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BEROUL | O romance de Tristao Edigao bilingue Tradugio e introdugao de Jacyntho Lins Brandao | editorall34 EDITORA bora $4 Leda Fatfunaa, $92 Jardim Europa CEP O14SS-000 Siotaulo Sb Beas TeVFax (11) 3811-6777 worwedtora34.com by Copyeight © Edtora 34 Leda. 2020 ‘Tandoi © Jacyntho Lins Brando, 2020 Imagem da capa Detathe do frontspicio de Roman de Tristan en prose, 1325, Imanuscito que pertencen 3 familia Visconti Sfora, na Lombardia, Bibliotheque Nationale de France, Paris Capa, proetogrificoe edtoraio eletnica Bracher & Malta Producdo Grifica Revist: Alberto Martins Danilo Hora 1" Edigho- 2020, CAP - Brasil, Catalogaciorna-Fonte (Sindiato Nacional dos Editores de Liveos, RJ, Basi) Sein rand Jeo in Ti (© ROMANCE DE TRISTAO Introdusdo, Jacyntho Lins Brandao . 7 ‘© ROMANCE DE Titstho © encontro sob 6 pinho ss [A prova da flor de farinha 89 0 salto de Tristio. 105 A sorte de Isolda ns A floresta de Morro 133 A.luva, o anel ea espads 163 A reabilitagdo de Isolda.. 185 0 juramento de Isola... 239 © fim dos trés bardes 315 Referencias bibliogrficas. 329 Sobre o autor 334 Sobre o tradutor. 335 Introdugao Jacyntho Lins Brandao Se caked © porma que 0 Kritor ecm em mos & uma verdadcira Menara meal ioia da mais remota forma do romance moderno, conserva dda, nio-em sua intcieza, num Gnico manuserito pertencente 4 Biblioteca Nacional da Franga, em Paris. Pode parccet cx tranho que um romance se apresente assim, em versos, mas ‘ssa éa feigd primeira que tveram os romans, enquanto "a srande novidade do século XII",! quando foram criados € nomeados. ‘Como o texto de Béroul, poeta de que nada sabemos, deve ter sido escrito entre 1150 ¢ 1190, participa do proprio surgimento do romance, o que se confunde com os prime ro registos do ciclo arturiano,configueado inicalmente nos romans de Chrétien de Troyes — que teria ele também escri- to um Tristan, hoje completamente perdido, mas de que re- cebemos ainda Cliges (poema composto em 1176), em que Se narra a histria deste cavaleio; Le chevalier de la charre- fe, que tem como protagonista Lancelot, e Le chevalier aw lyon, dedicado a Yvain (produzidos entre 1177 € 1181); bem: como Le conte du Graal, centrado em Perceval (iniciado en- tte 1182¢ 1190, mas deixado inacabado pelo autor, quando 1 Shahla Nosrt, Origines indoveuropéennes de deux romans mé Aiea Tstan et set et Wis et Ramin tse), Esteasburgo, Université de Strasbourg, 2012, p46. Inueodsio 7 se sa morte)’ Acro de que algo $€ CONSCFVOU, conta en eit romans os, cu a0 PrINCIPA estat eM tegeqy a omance, OU seja, numa lin, ee ‘romances referidos integram a chamada “ma. Centra eerman rion Tee ecanizam como um ciclo, a0 lado de Outros ciclos, rose aborda a antiga guerra até a morte de Ulisses; a eae ee ae ee tre os primer ws el yo > No romance de Boul o nome do heri aparece como Tristan nos ‘outos textos mcuindo as tradusdes, aparece como Tristan (em ports pes Trio. *Conforme Paul M. Cogan 0 texto fi compost entre 1150-1155 > um ran normando,revelando "novas dregdesnanarcativa crs 9 séeulo XI",¢ marcando "o pont de iflexdo, em eros de forma € tom, aa transi da chanson de geste pata 0 roman courtoiy const ‘undo “ons ents narrativs em francs antigo — Roman de Thebes Reman Ene Roman de Tote, tadaionalmentereferidos como 7 ‘mans amiga ..| um gnerodistinto, apareida na meade do lo Xoo none da Fang. Ver Pal M. Copan, “New directions in wel sre court natatve: Lerman de Thebes”, Medievetik ¥.3,190, Jacyotho Lins Brando por Lavinia € Didos* existindo ainda a “matéria de Alexandre, de que temos © Roman d’Alexandre, dedicado 4 vida € aos feitos de Alexandre Magno. Como se ¥é, no momento em que surge, o romance medieval configura um ‘espago que, no mesmo século XIl, tem os ciclos como erité= tio de organizagio, tendo razio Nosrat ao afirmar que nes- ‘€ momento inicial o romance deve ser entendido mais como ‘uma pritica que como uma forma literiria, pratica em que, contudo, ainda segundo ela, se podem identifcartrés “signi ficados originirios”, a saber: “cle um género tardio e vul- ‘ar que tem pretensio de novidade; goza de uma liberdade aparentemente absoluta; tra sua autoridade de nada mais ‘que da ordenagio de seu conteiido”.” No caso da materia de Bretanha, diferentemente do que acontece nos outros ciclos, fm que se retomam figuras e enredos do mundo antigo, acres. "ara Adriana Puno texto, que pest datado de 1160, revel, «em sus eletura do modelo vigand, una ate ttincea a0 tte ‘en roman, gue, na dati ene seleg30eexguccmeno, refund oa oe ide”. Ver“ Roman dbness 0 le rncratura del eps" Pramcofoman, 1545, 2008.48 0 chamado Romance de Alecaniesemonta as Antigunade gee, sendoatrbuidoa Calistenes. Sao do sculo Nils primers vere fa 1 lings modernasa parte dott, dene as qua sem fanaa Primeira,atnbuida a Alber de Pnangon, de que se omservam apenas fragments, em vesosoctoslabion deve tere composts pr sles Se 1120, endo taduzis para alemioyacm 1150. segunda versio tam ‘im em fants usa verson de der slabs, send contemporinen der ira versio tances conhecua, em dadecsaabon desde eto denon ‘dos "versosalexandenos” ct. Pal Meyer, Alenondele Grand da literature francaise du Moyen Age, Pars, FVieweg, 1886), © texto com tinuow a apresentardvesis verses, cm vera pron, em dren ligase * Shahla Nosrat, Orgies ndo-eropsennes oP cit p47. Sobre o Selo artrtano em gta ver Noms J Lacy (or Text and ifertext in ‘medieval Anthran iterature, Nova YoshL antes, Gatland, 1896 Ioeradugio eamac que cotoe Stanec06ZiNk © Protein ce ae Sp de ants eNPece nese races act povo” Mas aguem “solitirio e cont nhac Sno eva ata das Moret espe? Sa aera eae Pae-nIsTonta biente franceses.” * Michel Stanesco€ Michel Zink, Histoire enropéenne di roman ‘médidval,Pars, PUR 1992p. 7. * Sobre a questo, ver Francesco Benosz0, “Tristano sea: en ni i stad salle origin dla lepaenda” (Proncofomin 37, 197} em ‘que me basi para ets expo, - Jacyatho Lins Brando ino uso de trangas pelos cavaleiros, na pritica das decapita- ies ete sxe ponto de vista foi seguido, tipada, por Bédier, que, na sua edicio do poema da auroria de Thomas Angleterre, publicada em Paris, em 1905, 8u5- tenta que "o carater € 0 espirito da lenda nao se podem di- mesmo se admitindo nela trés “esta- primeiro, ainda que de forma mi- zet senio francese Bios”, 08 mais antigos naturalmente celtas: a) um seria picto, testemunhado pela presenga, na triade galesa do, Mabinogion, de um Drystan ab Tallwch, amante de Essylty mulher de March, “ral nome sendo 0 correspondente galés do picto Drostan mab Talore, chefe histrico que reinou n0 século VIII"; b) 0 segundo estigio seria cimrico, em que, con- servando © nome de Tristio, os galeses o puseram em rela: ‘io com 0 rei March da Cornualha, personagem que teria realmente existidoe cuja meméria se conserva na Vida de Sio Paulo Aurelianos.) enfim, a forma final da lenda, conhecida ‘nos poemas dos séculos XIle XII se deveria a um povo que falava tanto o beetdo como o francés. Aos estagios mais an- tigos pertenceriam dados como as orelhas de cavalo do rei Marco e a cena em que Tristio, com uma flecha dada por Isolda, atinge a cabega de um dos inimigos que aparece nu- ‘ma janela, negando Bédie, conrudo, que o preparo de filtros, ‘© cio que caga sem latir ou cavaleiros com trangas possam. ser tidos como elementos celtas."° ‘A partir dessas incursSes, um longo debate se desenro- lou sobre quais seriam os dados de origem diversa sedimen- tados nos romances franceses, a remissio mais remota sen- do 20 poema persa inttulado Vis e Ramin, datado no século Xl,mas cujo enredo parece muito mais arcaico (podendo re- ‘montar ao primeito século a.C.), uma historia de adultério envolvendo o rei da Pérsia Moabad, sua esposa Vis seu ir- Ch Francesco Benoato, “Taisanoe hotta" op. cits pp. 108-9, Invrodugio a mio mais novo Ramin —equivalentes, portant 0 Iola Tato, respectivamente —, havendo ainds tros clementos que pemnitiriam aproximar os dot enre Essa aproximayio foi proposta, jd em 1872, por ff, artigo intitulado *Verwandke persische und okride Segenstote™ [Tema lendiio ers eocidental relacionaeh sendo retomada, em 1974, por Pierre Gallai no livre ta? nese du roman occidental essai str Tristan t Yeeut ey oy modele persan Geneseo romance ocenal ensaio sg Tastio € Isolda e sea modelo persa} voltando a ser abongee da, de modo deralhado, em 2012, na tese de Shahla Newry ia mencionada. Assim, seria possivel remontar a uma tra sto indo-curopeia, dificil, contudo, de ser determinade ony rermos de transmissio, por mais que a hipstese posea pare, Mais eloquentes parccem os esforgos de buscar dados arqueologicos e onomasticos que possam ser relacionados com os romances. Assim, dentre outros, André de Mandach, em artigo publicado em 1972, além de afirmar ter enconte do na Cornualha nomes de lugares presentes no poema de Béroul (Lantien, Tintagel, Saint Samson), prope identifcar ‘com Tristdo a personagem cujo nimulo se encontra ainda ho. je préximo ao castelo de Lantien, em cuja lipide se lé pus. TANUS CUNOWoRIS FILIUS — esse patronimico, ainda confor. me Mandach, podendo referie-se a um rei da Dumnonia (ou seja, Devon e Comualha em conjunto) que viveu em fins do 4quinto século, a inscrigao relativa a seu filho Drustanu sen do datada de meados do sexto, Acrescente-se que na mesma ide se encontra referida uma certa DOMINA CLUSILLA, que ‘© mesmo Mandach relaciona com Isolda, tendo em vista que “Cluainsilla {pronunciado como closilla] & um toponimo it- landés situado a sete milhas da colina de Tara [o local exato de onde provinha Isolda, enquanto filha do rei supremo da Irlanda}, composto de cLuatn, ‘colina’, ¢ stLLa, ‘dourada” do re) Man. Mheven anche 7 Jacyntho Lins Brando: ‘© gue poder ver uma temivsio aos cabelos louros da ri ‘nha, dado com frequénciarealgado nos textos.!! Mats recentemente, Heinz atrolou todos os indicios tex: {waive historicos em favor da admissio de uma antiga tradi ‘sie bnitanica relativa a Trstio, eonsiderando: a) a ocortén: «ia de formas dos nomes don principais earactere, especial mente no norte da Gri-Bretanha, entre 0 quinto e © nono sé- culos b) 0 locais geogrficor em que se passam a8 agies ¢) (08 motivos explorados, em especial 0 modo aparentemente amoral como o adultétio € tratado no poema de Beroul:!= ) as referencias feitas pelos autores do continente a Fontes britinicas."" Ocicto ve Taistio ‘Mesmo que, como se supée, a matéria de Tristio possa ter origem propria esteve desde os primeiros reistros litera ros relacionada com o ciclo arturiano, embora romance de ‘Tristdo ¢ Isolda configure, ele proprio, um auréntico cil, ue inclu, ainda nos sécules Xll¢ XIll tanto obras em fean. és em verso e prosa) como tradugies para o alemio, 0 sue £0 ¢, 0 que parece, 6 holands, Do corpus francés, provavel que o primeiro documen- {0 seja o Tristram de Béroul (que € a versio que aqui se tet uz), pelo menos no que se refete 4 sua primeira parte (vy. Ver Franses Benoezo 9.2 estan Nora", pct 10896 "Stun Heng, “Tena an hatrkaevsence franck Beh ‘Wotan takin", Proceedings of the Harvard Cee Collapses 2% 2008, pp. 1135, ' Resumo age ot argumentos de Sane Heiss em “Textual and Instore evence™ op spp. UT Inerodusto o Fito a sonunda partes datada entre 1180 © 1190) gens yavelmente em 1173).!* Pre. nen eden nee 0 reconecinento dessa duas partes (Vv. 2-2.754e 2785-4485, ‘om una pussagem de transi, v. 2.755-3.027)ndo & eonscareah ee fesse em algunas diferenga de ingager eetilo, usifcand ign nav incorustecis: por exemplo, um dos tes bares que peru 9 protagonatas, pelo ques entende, € mort por Governal Jara ser 4s dees na Noresta de Mortovs, mas, agora nomeador, otis bates rex parecem apart do epasio do juramento de old, dois eles endo nor {im pr Trio no timo trecho conservado — sobre a questo, conse. ‘ando osestudos de Aled Ewer, ver Jacques C. Kootiman,"A propos dy “Testun de Heroul et du Tristan en prose” (Romanische Forchungen 9,45 1-2, 1978, pp. 96-7). Thomas B. W. Rei em “The Tistan of ero: One author or two?” (The Modern Language Review,» 6053, 1965, p.388),concala pari dos dados lingitico, favor da hie se de uma dupla autora, o segundo autor sendo responsive pea segunda parte do prema etambm por alumas mterplagisna primeira a aber 1) 0 epidin das oelhas de cavalo do rei Marco a morte do anio(r 1.303:50) 5) a morte, por Governal de um doses iimigos de Tso (vw 1.656-750) 6) aver as dua passagenscontendo o nome Bera (rs 1.265.706 1.789:90),0 que implicaria que bérouldeveria ser comer do ator da segunda endo da primeea parte = Jacyntho Lins Brando ‘coe a trama da primeira noite, em que a.ama Brengain €”- ease paec seven i eave © Oe wees Ton sgl, eon het a pve prs comanscarse om Wo SMa uc lrs utd Tv mone (Tosti meso etre dopa em tat até a corte do rei Maco, depois de dh nets contra ox mats importantes cavaleiros do rei Artut: €} Finalmente, a cangdo (la de Marie de Feance incitulada Che- trefeulle,focada no exiko de Testio € no sofrimento dos fmants* Eni, do primeiro quarto do século XIII € 0 cha- mado Tristan en prose [Testio em prosal, atribuide a Luce ! Soe as nterengies do nartador, ver Eluabeth Bik, “Les iter ventions d'auteur dans le Tristan de Beroul” (9. et pp. 34-40) as nee ‘egies de Beroul express indignagio, satsac3o, predade,peaser ma- lino de ver softer uma pesonagem anupitia e“xutam as movies de se publio, particularmente no que concerne 2 atte deste com relag0 3s personagenssimpancas da nareaivae para ctar urna cera tensio, sé {le quer provocatremor” — admraindo-se,contudo, que hi tambem inter ‘vengesjocosas, como est, Sobre os félons que caem na lama: “S6 com ‘martirioe muita doe Sairpuderam, com horroe/ Do lamagal. E qual seu tanho2 Eprecisarem de um bom banho!™ (rv. 3859-62). Sobre © public fo de Béroul, ver Peter Noble, “Beroels “somewhat softened feminine ew?" (Modern Language Review, v.75, 8° 4, 1980, pp. 781-2) para luma iterpretaio eeoligica, que, em parte, minga o incomodo do ada: ‘eno, Jacques Ribard, “Pour une eepretaton theologque du Trstan de Beroul” (Cahiers de Cuvlsation Medivale,n°s 110-111, pp. 235-42, 1985). Finalmente, uma letra reinada da questio encoatra-ze em Nor sis Lacy, "Irony and distance im Beroul Tratan” (The French Review, 45,0" 3, 1971, p22), nicamente, mesmo Sem coasierar o que um cre freudtano poderia tet ‘como a ima das ronias —o us de ma espada na para india a in «énca” do par adler, ° Emest Maret, em Le roman de Tristan par Bérou! Paris, Finn Didor, 1903, p. 183). para oteemo felon ox sents de “perhido", “per veo", furoso", “uel Sobre os sents de iain no poema, ver Jean-Charles Payen, “Le Ioveodusio. a Steerer son de tra ur nan aa a ‘nem do de Thomas 0 inicio se sonservou, fe io Sere alee es, bom como no Trae a Tl ho dor Ne de Co come eupnoeic tom Ihor dos eavaleiros, o de ter matado um gigante ielandée nome Morholt, to de Iolds, © qual exigia dos conse alzum tipo de sib (em algumas verses em vidas hort nas). Tendo sido an na luta contra Morhole, Thistao ¢ curado por Isolda, que domina essa arte. De represses naa, como of Maro pretend coarse oye Tristio €encarregado de buscarthe a noiva, isto, olds fy Gircunstancias que fazem com que o ei qucea contrat nin Gas com esa prncesn varia de txto para exe ‘anova aventura, Tristio tem de, na Irlanda, vencer um die, Bio, sendo de novo tratado por Isolda. A mie da princes, que € habil em preparar posGes magicas, da a dama de com panhia ds nova, Brengain, um tro (o fovendran aco drant), para que seja servido, no dia do casamento, aos nu. bentes, a propriedade dessa bebida sendo gerar no casal que 4 tomasse em conjunto um amor inconorndvel Dessee a viagem,em alto may, Testo. Woldaseninde sede Donen mas ica, lam eles por in? sivel, iam ag I a Partie de peuple dans les romans frangais de Tristan" (Cahiers de Civilisation Mé digvale, n° 91, pp. 187-98, 1980): segundo o autor, 0 terma éurado tan to para designar 0 morador de uma vila, 0 pova, quanto no sentido pi tativo de malvado, bandido. 30 Jacyatho Lins Brando confande-e «serve the inadvertdamenteo itr. S40 os dois entio fulminados por paixio incontrolavel, satisfeita Carnalmente no prio nav, Chepaden a Cormuaha, 0c samento tem lugar, restando 0 problema de como ocultar a0 rei que sua noiva nao era mais virgem. Como primeiro de uma série de estratagemas, Iolda faz que Brengain, vestida ‘com as suas roupas de rainha, entre no leito (Testio havia apagado as luzes),sendo com ela que Marco tem relagdes se- xuais. Logo em seguida a ama deixa o leito e Isolda toma 0 seu lugar, sem que © marido perceba nada da estratéaia. AS- sim se tomna ela esposa do rei Marco, mantendo as relages om Tristio (conforme afiema Béroul nos w. 593-4, “Vezes sem fim os viram pois/ Do ei no leto e nus os dois”). © que o adultério tem de atracnte enquanto materia li- teriria €a situagdo de indecidibilidade, pois quem o comete experimenta um estaruto ambivalente: Isolda no detesta 0 ‘marido nem a vida na corte apenas porque ama Tristio, De fato, ela alimenta bons sentimentos com relagio a ambos, amando um com o amor que se deve ao marido — recordan dorse que, entdoe sobrenudo entre res, os casamentos se fa- 72M por conveniéncia, o amor conjugal expressando-se co- ‘mo um sentiment respeitoso — e dedicando ao outro, a Tis- tio, o amor apropriado a um amante Logo no inicio do que se conservou do poema de Béroul, ra eena sob o pinho, encontra-se a primeira das habeis de claragies silépicas de lolda, que, representando estar irita- a.com Trstio por ter-the solicitado 0 encontro, afiema: ‘ristdo, ouvi p'ea que saibuis: io mais venhais a mia procuea Pensa meu rei que, por loucura, Senhor Tristio, eu vos ame, ‘Mas Deus leal me atest, sei: Por certo meu corpo fagela, Introdgio = ses fora a quem eu fui donzelay {© meu amor dei algum dat (vv. 18-25) Como se vé estamos diante do meso registro discug sivo do jueamento, ou scias dizer uma verdade que vale ver. Gade e meia, levando a uma concordancia inesperada, com ae sentidos dependendo de quem ouve. Os trés envolvidos,g Saha, que fala, Trstio € 0 rei que ouvem, reccbem cad (qual a seu modo declaragio, ue pretende também neste ea So ser radical, ou seja, ninguém reve o amor de Isolda sequer ‘um dia a nio ser aquele que a teve donzela (S'onques fors cil qu mor pucele/ Out m'amistié encor nul jor), entendendo a dois homens envolvidos, cada qual de sua parte, que fo. ram eles que a desvirginaram, Como ressalta Girard, {uaa permanece perfeitamente verdadeira do pon- to de vista de sua recepgio: Tristio entende-a correta- mente como prova de fdelidade e amor imortal, ainda aque iliito, por ele; 0 rei Marco, em virtude da substitui- ‘Go [de Isolda por Brengain] ¢ da prova aparentemente incontestivel do sangue, interpreta-a erroneamente co- smo referente a ele. Ahhabilidade desse recurso fica, contudo, mais evidente ‘se tivermos em conta que se trata, no fundo, de uma autén- tica declaragio de amor que ela faz aos dois homens que a ‘ouvem, essa declaracio sendo duplamente verdadeira, 0 en- tendimento do rei n3o se podendo dizer errOneo: a Marco ela dedica um amor de esposa — que, em principio, enquanto sacramental, deveria prescindir de desejo sexual —, a Tris: ™ Girard, “Simulation and dissimulation in the Folie Tristan "Ox: ford" op. eta p. S82. » Jacyntho Lins Brando tio, um amor de amante — baseado nao numa “afeigao con iueal”, mas num “apaixonado desejo sexual”. Do mesmo modo, como ressalea Marchello-Nizia também na eena do juramento Isolda opta por uma verdade radical, escolhendo de fato “a impudéncia mais extrema: confessando que 0 le~ Pros penetrow entre suas coxas, confessa ela, a0 mesmo tem po, diante de todos, seu adultério”,"* 0 que, todavia, € enten- dido de modo variado pelos ouvintes (incluindo o leitor)- ‘Acredito que isso ilustea bem como o romance, em sua ria formatagio, exercita uma especie de livre experimen- tacio de sentidos concomitantemente plurivalentes, sendo is- 50, a0 que parece, uma fonte de prazer para os recebedores. ‘Com relagio 4 matéria de Tristio ndo se poderia dizer ‘que oadvltério fosse um tema marginal e apenas isso ele nio 56 produz a narrativa, mas molda o género de discurso a cla apropriado."” Em primeiro lugar, pelo proprio fato de que nio se trata mais, como na Odisseia ow nos romances anti- ‘g0s, de amor no casamento, mas sim do amor no adultério, 4 condigio do adéltero tendo esse carater ambivalente, pois no esté em causa romper 0 casamento, mas antes conservé- -1o por todos os meios, uma vez que seu rompimento impli ‘aria na propria dissolusio do adultérioe, em consequincia, dda narratva, Esse tema € amplamente explorado no Tristao 38 Cf. Traey Adams, “Love and charisma in the Tristan et Iseut of Béroul” (Philolopical Quarterly, x 82, "1, 2003, pp. 35),em especial a sentenga de Graciano (que cts Séneca: “um homer sbi ura amar sua epost no com afi, mas com bom senso". 3 Christiane Marchello-Nizia “De Uae d parioe: es ‘sements am igus dans les premiers romans fansais", Argumentation, v1, 1987, 402. ° Sobre a abordagem do tema do adulério no romance em geral em especial odo século XIX, defendendo-se 0 papel protoipico do Tris: to de Beroul, ver Abdoulaye Nahay, “Le roman de Fadultére: du mythe linéaire au palimpsste", Vous Plureles, 10, ° 2, 2013, pp. 244-56, Tnrrodugio a povensonse dizer que €0.qUe FOMCCE O More pagy eee silo arturiand Mais QUE AS A¥eHIUFaS dy rtyvco fazem par dos cavaleitos errantes da Ta. Fos o adulteno de Isolda corre paralelo den, pole ee, a adler da rainha Ginevre (Ginebra, mata. Fogo em fina portusesa) csposa de ATU COM O methog Bee aleiron do rei, Lancelot, Como Tristi0 ¢ Lancelor sig oe pas eveclentes cavaleiros qu jd existiram — a0 lado dg ids inteoduzido na narrativa 86 mais tarde, com, a de sua purera (inclusive se. em pros. protagonist vyola Redonda, om Galaa jover 4d missio especial de, em vist 2p, ser o unico eapazde conquistar 0 Graal —e como am. tos Trstio e Lancelot, sio amantes das esposas dos res 4 coms mesnada (mesnie) pertencem, 0 paralelismo € perfeit, suinculo entre os dois fios narrativos sendo dado pelo tema do adultério.® ‘Acrescente-se que no Tristo em prosa 0 adultério é te. smatizado desde os entrechos inaugurais, que remontam Epoca em que José de Arimateia leva 0 cilice da tilima ceia de Cristo para a Gri-Bretanha e tem inicio 0 lento processo de conversio dos reis britinicos ao cristianismo. Nesses pri smeiros tempos, conta-se que o rei Gonosor, da Irlanda, dew suas duas filhas em casamento: a mais velha, Gloriande, a Apolo, rei de Léonois; a cacula, Gemie, que era bela mas malvada, a Cicorades, rei da Cornualha. Esta rainha da Cor rnualha (como ser4 Isolda), filha do rei da Irlanda (como era Isolda), {..] eaiu de amores por um cavaleiro; 0 rei, temendo comprometer sua honra, mandou fecha-la numa torre; ela fé-lo saber que é impossivel manter uma mulher pre- % Sobre o assunto, ver J. M. Stary “Adultery as sympcom of polit cal criss in ewo Arthurian romances", Parergom, «9, n° 1, 1991, pp. 6 73 a“ Jacyntho Lins Brandio ne 40 4¢ ela nie quer, De fato, durante 0 sono do fel, Ge- ve desce da torte usando de uma cordas seu amante recehe-a nos bragos, Mas 0 ret acorda, percebe tudo €, furioso, joa pela anela as damas de companha da rai- ha, a8 quai cram ciimplices da fuga de Geri; 0 aman- te foge. De manhi, 0 ei mostea a seus homens a ainha, ‘que ficara 40 pé da torre; confiando no amor do mari- do, nio quis fugir€ 0 ret prende-a de novo. Os encon: tos dos amantes, mesmo assim, recomesam € 2 rainha € surpreendida de novo pelo mando, que fingia dormin, ‘numa noite em que ela se peeparava para descer de no- mati-a se ela nio 0 ajudar vo pela janela. O rei amea 4 capturar 0 cavaleiro, Ela faz que consente, passa-lhe seu vestdo eo faz descer pela corda, que ela corta: 0 rei ‘quebra 0 pescogo. Os amantes fogem para a casa dos pais do cavaleiro, que os acolhem no castelo de Norga~ lois. (13-14, 16) Pode-se dizer que, com um desenvolvimento préprio, es- sa narrativa inaugural constitui um duplo e uma sorte de an- tecipagio dos eventos relativos ao rei Marco, a Isolda € a Tristdo, estando baseada em fingimentos e até no tavest ‘mo do rei. Mas igualmente importante € 0 que se conta so- bre a irma de Gemie, Gloriande, casada com Apolo, rei de Léonoi A outea irma, Gloriande, mostra-se el ¢ sibia. ‘Uma mulher de Léonois ésurpreendida em delito de fla- ‘erante adultério; consultada por seu esposo, 0 rei Apo: lo, rainha declara que essa mulher, depois de tal crime, merece ser queimada. Seu conselho é seguido e a honca dde haverestabelecido pela primeiea vez essa pena para o adultério cabe a Gloriande; mas as damas a odeiam por causa disso ena cidade de Albina, Arcana, a mie da pri- Incrodugio c 36 ese, Escreve ela uma carta falsa, distarga-se de mensagcira e segue o Fei num dia em aque estava ele eagandos quando este retorna, 3 tarde, completamente 86, apresenta-se a cle ¢ diz-Ihe, sem re. velar que o conhece, que traz uma carta, da parte da rai. tha, para um homem. Fla finge no querer mostrar de ‘modo algum a carta 20 rei, que no consegue isso senio depois de ter ameagado Arcana de morte. A carta é en. deregada a. um belo cavaleiro, chamado Amante. O rei corta a cabesa da suposta mensageirae volta para casa devidido a mostrar a carta a seus bardes, fazendo com «ue a rainha morra, se concordarem eles com isso. No castelo ele consulta um cavaleito da Galia, seu amigo nts este tenta demové-lo, mas nio 0 conseguesenio pela metade. Depois ele parte para a Franga, para assis- fir 3 coroagio do rei Clodoveu (a Gilia tomnara-se cris {8 gayas a Sio Remigio). Quando estavam 4 mesa, o ei Apolo, vendo junto de si sua mulher, seu filhoe seu la- brador sori, sonhador. Clodoveu pergunta-Ihe a causa: — Eu pensava, diz Apolo, que eu touxe aqui meu ami £0, meu inimigo e meu bobo da corte. Se tvesse também meu servo, seria absoluramente como o sibio que veio 4s nupcas do imperador.Entio explica: — O inimigo & minha mulher; o amigo, meu eio; € 0 bobo, @ menino. Riem disso, mas a rainha fica desolada com essas pala- vas malevolentes; de qualquer modo, é ela muito boa para pensar em vingarse. Clodoveu conduz a conversa para a nova penalidade instuida para o adultério, por conselho de Gloriande. O rei da Gilia introduziu essa Penalidade em seus estados, onde ela continua em uso na época de Artur, Este matou, na ilha de Pars, Folle, Principe da Alemanha, que, tendo conquistado a Fran- ‘8, tnha abolido esse costume para salvar uma mulher «ue amava; depois Artur dew a Franga a Lancelot do La- Jacyntho Lins Brandio 30.€4 mulher a Brandelis. © fho de Clodoveu apaixo- na-se por Gloriande; desesperado com sua resistencia, surpreende Apolo e sua mulher na loresta, quando eles ‘estio de partida; fere mortalmente o rei e faz com que seja levado a um castelo; mas Ii, quando se apresenta a Gloriande para cortejs-la, ela 0 joga pela janela. [1 ‘Uma muther conta-Ihe tudo 0 que se passara. Clodoveu manda queimar seu flho. (13, 17)? © cariter fundador desses relatos com relasio & temé- tica do romance fica claro quando, na sequéncia, o narrador continua dizendo que, “apés muitas geragies, Félix foi o rei da Cornualha”, sendo o pai tanto do rei Marco, quanto de Heliabel, a mie de Tristdo. Mais que isso, nas duas narrati vas fundadoras em torno do tema do adultério percebe-se co- mo este se coaduna com formas silépticas de discurso, que parecem ser 0 recurso por exceléncia para que as damas (jé {que o que esté em causa é sempre o adultério feminino) pos- sam achar modos de escapar do rigor do costume instituido. por sugestio de uma delas, a rainha Gloriande, ela propria, todavia, envolta, ainda que falsa ou dubiamente, pela mes- mma suspeita de aduleério. ‘TemPoraupapes “A luva, o anel ¢ a espada”, entrecho em que se narra como Marco surpreende a esposa e 0 sobrinho dormindo na choga da floresta de Morrois, fecha a primeira parte da nar- rativa, fazendo com que a estoire nio termine neste ponto, quando seria legitimo e até obrigatério que o rei matasse su- 2 Os dois rechos so citados a forma abreviada de Loseth, Analy- se critique du Roman de Tristan, op. ct Incrodugio 7 nariamente 08 amantes. Ci tnadieval francesa € clara no sentido de que, suepreendide, ‘os adilteros juntos e sozinhos no leito, abe a0 marid tray do nio s6 0 ditcito, como 0 dever de mats-los, do que tem onsciéncia Marco, quando diz a si mesmo, ao sair da cida. de para surpreendé-los mo mostra Bloch, a legisl Sai da cudade, muito irado, E diz: melhor ser enforcado Que nio ter dees sua vinganga, Dos que o avitam & abastanga. (wv 1,953.6) Que a lei respalde esse tipo de vinganga, a par de outros aspectos, pode parecer estranho ao leitor de hoje.*° Todavia, nisso, como em quase tudo, o romance de Béroul retrata ing. tituigdes e priticas da época em que foi escrito, incluindo o flagrante deito no episédio da flor de farinha, as penas que Marco impde aos adilteros, a requisi¢ao do duelo judicié- tio por Trstio, a justificagao de Isolda ete. Como resume Wind, tendo como ponto de partida o estudo de Jonin, pu- blicado em fins dos anos 1950,* mas ainda valido em sua maior parte: ‘Tristio tendo sido surpreendido em flagrante deli- ‘0, Marco tem o direito, conforme as praticas da época, posma (ou a accrees vaginats das mulheres, que se nomeiam as wetes de ‘xpetma feminino) —, passa cas pessoas consanguineas por satermé- dio de uma terceira pesos, No nosso caso, ¢o encontro de um humor co- fram a0 tio ¢ 20 sobrin, pelo stermedo de Isolda”. Lembra ele ainda {gue Testo tendo sido adotado pelo to, depois da morte dos pats, sol ‘died um ponte de vista formal ¢ sua madeasta. Para uma anilise do pon- to de vista polio Katharina H. Rosen, A store o conceit na teratura medieval Sio Paulo, Brasibense, 1986, pp. 98. 112): "a fungio. mais eevada do fino [a asta € assim abanJonada 20 abyeto leproso [vain] ~-peevers, liga, oso — que se torna, deste modo, 0 duplo tho tet Marcon"; "os ts anos de lepea de que Tristio fala a Marcos (v 2.732) designam os rés anos do ler [JA "lepra” que ataca ore e ote fo [alert sob a forma de una palaveaa-socal (as cabinias dos raido- tes, a insinages do leproso Yea, et.) Inrodugio a segue que, a0 declarar Iokda, com todo despudor, que tive. ie se tenha realizado © castigo que Nace ena epeenante da sta da oder man ‘dandova aos lazarentos. Finalmente, que 4 justifcagio de Isola se tenha realizado junto a.um pinta. hoe que-a asistncia se veja 38 voltas com to grande quan. fidade de lama (os ts felons, paladinos da moral, terminan. do em especial emporcalhados), sugere um mundo em que pritica epalavras como que mimetizam corpos em lenta de- Pmposicio.+ E pela forma habilidosa como Béroul sabe tr- bhalhar oy dados da estoire tradicional, para provocar o lei- tox, que Ribemont afirma que seu Tristan constitu, de fato, um conto flos6fico”, de que “0 coragiio, 0 nicleo ativo [.] esta numa reflexio complexa sobre a falta, 0 pecado, 0 per- ioe a regulagio juridica de um conflito gerado pela falta”,** nam tempo de passagens. Ash. guando Marco sorpreende os amanes na ores ta, constatando que estio vestidos € separados um do outro pela espada de Tristio,*” revé os planos ¢ apazigua a furia, raciocinando nestestermos: dara impingiethe, — Deus! — diz o rei — que pode ser? A vida deles pade ver! © Sobre esa relagio, ver Adam Miyashiro, “Disease and deceit in Beroul’s Roman de Tustan", Neophilologus,v 89, pp. 509-25, 2005. * Ribémont, “Le Tristan de Béroul ene procédure et chevaerie", op. eit, pp. 26 € 36, respectivament, Sobre a origem do motivo da espada que separa os amantes, Yer ‘Mary Brockington, “The separating sword inthe Tristan romances", The Modern Language Review, v.91, n° 2, 1996, pp. 281-300 . Jacyntho Lins Brando Deust Nio sei mais como atuat, Se os vou matar, se 08 vou devxa [No bosque hi muito tempo estdo E se cretia — quem die nio? Caso se amassem com loucuta, Que vestes jf minguém procura E espada nio 08 sepa Sua uniio outes seria! Mati-los vim, encoraiado, Nio 08 tocarei nio fico rado. De loxco amor nio tém intento. Nada fares. Dormer isentos: Sendo por mim estropiados, Farei eu, sim, grande pecado: Se eu 0 rar do sono seu E ele me mata ou mato-o eu, Seria ma situagao. Darei, pois, tal demonstragio, Prra que, tio logo eles acordem, Saibam detxei-thes tudo em ordem Depois que dormundo os achei E de piedade me fartei: Que nio 0s quero assim matar — ‘Ninguém no imperio o vai ousae (wy. 2.001-26) Depois de toda a rigidez ¢ publicidade com que tratou © adultério da esposa nos primeiros episSdios, 0 rei, que ag0~ +a se dirige & loresta sozinho, opta pela delicadeza, poupan- do 0s amantes ¢ deixando, como indicios de que os surpreen- dera, sua luva, sew anel ¢ sua espada, Como assevera Bro- cckington, é “absolutamente crucial para 0 enredo™ que “os, ibolos escothidos sejam bivalentes, implicando numa men- sagem para 0 rei € 0 leitor,€ exatamente 0 oposto para Tris- Tnrrodugio as ae tne as unc a Me 0 ToedPipa mare 8 Wd MO Eg Terwateecseenorda nio sb adi sintoma de uma at Crider xpos de Ao de gy asain cum Ext em gue iO ha isting care ‘im Exaloem que adulério, oe aera Cletnca se toma automsicamentemateay {Ee polticas publicas”,* que € 0 que exigem constantemente ‘bc teds ardes, uma multidio participando de cenas com s Sondenasio dos herdis ¢o juramento de Isolda; de utr, Gena forma de organizagio social nova, centrada na figura ¢ muposersoltaios do es em que, de # ata sn possvl¢ Mateo poupat or amantes, contra os conselhos ca amenea deseo roe. ee gonha, como é a feudal, baseada em lagos de reciprocidade garantidos por palavras e simbolos codificados ¢ publiciza. dos, a uma cultura da culpa, em que palavras e simbolos, de acordo com as intengées, se desdobram em sentidos sobre- postos. O que a cena da descoberta dos amantes na floresta de Morrois, pelo rei, tem de mais significativo seria essa tam- bém descoberta da interioridade e da subjetividade préprias de uma cultura da culpa. Como ressalta Frappier, ne tem sentido perguntar se, afinal, a rainha (ow alguma das outras Personagens) éde alguma forma culpada — ainda que o adul- atos privados ¢ publicos. 5 Mary Brockingron, “Discovery in the Morrois: Antecedents and analogues”, The Modern Language Review, ¥. 93, 8° 1, 1998, p-7. % Bloch, “Tristan, the myth ofthe State and the language of the sell" 0p it p68. Sobre tema, ver Payen, is de “Tastan", op. it “Le peuple dans les romans fra . Jaeyntho Lins Brando {ério seia objetivo —, pois “tudo se passa entre Deus ea cons- ‘iéncia de Isolda ‘Tranugso. A traducio que aqui se apresenta 20 leitor poderia ser definida como mimética ( afiemava Sorel: “ora, a primeira imitagao €a tradugio"). Com isso queto dizer que, nio sen- do literal, também nio envereda pelos caminhos da transcria- 30. O mimetismo que acredito a marque esta em seguit, ver- 80 a verso, o texto francés, conservando algo de sua forma = disticos rimados de versos de oito silabas — e, como em Béroul nem sempre o acento na quarta silaba € respeitado, as, rimas sendo algumas vezes imperfeitas, na tradusao também, equenas imperfeigées formais sio praticadas. Mantive, em geral, a fluruacio que apresenta 0 texto francés com relagio a0 uso, na segunda pessoa, da forma simples (tu) ¢ da forma cerimoniosa (vs), com alternancias inclusive no interior de uma mesma fala das personagens, ‘© que, em rermos de pragmitica, em nada perturba a com. reensio. ‘Traduzi com bastante liberdade termos técnicos para (os medievalistas, sem me preocupar em verté-los sempre do ‘mesmo modo, mas deixando-me levar pelas necessidades micas e métricas. Assim, mesic, de que hi o arcaismo por tugués “mesnada”, usado agui apenas duas vezes (vv. 3.442 € 3.509), foi raduzido também por “corte” (v. 2.238), “com- panhia” (v. 2.349), “escolta” (¥. 2.387), “geei™ (¥. 3.381), 9 Frappies *Strustute ec sens du Tristan", op. cit p 450. Charles Sorel, La bublohigue francois, Pais, Compagnie des Lit braltes du Plas, 1667, 217, Introduce v7 _ PRESEN ~séquito™ (v. 4.187), € seu sindnimo barnage, por “cores (wy. 2.555 ¢ 3.405), “corteio” (v. 3.395), “comitiva” 4, 3.881) e “companhia” (v. 4.108). Por outro lado, algun, termos tiveram tradugio bastante literal, mimetizando oy correlatosfranceses assim, prooise por “procza” c,0 que po, de causar alguma estranheza ao leitor, que nao esperaria en contrar num poema uma palavra que lhe parece de baixo ea, 10, puterie por “putaria”.% ‘Os nomes proprios podem apresentar bastante variagi — de um dos trés felons, por exemplo, o nome aparece em nada menos que ses variantes, a saber, Danalain, Denaalain, Dinoalain, Donoalen, Donoalent, Donalan, bem como o cig de Tristio se chama Husdanz, Husdent, Husdan, Husdens, Minha opsio foi, em principio, conservar todos como estio no texto francés, excetuando quando ha formas consagradas em portugués (Tristio, Isolda, Artur, Santo Estévio, Cato etc.), ou quando os aportuguesei em favor da producio de Fimas (€ 0 caso de Guenelao), algumas vezes procedendo a no mais que adaptacio grifica (Dinds, Godoine) ou fonéti-

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