos não patrimoniais, mesmo que se entenda que não foram provados em
Audiência de Discussão e Julgamento, ainda assim,
14. deveriam ter sido dado como provados, por se tratarem de factos notórios e,
como tal, não carecerem de prova, porque subsumíveis no disposto no artigo 514.°,
n.° 1 do C.P.C.
15. Violou assim a douta decisão recorrida, o disposto no art° 514.° n.°1.° do
Código de Processo Civil e demais normas legais no que apenas e tão somente
concerne aos danos não patrimoniais por não terem sido provados.
II. Os Fundamentos:
8. Este, indo de encontro à sua mãe, mas sem saber o que fazer, agarrou-
a pelos braços e arrastou-a até à sala, onde estava o telefone.
13. O réu A (…) recebeu em sua casa uma notificação do Hospital de ..., S
.A, de ..., para que procedesse ao pagamento das despesas efectuadas
naquele, no montante de 4 283,77 euros (quatro mil duzentos e oitenta e
três euros e setenta e sete cêntimos), relativos à assistência prestada à
autora.
Aflora aí a lição do Prof. Manuel de Andrade (Teoria Geral, vol. 2.°, p. 89)
enquanto tinha por notório «tanto aquilo que é geralmente sabido, como
aquilo que é de per si evidente».
Vale isto por dizer que esta aplicação legal do conceito indeterminado
«factos notórios» «aos factos que são do conhecimento geral», tem o seu
eco no comentário de J. A. dos Reis sobre «o conhecimento geral», no
sentido de que é o conhecimento tido por parte da grande maioria dos
cidadãos do País, regularmente informada». Sobre o que a doutrina
entende por «facto notório», e pensando-se no leque de opiniões fundadas
na lei, muito se tem escrito, não sendo ora momento azado para uma
referência, ainda que sumária, aos critérios normalmente seguidos para o
efeito. Em todo o caso, acha-se oportuna a indicação de que a
«notoriedade», vista no facto x ou y, histórico, sociológico, etc., é a
conhecida pelo juiz, sem que este necessite de recorrer a operações
lógicas e cognitivas, como a juízos presuntivos: o facto apresenta-se
notório ao juiz, porque ele o conhece como tal, colocado na posição do
cidadão comum, regularmente informado (J. A. dos Reis — Código de
Processo Civil Anotado, vol. III, págs. 259 e segs.; J. Castro Mendes, Do
Conceito de Prova em Processo Civil, págs. 711 e segs., onde o assunto
vem desenvolvidamente tratado; e A. Vaz Serra, «Provas (Direito
Probatório Material)», Boletim do Ministério da Justiça, n.° 110, págs. 61 e
segs. — só para nos cingirmos à literatura jurídica portuguesa)» (do Ac.
STJ, de 11.12.1991: BMJ, 411.°-574).
Todos os dias da sua vida são assombrados pelo temor e pânico de que tais
agressões possam vir a repetir-se já que, constantemente, é ameaçada pelos réus”.
Apreciando, considera,
“porém, nenhuns destes factos, acabados de referir, foram provados pela autora,
assim, porque a autora apenas pediu danos não patrimoniais, em virtude dessa
factualidade, e não, por exemplo, em virtude das dores que com certeza padeceu
nem por ter estado imobilizada, terá de improceder na totalidade esta parte do
pedido”.
7. Então a autora gritou pelo seu outro filho, com quem vive, para que este a
pudesse ajudar.
8. Este, indo de encontro à sua mãe, mas sem saber o que fazer, agarrou-a pelos
braços e arrastou-a até à sala, onde estava o telefone.
9. Chamados os Bombeiros transportaram a autora ao serviço de urgências do
hospital de ....
10. De tal conduta dos réus resultaram para a autora os ferimentos descritos
na “perícia de avaliação do dano corporal” junta a fls. 11 e seguintes, que aqui
se dá por integralmente reproduzida.
“Não carecendo o facto notório nem de alegação, nem de prova, não deve figurar
no questionário.
por ser notório, não carece de prova que um murro desferido com tal violência que
produziu rasgamento de um dos lábios do queixoso, deixando-o a sangrar, provoca
necessariamente dores mais ou menos duradouras.
Consignando-se na decisão que o lesado não logrou demonstrar que do murro que
lhe foi desferido e lhe causou sangramento do lábio lhe advieram quaisquer dores,
há erro de julgamento, pois os danos não patrimoniais são notórios e merecem a
tutela do direito atenta a intensidade da ofensa”.
“de acordo com o artigo 514°, n.° 1, do Código de Processo Civil, não carecem de
prova nem de alegação os factos notórios, devendo considerar-se como tais os
factos que são do conhecimento geral.
A Relação, o abrigo desta disposição legal, pode considerar certos factos como
factos notórios, independentemente de os mesmos, no caso de terem sido levados
ao questionário, terem obtido resposta negativa por parte do Tribunal.
Pode acontecer que não se tenha feito prova de determinado facto na audiência de
discussão e julgamento, face aos meios de prova ali produzidos, e que a Relação, a
quem compete a fixação da matéria de facto, venha a considerar esse facto como
facto notório, que como tal está dispensado de prova e até de alegação”.
Foi o que sucedeu no presente caso, nos Autos. O que leva a considerar
os factos descritos, dados como não provados pelo Tribunal, como factos
notórios, não carecendo, portanto, de prova.
2. Equidade, por sua vez, não é sinónimo de arbitrariedade, mas sim um critério
para correcção do direito, em ordem a que se tenham em consideração,
fundamentalmente, as circunstâncias do caso concreto.
4. Um facto é notório quando o juiz o conhece como tal, colocado na posição do
cidadão comum, regularmente informado, sem necessitar de recorrer a operações
lógicas e cognitivas, nem a juízos presuntivos. De acordo com este tipo de
consideração, a Relação, ao abrigo do disposto no artigo 514.°, n.° 1, do Cód. Proc.
Civil, pode considerar certos factos como notórios, independentemente - até - de os
mesmos, no caso de terem sido levados ao questionário, terem obtido resposta
negativa por parte do tribunal.
5. Não carecendo o facto notório nem de alegação, nem de prova, não deve figurar
no questionário.
6. Porque os réus empurraram a autora e de tal conduta dos réus resultaram para a
autora os ferimentos descritos na “perícia de avaliação do dano corporal” junta a
fls. 11 e seguintes, levando em consideração que em consequência da conduta dos
réus a autora foi internada no Hospital de ... de ... a 20 de Julho de 2005, tendo sido
operada no dia 25 do mesmo mês e tendo alta no dia 4 de Agosto do mesmo ano, e
que, ainda em consequência das descritas agressões, a autora ficou limitada na sua
movimentação, só conseguindo andar com o auxílio de canadianas, tais factos são
de considerar como notórios, independentemente de os mesmos, no caso de terem
sido levados ao questionário, terem obtido resposta negativa por parte do tribunal,
nos termos dos artes. 664º e 514º do CPC.
A Decisão:
Sem custas.