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REPUBLICA DE MOCAMBIQUE TRIBUNAL ADMINISTRATIVO PLENARIO Processo n.° 34/2009-P ACORDAO N.°4§ /2014 Acordam, em Plendrio, os Juizes Conselheiros do Tribunal Administrativo: GRACINDA MARIA SAMUEL CUMBE, melhor identificada nos autos do processo. & margem indicado veio, perante esta instancia jurisdicional administrativa, interpor recurso de apelagao, nos termos do disposto no artigo 140 da Lei n.° 9/2001, de 7 de Julho, contra 0 Acérdio n.° 15/2009, de 8 de Abril, da Primeira Seccao, que julgou improcedente 0 recurso contencioso de anulacio do despacho de expulsdo do Aparelho do Estado, que Ihe fora aplicada pelo Ministro da Justica, como culminar de um processo disciplinar contra si instaurado. Louva-se nos fundamentos seguintes: O acordao julgou improcedente o recurso interposto pela ora apelante, mantendo o acto recorrido que determinou a sua expulsio do Aparelho do Estado, com fundamento na improcedéncia da excepco peremptoria de caducidade entao suscitada, quanto a pratica de actos do processo disciplinar que se prolongou para além do prazo fixado no despacho que determinou a sua instauragao, incluindo a acusagao que foi deduzida intempestivamente, citando, para 0 efeito, 0 n.°1 do artigo 202 do Estatuto Geral dos Funcionarios de Estado, aprovado pelo~7, Decreto n." 14/87, de 20 de Maio, o qual admite como tnica nulidade insuprivel em processo disciplinar, a impossibilidade de defesa do arguido por nao lhe ter sido dado conhecimento da nota de acusacao e do prazo de que dispoe para exercer o direito de defesa. © Acérdao em causa, ao citar de forma errénea a referida disposicao legal, equivocou-se no ajuizamento da excep¢ao deduzida. Para além da nulidade referida nesse preceito legal, existem outras, embora supriveis, como seja a pratica de actos fora dos prazos fixados por superior hierarquico, como aconteceu com a instrugao do processo disciplinar que se prolongou para além do prazo fixado no despacho que determinou a sua instauragao, incluindo a acusagio que foi deduzida fora do prazo legal. No presente caso, 0 prazo de 15 dias, nos termos do disposto no n.? ido artigo 200 do EGFE, para a conclusio do processo disciplinar, foi largamente excedido, sem qualquer prorrogacao, tornando nulos a acusagaoe, consequentemente, o despacho recorrido, por extemporaneidade. Por outro lado, a nulidade em causa, decorreu da violagao das normas imperativas citadas, ao abrigo do disposto no artigo 294.2 do Cédigo Civil, aplicavel aos actos juridicos, por forga do artigo 295.° do mesmo cédigo, devendo ser de cumprimento obrigatério, sob pena de caducidade. Embora a caducidade quando estabelecida em matéria nao excluida da disponibilidade das partes, nao seja do conhecimento oficioso, conforme o disposto no n.2 2 do artigo 333.2 do Cédigo Civil, no presente caso, foi tempestivamente arguida pela apelante, na sua defesa em sede do processo disciplinar e, por esse facto, tornou-se obrigatoria para o Tribunal. Entretanto, 0 douto Acérdao nao apresenta qualquer fundamento ou prova que demonstre a forma como foi suprida a caducidade suscitada i pela apelante em sede prépria. ah Outra nulidade da acusacao, arrastando consigo o despacho recorrido, decorre da inclusao, por livre arbitrio do instrutor, de matérias nao compreendidas no despacho que 0 nomeou para a instrucio do processo disciplinar, tomando em consideracio que a matéria indiciaria foi fixada no inquérito que precedeu o proceso disciplinar. Relativamente ao alegado desvio de 324.608.435,00MT (trezentos e vinte e quatro milhGes, seiscentos e oito mil, quatrocentos e trinta e cinco meticais, da antiga familia), o Acorddo em causa refere que a apelante nado apresentou provas do destino dado a esse valor, entretanto, tal foi esclarecido pelo relatério de inspecgao, citado nos autos do recurso contencioso e nas alegacées facultativas, que concluiu que esses valores foram depositados na conta receita, com a excepcao dos que se destinavam ao pagamento de emolumentos pessoais, devolugdo aos clientes por razdes de recusa e do excedente que é remetido a sede do cofre, nao havendo qualquer outra prova a ser apresentada pela apelante. Por outro lado, a apelante ja tinha esclarecido que as contas desse exercicio econémico foram prestadas e aprovadas pelas Financas e pelo Cofre Geral dos Registos e Notariado, com a excepcio dos 161.600.000,00MT (cento e sessenta e um milhdes e seiscentos mil meticais da antiga familia) que, como ja foi referido, foram fraudulentamente subtraidos da conta de preparos, uma conta de transi¢do, cujos valores so transferidos para o Estado, confirmando-se 0 registo requerido ou devolvido ao requerente em caso de recusa. Outrossim, o desvio do valor em causa, ocorreu numa altura em que a apelante encontrava-se doente, tendo juntado aos autos documentos que comprovam o facto, porém, na qualidade de assinante da conta em causa adiantava a sua, para posterior aposi¢ao da outra assinatura obrigatoria. Esclareceu, ainda, que foi Catarina Nhampossa quem guardou os cheques em lugar nao seguro, facto confirmado pela prépria. Ademais, 0 pagamento de 161.600.000,00MT (cento e sessenta e um milhdes e seicentos mil meticais, da antiga familia), através de cheques sem assinatura obrigatoria, pelo Banco Austral, ¢ indevido, e resultou da violagao do contrato de depésito bancario. Termina requerendo a procedéncia do presente recurso, por provado, anulando-se 0 Acérdio n.° 15/2009-1.4, de 8 de Abril, por falta de fundamento legal, bem como a declaragdo de nulidade do despacho recorrido da Ministra da Justica. No mais, da-se, aqui, por integralmente reproduzida a peticdo de recurso, para todos os efeitos legais. Em sede do visto, o Dignissimo Magistrado do Ministério Publico nesta instancia jurisdicjonal, promoveu a improcedéncia dos fundamentos do recurso ea confirmacao do Acérdao recorrido, tendo em conta que: 1. A argui¢do nas alegagées de recurso, de irregularidades de natureza processual, suscitadas pela recorrente, nao revestem natureza de excepcdo. 2. Compulsados os autos, ndo hé causa impeditiva, modificativa ow extintiva, que obste a apreciacao do mérito da causa. 3. Na ordem juridica, a tinica nulidade insuprivel consagrada pelo legislador, no ambito do processo disciplinar, esta expressamente consagrada no art.° 202 do Decreto n.° 14/87, de 20 de Maio. 4. Foi produzida prova pericial e documental, fixando 0 nexo causal, entre a conduta e o resultado, determinando a existéncia de culpa. Tudo visto, cumpre apreciar e decidir. Dos autos constata-se que através do Acérdao n.%15/2009-1.1, de 8 de Abril, foi julgado improcedente, por falta de fundamento legal, o recurso contencioso interposto pela apelante, contra o despacho exarado pela Ministra da Justica, que a expulsa do Aparelho do Estado, no culminar de um processo disciplinar instaurado. O referido acérdao julgou improcedente 0 recurso da recorrente com base no disposto no artigo 202 do Estatuto Geral dos Funcionarios Agentes de Estado, segundo o qual constitui unica nulidade insuprivel, em processo disciplinar, a falta de audicao do arguido. Nos termos do disposto no artigo 22 da Lei n.° 5/92, de 6 de Maio, Lei Organica do Tribunal Administrativo, “o Tribunal Administrativo conhece de matéria de facto e de direito em qualquer das suas formacées” Nas suas alegagdes, a apelante nado apresentou no_ processo, fundamentos ou factos novos, que possam abalar a decisao tomada em primeira instancia. Insiste na nulidade do processo disciplinar e do acto recorrido, em virtude de se ter execedido 0 prazo fixado no artigo 200, n.21, do entao Estatuto Geral dos Funciondrios de Estado, bem como, na falta de prorrogagao deste, nos termos dos n.°s 2 e 3 do mesmo preceito legal. Refere, ainda, que a citagao do artigo 202 do referido EGFE, foi feita de forma errénea, e conduziu a um equivoco no ajuizamento do presente caso, porque, no seu entender, além das nulidades ai mencionadas, existem outras que no caso vertente resultam da pratica de actos fora do prazo legal ou fixado pelo superior hierarquico. Contrariamente ao entendimento da apelante, 0 Acérdao fez uma correcta interpretagao da lei, pois a preterigéo de prazos e de outras formalidades legais, que nao sejam as respeitantes a defesa do arguido, nao constitui nulidade em processo disciplinar. A lei determina, expressamente, no artigo 202 do EGFE, que a tnica nulidade insuprivel em processo disciplinar ¢ a impossibilidade de defesa do arguido por nao Ihe ter sido dado conhecimento da nota de acusagao e do prazo de que dispée para exercer o direito de defesa. Da doutrina, segundo Macelo Caetano, Manual de Direito Administrativo, Vol.ll, pdg.854, 10.2 edigdo, Revista e Actualizada- Coimbra-1994, entende-se, também, que no processo disciplinar, a lei expressamente determina que sé as formalidades respeitantes 4 defesa do arguido sao essenciais e a pretericio de qualquer das outras, sé inquinara a decisao final, quando se prove que tal facto influi, determinantemente, no seu contetido. Compulsados os autos constata-se terem sido observados todos os requisitos essenciais de validade do processo disciplinar, desde a abertura até a fase de deciséo final, tendo-se observado, rigorosamente, a lei, conforme o estabelecido no Estatuto Geral dos Funcionadrios do Estado (EGFE), entéo em vigor no concernente as fases do processo, pelo que nao houve qualquer coarctacao da sua defesa por nao ter sido notificada da nota de acusacao. Pelo contrario, tomou conhecimento da mesma e exerceu 0 seu direito de defesa (vide folhas 56 a 65 dos autos). Por outro lado,’ relativamente a matéria da acusa¢do, mostrou-se complexa, que ditou a necessidade de se efectuar diligéncias complexas em outras instituigées, como € 0 caso do Banco Austral, onde os cheques fraudulentamente subtraidos foram sacados, diligéncias que nao podiam ser realizadas no periodo previsto no n.° 1 do artigo 200 do EGFE. No que tange ao incumprimento do prazo de conclusao, importa referir que, embora se reconhega essa realidade, no caso sub judice, este Tribunal, em abundante jurisprudéncia produzida, tem asseverado que o referido incumprimento, pela Administracao Publica, em prazos nao exageradamente extensos, constitui um comportamento censuravel, mas nao decorre, desse facto, qualquer consequéncia legal de invalidade do procedimento, muito menos da lugar a nulidade insuprivel. A conduta da entidade recorrida é censuravel, do ponto de vista dos principios contidos nas Normas de Funcionamento dos Servicos da Administragao Publica, aprovadas pelo Decreto n.° 30/2001, de 15 de Outubro, mormente, o principio da celeridade do procedimento administrativo, que visa assegurar, nado somente, a economia e a eficdcia das decisées, mas, também, a sua oportunidade, como forma de elevar a eficiéncia da Administragao Publica. No que tange as acusagées que lhe foram feitas, ficou provado que houve levantamento de valores, por meio de cheques onde estava aposta umia unica assinatura (da recorrente), e que possibilitaram o levantamento ilicito de 161.600.000,00MT (cento e sessenta e um milhées e seiscentos mil meticais da antiga familia), bem como a existéncia de cheques passados ao portador (vide fls.36,44,50 e 51 dos autos). Quanto aos factos imputados a recorrente na nota de acusagao, sao dados como provados, quanto mais que a recorrente, na sua defesa, limitou-se a atacar 0 incumprimento dos prazos para a instrugdo do processo disciplinar e nao apresentou argumentos que abalassem a acusagao. Concluindo, em todas as evidéncias constantes dos autos, nado se vislumbram indicios de qualquer vicio que inquine 0 processo disciplinar e, consequentemente, 0 acto administrativo sobre 0 qual foi interposto 0 recurso contencioso em_1.? instancia e que deu lugar ao acérdao recorrido, tendo este feito a correcta interpretacao e aplicacao da lei. Pelo exposto, os Juizes Conselheiros deste Tribunal, reunidos em Plenario, decidem negar provimento ao recurso de apelacao interposto por GRACINDA MARIA SAMUEL CUMBE, por falta de fundamentos legais, confirmando, assim, 0 Acérdao n.° 15/2009-12, de 8 de Abril, prolatado pela Primeira Seccao. Custas pela apelante, que se fixam em 2.000,00MT (dois mil Meticais) Registe-se e notifique-se. Maputo,29 de Dezembnf de 2014. = Ltt ihe Paulo Mi ‘Munguambe ~ Presidente José Luis Matfa\Rereira Catdoso - Relator Maximiano Chitsonzo Amilcar 4 sesyie CaF Zain fakD inadi auto Changa lo y ape ig Manteiga Isabel Cristiva\Pedro Filipe Pelo Ministério Publico Fui pr Edmunto Carlos Alberto Vice - Procurador-Geral da Republica

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