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Elaboração
Dyeison Cesar Mlenek
Juliana Matilde Hreczuk
Larissa Milena Pinto Parra UFPR/ITTI
Reitor
Editoração e revisão
Prof. Dr. Ricardo Marcelo Fonseca
Karin Cristina da Silva
Vice-Reitor
Produção gráfica
Profª. Drª. Graciela Bolzón de Muniz
Anna Maria Carone Martins
Diretor do Setor de Tecnologia
Fotos
Prof. Dr. Horácio Tertuliano Filho
UFPR/ITTI
Coordenador de Projetos do Instituto
Tecnológico de Transportes e Infraestrutura
Impresso no Brasil
Distribuição Gratuita Prof. Dr. Roberto Gregório da Silva Jr,
DNIT
Diretor Geral
Antônio Leite dos Santos Filho
Coordenador-Geral de Manutenção e
Restauração Rodoviária
Allan Magalhães Machado
Copyright 2020 por Universidade Federal do
Paraná/Instituto Tecnológico de Transportes e
Infraestrutura Coordenador-Geral de Operações Rodoviárias
Todos os direitos reservados. É permitida a
Bráulio Fernando Lucena Borba Junior
reprodução parcial ou total desta obra desde que
citada fonte e a autoria. Coordenador-Geral de Construção Rodoviária
Lucas Alberto VIssotto Junior
1 F OTO G R A M E T R I A
A etimologia da palavra fotogrametria vem do grego photon (luz), grafos (escrita) e metron
(medições), que significam basicamente medições executadas através de fotografias. Tommaselli
(2009) explica que, até a década de 60, a definição de fotogrametria adotada pela Sociedade
Americana de Fotogrametria (American Society of Photogrammetry) era “ciência e arte de obter
medidas confiáveis por meio de fotografias”.
Em 1979 ocorreu a atualização dessa definição devido ao advento de novos tipos de sensores,
tratando assim a fotogrametria como “a arte, ciência e tecnologia de obtenção de informação
confiável sobre objetos físicos e o meio ambiente através de processos de gravação, medição e
interpretação de imagens fotográficas e padrões de energia eletromagnética radiantes e outras
fontes”. Essa nova e mais abrangente definição inclui a fotogrametria métrica e fotointerpretação,
sendo a primeira responsável pelos dados quantitativos como coordenadas, dimensões de objetos,
etc, e a segunda responsável pelos dados qualitativos obtidos a partir das fotografias e imagens
de satélite, ou seja, é aplicada no reconhecimento e identificação dos objetos (TOMMASELLI,
2009).
Para Tommaselli (2009) o avanço tecnológico fez com que a fotogrametria tenha passado por
diferentes eras, partindo da fotogrametria analógica, cujos métodos de processamento de dados
fotogramétricos requeriam instrumentos analógicos devido à inexistência de computadores com
requisitos suficientes para a realização dos cálculos necessários. Após o advento de computadores
e o crescente avanço tecnológico, foi possível dar início a era da fotogrametria analítica, que se
beneficiou de modelos matemáticos mais sofisticados e consequente aumento na precisão.
Atualmente vivemos a era da fotogrametria digital, que tornou obsoleta a fotogrametria
analógica devido ao advento das câmaras digitais, a qual permitiu a eliminação da fase
instrumental de digitalização dos negativos fotográficos. As câmaras digitais são classificadas em:
pequeno formato, médio formato e grande formato, sendo suas aplicações distintas e altamente
competitivas, conseguindo obter altíssimas qualidades radiométricas e geométricas.
A fotogrametria pode ser subdividida em duas grandes áreas, a fotogrametria aérea, cujas
fotografias do terreno são tomadas por meio de câmara embarcada em aeronave autônoma ou
não, e a fotogrametria terrestre, cujas fotografias são tomadas em uma posição conhecida no
terreno.
A litografia de Honoré Daumier mostrando Nadar a fotografar Paris de um balão, com título “Nadar
elevando a fotografia à altura da Arte”, publicada em Le Boulevard, 25 Maio de 1863. Fonte: Silva (2015).
Após o feito de Nadar, no fim do século dezenove e no início do século vinte, o método de
tomada de fotografias aéreas utilizando balões, pombos e pipas foi empregado e estudado em
países da Europa, nos Estados Unidos e no Canadá. A fotogrametria área teve um dos primeiros
levantamentos bem sucedidos através do Capitão Cesare Tardivo (1870-1953) na Itália. O oficial
italiano conseguiu a obtenção de um mosaico de fotografia de Veneza, em 1911, através de voo
com balão, utilizando uma metodologia escrita por ele mesmo. Nos anos seguintes, Tardivo
confeccionou e apresentou diversos trabalhos em que foram utilizadas fotografias aéreas de
diversas áreas fotografadas com auxílio de uma balão, para uso civil e militar (SILVA, 2015).
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Mosaico de fotografias com balão de Veneza. Fonte: Guerra e Pilot (2000) apud Silva (2015).
Quanto à primeira utilização de aviões para tomada de fotografias aéreas com a finalidade
de mapeamento, não há certeza de quando foi realizada, contudo, o mais provável é que tenha sido
o Royal Flyin Corps (Real Corpo Aéreo - força aérea britânica) em 1912. Após a criação do avião
no início do século vinte e a viabilidade de tomada de fotografias aéreas através desta plataforma,
a prática foi muito utilizada para reconhecimento do campo inimigo durante a Primeira Guerra
Mundial (1914-1918), e foi após a guerra que as empresas começaram a investir nessa técnica para
fins de mapeamento (SILVA, 2015).
Desde então, diversos levantamentos e experimentos foram feitos na terceira década do século
vinte (1920-1929) e, durante essa época, as câmeras e equipamentos de restituição já estavam
evoluindo, e estudos da precisão de restituição de aerofotogrametria já estavam sendo realizados.
Com o avanço da tecnologia, foi a partir de 1930 que a fotogrametria aérea passou a ser uma
prática regular. Em 1960 surgiu a fotogrametria analítica e em 1990 houve o início da digitalização
das fotografias áreas, dando início a fotogrametria digital (SILVA, 2015).
No Brasil, a utilização da técnica fotogramétrica data desde a última década do século dezenove,
com trabalhos como a carta do Rio de Janeiro (RJ) em 1893, a planta dos primeiros distritos de
Porto Alegre (RS) em 1902, o mapeamento do morro do Cantagalo em 1914, entre outros. São
Paulo foi o primeiro município do mundo que teve um levantamento fotogramétrico em grande
escala. Os voos foram executados entre 1928 e 1930, e alguns dos resultados foram apresentados
em 1934 no 4° Congresso de Fotogrametria de Paris, pelos irmãos Nistri, donos da empresa
SARA Brasil S/A e construtores de aparelhos fotogramétricos. Desde então os levantamentos
aerofotogramétricos foram mais difundidos no país, e muitas empresas deste ramo foram sendo
criadas (SILVA, 2015).
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1.2 Evolução da fotogrametria
A fotogrametria comum tem como base o princípio de interseções de retas a partir do uso de
fotografias – esse princípio é utilizado até hoje, e é conhecido como equação de colinearidade. A
fase é comumente chamada por fotogrametria por prancheta, pois a determinação dos pontos se
fazia sobre o papel em uma prancheta por interseção direta. O método foi descrito por Laussedat
(COELHO e BRITO, 2007).
Depois da invenção dos computadores na década de 1940, houve uma nova evolução das
práticas de processos fotogramétricos. A computação permitiu que os cálculos envolvidos no
processo, e que por hora tinham sido substituídos por técnicas ópticas-mecânicas, voltassem a ser
realizados de forma um pouco mais rápida. Em 1953 foram realizados estudos que estabeleceram
as bases da fotogrametria analítica, que envolvem o tratamento matricial, a utilização simultânea
de múltiplas imagens, as soluções através do ajustamento de observações utilizando o método de
mínimos quadrados e a análise completa de propagação de erros. Nesta época também foi criado
o primeiro restituidor analógico e, junto com o computador, o processo de medições e cálculos se
tornaram muito mais simples. A criação dos restituidores analíticos permitiu a fototriangulação de
blocos maiores e a utilização de câmaras não-métricas (COELHO e BRITO, 2007).
Analógica (scribes
ou fotolitos), no
Fotografia analógica Analógico passado, ou digital
Analógica
(em filme) (óptico-mecânico) (CAD, por exemplo)
no presente
Analógica (scribes
ou fotolitos), no
Fotografia analógica Analítico
Analítica passado, ou digital
(em filme) (computacional)
(CAD, por exemplo),
no presente
Imagem digital
(obtida da câmera
digital, por exemplo) Analítico
Digital ou digitalizada (foto (computacional) Digital
analógica submetida
a um scanner)
Alguns conceitos básicos e iniciais são necessários para entender os processos envolvidos na
fotogrametria. Nesta apostila, serão abordados os conceitos básicos que envolvem a fotogrametria
digital aérea, o campo da fotogrametria focado nos processos desenvolvidos através da obtenção
de imagens aéreas com câmeras digitais.
O início de uma aplicação da fotogrametria consiste primeiramente na determinação dos
objetivos que se quer realizar a partir das imagens e dos outros produtos gerados através da
fotogrametria. É através destes objetivos que serão feitas as escolhas baseadas em conceitos
básicos. Uma vez que sejam definidos os objetivos, pode-se escolher as resoluções da imagem, o
tipo de plataforma a ser utilizada, o sistema de imageamento utilizado, etc. Após definidos estes
conceitos básicos, faz-se o plano de voo, que é um instrumento importante para que seja realizada
a correta obtenção das imagens e, consequentemente, para que os objetivos determinados sejam
atendidos. A confecção de um plano de voo será detalhada no Item 1.3.5.
Uma fotografia digital é definida por uma matriz constituída por células de tamanho constante,
chamadas de pixels. Em cada pixel é armazenado uma coloração sólida, definida por um
número digital. Essa coloração está relacionada com a propriedade física do objeto imageado, a
sensibilidade do sensor que receberá e registrará a energia radiada. Cada número digital tem uma
cor associada a ele, e cada célula da matriz armazena esse número digital (SANTOS, 2017).
Distribuição dos pixels de uma imagem digital (à direita) e Matriz de números digitais
correspondente (à esquerda). Fonte: UFPR/ITTI (2020).
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1.3.1.1 Resoluções
O valor digital atrelado a cada pixel irá expressar sua tonalidade. Tons mais escuros terão um
valor digital menor e tons mais claros terão associados valores digitais maiores. No exemplo da
imagem com 1 bit por pixel, a coloração preta será expressada pelo valor digital 0, enquanto a cor
branca será expressada pelo valor digital 1. Na imagem com 8 bits por pixel, a cor mais escura será
representada pelo valor digital 0, enquanto a cor mais clara será representada pelo valor digital
255 (2^n - 1). Quanto maior a resolução radiométrica, mais detalhes poderão ser discernidos na
imagem.
A resolução espectral está relacionada com a medida de sensibilidade do sistema sensor na
percepção da diferença entre níveis de intensidade do sinal eletromagnético registrado. Esta
resolução diz respeito ao número de bandas de uma imagem, e pela largura do intervalo de
comprimento de onda do espectro eletromagnético que cada banda irá recobrir.
O espectro eletromagnético é a disposição ordenada de maneira contígua em função do
comprimento de onda ou da frequência da energia eletromagnética emitida pelos objetos. O
espectro apresenta divisões de acordo com o tipo de processo físico que dá origem a energia
eletromagnética, do tipo de interação que ocorre entre a radiação e o objeto sobre o qual incide
e da transparência da atmosfera em relação à radiação eletromagnética (MORAES, 2002).
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Espectro eletromagnético. Fonte: Mundo Educação (2020).
A maior resolução espectral é dada quanto maior for o número de bandas e menor for a largura
do intervalo. Quanto a resolução espectral, as imagens são divididas em: imagens pancromáticas,
imagens multiespectrais e imagens hiperespectrais.
• Imagens pancromáticas são as que têm apenas uma única banda espectral e recobre a
parte visível do espectro eletromagnético, gerando imagens em escala de cinza. Este tipo
de imagem é útil no registro e reconhecimento de estruturas da superfície física da Terra;
• Imagens multiespectrais são imagens formadas por um número médio de bandas, geralmente
entre 3 e 20, cujos intervalos no espectro eletromagnético não são necessariamente
adjacentes. Além de serem úteis para reconhecimento e registro de estruturas da superfície
física da Terra, através das imagens multiespectrais também pode ser realizada a classificação
de suas propriedades químicas e biológicas;
• Imagens hiperespectrais são imagens formadas por, geralmente, maior número de bandas
e os intervalos no espectro eletromagnético são sempre adjacentes. A utilização das
imagens hiperespectrais se diferencia da multiespectral pois, além do reconhecimento de
propriedades químicas e biológicas da superfície física da Terra, também pode-se identificar
com refino as propriedades geológicas e biofisiológicas.
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A resolução temporal está relacionada com a frequência que um sensor recobre a mesma
porção da superfície da Terra, ou seja, o intervalo entre os voos que irão imagear uma mesma área.
Este tipo de resolução é importante para aplicações de monitoramento de elementos de interesse
e o registro de como eles se modificam ao longo do tempo. Alguns exemplos de aplicação
incluem o monitoramento de bacias hidrográficas, o monitoramento e avaliação do crescimento
populacional, de áreas de silvicultura, monitoramento e fiscalização de obras, etc.
A resolução espacial na imagem digital está relacionada com o tamanho da área de recobrimento
da superfície física da Terra por um pixel da imagem. Ou seja, se uma imagem de 100x100 pixels
recobre uma área de 100x100 metros, isso significa que cada pixel da imagem recobre 1m2 do
terreno. Quanto menor é o tamanho de um pixel, mais detalhada vai ser a imagem e haverá mais
facilidade para distinguir as feições da superfície terrestre imageadas. A área de cobertura de um
pixel é definida em função do tamanho do sensor CCD, ângulo de abertura e da distância focal da
câmera em um determinado instante e altitude de voo. O ângulo é chamado de Campo de Visada
Instantânea (ou Instantaneous Field of View, IFOV, em inglês). O IFOV define a porção do terreno
que é imageada pelo sensor em uma determinada altitude de voo (SANTOS, 2017).
Sendo assim, imagens de resolução espacial melhor tem um menor valor de área recoberta. Uma
imagem cuja área recoberta é de 2m2/pixel tem melhor resolução espacial ao se comparar com
uma imagem cuja área recoberta é de 10m2/pixel, pois a primeira permite que sejam identificados
objetos maiores que 2m2, enquanto a segunda só permitirá que objetos maiores que 10m2 sejam
distinguidos.
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1.3.2 Plataformas de voo
1.3.3 Sensor/Câmera
Além da escolha da plataforma, também é necessário escolher qual o tipo de sensor que será
usado para obter a imagem digital. A câmara digital é composta essencialmente das seguintes
partes:
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O cone onde ficam localizadas as lentes da objetiva. A objetiva é um sistema composto pelo
conjunto de lentes cuja finalidade é direcionar os raios luminosos vindos do exterior para a imagem
a ser formada no plano focal. As lentes mais utilizadas na fotogrametria são as convergentes
delgadas plano-convexa. As lentes convergentes tem a propriedade de fazer com que os feixes
de raios de luz incidentes, que chegam paralelos, sejam refratados e convergidos em um único
ponto focal. A característica delas é ser mais fina nas suas bordas em comparação ao centro. A
plano-convexidade é a propriedade que define um lado da lente ser plano e o outro ser côncavo
(curvado).
Lentes
Convergentes
Lentes
Divergentes
Lente Convergente
Plano-Convexa
Raios eletromagnéticos
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O diafragma e o obturador. O diafragma é o diâmetro da abertura das lentes, a qual define
a quantidade de luz permitida a penetrar as lentes e chegar até o sensor. O obturador é um
mecanismo formado por uma espécie de cortinas circulares concêntricas, responsável pela
abertura do diafragma e que permite obter a exposição desejada.
O plano focal é onde se forma a imagem e onde fica posicionado o sensor para registrar o sinal.
Nas câmeras digitais o sensor utilizado é o CCD.
O CCD é o sensor digital capaz de registrar a energia incidente sobre o sistema de lentes da
câmera digital. É constituído de uma superfície sólida, sensível à energia eletromagnética e capaz
de registrar e ler a energia incidente sobre o sistema de lentes da câmera digital. Essa superfície
sólida é composta de uma matriz de células (capacitores) de mesmo tamanho, onde cada célula
representa um pixel da imagem. O tamanho do sensor determina a resolução de quantidade
de pixels, ou seja, quanto maior o sensor maior será a concentração de pixels por milímetro e,
conseqüentemente, melhor será a resolução espacial (SANTOS, 2017).
Trajetória dos raios de feixes de luz até o sensor. Fonte: Adaptado Santos (2017).
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Alguns outros elementos importantes para a realização dos processos fotogramétricos são os
seguintes elementos, definidos pela trajetória dos raios de feixes de luz até o sensor. São eles:
• Ponto nodal anterior: ponto por onde entra os feixes de raios de luz no sistema de lente da
câmara;
• Ponto nodal posterior: ponto por onde sai os feixes de raio de luz do sistema de lentes;
• Ponto principal de autocolimação: ponto localizado no espaço da imagem, onde há a
interseção do feixe de luz com o plano da fotografia;
• Ponto principal calibrado (ou ponto principal de simetria): ponto localizado no plano
focal, onde as distorções são praticamente simétricas;
• Eixo óptico: é o eixo que contém os centros de curvatura de determinada lente. Em teoria,
os eixos ópticos das diferentes lentes que compõem o conjunto de lentes de uma câmera
deveriam ser alinhados, porém, na prática isso é praticamente impossível.
Trajetória dos raios de feixes de luz até o sensor. Fonte: Adaptado de Coelho e Brito (2007).
1.3.4 Erros
A obtenção de fotografias está embutida de problemas que podem causar algum efeito não
desejável nas imagens, gerando erros descritos como incertezas nas medições. Os erros costumam
ser classificados da seguinte forma, segundo Mazon, Zacchi e Martins (2011):
• Erros grosseiros: causados pela desatenção do operador ou do medidor por falta de
prática. Este tipo de erro é fácil de ser verificado uma vez que se tem medições de controle
confiáveis;
• Erros aleatórios (ou acidentais): erros não previsíveis e inevitáveis, que independem do
cuidado na aplicação de alguma prática. São derivados de irregularidades atmosféricas,
imperfeição dos sentidos humanos, incapacidade do ser humano de construir máquinas
perfeitas, etc. Dificilmente podem ser identificados com clareza, mas podem ser compensados
e ajustados estatisticamente;
• Erros sistemáticos: são erros previsíveis, e que podem ser dimensionados, permitindo que
sejam eliminados das medições. Entre eles encontram-se a má calibração do instrumento,
que leva em medidas não conformes, etc;
• Erros de arredondamento: provocados pela manipulação numérica inadequada, como o
uso de poucas casas decimais. Para que não ocorra, é necessário saber a precisão desejada
e manipular os dados numéricos em conformidade.
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Um tipo de erro comum de ser identificado é a já conhecida distorção radial simétrica, a qual
ocorre na fotografia e tem como causa a incapacidade de construção de lentes perfeitamente
côncavas (ou convexas). Outro erro sistemático que está relacionado às lentes da câmera é a
distorção descentrada, que ocorre devido ao fato de não ser possível alinhar perfeitamente os eixos
do conjunto de lentes (MAZON, ZACCHI e MARTINS, 2011). Ambos os erros podem ser corrigidos
através de métodos numéricos através de um processo chamado calibração de câmeras.
Outros erros também estão presentes no processo fotogramétrico, sendo eles os erros
causados pelo relevo, que são consequência da curvatura da Terra; os previsíveis, erros causados
pela instabilidade da câmera e que se dão em decorrência da incapacidade de se realizar um voo
completamente perfeito, independente do plano de voo; e também erros causados pela refração
atmosférica (COELHO e BRITO, 2007).
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O objetivo da sobreposição longitudinal é permitir a visualização tridimensional e a restituição
estereoscópica, enquanto a sobreposição lateral tem principalmente a função de ser uma margem
de segurança para evitar lacunas entre as faixas fotogramétricas (REDWEIK, 2007 apud OLIVEIRA,
2011). As sobreposições são elementos importantes para realizar a amarração entre as fotos de
uma faixa fotogramétrica que formará o bloco fotogramétrico. A faixa fotogramétrica é o conjunto
de imagens tomadas na direção do voo, enquanto o bloco fotogramétrico é o conjunto de todas
as faixas fotogramétricas tiradas em um voo (OLIVEIRA, 2011).
A alocação desses pontos de apoio deverá garantir um bom recobrimento de toda a área a
ser levantada, garantir o recobrimento das máximas variações possíveis na área de interesse e
procurar uma distribuição não alinhada dos mesmos (CORTE, 2020).
Andrade (1998) aponta que a orientação interior trata da recuperação geométrica dos feixes
perspectivos que formam a fotografia, a priori afetados pelos deslocamentos devido às
imperfeições do sensor, das distorções do sistema de lentes e do desvio ocasionado pela
refração atmosférica. Para materializar esse efeito, são calculados os parâmetros que relacionam o
sistema de coordenadas de imagem digital (pixels) em um sistema característico de cada câmara,
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dado pelos parâmetros do certificado de calibração. Simplificadamente, pode-se afirmar que a
imagem digital, que estava “solta” (não-referenciada), é atrelada à posição que exercia dentro da
câmara quando foi obtida (COELHO e BRITO, 2007).
Coordenadas X, Y, Z e atitude do avião . Fonte: Coelho e Brito (2007) apud Oliveira (2011).
1.3.9 Fototriangulação
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1.3.10 Criação de ortoimagem
Uma ortoimagem é uma fotografia que mostra imagens de objetos em suas posições
ortográficas, o mais verdadeiras possível. As ortoimagens são geometricamente equivalentes a
mapas convencionais planimétricos de linhas e símbolos, os quais também mostram as posições
ortográficas verdadeiras dos objetos (WOLF, 1983). Ou seja, segundo Santos (2000), a ortoimagem
é uma representação fotográfica em projeção ortogonal do terreno, na qual foram corrigidas
as variações de relevo e da inclinação da aeronave, resultando em uma fotografia com escala
constante.
O processo de criação de ortoimagens depende do conhecimento de dois parâmetros: os dados
da aquisição da imagem (a orientação da imagem, posição espacial da câmara) e o modelo digital
do terreno, sendo que a precisão das ortoimagens criadas está associada à qualidade destes dois
parâmetros (Egels & Kasser, 2002).
1.3.11 Fotointerpretação
As plataformas ARP tem possibilitado a aquisição de dados espaciais de forma rápida, autônoma,
de baixo custo e com baixos riscos operacionais. Possuem receptor de navegação embarcado,
utilizado para orientar a aeronave durante o voo e capturar as coordenadas geográficas no instante
da tomada das fotografias, auxiliando assim no pós-processamento dos dados. Atualmente ocorre
a integração do sistemas PPK ou RTK à aeronave, de forma a auxiliar no aumento da precisão dos
dados coletados, possibilitando assim a simplificação da utilização de pontos de apoio em campo
e também correções nos dados coletados pelo GPS/IMU da aeronave.
Alinhados à evolução tecnológica, tem-se softwares fotogramétricos modernos com algoritmos
cada vez mais robustos, que auxiliam no processamento de projetos, apresentando resultados
com alto grau de confiabilidade, executando operações de fototriangulação, medição automática
de pontos por técnicas avançadas e eficientes de correlação e combinação, geração de Modelo
Digital de Superfície (MDS), Modelo Digital do Terreno (MDT) e ortoimagens (SILVA, 2015). Esses
algoritmos são técnicas fotogramétricas aliadas ao processamento digital de imagens, que estão
implementados nos softwares com o intuito de obter os produtos de maneira automatizada.
A técnica SFM (Structure from Motion) proposta por Shimon Ullman em 1979, por exemplo, é
capaz de estimar estruturas tridimensionais a partir de sequências de imagens bidimensionais.
Essa técnica se utiliza de algoritmos, como o SIFT, para a determinação e descrição de pontos
homólogos nas imagens utilizadas no processamento. A partir da identificação desses pontos
é extraída uma nuvem de baixa densidade, através da união desses pontos homólogos por
algoritmos de correspondência e filtragem de dados.
Com a nuvem esparsa e os pontos homólogos é feita a reconstrução da atitude e orientação da
câmera devido às restrições impostas pelas correspondências de pontos, sendo possível realizar
a fototriangulação. Esta, por sua vez, visa estimar as posições tridimensionais e reconstruir a
geometria da cena. Após ocorre a densificação da nuvem esparsa através de outros algoritmos
exclusivos para densificação. Com a nuvem densificada, é gerado um Modelo Digital de Superfície
através da interpolação dessa nuvem.
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O algoritmo SIFT citado anteriormente foi desenvolvido por Lowe (1999) com o intuito de
identificar características salientes de imagens para realizar seu reconhecimento através de
comparação. Esse algoritmo é executado em quatro etapas, sendo elas: detecção de extremos,
localização de pontos-chave, definição de orientação e descrição dos pontos-chave. Ao final do
processo, cada ponto possui um descritor altamente distinto que são comparados entre si para a
definição dos pontos homólogos (adaptado de SPERANDIO e SANTOS, 2011).
• Detecção de extremos: esta etapa consiste em buscar pontos que sejam invariantes a
mudanças de escala da imagem, possibilitando assim a detecção de pontos com a câmera
próxima ou distante do objeto de estudo. Através da função Gaussiana é possível alcançar
tal objetivo pela procura por características estáveis em diferentes escalas. A utilização
desta função permite obter amostras da imagem onde detalhes indesejados e ruídos são
eliminados e características fortes são realçadas (GONZÁLES, 2010);
• Localização precisa de pontos-chaves: consiste em calcular a posição exata de todos os
pontos detectados como extremos. Este cálculo é realizado através de um ajustamento de
uma função quadrática tridimensional do ponto de amostragem, de forma a determinar a
localização interpolada do máximo, descartando pontos que estejam abaixo de um dado
limiar definido por Lowe (2002, apud GONZÁLES, 2010). Lowe também pontua que pontos-
chaves próximos de arestas devem ser detectados e eliminados, e isso é feito através de
uma matriz Hessiana (GONZÁLES, 2010);
• Atribuição da orientação dos descritores: para cada ponto-chave é atribuída uma orientação
que será utilizada para a criação de descritores invariantes quanto à rotação, sendo essa
invariância obtida através das características locais da imagem. Ao final do processo
matemático cada ponto-chave tem agora quatro dimensões: posição x e y, magnitude e
orientação (GONZÁLES, 2010);
• Construção do descritor local: nesta etapa, a cada ponto-chave será atribuído um descritor
invariante à iluminação e ponto de vista tridimensional, tornando-os bem distinguíveis.
Vale ressaltar que essa etapa utilizará os valores obtidos na etapa anterior (atribuição de
orientação dos descritores). Para cada imagem são construídos diversos descritores, cada
um correspondente a um ponto-chave, possibilitando assim realizar a correspondência de
uma imagem em outra imagem (GONZÁLES, 2010).
Alguns pontos instáveis são identificados ao longo do processo, acarretando assim falsas
correspondências. Para eliminar esses erros, é realizado um refinamento através de um método de
comparar a menor distância com a segunda menor distância, selecionando apenas correspondentes
dentro de um limiar pré-estabelecido, descartando assim os outliers.
1.5 Aplicações
Santos (2017) aponta que as principais aplicações da fotogrametria são: planejamento, projeto
de vias; planejamento urbano; cadastro urbano, rural e florestal; atualização de Sistemas de
Informação Geográfica (SIG); arqueologia; automação de processos industriais; mapeamento;
realidade aumentada; classificação de imagens; robótica; medicina; odontologia; acidente e
gerenciamento de tráfego; astronomia; extração de curvas de níveis e redes de drenagem;
projetos de construção de pontes, túneis, barragens e dimensionamento dos respectivos
deslocamentos de terras; e ainda estudos de impacto ambiental, como o cálculo de áreas alagadas
na construção de hidroelétricas e o respectivo volume do reservatório; entre outros. Dentre os
produtos gerados a partir da fotogrametria, pode-se afirmar que a ortoimagem, o MDS e o MDT
são os produtos mais requisitados pelos usuários.
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2 GEODÉSIA
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Geometria e Cinemática
GNSS: Satélites altímetros;
SLR móvel; LPS; INS/GPS;
Nivelamento geométrico;
Sensoriamento remoto; InSAR;
Marégrafos
Redes Geodésicas de
Referência
VLBI; LLR; SLR; DORIS;
GNSS; PRARE; Alt.
Satélite Campo Gravitacional e
Gravidade
Rotação da Terra
Grav. terrestre; INS/GPS;
VLBI; LLR; SLR; DORIS; GNSS; Gravimetria marinha e aérea;
Astronomia clássica; Futuros Análise de órbitas de satélites;
giroscópios terrestres Gravimetria absoluta e sup.;
Hi-Lo & Lo-Lo SST; Grad. por
satélite PRARE
O GPS, que é a abreviatura de NAVSTAR-GPS (Navigation Satellite with Time And Ranging
– Global Position System), é um sistema de navegação e posicionamento por satélite que foi
desenvolvido pela Força Aérea dos EUA e colocado em operação na década de 80. O princípio
básico de posicionamento pelo GPS consiste nas medidas de distância entre o usuário e, no
mínimo, quatro satélites. Com as coordenadas do satélite num determinado sistema de referência,
é possível calcular as coordenadas da antena do usuário no mesmo sistema de referência dos
satélites (CORREIA e MARTINS, 2005).
O funcionamento do sistema GPS é baseado na técnica matemática de trilateração.
Simplificadamente, no espaço bidimensional, consiste em encontrar a localização de um ponto
a partir das distâncias deste ponto a outros três pontos de referência. Ou seja, conhecida as
distâncias do ponto que se quer conhecer em relação aos três pontos de referência, traça-se três
círculos, cujos centros são os três pontos de referência, e os raios são as distâncias entre o ponto
que deseja-se conhecer a localização. A intersecção destes círculos determina a posição deste
ponto (UNICAMP, 2020).
23
Materialização de ponto de apoio. Fonte: Techtudo.
Peres (2007) aponta que são três os segmentos que constituem o sistema GPS: segmento
espacial, de controle e de usuários.
“Segmento espacial: de acordo com Segantine (1999), é composto por uma rede de
satélites em órbitas quase circulares, com altitude de cerca de 20.200 km, com período
de aproximadamente 12 horas siderais, os quais estão dispostos em seis planos orbitais
inclinados de 55 graus em relação à linha do equador.
Segmento de controle: o segmento de controle é constituído por um conjunto de
estações terrestres, as quais são responsáveis pela operação do sistema GPS. Segundo
Segantine (1999), essas estações têm como propósito rastrear os satélites GPS e fornecer
suas posições periodicamente, além de corrigir as efemérides transmitidas e os erros dos
relógios, determinar o tempo GPS, predizer as efemérides e o comportamento dos relógios
dos satélites e atualizar, periodicamente, a mensagem de navegação para cada satélite em
particular;
Segmento dos usuários: esse segmento é formado por todos aqueles que utilizam o
sistema para as variadas aplicações e fazem uso de receptores que permitem determinar a
posição dos pontos observados” (PERES, 2007).
25
sobre a superfície terrestre, geralmente, a pseudodistância derivada do código C/A presente
na portadora L1 e a mensagem de navegação” (NAKAO E KRUEGER, 2017).
“O Posicionamento por Ponto Preciso (PPP) utiliza os dados coletados pelo método
absoluto, contudo, existe o processamento dos dados coletados (códigos e fase das ondas
portadoras) por receptores de uma ou duas frequências, empregando correções para os
relógios dos satélites e as efemérides precisas, informações produzidas e disponibilizadas
pelo IGS (International GNSS Service) e por centros associados por meio de programas.
[...] Segundo Mayer & Fuhrmann (2008) estes serviços têm como vantagens: reduções de
custos, processamento automatizado, uso total e automático dos programas do IGS, uso
global, economia de tempo e centímetros de precisão (usando as observações da fase da
onda portadora, e resolução das ambiguidades)” (NAKAO E KRUEGER, 2017).
26
O IBGE-PPP é um serviço online gratuito que realiza o pós-processamento dos dados
coletados. Ele permite que os usuários obtenham coordenadas referenciadas ao SIRGAS2000 e
ao ITRF através de um processamento preciso. Os resultados são fornecidos através de relatórios
e é necessário apenas que o usuário informe o arquivo de observação no formato RINEX ou
HATANAKA, se o levantamento foi realizado no modo estático ou cinemático, o modelo e a altura
da antena utilizada e um e-mail válido (IBGE, 2018).
“Requer tempo de ocupação menor que o estático e pode usar técnica de linha de
base radial, técnica de redes ou combinação das duas. Para Monico (2000), a diferença
fundamental entre o método estático e o estático rápido é o período de ocupação da estação
de interesse, que neste caso não é superior a 20 minutos. O princípio de funcionamento
é dado da seguinte forma: um receptor serve como base, permanecendo fixo sobre uma
estação de referência, coletando dados, enquanto um outro receptor móvel percorre as
estações de interesse, onde permanece parado por um período de aproximadamente 5 a 20
minutos, adquirindo em condições normais de medições, precisão que varia de 1 a 10 ppm”
(GAMA, CARNEIRO, e SEIXAS, 2007).
“Segundo Segantine (2002), o método cinemático é aquele onde uma antena receptora
deve ser fixada sobre um ponto de coordenadas conhecidas, enquanto que uma ou mais
antenas podem ser deslocadas sobre outros pontos durante a coleta de dados. Durante a
27
sessão de observação é necessário que todas as antenas receptoras estejam coletando dados
do mesmo conjunto de satélites, ou seja, as antenas devem captar dados simultaneamente,
dos mesmos satélites que estejam no horizonte do observador” (GAMA, CARNEIRO, e
SEIXAS, 2007).
Relativo estático Mínimo de 1 hora (1,5mm >= x =< 5mm) + (0,01 >= x =< 1ppm)
Relativo estático rápido Entre 5 min e 8 min (5mm >= x =< 20mm) + 1ppm
Relativo cinemático Contínuo 10 cm >= x =< 1m
RTK Contínuo Poucos centímetros
PPK Contínuo Poucos centímetros
29
2.3 Aplicações da Geodésia
3 S I ST E M A S D E C O O R D E N A D A S G E O G R Á F IC A S
Como observado no capítulo anterior, uma das atribuições da geodésia é determinar sistemas
de coordenadas geográficas para que o posicionamento de um ponto sobre a superfície terrestre
possa ser definido com precisão. Neste capítulo serão abordados os conceitos fundamentais
sobre sistemas de referência geodésicos, sistemas de coordenadas e projeções cartográficas.
A superfície física da Terra é irregular, e não há uma forma geométrica regular capaz de
descrever seu formato real. A forma da Terra está em constante mudança, portanto, esse é outro
empecilho que não permite a existência de um formato absoluto que represente a sua superfície
física. A geodésia é incumbida de lidar com a elaboração de modelos matemáticos/geométricos
que melhor representam essa superfície (e que são aproximações e simplificações do verdadeiro
formato da Terra). Existem diferentes tipos de modelos usados na geodésia para representar
matematicamente/geometricamente e fisicamente a superfície da Terra.
• Esfera: A superfície física esférica é a aproximação matemática mais simplista da forma e
dimensão real da Terra. Esse modelo tem como característica a propriedade de todos os
pontos da superfície possuírem uma mesma distância de um ponto central, a qual é dada
pelo comprimento do raio da esfera (CORREIA e MARTINS, 2005);
30
Centro da esfera
r = Raio da esfera
• Elipsóide: a superfície elipsóidica é formada pela rotação de uma elipse em torno do seu
eixo menor. É a mais utilizada, pois é a superfície de tratamento matemático que mais se
assemelha ao geóide, uma vez que sabe-se que a terra é mais achatada em seus polos, e
mais alongada no plano equatorial (CORREIA e MARTINS, 2005);
a Centro do elipsóide
de revolução
a = Semi-eixo maior;
b = Semi-eixo menor;
31
Forma do geóide. Fonte: Oliveira (2015).
32
e ajustado para o continente americano. O sistema tem sua definição idêntica ao do ITRF, e sua
materialização é formada por um adensamento regional do ITRF. O SIRGAS 2000 utiliza o elipsoide
de referência de 1980, com 184 estações espalhadas pelo continente americano, onde são feitas as
observações (SÁNCHEZ et al, 2013).
Algumas das estações de observação do SIRGAS 2000 no Brasil coincidem com estações da
RBMC (Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo), que o IBGE define como um “conjunto de
estações geodésicas, equipadas com receptores GNSS (Global Navigation Satellite Systems) de
alto desempenho, que proporcionam, uma vez por dia ou em tempo real, observações para a
determinação de coordenadas” CORREIA e MARTINS (2005). Esta rede permite avaliar a variação
temporal das coordenadas sobre a superfície terrestre do Sistema Geodésico Brasilerio (SGB),
proporcionando um referencial atualizado.
O Sistema Geodésico Brasileiro é o conjunto de “aproximadamente 70.000 estações implantadas
pelo IBGE em todo o território brasileiro, cuja materialização é dividida em três redes: Rede
Planimétrica, com pontos de referência geodésicos para latitude e longitude de alta precisão;
Rede Altimétrica, com pontos de altitudes conhecidas de alta precisão (RN - Referências de
Nível); Rede Gravimétrica, com pontos de referência para valores precisos de gravidade” (ANEEL).
Estas estações representam o controle horizontal e vertical necessários para a localização e
representação cartográfica do território brasileiro.
O Sistema Altimétrico Brasileiro (SAB) é composto pela rede geodésica vertical cujos marcos
são materializados sobre a superfície física da Terra e são chamados de Referência de Nível.
Através das técnicas de nivelamento são determinadas as altitudes ortométricas, que estão
referenciadas ao geóide, a superfície potencial que se aproxima do Nível Médio dos Mares (NMM)
através do valor do potencial da gravidade. No Brasil, o Datum Vertical oficial é o marégrafo de
Imbituba, localizado no estado de Santa Catarina. Contudo, existem diferentes tipos de altitude,
sendo elas distinguidas pelo tipo de determinação, pela sua aplicação, pelo modelo matemático
ou pelo modelo físico.
As altitudes são categorizadas como geométricas ou físicas. As altitudes de tipo geométrico
podem ser altitudes niveladas ou elipsoidais, enquanto as de tipo físico são divididas entre altitudes
dinâmicas, normais e ortométricas (MOREIRA, 2003). As atitudes apresentadas pelos aparelhos
GNSS são as geométricas elipsoidais (referenciadas à superfície do elipsoide de referência), porém
há um método de redução para as altitudes ortométricas (referenciadas à superfície do geóide).
Nivelamento: procedimento que determina a diferença de nível entre dois pontos do terreno.
Existem diferentes tipos, mas para maior precisão, o nivelamento geométrico é o mais eficaz pois
determina o desnível entre dois pontos do terreno através de leituras correspondentes a visadas
horizontais, obtidas através de um instrumento chamado nível, e com auxílio de miras colocadas
verticalmente sobre os pontos (NBR 13.133/94).
Rede Planimétrica e Rede Altimétrica do SGB. Fonte: Sampaio e Brandalize (2018) apud IBGE (2016).
33
3.3 Sistemas de coordenadas
A posição das feições presentes na superfície física da Terra são atreladas através de um
referencial e sua definição é feita a partir de suas coordenadas. As coordenadas são definidas a
partir do cruzamento de linhas imaginárias de referências, chamadas de paralelos e meridianos,
e de determinados ângulos.
34
A longitude de um ponto é definida como o “ângulo diedro entre os planos do meridiano
origem (Greenwich) e do meridiano que contém o ponto, sendo positivo a leste de Greenwich (0°
a +180°) e negativo a oeste (0° a -180°)” (CORREIA e MARTINS, 2005).
A latitude de um ponto é definida como o “ângulo entre o Equador e ponto considerado,
medido sobre o meridiano que contém o ponto” (CORREIA e MARTINS, 2005).
A componente altimétrica de um ponto na superfície terrestre que é referenciada à uma
superfície de referência (neste caso, a esfera) é chamada de altitude geométrica. A altitude
geométrica é definida pela distância vertical medida sobre a normal desde o ponto na superfície
física da Terra até o mesmo ponto localizado na superfície da esfera.
A normal do lugar é definida pela direção perpendicular entre o ponto e a superfície de referência
(neste caso, a esfera). No caso da esfera, a normal sempre passará pelo ponto central da esfera,
uma vez que esta forma geométrica é caracterizada pelo espaço onde todos os pontos de sua
superfície tem a mesma distância em relação ao seu ponto central.
37
3.3.3 Sistema de Coordenadas Cartesiano ou Sistema de Coordenadas Geocêntricas
Terrestre
As projeções cartográficas podem ser definidas como “um relacionamento matemático entre
posições referidas a um modelo de superfície terrestre e posições referidas a uma superfície plana
ou uma superfície desenvolvível no plano” (CORREIA e MARTINS, 2005), e de forma mais técnica,
as projeções fazem a “transformação de espaços bi-unívoca entre uma superfície de referência
(SR) e uma superfície de projeção (SP)” (FIRKOWSKI e SLUTER, 2007).
38
Projeções cartográficas. Fonte: Correia e Martins (2005).
Exemplo de deformações nas diferentes projeções cartográficas. Fonte: Adaptado de Correia e Martins (2005).
•Modo de contato entre a SR e a SP: pode ser do tipo tangente, quando existe apenas um
ponto em comum entre as duas superfícies, ou do tipo secante, quando as superfície se tocam por
meio de um conjunto de pontos (formando uma linha);
Projeção Universal Transversa de Mercator. Fonte: Jones (1997) apud Firkowski e Sluter (2007).
40
• Ângulo formado entre o eixo de rotação (linha que liga os dois pólos terrestres) do modelo
da Terra e a linha de simetria da superfície de projeção: pode ser classificado entre normal
(quando os eixos de simetria e de rotação formam ângulo de 0°), transversa (quando estes eixos
formam um ângulo de 90°) e oblíqua (quando os dois eixos formam ângulo diferente de 0° e de
90°);
41
3.5.2 A projeção UTM
A projeção Universal Transversa de Mercator (UTM) foi adotada pela União Geodésica e
Geofísica Internacional (UGGI) com o objetivo de padronizar os trabalhos cartográficos ao gerar
um sistema único de coordenadas planas para todos os países. É classificada da seguinte forma:
• SR: esfera ou elipsoide;
• SP: cilíndrica;
• Modo de contato entre a SR e a SP: secante;
• Ângulo formado entre o eixo de rotação do modelo da Terra e a linha de simetria da superfície
de projeção: transversal;
• Modo como as funções de projeção cartográfica são desenvolvidas: analítica;
• Propriedades intrínsecas: conforme.
Além dessas características, a projeção UTM representa a Terra dividida em 60 diferentes fusos.
Cada fuso tem a amplitude de 6º de longitude, sua numeração é iniciada a partir do Meridiano
de Greenwich (1) e é crescente a leste dele. Existe uma limitação para a aplicação destes fusos,
pois ele pode ser aplicado apenas até as latitudes 84º norte e 80° sul, devido à grande distorção
presente nas áreas fora do intervalo destes paralelos (CORREIA e MARTINS, 2005).
O quadriculado UTM está associado ao sistema de coordenadas plano-retangulares (E, N),
onde o eixo N aponta para o norte, e coincide com a projeção do Meridiano Central do fuso, e o
eixo E coincide com a projeção do Equador. O sistema de coordenada plano-retangulares é um
sistema cartesiano métrico, cuja origem se encontra na interseção dos dois eixos e atribui-se as
suas coordenadas 500.000 m para contagem ao longo do Equador e 10.000.000 m (hemisfério
sul) e 0 m (hemisfério norte) para contagem de coordenadas ao longo do meridiano central
(SAMPAIO e BRANDALIZE, 2018). Atribuir esses valores à contagem elimina a possibilidade de
ocorrência de coordenadas negativas.
42
Sistema de coordenadas UTM. Fonte: UFPR/ITTI (2020).
Como cada fuso desta projeção tem seu próprio eixo e origem, todos os fusos possuem um
conjunto idêntico de coordenadas, portanto, o fuso utilizado no mapeamento de uma região
sempre deve ser indicado nos trabalhos/mapas. Outro cuidado ao utilizar essa projeção é com
áreas entre dois fusos, pois as coordenadas não são contínuas em fusos vizinhos (CORREIA e
SAMPAIO, 2005).
No Brasil, a projeção UTM é o sistema de coordenadas planas adotado para o mapeamento
sistemático oficial do país, contudo, a sua utilização é bastante adotada nos diversos tipos de
mapeamentos, principalmente os de grande escala.
43
4 L E G I S L AÇ Ã O
Sendo as Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARPs) veículos aéreos, para que possam voar
em espaço aéreo brasileiro deverão ser seguidas as legislações vigentes, estabelecidas pelas
autoridades competentes. Atualmente, a realização de operações padrões ou com finalidades
recreativas são direcionadas por uma série de legislações formuladas pela ANAC, ANATEL e
DECEA.
De maneira simplória, pode-se afirmar que a ANAC é responsável pelas certificações dos ARPs
e dos pilotos, a ANATEL é responsável por regulamentar os protocolos de radiofrequência e o
DECEA é responsável pela gestão das autorizações de voo. A seguir são apresentadas as principais
legislações aplicáveis de cada instituição (MLENEK, 2018).
A ANAC reconhece três modos de operação de ARP, denominados VLOS, EVLOS e BVLOS,
que são definidas conforme:
“Operação em Linha de Visada Visual (Visual Line of Sight – VLOS operation)
significa a operação em condições meteorológicas visuais (VMC), na qual o piloto,
sem o auxílio de observadores de ARP, mantém o contato visual direto (sem auxílio
de lentes ou outros equipamentos) com a aeronave remotamente pilotada, de modo
a conduzir o voo com as responsabilidades de manter as separações previstas com
outras aeronaves, bem como de evitar colisões com aeronaves e obstáculos;
Operação em Linha de Visada Visual Estendida (Extended Visual Line of Sight
– EVLOS operation) significa a operação em VMC, na qual o piloto remoto, sem
auxílio de lentes ou outros equipamentos, não é capaz de manter o contato visual
direto com a ARP, necessitando dessa forma do auxílio de observadores de ARP
para conduzir o voo com as responsabilidades de manter as separações previstas
com outras aeronaves, bem como de evitar colisões com aeronaves e obstáculos,
seguindo as mesmas regras de uma operação VLOS;
Operação Além da Linha de Visada Visual (Beyond Visual Line of Sight – BVLOS
operation) significa a operação que não atenda às condições VLOS ou EVLOS”
(ANAC, 2017 RBAC-E).
A ANAC realizou a divisão das aeronaves em distintas classes de forma a flexibilizar a aplicação
da legislação. A figura a seguir apresenta um resumo da regulamentação da ANAC de acordo com
as classes dos equipamentos, finalidades e modos de operação.
BVLOS: Sim
Registro de aeronave? Sim Sim Sim
VLOS: Sim1
A distância da aeronave não tripulada NÃO poderá ser inferior a 30 metros horizontais de pessoas
não envolvidas e não anuentes com a operação. O limite de 30 metros não precisa ser observado
Local de operação caso haja barreira mecânica suficientemente forte para isolar e proteger as pessoas não envolvidas
e não anuentes. Esse limite não é aplicável para operações por órgão de segurança pública, de
polícia, de fiscalização tributária e aduaneira, de combate a vetores de transmissão de doenças e
defesa civil e/ou de corpo de bombeiros, ou operador a serviço de um destes.
45
As classes, ou categorias apresentadas na figura, são definidas como: Classe 1 - Aeronaves
com peso máximo de decolagem maior que 150 kg; Classe 2 - Aeronaves com peso máximo de
decolagem maior que 25 kg e menor que 150 kg; e Classe 3 - Aeronaves com peso máximo de até
25 kg.
O acesso ao espaço aéreo brasileiro pelas ARPs está sujeito às regulamentações do DECEA e
às autorizações emitidas pelo órgão regional (MINISTÉRIO DA DEFESA, 2017, p.18 IC-100-40). Os
órgãos regionais do DECEA são CINDACTA I, II, III, IV e o SRPV-SP e tem jurisdições conforme
figura abaixo.
As solicitações de autorização para acesso ao espaço aéreo devem ser realizadas pela
plataforma online SARPAS (Sistema de Autorização para acesso ao espaço aéreo por ARPs).
Para a utilização do sistema é necessário cadastro do usuário, cadastro do equipamento (com
as devidas certificações/autorizações da ANAC e ANATEL), bem como o preenchimento do
formulário de solicitação de acesso ao espaço aéreo por ARPs (MINISTÉRIO DA DEFESA, 2017,
p.34 IC 100-40). Para mais informações e compressão dos processos de acesso ao espaço aéreo,
os fluxogramas de solicitação de acesso e o de análise para emissão das autorizações podem ser
consultados na ICA 100-40.
46
4.2.1 Operações de RPAS em Áreas Confinadas
No momento das operações com ARPs o piloto deve estar sob posse de documentos essenciais
para as operações, dentre eles a autorização de acesso ao espaço aéreo emitida pelo DECEA,
certificado de homologação do sistema de comunicação frente a ANATEL e a documentação
exigida pela ANAC. Em resumo, é necessário:
a) Registro do ARP junto à ANAC;
b) Certificação do operador junto à ANAC;
c) Portabilidade do registro de radiofrequência junto à ANATEL;
d) Habilitação de observador de ARP (quando necessário);
e) Contratação de apólices de seguro contra terceiros e patrimônio;
f) Autorização de voo advinda do órgão competente regional responsável;
g) Análises de risco operacional e plano de terminação de voo;
h) NOTAM (quando necessário).
O piloto remoto em comando de uma aeronave não tripulada é diretamente responsável pela
condução segura da aeronave, pelas consequências advindas, e tem autoridade final por sua
operação (ANAC, 2017, p.6).
Quando o piloto de ARP infringir quaisquer orientações, o Código Brasileiro de Aeronáutica
orienta a aplicação e apuração de sanções administrativas através de penalidades previstas em
seu artigo 289. A ICA 100-40 considera infrações:
“a) acessar o espaço aéreo sem autorização para tal;
b) interferir em frequências do Serviço Móvel Aeronáutico (SMA) ou do Serviço Fixo
Aeronáutico (SFA);
c) utilizar de informações falsas para a obtenção de autorização de acesso ao espaço
aéreo;
d) voar próximo ou sobrevoar aglomeração de pessoas que não sejam anuentes
com a operação;
47
e) deixar de cumprir as demais Normas e Instruções emitidas pelo DECEA; e
f) descumprir as demais normas constantes do Código Brasileiro de Aeronáutica e
da legislação complementar.
NOTA 1: Independentemente do resultado da análise do processo administrativo
realizado pela Junta de Julgamento da Aeronáutica (JJAer), o Explorador/Operador
que descumprir o previsto nesta Instrução estará sujeito à suspensão de sua inscrição
no SARPAS por um período de até 6 (seis) meses, quando medida necessária à
segurança da navegação aérea.
NOTA 2: Cabe ao DECEA, quando julgar necessário como medida de manutenção da
segurança das operações, suspender qualquer operação, prevista ou em andamento,
devendo comunicar a suspensão ao seu Explorador/Operador.
NOTA 3: Atenção especial deve ser dada à PROIBIÇÃO do sobrevoo de áreas de
segurança, sem a expressa autorização para tal” (MINISTÉRIO DA DEFESA, 2017, p.
47).
4.4 NOTAM
Em alguns casos que condicionem operação perigosa é necessário a emissão de NOTAM (Notice
to Airmen – Aviso aos aviadores), que tem por finalidade divulgar antecipadamente a informação
aeronáutica de interesse direto e imediato para a segurança e regularidade da navegação aérea.
O operador deve manter no local da operação uma avaliação de risco operacional seguindo a IS
nº 94-003, a qual estabelece os procedimentos para a elaboração e utilização da avaliação de risco,
item obrigatório para aeronaves com peso máximo de decolagem acima de 250g. As avaliações
de risco podem ser utilizadas assim que forem impressas e assinadas por um responsável, não
sendo necessário aprovação ou envio para a ANAC.
49
• Perda do sistema de controle de voo (como falha do piloto automático);
• Falha do sistema de navegação;
• Perda de altitude;
• Perda do enlace de pilotagem (Link de C2);
• Perda do status do enlace de pilotagem;
• Interferência no enlace de pilotagem;
• Falha de Comunicação com os Órgãos ATC;
• Voo em condições meteorológicas adversas (como formação de gelo, ventos fortes, etc.)
fora dos limites estabelecidos em manual;
• Falha eletrônica;
• Perda de energia na Estação de Pilotagem Remota; e
• Choque com outra aeronave ou obstáculo.
Nestes planos de terminação de voo são identificados pontos onde eventualmente o retorno
à base não seja possível e igualmente são identificados pontos ou polígonos de terminação ao
longo da rota ou plano de voo.
O local dos pontos de terminação de voo e os crash sites são distribuídos no plano de terminação
de voo levando em consideração a performance do RPA utilizado, topografia local, densidade
demográfica (se aplicável) e o uso e ocupação do solo da área de interesse trabalhada.
4.5.6 Infrações
50
5 P L A N E J A M E NTO D O L E VA NTA M E NTO
Uma das primeiras atividades é a análise do terreno objeto de estudo. Com a área bem definida,
deve-se observar, através de ferramentas como o Google Earth por exemplo, a existência de
diferenças de elevação, linhas de transmissão e torres de comunicação, pois essas podem oferecer
interferências no sistema de navegação ou comunicação e possíveis obstáculos que possam
causar acidentes. É importante estabelecer possíveis locais que possam ser utilizados como área
de decolagem e pouso, bem como para possíveis emergências.
É importante que, no momento da delimitação da área de estudo, seja contemplada uma borda
de segurança, que deve garantir a completude dos dados, evitando falta de sobreposição e a
possível não modelagem do limite da área de estudo.
O planejamento dos pontos de apoio deve levar em consideração a coleta de pontos de controle
e pontos de verificação. Os pontos de controle são responsáveis por realizar a amarração do bloco
52
fotogramétrico ao terreno e servem de apoio no momento da fototriangulação, além de adicionar
precisões melhores no produto, pois um levantamento sem pontos de controle utiliza apenas o
GPS/IMU embarcado na aeronave (que apresenta erro posicional de 5 a 10 metros, enquanto os
pontos de controle terão precisão centimétrica ou decimétrica). Os pontos de verificação são
utilizados para análise de precisão e acurácia dos produtos gerados de forma a atestar a sua
qualidade.
A localização da materialização desses pontos pode ser planejada através de análise prévia
da região com a utilização, por exemplo, da ferramenta Google Earth, buscando localizar feições
naturais fotoidentificáveis que possam servir como pontos de controle ou verificação e selecionar
locais para a materialização de pontos artificiais.
Deve-se sempre dispor os pontos levantados na área de estudo buscando uma maior robustez
geométrica. Esses pontos não devem ser distribuídos aleatoriamente, é necessária a materialização
e coleta de acordo com as características analisadas no terreno e o planejamento de voo. Pode-
se citar cinco critérios que devem ser levados em consideração no momento da distribuição dos
pontos de apoio.
1. Pontos nas extremidades da área mapeada: devido à baixa sobreposição nas bordas, a
precisão tende a ser menor quando comparada à área central;
53
Exemplo e distribuição de pontos de controle próximos a borda da área de estudo. Fonte: UFPR/ITTI (2020).
2. Pontos em locais de grande variação de altitude: técnica utilizada para melhorar a precisão
altimétrica do produto;
Exemplo de distribuição de pontos de controle em locais com grande variação de altitude. Fonte: UFPR/ITTI (2020).
54
3. Pontos nas sobreposições em casos de múltiplos voos: visa facilitar a junção dos blocos
fotogramétricos no momento do processamento;
Exemplo e distribuição de pontos nas sobreposições de diferentes blocos fotogramétricos. Fonte: UFPR/ITTI (2020).
A avaliação de risco operacional é um item obrigatório para aeronaves com peso máximo de
decolagem acima de 250 gramas, sendo necessário que o operador mantenha esse documento
no local da operação. É admitido o porte do documento em meio digital, mas se a assinatura for à
tinta, é necessária a cópia digitalizada com a assinatura e rubricas visíveis (MLENEK, 2018).
De acordo com a IS nº 94-003, os responsáveis são alternados de acordo com o risco assumido
pelas operações, como apresentado a seguir:
• Risco extremo, o responsável é o presidente da empresa;
• Riscos alto, moderado e baixo, o responsável é a chefia imediata do operador de ARPS;
• Riscos muito baixos, o próprio operador pode ser o responsável pela avaliação de risco.
De acordo com a IS nº 94-003, perigo significa condição, objeto ou atividade que potencialmente
pode causar lesões às pessoas, danos a bens (equipamentos ou estruturas), perda de pessoal ou
redução da habilidade para desempenhar uma função determinada (ANAC, 2017, p. 2).
Em consequência, a definição de risco pela IS nº 94-003, significa a avaliação das consequências
de um perigo, expressa em termos de probabilidade e severidade, tomando como referência a
pior condição possível (ANAC, 2017, p. 2).
Probabilidade e severidade tem as seguintes definições:
Probabilidade significa a frequência com que um evento, como consequência de um
perigo existente, possa ocorrer. A divisão dos níveis de probabilidade fica a critério
do operador, mas como orientação ela pode ser dividida em 5 níveis:
Nível 5 (frequente): é provável que ocorra muitas vezes, ou historicamente tem
ocorrido frequentemente;
Nível 4 (ocasional): é provável que ocorra algumas vezes, ou historicamente tem
56
ocorrido com pouca frequência;
Nível 3 (remoto): é improvável, mas é possível que venha a ocorrer, ou ocorre
raramente;
Nível 2 (improvável): é bastante improvável que ocorra e não se tem notícia de que
tenha alguma vez ocorrido; e
Nível 1 (muito improvável): é quase impossível que o evento ocorra (ANAC, 2017, p.
2).
Severidade significa o grau da consequência de um evento, como decorrência de
um perigo existente ou de uma situação insegura, tomando como referência a pior
condição possível. A divisão dos níveis de severidade fica a critério do operador, mas
como orientação ela pode ser dividida em 5 níveis;
Nível A (catastrófico): morte de múltiplas pessoas;
Nível B (crítico): morte de pessoa, lesões gravíssimas, capazes de deixar sequelas
significativas e/ou incapacitantes, tais como cegueira, paralisia, amputações, etc.;
Nível C (significativo): lesões sérias a pessoas, mas não incapacitantes nem com
sequelas significativas;
Nível D (pequeno): incidentes menores, danos a objetos, animais ou vegetação no
solo, lesões leves;
Nível E (insignificante): somente danos ao equipamento (ANAC, 2017, p. 2).
Tolerabilidade significa o grau de aceitabilidade em razão do resultado da avaliação de risco. A
tolerabilidade deve ser estabelecida pelo operador e a seu critério (ANAC, 2017, p. 2).
Como base a tolerabilidade pode seguir o proposto pela IS nº 94-003, para a classificação dos
riscos operacionais através da matriz conforme a figura:
Risco extremo (classificações 4A, 5A e 5B): a operação não deve ocorrer e, caso
esteja ocorrendo, deve cessar imediatamente, enquanto persistir a condição ou até
que medidas mitigadoras suficientes reduzam o risco para um nível aceitável pelo
operador. Caso ainda se decida prosseguir com a operação, controles preventivos
para mitigação do risco devem ser estabelecidos, devem estar em vigor e a aprovação
da hierarquia mais alta da empresa (presidente) deve ser requerida (ANAC, 2017, p.
3).
Alto risco (classificações 3A, 4B e 5C): a operação não deveria ocorrer e, caso
esteja ocorrendo, deveria cessar imediatamente, enquanto persistir a condição ou
até que medidas mitigadoras suficientes reduzam o risco para um nível aceitável pelo
operador. Caso ainda se decida prosseguir com a operação, controles preventivos
para mitigação do risco devem ser estabelecidos, devem estar em vigor e a aprovação
da hierarquia de gestão da empresa (gerente ou diretor) deve ser requerida (ANAC,
2017, p. 3).
57
Risco moderado (classificações 1A, 2A, 2B, 3B, 3C, 4C, 4D, 5D, 5E): a operação
pode ocorrer com controles preventivos para mitigação do risco estabelecidos e
que devem estar em vigor, conforme necessários. Operações neste nível de risco
deveriam ser aprovadas por nível hierárquico imediatamente superior (chefia
imediata) (ANAC, 2017, p. 3).
Baixo risco (classificações 1B, 1C, 2C, 2D, 3D, 3E, 4E): a operação pode ocorrer
e controles preventivos para mitigação de risco e aprovação por nível hierárquico
imediatamente superior (chefia imediata) são opcionais (ANAC, 2017, p. 3).
Risco muito baixo (classificações 1D, 1E e 2E): a operação é aceitável como
concebida, e nenhum controle preventivo para mitigação de risco e aprovação é
requerida para que ela ocorra (ANAC, 2017, p. 3).
De acordo com a ANAC, pelo menos três tipos de situações deveriam ser considerados na
avaliação em cada cenário (dentre outros que o operador conseguir identificar) (MLENEK, 2018):
• Perda do link;
• Existência de tráfego aéreo local; e
• Presença de pessoas não anuentes.
Solicitação de
operações RPAS
Replanejamento
Não da operação
Utilização do
Análise do espaço aéreo
tráfego aéreo autorizada?
Realização do
Sim
voo
Processo de análise
conforme o anexo B
58
6 P R O C E S S A M E NTO F OTO G R A M É T R IC O
Uma das características da fotogrametria digital é a simplificação dos processos através do alto
grau de automação, a redução dos custos pela utilização de computadores e a não necessidade
de instrumentos fotogramétricos (AMORIM, 2012 apud MELO JÚNIOR, 2018). As formas de
processamento da fotogrametria digital são: manual, semiautomático e automático. Quanto ao
processamento automático, este se baseia na construção de modelos a partir da geração de
nuvens de pontos por processamento digital de imagens e princípios da fotogrametria, e seu
objetivo é a obtenção da geometria de objetos e cenas a partir de imagens 2D (DONEUS et al,
2011 apud MELO JÚNIOR, 2018).
A produção dos produtos fotogramétricos através das imagens áreas levantadas é o objetivo
do processamento fotogramétrico. Entre os produtos obtidos estão o mosaico de ortoimagens,
o modelo tridimensional da superfície imageada, o modelo digital de elevação e as curvas de
nível (DALMOLIN, 2018). As etapas do processamento fotogramétrico digital para a obtenção do
ortomosaico são:
1) Alinhamento das imagens;
2) Registro dos pontos de apoio;
3) Refinamento do alinhamento;
4) Geração da nuvem de pontos;
5) Classificação da nuvem de pontos;
6) Elaboração de modelos digitais;
7) Geração de curvas de nível;
8) Geração do ortomosaico;
60
MDS e MDT. Fonte: UFPR/ITTI (2020).
7 P R O C E SS A M E NTO F OTO G R A M É T R IC O
A forma mais usual de se avaliar uma ortoimagem é através da exatidão posicional, que “refere-
se a quão próxima a posição de um dado espacial está em relação à sua realidade no terreno”
(SANTOS et al, 2016 apud NOGUEIRA JR, 2003; ARIZA 2002). A exatidão posicional pode ser
definida como indicador de nível de qualidade dos dados e para avaliá-la é necessário realizar uma
amostra de checagem no produto, de forma a obter as discrepâncias entre o dado espacial e o
dado de checagem, que podem ser submetidas à análise de qualidade.
No Brasil, essa avaliação pode ser realizada a partir do Padrão de Exatidão Cartográfica para
Produtos Cartográficos Digitais (PEC-PCD), utilizando como base a metodologia descrita pela
Especificação Técnica para Controle de Qualidade de Dados Geoespaciais (ET-CQGD,) elaborada
pelo comitê de normatização da Diretoria de Serviço Geográfico (DSG) do Exército Brasileiro. O
objetivo desta especificação técnica é “fornecer uma forma padronizada para avaliar a qualidade
dos produtos de conjuntos de dados geoespaciais integrantes do Sistema Cartográfico Nacional
(SCN) do Brasil” (DSG, 2016). A ET-CQDG utiliza os valores instituídos para o PEC-PCD através
da Especificação Técnica para a Aquisição de Dados Geoespaciais Vetoriais (ET-ADGV), sendo
estes valores estabelecidos a partir da revisão do PEC determinado pelo Decreto nº 89.817 de 20
de junho de 1984.
7.1 PEC-PCD
Em 1984, o Decreto-lei nº 89.817 foi criado pela CONCAR (Comissão Nacional de Cartografia) e
“estabelece as normas a serem observadas por todas as entidades públicas e privadas produtoras
62
e usuárias de serviços cartográficos, de natureza cartográfica e atividades correlatas, sob a
denominação de Instruções Reguladoras das Normas Técnicas da Cartografia Nacional” (Decreto-
lei nº 89.817/1984). O artigo oitavo do decreto aborda a questão da avaliação da exatidão posicional
de uma carta, estabelecendo o Padrão de Exatidão Cartográfica (PEC), sendo resumido pelo
autor Santos (2010) na figura a seguir.
O decreto indica os critérios para classificação, como: noventa por cento dos pontos testados
da carta não deverão apresentar erro superior ao PEC planimétrico estabelecido; em relação a
altitude, noventa por cento dos pontos isolados de altitude obtidos através de interpolação de
curvas de nível também não deverão apresentar erro superior ao PEC planimétrico estabelecido.
Para o enquadramento nas classes A, B ou C, o decreto aponta os valores explicitados no Quadro
1. Santos (2010) aponta que o decreto não determina uma metodologia para sua aplicação, sendo
assim, várias metodologias foram desenvolvidas com base nos valores estabelecidos.
Em junho de 2011, em conformidade com a Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais (INDE),
foi elaborada pela DSG a especificação técnica que regula e padroniza a aquisição da geometria
dos dados geoespaciais vetoriais e atributos correlacionados, intitulada ET-ADGV (Santos et al,
2015). Essa especificação apresenta a criação de uma classe mais restritiva destinada a produtos
cartográficos digitais (PCD) (SANTOS et al, 2015) com base no Decreto-lei nº 89.817, de 20 de
junho de 1984.
O enquadramento de um produto em uma das classes do PEC-PCD é realizado utilizando
a metodologia descrita na ET-CQDG. Dividida em três capítulos, a norma aborda no Capítulo I
os objetivos e referências normativas, no Capítulo II os conceitos que servem para descrever a
qualidade dos dados geoespaciais, definindo também os elementos de qualidade e seus descritores
(DSG, 2016). O Capítulo III elenca um conjunto de medidas de qualidade dos dados, baseadas em
indicadores, classificados de acordo com sua categoria e elementos correspondentes (DSG, 2016)
para em seguida, no Capítulo IV, apresentar os procedimentos para avaliar a qualidade de cada
tipo de produto. Por fim, no Capítulo V, é descrito como informar os resultados da qualidade de
forma padronizada.
Na ET-CQDG são agrupados elementos de qualidade em cinco categorias: completude,
consistência lógica, exatidão posicional, exatidão temporal, e exatidão temática. Em resumo,
a norma aponta que, segundo Garcia-Balboa (2011), essas categorias agrupam elementos de
qualidade similares que descrevem se os dados estão completos (completude), se estão na
posição correta (exatidão posicional), se os atributos estão corretos (exatidão temática) e se
cumprem com todas as regras lógicas (consistência lógica).
O capítulo de maior interesse para esse tópico é o Capítulo III, sendo que nele são abordadas as
medidas de qualidade dos dados, tratando no item 3.4 a questão da exatidão posicional. Segundo
a descrição na ET-CQDG, que cita diretamente Maranhão (2013), a exatidão posicional é obtida a
partir da comparação do desvio padrão obtido com o valor correspondente à escala do produto,
verificando também se a exatidão posicional se enquadra no mínimo exigido. A obtenção do
desvio padrão se dá através do cálculo das diferenças entre as coordenadas do terreno e seus
pontos homólogos no produto.
Para a realização das medidas, é apresentada a tabela 21 da norma, descrita como “Medida
Padrão de Exatidão Posicional para Produtos Cartográficos Digitais - planimetria (PAP-PCD)
Planimétrico”, que pode ser visualizada a seguir:
63
Linha Componente Descrição
4 Medida básica -
64
Linha Componente Descrição
9 Estrutura do valor -
11 Exemplo Anexo B. 1
O item 6 do quadro aborda a descrição dos passos que devem ser seguidos para o cálculo do
PAP-PCD. Basicamente são quatro os cálculos: erro em cada componente, dados pelas equações
(1) e (2); componente horizontal, equação (3); e erro médio quadrático dos erros da amostra,
equação (4). A equação 3 depende dos resultados das equações (1) e (2), da mesma forma que a
equação (4) necessita dos resultados da equação (3) para ser realizada. As equações (1) e (2) são
geradas para cada componente dos pontos de controle, enquanto a equação (3) é gerada para
as resultantes dos pontos de controle. Por fim, a equação (4) é calculada para a amostra como
um todo.
A análise dos resultados obtidos pelas equações consiste em, primeiramente, comparar o valor
de cada componente horizontal com o erro máximo admissível (EM) do quadro da PEC-PCD,
sendo que o produto será enquadrado na classe que tiver pelo menos 90% dos pontos com erro
inferior ao EM tabelado. Em seguida, é necessário comparar o erro médio quadrático (EMQh),
valor calculado na equação (4), com o erro-padrão da classe enquadrada através da análise do
EM. Caso o valor seja maior, deve-se procurar em cada classe até encontrar valor menor. Caso não
se enquadre em nenhuma classe, a medida será não conforme.
65
Padrão de exatidão cartográfica dos produtos cartográficos digitais. Fonte: Adaptada de DSG
(2016).
A figura acima é a tabela base para a realização das análises do PAP-PCD. Nela são apresentados
valores de erro médio (EM) e erro padrão (EP) para as classes “A”, “B”, “C” e “D” nas escalas
1:1.1000, 1:2.000, 1:5.000 e 1:10.000.
Baseando-se em Galo e Camargo (1994), que citam Merchant (1982), pode-se realizar as análises
estatísticas para tendência e precisão. A análise de tendência, ou exatidão, será realizada através
do teste t de Student, enquanto a análise de precisão será realizada através do teste estatístico
Qui-Quadrado. Os autores explanam sobre a importância de se diferenciar exatidão de precisão:
“a precisão está ligada com a dispersão das observações em torno do valor médio, enquanto
a exatidão está relacionada com a proximidade do valor real, ou seja, sem a influência de erros
sistemáticos” (GALO & CAMARGO, 1994).
(5)
(6)
(7)
A partir desses resultados é possível calcular o valor de t amostral (tX) (8) através da divisão do
cálculo da média aritmética ( x) pelo desvio-padrão tabelado conforme PEC ( x) multiplicado pena
raiz quadrada do tamanho da amostra, tanto para as coordenadas x, quanto para as coordenadas
y, e também o intervalo de confiança pela fórmula (9):
66
(8)
(9)
(10)
(11)
Com o valor obtido para “t” é possível verificar se este está no intervalo de aceitação ou
rejeição da hipótese nula. Caso “t” esteja no intervalo de aceitação, aceita-se a hipótese nula, o
que significa que o produto não possui tendência. Enquanto se “t” estiver fora do intervalo de
aceitação, deve-se rejeitar a hipótese nula, constatando assim que o produto possui tendência.
Galo e Camargo (1994) informam a existência de tendência em alguma direção é causada por
algum tipo de problema, mas se o problema for conhecido, é possível minimizar seu efeito através
da subtração do seu valor a cada coordenada lida no produto.
Para a realização da análise de precisão a equação do desvio-padrão (8) pode ser reaproveitada,
pois se faz necessário comparar o resultado desta com o erro padrão (EP) esperado, ou seja, o
erro padrão tabelado pela PEC-PCD. Com isso é possível analisar a precisão para a classe na qual
se deseja realizar o teste. Sendo assim, o teste de hipótese é o seguinte:
(12)
(13)
Uma vez que o erro-padrão (EP) é calculado para a resultante, a fórmula adotada por Galo e
Camargo (1994) para o cálculo do erro esperado para componente é:
(14)
(15)
67
Com o resultado obtido através da fórmula 15 é possível realizar a verificação do intervalo de
aceitação:
(16)
Se a expressão anterior (16) não for obedecida, rejeita-se a hipótese (H0) de que a ortoimagem
atenda à precisão pré-estabelecida.
Metodologia proposta por Delazari et al (2018) para o cálculo da precisão e exatidão máxima
alcançada, apontam que as fórmulas (8) e (15) foram reescritas nas equações (17) e (18) para que
possa ser realizado o cálculo dos valores de desvio-padrão ( x) e variância amostral (σ x2) com
base nos valores estatísticos estabelecidos nas tabelas “t de Student”(tn-1, 2) e “Qui-Quadrado” (xn-
1, 2) onde “n” representa o tamanho da amostra de pontos de verificação e corresponde ao nível
de significância de 90% conforme estabelecido no PEC-PCD” (DELAZARI et al, 2018).
(17)
(18)
(19)
(20)
68
8 G E O P R O C E S S A M E NTO
69
8.1 Estrutura de dados geográficos (ou geodésicos, ou espaciais)
A componente espacial dos dados geoespaciais pode ser representada a partir de dois formatos
de estruturas, sendo eles: o formato vetorial e o formato raster.
O formato matricial, ou “raster”, é constituído por uma matriz bidimensional M(m,n) composta
por m linhas e n colunas de pixels, e todas as células dessa grade matricial tem o mesmo tamanho.
A cada célula ou pixel da matriz é atribuído um código ou numeração que representa o atributo
da informação geográfica representado. Seu formato de representação considera o espaço como
sendo uma superfície plana, onde cada célula está associada a uma porção do terreno e podem
ser acessadas pelas suas coordenadas. Por ser uma representação bidimensional, cada raster
pode representar apenas um atributo por vez. A resolução deste sistema é dada pela relação
entre a porção de área da superfície terrestre que um pixel representa.
Uma das vantagens de se trabalhar com dados raster é a facilidade de se manipular eles
computacionalmente. Contudo, a desvantagem é o tamanho dos arquivos, que geralmente
requerem muito espaço de armazenamento (ROSA, 1996). Os arquivos do tipo raster são
armazenados nos formatos Tiff, GeoTiff, Jpeg, BMP, IMG, GRIB, GRID, MrSid, entre outros. Existem
alguns tipos de representação matricial, sendo elas (CÂMARA, 2001):
70
Cada célula de uma representação matricial pode representar qualquer elemento do mundo
real, por exemplo temperatura, altitudes, reflectâncias, níveis de cinza, ou podem representar
categorias temáticas do mundo real, por exemplo, classes de vegetação (FERREIRA, 2006).
O formato vetorial tenta reproduzir um elemento da forma mais fiel possível (considerando a
escala de análise e representação utilizada), e assim os limites espaciais são mais bem definidos
(SAMPAIO e BRANDALIZE, 2018). Devido a maior definição, este tipo de dado é mais complexo
se comparado ao formato matricial e o processamento destes dados é maior, ainda que ocupem
menos espaço de armazenamento (ROSA, 1996). Os arquivos vetoriais são armazenados nos
formatos Shapefile, DWG, DXF, DGN, coverage, VPF, Geopackage, etc.
8.4 Diferenças
Entre as diferenças entre o formato vetorial e o formato matricial estão o volume de dados, a
eficiência de manipulação e processamento, entre outras. A escolha da utilização de determinado
72
formato vai depender de qual análise espacial se quer realizar, quais ferramentas disponíveis e a
disponibilidade dos dados, por exemplo. Na tabela a seguir estão apresentados alguns aspectos
referentes a estas estruturas, citados em diversas bibliografias.
Estrutura de representação matricial e vetorial. Fonte: Adaptado de Lisboa Filho e Iochpe (1996) e
Câmara (2005).
Os dados geoespaciais podem ser classificados da seguinte forma, como citado por Câmara
(2001):
• Dados temáticos: descreve a distribuição espacial de uma grandeza geográfica e a expressa
de forma qualitativa. As informações qualitativas destes mapas podem ser obtidas através
de levantamento em campo ou por classificação de imagens. Alguns exemplos são as classes
de uso do solo ou a classificação geológica. Este tipo de dado pode ser representado através
de matrizes ou vetores;
• Dados cadastrais: cada um de seus elementos é um objeto distinto e possui atributos
individuais. Entre os exemplos estão os lotes de uma cidade e seus atributos, como o nome
do dono, localização, valor venal, IPTU, etc. Estes dados são armazenados e representados
através da estrutura vetorial;
• Redes: cada objeto geográfico possui uma localização geográfica exata e está sempre
associado a atributos descritivos presentes no banco de dados. A topologia de redes
constitui um grafo, que armazena informações sobre recursos que fluem entre localizações
geográficas distintas. Comumente utilizadas para representar rotas de tráfego;
• Modelos numéricos do terreno: os MNT’s representam a informação quantitativa de uma
grandeza que varia continuamente no espaço. Podem ser definidos como um modelo
matemático tridimensional que reproduz uma superfície real a partir de algoritmos e de um
conjunto par de coordenadas e com atributos denotados de z, que descrevem a variação
contínua da superfície. Geralmente são utilizados para representar a altimetria de um local;
73
• Imagens: são fotografias da superfície da Terra, obtidas através de fotogrametria ou de
sensoriamento remoto. Cada pixel tem um valor referente à porção de energia eletromagnética
refletida.
8.6 Diferenças
Um Sistema de Informação Geográfica (SIG) é definido por Rosa (1996) como “um sistema
destinado à aquisição, armazenamento, manipulação, análise, simulação, modelagem e apresentação
de dados referidos espacialmente na superfície terrestre, integrando diversas tecnologias”. De
maneira mais simples, os SIG’s são sistemas que realizam o tratamento computacional de dados
geográficos e recuperam informações qualitativas e quantitativas relacionadas à localização de
uma feição espacial (CÂMARA, 2005).
Segundo Câmara (2005), existem pelo menos três maneiras de utilizar um SIG: como ferramenta
para produção de mapas; como suporte para análise espacial de fenômenos; e como um banco
de dados geográficos, com funções de armazenamento e recuperação de informação espacial. O
autor define as principais características de SIG’s como:
“Inserir e integrar, numa única base de dados, informações espaciais provenientes
de dados cartográficos, dados censitários e cadastro urbano e rural, imagens de
satélite, redes e modelos numéricos de terreno;
Oferecer mecanismos para combinar as várias informações, através de algoritmos
de manipulação e análise, bem como para consultar, recuperar, visualizar e plotar o
conteúdo da base de dados georreferenciados” (CÂMARA, 2001).
O objetivo geral de um SIG, segundo Rosa (1996), é ser um instrumento para todas áreas que
utilizem dados geoespaciais, permitindo que os dados sejam integrados em uma única base de
informações e também combinando dados de diferentes fontes e formatos, além de gerar novas
informações geográficas. Estes sistemas automatizam e facilitam a realização de tarefas e análises
complexas, além de garantir a grande interdisciplinaridade na sua utilização.
Auxiliado por Computador) por exemplo, também se utilizam de dados geográficos (FERREIRA,
2006). Segundo Rosa (1996), a diferença entre os softwares de SIG e de CAD consiste no fato
de que o segundo é um instrumento de desenho digital, não um sistema de processamento de
informação espacial como o SIG.
Em relação aos dados vetoriais, os SIG’s são mais sofisticados em comparação com o CAD, pois
permitem a atribuição de outras informações às entidades espaciais, maiores volumes de dados
e possuem recursos para tratamento de topologia (CÂMARA, 2001). Os dois sistemas podem ser
utilizados em conjunto, quando necessário. No Brasil, os softwares de Sistemas de Informações
Geográficas mais utilizados são o ArcGIS, o QGIS, o SPRING, o IDRISI.
As principais manipulações dos dados geográficos através dos SIG’s, segundo Rosa (1996), são:
• Medidas: a mensuração de grandezas de elementos geográficos, como a medida de
distâncias, de perímetros, de área e de volume. Podem ser obtidas através dos dados vetoriais
e dos dados matriciais. A precisão das medidas obtidas através de dados matriciais é dada
em função do tamanho da porção de área da superfície que um pixel recobre, enquanto que
a precisão de dados vetoriais depende da precisão da localização dos dados;
• Reclassificação: é a atribuição de outros atributos para as feições dos dados geográficos.
Um exemplo é a simplificação das classes de tipos de rochas que são muito detalhadas para
uma determinada escala, em um menor número de classes de forma a agrupar os dados.
Este tipo de operação pode ser realizado em dados matriciais e em dados vetoriais;
74
• Sobreposição: através de operadores lógicos, pode-se realizar análises espaciais entre
temas distintos, como o recorte de um determinado vetor de dados sobre o uso do solo em
relação à área de uma unidade de conservação;
• Ponderação: através da média ponderada dos dados dos planos de informação são geradas
novas informações. Um exemplo é a geração de mapas de aptidão agrícola das terras, a
partir de vários planos de informação;
• Tabulação cruzada: cálculo da área das interseções entre as classes de dois planos de
informação. É realizada através de dados matriciais cujas resoluções espaciais sejam
idênticas. Por exemplo, gerar os dados de declividade para cada classe de uso do solo de
uma região;
• Operadores de vizinhança: seleção de uma área localizada a uma certa distância
(especificada pelo usuário) de uma feição de interesse. Um exemplo é a definição de áreas
de proteção ambiental (APP) em torno da hidrografia de uma região;
• Análise de redes: como, por exemplo, a avaliação da melhor rota para veículos de emergência,
baseado na combinação da distância total do caminho e do congestionamento antecipado,
que é dependente do horário do dia;
• Análises estatísticas: este tipo de análise varia entre:
a) Estatística descritiva: cálculo de valores estatísticos dos atributos dos planos de informação,
como a média, a mediana, a variância, covariância, etc.;
b) Histogramas: o histograma de um conjunto de dados é a distribuição da frequência de
ocorrência dos valores dos atributos;
c) Valores extremos: determinação dos valores máximos e mínimos dos atributos numa área
específica;
d) Correlação: cálculo da distribuição espacial dos atributos de dois ou mais planos de
informação, utilizando geralmente um coeficiente de correlação ou uma equação de regressão
linear, quando se trabalha com intervalos ou razão entre variáveis.
• Consulta a banco de dados georreferenciado: pesquisar por atributos armazenados no
banco de dados geográficos. Um exemplo é a seleção de municípios com uma determinada
densidade demográfica.
Adicionalmente a essas operações, Lisboa Filho e Iochpe (1996) abordam também as operações
de formatação de saída, que são operações referentes à construção de mapas ou imagens
georreferenciadas, ou seja, na representação cartográfica das informações geográficas obtidas.
Entre as operações, incluem-se:
- Anotações em mapas (adição dos elementos cartográficos de um mapa, como escala, legenda,
direção do norte, título e fonte dos dados);
- Posicionamento de rótulos dos dados geoespaciais;
- Adoção de uma simbologia para as primitivas cartográficas.
Segundo Câmara e Medeiros (2003), as operações que podem ser realizadas com dados
matriciais podem ser classificadas entre operações pontuais, operações de vizinhança e operações
zonais.
As operações pontuais geram como dado de saída uma matriz cujos valores são dados em
função das matrizes de entrada em cada localização correspondente. São classificadas em três
tipos (CÂMARA e MEDEIROS, 2003):
1) Operações unárias: a entrada é um único arquivo matricial. Ex: reclassificação de raster de
uso do solo, fatiamento de classes de declividade;
2) Operações booleanas: geram um dado temático a partir de regras aplicadas aos dados
75
vetoriais, a partir de regras que especificam o conjunto de condições a serem satisfeitas para cada
tema de saída. Ex: gerar um mapa de aptidão agrícola a partir dos mapas de solo, declividade,
precipitação e do conjunto hipotético de regras específicas;
3) Operações matemáticas: funções aritméticas, logarítmicas e trigonométricas aplicadas a
dados matriciais. Ex: álgebra de mapas.
As operações de vizinhança funcionam, segundo Câmara e Medeiros (2003), de forma que
“dado uma matriz, computa-se uma matriz distinta de saída com base na dimensão e forma de
uma vizinhança em torno de cada localização”. Alguns exemplos deste tipo de operação incluem
o cálculo de mínimo, máximo, médias para uma vizinhança em torno de um ponto, métodos de
interpolação espacial como mapa de declividade, etc.
As operações zonais fazem com que uma matriz de dados temáticos defina a região de
interesse onde serão calculadas as funções, que podem ser média, mínimo, desvio padrão, índice
de variedade de valores, entre outras. As operações zonais são aplicadas sobre regiões específicas
de uma matriz de entrada, onde as restrições são fornecidas por outra matriz (CÂMARA e
MEDEIROS, 2003). Os autores dão o seguinte exemplo: “dado um mapa de solos e um mapa de
declividade da mesma região, obtenha a declividade média para cada tipo de solo”.
Por fim, as operações aplicadas aos dados matriciais incluem operações de classificação
contínuas, que são definidas pelo uso das noções de conjuntos nebulosos (“fuzzy”) para substituir
os processos tradicionais de geração de mapas. Os resultados deste tipo de informação incluem
mais detalhes sobre a transição gradual e reduz a perda de informação relacionados com os
atributos de cada parcela da matriz (CÂMARA e MEDEIROS, 2003).
As operações que podem ser realizadas em dados vetoriais, segundo Câmara e Medeiros
(2003), são classificadas entre restrições sobre atributos, restrições espaciais e propriedades
de geo-objetos. Estas operações utilizam as relações topológicas, as relações métricas unárias
(comprimento, área, perímetro) e binárias (distância, direção).
As restrições sobre atributos são computadas através dos atributos das entidades espaciais.
Por exemplo, “seleção das cidades de um estado onde a mortalidade infantil é maior que 10%”
(CÂMARA e MEDEIROS, 2003).
As restrições espaciais são realizadas através dos relacionamentos topológicos das feições
geográficas. Utilizam-se de restrições espaciais através de relacionamento topológicos, como
“toca”, “dentro de”, “disjunto”, “cruza e sobrepõe”. Como exemplo, “seleção de todas as escolas
municipais dentro do bairro Jardim Satélite” (CÂMARA e MEDEIROS, 2003).
As propriedades de geo-objetos resultam em predicados de um vetor ou um conjunto de
vetores, como o “cálculo da média do valor venal das casas do bairro Jardim Esplanada” (CÂMARA
e MEDEIROS, 2003).
Segundo Câmara e Medeiros (2003), pode-se também relacionar os dados matriciais e vetoriais
através das seguintes operações:
• Geração de vetor a partir de matrizes: realizada através das operações de identificação e de
intersecção espacial. A operação de identificação transforma uma matriz temática em um
vetor, de modo que os valores de um dos atributos de cada feição do vetor correspondem aos
valores da matriz temática. A operação de intersecção espacial produz um mapa cadastral
a partir da intersecção espacial de matrizes. Um exemplo de aplicação é a intersecção entre
mapas temáticos para obter as unidades geoambentais;
• Geração de matrizes a partir de vetores: obtenção de matrizes a partir de atributos
76
(descritivos ou espaciais) de um dado vetorial. A nova matriz representa uma restrição
espacial definida a partir de um vetor ou a variação de um atributo do conjunto de vetores.
Um exemplo é a geração de uma matriz de distâncias a partir da feição de uma estrada;
• Operações mistas: são operações sobre matrizes onde as restrições são dadas por vetores
(variante das operações zonais) e o contrário também é válido (junção espacial).
1. Operações zonais sobre matrizes onde vetores são restrições: “dados a altimetria e o mapa
de municípios do Vale do Paraíba, crie um novo mapa onde cada município será representado
por sua altitude média” (CÂMARA e MEDEIROS, 2003);
2. Operações de seleção espacial onde uma matriz é a restrição: “dado um mapa de solos e
um mapa de rios do Estado do Paraná, indique todos os rios que cruzam áreas com solos
podzólicos” (CÂMARA e MEDEIROS, 2003).
77
R E F E R Ê NC I A S
78
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