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ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS PARA A PROMOÇÃO DA APRENDIZAGEM

SIGNIFICATIVA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

ELAINE CRISTINA DA SILVA MOREIRA


Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT/ Mestrado em Ensino de CiênciasNaturais
Centro de Formação e Atualização dos profissionais da Educação Básica de Mato Grosso- CEFAPRO/Juara/MT
elaine-crismoreira@hotmail.com

DIRLEI PERIN
Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT/ Mestrado em Ensino de CiênciasNaturais
Centro de Formação e Atualização dos profissionais da Educação Básica de Mato Grosso- CEFAPRO/Juara/MT
dirleiperin@hotmail.com

ROSALIA DE AGUIAR ARAÚJO


Centro de Formação e Atualização dos profissionais da Educação Básica de Mato Grosso- CEFAPRO/Juara/MT
rosabiog@gmail.com

Resumo: Buscando alternativas para o trabalho com temas polêmicos e desafiantes para os docentes,
como é o caso do tema “Sexualidade”, ao mesmo tempo validar a potencialidade de um ensino que
considere os princípios da aprendizagem significativa, este trabalho apresenta uma experiência de
ensino que fez uso da proposição de uma sequência de atividades incluindo o uso de mapas
conceituais como estratégia para a promoção de uma aprendizagem significativa de capacidades
conceituais e atitudinais ligadas à saúde e sexualidade. As atividades foram realizadas numa turma de
2ª fase do 2º Ciclo, com crianças de 11 anos, de uma escola estadual do município de Juara, interior
do estado de Mato Grosso/MT, tendo por base a teoria de Aprendizagem Significativa de David
Ausubel (1980) e a proposta do uso dos mapas conceituais de Novak (1996). Os resultados apontam
que as estratégias didáticas utilizadas proporcionaram, além de momentos de diálogo e negociação de
significados, evidências quanto à potencialidade do material adotado.
Palavras-chave: Estratégias Didáticas; Aprendizagem Significativa; Mapas conceituais.

Abstract: Searching for alternatives to work with controversial and challenging topics for teachers ,
such as " Sexuality" theme, while validating the potential of an education that considers the principles
of meaningful learning, this study presents a learning experience that made use of the proposition of a
sequence of activities and the use of conceptual maps as a strategy for promoting meaningful learning
of conceptual and attitudinal skills related to health and sexuality. The activities were carried out in a
class of 2nd phase of the 2nd Cycle , with children 11 years old, from a state school in  Juara,  Mato
Grosso State – MT. This work was based on Meaningful Learning Theory from David Ausubel (1980)
and the proposed of using conceptual maps from Novak (1996 ). The results show that the teaching
strategies provided, in addition to moments of dialogue and negotiation of meanings, evidences about
the potential of adopted material.
Keywords: Strategies for Teaching; Meaningful Learning; conceptual Maps

1– Introdução

Quer falamos ou não, a sexualidade é parte intrínseca ao ser humano e se


manifesta nos olhares, preferências (brincadeiras, roupas, etc.) risos e comportamentos de
modo geral, abrangendo muito mais que apenas o sexo biológico. [...] A sexualidade é mais
do que uma “função” procriativa e sim, um depositório de anseios, frustrações e poder ou
fonte máxima de prazer (VASCONCELOS apud OLIVEIRA, 2010, p.59).
A violência sexual contra criança, os estereótipos ligados à mulher, a precocidade
com que os adolescentes iniciam sua vida sexual e o advento das doenças sexualmente
transmissíveis coloca à educação, que se propõe a emancipação humana, o desafio de
auxiliar os educandos:

[...] no entendimento da sexualidade como meio de enriquecimento pessoal,


de integração e formação da personalidade e uma forma de obter e
proporcionar prazer com os cuidados necessários (ex. uso de preservativo)
sem, contudo, determinar o que seria um comportamento certo ou errado,
pois com frequência situações de risco estão relacionadas à obtenção de
prazer (HARDOIM e MIYAZAKI, 2012, p. 13).

Como estratégia de manutenção da saúde pública, em 2014, o Ministério da Saúde


por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), introduziu a vacina papilomavírus
humano (HPV) no calendário de vacinação das adolescentes. Através da vacinação de
meninas (de 11 a 13 anos em 2014; de 9 a 11 anos em 2015 e 9 anos em 2016) pretende
alcançar uma imunidade coletiva/grupal.
A escola como espaço privilegiado de reflexão e apropriação do conhecimento
socialmente constituído não pode se eximir da responsabilidade frente a temas emergentes
como esse, que envolve não só o reconhecimento e tomada de atitudes favoráveis ao bem
estar individual como também coletivo.
Buscando alternativas para o trabalho com temas polêmicos e desafiantes para os
docentes, como é o caso do tema “Sexualidade”, ao mesmo tempo validar a potencialidade
de um ensino que considere os princípios da aprendizagem significativa, este trabalho
apresenta uma experiência de ensino que fez uso da proposição de uma sequência de
atividades incluindo o uso de mapas conceituais como estratégia para a promoção de uma
aprendizagem significativa de capacidades conceituais e atitudinais ligadas à saúde e
sexualidade.

2 - Marco Teórico

Para o pesquisador norte americano David Ausubel (1918- 2008), enquanto


interagimos com o mundo captamos significados, ou seja, construímos conhecimento. São
esses primeiros significados que permitirão que outros conhecimentos sejam construídos.
“Como outros teóricos do cognitivismo, ele se baseia na premissa de que existe uma
estrutura na qual a organização e a integração se processam” (MOREIRA, 2001, p. 15).
Nessa “estrutura” é que estão organizadas as ideias, ou seja, o conhecimento desse
indivíduo. “Novas ideias e informações podem ser aprendidas e retidas na medida em que
conceitos relevantes e inclusivos estejam adequadamente claros e disponíveis na estrutura
cognitiva do individuo e funcionem, dessa forma, como ponto de ancoragem para novas
ideias e conceitos” (MOREIRA, 2001, p. 14). Desse modo Ausubel (1980) afirma que aquilo
que já sabemos constitui-se no fator isolado mais importante para que ocorra a
aprendizagem significativa. Isso significa que, para que uma nova aprendizagem seja
significativa esta precisa encontrar “subsunçores” disponíveis para que possa se ancorar.

[...] a aprendizagem significativa ocorre quando a tarefa de aprendizagem


implica relacionar, de forma não arbitrária e substantiva (não literal), uma
nova informação a outras com as quais o aluno já esteja familiarizado, e
quando o aluno adota uma estratégia correspondente para assim proceder.
(AUSUBEL, NOVAK & HANESIAN, 1980, p. 23).

Outro aspecto importante é proposto por Ausubel (apud MOREIRA, 2001) para
facilitar o ensino rumo a aprendizagem significativa, para ele, “o desenvolvimento de
conceitos é facilitado quando os elementos mais gerais, mais inclusivos de um conceito são
introduzidos em primeiro lugar e, posteriormente então, este é progressivamente
diferenciado, em termos de detalhe e especificidade” (MOREIRA, 2001, p. 29).
Joseph Novak educador americano teve participação direta na teoria de
aprendizagem significativa de Ausubel, tanto o é que Moreira (2011) propõe que hoje, ao
mencioná-la, seria mais oportuno se referir a ela enquanto “teoria de Ausubel e Novak”.
Novak propõe estratégias instrucionais facilitadoras da aprendizagem significativa,
“os mapas conceituais” e “diagrama Vê” (NOVAK, 1996; MOREIRA, 2011). Para Novak
(1996) os mapas conceituais “[...] permitem aos professores e alunos trocar os seus pontos
de vista sobre a validade de uma determinada ligação preposicional, ou reconhecer a falta
de ligações entre conceitos que sugerem a necessidade de uma nova aprendizagem”
(NOVAK, 1996, p. 34 - 35). Acrescenta-se a isso a possibilidade que os mapas apresentam
em evidenciar concepções alternativas1 de um dado conceito.
Segundo Novak (1996), os mapas conceituais podem servir tanto ao planejamento
do ensino, como para avaliação. Seu objetivo é facilitar conexões entre conceitos de uma
dada disciplina.

3– Metodologia

Como requisito parcial de conclusão da disciplina Tópicos de Biologia, do mestrado


profissional em Ensino de Ciências da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), nós
mestrandos (no total 08) recebemos enquanto proposta de investigação desvelar os temas
considerados difíceis e conflitantes na visão dos professores de Ciências e Biologia de seus
respectivos municípios (Juara, Juína, Cuiabá, Tangará, Cáceres, Primavera do Leste, Barra

do Garças e Confresa). No total foram entrevistados trinta (30) professores.


Tendo enquanto desafio escolher umas das temáticas indicadas e elaborar um
plano de aula como estratégia interventiva que trouxesse possibilidades de abordagem do
1
Concepções alternativas - termo utilizado por Novak (1996) para representar uma interpretação inaceitável, não
“errada”, de um conceito.
tema em questão, escolhemos o tema sexualidade por ser este apontado como tema difícil
e conflitante, tanto pelos educadores de Ciências, do Ensino Fundamental, como pelos
professores de Biologia do último ano do Ensino Fundamental e Ensino Médio.
A Sequência de Atividades foi elaborada considerando pressupostos da Teoria da
Aprendizagem Significativa (conhecimentos prévios, material potencialmente significativo,
diferenciação progressiva, reconciliação integrativa, consolidação) de David Ausubel
(AUSUBEL, 1980; MOREIRA, 2001 e 2011) e no uso dos mapas conceituais de Novak
(1996), enquanto caminho facilitador para a promoção da aprendizagem significativa.
Desenvolvemos a Sequência de Atividades numa turma de 2ª fase do 2º Ciclo,
crianças de 11 anos, de uma escola estadual do município de Juara, interior do estado de
Mato Grosso/MT. Com objetivo de sensibilizar os educandos para o autocuidado, refletir
sobre a importância das vacinas no processo de manutenção da saúde e usar os mapas
conceituais como recurso favorável na aprendizagem de conceitos, a proposta de
intervenção envolveu oito (8) momentos:
1º - Aproximação inicial e apresentação da proposta de trabalho;
2º - Questões iniciais e proposição de problemas – partindo do conceito de vacina e DSTs –
Doenças Sexualmente transmissíveis (conceitos mais gerais e inclusivos);
3º - Pesquisa e Reflexão coletiva sobre o tema (diferenciação progressiva) tendo como
material de suporte o “Guia Prático Sobre o HPV: Perguntas e resposta” do Ministério da
Saúde e notícias vinculadas pela mídia;
4º - Debate Integrado com o tema “Campanha de Vacinação contra o HPV2”;
5º - Introdução dos mapas conceituais (figura 1), diagnóstico do conhecimento elaborado;
6º - Disposição para dúvidas, “caixinha” intitulada “o que desejo saber sobre o HPV”;
7º - “Tarefa para casa” (para os educandos) entrevista com os pais sobre o tema “HPV”;
8º - Avaliação do Plano de trabalho e Autoavaliação. A avaliação ocorreu mediante
observação e questionamentos referentes ao assunto com intuito de perceber a
compreensão sobre o tema pelos envolvidos, principalmente os representados em suas falas
argumentativas, no seu desprendimento em se posicionar criticamente diante de um tema e
nas escolhas das proposições apresentadas no esquema – Mapa Conceitual. Tendo como
referência as seguintes evidências: Os alunos demonstram compreender a importância das
vacinas mantendo sua vacinação em dia? (observação em longo prazo); Apresentaram
argumentos coerentes com o conhecimento científico? (momento das questões e do
debate); Possuem hábitos de cuidado com o corpo e a saúde? (acompanhamento e
observação diária).

2
Tendo em mãos notícias e reportagens que traziam informações e relatos a favor e contra a vacina, os educandos
divididos em dois grupos receberam como desafio organizar argumentos para convencer o grupo adversário a favor
ou contra a vacina.
Figura 1. Um mapa Conceitual de proposições sobre o HPV.

4– Apresentação e Discussão dos Dados

Na primeira etapa do desenvolvimento da Sequência de atividades percebemos que


os alunos possuíam diversas concepções alternativas acerca do tema HPV, formas de
contágio, diagnóstico e prevenção. Como por exemplo, nas formas de contágio, um aluno
apontou: “pode ser transmitida pelo espirro”; e sobre por que somente as meninas tomam
a vacina, outro educando afirmou: “porque só as mulheres transmitem a doença”. É
importante destacar que desenvolvemos a sequência de atividades nessa turma uma
semana após o lançamento da campanha, talvez por isso poucos manifestaram conhecer
algo a respeito do tema ou não tinham segurança o bastante em suas proposições para
expô-las ao grupo. Na sua maioria, foram mais hipóteses do que propriamente concepções,
no entanto, apresentavam reconhecer a importância das vacinas e de hábitos de cuidados
com o corpo, evidenciando assim conhecimentos “subsunçores” disponíveis para que o novo
conhecimento pudesse se ancorar. Durante o desenvolvimento da Sequência de atividades,
entre timidez, risos e comentários quase inaudíveis, fomos percebendo maior
disponibilidade dos educandos para expor suas opiniões e desse modo, negociar significados
com o grupo.
Com relação ao texto e as discussões que geraram durante a elaboração dos
argumentos, percebemos a dificuldade com o significado de algumas palavras, como por
exemplo, “imunizada”, o que nos ofereceu indícios de conceitos que não haviam sido
trabalhados ou ainda não estava bem consolidados e que por sua vez, representavam em
obstáculos para novos conhecimentos.
As proposições indicadas pelos educandos nos mapas conceituais revelaram
avanços em relação ao conhecimento inicial, evidenciando compreensão e ampliação dos
conhecimentos, mas também evidenciaram lacunas, conhecimentos que precisam ser
retomados. Como o caso de que apenas doze (12) crianças relacionaram “relações sexuais”
como forma de contaminação do HPV.

5– Considerações Finais

As crianças, adolescentes e jovens constroem muitas ideias, concepções e


respostas a seus anseios e dúvidas, principalmente no que se refere a assuntos ligados a
sua sexualidade, ou seja, seu modo de ver, perceber e lidar com o corpo, sentimentos e
sensações. Constantemente os educadores, querendo ou não, preparados ou não, irão se
deparar com situações das quais é necessário sua intervenção, principalmente no que se
refere a questões polemicas e atuais que envolvem o autocuidado e a saúde pública, como
é o caso da vacina contra o HPV. É sabido que uma única abordagem ao tema não irá
esgotar todas as possíveis dúvidas ou garantir condições suficientes para que as concepções
alternativas sejam abandonadas. Cabe aos educadores o desafio de propiciar momentos de
desestabilizar essas “certezas” por meio de situações problematizadas. E para isso o
conhecimento sobre o que o aluno já sabe é primordial, e os mapas conceituais,
representam um recurso valioso, tanto para revelar as concepções dos educandos, como
para organizar os conceitos, ou seja, o conhecimento (do mais inclusivo e geral para o
menos inclusivo) que será desenvolvido com os educandos.
Avaliamos que as estratégias utilizadas, tanto a sequência de atividades como os
mapas conceituais, tendo como pano de fundo os princípios da aprendizagem significativa,
proporcionaram além de momentos de diálogo e negociação de significados, evidências para
que avaliássemos a potencialidade dos materiais selecionados, a organização da sequência
e os processos de organização desse conhecimento pelos estudantes, dando subsídios para
necessárias e adequadas interversões.

6– Referências
AUSUBEL, David P; NOVAK, Jose D e HANESIAN, Helen. Psicologia Educacional. Editora
Interamericana. Rio de Janeiro, 1980.

BORGES, Regina Maria Rabello e MORAES, Roque (orgs). Educação em Ciências nas
Séries iniciais. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1998.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE. DEPARTAMENTO


DE VIGILÂNCIA DE DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS. Guia Prático sobre o HPV: perguntas e
respostas. Brasília: Ministério da Saúde, 2013;

HARDOIM, Edna Lopes e MIYAZAKI, Rosina Djunko. Saúde e Sexualidade. Cuiabá:


UAB/UFMT, 2012.

MATO GROSSO. SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO. Orientações Curriculares:


Diversidades Educacionais. Cuiabá: Defanti, 2010. 308p.

MOREIRA, Marco Antonio. Aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel.


Marco Antonio Moreira. Elcie F. Salzano Masini. São Paulo: Centauro: 2001.

____________________. Teorias de Aprendizagem. 2ª ed. ampl. - São Paulo: EPU,


2011.

NOVAK, Joseph D. Aprender a aprender. Tradução: Carla Valadares. 1ª Ed. Plátano


Edições Técnicas. Lisboa, 1996.

OLIVEIRA, Leize Lioma de. Diversidade Sexual na Escola à Luz dos Direitos Humanos in
SANTOS, Ângela Maria dos (org). Educação com Diálogos com a Diversidade. Cuiabá:
KCM Editora, 2010.

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