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A PROBLEMÁTICA DA TAXATIVIDADE DO AGRAVO DE INSTRUMENTO NO

NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL


DESENVOLVIMENTO
A Função do Recurso no Ordenamento Pátrio Nas lições de Nery Junior o
recurso nos dá a ideia de repetir um caminho que já foi trilhado. Através desse
procedimento a parte interessada provoca um reexame das questões ditas
prejudiciais, a fim de obter a reanálise e a consequente alteração ou a
invalidação do ato decisório, em regra dirigido à instancia superior, obedecendo
dessa forma ao princípio do duplo grau de jurisdição. O Código de Processo
Civil de 2015 traz em seu artigo 994 um rol de recursos, dentre eles,
destacasse o recurso do agravo de instrumento, nota-se que o referido diploma
legal não traz mais a possibilidade de recurso de agravo na forma retida. Já era
de se esperar que o agravo na forma retida não viesse no rol de recursos do
novo Código de Processo Civil, pois o agravo na forma retida só impedia a
preclusão do ato, já que o mérito só ia ser analisado se o mesmo fosse
ventilado em preliminar de apelação. O novo Código de Processo Civil não
permite que os atos que não estão no rol do agravo de instrumento sofram
preclusão, conforme redação do artigo 1009 §1º do Código de Processo Civil,
podendo, portanto, que sejam suscitados em sede de preliminar de apelação,
não há, portanto, razão para que fosse mantida a modalidade retida do agravo.
3.2 Do Agravo de Instrumento 3.2.1Conceito O agravo de instrumento, é
recurso que tem por objetivo a solução de questões incidentes no processo,
que tragam grave dano à parte, o que só restou claro com a redação da lei
11.187/05, que estabeleceu de uma vez por todas que a interposição do agravo
de instrumento seria somente para decisões capazes de gerar grave dano à
parte, portanto, é recurso destinado a impugnar ato decisório do juiz. O agravo
de instrumento deve ser visto como exceção, ou seja, não admite interpretação
extensiva, essa regra se aplicava no Código de Processo Civil de 73 e se
aplica também do Código de Processo Civil de 2015. No que diz respeito à
origem do agravo de instrumento, alguns juristas consideram que o recurso
teve origem em Roma, já outros divergem e consideram que o mesmo teve
origem em Portugal. No CPC de 73 o agravo de instrumento era tratado no
artigo 522, “in verbs” “Art.522. Das decisões interlocutórias caberá agravo, no
prazo de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando se tratar de decisão
suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos
casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a
apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por instrumento.
” (Código de Processo Civil, 1973). Nota-se que, no referido diploma é cabível
a interposição do agravo retido, e o prazo para interposição dos mesmos é de
10 dias. Em relação ao que o referido artigo descreve destaca-se os
doutrinadores Fredie Didier e Leonardo Cunha: “A referência a lesão grave ou
de difícil reparação condiz a ideia de urgência, de sorte que as decisões que
concedam ou neguem pedido de liminar ou tutela antecipada encartam-se
perfeitamente na hipótese legal. ” (JUNIOR e DIDIER, 2013) 3.3 O rol taxativo
do agravo de instrumento 3.3.1Breves considerações Antes mesmo da entrada
em vigor do Código de Processo Civil de 2015 já foi estabelecida um discursão
em relação ao rol taxativo do agravo de instrumento, conforme artigo 1.015 do
Código de Processo Civil, “in verbs” “Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento
contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: I – tutelas provisórias; II
– mérito do processo; III – rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV – incidente de desconsideração da personalidade jurídica; V – rejeição do
pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação; VI
– exibição ou posse de documento ou coisa; VII – exclusão de litisconsorte; VIII
– rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio; IX – admissão ou
inadmissão de intervenção de terceiros; X – concessão, modificação ou
revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução; XI – redistribuição
do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º; XII – (Vetado); XIII – outros
casos expressamente referidos em lei. Parágrafo único. Também caberá
agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de
liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de
execução e no processo de inventário. ” (Código de Processo Civil, 2015) O
parágrafo único do artigo 1.015 do Código de Processo Civil, traz uma exceção
ao rol taxativo do agravo de instrumento, nos casos de decisões proferidas em
fase de liquidação ou de cumprimento de sentença e nos processos de
execução e de inventário. Em uma primeira análise o legislador, pretendeu
estabelecendo um rol taxativo para o agravo de instrumento, limitar essa
modalidade recursal, enumerando assim as possibilidades que seriam cabíveis
o recurso em questão, e as decisões interlocutórias que não estivessem no
referido rol, caberia discussão somente em preliminar de apelação ou em
contrarrazões, ficando dessa forma livres de preclusão. A doutrina ainda está
se posicionando em relação ao rol do artigo 1.015 do Código de Processo Civil
de 2015, alguns operadores do direito defendem que o rol não pode ser
taxativo, e sim exemplificativo, defendem a ideia de que existem hipóteses de
que pode haver decisões interlocutórias que não se encontram no referido rol
do agravo de instrumento e que podem trazer graves danos às partes, um
exemplo claro é de quando o magistrado não concorda com o valor da causa
apontado pelo autor, e procede sua correção de ofício conforme artigo 292 §3º
do Código de Processo Civil de 2015, é um caso de decisão interlocutória que
pode gerar danos à parte e que não se encontra no artigo 1.015 do Código de
Processo Civil. 3.3.2 Alternativa encontrada para solucionar problemas em
relação ao rol taxativo na doutrina se sustenta a hipótese de interposição de
mandando de segurança, pelo fato de não haver alternativa imediata para a
solução de decisões interlocutória possíveis de gerar grave dano à parte, que
não se encontram no rol do artigo 1.015 do Código de Processo Civil de 2015.
O mandado de segurança é um remédio constitucional utilizado para defender
direito líquido e certo, que por sua vez devem ser provados de maneira
inconteste pelo impetrante. O Doutrinador Humberto Teodoro Junior, defende a
tese que não é cabível impetrar mandado de segurança em relação às
decisões interlocutórias, sejam elas abrangidas ou não pelo agravo de
instrumento, o mesmo afirma que o momento da apreciação da decisão
continua o mesmo, porém muda o momento da impugnação, já que as mesmas
não estão afetadas pela preclusão. “Ressalte-se que, na verdade, o que se
modificou, nesse particular, foi o momento da impugnação, pois essas
decisões, de que se recorria, no sistema anterior, por meio de agravo retido, só
eram mesmo alteradas ou mantidas quando o agravo era julgado, como
preliminar de apelação. Com o novo regime, o momento de julgamento será o
mesmo; não o da impugnação. ” (THEODORO JR. “Curso de direito processual
civil”. V. 3, 47. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. P. 1.026) A posição do
doutrinador supracitado, na teoria tem fundamento, porém, na prática ela não
funciona, o agravo retido realmente, foi uma evolução para o sistema pátrio,
pois o que alterou foi somente o momento da impugnação, pois o momento da
análise da questão permanece o mesmo, que é na preliminar de apelação e de
contrarrazões. Ocorre, que os casos em que podem causar grave dano à parte
e que não se encontram no rol do agravo de instrumento ficam sem recurso
cabível, e com o decorrer da ação continua gerando grave dano, ainda mais no
nosso sistema processual brasileiro, que é lento e há processos que se
arrastam por anos, nesse caso a melhor saída a ser encontrada é sim a
impetração de mandando de segurança, para que os efeitos da decisão capaz
de gerar grave dano sejam revertidos. Evidente é que, o mandado de
segurança não foi criado com a intenção de ser utilizado como manobra
recursal, pelo contrário, o mandando de segurança é remédio constitucional
utilizado para assegurar direito líquido e certo, que não esteja protegido por
Habeas Corpus nem Habeas Data, é necessário também que o direito
pleiteado esteja revertido de ilegalidade ou abuso de poder advindo de uma
autoridade ou uma pessoa com atribuições do poder público. Nota-se, portanto,
que o Mandado de Segurança não foi criado para ser utilizado como manobra
recursal como está sendo cogitada a ideia, pelo contrário, é um remédio
constitucional para garantir direitos líquidos e certos, e não para interromper ou
modificar uma decisão suscetível de causar grave dano à parte. Fato é que
criar um rol taxativo para um recurso tão importante como o recurso do agravo
de instrumento é o mesmo que tirar da parte prejudicada a oportunidade de
obter uma apreciação por órgão superior de uma decisão que lhe gera ou é
capaz de gerar grave dano, um rol taxativo para o recurso em questão não vai
nunca agilizar o judiciário, pelo contrário, fará com que os operadores do direito
utilizem do mandado de segurança como manobra de recurso.
 
CONCLUSÃO
 
O legislador ao criar um rol taxativo para o agravo de instrumento teve a
intenção de agilizar o funcionamento do judiciário, e acabar com um recurso
que estava sendo utilizado de manobra por muitos operadores do direito para
atrasar o procedimento processual, e consequentemente protelar uma
sentença condenatória ou declaratória. Ocorre que a intenção do legislador em
estabelecer um rol taxativo para o referido recurso não produziu um resultado
esperado, gerando ainda mais discussão em relação ao recurso em comento e
gerando divergências jurisprudenciais e doutrinárias. Faz também com que o
processo fique mais lento, pois os operadores do direito acabam para o
recorrer ao remédio constitucional do mandado de segurança, que acaba por
perder sua finalidade, que é a de assegurar direito líquido e certo, e não a de
ser utilizado como uma modalidade recursal que é o que está acontecendo.
Conclui-se, portanto, que apesar do agravo de instrumento apresentar um rol
no Código de Processo Civil de 2015, esse rol não pode ser considerado um rol
taxativo, pois, pode trazer graves danos às partes, tratar do assunto em
preliminar de contestação só vai atrasar o procedimento processual, pois se foi
proferida uma decisão interlocutória no curso do processo e em sede de
apelação a decisão foi revogada o processo deverá voltar ao juízo “a quo” para
que proceda a alteração, e faça valer a decisão do juízo “ad quem”, o que sem
sombra de dúvidas gera um atraso processual que poderia ter sido evitado se
houvesse a possibilidade de no momento da decisão ter sido recorrida. A
taxatividade do agravo de instrumento não pode ser considerada incompatível
com a interpretação extensiva do mesmo. 5 REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS: BRASIL, Código de Processo Civil: Lei n° 13.105, de 16 de
Março de 2015. Institui o Código de Processo Civil. JUNIOR, Fredie Didier;
CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. V. 3. 11ª Ed.
rev., atual. eampl. Salvador: JusPodivm, 2013. DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso
de direito processual civil. 13. ed. Salvador: Juspodivm, 2016. v. 3. TEODORO
JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 47. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2016. v. 3. WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso
Avançado de Processo Civil. V 1. Ed 15ª. Revista dos Tribunais, São Paulo,
2015. WAMBIER, Arruda Alvim; CONCEIÇÃO, Maria Lúcia Lins; RIBEIRO,
Leonardo Ferres da Silva; MELLO, Rogério Licastro Torres de. Primeiros
Comentários ao Novo Código de Processo Civil Artigo por Artigo. Revista Dos
Tribunais, São Paulo, 2015. GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Direito
Processual Civil Esquematizado. Ed Saraiva. Ed 6ª, São Paulo. 2015.
http://www.cartaforense.com.br/conteudo/artigos/o-principio-do-duplo-grau-de-
jurisdicao-e-materialmente-constitucional/14851
http://www.ambitojuridico.com.br/site/?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6471&revista_caderno=21
http://laginski.adv.br/sinopses/dpc/recursos_conceito.htm
http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI235291,81042-
O+agravo+de+instrumento+e+o+rol+do+art+1015+do+novo+CPC+taxatividade 

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