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Claus Roxin Funcionalismo e imputacéo objetiva no Direito Penal (Tradugdo dos §§ 7 ¢ 11, nm. 1/119, de Strafrecht, Allgemeiner Teil, 3" edigéo, Miinchen, Beck, 1997) Tradugio ¢ introdugio de Luis Greco Rio de Jonetro « Séo Paulo 2002 Todos ot direitos resesvades b LIVRARIA BEDITORA RENOVAR LIDA, MATRIZ: Rua du Assembldio, 102421 - Cento - RE (CEP: OOU-90} ~ Tel: (21) 2531-2205 Fax: 21) 25312138 LIVRARIA: Run da Assenbign, 10» loa E Centro RY GE, 2001 1.90% - Tein: (2t) 2581-1516 7 2931-1288 Fay (21) 2531-1873 LIAL RY: Rua Antunes Maciel, 177 -Sdo Cristévdo - R) = CEP: 20940.010 ‘els: (21) 2569-1863 /2580:8500 1 3860-6199 - Pax: (21) 3589-1962 FILIAL SAO PAULO: Roa Santo Amur, 257-A Bela Vista ~SP~ CEP: 01315-001 “Tels: (i 3108-9053 ¢ 31085849 3101-3036 / 3101-3985 - Fax (11) 31050359, ‘Wurwediterarenovencom.br _ renovar@editerarenovat.com.br ‘SAC: 0800-221863, Contethe Etvoriat Artalde Lopes Sissehind — Presidente Carlos Alberto Menezes Dieta Cao Taewe Luiz Emyauio F. da Rosa ks. Celso de Albugueraue Mello Ricatdo Pereira Lice Ricardo Lobe Tones Vivente de Paulo Bare Revisdo Moogrifica Maria da Gloria 8. de Carvalho Reoale B. Carvalho a Ji Cesir Gomes Ratworayo Blevrdnico “TopTenos Eaigdes Gries Liga, Ne 9881 CIP Basi. Catalogagdena-foae Sindicato Nacional des Baitores de Livres, RU Roxio, Clas Beat Funcinalsinoe imputagto bjaiva no Direito Penal Cus owin. — Trndago de Lots Gress, — 3 ed, — Io de denies Revovar, 2002. ep ISBN 85-7147-512-1Cbrach) 1, Boas, Dieeto Penal — Brasil. 1 Titulo, (COD: 342.5024 . Probidaw peed (Lei 9.61058) Tinpresso no Bea Prined in Brac! Esclarecimento ao leitor “A comiribuigao do pensamento sistemdtico te- leolégico-racional (funcional) para a teoria do tipo dirige-se, principalmente, ao tipo objetivo, que recebe uma dimensio completamente nova através da teoria da imputazao objetiva” (RO- XIN, Finaliudt und objektive Zurechnung, em: Ar- min Kaufmann-GS, 1989, p. 237). Este livro apresenta 20 pablico brasileira dois capitu- los do Tratado de Direito Penal, de Claus Roxin'. Pri- meiramente, 0 método, a construcio polftico-criminal dos conceitos ¢ do sistema da teoria do crime (§ 8); depois, uma aplicacéio deste método, a funcionalizacao do tipo através da modema teoria da imputacao objetiva (§ 11). Assim, pode o leitor entender em que contexto a teoria se enquadra, enxergé-la como a aplicagdo conse quente de uma determinada maneira de pensar 0 direito 1 ROXIN, Strafrecht, Allgemeiner Teil, vel. 1, 3° edigio, Munchen, Beck, 1997, penal e suas categorias: o funcionalismo, Com autoriza- ao do autor, aczescentei uma introdugio, de minke la- ra, que visa Com autorizagao do autor, chamar a atencéo para certos aspectos que creio nao tio evidentes no atual debate da doutrina brasileira em torno da teorie da im- putagao objetiva. ‘Agora, algumas obdservagdes predominantemente técnicas. Tive a preocupacao de seguir a numeracao de parigrafos do original. Na Alemanha, é comum que os manuais numerem seus pardgrafos, ¢ as citagdes igual- mente costumam referir-se menos ds paginas que a estes néimeros 3s margens dos parégrafos (os Randnummer, que os alemics abrevian por Ra.). O leitor vera que 0 proprio Roxin se vale destes niimeros de margem quan- do faz referénciaa si proprio; assim também o fiz no meu estudo introdutério, No curso desta tradugao, utilizei- me da abreviatura nm. {niimero de marge). Assim, aquele que citar um paragrafo deste livro traduzido pode estar certo de que o encontrar sob © mesmo néimero no original, e vice-versa, as citagoes do original em outros trabalhos podem ser aqui facilmente encontradas. J4 a numeracao das notas de rodapé, em virtude de acrésci- mo de notas do tradutor, discrepa do original aleméo. O primeiro volume da obra original possui vinte quatro capitulos, cada qual numerado em um §. Este simbolo lé-se Paragraph. E preciso cuidado para evitar confusio com aquilo que nds comumente chamamos de pargrafos ~ os meros Abschnitte ou Absatze (que, em portugues, também se traduziriam por paragrafos!) nu- merados segundo os ntimeros de margem. Os capftulos traduaidos sio 0 § 7 €0§ LI, sendo gue este tiltimo nao foi traduzido até o final; limitei-me 3 problemética da causalidade ¢ da imputagio objetiva. ‘Todas as abreviaturas constantes do texto encon- tram-se (ou, a0 menos, deveriam encontrar-se) na lista de abreviaturas Quanto ao modo de citar, segui o original, discrepan- do daquilo a que estamos acostumados no Brasil. Em regra, as livros citados sio apresentados da seguinte ma- netra: Spendel, 1948, 12 (tomei como exemple 2 nota de rodapé £0, do § 11). Isto significa nome do autor, ano, pagina. Para saber a que obra 0 autor se refere, € preciso consultar a bibliografia, em ordem cronologica, que an- tecede a cada pardgrafo. Os algarismos em poténcia sig- nificam o mimero da edigao. Assim, em Binding, Nor- men, vol. I, “1922, 0 4 significa quarta edigao. Da mesma forma, AT ? significa que o livso citado (no caso, uma ‘parte geral) se encontra na segunda edico. Gostaria, a0 final, de agradecer a todos que me aju- daram e estimularam para que este trabalho pudesse ser conelufdo, Primeiramente, € claro, meu obrigado a meu professor Claus Roxin, por seu apoio, amizade ¢ confian- a. Devo muito também aos amigos que me ajudaram com corregées @ sugestdes: meu pai, Leonardo Greco, meu quase-irmao, Fernando Gama, e meus grandes companheiros penalistas Joao Paulo Martinelli ¢ Johnny Felipe Alves Lima. Agradeco, por fim, ao dr. Horst We- ver, Professor da Escola Paulista de Medicina, pela ajuda com os termos médicos alemaes, e 3 Editora Renovar, por ter possibilitado esta publicagao em espaco de tem- po tamanhamente limitado, E uma dedicatéria: este trabalho fica entregue aos meus ex-alunos do 3° perfodo, manhé e noite, do primei- ro semestre de 2001, da Faculdade de Direito da UFRJ. Este livro € para vocés; para que lembremos os bons momentos que passarnos juntos! ‘Munique, dezembro de 2001 Lufs Greco Abreviaturas AG = Amtsgericht (Jutzo de 1° Grau) Anh = Ankang (Anexo) AT. ‘Allgemeines Tell (Parte Geral) ARSP = Archiv fir Rechts- und Sozialphilosophie [Arquivo para a filosofia juridice € social — periédico) BayGVBI_ = Bayerisches Gesetz- und Verordnungsblatt (Folha Jogislativa e de decsetos da Boviera) BoyObLG = Bayerisches Oberstes Landesgericht (Tribunal Supremo da Bavicra) BGB = Bergerliches Gesetzbuch (Cédigo Civil] BGH = Bundesgerichtshof (Tribunal Superior Federal, equivalente a nosso Superior Tribunal de Justia) BGHSt = Entscheidungen des Bundesgerichtshofs in Strafsachen (Decisées do Tribunal Superior Federal em matéria penal — periddico) BIMG = Betabungsmittelgesezz (Lei de Téxicos} inl Finleiture {Introducéo) FS Festschrift (Estudos em homenagem) GA = Goltdammers Archiv flr Strafrecht (Arquivo de Direito Penel de Goltdammner ~ perisdico) GerS ~ Gerichtesaal (Sala de Justisa ~ periédico) GG = Grundgesetz (Lei Fundamental, a Constituicio da Repablica Federal da Aleman’) Gs = Gedachtnisschrift (Estudos ¢m meméris) Her. Herausgeber (editor) IKV = Internationale Kriminalistische Vereinigung (Unio Criminaista Inzernacional} BI = Juristsche Blatter (Folhas Jurfdieas ~ pesiédico austrfaco) JK = Jura-Rechtsorechungskartei, Beilage der Zeitschrift Suristische Ausbildung — Jura (fichas de jurispredén- ia, anexos & revista Juristische Ausbiteung) Sora faristische Ausbildung (Formagio Jusfdice ~ periédico) IZ aristerzeitung, [Jornal das juristes = periscico} Jus Juristische Schulung (Escolamento lure = periécico} LB Lehrbuch (manual) LG = Landgericht (tribunal do Land, equivalente a nossos Tribunais de Justica) MedR = Medizinrecht (Direito da Medicina ~ periéico) MDR Monatsschrit far Deutsches Recht (Revista Mea sal de Direito Alemao ~ perisdico} ‘MschrKrim= Monatsschrift Fir Kriminclogie und Strafrecht- sreform (Revista Mensal de Criminologia e Reforma do Direite Penal ~ periodico} NIW = Neue Juristische Wochensschrift (Nova Revista Semanal Juridica ~ periédica) am. inimero de manger NStZ = Neue Zeitschrift fir Strafreche (Nova Revista de Direito Penal - periécico) OGH = Oberster Gerichtshof (Tribunal Supremo austriaco, equivalente 20 nosso $'}) RG = Reichsgericht (Tribunal do Império, equivalence a nosso STI A época do Império ¢ da Reptiblica de Weimer) RGSt = Extacheidungen des Reichgevichts in Scrafsachen (Decisées do Tribunal do Império em matéria penal = periodico) SchwZStc = Schweizerische Zeitschrift fir Strafrecht (Revista Suiga de Direito Penal — perisdico} SGB Strafgesetzbuch (Cédigo penal) Siro Strafprozessordnung (Ordenacéo de Processo Penel, equivalente a nosso Cédiga de Processo Pens!) stv Strafverteidiger (Advosado Criminalista ~ periédico) Rs Verkehrstechts-Sammjung (Compilagio de Diseite de ‘Trinsito) 2PO = Ziviprozessordaung (Ordenagto de Proceso Civil, quivalente a nosso Cédigo de Processo Civil) ZStW = Zeitscinift for die gesamte Strafrechtswissenschaft (Revista para a Ciéncia Conjunta do Dizeite Penal - periécico) INR = Zeitschrift far Verkehrsvecht (Revista de Direito de ‘Trinsito — periédico austriaca) Sumario A teoria da impuragdo objetiva: uma introducio, Lufs Greco... 1 1. Uma série de problemas ndo resolvid0$ sesnsuinsnmenenneneT UJ, Esclarecimentos prelimineres: o que € a teoria da imputagso objetiva? vn . 5 IIL, Antecedentes hist6ricos da moderna teoria da imputagio objetiva srt 1. A superagéo do naturalismo pelo neokantismo 2. O nascimento da “primeira” teoria da imputagio 3) LARENZ... se b) HONIG : 20 3. Os precursores da “moderna” teoria da impustaclo 23 a) A teoria de causalidacie adequads... - 2B b) A teoris da relevancia.. se 2B A teoria de adequagio social nn 30 4) A teoria social da agf0..0.. . 34 ) A teoria finalista da aco 37 8} A teoria do erime culposo, vn a2 4, Tentativas frustradas de revitalizar 0 conceite de imputacto. “ nn . v7 a) BARDWIG: a imputacio, um problema central do Direito Penal. on 7 48 b) KAHRS: 0 principio da evitablidade..... 58 1V. A moderna teoria da imputagéo objetiva... 57 1. O principio do nisco, de ROXIN (1970) 57 2. Ocontexto metodolégico: surgimento de uma dogmatics funcionalista do delito .... sus 62 a) A referéncia axiol6gica (politica criminal) ~... 62 ) A referencia a realidade (matéria juridica) @ 3. A fundamentagio da modemne teoria da impuragio objetiva 75, a) fundamento teérico/constituciona. 76 b} fundamenta pritico. sn 89 A. CARRS oot 104 4) Risco ¢ conkecimentos especiais do autor: & confusio entre o objetivo e 0 subjetivo. seve 108 ) Dispenssbilidade de ura imputacio objetiva nos delitos culposos “ 108 ¢) Inadequagio da imputagéo objetiva nos delitos OLOSCS eesti €) Conchsio. VA imputagio objetiva na atualidade. Modelo: alternativos de impuracéo. 1, ROXIN venous 2, JAKOBS 3, FRISCH.. 4 PUPPE... VL. Aspectas probleméticos da teoria da imputagio objetiva... 155 1. Dificuldades tebricas genéricas. sol a. Efeitos coleteras da teoria da imsputagio objetiva.. bb. Conceitas indeterminades - © Subsungdo em um grupo de casos err6neo... 4. Argumentos de autoridade... “ 2, Peculiaridades de nosso Direito positive... 1 oart. 13, caput, do CP bo art. 13,§ 1°, do CP . Oart. 122, do CP 3, 0 debate nacional -.enurnnnsne a. Imputecio objetiva, substituta da causslidade?. 1. Imputagio cbjetiva, resposta & criminalidade moderna?...178 PARTE (§ 7). Dogmética e sistema jurfdico-penais. Problemas fandamentais da teoria geral do delito.. isl 1A tarefa de dogmitica e da sistemética do Direito Penal... 186 IL. Conceits bisicos do sistema juridico-peaal 0. 189 V Agio.. se 190 2 Tipicidede 190 3. Antijuridicidade... - 191 4. Culpabilidade.... ' “191 5, Outros pressupostos da punibilidade “192 IIL, Sobre a evolucdo hist6rica da nova teoria do delito... 193 TPA descoberts dos conceites fundamentals .m.e-——-om 183 2 A sua recepcto pelo legislador. 1mm 194 3. Beapas historicas do evolugio da sistematica do delito... 197 2) O sistema clssico 198 1b) O sistema neoeléssie oa 198 cj A teoria finalista da agi0 conn 200 4. Fundamentos histérico-filoséficos da evolucie descle ‘sistema cléssico até 0 finalists ce 201 5, Asintese neoclissica-finalista da teoria do delito hhoje dominante. sn sv 203 6.0 sistema teleologico-racional (funcional) do Direito Peral rant 205 IV, Pecundidade e limites do sistema juridico-penal ‘tradicional; pensamento sistemético e problenético na dogmitica do Direito Penal oe 21 TT Vantagens do pensamento sistemstieo vcr 22 4) Faciitagao do exame de €2508...we- coo 213 'b) A crdenacso do sistema como pressuposto de darne aplicagio undforme e diferenciada do diteto 274 «9 Simplificaguo e melhor manuseabilidade do dirito 215 4) O context sisternatico como ditetsiz para @ desenvolvimento praeter legem do Dizeite 2, Perigos do pensamento sistematico 28, B) Desstenct 8 justiga do cas0 CONEEEtO onsen BOR 8) Reducio de posiblidades de solugio os problemas... 220 1} Deddogoessistemiticas ilegitimas do pento de 216 vista polftico-criminal tems BBD 4) A utilizacéo de conceitos demasiado abstratos 224 3, Pensamento probiertico . sv 227 LV. Fundamentos de um modelo teleotogico/politico-criminal de sistema. . 230 Tore a concepedo de um sistema ovientado a valores... 230 @) Aagio os venues B32, b) O tipo, 233 6) OD injust0e one no ene BBS 6) A respansabilidade... deve 241 €} Ontros pressupostes de punibilidade soon BAB 2, Dogmética jaridico-penal e politica criminal er 3, As eategorias do delito enquanto perspectivas de consideracio . se 4. A teoria do delto teleoléaia / politico-criminal ¢ ‘0 métocio de construcée do sistema € de conceites PARTE II (§ 11). A imputacdo a0 tipo ebjetivo A) A teoria do nexo causal I. Sobre a problemitica do conceit de causa nas citacias da naturera ¢ na filosofia TL A teoria da equi IIL Problemas especi IV. Teoria da adequacdo e ds relevincia B) A ulterior imputagéo ao tipo objetivo 1. Crimes de lest I Iatroducio. 2. Criagde de um sisco no permitido. 2) A exclusao da imputagao na diminuico do risco. 1b} A exclusio da impusagdo na auséncia de criago de perigo c) Criagdo de perigo e cursos causais hipotéticos dd) A excluséo da imputagdo 20s casos de risco permitido 3. Realizagto do risco nso permitida mane mn 2) A exclusio da imputagio no caso de auséncia de realizacio do perigo 1) A exclusio da imputagao no caco de nio-realizagao do risco nao permitids €) Acexcluséo da imputagio no caso de resultados néo ‘compreendidas no fim de protecdo da norma de cuidado... ¢) Comportamento altezaativo conferme 20 Di ¢ teoris do sumento do risco.. €} Sobne a combinacdo das teorias do aumento do risco e do fim de protesio. 4. O alcance do tipo. 3) Acontribuicde « uma ancacolocagio em pero dolose. 1b) A heterocolocacio em perige consemtida A atibigio a mbito de reponsbiidade aco 4) Outros casos 249) 252 259 m 27h m3 287 sow 302 306 306 306 313 313 315, 318 323 327 327 31 238 338 349) 352 353 367 375 382 Imputacdo objetiva: uma introdugio Luts Greco (Uma série de problemas no resolvidos ‘A impulagan obyetiva é, sem sombra de davida, o tema que suscita maior interesse no émbito do Direito Penal brasileiro na atualidade, Quando pensévamos po- der descansar, eis que segufamos um sistema "moderno” (0 finalista), posicionavames o dolo no tipo, distingufa- mos erro de tipo de erro de proibigio etc, publicou-se, "num curto espago de tempo, ima série de trabalhos! que 1. André CALLEGARI, A tmpuiagdo objeriva no Direito Penal, eau RT 754 (1999), p. 434 e ss. (também em Revisua Brasileira de Cincias Crimsinais 30 (2000), p. 65 e ss.); CIRINO DOS SANTOS, O tipo dos crimes dolasos de agao, em: Discursos sadiciosos, ws. 7¢ 8, (1999), p. BL fe s5 o mesmo, A madera teoria do fate punivel, Freitas Bastos, Rio de Janeiro, 2000, p. 57 @ s., p. 103 e ss; Fermande GALVAQ, Imputagdo cobjetiva, Mandementos, Bele Herizonte, 2000; Luiz Flavio GOMES, acabou com nossas ceriezas, Estes trabalhos tinham por objeto, de modo exclusivo ou néo, yma nova tcoria, ada “imputasao objetiva’y que se SPIECEREATE Co a pretensas de reformular por completo o tipo, com base tea contrat os isco'} A teoria parecia resumir-se ‘em dois pontos de vistercriagao de um risco proibido e realizacio deste risco no resultado: “a imputagio ao tipo objetivo pressupde a criacao de um risco juridicamente Teoria constitucional do delito wo Fimiar do 3 vulléno, em: Boletim do Tbecrim, n° 93, (2000), p. 3; Damésio de JESUS, inputagio objetiva, Sazsiva, Sie Paulo, 2000; 0 mesmo, Imputagdo objeto 0 ug astass no" € 0 “cartasca frastrado", em: Bole do tbeoram, 1° 86, (2000), p 13, omesm, Impistago objetiva e deg ndtca penal, Boletin do tbccrin, 1° 90, (2000), p. 2; 0 mesmo, © consentimente do ofondido em face da teoria da smputagdo objetiva, Botetim do lbeerim n° 94, (2000), p. 3; Juares TAVARES, Teoria do injusta penal, Del Rey, Belo Hortzonte, £2000, p. 205 ¢ s8,, CHAVES CAMARGO, Imputagao objetiva e direito penal brasileiro, Caltacal Pavlista, Si0 Paulo, 2001; 0 mesino, Impueagdo objetina e direto penal brasileiro, em: Botetine do fbcerim, 107, (2001), 7.688; Fernando CAPEZ, O declinio do dogma causal, em. RT 791 (2001), p. 493 e ss; Fabio Roberto D’AVILA, Crime culposo ea teoria da imputago objetiva, RT, Séo Paulo, 2001, p. 38 e s5.; JESUS, Impu- tagaa objetivae causa supervenience, em: Revisin da Assaciagao Paulista do Miniztério Pablico, n° 36 (2001},p. 54 e,;losé Carlos PAGLIUCA, A imputacae objesiva € real erm: Bolatim do Tbeerim, 101, (2001), p. 16; © mesmo, Breve enfaque sobre a imputagao abjetiva, eno: Revises da Atsociagdo Paulista do Ministerio Piblco, 2° 37 (2001), p. 44 ¢ $8} Paulo de QUEIROZ, Direito Penal ~ inradutao critica, Saraiva, S50 Peulo, 2001, p. 132 e'ssi 0 mesmo, A teortx da imprttagaa objetiva, em: Bolerim Feccrim 103, 2001], p. 6 e ss.; Rodrigo de SOUZA COSTA, Algumas eriicas ao conceito de ineremento de risco, em: Boterin do {bccrim 108 (2001), p. 14 ss, ZAFFARONI, Pantarama de les esfuerzos tetvieat para establecer criterias de impuracién objetioa, em: Ester K sovski /Zaffaroni (eds. Estudos om homenagem a Jodo Marcello Arata Jr, Lames Juris, Rio de Janciro, 2000, p. 187 es, Segunda me parece, «©: Brimeito a falecna teoria entre nds foi Juarez TAVARES, Diveito penal da negligéncia, RT, Sé0 Paulo, 1985, p. 15] e-, 2 desaprovado e a realizagao deste risco no resultado". A leitura desses trabalhos permite a seguinte conclusio: 3 tipo objetivo nao se esgota mais nos elementos aco, resultado e nexo de causalidade; para que cle se reali énecessdrio, ademais, que se acrescentem os requisitos da criagéo de um risco juridicamente desaprovado ¢ da realizagéo deste risco no resultado Contudo, esta conclusio no satisfaz. Apeser da qua- Tidade das publicagées, o clima entre os estudantes, pro- fessores ¢ aplicadores do Direito ainda é de total deso- rientacéo. Aos olhos do pablico, varias questdes perma- necem mal resolvidas. A primeira delas diz respeito aquilo que se poderia chamar de aspecto externo, a “cara”, da teoria. Ao invés de um conjunto reduzido de enunciados, a teoria da imputagao trabalha de modo disperso, difuso, fazendo referéncia a varios grupos de casos, 0 que nos parece sumamente estranho. Palavras como “comportamento al- ternative conforme ao Direito”, "diminuigéo do isco’, “contribuicéo a uma autocolocagéo em perigo”, desig nam hipdteses mais ou menos concretas, dentro das quais nao raro se procede a novas subdistingdes (por ex., entre o comportamento alternativo conforme ao Direito que com certeza nfo evitaria 0 resultado e aquele que s6 talvez o evitaria), 0 que acaba dificultando sobremaneira © aprendizado da teoria. O estudante, acostumado a aprender coisas simples, como “a culpa pressupée a vio- lacdo do dever objetivo de cuidado”, ou “o erro de proi- 2 CE as formulagSes mais ou menos similaces eo CIRINO DOS SANTOS, Moderne teoria. p57; GALVAO, Impusagdo... p. 27; JESUS, Imputagao.., pp. 3/24; TAVARES, Teoria... . 225; CAPEZ, (O declinio..., p. 502; D'AVILA, Crime culpaso..., p. 44; PAGLIUCA, Breve enfoqie.., . 44, QUEIROZ, A teoria., p. 6 bicéo exclui a culpabilidade, quando inevitével", agora se vé forcado a memorizar numerosas distingSes ¢ subdis- tingdes, Por que tantas referencias a casos? Por que esse crescente uso da inducio, de casos da jurisprudéncia, se a tradicional deducae nos Fornecia um sistema tio mais simples? Existe um segundo problema, correlacionado ao pri- meiro, mas que com ele ndo se confunde: em face de uma teoria téo detalhada e complicada, t40 diferente de tudo que ja vimos, qual seré a melhor postura... apren- dé, ou simplesmente ignoré-la? Afinal, valerd a pena 0 esforce? A questo que pede uma resposta, portanto, diz respeite 2 legitimidade / necessidade de wma tal teoria da imputagde: para que precisamos de uma imputagéo objetiva? No que ela supera as construgées sistematicas anteriores? Ela realmente promete um ganho em justica da aplicagao do Direito Penal? Se o finalismo era insufi- clente, por que no nos demos conta disso antes? Se a teoria da imputagio é téo necesséria, como sobrevive- mos até agora sem ela? Estes dois problemas sio, na verdade, conseqiiéncias de um fator que se pode qualificar de genético-estrutu- ral: a imputagio objetiva é urna construcdo estrangeira. N6s no assistimos a seu nascimento, nao a vimos futar pela sobrevivéncia, nfo sabemos que mutagées sofreu a0 passar pelos severos mecanismos de selegio natural exis- tentes ne dogmética alemé até que se consolidasse. Re- cebemos como se estivesse pronta uma teoria que veio, aos trancos ¢ barrancos, sendo discutida ¢ reformulada 20 longo de trés décadas. Logo, & natural tanto que es- tranbemos o método de que ela se vale — a construgzo de grapos de casos — como que nfo seibamos para que ela serve. © presente estudo visa, na medida do possivel, a suprir esta lacuna, Ele tentaré mostrar como surgiu a imputagéo objetiva, que caminhos ela atravessou até chegar a sua formulagio atual, ou melhor, 2 suas formu- lagées atuais. Far-se-4 um esforco no sentido de apontar como teorias jé familiares ao priblica brasileiro — 0 con- ccito social de ago, a teoria da adequacdo social, a teoria da causalidade adequada — sao, na verdade, precursoras da imputacdo objetiva, porque tentam resolver os mes- mos problemas que ela atuaimente soluciona. Além dis- so, tentar-se-a situar 0 surgimento da imputagao objetiva dentso de um contexto metodoldgico maior: o da supe racdo da sistemética finalista, de cunho ontologista, em| favor de um sistema valorativo, teleolégico, funcionalis-| tana teoria do delito, A explicagao do que seja 0 funcio- nalismo ser capaz, a uma $6 vez, de esclarecer 0 porqué do uso do método indutive (de grupos de casos), bem como 0 porgué da teoria, respondendo a pergunta quan- to 8 sua necessidade, Proceder-se-4 2 uma fundamenta- do funcional da teoria, na linka da escola de ROXIN, apés © que sero expostos, como construgées alternati- vas, alguns dos principais sistemas de imputagdo de atua- fidade: o de JAKOBS, FRISCH e PUPPE. Far-se-5, @ seguir, uma reflex sobre os efeitos da teoria da impu- tagao no restante da teoria do delito, e, para concluir, serio apontades alguns aspectos com os quais a doutrina brasileira, segundo me parece, deve ter especial cuidadso. que é 2 teoria da |. Esclarecimentos preliminares: imputagio abjetiva? Antes de prosseguirmos em nossa investigacio, cum- pre deixar claro o que significa imputagéo objetiva. Ten- tar-se-4, por ora, una simples aproximacio, cujo objeti- vo maior € permitir que também o leitor iniciante com- preenda aquilo de que se esté a falar. Para o sistema naturalista, 0 tipo dos crimes de re- iItado (também chamados, entre nés, de crimes mate- riais} esgotava-se na descricao de uma modificagéo no mnundo exterior} © tipo do homicidio consistia em “‘cau- sat a morte de alguém’; 0 dano significava "causar dana 2 coisa alheia’. Esquematicamente: Naturalismo: tipo = agéo + nexo causal + resultado. O finatismo accescenta a este tipo uma componente subjetiva: a finalidade (doloy. [io bsvstaacdo upica 3. Este sistema foi defendido, entre nbs, principalmente por HUN- GRIA, Comentirios ao Codigo Penal, vl. [, vom I, 5 edicho, Forense, Rio de Janeizo, 1978; Anibal BRUNO, Direito Penal, Parte Geral, Tema 1, 3" edigfo, Forense, Rio de Janeiro, 1967 4° O finalismo € sustentado pela maior parte de nossa atual doutriaa cf, por ex., Cézar BITENCOURT, Manual de Direito Penal, vol. |, 8° cedigao, Saraivs, $20 Paulo, 2000; Claudio BRANDAO, Teoria furidtiea do crime, Forense, Rio de Janeiro, 2004, p. 30; René DOTT!, Curso de direito penal, Forense, Rio de Ianeieo, 2001, p. 309; FRAGOSO, Ligdee de dlreito penal, Parte Geral, 5 edigio, Forense, Rio de Janeiro, 1983, . 152, n. 123; JESUS, Direita penal ~ Parte Geral, val 1, 1S edigi, Saraiva, Sé0 Paulo, 1985, p. VI; MAYRINK DA COSTA, Direito Penal = Parte Geral, vol. [, * edicao, Forense, Rio de Janeiro, 1988, p. 380; MESTIERI, Manuad de diveite penal, vol. I, Forense, Rio de Janeiro, 1999, p. 112 e ss; REGIS PRADO, Curso de Direito Penal Brasileiro, Editora Revista dos Tribunals, Sdo Paulo, 1999, p. 158 e ss; SILVA FRANCO, em: Silva Franco / Rui Stoca, Césigo penal e sua interpreta 0 jurieprudencial, 7 adicae, RT, Sao Paulo, 2001, p. 309; ZAFFARO- NU/PIERANGELI, Manual de Direizo Penal Brasileiro, 1° edigio, Bdito ra Reuste des Tribunais, Sfo Paulo, 1997, p. 409 ¢ ss.,n. 130 e ss, Costumasse, inclusive, dizer ter a Reforma Penal de 1984 adotade 0 Sinalismo, +1 afirmativa desconhece certas limites } aeuagBo do legisla- 6 Sai a respectiva finalidade] Outros dados psiquicos, come fins especiais de agir {fim libidinoso, no rapto, fim de assenhoramento, no furto), também passam a inte- grar 0 tipo. O tipo, assim, comeca a conter elementos objetives e subjetives. O conjunte dos primeiros deno- mina-se tipo objetivo; © conjunto dos segundos, tipo subjetivo, Logo: : Finalismo: tipo = tipo objetive + tipo subjetivo, onde tipo objetivo = aco + causalidade + resultado, tipo subjetivo = dolo + elementos subjetivos especiais. Note-se, contudo, que o finalismo nada mais fer. que acrescentar, ao conceito de tipe do naturalismo, a com- mente subjetive, O tipo objetivo do finalismo (agao + causatitade + resultado} é idéntico ao tipo do naturalis- mo, E exatamente isto que vem a ser modificado pela imputagio objetiva. A imputacdo objetiva vern modificar 9 contetido do tipa objetivo, dizendo que nao basta es} tarem presentes os elementos acio, causalidade e resul tado para que se possa considerar Geterminado fato ob- jetivamente tipico. E necessério, ademais, um conjunto de requisites. Este conjunto de requisiros que fazem de uma determinada causagdo ama causacao tipica, viola- dora da norma, se chama imputagéo objetiva. dar (Gao Tembrados, slits, pelos finalisas), que pode dispor com cbrigne toriedade sobre a8 conseqiienciss juridiassurgidas op6s a ocorréncia de dleterminsdes fetes, mas ado sobre as reoras gue a couteina seguirs em seu trobalho interpretativo, [sso sem meacionar que, se o firalismo entende seu coneeito de age como ua realidade ontodgica, préjur- dic, indepeadenee do leglador, causa estanheza gue se fundamente © sistem finalista com a sua adogio pelo legsldar. Que requisites sao esses? Fundamentalmente, dois. © primeiro deles ¢ 2 criagdo de wan risco juridicamente desaprovado. AcSes que nio ctiam riscos, isto &, ages nGo perigosas, jamais sfo tipicas, ainda gue venham eventualmente a causar lesdes. Para usar o exemplo clas- sico, mandar o tio para a floresta desejando que cle seja atingide por um raio ado ¢ uma ago perigosa. Ainda que © raio caia sobre a cabega do tio, vindo a maté-lé, ainda assim 0 sobrinho nao terd praticado uma ago tipica de” homicfdio, uma vez que enviar alguém & floresta nao & arriscado. Além disso, acdes que, apesar de perigosas, respeitam as exigéncias de cuidado, sio permitidas (ris- co permitide}, mesmo que no caso concreto ocasionem um resultado descrito em tipo. Um exemplo seriam as intervencées cirtirgicas conformes a lex artis: ainda que ndo tenham sucesso, se o médico agi conforme as nor- mas da sua arte, ndo terd praticado um homicidio, Contudo, para que se impute ao autor a causagio de um resultado, ndo basta que ele crie o risco ndo permi- tido {isto €, juridicamente desaprovado) de um certo resultado, E necessario, ademais, que ¢ resultado decor- ra justamente deste risco, que seja o desenvolvimento natural do perigo cuja produgao o Direite houve por berm proibir. Noutras palavras: 0 segundo requisito da impu- tagao objetiva € a realizagdo do risco no resultado. Um exemple claro em que o risco nao se realiza é 0 famoso caso da ambuldncia: a vitima, ferida pelo autor (que criou, portanto, um risco juridicamente desaprovado), falece em virtude de um acidente com a ambulincia que 2 levava ao hospital. O risco criade pelo autor, que é d morrer em virtude das feridas provocadas por sua agi de lesionar, nao se realizou no resultado, mas foi substi- tudo por outro: 0 risco de morrer em um acidente de 8 transito. O autor nfo realizou todas as elementares do tipo do homicidio. Por ore, bastam estas consideragées preliminares Completemos, unicamente, nosso esquema, da seguinte forma: Doutrina moderna®: tipo = tipo objetivo + tipo subjetiva, onde tipo objetivo > acdo + causalidade + resultado + criacdo de wn risco juridicamente desaprovade + reali- zagao do risco, tipo subjetivo = dolo + elementos subjetivos es- peciais Por firn, um esclarecimento terminolégico. E comum que 0s critérios da imputagao objetiva sejam designados por outras palavras, Fala-se, por vezes, em risco, por ‘yenes em perigo; ou em risco juridicamente desaprova~ do, risco repravado, risco censurado, risco proibido, ris- 0 nio permitido, risco nao tolerado; ou em realizacio, materializagio, concretizacao do risco no resultado. Ne-~ nhuma dessas variagées indica qualquer diferenca subs- tancial, No curso do texto, utilizarei indistintamente as diversas formulages, guiado por consideragdes predo- minantemente de clareza e estilo. ‘Agora, que sabemos em que consiste a moderna teo- tia da imputagio objctiva, poderemos analisar seus ante- cedentes, suas atuais formulagbes e suas conseqiiéncias 5. Falo, aqui, om moderna, ¢ nto em funcional, porque, apesar de Jia do funcionslismo (vide a seguir, IV, 2), aimputacio objesiva hoje @ acalhida por pratcamente todas as orientagbes doutriadrias no Direico Pena, inclusive as nfo-funcionalistas. $6 6 Finalismo ainda 2 recusa (20 renos nominalmente ~ cf 9 seguir, I¥, 4) para o restante da teoria do delito, Comegaremos com uma exposigao do contexte que langau as bases para que sequer se pudesse falar em ura qualquer teoria da im- putacio: o contexto da superacao do naturalismmo positi- vista pelo neokantismo. IIL, Antecedantes histéricos da moderna teoria da imputagao objetiva 1. A superacao do naturalismo pelo neokantismo Inipurarsignifica atribuir-algo-s-alguém; imputagéo é avaloragdo de algo como atribufvel a alguém®. Esta claro, assim, que 86 se comecard a falar em imputagio a partir do momento em que se admitir que a teoria do delito ndo se esgota em descrigdes ou verificagdes de fatos, mas constitui um conjunto de yaloragdes a que se ha de submeter determinado fato, para que ele possa ser con- siderado um crime. Este momento & aquele em que se dé a transicao do naturalismo para o neokantismo. © naturalismo, que era a perspectiva dominante dos fins do séc. XIX, ignorava a dimensio valorativa da cién- cia juridica e de seus conceitos. Para esta postura, mo- lelos de ciéncia sao a Fisica, a Biologia, a Psicologia. Se o Direito quiser ser digno deste titulo— Ciéncia— deve construir seus conceitos com base no método empirico e avalorado destas ciéncias da natureza (daf: naturalis- mo). Conceitos valorados sao simplesmente acientifi- 6 CT. MIR PUIG, Die Zureclnung im Strafrecht cines entwickelten sonialen und demokratischen Rechistaates, em: Jahrbuch flr Recht und Exhik, vol. 2, (1994, p. 225 € ,, (p. 227): "imputar é sdscrever, nto desctever, ¢ urna tal adscrigio significa uma valoracéo.” 10 cos’. Daf por que a teoria naturalista do crime se estru- ture sobre um conceito de ago segundo o qual esta nao passa de a causacio |VOlUntEMae ume modificacao no mundo exterior®. O bipo tamibGn se esgota na descricio 7 Sobre 0 contexto jusfitossfico maior do natuslisme, cf. LARENZ, Mothodenlehre der Rechiswiscenschaft, 6 edigio, Springer, Berlin etc, 1991, pp. 36 e 38. (hi traducto portuguese, de José Lamego, Calouste Gulbenkian, Lishea, 1997}; Art. KAUFMANN, Problemgeschichte der Rechtsphilcsophie, em: Arc Kaufmann / W. Hassemer, Eiafknong indie Rechesphilosephie und Rechistheorie der Gegenwart, 6 edigio, C.F Muller, Heidelberg, pp. 30 e ss, (p. 87 < s., emt especial . 91); RU- THERS, Recto, eek, Manchen, 1993, 486e88 wna arcs terizagao da imagem de mundo naturslsta, de perspectiva de um dircivo hurl de inspira religions, Eros IDPEL, Zur Uberotuitg des Natiratiomus in Rocks tad Politik, em: Esser / Thieme (eds), Festschrift far Frte vor Hippel, Mobr-Siebeck, Tibingen, 1967, p. 245 e s8; para uum enfoque sobre o naturalismo em suas conseqiitncias para o sistema juridico-penal, cf. ROXIN, Felitica criminal e sistema jurdico-penal (trad. Lu’s Greco), Renovaz, Rio de Janeiro, 2009, pp. 22/23; SCHU- NEMANN, Einfubrung in das strafrechilicke Sysiemdenken, etn: Scba- remann (cd), Grandfragen des medernen Strafrecktssysters, DeGrus tee, Berlin/New York, 1984, p. le ss, (p. 19 ¢ ss, — hi tredug espanhola, de Siha-Sénchez, em: Schinemann [ed.], Btsistema moder. nna del derecho penal: questiones furdamentales, Tecnos, Madrid, 1991, p.3L ess); FIGUEIREDO DIAS, Sabre a constragdo dogmios do fato pruntvel, ex: Questdes fundamentais de Direita Penal revisizadas, RT, So Pavlo, 1959, p. 187 es. (p. 192 ess); TAVARES, Teoria. p. 134 € ss; Luis GRECO, Inivoducda & dogmatica funcionalsta co delito, ex Revista Brasileira de Citncias Crémsnais n. 32, 2000, p. 120. ss. (p 122 ss), estudo tambézs publicedo na Revista furidcs, 272, (2000), p. 35 en; eem Noticia de Dueito Brasileiro, 7, (2000), p. 305 ¢ 38. ¢ ROXIN Functonalismo e imputacao objetiva, trad. Luis Greco, Renevar, Rie de Janciro, 2002, § 7/13 (= Straftechr, Allgemeiner Teil, ¥ edi Beck, Manches, 1997, § 7/13), neste volume que oleitor tem em mis. 8. Ch, porex, RADBRUCH, Der Handlungshegriff in seiner Bedev tung fir das Strafrecksssystem, Wissenschafitiche Buchgesellschal, Darmstadt, reedigao de 1967 da obra de 1904, pp. 71-72, LISZT, Lehrbuch des deutschen Strafrechts, 21° ¢ 22 edigho, DeGrayter, Beis u da referida modificacéo no mundo exterior, sendo valo- rativamente neutro®. A culpabilidade consistira na “rela- cdo subjetiva entre autor ¢ fato"™, sendo que “a relacio Subjetiva entre fato ¢ autor s6 pode ser psicoldgica"”. E a antijuridicidade — categoria que, j4 por definigée, nic pode scr apreendida em termos meramente empiricos © perde sua carga valorativa e reduz-se a uma dimensio puramente légica: relagéo de contrariedade entre 9 com- portaments e as normas da ordem juridica” Para um tal sistema, 2 questae da imputacao sequer se coloca, Cabe ao juz, unicarnente, verificar se 0s ¢le- mentos descritives de que se compdem 0 tipo ¢ a culpa bilidade se apresentam ou ado. Se 9 autor ceusou o Z Leipsig, 1919, p. 116: “A agio é © comportamento voluncérie em diego 20 mundo exterior, mais exatamente: modificagio, isto €, causa ‘cio 04 nao evitacto de uma modificacio (de um resultado) ao mundo exterior, através de um comportamento voluntério"; BELING, Dis Lek +e vom Tatbstandslahre, Mohr, Tubingen, 1998, pp. 9-10: a acio come “comporamento humano voluntério” 9. CL, em especial, BELING, Die Lelie... p. 145; para a evolugto do canceita de tipo até ¢ finalisena, vide SCHWEIKERT, Die Wandhngen der Tasbestandslehre set Baling, C, F. Miller, Karlsruhe, 1857, que a p 14 e ss. expe teoria do tipo de BELING. 10 LISZT, Lehrbuch... p. 151; pasa a evolugfo da conceito de culpabi lidade, cf ACHENBACH, Historische sd dagmatische Grundlagen der “strafrachtssystematischen Schuldlekre, J. Schweitzer Verlag, Berlin, 1974 (aveoria navurelista ca culpabilidade € exposta 6 p. 37 e ss). 11, LISZT, Lehrbuch... p. 152. 12. BELING, Die Lefire.., p- 117, que se refere expressamente & veorle dds antijridicidade de BINDING, calcads na ide de violacio & norma; Ge BINDING, (defensor do pasitivismo legalista, eno naturalist}, vide Die Normen wad thre Ubertretung, vol. 1, 4 edicae, Felix Meine, Leip- zig, 1922, p, 132: “E necessirio manter estritamente separados 9s con- ceitos de antijardicidade de uma agho ¢ de contrariedade de ums acio tio proibids em face dos interesses de uma vida juridicamente ordens- Gap. 134: "a norma cris acho otic; ae penal,» ago crimsro- 2 resultado, est preenchido o tipo. Se tal causacao fot prevista 08, 20 menos, previsivel, haverd culpabilidade, Nao hd o que valorar, basta verificar Contudo, no comeco do século XX jé saltavam & vista as insuficiéncias do naturalismo. Comeca a ganher Forca a perspectiva neokarstiana, que questiona 2 premis- sa segundo a quol somente as ciéncias naturals merecern © nome de ciéncia, Haveria, 20 lado das ciéncias da natureza, ciéncias da cultura, que trabalhavam com um método proprio-ymétodo referido a valores Seria err- neo que o Direito, eng Shcia da cultura, traba- Ihasse com conceitos empfricos e avalorados. Seus con ceitos tinham, isso sim, de referir-se a valores, de modo a realizé-los da forma mais completa possivel”® ‘A partir de agora, @ teoria do delito normativiza-se, passando a ser compreendida como um conjunte de va foracées. A teoria da causalidade entra ero crise, passan~ a ser atacada de todos os lados, tanto que recebe a alcuntha pejorativa de “dogma causal”. O tipo nao & 36 1a, Sobre © peokamtisino em ger, cf. PASCHER, Einfhrng in den Newkanrismus, W. Fink Verleg, Méachen, 1997; sabze e neeksntisns po Diseite, RADBRUCH, Reclisphilesphie,sepubhicacto da 3" edisto, de 1952, C.F. Mille, Herleberg, 1999, p. 13 e s8, p30 e 6: Cal tuadugao portuguese, de Cabral de Moncada, 6 ediio, Arménio Amado Ester, Coimbre, 1997); LARENZ, Merhodenleive.. p92 € sy Lute LUISE, Nows sobve a filosofa juridica dos valores, em Flosfia do ‘Direio, Sergio Fabris, Porto Alegre, 1993, p. I € 55; para o enfoque juries penal of principsl mente, o cléssico trabalho de SCHWINGE, Die Auswrrlaongen des wertbeziehenden Denkens in der Strafrectssyste mate, DeGrayter, Berlin, 1939; e trbém ROXIN, Politica criminal Pp. 25/27; SCHUNEMANN, infin... p24 € ss; FIGUEIREDO BIAS, Consragao dogmtica... p- 195 € 3; TAVARES, Teoria. D- 137 exe; GRECO, Introdugto.- p.124 ess; ROXIN, Fascination. Wildes. th Assim, principoliente, Hellmuth MAYER, Das Strafreckt des deutschen Vebkes, Ferdinand Eote Verlag, Stuttgart, 1936, p. 163 1B 2 descrisao de um acontecimento exterao, mas antijuri dicidade tipificadal®, ow seja, antise do fato sob a pers ectiva de sua lesividade social!® A culpabilidade deixa de sera mera descricio de um estado psiquico, para tornar-se a avaliegéo do fato tendo em vista a reprovabi- lidade do autor"? Neste momento, em que o tipo deixe de ser s6 cau- salidade, comeca a fazer sentido perguntar o que faz de uma causagéo qualquer uma causagéo tipica, Noutras palavras: @ partir desse momento comoga a interessar 0 problema da imputacao. neste contexte metodoligico — superacao do na- turalismo pelo método referido a valores do neokantis- mo — que surgem os primeiros esforgos que podem ser tidos como precursores da moderna teoria da imputacao objetiva, Eles serdo, agora, objeto de nossa atenci 2. O nascimento da “primeira” teoria da imputacao Falarei, aqui, em uma “primeira” teoria da imputa- $80, para diferencid-la daquiio que estou chamando de 15, MEZGER, Tratado de Derecho Penal, tome |, td. Rodiguet Mu ez, Editorial Revista de Derecho Privado, Madvid, 1955, p. 364, SAUER, Derecho Penal, Parte General, trad. da 3° edigio slemi, dé 1955, por Juan del Rosal e José Cerezo, Bosch, Barcelona, 1956, p. 11 “tipicidad es antijurdicidad tipificada’; cf, por fim, SCHWEIKERT, Die Wandlungen.., p. 48 e $5 16. A respeito deste assim chamada “antijuridicidade material”, cf. HEINITZ, Die Lelie von der matcricllen Rechiswidrigheit, em: Siraf rechitiche Abhandtungen, 211, Breslau, 1926, p. 108 e ss 17. Pioneiramente, FRANK, Uber den Aufbau des Schutdbegriffs, Al- fred Topelmann Verleg, Giessen, 1907, p. 11: *Culpablidade & re provabilidade"; cf, edemsis, ACHENBACH, Historische wd dog. matische... p. 97 € ss, que questions idéis, comumente aceita, de ter sido PRANK o pai da tecris normativa da eulpabilidade (p. 103) 14 “moderna’ teoria da imputacio. A moderna teoria da impatagao consiste, em suas linhas mestras, naquilo que expus anteriormente (item II): conjunto de pressupos- tos que fazem de uma causagio uma causagao tfpica, a saber, criagao ¢ realizacao de um risco nfo permitido em um resultado. O que diferencia, ¢ meu ver, @ teoria moderna das primeiras teorias, e justifica que estas se- jam tidas como meros precursores, e néo como formas menos desenvolvidas da moderna teoria da imputacio, sdo dois fatores: primeiramente, a formulag’o moderna trabalha com a idéia de risco, de perigo, ainda néo pre- sente de forma explicita nas primeiras construgoes; em segundo lugar, a formulacio moderna deseavolve uma série de critérios de exclusao da imputacio, enquanto as teorias primitivas esgotavam-se, fundamentalmente, em excluir os resultados imprevistveis'’, a) LARENZ Coube 2o civilista e jusfilésofo Karl LARENZ 0 mé- tito de redescobrir 0 conceito de imputagao pare o Di reito. Em sua tese de doutorade, de 1927, sobre “A teoria da imputacio de Hegel e o conceito de imputacio objetiva’!®, LARENZ vai buscar na filosofia de Hegel os TR Tansbémvesalta a diferengas ante a antiga ea moderns tensa da imputagéo ROXIN, A toria da imputagdoobjetia,rainka traduceo de "Die Leave vo der objeriven Zurechrsg", ornament pblicado en Chengehi Lene Reviews, vol. 50, maio 3995, [Edieaa expocal part 0 Simpésio Tabvanés-Alemio-Espanhol de Diveto Penal) iter V, 2, ascr publica em breve na Reviia Bras de Ciencias Crimi 19. LARENZ, Hegels Zurechnungslehre und der Begriff der objekeiven Zupechoang,reimpressia da edigéo de 1927, Senta, Alen, 1970. As ite entre parénteses presentes neste apsrtado referem-se sempre 2 Sune Sobre a teoria de LARENZ, cf, ademais, Elena LARRAURI, 15 fondamentos para uma teoria da imputacao. Inicialmen- te, kimita-se LARENZ a expor o pensamento de Hegel para s6 mais adiante tentar adapté-lo as exigencias do Dizgito, Para Hegel, a liberdade & inerente ao homem en- quanto sujeito racional’!. Esta liberdacle manifesta-se no jo através da vontade, da vontade livre, da vontade moral, A vontade, por sua vez, exterioriza-se sob a forma de uma acho”. A acto €, portanto, uma objetivacio da voatede, A vontade tem 0 poder de controlar as cursos causais em determinado sentido, de maneiva que o resul- tado de todo este empreendimento pode-se consiera?, ao final, obra do sujeito. Ea vontade que anima as nossa agées, é ela que faz de uma ago uma aco. Dat jé transparece o problema biisico qué @ teoria da imputacio visa a resolver: dentre as diversas conseqiién- cias de nossos atos, quais nos devem ser atribuidas como obra nossa, quais devem ser entendidas como mero aca- 50? A teoria da imputacéo tentara justamente distinguir Nowas preliminares para una discusién sobre la imputacion objetiva, ADPCP a. 41, (1988), p. 715 e ss, (p. 733 e se); ROXIN, A teoria.. ‘V2; SUAREZ GONZALEZ / CANCIO MELIA, La reformudacién do {a tipicidaat a raves dela teoria de la imputacién objetiva, em: |AKOBS, La imputacion objetiva en derecho penal, Civitas, Madrid, 1996, p. 21 ¢ ss, fp. 22 ¢ 35); CHAVES CAMARGO, Impuracdo objetiva... p. 61 20. Estou amuitindo as consideragées iniciais (pp. 1-29}, em que LA- RENZ analisae critics 0 pensaments de Kant, mostiando a necessidade de superar as vontradigScs a ele inerentes com base na métade dielético hnegeliano, ¢ resumindo consideravelmente a exposigio da filosafia de Hegel, por ser ela de diffcil compreenséo, o que levaria a extrapolar @ marco de tema, 21, “A vontade livre ¢ a ventade racional” {(p. 46) 22. “Aliberdade é a determinagdo fundamental da vontade, sua essét- ia, sua identidade” (p. 45}, 16 agao de acaso®, "A imputagao tata da seguinte pergun- ta: o que se deve atribuir 2 um sujeito como agdo sua, pelo que pode ser ele responsabilizado?” (p. 51). Aim= putaclo objetiva “nos diz, portanto, quando um aconte- Cimento é ato de um sujeite” (p. 51) Se agéo é, em esséncia, a vontade, 0 que estiver contido nesta vontade seré atribuivel ao sujeito. Apare- G6, aqui, 2 idéia de finalidade: "Sao imputadas See conseqiiéncias que formam um todo com a ago, a qual €dominada por oma finalidade” (p. 54). 0 acasa, abvi mente, seré aquilo que ndo esté compreendido na vonta- de, na finalidade. "E acaso tudo aquilo que for estranho A vontade, que nao for conhecido” (p. 52). Note-se que, segundo a leitura que faz LARENZ de Hegel, este s6 conheceria a imputagao de agdes dolosas; a culpa jamais seria imputada ao sujeito, porque exterior & sua vonta~ de®, O que estiver compreendido na vontade do agente é um ato seu, 0 que ali no se encontrar € acaso, nao lhe podendo ser imputado. Ne segunda parte de seu livro, tenta LARENZ aplicar a construcio de Hegel no campo do Direito. LARENZ desefa, fundamentalmente, corrigir a estreiteza do con- ceito hegeliano de aco, que desconhece a responsabili- dade fora dos casos de dolo. Para isso, mantém toda a construgio de Hegel, principalmente a concepgao de que a vontade constitui a esséncia da acio, s6 se podendo 23. “A imputacéo no € nade mais de que @ teotativa de distinguie o proprio ato daquila que ccorre por seaso” (p. 61) 24, Este, poréza, um ponto bastante conteavertide entre os intéxpretes de HEGEL. Para um panorama atual das discussbes, vide LESCH, Der Verbrechensbegriff, Grundlinien einer funktionalen Revision, Carl Hey smanns, K6l e&c., 1998, pp. 100/101, p. 125 ¢ ss que esposa ponto de vista contririo a0 de LARENZ. 7 imputar a alguém aquilo que esteje compreendide pela sua finalidacie, Contudo, enquanto Hegel falava de im. putacdo a um sujeito, LARENZ passa a por o foco sobre ‘uma nova idéia, bastante presente na Filosofia do Direito de Hegel’: a de pessoa. "A pessoa & o homem nao en. quanto ser natural, mas enquanto ser racional, portador de uma razio supraindividual, sujeitoe espirito” (p. 63). A nogio de sijeito individual, homem fisico, presente em Hegel, dé lugar @ idéia normative de pessoa, ser racional. Com base nessa idéia, que se desvineula do individuo espectfico, colocendo-se em im nivel genéri- 0, objetivo, também a finalidade deixa de ser aquilo que individu efetivamente previu e quis, para passar a abranger tudo aquilo que objetivamente 2 aggo tendia a atingiz. “O conceito de finalidade 86 nao pode ser com- preendido de modo subjetivo, mas sim abjetivamente; isto &, nfo podemos nos contentar em imputar aquilo que foi conhecido ¢ querido, mas temos também de imputar aquilo que poderia ser conhecido e compreen- dido pela vontade, 0 objeto posstvel da vontade? (p. 68). Logo, torna-se possivel imputar como obra da pessoa aquelas conseqiéncias compreendidas na finalidade ob- jetiva da ago, isto ¢: tudo aquilo que for objetivamente previstvel. LARENZ termina o livro analisando a impu- tacao de omissdes (p. 85 e ss.) ¢ a responsabilizagio pelo ato imputado (no plano da antifuridicidade ¢ da culpabi- lidade, p. 89 e ss.), com especial atencdo para os fancia- mentos da responsabilidade com base na idéia de risco, bastante comum no Direito Civil (p. 103 ess.). 25. E Famose 6 imperativo que figura come idéis central na filosofi Juridice de HEGEL: "soja uma pesos, e cespeite os autos enguante pessoas" (Grundlinien der Philoseplie des Rechts, edicts, Felix Met, ner Verlag, Hamburg, 1955, § 36, p. 52) 18 Em siniese, LARENZ acaba por erigir a “possibilida- de de previsio" (p. 77) {previsibilidade) em critério de imputagao. Esta possibilidade nio deve ser analisada subjetiva, mas objetivamente: nio € 0 autor concreto, mas a pessoa, o ser racional, que deve estar em condicdes de prever um determinado acontecimento (p, 84). As conseaiténcias objetivamente previstveis 20, porta, atributveis & pessoa, enquanto ser racional A importdncia do pequeno escrito de LARENZ difi- cilmente pode ser sobrestimada. Ele teve, primeiramen- tc, 0 mérito de redescobrir conceito de imputaggo apresentéslo aos juristas que, sob 2 influéncia do natura- lismo, dele tinham se esquecido. E, justamente por for- mular, antes de mais nada, uma veoria da acto — como vimos, para LARENZ. a imputacio determina o que é obra, acio, de um sujeito — seu trabalho influenciou de modo decisive o inicio do debate em tarno do conceito de acio. E pouco sabido, mas nem por isso menos verda- deiro, que a primeira formulacae da teoria finalista da agio, de 1931, foi marcadamente influenciada pela teo- tia da imputagio de LARENZ®. WELZEL, o pai do finalismo, inclusive chega a apontar para a identidade de resultados entre sua teoria e a de LARENZ”’. Por mais 26, WELZEL, Kausalitér und Handle, ern: ZSUW 51 (1931), p. 703 38; neste estudo, WELZEL ainda no falava em finalidade, was em “imtencionalidade” (p, 708}, ¢ a0 apresentar seu conceito de aco, rele fesse, claramente, ao termo “imputagio objetiva": “Um fato proprio ou lua agéo pertence « um sujeto, sendo-Ihe, neste sentido, objetivamente impudvel,se 0 resultado desenito no tipo for dcterminada intencianal- rente (sinnhaft gesetzi) pelo autor, ua sua evitagao he for previsivel ¢ inteacionalmente determinévei” (p. 720, grifo meu). 27. WELZEL, Kawsalirt, p. 719, nota 30: “Alegra-nos, portanto, que cheguemos acs mesmos resultados que a bela exposigio de Laren, Hegels Zurechnungelehre und der Begriff der objektiven Zurechmg, ape sar de nosso ponte de partida ser completamente diverso” 19 inacreditavel que pareca, é bem possivel afirmar que a teoria finalista da acdo © a imputacio abjetiva tal como a conhecemos hoje sio irmas, ambas filhas da teoria da imputagdo de LARENZ. . b) HONIG ‘Alguns anos ap6s a contribuigge de LARENZ, resolve HONIG levar a idéia de imputacéo para 0 Dircito Pe- nal’, Aludindo a crise em que se encontra a teoria da causalidade, afirma HONIG que 0 Direito néo pode Considerar suficiente 0 aexo causal entre um comporta- mento ¢ um resultado. £ preciso um nexo normativo, Construido segundo as necessidades da ordem juridica, ara que uma causacdo adquira importéncia para o Di reito (p. 175). Contrariamente a causalidade, este pro- blema — que HONIG chama de imputacio objetiva — € estritamente axiolégico (p. 178). O juizo de imputacdo objetiva visa, justamente, a “resolver a questo axiol6gi- ca quanto a relevancia de nexo causal para a ordem juridica” (p. 179). Como LARENZ, HONIG pensa que somente acdes humanas sio relevantes para o Direito; a acto humana é, portanto, 0 objeto exclusive do juizo de imputacao (p. 182). Porém, diferentemente de LA- RENZ, HONIG diz construir seu modelo com inde- pendéncia de qualquer filosofia, partindo, unicamente, da Teoria Geral do Dircito (p. 182) 28. HONIG, Kausalivt und objektive Zurechnsong, cia: Hepler (ed), Festgabe fir Reinhardt v. Frank, vol. I, Mohr, Tibingen, 1930, p.174 ¢ ss. As citagées entee parénteses presentes neste apartado referem se sempre a este trabalho. Sobre HONIG, vide, ademais, ELENA LAR, RAURL Notas preliminares... p. 738 e ss; ROXIN, A teona.., V. 2; CHAVES CAMARGO, Imputagdo objeriva .. p. 63, 20 ‘© comportamento humana € uma exteriorizacgo da Gane {p. 183}. E através da vontade que o homem im na natureza, controlando os cursos causais para atingir seus fins (p. 183). Contudo, a vontade agui nde deve ser compreendida em termos subjetivos, como aquilo que o autor almejava, e sim em termos objetivos, como aquilo que podia ter almejado (p. 183). Logo, esta directo objetiva da vontade € a peca-chave no juizo de imputacao: “Como é justamente a intervengic orientada a.um fim que constitu’ a esséncia do comportamento humano, a dirigibilidade objetiva a um fim (objektive Bezweckbarkeit)® € 0 critério para a imputagao de um resultado e, portanto, para o distinguir de umn aconteci- ‘mento fortuito. Serd imputdvel aquele resultado que 5é possa considerar dirigido a um fim” (p. 184; grifos no original). Assit alta, acaba = NIG por chegar a conclusées idénticas as de LARENZ, a saber, @ exclusio da imputacdo de resultados impre- vistveis, ndo compreendidos na diregao objetiva da von- tade. HONIG ainda ressalta que, na verdade, a teoria da imputacio cbjetiva < uma te! le, s6 interessam ao Direito Penal as ages tipicas, a atuagio da vontade nao ¢ tipica, ela sequer € uma aco 0 sentido que interessa ao Direito Penal” (p, 195) ARENZ, que estava 29. Nao existe consenso a respeito de qual 2 tradusio mais adequada MARTINEZ ESCAMILLA, La imputacion abjetina del resultado, Eder. 83, Madrid, 1992, p. 35, nota de rodapé 127, acrolaas diversas tentativas dos tradutores espanhéis e opta por “pessibilidade objetiva de preten- der”, © essencial ¢ entender 2 estrutura do neologismo de HONIG: Beaweckharkeit, substantive, vem da adjetive bezweckbar {aquilo que Pode ser pretendido, objerivado, almejado, buscado); a terminagéo keit substantiviza 0 edjetiv. 21 desenvolvendo uma teoria da aco em geral: para HO- NIG, a teoria da imputacao € uma teoria da ago, mas da acio tipica. No restante do trabalho, HONIG tenta fevar sta teoria para o fmbito da omissio (p. 189 e ss.) ¢ da autoria e participacao (p. 197 € ss.) Fazendo uma confrontagio entre HONIG ¢ LA- RENZ, pode-se repetir, a guisa de sintese, que, enquanto © Giltimo se apéia expressamente em Hegel, o primeiro busca ver-se livre de qualquer patrono intelectual; en- quanto LARENZ constréi um conceito de acéo, HONIG trabalha sobre a aco tipica; mas ambos esto empenha- dos, precipuamente, em distinguir a obra do sujeito da- quilo que ocorre por mero acaso, chegando a idénticos resultados prdticos, com base em um critério que 36 difere em sua denominacio. O mérito de HONIG est ndo s6 em ter sido 0 pri- meiro que, no mbito especificamente penal, falou em uma imputacéo objetiva. Muito do que se encontra em sett trabalho é vilido até os dias de hoje, em especial, clareza com que distingue a questo ontolégica (causali- dade) da questéo normativa, axiolégica (imputagio). Igualmente, 0 fato de vislumbrar na teoria da imputacio uma teoria néo da agéo, como queria LARENZ, mas da aco tipica, e a recusa de fundamentar sua concepcio na filosofia hegeliana abrem a possibilidade de que se fun- cionalize a teoria com consideragées que dizem respeito aos fins do Direito Penal. E é justamente isso que faré ROXIN, no fundamental estudo de 1970 — dedicado a HONIG — no qual faz nascer a moderna teoria da im- putacfo objetiva®. 30. ROXIN, Gedanken zur Problematik der Zurechmung im Strafrecht, fem; Strafrechiliche Grundlagenprobleme, DeGruyter, Betlin, 1972, p. 123 e ss., publicado originalmente em Festschrift fir Richard Honig, 2 3. Os precursores da “moderna” teoria da imputagao (Os anos passaram, a ciéncia do Direito Pena essou de gyancar, mas a palavra imputagao foi aos pou- (cosfdesaparecendoj Contudo, os problemas para cuja resolugio ela foi criada (cursos causais imprevisiveis), bem como aqueles que a moderna teoria da imputacio atualmente resolve, mantiveram-se presentes no debate. Daf por que se possam considerar muitas das teorias discutidas nos anos de siléncio em torno da imputagdo, que foram as décadas de 40 até inicio da década de 70, verdadeiras precursoras da atual tedria da imputagao objetiva. Muitas destas teorias que a seguir sero expostas sio conhecidas do ptiblico brasileiro. Minha preocupacio, contudo, seré menos de apresenté-las em detalhe do que demonstrar em que medida elas possibilitaram o surgi- mento da moderna teoria da imputagdo. a) A teoria da causalidade adequada ‘Como sabemos, a teoria da equivaléncia considera ‘causa tudo aquilo que contribui para o resultado, toda condicéo de que ele ocorresse"". Esta teoria, que acabou por consolidar-se na doutrina e na jurisprudéncia alemis, em grande parte pela influéncia de v. BURE?, levava, ‘Verlag Otto Schwarz, Géttingen, 1970, p. 133 ess. (0 artigo encontra-se traduzido para o portugués, Ana Paula Natscheradetz, no livro Problemas Fundamentais de Direito Penal, 2* edicio, Vega Universidade, Lisboa, 1993, p. 145 ss). 31. CE, por todos, JESCHECK/WEIGEND, Lehrbuch des Strafrechts, Allgemeiner Teil, S* edigio, Duncher & Humblot, Berlin, p. 279, com referéncias; entre nés, BITENCOURT, Manual... p. 178 e ss, 32. Por ex,, v. BURI, Uber Causalitat und deren Verantwortung, Leip- 23 svrcin, 4 sertas myusticas em alguns casos, especialmente 98 dos chamados crimes qualificaclos pelo resultede Ag, tesdareforma de 1953, quc introduzit um nove § 36 no eatdo vigente Codigo Penal Alemao, para que alguer respondesse por lesées corporais seguidas de morte, por ex., bastava ter praticado dolosamente a primeira aca ceusando — mesmo sem dole ou culpa! — o resultades gualificador™, Aquele que ferisse dolosamente a vitima que viesse a falecer por causa de um acidente com a ambulancia responderia pelo crime qualificado pelo te, suitado: les6es corporais seguidas de. aa eVitar ums tal punigio sem culpa, a teoria da adequacae come, goua ganhar adeptos na doutrina™. Hoje, aps a reformna i, L. Gebhardts Verlag, 1873; 0 mesmo, ! — Willensfretheit 1 — Unterlasung, {11 — Caucolnat wad Thetinahne, er: Cevichassaal 56 (1898), p. 418 es, (, 449 e33) 33, JESCHECK / WEIGEND, Leirbuch.., p. 261; para os detslhes da «rolucdo legislative, até a reform ce 1953, c€ RENGIER, Erfelgsouclh fisione Delite und verwandte Ericheinungsformes, Moh, Tebiogen, 1985, p. 54 e ss, especialmente p. 60 PA. Na doutrina mais antiga, vide, por todos, TRAEGER, Der Kausal- Deseiff im Strap nd Zividrechy, ppert & Co., Neurabarg, 904, p 115 38 HEPMANN, Zur Lehre von der adaguaten Verursachumg, om: GA 1805, p. 326 ¢ ss; na doutsina mais prévime & reforma legislative, [plitse ALLFELD, Lehrbuch des deutschen Strafrechts, * edicie, A Deichertoche Vecagsbuchbandlung, Leipzig, 1922. p. 109; Robert v. GUPPEL, Devasches Strajreckt, vol. I, Springer, Beri, 1930, (reedigdo, Scientia Vedlag, Aalen, 1971), p. 148; aa posterior 4 reforms, MAU. BACH, Deussches Strafrechs, Algemeiner Tei, * edicho, CF. Maller, Karlsruhe, 1971, p. 203 e 35; 0 mesmo, Addquane der Verursackume ‘der der Fabrlssighit, em GA 1960, p. 97 © ss, (p. 103): SAUER, Allgemeine Strafyechesleire, ¥ wAicio, DeGruyter, Berlin, 1993, p. 78 Alptns autores, come RADBRUCH, Die Lehre von der aclaguaten Ver. {2eachung, Guttentag Verlagsbuchhandhung, Berli, 1902, p. 85/389 (0 livro apresenta duas tumeracoes paralelas), queria adctar 4 teoria da sdequacdo unicamente para as crimes qualificados pelo resultac 24 vimento de uma teoria da impu- slativa e o desenvolvimento coria da (ieto possui ela reduzide ntimero de defensores”. i é @ toda condi- ara a teoria da equivaléncia cause € Fo do resultado, para 2 teoria da adequagio causa serd sr Ta Condicao adequada do resultadd, isto €, ae ene ae eaten Tencore ech mre, segundo as Tetagoes comuns da vids see, possua idonesdade gentrca pra produar tais Jesbes", noutras palavras, a condicao que pro a o resultado de modo previsivel. As condigées imprevis veis do resultado néo sao causa em sentido juridico/Era consiste ess? se eee Pirulastes que de infcio a teoria apresentou para concretizar a previsibilidade”, seus defensores aca- he, Alle estacam-sc,sobreuudo, BOCKELMANN / VOLK, Sirajpecht, Al ge edn ee Minh 187, pew STRATEN SERTH, Srafreoh, Algmneine Tal, #edigho, Car] Heymanns, Kn c Tes. . S6"Asim © fro tora por sey in, V. KRIS, er de Begrffe der Warscheinlichkeic und Moglichkeit ta re Bedewung im rafrechte, em: ZS0W 9 (1888), p. 528 e ss, (2.532). Sr Ua capa Seiad onsen THAECER, Der Kass begriff., p. 130 es5.,€ CIMBERNATORDEG Oe tm end Sucre Breton der inadtquaien Hanae in dr deuschey Staci Aegan Betray cam Kasalroblem im Saas, Dis tae Hamburg 962, p15 eos Nee, comments due opeineio sso seb ot fom» ern de aqui de mane bus prinima (mas nao idéntca, por adotsr uma perspectiva ex ante) do prineipia do vsco, de Rexin fadante, TV, 1): “Ura acao ou Fito que se rnostre conditto sine qua non de um éetenainado resultado seré sua condigSo adequada quando ela for uma ciresnstincla geneeicamente favorecedora de zessltados da espéese ocorrda, ist 6, quando ela Wver senericamente elevado a possbiliade objetiva do resultado de um re- sulkado da espécie do ocercido de modo nia irelevante™(p. 159}. Esta refecéncia a ‘agées que aumentam as posibilidades de producto da resultado lesiva" encontrasse jf em v. KRIES, Uber die Prinziiem... p 532 25 baram por concordar a respeito do critério da prognose postuma-objetiva: sera previsivel tudo aquilo que um homem prudente, dotado dos conhecimentos médios adicionados aos conhecimentos especiais de quie o autor porventura disponha, no momen: tética da agéo tenda como ta Logo, pasa que examine se uma aco (por eX, wander 0 tio a uma Viagem de avido) & ou nao causa adequada do resultado (inorte em atentado tcrrorista}, basta que se perpunte se uum homem prudente, colocado na posigag do autor, teria a possibilidade de py ultado. claro que, neste exemplo do atentado terrorista, inexistita causal, dade, por inexisténcia de previsibilidade. Contudo, se 0 autor soubesse do atentado, o juizo de previsibilidade objetiva deveria ser formulaco partindo-se também des. tes conhecimentos especiais. A resposta, portanto, seria Outra: 0 autor aqui teria causado o resultado, Mas, a0 procurar um conceito juridico de causalida- de, acaba a teoria da adequacéo por exceder-se em sua opesigio ao naturalismo. Como ja ressaltara HONIG", ela ndo distingue cam clareza 0 problema ontolégico, de causalidade, do problema axiol6gico, de imputagie, © juizo de previsibilidade, apesar de aparentemente um jutzo de fato, uma verificagdo, € uma valoragao: trata-se da previsibilidade segundo 0 homem prudente. Negar 2 causilidade neste exemplo do atentedo terrorista ¢ ir fonge demais, uma vez que aqui bem existe nexo causal 38 CE os atuais defensores da teoria da adequssao, BOCKELMANN / NOLK, Strafrecht.., p. 65, STRATENWERTH, Sirafreche., Gefendendo-s, entre nés, COSTA JR,, Nexo causal, 2* edigdc, Malt ros, Sdo Paulo, 1995, p. 108; REAL JR, Teoria ‘do delita, RT. Sie Paulo, 1998, p. 180, 38. HONIG, Kaucalicr... p.177 es 26 entre ago ¢ resultado; este nexo causa, unicamente, € irrclevante para 0 Direito, porque inadequado. Daf por que a doutrina moderna recusa a adequagao eaquanto teoria da causalidade, para consideré-la uma teoria da a0". > rN mportancia da teoria da adequacio, contudo, end em dois fatores: primeiramente, ela dé provas da instfi- ciéncia de um tratamento exclusivamente causal-r ae listico da relizasao do tipg! Como vinios, | pncial impulsionador da teoria da adequagto foi resol ver de modo politico-criinalmente satifti, «problems ca dos crimes qualificados pelo resultado, que nao alcan- cava resposta defensivel da parte dagueles que enten- diam estar 0 tipo preenchido unicamente com a cause- so — no sentido da teria. da eauvalencia — de um tadof Em segundo lugar, 20 excluir do campo do penalment relevant tudo que sje imprevisiel, it tuda que se prodiiza por acaso, ela nfo deixa de real iat uma importante tarefa qual no pode furter-senenbu- ma teoria da imputagio. Mesmo LARENZ ¢ an & em que pese a civersidade dos pontos de partida e da terminologia, no campo pratico nao conseguiram ir mui to além dss conseqiencne da teoris de adequacio. por isso, também, que @ maior parte dos autores reservou teoria da adequaséo um lugar entre os divesos topo que compéem a imputagao objetiva"!, Afinal, a idéia de que ex, ROXIN, Functonalism...§ 11/38; MAURACH / ZIPF, Seapets Sige Too 1 ebyae, © F Mler, Heldeler HHOXIN Facioaino.»§ 1130p ees TIPE BER, Die‘objt noe Vormslani (ds Bf und des Kensal ley) — areracbares Blan: om Beg der Foboasigt ode alge Vebrecearoent le Efiattie’, em Ar Ki te, (eds), Festschrift fr Paul Bockelmans, Beck, Miincken, 1978, p. ar © autor tem de criar um risco, ur risco néo juridicamen- teirrelevante, ¢ 9 critério da prognose péstuma objetiva, sie aplicagées claras da teoria da adequagio by) treorta da relevar A teoria da adequagio, como vimos, encontra-se em um dilema; sua fecundicade pritica, de um fade, con- fronta-se com sua insustentabilidade teérica, de outro. E MEZGER quem aponta o caminho para a solugo deste dilema, conseguindo uma formutacdo que chega aos re- sultados descjaveis da teoria da adequagao, mas com outros fundamentos tedricos ‘ara MEZGER, a teoria da equivaléncia & a tinica teoria correta para a causalidade"®, Causa ser, mesmo, toda condicio do resultado. Contude, ao decidir-se se um determinado fator ¢ ou nfo causa, ndo se esté dizen- do ainda nada a respeito de sua relevancia para o Direito © problema da teoria da equivaléncia é "igualar, exrada Mente, nexo causal e nexo de responsabilidade?” Ts 116). O que os tipos entendem por causa vai além do sentido que a teoria da equivaléncia atribui a esta pala. vra, Para o Direito Penal, s6 sera tipica a causacdo que se puder dizer relevante (p. 122}. "O fato de todas as etapas de uma cadeie causal serem causalmente equiva- 201 es, que tenta demonstrar em que medida a previsibilidade objetive {ou sefa, # adequacio, p. 213) & elementar do tipo objetivo dos cranes olases © culposos. Um dos poucos criticas Ferrenhos ¢ JAKOBS, Sina, frecht — Aligemeiner Teil, Die Grundiagen und dic Zureckungsiehre, 2° digdo, DeGrayter, Berlin/New York, 1991, § 7/33 e ss 42, MEZGER, Srafrecht, Ein Lehrbuch, 3 edigde, Duncker & Hum- blot, Berlin & Miinchen, 1949, p. 109, p. 122. Os niimeros de pagina zeferidos entre parénteses ne presente aparteda perteacen a cate lero 28 lentes nao jmplica em sua equivaléncia juridica” (p 12 Cyd pcre rcoreiyso“lvante do ree. Emique consiste, porém, este juizo de releodncia Beieiramente, ee engobe dentro de so juig de ade- quagao (p. 123). Seré irvelevante tudo aquilo que for imprevisivel para © homer prigente stuido no mo mento da prética da agao. Sé 0 objetivamente previsivel & causa televante de um resultado (p. 124). Contudo, MEZGER vai um pouco alémn da teoria da adequacio, a0 trabalhar, simultaneamente, com um segundo critério: a interpreraie telecgic dos tpos®. Aa no €possivel enumerar nada de genérico: seré 0 ielos especifico de cada tipo da parte especial que dir o que nio pode mais ser considerado relevante. Por ex., no famoso caso da inundagio* — 0 autor joga um balde de 4gua nas torren- tes que acabam de estourar a represa € avancam sobre a cidade — 0 autor, certamente, teria causado 0 resultado em sua forma concreta (a inundagao com exatamente X litros de gua), ¢ 0 teria feito de modo objetivemente No als Lebvtuch, MEZGER for referee ec as Sie satis ads (p12). sem MECOER, Gass tS thn ee Sg lao coveahr pe ce ss cies legs oo vena ce du asap it, et prt ee EACERSLET Sache Algemene Te 15 edo foc, Niacin, 178 9A SUE, Sra, Alger Fe 8 ti R ce, 988510 fo li do SHEER) oars ness ge opr wircac (0) sabinando com vcs arte formal des thn gue eines Aten cia ae so s6 poderi ser analisada “através da interpretacio do tipo especifico oe eee Shenae enataray BUR! One Cosa ind drs Vraoneaty fy Gebhard Wer, 1875p 69 qvrconnes, ores 29 previstvel, Contudo, jogar um balde de agua numa inun- dagio nao se pode considerar relevante em face do tipo de inundagao A srande importéncia da teoria de MEZGER esté, primeiramente, em ter, como antes jé fizera HONIG, separado o problema ontolégico (catsalidade) do pro: blema normativo {relevancia). A teoria da adequacio, como vimos, confundia estas duas etapas do pensamen. to, 0 que levaye a atritos teéricos, Em segundo lugar, 20 recorrer a interpretac4o dos tipas, a teoria da relevancia abre as portas para que se introduzam consideracées teleolégicas também mais gerais, como a idéia de fins do Direito Penal e fins da pena, com base na qual ROXIN € sua escola acabardo eriginco « moderna teoria da im- putagio objetiva. A fala de MEZGER foi considerar tais pontos de vista interpretativos um problema exclusiva. mente de parte especial, deixando de desenvolver o que havia de universaimente valido em sua concepgio®, - (Chernin) Outra formulagio teérica que pode ser apontada como precursora da teoria da imputagio objetiva é a dia de adequagao sociel*®, WELZEL, no classico traba- 45._Neste sentido, por ex., JESCHECK / WEIGEND, Lehrbuch... p. 286; ROXIN, Funcionatisma.... §11/38 46. Sobre # teoria da adequecde social enquanto precursora da impute so objetiva, of. CANCIO MELIA, Finale Fiandlungslehve und objehtive Lurechiuung, Dogmengeschichiliche Betrachtung zur Lehre von der Sezia- laddguans, em: GA 1955, p. 179 e ss. (versio espankola era: ADPCP 1993, p. 697 ¢ ss; SCHUNEMANN, Uber die objektive Zurechnung, fem: GA #999, p, 207 © ss, (p. 211 — h§ traducto para o espanhol, de Mariana Koster, eon: Teortas actuales en al Derecho Penal, Ad Foc, Buenos Aires, 1998, p. 219 ss) 30 tho de 1939, em que pela primeira vez cunhou 0 concei- tade adequagto social, dizia jamais serem tipicas aquelas acdes que, apesar de formalmente subsumtveis aos tipos, “pesmanecar funcionatmente integradas & ozganizacao da vida comunitéria de um povo em determinado mo- mento histérico””. O sobrinke gue manda o tio 3 flores- ta egperando que ele seja atingido por um taio — 0 que ven realmente a ocorrer ~~ move-se dentro dos limites do socialmente adequado, de modo que sua acio, mes- mo que causedora do resultado, nfo € tipica*®. Tampou- co as presentes de Natal comamente dados a funcioné- ios pliblicos preenchem o tipo da corrupg’o; as privar ges de liberdade a que todos se submetem dentro de tum transporte pablica, que s6 péra em determinados pontes, nie podem, igualmente, ser consideradas um. seqdestro®, . ; ‘A fundamentagao que di WELZEL a sua veoria da adequagao social guarda bastante proximidade — mas nig identidade — com a que se costuma dar & idéia de risco permitido®. WELZEL intraduz o conceito de ade- FEE nda or a rte ct a ae aint panes social, cf. MORDER, Die soriale Adaquane im Strafrecht, Diss, Saar- briicken, 1960, p. $ ¢ ss.) BERNERT, Zur Lehre von der “socialen Adae- quane” und den *seciwaladarquater Handlungen”, N.C. Eivert Verlag, Marburg, 1966, p. 5 € ss. (que a recusa). Paca s dltima manifestagio de WELZEL, vide Das deutsche Strafrecht, |1* edicio, DeGruyter, Berlin, 1969, p. 36. 48. Olscempio cocostro-ae im Stadion. p. 142. gem das exemplos encontrades na doutrina cm geral encontra-se em 3 quaso sociat fisal, 3 idéia da lesio ao bem juridic io do desvalor do Itado"| “A teoria da lesto ao bem juridico-——1m mais € que 0 correlato do dogena causal no ambito da antij "53, Mas tal teoria descansa sobre um erro fundamental: isolar o bem jucieico da realidade social, afast4-lo da vida, e posiciond-lo num mundo esté- tico, de medo andlogo as “pegas de um muscu, que séo caidadosamente protegidas de influéncias lesivas em vi- tines, s6 expostas aos olhares dos espectadores’®*, Con- tudo © bem juridico sé existe na realidade social, na medida em que ele esté "em Fungo”: “vida, integridade fisica, propriedade etc. nao possuern uma simples exis- téncia, mas seu existir & estar-em-fungio"™, Assim aquelas ages que, apesar de causais para a destruigio de um bem juridico, realizem a verdadeira vocacao deste, a sua funcdo na vida social, néo poderdo ser consiceradas tipicas, Estas ages consideram-se socialmente adequa- das. Por sua imprecisiio, a teoria da adequacdo social é predominantemente recusada pela doutrina, Hoje, ela parece reduzida a um critério de interpretagdo™: as ele- 51, WELZEL, Sniten...p. 193 e58, 52 WELZEL, Studien... p. 135: 53, WELZEL, Studion... p. 140, 54, WELZEL, Studion. p. 140. 55. Asti, especialmente ROXIN, Remerkongen 217 sozialen Addaquar im Strafreckt, er: Kohlmann {ed}, Festschrift far Ulrich Klug, vol 1, Peter Deuibner Verlag, Kéln, 1983, p. 308 e 55, p. 310; ¢ também o proprio WELZEL, Das deutsche Strafrecht.., p58, JESCHECK/ WEl- GEND, Lelibuch... pp- 292/253, consideram a idéia da adequacéo social, por ura lado, “indispensével", mas em vietude de sua imprecisio ‘referer utilies-lo somente quando nfo houver outro instremento dag mitico 4 disposicao (p. 253). Defendendo-a, contudo, ¢ dando-Ihe a fungio de excludente de tipicidade no segundo grupo de casos de RO- 32 mmentares dos tipos devem ser concretizadas de tal ma- fpeita que n0 abranjam fates sociaimente adequados, Em que sentido, porém, se pode considerar ade: quagda social um precursor da imputagio objeriva? Pri epramente, a fundsmentagio acima exposta, dada por WELZEL a adequacio social, é bastante préxima da dada 20 risco permitido™. Esta se baseia na idéia de que 5 Direito Penal néo pode proteger bens juridicos contra fodos perigos imaginaveis, do conteério a vida social con- gelaria, ¢ 0s interesses do direito & liberdade ficariam tolhidos. WELZEL. s6 vai um pouco aiém, ao dispensar por completo a idéia da protegio de bens juridicos como Rim do Direito Penal, Em segundo lugar, a adequacéo social fol construfda para solucionar problemas (como 0 aco do sobrinko) que, em parte, hoje sao resolvidos no Smbito da imputagio. A rejeigéo que sofreu na doutrina dominante tem como um dos principais motivos o fato de que a imputagio objetiva se mostra mais apta a resol- Jer estes problemas do que a imprecisa idéia de adequa- ho social”, Em terceito lugar, a adequaco social, como risco juridicamente irrelevante ou o risco permitido, representa tim ponto de vista objetivo, em principio in- aE a nota imediatamente adiante), 0 recente estudo de ESER, Se ne ee eases or uverackinre Rekha! se Schinemaan ete, Festschrift fur Roxin, DeGruyter, Berlin / New Feak, ZOO, p19, fp 211). Na doutrina expantols, yor ex,, MUNOZ CONDE, con, MUNOZ CONDE/GARCIA ARAN, Derecho penal — Parte General, 3 edigio, Tiant La Blanch, Valencia, 1998p. 286. $6, Sobre esta fmdamentacso, a seguir, SY, 3, “haa SS Sorex, ROXIN, Bemeriangen...,p.310 ess, estado em que divide Te chive soluctonados pela adequagto social em dois grandes grupos: seule» serem resolvidor no Ambit da impuaio objtiva eaqueles 2 sare cccludos das tipos por meio da interpretacto teealsgice © do prinfpio da insigaifichnia, B dependente da psique do autor, a limitar 0 alcance dos tipes. As relagSes entre inadequagdo social ¢ risco juridi- camente desaprovado sio, assim, Sbvias®®, Por isso, vé= rios autores praticamente confundem os dois critérios, ‘ou consideram um elemento do outro. Por ex., WELZEL considerava 0 risco permitido um "caso especifico” de adequacio social; KRAUB entende idénticos a adequa- 0 social e a observincia do cuidado objetivo, no delito cuiposo"® (que, por sua vez, nada mais é do que o risco juridicamente desaprovado); ROEDER sequer fala em risco née permitido, mas em “risco socialmente inade- quado”*!; © para JAKOBS, todo o primeiro nfvel da im- putacio objetiva (2 criacéo do risco juridicamente desa- rovede) nada mais contém do que “explicacées da ade- juaca social”, W) A teoria social da acéo Atualmente, os defensores desta teoria costumam definir agi como 0 “comportamento humane social. mente reievante"®, "comportamento socialmente rele- vante, dominado ot dominavel pela vontade humana" Estas formulacdes, bastante préximas das do criador da 58. A respeito, especificamente, PRITTWITY, Strafrecht und Risiko, Vittorio Klostermana, Frankfurt 3. M,, 1993, p. 291 ess. 58 WELZEL, Studien. p. 123. 60, KRAUB, Exfolgsumwert und Handlunswwert im Unreckt, em. ZStW 76 (1964), p.19 ess. (p. 47) OL. ROEDER, Die Enmhaltung des socialadaquaten Risikos, Duncker & Humbiot, Berlin, 1969, p. 28 e 35. 62. JAKOBS, Strafreckt... § 7/46, 63. JESCHECK/ WEIGEND, Lehrbuch... 223, 54, WESSELS / BEULKE, Sirafrechs, Aligerincr Teil, 30° edicho, C. F. Muller, Heidelberg, 2000, nlimera de margem 93, 34 teoria social da ago, Eberhard SCHMIDT, que a con- ceitua como “comportamento dotado de’ sentido so- cial"®*, 3 primeira vista pouco se assemelham As da mo- derna teoria da imputagio objetiva. Mas as classicas for~ mulacdes de ENGISCH e MAIHOFER, por outro lado, poem as claras uma relagio que é, na verdade, das mais intimas. O primeire conceitua aco como “a causacio voluntéria de conseqtiéncias objetivamente dirigiveis por uma pessoa”, o segundo como “todo comportamento objetivamente domunavel, dirigido a um resultado social objetivemente previstvel”®’, O que fazer ambos os au- tores é inserir 0 jufzo de adequacdo — que, como vimos, € precursor © parte integrante da moderna teoria da imputagao objetiva — dentro de seu conceito de ago. 86 integrardo a aco humana aquelas conseqiiéncias ob- jetivamente previsiveis, 0 que é bastante proximo do conceito de aca de LARENZ, anteriormente exposto. Com isso, chega-se a um conceito de agio eminente- 65, Eb, SCHMIDT, Der Arzt im Strafrecht, Theodor Weicher Verlag, Leipzig, 1939, p. 75, 66. ENGISCH, Der finale Hardener em: Resch fr Eduard Koklrausch, DeGruyter, Berlin, 1944, p. 141 e ss, (p. 164). O auxor utiliza a mesma terminolegia curhads por HONIG, [ef anteriores, nota 29), sem contudo fazerIhe referéncia. Vide, ademais, ENGISCH, Vor Weltbild des Juristen, 2 edicio, Corl Winter Verlg, Heidelberg, 1965, p. 38: "Para o jurists, agio significe a causagio yoluntéria de consequtncias caleuléveis« cocialmente celevantee’ 7. MAIHOFER, Der saziale Handlungsbegrif em: Bockelmana / Gal- las (eds), Festschrift fr Eb, Schmic, Vandenhoeck & Ruprecht, Got ‘ingen, 1961, p. 1S6e5s.,(p. 178), Confira-s, igualmente, a formulagio anterior, em MAIHOFER, Der Handlungsbegriff im Verbreckenssytem, Mohr-Sicbeck, Tubingen, 1953, p. 72: “Aczo" é o compertamento hu mano, ditgide & causicio de lesbes bens juridico-penaimente proteg- ia 68 Assim, expressamente, ENGISCH, Der finale... p. 161. Sobre « teoria da aclequacio, cf. anteriorment, Il, 3, a 33 mente juridico, normative", o que faz da teoria social de agdo “na verdade nao uma ‘teoria da ago’ (...), mas antes de tudo uma teoria do injusto (...) uma teria geral da imputacio”®, Os atuais defensores da teoria social da aio, como WESSELS ¢ JESCHECK, por acolherem a teoria da imputacio objetiva, reduzem a fungi prdtica do concei to de acto @ uma dimensio meramente negativa: excluir as néo-acdes de qualquer valoragio pelo Direito Penal” Antes, porém, de estar desenvolvida a moderna teoria da imputaco objetiva, era ne plano do conceito de agdo que se tentavam resolver intimeros casos que hoje sto considerados problemas de imputacéo. Eb. SCHMIDT, por ex,, dz gue os pais do assassino, apesar de causarem a morte da vitima no sentido da teoria da equivaléncia, ado cometeram homicidio, uma vez que o sentido social do ato da concepcao é completamente divezso do que possui o ato de matar”’. Tampouco as intervengées cirtir- gicas segundo a lex artis — mesmo quande causadoras da morte do paciente — possuem a conotacao social de #8. Isto € apontado por ENGISCH, Der finale... p. 166. 70 MAIHOFER, Zur Systemarit der Farlasighet, em: ZStW 70 {1958}, p. 1605s, (p. 187). Caticando a teora soil justamente por ser uma (otis da imputaoio, WELZEL, Das neue Bild des Smafrechtsss- tems, # edigio, Otto Schwarz Ver, Gattingen, 1961, p12 ss (hd traducto brasileira dp tradugto expanholo, de Lufs Régis Prado, RT, S30 Paulo, 2001). LUZON, Curse de derecho penal, Parte General, vl. Editorial Universitas, Madrid, 1996, p. 377, voi a ponto de considerar «que, nas décais de 50-60, a impotagao objetva dscutia-x sob o rétulo 0 conceito social de acfo 71. WESSELS / BEULKE, Strafreche., aimero de mages 95 € ss JESCHECK/ WEIGEND, Lehrbuch... p.224 72, Bb, SCHMIDT, Soziale Handlungslekre, em: Bockelmana etc, (as. Fosischrife fr Bngiseh, Vittorio Klostermann, Branicurt a. M., 1963,'p. 339 es, (p 343) 36 ura aco de matar”?, Assim, casos que hoje se resolvert 10 plano do risco juridicamente irrelevante (come o des pais do assassino, gue, segundo a formula da condictio Sine qua non, causcriam 0 resultado) ou do risca perm vido (intervencdes cintirgicas conformes & lex artis que, ainda assim, ndo lograssem salvar a vida do paciente) exam solucionados pela teoria social da ago. Nio ha davida, contudo, que o critério da relevincia social € sobremancira impreciso, de modo que a moderna teoria da imputagio objetiva se mostra em todos os aspectos superior as formulacées da teoria social. [sso nao retira dela, porém, 0 mérito de ser uma precursora da atual imputagao objetiva, por ter se ocupado dos mesmos pro- blemas e trabelhado com construgdes tedricas bastante préximas, 2) A teoria finalista da ag Oleitor talvez estranhe que eu arrole a teoria finalis- ‘ta da agio entre os precursores da imputacio objeriva, uma vex que € conhecida a inimizade mortal que se votam reciprocamente ambas as tearias’*, De fato, os fundamentos basicos de ambas as teorias séo simples- mente opostos. Primeiramente, uma poe a énfase no sub- jetivo, enquanto a outra, no objetivo. Para o finalismo, o subjetivo € 0 fundamental, A acio é 0 “exercicio da 73 Eb SCHMIDT, Soriale.., p. 346 € ss, Na verdade, 0 autor resolve da e-néo muito coavincente construgaa Crease ative de wa comp dem det omit (p 347) 34m respon dacen xed seguir (V4 88S enor {ean I 24 apne po ntsc rash de pare Sxente eure ah ds teres Hl 3 smite de gic a mene tery Slit cd adegon soc mcm pola ser vita como ura fotecsore de mpage a7

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