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il FUNGOES MANIFESTAS E LATENTES ABORDAGEM A CODIFICAGAO DA ANALISE FUNCIONAL NA SOCIOLOGIA A ANALISE FUNCIONAL é, ao mesmo tempo, a mais promissora e Possivelmente a menos codificada das orientagées “contemporaneas—dos” problemas de _interpretacdo _sociolégica. Tendo-se —desenvolvido em™ muitas frentes intelectuais ao mesmo tempo, cresceu em fragmentos © emendas e nfo em profundidade. As Tealizagdes da andlise funcio- nal so suficientes para sugerir que a sua maior Promessa sera cum- Prida progressivamente, assim como suas atuais deficiéncias dio teste- munho da necessidade de se revisar periddicamente o Passado, a fim de melhor edificar para o futuro. No minimo as reavaliagdes ocasionais irazem 4 luz da discusséo franca muitas dificuldades gue, de outro mo- do, permaneceriam tacitas e néo mencionadas. Como todos os esquemas interpretalivos, a andlise funcional depen- de de uma triplice alianga entre a teoria, o método e os dados. Dos trés aliados, 0 método é, em todos os aspectos, 0 mais fraco. Muitos dos principais praticantes da andlise funcional devotaramse as formulagdes tedricas e a0 aclaramento dos conceitos; alguns encharcaram-se de dados diretamente pertinentes a uma estrutura funcional de referéncia; porém Poucos séo os que romperam o siléncio preponderante, relativo ao mo- do de concretizar a andlise funcional. No entanto, a quantidade e va- Tiedade das andlises funcionais levam & conclusio de que alguns métodos tém sido empregados e despertam a esperancga de que muito se possa aprender de seus estudos e exames. Embora seja possivel examinar com proveito os métodos sem. refe- réncia teoria ou aos dados substantivos — e é Precisamente esta a ta- refa da meiodologia ou da légica dos processos — as Gisciplinas empiri- camente orientadas séo servidas do modo mais completo pela investi- gac&o dos processos, se levados em conta seus problemas tedricos e re sultados essenciais. Pois o uso do “método” envolve n&o sdmente a 16- gica mas, desafortunadamente talve para aquéles que precisam lutar ty a6 Robert K. Merton com as dificuldades da pesquisa, também os problemas priticos de nive- Jar os dados com os requisites da teoria. Pelo menos, esta ¢ @ nossa premissa. Em conseqiléncia, entreteceremos nossa exposigfo com uma revisio sistemética de algumas das principais concepg6es da teoria fun- ional. OS VOCABULARIOS DA ANALISE FUNCIONAL Desde os seus primérdios, a abordagem funcional na sociologia tem sofrido de confusio terminolégica. Com demasiada fregiléncia, um sé térmo tem sido usado para simbotizar diferentes conceitos, assim como 0 mesmo conceito tem sido simbolizado por térmos diferentes. Tanto a cla- reza da anélise como a adequagéo da comunicagéo tém sido vitimas de tal leviandade no uso das palavras. As vézes, a anélise sofre pela invo- luntéria variagéo do contetido conceptual de um dado térmo, e @ comu- nicagdo com outras pessoas se rompe quando essencialmente o mesmo contetido 6 obscurecido por uma bateria de diversos térmos. Nao teremos senio de seguir, por breve espago, 0s caprichos do conceito de “fungio” para descobrir como a claridade conceptual se perde e a comunicacio se destréi_ com vocabulérios de anélise funcional competidores entre si. Um 86 Térmo, Diversos Conceitos A palavra “fungiio” tem sido utilizada por diversas disciplinas e pela Unguagem popular, com o resultado nao inesperado de que sua signifi. vagdo ceja freqilentemente obscurecida na propria sociologia. Limitando- “nos apenas cinco significados comumente reservados a esta palavra, desprezaremos mumerosos outros. Para comecar, ha o uso popular de acérdo com o qual “fungo” se refere a alguma reunido publica ou fes- tividade, usualmente realizada com tonalidades cerimoniais. # em tal sentido que se deve admitir o significado, quando um jornal afirma num eabecalho: “O Prefeito Tobin ndo apdia a fungSo social”, pois a noticia esclarece que “O Prefeito Tobin ceclarou hoje que nfo esté interessado em qualquer fungio social, nem autorizou a pessoa alguma que vendes- se bilhetes cu propaganda para qualquer evento”. Embora tal uso seja tastante comum, entra tao raramente na literatura académica, que em no- da contribui para o caos que prevalece na terminologia. Evidentemente, éste significado da palavra é inteiramente estranho & andlise funcional na sociologia. ‘Um segundo uso torna o térmo “funcio", virtualmente equivalente ‘ao térmo “ocupacé ‘Max Weber, por exemplo, define ocupagiio como “o modo de especializacéo, especificagio e combinacio das fungdes de ‘um individuo, com referéncia so que para éle constitua a base de uma ‘oportunidade continua de ganho ou lucro”.! ste uso do térmo 6 freqilen- 2. Max Weber, Theory of Social (Londron: William Hodge 4 1d Zeonemls Organtaatiot 4 1047), 250, (ealtade por Talcott Parsons), “ | Soctologia — Teoria e Estrutura te, e na verdade quase tipico, por alguns economistas que se referem & “andlise funcional de um grupo” quando relatam a distribuigio de ocupa- des em tal grupo, Sendo ésse o caso, pode ser de bom aviso seguir a sugestéo de Sargent Florence? de que seja adotada para tais investiga- gées a frase descritivamente mais préxima, “andlise ocupacional”. Um terceiro uso, representando uma variedade especial do anterior, encontra-se tanto na linguagem popular como na ciéncia politica. O tér- mo fung&o é usado freqiientemente a fim de significar as atividades atri- buidas ao ocupante de uma situacdo social e, mais particularmente, de um cargo ou posigiio politica. Isto deu origem ao térmo “funcionario”, ou “empregado”. Embora neste sentido a fungio se sobreponha em signi- ficagio mais extensa ao significado adotado para tal térmo em sociolo- gia e em antropologia, seria melhor que a excluissemos, uma vez que ela distrai a atengdo do fato de que as fungdes sao realizadas n&o sé pelos ocupantes de posicdes designadas, como também por uma extensa escala FAF de atividades padronizadas, de processos sociais, de padrées de cultura, e de sistemas de crencga encontrados sociedade. Desde que foi introduzida por Leibniz,)a palavra fungdo_ten nificagaéo mais exata na matematica,~ na quai ela “se S refere a Ww yel_considerada em 1 relagio a uma ou mais de Outras” Variaveis, em tér- mos da quai ela pode ser expressa, ou di de “cujo valor depende si Seu proprio valor. Estz concepcao, num sentido mais extenso (e freqiientemente mais impreciso), é expressa por frases como “interdependéncia funcio- a Sif ual” e “relac¢des funcionais”)\ tao freqiientemente adotadas por cientistas 7 sociais.? Quandd Mannheim) observa Ae “cada fato social é uma fun- Gao do tempo e do_lugar em que ; OT GusndS “um demégrafo afir-~ ‘ma que “os indices de nascimento é: 40. pa fungéo da situagéo econémi- | ca”, estéo manifestamente fazendo uso da significagio matematica, em- bora a primeira no seja relatada na forma de equagdes e a segunda o seja. O texto geralmente torna claro que o térmo fungao esta sendo ysado neste sentido matematico, mas os cientistas sociais movem-se de fol P ne 14 para c4 entre esta significagéo e outra que Ihe é relativa, embora dis-“ tinta, a qual também envolve a nogdo de ‘“interdependéncia”, “relagao fe -reciproca”, ou “vi “variag6e s mutuamente dependentes”. “~ ela € boa, ou pelo menos es: “fungio” sdmente pode ter um signifies ado, em térmos de uma imposta sencial.* A palayrg finalidade € deixada indefinida ou implicita, como sendo o finalidade;** se ta) “interésse da sociedade”, folga para a arbitrariedade, ng + uma descrigo das institnuigies necessariamente conduziré a uma teleologia conser. As notas de Myrdal so instrutivas, menos por sua conclusio do que Por suas premissas, Pois, conforme temogs Observado, éle se apdia em dois postulados tio freqiientemente adotados Para chegar 4 acusacao irrestrita que aquéle que descreve as instituigdes em térmos de fungées, esta, inevitavelmente, entregue a “uma teleologia Seré interessante perguntar quando 0 perquiridor escapou das Te f3t0, $0 @ andlise funcional na sociologia fOsse comprometida com @ teleologia, oy pelo menos com a, teleologia conservadora, ela tomar. “Sela logo sujeita, e alli humano, ela seria submetida a ee a + O analista funcional Poderia, entdo, enfrentar ¢ estino de Sécrates (embora néo pela mesma razfio) que sugeriu ter Deus 1080 abaixo do nariz, a tim de que pudéssemos ‘J8cob Viner, “Adam Smith . and Laissez Faire”, Devese admitir que Myrdal aceit ci 35, 206. Journal of Political Economy, 1937, 3 ita tuitame ® toda andlise tun ona). & m2 lente a teoria da indispensabilidade © Bratulto, co: al8 apropriadamente 9 Bost Al mi 1056 Leviton eo rican ote « i ional ‘ulado vago e duvidoso da unidede fun’ 5ES Bo ny 44) 1 ‘Nova Torque: Harper & Brothers, 19 Soctologta — Teoria e Estrutura 105 — ee ee € Serene ae zar do cheiro de nossos alimentos. % Ou, de maneira semelhante aos tedlogos cristios baseados no arguments do designio, éle poderia ser logrado por um Benjamin Franklin, 0 qual demonstrava que evidente- mente Devs “queria que nés bebericdssemos, pois éle féz as juntas do brago justamente do comprimente necessdrio para levarmos um copo & boca, sem ultrapassar do alvo ou deixar de atingilo: “Adoremos, pois, de copo na mio, a esta benevolente sabedoria; adoremos, e bebamos”. 37 Ou éle poderia estar disposto a declaragées mais sérias, como a de Mi- chelet quando observava “quiio belo tudo que disposto pela Natureza. Logo que a crienga chega a éste mundo, encontra uma mie que esté Pronta para cuidar dela”’8 De maneira semelhante a qualquer outro Sistema de pensamento, que se limite com a teleologia, embora evite atravessar a fronteira daquele estranho e improdutivo territdrio, a and- Use funcional em sociologia € ameacada por uma reduciio ao absurdo, desde que adote o postulado de que tddas as estruturas sociais so indis. pensdveis ao preenchimento de necessidades funcionais notérias. A Andlise Funcional como Elemento Radical £ muito interessante observar que outros autores tém chegado a con- clusdes exatamente opostas & acusacéo de que a andlise funcional este- ja intrinsecamente comprometida com o conceito de que tudo o que sxisie é ber e de que éste mundo é, na verdade, o melhor dos mundos Possiveis. fistes observadores, LaPiere por exemplo, sugerem que a andlise funcional seja uma abordagem inerentemente critica na perspec. tiva, e pragmética no julgamento: HG... uma significacio mals profunda do que poderia psrecer & primeira vista, na pas- sagem da descricfo estrutural para a anélise funcional, nas cléncias socials. Esta ‘passasem representa uma ruptura com 0 absolutismo social e © moralismo da Teologia eristé. Seo aspecto importante de qualquer estrutura social ¢ 0 de suas fungées, segue-se que nenhuma estrutura pode ser julgads tnleamente em térmos de estruturas. Na pratica isto signiticn, or exemplo, que o sistema de famflia patriarcal € coletivamente valioso, anicamente 26 © na extensio em que funcione atingindo @ satisfacéo das finalldades coletivas. Como estrutura social, nfo tem nenhum valor intrinseco, uma vez que seu valor funcional varierf de tempor em tempos e de lugar para lugar. © ponto de vista funcional aplicado ao comportamento coletivo, sem diivida, afrontara todos aquéles que screditam que as estruturas sociopsicol6gicas tenham valéres intrinseco: Assim, para aquéles que acreditam que o ritual eclesisstico é bom, porque 6 um ritual eclesids. tieo, @ aflrmagio de que algumas ceriménias eclesjistices sio apenas movimentos formals, varlos de significagio religiosa, ¢ que outros séo funcionalmente comparéveis a representagées teatrais, e que ainda outros sio uma forma de festanca e, portanto, sio comparévels & uma orgia de bebados, seré uma afronta ao senso comum, um ataque & integridade des pessoas decentes, ou, pelo menos, os desvarios de um pobre louco.39 86, Farrington tece algumas outras observagbes muito interessantes sdbre pseudoteleclogia em sua obra Science in Antiquity (Londres: T. Butterworth, 1936), 160. ‘81. Trecho de‘uma carta de Franklin ao padre Morellet, extraido das Memérias deste timo por Dixon Wecter, The Hero in America (Nova Iorque: Scribner, 1941), 53-54, 38. Foi Sigmund Freud que colheu esta observago em A Mulher, de Michelet. %. Richard LaPiere, Collective Behavior, (Nova Torque: McGraw-Hill, 1938), 55-56 [0 grifo nosso]. 106 Robert K. Merton — rion © fato de que a andlise funcicnal pode ser encarada por alguns ¢o, mo inerentemente conservadora, e por outros como intrinsecamente Ta. dical, sugere que talvez ela no seja inerentemente uma coisa, nem outra, Sugere que a anélise funcional pode nfo implicar em nenhum compro. misso ideoldgico intrinseco, embora, como outras formas de anilise go. cioldgica, ela possa estar imbufda de uma extensa variedade de val6res ideolégicos. Ora, nfo é esta a primeira vez que se atribuem significa. qées ideoldgicas diametralmente opostas a uma orientag&o tedrica ga ciéncia social ou da filosofia social. Portanto, pode ser util examinar um dos mals notaveis exemplos no qual uma concepcdo socioldgica e rietodolégica tenha sido objeto das mais variadas imputagées ideolo- gicas e comparar éste exemplo, na medida do possivel, com o caso da analise funcional. O exemplo de comparacéo 6 o do materialismo dia. lético. Seus porta-vozes séo os historiadores da economia, fildsofos so- ciais e revolucionérios profissionais, Karl Marx e seu intimo amigo e colaborador Friedrich Engels. As Orientagées Ideolégicas do Materialismo Dialético 1. “A mistificagio que a dialética sofre mas mos de Hegel, de modo algum o impede de ser o primeiro a apresentar sua forma gera) de fancionamento, de manei- Ya compreensiva e consciente. Com éle, ela esté de cabeca para bal- x0. Ela poder& ser novamente colocada direito, se for descoberta a parte central racional dentro da concha misti 2. “Em sua forma mistificads a dialética tornou-se moda na Alemanha, porque pa- receu transfigurar e glorificar 0 estado de coisas existente. 3. “Em sua forma racional 6 um es- candalo e uma abominagio para a burgue- sia © seus professéres doutrindrios, porque abrange em seu reconhecimento com- Preensivo € afirmativo do estado de coisas existente, também a0 mesmo tempo o Teconhecimento da negacdo daquele estado [de coisas], de sua inevitével ruptura; As Orientagies Ideolégicas comparaveis, da Andlise Funcional 1, Alguns analistas funcionais, gratuita- mente, admitiram que tédas as estruturas sociais existentes preenchem fungdes sociais indispenséveis. Isto é pura {é, misticismo, se assim o quiserem, em v2z de ser o produto final de uma inquiricio sustentada e sistemdtica. # preciso ga nhar © postulado, e nao herdé-lo, se é que Sle deva conquistar a aceitagso dos ho mens da ciéncla social. 2. Os trés postulados: unidade fun clonal, universalidade e indispensabilidade, compreendem um sistema de premissas. a5 quais inevitavelmente conduzem a ume glorificagio do estado de coisas existente- 3. Em suas formas mats empiricamente orientadas e analiticamente precisas, # anélise funcional & treqtientemente enc rada com suspeicdo por aguéles que cil” sideram uma estrutura social ne como eternamente fixada e imune aoe dance, Esta forma de anilise tunel mais minuciosa abrange nao $6 um oon das fungies das estruturas sociais °°) tes, mas também um estudo de suas fungdes em relag&o aos individu mente situados, aos subgrupos o ficagdes sociais, e & sociedade cons! prowl em sua maior extensio. Admite © sdriamente, como veremos, que air saldo liquido do agregado de consea™ de uma estrutura social existent? fos aiverso° iu estat: iderads Sociologia — Teoria e Estrutura 4. “porque ela considera cada forma desenvolvida histérieamente como em mo- vimento fluido, e, portanto, leva em conta sua natureza transitéria, nfo menos que sua existéncia momentinea; porque ela néo permite que nada se Ihe imponha e 6, em sua esséncia, critica e revolucionéria.” 40. 5. “... tOdas as situagdes histéricas - ‘sucessivas so apenas estagios transitérios, No infind4vel caminho do desenvolvimento da sociedade humana, da forma inferior para a superior. Cada estigio é necessario, ¢, portanto, justificado para @ tempo ¢ condieSes aos quais deve sua origem.” 6. “Mas nas mais novas e mais altas condicdes que gradualmente se desenvol- 107 mente disfuncional, desenvolve-se forte ¢ insistente pressio para a mudanca. Aqui embora isto ainda tenha que ser compro- vado, 6 possivel que, para além de um certo ponto, esta pressio provocaré ine- vitavelmente rumos mais ou menos deter- minados de mudanga social. 4. Embora a anjlise funcional haja fu- calizado com freqiiéncia a estitica da es- trutura social em vez da dindmica da mudanga social, tal aqui néo é intrinseco @ ésse sistema de andlise. Apontando as fungdes, ao mesmo tempo que as dis- fungées, éste modo de anélise pode avaliar no s6 as bases da estabilidade soclal como também as fontes potencials da mudanca social. A frase “formas histdricamente desenvolvidas” pode ser lembrete util de que as estruturas sociais estéo tipicamente sofrendo uma mudanga perceptivel. Resta descobrir as pressées que tavorecem varios tapos de mudanca. Na medida em que a anélise funcional focalize inteiramente as conseqiténcias funcionais, ela se inclina a uma ideologia ultraconservadora; na me- dida em que ela focalize inteiramente as conseqiiéncias disfuncionats, _inclina-se em diregio | uma utopia ultra-radical “Em sua esséncia”, nio 6 uma coisa nem outra. 5. Reconhecendo, como o devem fazer, que as estruturas sociais estfio em perma- mente mudanga, os analistas sociais de- vem, néo obstante, explorar os elementos interdependentes e com freqiléncia matua- mente apoiadores, da estrutura social. De modo geral, parece que a maior parte das sociedades s&io integradas ao ponto em que muitos, senio todos, dos seus elemen- tos, estejam reclprocamente ajustados. As estruturas sociais néo possuem um sorti- mento de atributos tomado ao acaso, mas tais atributos estdo entrelagados de varias maneiras, e com freqiiéncia se apéiam ma- tuamente. Reconhecer isso, néo 6 adotar uma afirmagio indiscriminada de todo status quo; deixar de reconhecer isso, ¢ sucumbir as tentagdes de utopismo radicat. 6. As tensdes e os esforgos numa estru- tura social, que se acumulam como con- - Até aqui, o trecho est& citado sem supressdes, nem acréscimos e sémente com o grifo adequado para dar maior énfase @ grande fonte do materialismo dialético, que ¢ 0 Capital, de Karl Marx (Chicago: C. H. Kerr, 1906), I, 25-26. 108 vem em sen proprio selo, cada uma delas perde sua valldade © justificagio. Ela necessariamente dard lugar a formas mais elevadas que também por sua ver decairfio e perecerso...” 7. *O [materlalismo dialético], revela o carster transitério de cada coisa e em cada coisa; nada pode durar ante éle, ex: ceto © processo ininterrupto de vir @ ser e de desaparecer... A [dialética] evidente- ‘mente, tem também um Iado conservador: Robert K. Merton seqiéncics disfuncionais de elementos existentes, nfio so apertadas, confinadas © cerceadas mediante planejamento social apropriado, e no seu devido desenvolvi- mento conduzirio & ruptura institucional @ @ mudangas sociais bfsicas. Quando essa mudanga pessou para além de um Ponto dado, nfo facilmente identificavel, 6 costumeiro dizer-se que um novo sistema social emergiu. 7. Mas de novo, deve ser relterado: nem 86 @ mudanga nem s6 a fixidez sdzinha podem ser o objeto proprio do estudo do analista funcional. A medida que exami- namos o curso da historia, parece razod. velmente claro que tédas as principals reconhece que os estégios definidos do conhecimento e da sociedade sio justifica- dos por seu tempo e circunstancias; mas sdmente até af. O conservadorismo de tal modo de encarar as coisas é relativo; po- rém seu earater revolucionério é absoluto — 0 tinico absoluto que éle admite”.41 estruturas sociais, em seu devido tempo, tém sido cumulativamente modificadas ou abruptamente terminadas. Em qualquer caso, elas no tém sido eternamente fixas © inflexiveis as mudancas. Porém, num dado momento de observagio, qualquer uma dessas estruturas sociais pode estar toleravelmente acomodada, tanto sos va- lores subjetivos de muitos, ou da maior parte da populacdo, como &s condigées i objetivas com que ela 6 controntada. Re- conhecer isto € ser consentaneo com os fa- tos, € nfo fiel a uma ideologia preestabe- leoida. E pelo mesmo motivo, quando se observa que a estrutura nfo esté ajus- tada as necessidades do povo, ou com as condigées de ago igualmente s6lidas, isto também deve ser reconhecido. Quem ousar fazer tudo isso pode tornarse um anoliste funcional; quem ousar menos, néo seré.42 Esta comparagéo sistematica poderé ser o bastante para sugerir que @ andlise funcional, da mesma forma que a dialética, nfo acarreta ne- cessdriamente um compromisso ideolégico especffico. Isso nado quer di- zer que tais compromissos nao estejam freqitentemente implicitos nas obras dos analistas funcionais. Porém parece extrinseco, em lugar de intrinseco 2 teoria funcional. Aqui, tal como em outros departamen- tos de atividade intelectual, 0 abuso nfo impede as possibilidades do uso. Criticamente revisada, a andlise funcional é neutra relativamente aos princinais sistemas ideoldgicos. Nessa extensio, e somente neste 41. Da mesma forma, éste trecho € citsdo apenas com a supressio de material irrele- vante e também com grifo nosso, da obra de Friedrich Engels, Karl Marx, Selected Works, (Moscou; Sociedade Edit6ra Cooperativa, 1935), I, 422. 2. Admitese que esta pardfrase contraria a inteng&o original do bardo, mas espera-se que @ ocasio justifique o falta.

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