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Kazumors Vaart sol MA alae : a = Yel te) SS » eA S Sumario Preficio da Segunda Edigao Prefiicio 1 Introdugao 1.1 Principio da Relatividade de Galileo 12 Tempo..... 1.3. Espaco . 14 Cinemética 1.5 Massa e Forca . 1.6 Leis de Newton .. . Saal 1.7 Transformagéo de Galileo... 7.1 As Leis da Mecdnica . 2 Movimento Unidimensional 2.1 Forcas que Dependem Apenas do‘Tempo...........+-. 2.2 Forgas Dependentes da Velocidade 2.3 Oscilador Harménico.. . . 2.4 Oscilador Harménico Forgado . 2.4.1 Ressonancia.... . 2.4.2 Poténcia Dissipada . 2.5 Forgas Periédicas Genéricas 2.6 Forcas Impulsivas 2.7 Forcas que Dependem Apenas da Posi¢&o rr 27.1 Movimento na Vizinhanca do Ponto de Equilibrio... . A Derivada de Fungées Vetoriais B Equacées Diferenciais Ordindrias B.1 Equacdo Linear de Primeira Ordem. . . . . B2 Equagio de Primeira Ordem Separavel B.3. Equacdo Linear de Segunda Ordem... . . B.3.1 Equagdo Homogénea — Solugdes Fundamentais ix xi 13 15 i 20 22 27 31 34 37 39 41 44 a 57 61 67 72 14 85 - 100 107 109 . 12 - 15 17 . Lg viii__K. Watari SUMARIO B.3.2 Equagao Homogénea — Um método para obtencdio da segunda Soluga segeieNeyneeetrr (cep net sneys 7) e's 122 B.3.3 Equacdo Homogénea com Coeficientes Constantes . 124 B.3.4 Equagdo nao Homogénea . a 126 B.3.5 Método da Variag&o dos Pardmetros . .. 128 B.3.6 Método dos Coeficientes Indeterminados . 130 © Métodos Numéricos 137 C.1 Método de Euler 138 ©.2. Método de Euler Aperfeigoado .. 140 C.3. Método de Buler Modificado. . . apeide C.4 Equagio de Segunda Ordem . . . - 143 Bibliografia 147 indice 149 Prefacio da Segunda Edigao E com imensa satisfagdo que o autor recebeu a noticia de que a tiragem da primeira edig&o do livro Mecanica Classica, Volume I, estava esgotada, Desde a sua publicagdo, varios leitores enviaram criticas e sugestdes que foram muito iiteis na revisio e foram incorporadas na segunda edicao. Aproveitando a opor- tunidade, o autor agradece a esses leitores e a outros que, de uma forma ou de outra, deram seus apoios Algumas falhas ¢ alguns erros detectados na primeira edicdo (na maioria, gracas Aqueles leitores que enviaram lista de erros por eles encontrados) foram corrigidos As redagSes de algumas partes que nfo estavam muito claras na primeira edigo foram também melhoradas. Além disso, houve detalhamentos adicionais ¢ ampliagées em alguns tépicos. Se esta segunda edig&o, juntamente com o Volume Il, continuar a ser titil para os leitores que querem estudar Mecanica Clissica, 0 autor sentir-se-4 re- compensado. K. Watari Universidade de Sao Paulo Instituto de Fisica Sao Paulo, abril de 2004. Prefacio Na opiniao do autor, Fisica 6 um dos ramos mais dificeis da ciéncia para um estudante, se néio for o mais dificil. Além de ter de enfrentar as dificuldades inerentes ao assunto devido ao compromisso que a descrigdo da natureza seja realistica, é necessdrio estudar ¢ dominar a linguagem matemdtica adotada pela Fisica. Em vinte e cinco anos, o autor ministrou varias vezes disciplinas relacionadas com a Mecanica Classica e com a Fisica Matematica. Durante esse periodo, 0 autor constatou que os estudantes de graduagdo de Fisica tinham deficiéncias nos conceitos matemAticos e no treinamento para suas manipulagées como fer- ramenta, Como conseqiiéncia disso, a dificuldade de estabelecer a conexiio entre a Matematica e a Fisica era enorme, para a maioria desses estudantes. A Fisica (a Mecanica Clissi em aplicagées das ferra- mentas matemiticas. A primeira etapa dessas aplicagdes consiste em transcre- ver as leis fisicas que regem o fendmeno de interesse em equagdes mateméticas. Na, segunda etapa, essas equacdes devem ser resolvidas utilizando-se todas as técnicas mateméticas disponiveis. Na tiltima etapa, com as equagdes matemd- ticas resolvidas, deve-se interpretar o resultado e extrair contetidos fisicos dele. Como pode ser observado neste esquema, a Fisica jé superou a fase da mera ca- talogacao dos fenomenos hé muito tempo. Basicamente, na primeira e na tiltima etapa o estudante aprende a fazer conexdes entre a linguagem matematica e a fisica. Bm oulras palavras, v esLudante deve compreender que a Mateuitica & uma ferramenta necessaria para trabalhar com a Fisica. Com este propésito em mente, 0 autor sentiu a necessidade de escrever um texto que procure mostrar as manipulagdes das ferramentas matematicas de forma mais detalhada do que se encontra normalmente em textos classicos e, ao mesmo tempo, aprofunde mais nas discussdes dos resultados. , om particular) 6 ric Este 6 0 primeiro volume de MecAnica Classica que resultou dos esforcos do autor na tentativa de suprir um texto com as caracteristicas acima aludidas. Em nenhum momento, 0 autor teve a presungdo de estar sendo original nem melhor do que os excelentes textos classicos existentes. Apenas adaptagées e detalhamentos dos assuntos na ordem que é a melhor, na opinido do autor, xii K. Watari foram feitos. O contetido deste volume é basicamente 0 movimento unidimensional de uma particula O primeira capitulo 4, em essancia, revisiin dos canceitas fin- damentais, culminando com a das leis de Newton. JA o assunto do segundo capitulo é 0 estudo do movimento unidimensional propriamente dito. Além destes capitulos, foram acrescentados apéndices matematicos com a finalidade de separar a apresentagao de ferramentas matematicas com a de teorias fisicas. Desta forma, o estudante que jé domina as ferramentas matematicas necessdrias pode prosseguir na leitura da apresentagao do contetido fisico sem a interferéncia da primeira. Aquele que ainda nao as conhece pode desviar temporariamente para os apéndices e retornar apés ter aprendido os assuntos contidos 14. O apéndice A introduz, de forma resumida, 0 conceito de derivada de uma fungao vetorial de uma varidvel real. Um resumo da teoria de equagées diferenciais é apresentado no apéndice B. Para completar, método numérico para resolugao de equagées diferenciais esté no apéndice C. Para poder aproveitar bem 0 aprendizado da Mecanica Classica, 6 nece: rio que o estudante tenha conhecimentos anteriores minimos. 5 de fundamental importancia um dominio completo de Algebra elementar, trigonometria, com- portamentos de fungdes clementares, trigonométricas ¢ hiperbdlicas, Algebra elementar de vetores, ntimeros complexos, esbogo de grafico de uma fungio, Algebra linear, cdlculo diferencial e integral. Um curso de mecanica em nivel de Fisica Basica, onde se espera que uma discussio exaustiva dos conceitos basicos tenha sido feita, é também importantissimo. Finalmente, o autor gostaria de mencionar que algumas interpretagdes dos conceitos primitivos bem como nuancas de alguns vocdbulos dependem um pouco dos pensamentos filoséficos de cada individuo. A discussao referente a essas dependéncias nao é objetivo deste livro. Apesar das arduas tentativas de deixar o texto livre de erros, alguns sempre escapam A revistio. Aos leitores que porventura encontrarem erros de qualquer natureza neste livro, o autor solicita a fineza de enviarem a lista dos erros para o endereco eletrénico: kw@if. usp.br. O autor agradece aos professores José Rezende Pereira Neto e Vilma Sidnéia Walder Vuolo pela leitura critica do manuscrito ¢ pelas intimeras sugestoes. K. Watari Universidade de Sao Paulo Instituto de Fisica Sao Paulo, junho de 2001. Capitulo 1 Introducao Em “ciéncias exatas”, a construgéo de toda teoria cientifica parte de um conjunto de hipdteses sugeridas pelas observagdes dos fenémenos naturais. Es- sas hipdteses representam uma idealizacéo dos referidos fenémenos e séo as bases com que se constroe uma teoria. As leis envolvendo grandezas fisicas silo expressas em termos de equagées matemiaticas que descrevem ¢ prevéem seus comportamentos sob determinadas condigGes dentro dessa teoria. Com a mesma finalidade, medidas experimentais dessas mesmas grandezas podem ser efetuadas com certa preciséo. A comparac&o numérica entre a previsao tedrica ¢ a medida experimental serve como um pardmetro para julgar se a teoria é correta ou no e, se for o caso, em que ponto é necessdrio introduzir correcées ou modificagdes. Se a concordancia numérica for “boa”, a probabilidade da teoria estar correta é grande. Por outro lado, se a concordancia for apenas qualitativa, além de dificultar o seu julgamento, se existir mais de uma teoria, fica dificil escolher entre as diferentes possibilidades. s matematicas da teoria devem ser ‘As grandezas que aparecem nas equag expressiveis nas formas quantitativas. Assim, os conceitos na “ciéncia exata devem ser desenvolvidos de forma que déem significados numéricos precisos. Se uma dada grandeza for definida, especificagdes de como determind-la quan- titativamente devem estar contidas na sua definigao. Uma definigaéo apenas qualitativa ndo é suficiente para ser usada como alicerce da construcéio de uma teoria cientifica. Na pratica, apesar de ser muito dificil construir uma definigao idealmente precisa, supée-se implicitamente que as grandezas envolvidas esto precisamente definidas quando se escreve uma equagdo matematica. Nesta situacao, é importante estar ciente em que ponto e em que grau a construcgéo de uma teoria é afetada pela falta de precisdo nessas definigées. Hxistem conceitos que sao definidos em termos daqueles que jd foram anteriormente definidos e so chamados conceitos derivados. Assim, toda vez que um novo conceito derivado 14K. Watari Introduga&o for definido, supde-se que os conceitos anteriores, usados na nova definigao, 4 estao precisamente definidos. Rastreando-se esses conceitos anteriores, uti- lizados para definir os novos conceitos derivados, fatalmente voltar-se-4 até os conceitos primitivos ou bdsicos, para os quais, hé uma certa falta de preciso nas suas definigdes. Geralmente esses conceitos primitivos so supostos como conhecidos “a priori”, seja pela vivéncia, seja pela intuicéio. Muitos desses con- ceitos (por exemplo, espago, tempo, massa e carga no caso da fisica; ponto, reta ¢ plano no caso da geometria; etc.) tornaram-se parte integrante da nossa vida didria, que se corre o risco de serem considerados mais ébvios do que real- mente o séo. De qualquer forma, a construgdo de uma teoria deve ser iniciada em algum ponto, mesmo que a precisao desejdvel na definicdo dos conceitos primitivos nao seja alcangada. Sempre que atingir um esldgiv mais avaugady, deve-se retornar as definigdes desses conceitos e aperfeicod-las. Assim, cada vez que houver uma compreensao melhor, aperfeicoam-se as definigdes dos con- ceitos primitivos. Mesmo nesses conceitos primitivos, hd necessidade de incluir ao menos uma definigéo operacional para que a sua determinag&o quantitativa seja possivel. Uma das teorias cientificas mais antigas e mais conhecidas, nos moldes das chamadas “ciéncias exatas”, 6 a Mecanica Classica. As leis da alavanca e dos fluidos em equilibrio estdtico j4 eram conhecidos pelos cientistas da auliga Grécia. Depois da descoberta das leis da mecanica por Galileo ¢ por Newton, a Fisica teve um desenvolvimento enorme nos tiltimos trés a quatro séculos. Apés o surgimento da chamada Fisica Moderna no inicio do s alo XX, muitas das leis da mecanica sofreram modificacées. Entretanto, a Mecénica Cléssica continua sendo uma 6tima teoria na maioria das aplicages que surgem no co- tidiano terrestre. Ela leva a previsées corretas das grandezas que descrevem os fendmenos fisicos, desde que nao envolvam velocidades proximas A da luz, massas enormes, distancias cosmoldgicas e dimensdes atémicas. Mecnica é 0 ramo da Fisica que estuda os movimentos dos corpos e suas causas. B, entéio, necessdrio uma boa compreensio dos conceitos primitivos e de como as teorias so construfdas com base neles. A hipdtese mais fundamental na Mecanica Classica é considerar 0 espago ¢ 0 tempo continuos 0 que significa que existem padrées universais de comprimento e de tempo. Assim, observadores em diferentes lugares e em diferentes instantes podem comparar suas medidas de um dado evento ocorrido em um determinado ponto do espaco e em um instante especifico. Até hoje, nenhuma evidéncia convincente de que se alcancou 0 limite de validade desta hipdtese surgiu. Outras duas hipdteses, também muito im- portantes, estabelecem que 0 comportamento dos instrumentos de medida nao é afetado pelos seus estados de movimento (desde que n&o estejam sendo ra- 1.1 Principio da Relatividade de Galileo K. Watari 15 pidamente acelerados) e que, pelo menos em princfpio, os valores numéricos obtidos para as grandezas fisicas poderéo ser tornados téo precisos quanto se queira, Estas duas hipéteses falham no limite que envolvem altas velocidades e medidas de grandezas de magnitudes muito pequenas. Exercicios 1.1) Nao foi explicado, intencionalmente, 0 que é definigdo operacional no texto. Tente explicar de maneira mais precisa possivel, de forma que nao deixe margem as muiltiplas interpretacies. 1.2) Tmagine as possiveis conseqiiéncias se 0 espaco ou o tempo, ou ambos, nao forem continuos. Discuta. 1.3) Se o comportamento dos instrumentos de medida fosse afetado pelos seus estados de movimento, discuta as posstveis conseqiiéncias nas medidas das grandezas fisicas. 1.4) Discuta as dificuldades de obter valores numéricos arbitrariamente precisos nas medidas das grandezas fisicas. Discuta as possiveis limitagées para isso. 1.1 Principio da Relatividade de Galile E essencial que se consiga descrever o movimento de um cdrpo para poder estudé-lo. Para isso é necessdrio que se adote um referencial (ou sistema de referéncia), em relaco ao qual esse movimento ser4 descrito. Se a escolha de um referencial nao for bem feita, as leis do movimento poderao ter formas extremamente complexas, mesmo que o movimento em si seja muito simples. Isto significa que essas leis tm, em geral, formas diferentes para diferentes sis- temas de referéncias. Dependendo do referencial adotado, diferentes posigdes ou diregGes do espago on instantes diferentes do tempo podem n&o serem equi valentes do ponto de vista das leis da mecdnica, mesmo para um corpo que nao interage com nenhum outro. E evidente que com essa falta da homogeneidade e da isotropia do espaco e, também, da ndo uniformidade do tempo, a des- crigéo do movimento de um corpo seré proibitivamente complicada. Por isso, dentre as intimoras possibilidades, opta-se, sempre que puder, por aquele sis- tema de referéncia que leva as leis da mecanica As formas mais simples possiveis. Entretanto, dentro do conceito do espaco e do tempo de Newton (que serA men- cionado na secgéio 1.7), sempre 6 possivel encontrar um sistema de referéncia oude 0 espago ¢ homogéneo ¢ isotrdpico (significando que todas as posicdes e as diregSes sio equivalentes) ¢ o tempo uniforme (quaisquer instantes sfio equiva- lentes). Tal sistema de referéncia 6 chamado referencial inercial ou galileano. 16 K. Watari Introducgao Se se considerar um outro referencial animado de um movimento retilineo uni- forme em relagdo ao primeiro, experiéncias mostram que as leis do movimento so totalmente equivalentes nos dois referenciais, isto 6, nao 6 possivel distinguir um referencial do outro por mcio de qualquer cxperimentagao ou observacao do movimento. Nesses referenciais, as equaces matematicas, que regem as leis do movimento, tém as mesmas formas. Assim, existe uma infinidade de referenciais inerciais, animados de movimento retilineo uniforme um em relagio ao outro. Em qualquer referencial inercial, as propriedades do espaco e do tempo sao as mesmas, assim como todas as leis da mecdnica. Esta afirmagao constitui o que se chama Principio da Relatividade de Galileo que 6 um dos mais importantes da Mecdnica Classica. De acordo com este Principio da Relatividade, a posigao de um corpo ea sua velocidade s6 tém significado relativo a algum referencial. Assim, dados dois corpos movendo-se com velocidade relativa constante entre cles, no tem sentido tentar estabelecer qual dos dois esta em repouso e qual est4 em movi- mento se nao se referir a um referencial. A aceleragdo, no entanto, retém um significado “absoluto”, pois é possivel detectar experimentalmente a aceleragdo de um movimento, mesmo que nao seja possivel medir a sua velocidade. Dessa forma, é possivel detectar um referencial acelerado em relacio a um sistema inercial. Idealmente, pode-se definir que um referencial inercial é aquele em relagéo ao qual um corpo isolado! permanece em repouso ou em movimento retilineo com velocidade constante. Os referenciais acelerados em relagao a qualquer sis- tema inercial nao sao inerciais. Muitas vezes, depara-se com um referencial cuja aparéncia 6 0 de inercial, mas uma andlise mais cuidadosa revela que nao 0 6 na realidade. Pode-se citar, como exemplo, o referencial de um astronauta dentro de um satélite artificial. Se o astronauta abandonar um objeto qual- quer no “ar”, ele ficaré em “repouso” ou em “movimento retilineo uniforme”. Aparentemente, é 0 caso de um referencial inercial. Entretanto, apés um exa- me minucioso, conclui-se que a forga de atragao gravitacional da Terra sobre o referido objeto esté apenas sendo compensada pela forga centrifuga devido ao movimento “circular” do satélite ao redor da Terra. Se fosse possivel obser- var num espago de dimens&o bem maior que o do compartimento do satelite, notar-se-ia que existe um desvio no movimento desse objeto em relagdo a uma reta. Portanto, no se trata de um referencial inercial. Numa situagio real, corpo algum jamais poderé estar completamente isolado. Assim, ser muito dificil encontrar um referencial inercial “verdadeiro”. Porém, para todos os Aqui um corpo isolado significa que ele esté muito afastado de qualquer outro corpo. 1.2 Tempo K. Watari_17 fins praticos, pode-se adotar um sistema de trés cixos com a origem no centro de massa do sistema solar e com as suas orientagdes dirigidas para as estrelas “fixas”, por exemplo, como sendo um referencial inercial. Mesmo um sistema fixo na superficie da Terra pode, em muitas circunstancias, ser considerado iner- cial. A hipétese da existéncia de um referencial inercial é essencial na Mecénica Classica. ‘Todos os referenciais doravante adotados sero inerciais, exceto se o contré- tio for dito. Exercicios 1.5) Discuta 0 contetido do Prinefpio da Relatividade de Galileo e suas conseqiiéncias. 1.6) Considere um avido voando num ar completamente calmo, tendo todas as janeles fechadas. Discuta esse movimento sob 0 ponto de vista de um observador que est no interior desse avido nas seguintes situagGes: a) quando 0 avido est sujeito a uma aceleracao; b) quando 0 avido esté voando com velocidade coy ferencial fixo na 7) Discuta e tente delinear as limitagdes de se considerar um superficie da Terra como sendo um referencial inercial. 1.2. Tempo O tempo é um dos conceitos primitivos adotados para construir a teoria da Giéncia Fisica (Mecanica Classica, em particular). Como tal, no é possivel definir precisamente o que é 0 tempo, mas supde-se que todos j “o conhecem muito bem”. Como se pode notar, existe uma total falta de precisdo para definir o tempo. Esta situagao persiste mesmo que se adote as definigdes qualitativas dadas nos dicionarios. Entretanto, 0 que realmente importa aqui nio 6 definir 0 que € 0 tempo com preciso, mas como medi-lo, isto é, defini-lo operacional- menie. Uma maneira de medir o tempo é utilizar algum fendmeno que se repete com certa regularidade dito periddico, Um instrumento construido para medir © tempo, que foi dado 0 nome de reldgio, tem o principio do seu funcionamento baseado nesses fendmenos repetitivos. Um dos primeiros fendmenos periddicos que a Humanidade adotou para a medida do tempo é 0 nascer do Sol. Este fendmeno repete-se indefinidamente ¢ a duragdo entre dois eventos consecu- tivos do nascer do Sol 6 denominada dia, Surge uma questo importante neste ponto. Serd que a duracéio dos dias é sempre a mesma? Na realidade, esta 6 18 _K. Watari Introdugéo uma questo importante para qualquer fendmeno periddico, nao se restringindo apenas ao dia, no processo de medida do tempo. Tudo que se pode fazer é com- parar com outros fenémenos de natureza periddica para tentar responder a esta pergunta. Tais comparagoes e as andlises das leis que governam os fendmenos repetitivos dio subsidios para se decidir, nao sé esta questo, como o grau de confiabilidade dos processos adotados na medida do tempo. Observe, no en- tanto, que ndo hé maneira de provar que a duragdo dos periodos de qualquer dos fenémenos repetitivos é realmente constante. Dessa forma, apenas pode-se afirmar que a regularidade de um fenémeno concorda com a de outro, ou néo, mediante comparacées. Assim, do ponto de vista operacional, a defini¢éo do tempo esta baseada na repeticao de algum tipo de evento que, aparentemente, é periddico. O dia, acima citado, é devido a rotagdo da Terra. Ent&o, 0 periodo de rotagao da Terra pode ser comparado com, por exemplo, periodo de revolu- cdo da Terra ao redor do Sol, da Lua em torno da Terra, do Merctirio em torno do Sol etc. Observagées muito precisas mostraram concordancia entre si desses outros fenémenos dentro de uma pequena margem de discrepancias. A partir destas comparagées, detectou-se que o perfodo da rotac&o da Terra tem pequenas irregularidades da ordem de uma parte em 10°. Entio, o perfodo de rotagao da Terra, o dia, é um bom “reldgio” para muitos propésitos. Com o passar do tempo, a necessidade de medir intervalos de tempo de duragdo menor que o de um dia surgiu. Um dos mais antigos instrumentos, utilizados para a medida de tempo, sio os relégios de sol. Basicamente, a projegio da sombra de uma estaca sobre uma escala graduada 6 0 mecanis- mo de medida do tempo nesses relégios. Com os rel6gios solares, tornou-se possivel medir uma fragdo do dia com uma certa prec Entretanto, eles apresentavam 0 inconveniente de nao serem utilizaveis durante a noite e, de- pendendo da época do ano, de marcarem horas que diferem um pouco. Os clepsidras (rclégios de Agua) bascados no escoameul de agua, através de um orificio muito pequeno no fundo de um recipiente para um outro com uma escala graduada, j4 eram usados pelos antigos egipcios e babilénios. Eles permitiam medir 0 tempo correspondente & fracio do dia com uma precisio razodvel. Havia a vantagem de funcionar mesmo 4 noite. Com a descoberta do vidro, as ampulhetas (relégios de areia) que se baseiam num principio andlogo foram desenvolvidas. Em 1581, Galileo descobriu o isocronismo das oscilagdes de um péndulo, quando comparou as oscilagdes de um candelabro da Catedral de Pisa com 0 ritmo do seu pulso. Ele observou que o periodo das oscilacées permanecia 0 mesmo independentemente da sua amplitude, Logo ele aplicou essa descoberta 1.2 Tempo K. Watari_19 e construiu um relégio de péndulo que permitia medir pequenos intervalos de tempo. Até ento, nenhum método preciso para tal medida era conhecido. Depois da descoberta de Galileo, relégios de péndulos comecaram a ser cons- truidos. Estimulados pela necessidade, relégios cada vez mais precisos foram desen- volvidos. Ao mesmo tempo, medidas de intervalos de tempo cada vez mais cur- tos tornaram-se possiveis. O crondmetro mar{timo desenvolvido por Harrison, em 1765, tinha uma precisio da ordem de uma parte em 10°. Esta precisdo é comparavel ao de um rel6gio elétrico moderno. Uma parte em 108 é a preciséo de um relégio baseado em osciladores de quartzo. O !3Cs (césio 133) emite uma radiagao caracteristica, cuja freqiiéncia pode ser utilizada para controlar oscilagdes eletromagnéticas na regiéo de micro-ondas. Um reldgio baseado nesta freqiiéncia como padr&o, denominado relégio atémico, atinge uma preciso de uma parte em 10!°, Para se ter uma idéia, essa preciso significa um desvio de menos de 1s em ~ 30.000 anos. Apesar da precisao do relégio atémico ser fantasticamente boa, 0 movimento térmico dos 4tomos constituintes intro- duz uma incerteza razodvel na medida de freqiiéncia da sua radiacio. Com o advento das técnicas de confinamento e resfriamento de dtomos, esse movi- mento térmico pode ser reduzido drasticamente e espera-se uma melhora de pelo menos fator 1000. Isto quer dizer que, pelo menos em principiv, alingiria uma preciso maior que uma parte em 10!° (um erro nfo maior que 1s em cerca de 30 milhdes de anos) Unidade Padréo do Tempo — E conveniente que se defina uma unidade para a medida do tempo e referir-se a cla pelos seus multiplos ou submiiltiplos. Mas, se no se adotar um padro, provavelmente teria uma unidade diferente em cada regifio do globo terrestre. Felizmente, o periodo de rotagao da ‘Terra 6 comum para toda a Humanidade. Na falta de um padréo melhor, até 1956 adotava-se a unidade padréo do tempo como sendu v seyundo (que se abrevia como s) definido como 1s = 1/86.400 do dia solar médio. O dia solar médio 6 a média sobre um ano da duragao do dia. ‘Tendo em vista as irregularidades da rotago da Terra, em 1956, mudou-se a definic&io do segundo com.sendo 1s = 1/31.556.925,9747 da duragao do ano tropical de 1900 (1 an6 tropical é 0 intervalo de tempo entre duas passagens consecutivas do Sol pelo-equindcio de primavera). Finalmente, em 1967, foi definido o atual segundo como sendo 1s = 9.192.631.770 periodos da radiacao correspondente a transigao caracteristica do Cs, 20K. Watari Introdugiio Exercicios 1.8) Discuta a afirmagao do texto: “o que realmente importa aqui néo é definir o que 6 tempo com preciso, mas como medi-lo, isto é, defini-lo operacionalmente”. 1.9) Uma técnica (definicao) diferente de medir 0 tempo é observar a distancia entre dois eventos de um objeto em movimento. Por exemplo, se ligar e desligar o farol de um automével em movimento, pode-se saber a duragéo do tempo em que o farol ficou ligado, sabendo-se a disténcia percorrida durante 0 evento e a velocidade desse movimento. O tempo é dado pela distancia percorrida dividida pela velocidade. Com esta técnica foi determinado o tempo de vida do méson a? como sendo 10~1°s. Estendendo-se esta técnica, foi possivel descobrir uma partfcula cujo tempo de vida é 10-245, tempo de uma luz caminhar a distancia da dimensao de um nticleo de hidrogénio. Discuta as possibilidades e as difi- culdades de trabalhar com uma duragéo de tempo ainda menor. Ser que faz algum sentido falar em tempo numa escala to pequena, se nem sequer sabe se é possivel medi-lo, ou se consegue imaginar eventos acontecendo num tempo tao curto? 1.10) Pesquise e discuta algumas técnicas possiveis para lidar com tempos longos (algo em torno da idade da ‘Terra e além disso). 1.11) Se os Homens que habitam diferentes regides do globo terrestre tivessem ba- seadas as medidas do tempo em fendmenos diferentes, poderiam existir diversos padrdes de medidas do tempo dependendo da regigo em que foram descnvolvides. Discuta as possiveis conseqiiéncias de nao se ter um padrdo tinico na medida do tempo. 1.3. Espago O espago é, também, um dos conceitos primitivos no qual apéia-se a Mecéni- ca Classica. O conceito do espago esté intimamente relacionado ao da medida de distancia. E do conhecimento de todos que uma maneira de medir nma distancia 6 adotar uma unidade e mediante comparagio direta contar quantas unidades corresponde essa distancia. Essa unidade pode ser um bastao, polegar, palma da mao, pé etc. De qualquer maneira, é necessario adotar uma unidade padrao ¢ referir-se as distancias por meio dos mtltiplos e submiltiplos dessa unidade, como no caso do tempo. Apés a Revolugéo Francesa, adotou-se um padréo denominado metro e este foi definido como sendo a frag&o 1/10.000.000 da distancia do Equador ao Pélo Norte, 20 longo do meridiano de Paris, Foi introduzido para atonder as ne- cessidades da navegagio e da cartografia daquela época. Um século depois, em 1889, foi introduzido 0 metro padréo a fim de aumentar a preciso na me- dida da distancia, Este ultimo foi definido como a distancia entre dois tracos 1.3 Espacgo K. Watari 21 numa barra de platina iridiada depositada sob condigées especificadas no Bu- reau International de Poids et Mesures de Sévres, Franca. Em 1960, o metro foi redefinido como 1.650.763, 73 comprimentos de onda no vacuo da radiagao caracteristica do ®Kr (cripténio 86). Esta definigao é muito mais precisa ¢ satisfatoria, e esté associada a um fendmeno)fisico de “facil” reprodugdo. Fi- nalmente, em 1983, 0 padréio de comprimertto foi substituido por um padrao de velocidade (foi escolhido uma constante universal que é a velocidade da luz no vécuo, cujo valor eaato 6, por definigéo, ¢ = 299.792.458m/s), mantendo a unidade de tempo baseado no relégio atémico. Isto fixa a definicio do metro em termos da definic&o do segundo como sendo a distancia percorrida pela luz em l/c segundos. Note que nesta definicéo, o metro é reajustado automati- camente cada vez qne a definigin do segundo é melhorada. Entretanto, na pratica, as reprodugdes do metro com alta preciso continuam sendo baseadas em comprimento de onda da radiagéo do ®*Kr acima referido. ‘Agora que se tem a umidade padr&o, o metro, a medida de distancia pode ser efetuada por comparagéio com um bastdo de 1 metro, como foi referido no inicio desta secgio. Se for uma distancia menor do que 1 metro, pode-se cons- truir um bastdo menor, de frag&io do metro, para ser utilizado na comparagao. Entretanto, nem sempre 6 possivel aplicar este procedimento. Por exemplo, seria muito dificil, se nao for impossivel, medir a distancia horizontal entre dois cumes de montanhas procedendo-se desta maneira. Como um outro exemplo, poderia citar a medida de distancia da ‘Terra & Lua. Felizmente, sabe-se pela experiéncia que a distancia pode ser medida pela triangulagéo. Neste caso, esté sendo usada uma outra definic¢do de distancia, Porém, onde & possivel utilizar ambas as definigdes de distancia, as medidas obtidas concordam com uma boa preciséio. Uma vez que um ntimero muito grande de casos de aplicagao pratica mostra que a triangulago obtém distncias corretas, leva-se a acreditar que este procedimento fimcionard também para distancias ainda maiores. Uma medida cuidadosa, realizada através de dois telescépios localizados em lugares diferentes na face da Terra, encontrou a distancia da ‘Terra & Lua como sendo 4x 108 metros O inétodo da triangulacdo est4 baseado na geometria de Euclides. Por isso, pode-se introduzir 0 conceito do espago como sendo 0 de Euclides medi- ante a concordancia entre as duas definigdes de distancia. Conforme as escalas envolvidas, definigdes de distancias diferentes das duas anteriores foram uti- lizadas. Apesar disso, todas as evidéncias mostram que o espago de Euclides descreve extraordinariamente bem os fendmenos no dominio das dimensdes que vaio desde 10-15 até 107° metros. 22K. Watari Introdugio Exercicios 1.12) A medida de distancia da Terra ao Sol nao é simples, devido a dificuldade de focalizar-se num ponto determinado do Sol com precisio. Discuta uma maneira. de estender 0 método da triangulac&o, ou mesmo uma alternativa de definir a distancia para poder medi-lo. 1.18) Discuta as dificuldades do método de triangulagdo quando a distancia torna- se muito grande. Discuta as possibilidades de melhorar a medida de distancia realmente grande. Observe que a escala referida nesta questo envolve desde as distancias dos planetas do sistema solar até as das galaxias longinquas. 1.14) Pesquise e discuta as técnicas utilizadas para medir disténcias muito pequenas (desde a escala do comprimento de onda de luz visivel até algo menor que a dimensao de um nticleo atomico). 1.4 Cinematica O primeiro passo para estudar 0 movimento de um corpo é descrevé-lo. A descricao do movimento de um objeto real pode ser excessivamente complexa. Ent&o, é imperativo que se introduza uma idealizagdo para que possa repre- sentar uma situacéo real mediante simplificagao de muitos aspectos, tornando as equagées matemdticas mais simples e soliveis. Depois de obter uma des- crigio de um sistema idealizado, corregdes podem ser introduzidas para que o resultado se aproxime melhor da situagao real. Como primeiro passo, 0 conceito de ponto material ou particula, cujo movimento é o mais facil de descrever, ser introduzido. Um ponto material ou particula é um objeto cujas dimensio e estrutura interna séo despreztveis quando comparadas com outras dimensées en- volvidas no problema. Por exemplo, a Terra pode ser considerada particula? na maioria dos problemas de movimento planetério, mas certamente nio 6 posstvel nos problemas terrestres. A posigio de uma particula P pode ser descrita localizando-se um ponto no espaco. Isto pode ser feito fixando-se trés eixos mutuamente ortogonais a partir de uma origem O no espaco e especificando-se suas coordenadas retangulares com relagdo a estes eixos, como ilustrado na Fig. 1.1. Um sistema como estes trés eixos é denominado sistema de coordenadas cartesianas ortogonais. Dadas as coordenadas em relag&o a um sistema que localiza a posigdo de uma particula, o que se deseja em seguida é descrever a trajetéria percorrida por esta particula em movimento, Uma representagdo paramétrica, onde o tempo é 0 parametro, *Daqui para frente ponto materiale particule serdo ut em contrario zaclos como sindnimos, salvo mengdo 1.4 Cinematica K. Watari__ 23 6 uma das maneiras de especificar esta trajetdria. Assim, para descrever a trajetéria do movimento de uma particula, as coordenadas em fungiio do tempo a(t), y(t) e 2(t) © (1.1) s&o especificadas. O significado fisico das fungées x(¢), y(t) e z(t) 6, entao, cada uma das coordenadas de posigao da particula em estudo medidas em cada instante t do tempo. Escolhe-se um instante % para o inicio da medida do tempo, geralmente adotado como zero. Supondo-se que o significado de z(t), y(t) e 2(t) estio claros, pode-se definir as componentes cartesianas vz, Uy € Uz da ve- locidade num instante t como: _ dz Reaaivat d y= oe (1.2) eee adit Fig. 1.1: Coordenadas cartesianas 9 Asc ortogonais, especificando a posicgo que representam® as taxas de variagdo de de uma particula P em relagéo 4 cada uma das coordenadas de posicéo em origem O do sistema. fungao do tempo. Da mesma maneira, as taxas de variag&o de cada uma das componentes da velocidade em fungéo do tempo sao definidas como as componentes cartesianas da aceleracéio, ar, ay € a, num instante t e dadas por: ctreardice eee Sie eel 2 al dw _ déy = — 1 a= (1.3) 4 _ dup 55 aia Depeadendo do problema em questo, outros tipos de sistemas de coordenadas tais como as coordenadas cilindricas ¢ as esféricas sfio mais convenientes do que as cartesianas. Esses sistemas serdo estudados detalhadamente no capitulo 3. 3A derivada com relagéo @ ¢ scré denotada, também por um ponto cm cima de uma varidvel dependente (notagéo de Newton), como é mostrada nas equagées (1.2). Qualquer notagdo para derivada seré utilizada, conforme conveniéncia, no texto. 24 ~=K. Watari Introdugao Para movimentos em duas e trés dimensGes torna-se conveniente trabalhar com os vetores para representar posigdes, velocidades e aceleragdes. Neste caso, 0 movimento é descrito por um vetor de posigdo r, onde a cauda é fixa na origem do sistema de referéncia adotado e a ponta deste vetor localiza a posic¢ao da particula (Fig. 1.1). Se o sistema de coordenadas cartesianas for adotado, suas componentes sio «, y e 2. Assim, as funcées (1.1) sfo resumidas numa tnica fungao vetorial r(t). A velocidade vetorial é definida, entao, como: i, (1.4) e a aceleragao vetorial como: (1.5) Utilizando-se a definig&o da derivada de uma fungdo vetorial dada pela expresso (A.1), isto é, Spa dt atso At in(t + At) —r(t)] , v= pode-se ver que v(t) é tangente A trajetéria da particula, como ilustrado na Fig. 1.2. Uma vez que os vetores sio indepen- + dentes do tipo de sistema de coordena- Fig. 1.2: Velocidade vetorial. das adotado para descrevé-lo, 6 importante ressaltar também que a velocidade e a acelerag&o expressas como vetores, como em (1.4) e (1.5), respectivamente, so independentes do tipo de sistema de co- ordenadas ¢ a descricfio do movimento pode ser expressa de maneira compacta. No momento de descrever as componentes em algum tipo especifico de sistemas de coordenadas, deve-se lembrar que as componentes terdo expressdes apropria- das para cada tipo de coordenadas. Num sistema cartesiano as componentes de (1.4) e de (1.5) serio dadas pelas expressées de (1.2) e (1.3), respectivamente. Um desenvolvimento sistemdtico das ferramentas matematicas serd apre- sentado & medida que se necessitar. Exemplo 1.1 O movimento de uma particula 6 descrito pelo vetor de posicao: r(é) =iA coswt+jA senwt. 1.4 Cinematica K. Watari 25 Neste caso, as trés componentes cartesianas deste vetor so: a(t) =A coswt, y(t) = A sent e 2(t)=0. Derivando-se 0 vetor de posicio, obtém-se a ve- locidade vetorial dada por: iwA senwt+jwA coswt, cujas componentes cartesianas sao: Fig. 1.3: Velocidade e acel- eracdo vetoriais num movimento v,(t) =—w A senwt, circular. vy(t) =w A coswt e v(t) =0. Por sua vez, derivando-se a velocidade vetorial, resulta-se em aceleragiio vetori a(t) = iw? A coswt —ju* A senwt = —wr. Desta forma, as suas componentes cartesianas so: a,(t) =—w? A coswt = —w? x(t), ay(t) = —w? A senwt = —w? y(t) e a,(t)=0. A trajetéria deste movimento é uma circunferéncia de raio A no plano zy, pois, = (Acoswt)? + (Asenwt)? = rer=24y4z? +y¥ O vetor velocidade é tangente a trajetéria, porquanto: ver=v,t +vyy +022 = —wA senwt A coswt+w A coswt A senwt = 0 (ver Teorema A.1 na pagina 108, para a propriedade da derivada de uma funcdo vetorial cujo médulo constante). A velocidade tem também médulo constante, uma vez que uz tug +02 = (-wA senwt)? + (w A coswt)? = w? A?. Finalmente, a aceleracdo é voltada para a origem (aceleragao centrfpeta) e também tem médulo constante igual a w? A 26K. Watari Introducgéo Exercicios 1.15) Quando um automével, movendo-se com uma velocidade constante v9 , aproxi- ma-se de um cruzamento, o semaforo torna-se amarelo. O motorista pode parar © automével sem avangar pelo cruzamento, ou também pode tentar atravessé-lo antes que o seméforo mude para o vermelho. a) Se At €0 intervalo de tempo que o seméforo permanece amarelo antes de mudar para o vermelho, qual é a distancia maxima do cruzamento ao au- tomdvel, de maneira que o motorista consiga atravessar o cruzamento antes do seméforo tornar-se vermelho, mantendo a velocidade do automdvel em v9 ? b) O tempo de reagdo do motorista para tomar decisdo e pisar no freio 6 7 & a maxima desaceleracdo do automével devida & frenagem 6 a. No momento que o seméforo tornou-se amarelo, qual ¢ a menor distancia do cruzamento ao automével de maneira que o motorista consiga parar sem avancar pelo cruzamento? ¢) Determine a velocidade critica ue, em termos de a, At e 7, de maneira que as duas distancias obtidas nos itens a) ¢ b) acima coincidem. Este é 0 limite onde o motorista consegue tanto parar o automéyel sem avangar pelo cruzamento, quanto atravess4-lo antes do semdforo mudar para o vermelho. d) Mostre que, se vo for maior que a velocidade critica determinada no item anterior, existe uma faixa de distancia do cruzamento ao automével no qual 0 motorista nao conseguiré parar 0 automdvel sem avancar pelo cruzamento, nem atravessé-lo antes do seméforo tornar-se vermelho. 1.16) Uma barra de comprimento ¢ tem a extremidade A apoiada numa parede ver- tical e a outra extremidade, B, apoiada no piso horizontal. Num dado instante, aextremidade B é puxada na diregio horizontal com uma velocidade constante vp , no sentido de afastar-se da parede a) Mostre que o ponto médio da barra descreve um arco de circunferéncia de raio £/2 e centro em O, sendo O 0 ponto de cruzamento da parede vertical com © piso horizontal. b) Determine a velocidade do ponto médio da barra no instante em que o extremo B est4a uma distancia b < da parede. ua ds a 1.17) Mostre que v= v7 e a=a7+——n, onde v= 7) &a velocidade escalar; p @s 4 dr nies a = pps a aceleragéo tangencial; 7 = 7—, 0 vetor unitério tangente a js @r trajetéria; e, finalmente, n = p ae? vetor unitdrio normal 4 trajetéria. Aqui, s €0 comprimento da trajetéria, medido a partir da posiydo inicial e p 6 raio de curvatura da trajetéria no ponto em questao. Qual o significado do termo 1.5 Massa e Forga K. Watari_ 27 1.18) Um trem, inicialmente em repouso numa estagao, parte e acelera uniformemente até que uma velocidade de 72 km/h soja atingida no final do terceiro minuto. Os trilhos séo curvos e tem um raio de curvatura de 800 m. Determine as aceleracdes tangencial, normal e total do trem no fim do segundo minuto. 1.19) A aceleragéio maxima de um trem é a e a sua desaceleracio maxima é b. Um trem que estava parado na estagdo A parte rumo & estacio B e péra ao chegar neste ultimo. Se a distancia entre as estagdes A e B é £, mostre que este trem 1/2 2£(a +b) ab nao consegue percorrer esta distancia num tempo menor que 1.5 Massa e Forga Todas as leis fisicas so extrafdas da observagéio dos fenémenos naturais. As leis do movimento também sto frutos de experiéncias acumuladas dessas observagées. Baseados nos estudos do movimento de projéteis ¢ de objetos movendo-se sobre superficies lisas, Galileo sugeriu que a variagao da veloci- dade é produsida pela interagio com suas vizinhangas. Extrapolando essas experiéncias, sugeriu que um objeto completamente isolado move-se com ve- locidade constante (principio da inércia). Cabe enfatizar novamente que esta situaciio de um corpo estar completamente isolado é altamente idealizada, uma vez que na realidade jamais teré um isolamento completo. Contudo, esta idea- lizagao é muito boa, contanto que as influéncias de outros objetos sobre aquele em estudo sejam despreziveis. A descricdo baseada nesta idealizag&o é incrivel- mente precisa em muitos dos fendmenos reais. Considere, agora, dois corpos completamente isolados, atraindo-se ou r pelindo-se mutuamente com uma fora de intensidade fixa. Uma situacao real bem préxima disso, citada em muitos textos de Fisica em nivel elementar, 6 o de dois individnos com patins de lamina sobre uma superficie de gela, brincando de cabo de guerra (neste caso, a interagao é atrativa). E também um dos sistemas fisicos mais simples possfvel de se tratar. Pelo estudo cuidadoso do movimento nesta circunstdncia e da extrapolagao dos resultados, observa-se que os dois corpos sao acelerados em sentidos opostos na dire¢do da reta que os une. Este fato pode ser expresso por equacdo matemdatica como: V1 =—frave, (1.6) quando se expressa 1 em relag&o a aceleracéio da particula 2. A constante #2 é positiva e é caracteristica das duas particulas consideradas. O sinal menos expressa o fato que as aceleragGes estado no sentido oposto. Se inverter os papéis 28K. Watari Introdugao e expressar ¥2 em relagio & aceleragéo da particula 1, obtém-se: V2 = —faivi. (1.7) Disto conclui-se que: 1 =a. 18 Bra Ba (1.8) Continuando a experiéncia envolvendo uma terceira particula, mas isolando-as duas a duas e mantendo a intensidade da forga de interagéo mtitua inalterada, resulta em: Vs= Par (1.9) e ene (1.10) Combinando os resultados (1.6), (1.9) e (1.10), tem-se: sa = fa. qu Pra Ba (1.11) para quaisquer trés particulas consideradas. Esses resultados sugerem que a equagio (1.6) ou (1.9) ou (1.10) pode ser usada como uma maneira de definir operacionalmente o que se chama massa inercial de uma particula, que sera referido simplesmente como massa de uma particula. Se a particula 3 for con- siderada como a de massa unitéria padrdo, a massa da particula 1 é dada por m, = (3,. Da mesma maneira, a massa da particula 2 é dada por m2 = fi32. Da iqualdade (1.11) conclui-se, entao, que: bo=—. (1.12) my Substituindo-se este resultado na equacio (1.6), uma igualdade, valida para duas particulas isoladas quaisquer interagindo-se mutuamente, mv = — move, (1.13) é obtida: Este resultado sugere que o produto massa x aceleragéo é uma quantidade importante e ser chamada forga agindo sobre uma particula, isto 6 Fa mv=mi. (1.14) Assim, da andlise cuidadosa dos resultados da experiéncia acima, obteve-se uma definigéo operacional de forca. 1.5 Massa e Forga K. Watari_ 29 Se a massa for constante, a equaciio (1.13) pode ser reescrita de maneira equivalente como: d (mv) d (move) ee 1.15} dt dt anes © produto massa x velocidade que, aparece nesta equagao, é chamada quanti- dade de movimento e é denotado por p = mv. Assim, outra definiciio de uma forga é dada por: d(mv) _ dp eee (1.16) ean dt Uma partfcula ter4, entio, trés componentes F,, Fy e F, de forca agindo sobre ela. Em geral, forcas de diferentes origens que agem sobre uma mesma particula somam-se vetorialmente e o efeito 6 0 de uma forca tinica denominada resultante. Assim, a forca que aparece na equagao (1.14) ou (1.16) é a resultante. De acordo com a equacio (1.13) ou (1.15), a forca que age sobre a particula 1, devida A interacao com a 2, é igual e de sentido contrério Aquela que age sobre a particula 2 devida & interag&o com a 1 (lembre-se que as duas particulas esto isoladas e interagindo-se mutuamente), que pode ser expressa como: Fy =-Fn. (1.17) Observa-se também nessa experiéncia que, se mantiver a massa cons- tante, a intensidade da aceleragao serd tanto maior quanto maior for a intensidade da forca. Se se mantiver a intensidade da forca constante, a intensidade da aceleracdo é inversamente proporcional & massa. Ainda, a equagio (1.15) pode ser reescrita como: d d a (Mv: + move) = Ge (Pi + Pa) ou seja, Pi + po = constante. (1.18) Este resultado expressa a conservacéo da quantidade de movimento total para dois corpos isolados em movimento que se interagem mutuamente. Significa 30 K. Watari Introdugao que, se as quantidades de movimento dos corpos 1 e 2 forem, respectivamente, Pi © pz num dado instante e se p/ ¢ p} forem, respectivamente, as quanti- dades de movimento dos corpos, 1 e 2, num instante posterior qualquer, entao, Pi+p2=Pi+Ps, (1.19) que 6 outra maneira de escrever a equagio (1.18) Exemplo 1.2 Seja um homem de massa ma sobre um carrinho de massa Mear- Inicialmente, ambos estdo em repouso com relagao ao solo ¢ este sistema encontra-se isolado. Nestas condigées, pear = 0 ¢ pr = 0, tendo Pear + pn = 0. Se o homem comegar a andar em cima do carrinho com uma velocidade vu, em relagdo ao solo, ele adquire uma quantidade de movimento pj, = mjv_,. Como pia, + pj, deve ser nulo, pela equagdo (1.19), conclui-se que p!,, = —p, = —Mmavy. Entdo, supondo que nao ha atrito entre o solo e o carrinho, ele deslocard em sentido oposto ao do homem com a velocidade mn. Mear Vear = va em relagdo ao solo. Este exemplo 6 um dos sistemas mais simples onde se aplica a conservacao da quantidade de movimento total. Unidades de Massa e de Forga: A unidade de massa no sistema interna- cional (SI) é 0 quilograma, definida como a massa de um corpo padréo que é de platina iridiada depositado no Bureau International de Poids et Mesures de Sevres, Franca. Originalmente, pretendia-se que a massa deste corpo padrao correspondesse & de 1 & (1 dm®) de Agua a pressio de 1 atmosfera e a tem- peratura de 4°C. Depois de construido, a massa do corpo padrio adotado ficou diferente da de 4gua nas condicdes estipuladas, embora essa diferenga seja muito pequena. Agora a massa de qualquer corpo pode ser obtida mediante com- paracdo com a do corpo padréo. Tendo a unidade de massa definida, a unidade de forga, que no sistema SI é 0 newton, é definida como sendo a intensidade da forca, que aplicada sobre uma particula de 1 kg, imprime uma aceleragao de 1 m/s?. Exercicios 1.20) Em laboratério utilizam-se, freqiientemente, dois puques sobre uma mesa de vidro para uma experiéncia de colisdo. Esses puques so considerados isolados € as previses tedricas dos resultados so feitas como se realmente o fossem. Uma vez que os laburatdrius eslav situados ua superficie da Tera, discuta a respeito dessa hipdtese de isolamento dos puques. 1.21) Na experiéncia de colisio citada no exercicio 1.20, discuta as forgas envolvidas. Elas obedecem a equaciio (1.17)? 1.6 Leis de Newton K. Watari_ 31 1.22) Poder-se-ia utilizar a forga como grandeza primitiva em vez da massa, tomando- se 0 peso padrdo, por exemplo, como unidade de forca. Como seria, entdo, definida e medida a massa de um corpo? Discuta as diversas possibilidades, se for 0 caso. 1.23) Se a massa de um corpo for definida como sugerida no exercicio 1.22, discuta como poderia obter a relacdo (1.14) ou (1.16). Como se obteria a conservagdo da quantidade de movimento [ (1.18) ou (1.19) ]? 1.6 Leis de Newton A primeira formulacio légica e completa da Mecanica foi dada por Sir Isaac Newton, ¢ est. contida. nas trés leis qne levam o sen nome. As leis de Newton podem ser enunciadas como segue: 1. Uma particula permanece no seu estado de repouso ou de movimento retili- neo uniforme, a nao ser que acdo de uma forca sobre ela impele-a a mudar. 2. Uma particula sob ago de uma forca move-se de maneira que a variacio da quantidade de movimento em relagao ao tempo 6 igual a forca aplicada. A direcdo e o sentido so iguais aos da forca aplicada [vide equagio (1.16)]. 3. A cada ago existe uma reagiio de mesma magnitude e de sentido contrario [vide equagao (1.18) ou (1.15), resumida em (1.17)]. Qual o significado da primeira lei? A esséncia do seu contetido é 0 principio da inércia de Galileo, mencionado na pégina 27. Newton, provavelmente, her- dou do Galileo a idéia de que 0 repouso ou o movimento retilineo uniforme é o estado natural de qualquer particula. Note que esta lei nao é obedecida em qualquer tipo de referencial. Por exemplo, uma, particula que esté em repouso para um observador em um referencial, pode estar executando um movimento circular para um observador em um referencial que esta girando com relacdo ao primeiro. Somente em referenciais muito especiais seré observada a situagao expressa na primeira lei, isto 6, o estado de repouso ou de movimento retilineo uniforme para uma partfcula isolada. Os referenciais nos quais ela é obedecida sao referenciais inerciais, conforme definidos na pagina 16. Entao, a primeira lei esta praticamente definindo referenciais inerciais, onde as propriedades do espago e do tempo e as leis da mecanica sio as mesmas, de acordo com as dis- cussdes da seccfio 1.1. Observe que a forca é usada coma um. conceito primitivo ‘para poder emmeiar a primeira {el, ou seja, cla nfo tem significado algum sem o conceito de forga. Contudo, a primeira lei fornece somente o significado preciso para uma forga nula. Em outras palavras, num referencial inercial, a auséncia 32K. Watari Introdugao de forca pode ser detectada obsorvando se uma particula isolada permanece em repouso ou em movimento retilineo uniforme, Em relacao & forga ndo nula, a primeira lei fornece apenas uma nocdo qualitativa a seu respeito. © significado mais concreto da forca é fornecido pela segunda lei. A des- coberta de Newton niio foi de que a forga é massa vezes aceleracdo, pois, isso é meramente definig&o operacional de uma forga atuando numa particula. Ele sabia da observacio experimental que forca, massa e aceleragdo estavam in- timamente relacionadas. Como mencionado na secgio anterior, ele sabia da observacio que a aceleragio adquirida por uma particula era inversamente pro- porcional & sua massa quando se aplica uma forca de intensidade fixa. Por outro lado, se a massa fosse mantida fixa, a aceleracio era diretamente pro- porcional & intensidade da fora aplicada. Assim, era mais simples associar a forca A variagéo da quantidade de movimento. Se a segunda lei de Newton fosse meramente uma, definigao de forga, ela seria desprovida de qualquer contetido fisico. A forca resultante F ndo 6 dada apenas por (1.16). As forcas que atuam sobre uma particula resultam de sua interacio com outras e sdo dadas por leis de forgas que definem F em termos da situagdo em que se encontra a particula em questao. Como exemplo dessas leis de forgas podem ser citadas a lei da gravitag&o universal para particulas com massas, a lei das forgas elétricas e magnéticas para particulas carregadas, a lei de Hooke para molas etc. A equacio (1.16) associada a essas leis de forcas, torna a segunda lei de Newton uma poderosa ferramenta, capaz de descrever e prever 0 movimento de uma particula isolada sujeita a uma forca resultante F , em relagdo a um referencial inercial. Cabe enfatizar neste ponto que, ao contrario do que muitos autores afirmam, a segunda lei de Newton néo contém a primeira. A primeira lei é necesséria para detinir um referencial inercial, onde a segunda lei é valida. Ou seja, a segunda lei s6 vale num referencial inercial definido pela primeira let. No caso de uma massa constante, a segunda lei de Newton toma a forma da equaco (1.14). Hé ainda idéias implicitas contidas nesta lei na forma (1.14) ‘A massa definida na segunda lei 6 a massa inercial que se supde ser uma carac- teristica intrinseca de uma particula. TIma. vez determinada, qualquer que seja a circunstAncia, 0 mesmo valor deve ser empregado em quaisquer outras situacdes. Supée-se também que, enquanto se mantém a identidade da particula, a massa inercial 6 independente da sua posicéio e da sua velocidade (0 que nao ocorre 1.6 Leis de Newton K. Watari 33 numa gota de chuva que, até certo limite, aumenta o seu volume e sua massa en- quanto cai, ou num foguete que ejeta combustivel durante o seu deslocamento, mesmo em problemas que cles podem ser considerados particulas). A vantagem de cnunciar a segunda lei na forma (1.16) é que ela pode ser aplicada também nos casos que a massa n4o permanece constante durante o movimento. Por outro lado, um procedimento comum para determinar a massa de uma particula € comparar o peso desta com o de um corpo padrao. Este procedimento usa © fato que uma forca gravitacional agindo sobre a particula é 0 seu peso, isto é, que P = mg, onde g 6 a aceleraciio devida A gravidade. A massa assim determinada, é chamada massa gravitacional. Galileo e Newton examinaram experimentalmente a equivaléncia dessas duas massas e constataram a igual- dade da massa gravitacional ¢ da massa inercial. As experiéncias cumparando a massa inercial com a gravitacional foram sendo constantemente aperfeicoadas e a identidade entre as duas massas é aceita dentro de uma preciséo de uma parte em 10" nos dias de hoje. Assim, as massas inercial e gravitacional so con- sideradas iguais na mecénica de Newton. Essa igualdade é uma das hipéteses fundamentais “demonstrada” experimentalmente. Na discussao da primeira e da segunda lei de Newton, foi considerada uma particula isolada sob a agdo de uma, forca resultante F. Na seccao anterior, foi discutida interacao entre apenas duas particulas isoladas ¢ o resultado ex- presso na equagiio (1.13) ou (1.15) ou (1.17). Qualquer uma dessas equagdes 6 0 enunciado matematico da terceira lei de Newton, conhecido também como prinetpio da acdo € reagdo. Observe que a aco ¢ a reagao sao sempre aplicadas @ partéculas diferentes. Se houver mais de duas particulas isoladas, 0 conceito de agao ¢ reacao pode ser estendido desde que seja possivel isolar as interagdes de duas em duas. Neste caso, tem-se: Dy i a v= ae PO, (1.20) onde Fj; 6a fora exercida sobre a particula i pela particula j e p; 6a quanti- dade de movimento da particula 1. Uma conseqiiéncia importante da interacio de duas particulas isoladas, que levou A terceira lei de Newton, é também a lei da conservagao da quantidade de movimento total desse sistema de duas particulas [equagao (1.18) on (1.19)]. A quantidade de movimento é conhecida também como momento linear e a sua lei da conservacdo 6 freqiiontemente referida como lei da conservagéo do momento total. Esta lei pode ser estendida para um sistema de mais de duas particulas isoladas, como em (1.20), desde que as interagGes possam ser consideradas duas a duas. Apesar da terceira lei 34K. Watari Introdugao falhar em muitos casos, a lei da conservagdo do momento total vale sempre, desde que convenientemente generalizada. A terceira lei de Newton falha quando as forcas eletromagnéticas estéo envol- vidas, quando uma forca propaga-se de uma partfcula para a outra com veloci- dade finita (interaciio nfo instanténea), quando as particulas interagentes estado distantes ou sendo acelerados rapidamente. Existem outras dificuldades pelo fato que os conceitos da mecénica Newto- niana nao serem perfeitamente claros ¢ precisos, como de fato nenhum conceito ser4 em qualquer teoria. Apesar disso, as teorias devem ser desenvolvidas como se os conceitos fossem claros e precisos. Entretanto, como jé. foi dito no infcio deste capitulo, esses conceitos basicos devom sor tornados claros pelo uso, A cada nova compreensio, deve-se revé-los para aperfeicoar as suas definicées. Exercicios 1.24) Resuma a sua compreensio a respeito da primeira lei de Newton. 1.25) Seja uma particula de massa constante, Se cla estiver presa a uma mola, a lei de Hooke diz que a elongagio da mola é proporcional & forga aplicada sobre a particula. Por outro lado, a segunda lei de Newton diz que a aceleragao adquirida pela particula é proporcional & forca aplicada sobre ela. Existe incocréncia entre essas duas leis? Explique. 1.26) Discuta as possiveis conseqiiéncias se as massas inerciais ¢ as gravitacionais no fossem idénticas. 1.27) A terceira lei de Newton é enunciada em termos de duas particulas isoladas, interagindo-se mutuamente. Naturalmente, esta situaco é imposstvel de ser aleangada na, pratica e as forcas de interac&o com outras partfculas podem in- troduzir efeitos estranhos. Comente e discuta em que isso pode atrapalhar ou auxiliar na validade da terceira lei. 1.7 Transformagao de Galileo As idéias de Newton a respeito do tempo e do espaco estfio na sua obr “Philosophiae Naturalis Principia Mathematica”. Nesta obra, ele faz uma di tincdo entre o tempo c 0 espago em absoluto ¢ relativo, verdadeiro e aparente, matematico e comum. O tempo absoluto (também chamada duragdo) é tam- bém verdadeiro e matematico e, da propria natureza, flui uniformemente por si. ‘Ao passo que o tempo relativo (que também é aparente e comum) é associado 1.7 Transformagao de Galileo K. Watari 35 a uma medida externa de duracio por meio de movimento‘. O espaco absoluto de Newton é algo que permanece imutavel e imével. J4 0 espaco relativo é associado a uma medida do espaco absoluto, determinado pela sua posicio em relagéo a um objeto por meio de uossos senlidos. Talvez essas concepgées do tempo e do espaco levaram Newton & idéia de um referencial inercial “absoluto” e “verdadeiro”. Na secgdo 1.1 foi definido um referencial inercial como sendo aquele que, em relacao a ele, um corpo isolado permanece em repouso ou em movimento retilineo com velocidade constante. Essencialmente, este é 0 contetido da pri- meira lei de Newton (conhecido, também, como principio da inércia). Um referencial fixo num laboratério terrestre, por exemplo, é inercial de forma muito aproximada. Pode-se afirmar que, experimentalmente, um referencial com origem no centro de massa do sistema solar e com os eixos apontados para as estrelas “fixas” é um referencial inercial suficientemente “perfeito” para muitas situagées. Talvez, um referencial que no tenha aceleragdo nem rotacéio em relagéo a todas estrelas “fixas” do universo possa ser considerado um refe- rencial inercial “absoluto” e “verdadeiro”. No pardgrafo seguinte sera discutida uma transformacéo que relaciona a descrigao do movimento em relacio a dois referenciais distintos, um estando em movimento retilineo uniforme em relacio ao vulru. Sejam, entfio, S e S’, dois referenciais quaisquer cujas origens so os pontos O e O’, respectivamente. Um ponto P no espaco pode ser localizado em relag&o ao referencial S por meio de vetor de posigéo r. No referencial S’, este mesmo ponto pode ser localizado pelo vetor de posicao r’, como ilustrado na Fig. 1.4, pagina 36. Os vetores de posigéo r e r’ estiio relacionados por meio da transformagéo: r'=r-R, (1.21) “Na publicagdo em inglés, — I. Newton, The Principia, Prometheus Book, New York, 1995, — consta: “... it will be convenient to distinguish them into absolute and relative, true and apparent, mathematical and common. 1) Absolute, true, and mathematical time, of itself, and from its own nature flows equably without regard to anything external, and by another name is called duration: relative, ap- parent, and common time, is some sensible and external (whether accurate or unequable) measure of duration by the means of motion, which is commonly used instead of true time; such as an hour, a day, a month, a year. II) Absolute space, in its own nature, without regard to anything external, remains always similar and immovable. Relative space is some movable dimension or measure of the absolute spaces; which our senses determine by its position to bodies; and which is vulgarly taken for immovable space; ... ”. 36 K. Watari Introdugao Re referencial S’ referencial $ Le. Fig. 1.4: onde R é 0 vetor de posicéo do ponto O! em relagio a O. No conceito de espaco e tempo do Newton, o tempo é comum nos dois referenciais. Denotando, entdo, o tempo comum por t e derivando-se (1.21) em relag&o a t, obtém-se: #-R, — ouseja, 'av-V. (1.22) Derivando-se mais uma vez em relagio a t, chega-se a: -R, ou seja, ‘=a-A. (1.23) Se se considerar V = constante, a transformagao (1.21) pode ser reescrita como: (1.24) e (1.23) torna-se: (1.25) ou a Deste iiltimo resultado, observe que se a aceleracao for nula no referencial $, é também nula no referencial 3", quando o referencial $’ estiver em movimento com velocidade vetorial constante em relacio a S. Entdo, se uma particula estiver em repouso em relag&o aS’, est em movimento retilineo com velocidade constante em relacio a S’. O contrério também acontece, isto é, se uma particula estiver em repouso em relagio a S’, ela est em movimento retilineo com velocidade constante em relagio a referencial $. Numa situagdo mais geral, se uma particula estiver em movimento retilimeo com velocidade constante em relagdo a S, também estd em relacio a S’. Isto significa que se S for um referencial inercial, S’ também é, se S’ estiver em movimento retilineo com yelocidade constante com relacéo a S (como j4 fora mencionado na secc&o 1.7 Transformagao de Galileo K. Watari 37 1.1). As transformagées (1.24), (1.22) e (1.25) sio chamadas Transformagées de Galileo ¢ sio conseqiiéncias das idéias do espago e do tempo de Newton. Note que essas Transformagées de Galileo mostram que os estados de repouso € de movimento retilfneo uniforme foram postos em pé de igualdade pela primeira lei de Newton. 1.7.1 As Leis da Mecanica Num referencial inercial, S', a segunda lei de Newton pode ser escrita como: m¥ = F(r,i,t), (1.26) para uma particula de massa m na posigéo do ponto P, sujeita a uma forca externa F. Se se substituir r, # e # obtidos de (1.24), (1.22) e (1.25), respec- tivamente, em (1.26), ela se transforma em: m# =F(r'+ Vt,e'4 V,i). Mas a forca aplicada, F, como a fora devida A mola, A atracio gravitacional etc., podem depender da clongacio da mola, da distancia entre as particulas etc., que nao dependem do referencial utilizado para representé-las. Um ntimero tazodvel de forgas da natureza goza destas propriedades. Assim, F é uma grandeza intrinseca que também nao depende de um sistema de referéncia par- ticular. Por isso, F é a mesma forca no referencial Se no S$. Dessa forma, tem-se: F'(r',#/,t) =F(r' + Vi,?' + V,t). Portanto, a segunda lei de Newton (1.26) escrita para o sistema $! fica: mi! = F'(r/,2/,2) (1.27) Comparando-se (1.27) com (1.26), conchui-se que as leis do movimento sao as mesmas em referenciais inerciais diferentes, pois, as equagées mateméticas que as regem mantém a mesma forma nesses referenciais; o que jé foi afirmado na secgiio 1.1, As transformagées de Galileo (1.24), (1.22), (1.25) e 0 resultado (1.27) mostram que se a velocidade de uma particula for constante em relacéo a um referencial inercial $, sera também num outro referencial $’ animado de uma velocidade constante com relacio a S. Se uma particula estiver acclerado em 38 K. Watari Introdugao relagéo aS, teré a mesma aceleragdo em relagdo a $!. Considerando esses fatos, conclui-se que as leis da mecdnica mantém-se a mesma nos dois sistemas. Assi, um observador no sistema $ pode comparar a sua medida com a de um observador no sistema S’ e detectar 0 movimento relativo entre os dois referenciais, Entretanto, ¢ impossivel detectar qualquer movimento relativo em relacéio ao outro referencial com as observagées ou medigées das grandezas referentes ao movimento baseado em um tinico referencial Devido aos fatos mencionados acima, mesmo que existisse um referencial inercial “absoluto“ (e “verdadeiro” ) em algum lugar do universo, é impossivel distingut-lo de qualquer outro por meio de observagées dos movimentos ou detecté-lo experimentalmente. Assim, como decorréncia deste fato e da conclusio obtida na subseccdo anterior, 0 Principio da Relatividade de Galileo, enunciado na pagina 16, é estabelecida. Capitulo 2 Movimento Unidimensional © assunto deste Capitulo é a descrigéio do movimento de uma particula de massa m ao longo de uma reta, que seré referido como sendo 0 eixo dos 2, sob a acio de uma forca F.. As discussdes e os resultados sio validos mesmo que o movimento nao seja retilmeo, desde que ele seja descritfvel em termos de apenas uma coordenada, ou se puderem eliminar todas as coordenadas exceto uma. Doravante, um referencial inercial ser4 adotado, mesmo que nao seja mencionado explicitamente. De acordo com a segunda lei de Newton, 0 movimento de uma particula em relagao a um dado referencial inercial é governado pela equacio B=F, (2.1) onde p= mv =mé. Quando a massa m for constante, a equacéo (2.1) pode ser reescrita simplesmente como: p=mi=mt=m“> =F. (2.2) Se F for conhecida, a equagao (2.2) 6 uma equagio diferencial ordindria, de segunda ordem, para uma fungio incégnita z(t) e varidvel independente t. A forca F pode ser uma fungio de 2(é), v(é) e do préprio ¢, ou seja, F = F(«,v,t). Assim, Cama dx TE-ar (2 =) ; (2.3) Esta é uma equagio diferencial ordindria! de segunda ordem, cujas solugdes para cada uma das situacdes especificas mais importantes serdo desenvolvidas a seguir. *Encontra-se um resumo de equagées diferenciais ordindrias no Apéndice B para o leitor que ainda nao tem nogao do assunto. 40K. Watari Movimento Unidimensional Exemplo 2.1 O movimento de uma particula de massa m sujeita a uma forga de restituicéio linear, — ka, é regido pela equagao: ea m =-ke. 2.4) de (2.4) © movimento de um sistema massa-mola day _ Fig. 2.1, por exemplo, é descrito por esta equa- cdo com uma boa preciso. B claro que numa Yr Nyy 7 mola real, a elongacaio x deve ser restrita ao limite onde a deformagio ainda, pode ser con- siderada elastica. Fig. 2.1: Oscilador harménico simples. Exemplo 2.2 Orientando 0 sentido positive do exo para cima, a equacao do movi- mento de uma particula de massa m , que cai sob a aco da forca da gravidade constante e sofre uma forca resistiva proporcional A velocidade é: ou (2.5) Exemplo 2.3 Suponha que numa regifio do espago exista um campo elétrico oscilante da forma E = Ep cos(wt + 8). Desprezaudo os efeitos de irradiagao (w pequeno) a forca sobre um elétron de carga elétrica —e 6 dada por: F=-eE=—e coswt+8). (2.6) Ento, o seu movimento é descrito pela equagao: OF = ep coswt +8), (2.7) onde m 6a massa do elétron em questao. Exemplo 2.4 A equagdo que descreve 0 movimento vertical de uma particula de massa m num campo de atracdo gravitacional da Terra é: _, (2.8) onde 2 éa distancia vertical da particula medida a partir do centro da Terra, M éa massa da Terra e G é a constante universal de gravitaqao. Exemplo 2.5 A equagio mé=-kx—bv+ F(t) ou mé+bé+kz=F(t), (29) 2.1 Forgas que Dependem Apenas do Tempo K. Watari_ 41 descreve 0 movimento de uma particula de massa m sujeita a uma forga de restituigao linear, —k2, a uma forga de resisténcia proporcional A velocidade, — bv, ¢ a uma forga externa aplicada, F(t). Se se aplicar uma forga externa ao sistema da Fig. 2.1 e se este estiver mergulhado, por exemplo, num éleo, o seu movimento é descrito pela equagdo (2.9) no limite de velocidade baixa. A equagao (2.3) é aplicdvel em todas as situagdes possiveis sob a ago de uma forca resultante especificada. Em geral, essa equac&io prescreve somente a aceleragao de uma particula em cada instante em termos da posigao e da velocidade naquele instante. Se se conhece a velocidade e a posicao de uma particula num instante qualquer, a sua posicao ¢ a sua velocidade num instante ligeiramente posterior (ou anterior) podem scr detcrminadas. Uma vez deter minadas as novas posig&o e velocidade, a acelerago em novo instante pode ser obtida mediante uso de (2.3). Dessa forma, as posigdes e as velocidades de uma particula nos instantes passados ou futuros podem ser tracadas, se a posic&o zo e a velocidade vp, chamadas condi¢ées iniciais, forem conhecidas num instante inicial ty (geralmente adota-se to = 0). Nao necessariamente as condigées iniciais so especificadas por xp e v9, mas de quaisquer grandezas que permitem determiné-las, como por exemplo, pela energia mecanica total e pela quantidade de movimento. As condigées iniciais, juntamente com (2.3), determinam z(t) e v(t) univocamente (pelo menos em principio). Se nao se conseguir obter uma solugao analitica na forma fechada em termos de fungdes elementares, sempre existe a possibilidade de langar m§o de recursos numéricos. 2.1 Forgas que Dependem Apenas do Tempo Se uma forca F for uma fungdo apenas do tempo, a equacéio do movimento (2.3) pode ser resolvida por integracio direta efetuada duas vezes. Partindo-se de ._ dv mé=m< =F), a primeira integragio leva a: v(@) =w+s [ re’ )at! (2.10) Agora, como é = u(t), integrando-se (2.10) uma vez mais, obtém-se: t ‘” a) =sotmirs [ a" [ F(t)dt'. (2.1) ™Jo 0 42K. Waiari Movimento Unidimensional Exemplo 2.6 Considere a forga do exemplo 2.3 que é dada por (2.6). 0 movimento de um elétron é descrito pela equagao (2.7). Dividindo-se essa equagdo pela massa do elétron ¢ integrando-se uma vez, obtém-se: o Eo ft qr o)\=0 — = © ff cos(ut! +0) at! = v — ST sen(ut! +8) ; malo aD b ou seja, E& BG tee esa can EO (2.12) aa mu Integrando-se mais uma vez, resulta em: Fe (t) eal (eee coe Ee ope et nen BN gee es (wt) Il (243) mu? mw mut Suponha, agora, que o elétron estivesse em repouso na origem no instante inicial (t=0). As solugées (2.12) e (2.13) tornam-se : ek mw v(t) = eee eo) (2.14) mu eEy cosd , eBysen9, | eEy arcs TL aA Toe mu} mw mu a(t) =— cos(wt +6). (2.18) Observe aqui que apareceu um termo constante na expressiio da velocidade (2.14), um termo constante ec um termo linear em tempo na expre: da posic&o (2.15). Qual o significado fisico desses termos? Para se interpretar esses termos, suponha, sem perda de generalidade, que @ seja tal que cos# > 0 e sen§ > 0. Entio, —e Ey cos <0. Essa 6 a forga no instante inicial, quando se “captura” o elétron. A forga torna-se F , , 7 m—26 menos negativa conforme 0 tempo passa, até que no instante = ——— anula-se w (ver Fig. 2.2 da pagina 43). Passa a ser positiva e continua a crescer até o instante 7 a8 cH , quando atinge a sua intensidade mdxima e comeca a diminuir até chegar ‘ 3-20 a zero no instante tg = 20 Torna-se negativa outra vez, e alcanga o seu w fie : z _ 2n-8 2 5 minimo no instante fy = ————, voltando a crescer até zerar novamente no instante w 3 51-20 2a Observe que quando se chega ao instante T = —* , a forca encontra- eee cee Teeter em OM een atomic net ee repetida periodicamente. Inicialmente, a forga aponta no sentido negativo. Por isso, a particula comeca a movimentar-se no sentido negativo do sistema de coordenadas. Entao, a velocidade aumenta a sua intensidade no sentido negativo, até atingir 0 minimo no instante 7,. Como a forga muda para o sentido positivo nesse instante, a particula é desacelerada até parar no instante dado por 2. O sentido do movimento 6, entao, invertido e a particula omega a mover-se no sentido positivo ¢ a velocidade aumenta 2.1 Forgas que Dependem Apenas do Tempo K. Watari 43 Fi) eB —eBycose \/? -eEo +- v(t) eo 0 (gen 0+ 1) ms eFo mw send £20 (son 9 — 1) I x(t) e Eo mu? (1+ cos) Fig. 2.2: Gréficos do comportamento de F(t), v(t) ¢ x(t). até o instante fs , quando atinge o seu maximo. Ela diminui, a partir desse instante, até tornar-se nula novamente, no instante =. Todo o esquema 6, ento, repetido a partir desse instante. Até aqui foi descrito o que acontece durante um perfodo de oscilagao da forga. Note que o intervalo de tempo que a velocidade permanece positiva é maior do que aquele que permanece negativa, conforme pode ser constatada pela Fig. 2.2. Significa que, caleulando-se a média da velocidade durante um perfodo (7), resulta em: 44K. Watari Movimento Unidimensional eEo mu sené, © que mostra que, durante um perfodo de aio dessa forca, existe um “saldo” desse movimento no sentido positivo. Portanto, 0 termo constante que aparece na expressao da velocidade pode ser interpretado como a velocidade do movimento do centro de oscilagdo da particula. Tudo isso que foi dito estd ilustrado na Fig. 2.2, onde se mostra o comportamento de F(t), v(t) e 2(#) em fungao de t. Se @ for tal que cos < 0 e send <0, obtém-se o mesmo resultado discutido acima, exceto que o “saldo” do movimento é, agora, no sentido negativo do sistema de referéncia. A andlise dos casos em que cos@ > 0 e send <0 (ou cos® <0 e send > 0) fica para o leitor. Observe que se 9 = 0, tém-se: F(t) = —eE coswt, v(t) =— es senwt eves nn (cosas) mostrando que o centro de oscilagio fica parado. O parametro @ 6, entdo, a fase que a forca “capta” o elétron e 0 comportamento do centro de oscilagao ¢ definido por isto. Exercicios = Fy sen’ wt, a partir de t = 0, numa jalmente em repouso na origem. 2.1) Aplica-se uma forga oscilatéria F(¢ particula de massa m que estava it a) Esboce sua expectativa para v(t) ¢ x(t). b) Determine v(t) e x(t) e compare com o seu esbogo. 2.2) Uma particula de massa _m est em repouso na origem. A partir de t = 0, aplica-se uma forca F(t) = Foe7 7! cos(wt+@) nessa particula. Sendo 7 e w constantes positivas e @ constante, determine w(t) e x(t). Discutir o resultado. [Sugestdo: Escreva cos(wt+ 4) em termos de exponenciais complexas }. 2.2 Forcas Dependentes da Velocidade No caso de movimento unidimensional, o tnico tipo de forga importante, que depende da velocidade, é a de atrito. Forgas de atrito de escorregamento ou de rolamento s&0 aproximadamente constantes para uma dada forga normal entre um dado par de superficies de contato. Aqui, a dependéncia em velocidade s6 ocorre para dar o sentido dessa forca que é sempre oposto ao do movimento. Num meio viscoso tal como gis, liquido etc., a dependéncia das forgas resistivas, devidas ds viscosidades, com a velocidade é mais complexa. Existem situagées onde s6 6 possivel expressar essa dependéncia por meio de uma tabulagdo de 2.2 Forgas Dependentes da Velocidade K. Watari 45 dados experimentais. O sentido dessa forga deve sempre estar em oposicdo ao da velocidade, qualquer que seja a situagéo. A equacao (2.5) do exemplo 2.2 é um caso t{ipico que se pode presenciar em um movimento num meio viscoso, desde que certos limites de velocidade néo muito grande sejam respeitados. Esta situagio é a mais simples que se pode encontrar para a descrigéo de um movimento sob a. acéio de uma forga resistiva dependente da velocidade. A equacio diferencial para esse movimento é um exemplo de uma equagdo linear de primeira ordem, cuja forma geral é a da equacdo? (B.4), apresentada na secao B.1. Considere, ent&o, 0 exemplo 2.7 a seguit Exemplo 2.7 Uma particula de massa m cai sob a aco da gravidade e sofre uma forca resistiva proporcional & velocidade. Sabendo que a partfcula foi abandonada a partir do repouso, determine a velocidade, v(t) , para os instantes subseqiientes. Solueao: Com a orientacio positiva do eixo vertical dirigida para 2 =bu cima, como mostra a Fig. 2.3, a equacéo diferencial do movi- a 0 Mento desta partfcula € dada por mS =—mg—bv. As forcas —mg presentes nesta equacao esto esquematizadas na mesma figura. : Dividindo-se esta equagio por m e rearranjando os termos, re- ea sulta em: oO EM eg fe hy ee que 6 uma equacio linear do tipo (B.5), onde as correspondéncias b zd, p(t) > oe e q(x) > -g S b 6 podem ser estabelecidas. Como / p(n) dn / aid = 7, €) a solucdo geral 6, entio, v(t) =ewt [[e**oas+¢] em! +G]=- aa +Cemt j Pere F mg Impondo-se a condigdo inicial v(0) = 0, obtém-se C= “—" . Portanto, Se ieee = - 7 (1 e ) (2.16) : a 6 2 m é a solucao procurada. O que se espera quando Set << 1, isto 6, t << ra Utilizando o fato que e& ~1+€ quando é<<1 oe) 78 (1-14 22) =-gt, m 2Neste ponto, recomenda-se ao leitor que ainda no tem conhecimento de equacies dife- renciais a estudar o Apéndice B. 46K. Watari Movimento Unidimensional que coincide com o resultado para uma particula em queda livre. Como no comeso do movimento a velocidade é muito pequena, a forga resistiva 6 despresivel. Portanto, espora-se quo, no infcio, 0 movimento seja aproximadamente o de queda livre A velocidade aumenta com o passar do tempo até atingir um valor limite, quando t+ 00 (apés um tempo longo), dada por — af e denominada velocidade terminal. O comportamento de v em fungao de t 6 mostrado na Fig. 2.4 (a). Observe que = mg —bYrerminal = 0, 0 Que significa que a velocidade aumenta até a forca resistiva equilibrar a forca peso. Lembrando-se que & =v, 0 espaco percorrido é dado por: [ ‘E(t at! Substituindo-se v(t’) dada por (2.16) e supondo-se que (0) : et) — 2(0) = [w(t ae a(t) = (a) (b) Fig. 2.4: (a) Grdfico de v(t). (b) Gréfico de x(t) ou seja, (2.17) Se se analisar esta expresséo para ¢ << 4, isto é, no inicio do movimento, como foi feito com u(t) , obtém-se: mg eB a(t) & 1 onde e& ~1+£€+—>£ quando € << 1 foi utilizado. Novamente, este é 0 resultado para queda livre, como esperar-so-ia para 0 comogo do movimento. Por outro lado, quando ¢ torna-se grande, z(t) + a isto é, a particula tende a cair com 2.2 Forgas Dependentes da Velocidade K. Watari_47 velocidade constante, que é a velocidade terminal. O comportamento completo de x(t) é mostrado na Fig. 2.4 (b). Tanto a expresso (2.16) de u(¢) quanto a (2.17) de z(t) mostram que, & medida que a forga. resistiva aprowima-se da forca peso, a queda dessa particula tende a um movimento uniforme com a velocidade limite dada Pot er c valor absoluto. Exemplo 2.8 Uma partfcula de massa m move-se sob a acg’o de uma forca resistiva, — bw, e de uma forca aplicada, F(t) = Fo (1 —e**). Determine v(é), sabendo que a particula encontrava-se em repouso no instante inicial. Solugéo: Orientando-se 0 eixo no mesmo sentido da forca aplicada, a equagdo dife- rental day movimentoldestalsectienlate/dadaypor mre ae bar ara (Qa reid ‘) : dé Dividindo-se esta equacéo por m, chega-se a: que também é equacio linear do tipo (B.5), onde as correspondéncias andlogas x — t, b P(e) + ¢ a(t) + % (1 -e# ‘) podem ser estabelecidas. Também, como no € § exemplo anterior, ease [ p(n) n= [2 dn = © €, ea sotugéo geal é dada por: Fo ate ee (1 et) dsc] = ol celle (eeied met] ae (1- Bee *) 4+Cemmt, F Ao impor a condicao inicial, (0) = 0, abtém-se C= — = Portanto, a solugdo procurada é: Um esbogo detalhado do grafico de u(t), pode ser construido estudando-se & e Pv Se. Temse: 48K. Watari Movimento Unidimensional A func&o v(t) tem £@-= =0e ae. > 0, mostrando que 2 {2 Rn cla é crescente para t > 0. a puree ats voltada para. —~ }~ cima no intervalo 0 0. Quando £* <0. Portanto, este é um ponto de inflexdo. m &v Para t > ~, [2 <0 e, portanto, a concavidade muda Fig. 2.5: Grdfico uxt. para baixo, enna assim no resto do intervalo. Note © a Fy que quando t-> 00, v(f) + =>, e este limite é a velocidade terminal deste problema ‘A equagdo hordria, x(t), bem como o esboco do seu grAfico, podem ser obtidos mediante integragdo de v(t). Isto seré deixado para o leitor como exercicio. Exemplo 2.9 Uma das forgas resistivas mais simples, depois da fora proporcional A velocidade, é aquela proporcional ao quadrado da velocidade dada por: Fv) =£b0’, (2.18) onde o sinal é sempre escolhido de forma que a forca aponte para o sentido contrario a0 da velocidade, Com a orientaco positiva do eixo vertical dirigida para cima, por exemplo, se uma particula de massa m for langada verticalmente para cima, sujeito a nma forca desse tipo, a equagéo dv aes dt descreve o movimento durante a subida. Por outro lado, o movimento durante a descida 6 descrita pela equacio: bv? mg (2.19) du nm dt As forcas envolvidas em ambos os casos, esto ilustradas na Fig. 2.6. =bv?—mg. (2.20) (a) (b) Fig. 2.6: (a) Durante a subida, (b) Durante a descida, Tanto a eqnaciin (2.19) quanto a (2.20) acima sao de primeira ordem separdvel®. Suponha, entao, que essa partfcula seja langada para cima com velocidade v(0) = v9 - Reescrevendo a equagdo (2.19) como: Ver secao B.2.

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