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lah Do nn . Frog | : see a os oes 02 DEBATES SOCIAIS Publicagéo semestral, editada pelo CENTRO BRASILEIRO DE COOPERACAO E INTERCAMBIO DE SERVIGOS SOCIAIS - CBCISS Comité Nacional do Brasil representativo do INTERNACIONAL COUNCIL ON SOCIAL WELFARE - ICSW DIRETOR RESPONSAVEL: Luiz Bravo N° 62 — ANO XL Publicado em 2005 - 1° e 2° Semestre ‘Montagem capa: Roberto Francovalente Atte Final: Wyson Teixeira Indexada na Bibliogrofia Brasileira de Ciéncias Sociais Classe ISSN 0011-7242 DIRETORIA DO CBCISS: Presidente: Thereinha Arnaut Vice-President: Jurema Rodrigues Vieira Utinga. Diretoro Técnica: Anna Augusta de Almeida Diretoro Adminisirativa: Sonia Botelho Junqueira Diretora de Comunicagao e Marketing: Dilga de Oliveira Consendey Diretora Financeira: Graziello Brenner CONSELHO FISCAL: Alice Portela Duarte, Clara Eugénia Cerqueira, Dionino Cortelazi Colaner, Maria do Graca B. Castello Branco, Oswaldo Raymundo Deleuze COMISSAO EDITORIAL Anna Augusta de Almeida Sonia Botetho Junqueira Helena Faroh Perez | Suely Gomes Costa Edna Maria Donzelli lida Lopes Rodrigues de Silva Therexinha Amaut SUMARIO Editorial Artigos MULHERIPESSOA: UM SUJEITO MORAL... Lucia Cavalcante Reis Arruda ARESPONSABILIDADE MORAL E SOCIAL DAS BIOTECNOLOGIAS ‘André Marcelo M. Soares BIOETICA, DIREITO E JUSTIGA SOCIAL Walter Esteves Pirieiro BIOETICAE AS VARIAS FACES DA INJUSTICA - OS DIREITOS DE 4 GERAGAO FACE AINJUSTIGA SOCIAL Angélica Teresa Pereira ENVELHECIMENTO: UMA QUESTAO DE GENERO... Benigno Sobral AGLOBALIZAGAO E 0 DIREITOASAUDE...... Jacob Portela BIOETICA, DIREITOS REPRODUTIVOS E CIDADANIA Suely Gomes Costa HOMENAGEM Balbina Ottoni Vieira - Ontem e Hoje ~ 1905-2005 Produgao Académica de Balbina Ottoni Vieira ~ Livros e Artigos 23 45 53 63 2 95 107 Solicita-se Permuta/Exchange Desired Todos os direitos reservados. . Nenhuma parte desta revista podera ser reproduzida ou transmitida sem a permissao dos editores, Ficha Catalografica Debates Sociais n° 1 (1965) - Rio de Janeiro: CBCISS. Semestral ISSN 0011-7242 4. Bioética. 2. Servigo Social - Brasil - Periédicos. |. CBCISS, Rio de Janeiro. CDD 360.5 CDU 36(81)(05) Colaboracées, assinaturas CENTRO BRASILEIRO DE COOPERAGAO E INTERCAMBIO DE SERVICOS SOCIAIS - CBCISS ‘Ay. General Justo, 275 - Sala 301/302 CEP. 20021-130- Rio de Janeiro - RU - Brasil Tel.:/FAX: (OXX21) 2220-58174 | 2220-8274 12220-5931 e-mail - cbciss@uol.com.br cbciss@veloxmail.com.br ‘As opinides expressas nos artigos sao de exclusiva responsabilidade de sous autores ‘@ ndo represenitam necessariamente a opiniao da revista EDITORIAL Neste nimero 62, a revista Debates Sociais, conforme lemos em sua apre~ yentagtio, oferece artigos sobre “Biostica’, focalizando sua identidade propria, {0 trabalhar com seus conceitos e técnicas em-ciferentes espagos culturais & hiatoricos ‘Os avangos cientificos presenciados pelo homem desde sua aparicao sao ‘considerdveis. Em todas as épocas, novos inventos impuisionavam a sociedade ‘ir um passo adiante do que ja estava acostumada a tolerar, fazendo-a confron- tar novos desafios impensados até entdo, Imagine-se o impacto provocado pela lnvengao da bussola e de outros instrumentos nauticos. O ser humano sempre foi confrontado potas possibilidades advindas da utllizagao de uma nova técnica, desconhecida até entéo, (© século passado, no entanto, provocou uma mudanga na percepeio de todos. Novas descobertas cientificas ensejavam novas esperangas para o futuro do ser humano ao mesmo tempo em que faziam crescer o temor pela falta de um futuro promissor para todos ou, pelo menos, para a grande maioria dos individuos. ‘Aenergia atémica poderia aniquilar com a existéncia de todos os seres vivos do planeta, mas, paralelamente, pode ser utiizada pela medicina moderna na cura ‘de doengas. Novas drogas sao criadas petas industrias farmacéutica, que pode- Flo tanto levar & morte quanto a cura de varios males que afligem a humanidade. ‘Assim, nao se pode descartar, de imediato, a invengao de alguma nova técnica; ‘da mesma forma ndo se pode, ingenuamente, aceité-las sem qualquer tipo de ‘questionamento sobre a sua utlizagao. Van Rensselaer Potter intuiu a necessidade de, urgentemente, constuit-se ‘uma nova ciéncia que fosse capaz de possibiitar a sobrevivéncia do home. Em ‘sua opinido, existiriam duas culturas incapazes de estabelecer um dialogo entre ‘81, em virtude desta incapacidade, poderiam colocar em perigo o nosso futuro. ‘Como forma de superar este impasse, propos a criagdo de uma nova disciplina, ‘@.que deu 0 nome de bioética, que serviria como uma “ponte” entre a cultura da Giéncia e a das Humanidades. Para tanto, seria imperioso que nesta nova seara tivéssemos representantes das duas culturas, sendo, portanto, necessariamente Interdisciplinar. Para ficarmos em uma unica defnicao, pode-se afirmar, com André ‘Maroelo Machado Soares, que se trata de um conhecimento complexo de nature- 42a pragmética, aplicado aos questionamentos morais suscitados pelas decisoes dlinicas e pelos avancos cientificos e tecnolégicos. Neste contexto, ndo parece haver divida a respeito da pertinencia de se de- dicar um nimero especial a abordagem de aspectos que sao de suma importancia para a construgao desta “ponte”, Nao se esgotam todas as possibilidades existen- tes, ndo se contesta isso, mas oferecem a possiblidade de didlogo entre a Ciéncia @ a Humanidade, pressuposto para a compreenséo do neologismo Bicética ‘Também este niimero foi idealizado para ser espago onde seria relembrada @ homenageada a saudosa e querida sécia fundadora do CBCISS e colaboradora desta revista, a mestra Balbina Ottoni Vieira, + Como assistente social em seu caminhar sempre se preocupou em trabalhar com as cémunidades para acolher os pobres como irmaos © ‘no como excluides. + Como profissional trabalhou na area da Saiide fundando e organizando no Hospital do Servidor do Estado (HSE) 0 Departamento de Servigo Social e nele, como na Policlinica de Botafogo, trabalhou muito dando supervisao. + Como escritora, tomando presente na coletanea de suas obras os ensi- namentos de autores europeus, de americanos e dos pioneiros brasileiros, reinterpretando as ages geradoras e renovadoras que constituiram os fundamentos te6ricos e as praticas do Servigo Social. + Como supervisorae professora de supervisao, mostrando ao assisten- te social as exigéncias de ser um profissional nao s6 competente como ‘também humano. + Como eoordenadora de projetos de politicas sociais, administrando, supervisionando e avaliando os processos como agées transformadoras ‘e construtoras do bem-estar socal, E, para estimular e orientar a leitura dos temas trabalhados por essa auto- ra, encontra-se em anexo uma relacao de suas obras e dos trabalhos publicados pelo CBCISS. A revista Debates Sociais sente-se honrada de assim estar prestan- do a Balbina Ottoni Vieira uma homenagem postuma pelo seu centenario 1905-2008, WALTER ESTEVES PINEIRO Coordenador-Executivo do Nicleo de Bioética Dom Helder/PUC-Rlo ‘Membro do Comité de Etica em Pesquisa do INCAMS, & ANNA AUGUSTA DE ALMEIDA Diretora Técnica - CBCISS MULHER/PESSOA: UM SUJEITO MORAL, ‘Atelcidade do homem chama-se: eu quero. ‘Afelicidade da mulher chama-se: ele quer. 4 Nietzsche Lucia Cavalcante Reis Arruda’ ‘Ao entendermos género como um proceso de interpretagao da realidade cultural carregada de sang6es, tabus e prescrigées,e, igualmente, um provesso Constante do binémio modelagem-conquista do individuo na trama de suas relagdes sociais, entio podemos dizer que nao ha mais um modelo universal. Trata-se de um produto social apreendido, representado, institucionalizado e transmitido ao longo das geracées de uma cultura determinada. Isto porque Viveros nas diferengas culturais, porque vivemos a singularidade do indivi- duo, abrindo espaco para a espontaneidade de acdes e situagbes inéditas € tipicas. Embora muitas vezes as relagoes de género refltam concepgbes de (gdnero de pretensao universal, internalizadas pela aculturacao, levando-nos a identificar os diferentes poderes detidos e/ou sofridos por homens e mulheres, ‘© que, por outro lado, nao nos impede de questionar esses ditos pressupostos Luniversais, ou desconfiar desses modelos de géneros prontos. Ha quem diga que as retagdes de género sao sempre de poder. Se pensarmos, por exemplo, no conceito de patriarcado (a chamada “lei do pai’), ‘eonstatamos que nasce do poder do pai no controle, sobretudo, da sexualida- do forinina. Em principio esse dominio refere-se ao espago familiar, depois ‘80 larga © atinge as formas sociais mais simples, chegando ao espaco das {abricas, onde as mulheres se encontram sob o dominio direto dos homens na figura dos chefes. Alegitimidade desse poder 6 sempre garantida pela tradi¢ao {que nos profere: & mulher cabe uma posi¢ao subaltema na organizagao da ‘vide social por se identificar a afetividade, ao sentimento, inclinagdes consi- doradas manifestac6es irracionais e, portanto, confinadas a esfera doméstica * Bowtorn om Flosotia pela UFR. DEBATES SOCIAIS N° 62 -ANO XL.- 2008 BALBINA OTTONI VIEIRA ONTEM E HOJE HOMENAGEM Centenario 1905 - 2005 DEBATES SOCIAIS N° 62 - ANO XL.- 2005 95 DEBATES SOCIAIS N° 62 ANO XL- 2008) BALBINA OTTONI VIEIRA Ontem e Hoje Esclarecimento Inici De uma forma introdutoria, cabe esclarecer, que neste texto é nossa intengo fazer uma leitura do material documental historico da nossa mestra Balbina Ottoni Vieira que, preocupada com as injusticas sociais, procurou alternativas para a pratica de “doagao de esmolas” ntantida pelo pluralismo assistencial. Razdo que a levou a descobrir e assumir a profissdo de assistente social, por ser o servigo social uma atividade comprometida com as transfor- mag6es socioeconémicas e politicas ao trabalhar com as comunidades para a superagao da pobreza e das desigualdades sociais. Por crermos que a sua caminhada revela uma imagem de seus atos Profissionais como assistente social, professora, supervisora e escritora, va- ‘mos tentar recorda-los, enfatizando os mais significativos como uma maneira simples, mas, sincera de homenagearmos Balbina pelo centendrio de seu nascimento ocorrido em 8 de fevereiro de 2005. 1. Balbina quem é, o que pretendia ser Respondendo uma assistente social que em sua caminhada como professora, supervisora, mestra e escritora, foi uma profissional comprometi- da com os valores da pessoa humana ao usar os recursos do servigo social, quer no plano teérico, quer na pratica, para combater as diferentes formas de “exclusao social”. Gostariamos ainda de salientar que Balbina sempre foi uma afsistente social de uma “juventude perene”. Embora muitos a tenham acusado de “tradicional’, sua “no modemnidade" Ihe permitia, através de um modo de pensar “tradicional” ou “arcaico", expressar paradoxalmente uma dimensao de permanente atualidade que se diferencia profundamente daqueia que caracteriza a modemidade hoje. Atualidade que todo verdadeiro principio “arche" possui porque se faz atual e presente na constituigao a cada realidade interior ou externa que se renova’. A juventude perene de Balbina, em realidade, foi conquistada pela Possibilidade e esforco permanente de “ser-aluna”. Possibilidade gerada pela exigéncia de um projeto existencial marcado pela compreensdo da realidade do cotidiano, que ao destruir 0 pobre como pessoa humana Ihe nega possibi- DEBATES SOCIAIS N° 62 -ANO XL - 2005 a lidades de ascensao social. Realidade que levou Balbina, a partir da opgao de “ser um profissional assistente social", a se matricular na Escola de Servio Social do Instituto Social, atual Departamento de Servigo Social da PUC-RY, fem 1939, Foi da turma das funcionéiias, grupo pioneiro, identificado como “geragao marsaudiana’. Numa entrevista com Myriam Veras Batista rolata “que néo podendo assistir as aulas durante o dia convenceu a M** Marsaud a organizar um curso a tardinha das 6 as 8 horas da noite, e que teve logo um bom numero de alunas”* Apresenta e defende seu trabalho de conclusdo de Curso em 1945 porque durante a sua formagao, em 1943, obteve uma bolsa de estudos con- Cedida pela “National Conference of Catholic Charities” para fazer um curso nos Estados Unidos, onde permaneceu durante um ano. Comenta essa experiéncia, em 1973, com a pro‘essora Arlette Alves Lima, explicitando: “foi importante 0 conhecimento adquirido sobre 0 “caso social” cau- ssando entretanto, um choque pela minha formagao brasileira, latina & convencionar’.“o contexto americano era diferente, valores eram outros. ‘Mas 0 que mais apreciei foi o Conselho de Obras, com um sistema de coordenagao que evitava a duplicagao de servicos'®. Dados confirmando que jamais duas experiéncias podem ser comple- tamente iguais. Neste sentido, gostariamos de esclarecer que 0 curriculo do Curso de Servigo Social do Instituto Social naquela época, seguia a orientagao franco- belga: + Estudo de filosofia privilegiando as orientagSes dos conhecimentos numa perspectva crista, catdlica; = © mesmo tebrico e pritico dos procedimentos das metodolagias ‘empregadas, ¢, um estagio das praticas. ‘Todos esses conhecimentos eram ministrados envolvendo os movimen- tos das agdes com os valores, atitudes e apreciagdes presentes no contexto social, dando uma viséio ampla sobre a realidade brasileira. Ver Sorvigo Socal e Sociedade n° 12 -Ano IV, agosto 1983 pg. 54 In LINA, lee Alves, Servigo Socal no Brasil: deologia do uma década, Sto Paulo: Cortez 1982, pag, 70. 98 DEBATES SOC.AIS N° 62 -ANO XL - 2005 2. Balbina Como Assistente Social Revisitando a leitura do seu caminhar profissional focalizamos terem sido suas experiéncias e atividades muito ricas. E, para termos uma visio do valor das mais significativas, vamos apresenté-las situadas nos diferentes contextos sociais onde atuou como assistente social Trajetoria 2.1. Na década de 40, as atividades e experiéncias profissionais de Balbina foram no campo internacional. Contratada pela ONU, trabalhou na Alemanha no periodo de 1945/46 no “Servigo de Atendimento aos Refugiados da 2 Grande Guerra” , super- visionando assistentes sociais de varios paises. E, pela UNRRA, em 1846, para trabalhar como assessora técnica do “XX Consejo Venezolano del Nifio”. Trabalho apresentado na 1 Conferéncia de Servigo Social, em Caracas, em 1959, Em 1947, de volta ao Brasil, foi convidada pela M“* Marsaud para lecionar a disciplina de Organizagao de Comunidade, matéria do Curso que tinha feito nos Estados Unidos, em 1943. ‘Também, em 1947, foi muito significativa a sua participagao na organiza- ‘s40 do Departamento de Servigo Social no Hospital dos Servidores do Estado (HSE) onde trabalhou como profissional e supervisora. € ainda participou ati- vamente da criagao da ABAS (Associacao Brasileira de Assistentes Sociais), fundada em 1948. No | Congresso Brasileiro de Servigo Social, realizado em So Paulo em 1947, apresentou o trabalho “As pessoas deslocadas da Europa, seus problemas do ponto de vista da imigragao™. Também participou da organizacao do II Congreso Panamericano de Servigo Social, no Rio de Janeiro em 1949, primeiro projeto realizado pelo CBCISS. 2.2. Nos anos 50, a partir de seu engajamento profissional no SESC, fortemente comprometida em “trabalhos com grupos" e “com a comunidade’, atuou na instalagao e administragao dos Centros Sociais em todo o Brasil. Parti ipou em 1951 da Convengao Nacional de Técnicas em Bertioga. >In Congresso Brasileiro de Servigo Social, 1. 1947; So Paulo Anais. Centro de Estudos ‘Agao Social 1947 p. 629-59, DEBATES SOCIAIS N’ 62 -ANO XL -2005 99 Em 1956, como assistente social do SESC, participou do VI! Congres- 0 da Federago Internacional de Centros Sociais realizado no periodo de 30/07 a 3/08, em Beriim, Alemanha, que teve por tema o desenvolvimento de ‘comunidades. €, também, nessa mesma ocasido participou da Vill Conferén- cia Internacional de Servigo Social, em Munique, Alerranha, entre 5 a 10 de agosto de 1956. pos esses dois eventos a equipe do SESC da qual fazia parte foi convidada para visitar os Centros Sociais, em Berlim, Madrid, Roma, Franca @ Lisboa considerados como meios de prevengao dos males sociais e de educago dos jovens e adultos. A compraensao do valor do trabalho sécio- educativo, desenvolvido nos Centos levou Balbina a consideré-los como um recurso indispensavel para as atividades do SESC. Esta rica experiéncia transcrita no trabalho “Algumas observagdes so- bre o Servico Social na Europa” por Dr. Manoel Francisco Lopes Meirelles e Balbina Ottoni Vieira, publicado pelo SESC, em 1956. Durante 0 ano de 1957, trabalhou muito como membro fundador do CB- CISS que passou a ter existéncia e estrutura administrativa reconhecidas. 2.3. Na década de 60, Balbina participou de diferentes programagoes vivenciando ricas experiéncias nacionais ¢ intemacionais. Em 1961, participou ativamente da preparagao 2 realizagdo do I! Con- gresso Brasileiro de Servigo Social, em maio de 1961, Foi coordenadora da Comissao Técnica, Em 1962, como membro do Conselho Nacional do Comité Brasileiro da Conferéncia Internacional de Servico Social CBCISS, trabalhou nas reunides do secretariado e das preparatérias da 11* Conferéncia realizada no Rio de Janeiro de 18 a 25 de agosto de 1962. Durante dois anos, de 1963 a 1965, supervisionou na Franga os progra~ mas do Servico Social Rural da “Mutualité Sociale Agricole” e do Instituto de Servigo Social de "Mont Rouge”. Nesse periodo frequientou o curso de super- viisdo da “Mutualité” em Paris. Desta experiéncia concluiu que “a supervisdo & necesséria para uma boa formagao em qualquer dos processos sociais™, ‘Também frequentou nos Estados Unidos na década de 60, varios cursos de especializagao nas quais estavam sendo vivenciados certos questiona- mentos em relago a ‘cientificidade” do servigo social. Desafios que levaram Balbina, como professora/supervisora, a acompanhar a crescente universall- 1 Ver Revista de Debates Sociale, Rio do Janciro, n° 1, 1965. pag 45, 100 DEBATES SOSIAIS Nr 62-ANO XL -2005 zago dos conceitos de “bem-estar”, de “bem estar social” e as demandas do que é servigo social e sua operacionalizacao. De volta ao Brasil, nos didlogos com os professores e alunos que super- visionava, analisa e questiona as mudangas que estavam sendo trabalhadas, tanto nos Estados Unidos como na Franga, como as vivenciadas na América Latina, pela chamada “geracao 65" Critica, mas, reconhece a necessidade de “um novo servigo social’ frente @ realidade do “aqui e agora’, questionado pelas diferentes ideologias. E, ao participar do Seminario de Araxé, em 1967, como coordenadora do grupo 1, ‘apos a apresentagdo e discussao das tematicas, sente necessidade de rever mais profundamente seus conhecimentos teéricos e as praticas com as quais) trabalhava supervisionando alunos e profissionais. Conhecimentos, que apos uma inteligente organizaco, foram apresentados em seu 1° livro “Servigo Social Processos © Técnicas” publicado pela Editora Agir em 1969. Obra ue hoje pode ser considerada como a “guardia” dos saberes que orientaram as primeiras metodologias (processos e técnicas) trabalhadas e ensinadas no Brasil ‘Cumpre lembrar que, em 1965, publicou na revista “Debates Socials”, seu 1° artigo, tendo por tema “Servigo Social de Grupo". Tema trabalhado por Balbina em suas atividades, por considerar um proceso indispensavel para a compreensao do significado e do valor do relacionamento social 2.4. A década de 70, foi muito significativa para Balbina, que engajada nos movimentos de teorizagao do Servico Social participou e apresentou tra- balhos no “Seminario de Metodologia, Teresdpolis’, 1970 @ no “tll Seminério de Teorizagéo Sumaré-RJ’, em 1978, Neste ultimo, fez parte do grupo do Rio de Janeiro que apresentou um trabalho sobre o tema: “Cientificidade do Servigo Social’. 2.5. Nos anos 70 e 71, foi professora do Curso Formal de Superviséo para a formagao de Superiores oferecido pela PUC-RJ. Num grande esforgo resumiy numa sintese o material desses dois cursos, além das experiéncias de superviséo com alunos e profissionais de servico social, nacionais e estrangei- 10, com as quai fundamentou a sua segunda obra, inttulada “Supervisao em Servigo Social’, publicada pela Eaitora Agir, em 1974. Cabe, ainda, informar que o material desta obra fundamentou seu trabalho apresentado no Curso de Mestrado em 1975 Continuando a leitura de sua caminhada focalizamos que Balbina, 20 fazer uma reflexdo critica sobre os ensinamentos dos dois seminarios Araxé DEBATES SOCIAIS N° 62 - ANO XI. - 2005 101 ¢ Teresopolis, constatou a necessidade de voltar a “ser-aluna”, Compreendeu fa grande responsabilidade de ensinar e trabalhar a supervisdo com o “novo ‘saber’ oferecido pelas novas contribuigoes aos conhecimentos historicos. Responsabilidade que levou Balbina a matricular-se no curso de Mestrado da PUG-RJ, em 1972, expressando a crenga de que “o agir profissional obedece ‘a.uma motivagdo e esta supera-se naquilo que 0 agente oré ¢ valoriza’. ‘Com essa crenca vivencia mais uma vez a grande alegria de “ser-aluna” da 2 “geragao marsaudiana” que constituia 0 corpo dacente do Departamento de Servigo Social da PUC-RY. i Nesse periodo de aprendizagem, sem recusar cumprir as exigéncias académicas, apresentou o trabalho final_a dissertagao de mestrado, com © titulo "Formagao de Supervisores em 21 Escolas de Servigo Social no Brasil” {que defendido e aprovado Ihe assegurou 0 titulo de Mestra, em 1975. Balbina, com o titulo de Mestra, foi convidada para lecionar e super- visionar as alunas do Curso de Mestrado da UFRVJ. Aceitou, mas continuou fa ser professora/supervisora na PUC-RJ, exercendo as orientagdes com liberdade, ‘Sempre preocupada em oferecer conhecimentos para a formagdo de professores e alunos das Escolas de Servigo Social, Balbina na década de 70 publica § livros, 2 artigos na Revista Debates Socias e 2 artigos em Temas Sociais, publicagSes do CBCISS. 2.5. Nosanos 80, Balbina mesmo aposentada continuou freqden- tando a PUC-RJ e 0 CBCISS. Participava de Semindrios, Cursos, Debates, ‘sempre procurando ficar atualizada para poder supervisionar trabalhos. No IV seminario de Teorizagao do Servigo Sccial realizado no Alto da Boa Vista, de 3 a 9 de novembro de 1984, Balbina apresentou um trabalno Teorizagao e Metodologia do Servigo Social. Nele, depois de dar uma visdo da repercussao sobre o movimento de Teorizagao emergente no Encontro de ‘Araxa, mostra em profundidade a critica que fez dos sete Encontros referen- tes a andlise critica dos Documentos de Araxé e de Teresopolis. Da énfase 4s tematicas teéricas e estuda a Metodologia dentro de uma perspectiva de “modelo profissional’ e, ao terminar a apresentagao do trabalho, afirma: 7” SEMINARIO DE TEORIZAGAO DO SERVIGO SOCIAL, 4, Rode Janeiro, 1984. Documento do Alto da Boa Vista, Rio de Janeiro: Ag 1988. p. 92 102 DEBATES SOCIAIS N° 62 -ANO XL- 2005 “as geragdes de hoje @ as futuras cabem a contribulgao da analise da pratica do Servico Social e a construgao de seus alicerces para um caminhar constante para a cientificidade”* ‘Asua producao na década de 80 foi muito boa. Publica 3 livro 3s edita- dos pela AGIR, eainda 9 artigos, sendo 6 na Rewsta Debates Socials © 3 em Temas Sociais, publicagbes editadas pelo CBCISS. Focalizamos em sua obra Servico Social: Visdo Internacional publicada em 1982, uma sintese muito rica de seu trabalho sobre a conceitualizagao do servigo social. Por considerarmos as articulagbes ‘eitas entre as diferentes concepgdes muito significativas, vamos destacé-las para uma reflexao que, feta ‘em maior profundidade, podera ser luz para a compreensao do verdadeiro sig- nificado ou sentido das palavras empregadas nas conceituagbes descritas. “O Servigo Social, fendmeno no qual se concretiza uma intervengdo na realidade, data do fim do século XIX, ae da cultura ocidentale do sistema capitalist. No inicio, era conceituado como uma “maneira de agir’, uma “atitude" em relacéo aos outros, ‘como um conjunto de servigos prestados aos necessitados (Servicos Sociais ou Servigos de Assisténcia Social) ou ainda como uma ‘ajuda’. Com a influéncia das ciéncias sociais que se desenvolveram e se afir- maram a partir do inicio do século passado o Servigo Social tomou-se um "metodo buscando sey lugar no mundo cetifcoo, 20 mesmo temgo, srgiam nogbes mais abrangertes: Desenvovinento soc @ Continuando a leitura do texto focaliza tapeoiruisio boat mos a seguir uma complemen- “A hist6ria social inclui a historia dos costumes, das mentalidades e das idéias ou das ideologias, refletindo, dios Hien , assim a interpretacao dos E, ainda na apresentagao do livro, Balbina dey : , pois de descrever a evo- luge dos conceites, informa ser 0 conteddo dessa obra 0 relato dos temas estudedos nas sessées plndras, nas comissOes e grupos de estudo das de snove Conferéncias Internacionais de Servigo Social, i de 1928-1978, afirmando: ssatieereaate atl © In Servigo Social: Visao Internacional. Agr Ecltorap. 11, id, p. 12. © Wid, p12. DEBATES SOCIAIS N° 62 - ANO XL - 2005 103, “Estes documentos apresentam, assim, uma evolugéo das idéias sobre Born-Estar Social, Desenvolvimento Social e Servico Social, durante 50 anos assinalados e na maioria dos paises, tanto do mundo ocidental, ‘como oriental”®. E, para confirmar o valor dos temas e 0 estudo de sua avaliagdo sobre as Conferéncias Internacionais do Servigo Social, acrescenta: «os documentos da I.C.$.W. sa0 as fontes mais auténticas (porque seu contoddo foi realmente apresentado e conhecide naquele momento) © assim mais representativo de umaépoce. Sao também os mais veridicos ‘ais fidis 4 realidade porque as pessoas, que estudaram os assuntos ¢ informaram os participantes, eram expoentes de seus paises ou de uma corrente ou autores de experiéncias, embora cada um deles fosse © produto de sua cultura e de sua formagao” Estas informagées so, nao s6, um testeruunho do valor dos trabalhos realizados como nos dao oportunidade para relembrar que o CBCISS 6 0 re- presentante no Brasil das Conferéncias Internacionais de Servigo Social, como também da realizagéo da XI Conferéncia Internacional, de Petropolis, RJ em 1962 de 19 a 25 de agosto. Gostarlamos ainda de ressaltar que 0 CBCISS esta se preparando para sediar a 32* Conferéncia Internacional de Servigo Social, em Brasilia de 16 a 20 de julho ano de 2006 Continuando a nossa releitura sobre as atividades de Balbina focaliza- ‘mos, na sua iitima obra publicada “Introdug&o a Modelos Juridicos ao Servigo Social 1989" uma explicagao muito rica sobre as nogbes de “Teoria e Modelo” Trabalha a tematica apresentando uma selegao de trés modelos tradicionais ou classicos, trés modelos sistémicos e seis modelos com contetide orientado por diferentes correntes dominantes do pensamento e das ciéncias humanas Contempordneas. E, no titimo tépico do livro, complementa a orientagao ofe- recendo um modelo para selecionar e analisar o modelo. Assim, Balbina, mais uma vez nos oferece uma rica obra, contribuindo de forma muito inteligente para termos uma visdo da evolugao do servigo social no mundo. 2.7. Nos anos 90, em encontros com Balbina, pudemos avaliar melhor 0 valor de sua trajetéria como assistente social professora, supervisora deixava transparecer que a sua maior preocupagao era valorizar as praticas do servigo social através dos ensinamentos presentes nas paginas de suas obras @ nao apenas pelo método tradicional. Thi, p. 13 4104 DEBATES SOCIAIS N° 62 -ANO XL -2005 E importante ressaltar “ F, que para “ser mestra como escritora” significa- va para Balbina oferecer aos letores (alunos ou professores) uma viedo dos ensinamentos de diferentes autores para terem elementos para entender, refletir e discutir os “discursos que fundam as ag6es profissi onal: m técnicas, teorias e praticas”, eee Serene Apropésito dessa sua crenca, 0 livro tornou-se para ela “um nticleo social itradiador” de ensinamentos sobre as transformagdes socials como respostas pobreza e as desigualdades sociais. 7 Gostariamos de confirmar essa sua crenga relembrando um: unm ca acne aa ae a Is s programagées das politicas sociais por serem caracterizadas simul: tars cee ea iemecee ere ease verdadeira mudanga de mentalidade e de atitude”. E, ao despedir-se, segurando sucprecisods ahaa ae transformagées ja est&o presentes “ndo esqueca livro que estou idealizando’. in msreeedeerracenscereie Imagem do perfil da nossa grande mestra Balbi i scretarqia9 sr humano no rede do conto, mas sot cont mava através de suas ricas atividades a sua “juventude perene” ao 2 ‘sempre um novo desafio. isi eee 2.8, Balbina Hoje ‘A mestra Balbina, como escritora, continua . i presente no mundo aca- démico € profissional do Servigo Social como fonte de ensinamento através de suas obras (livros e artigos). Nelas relata a histéria e r © pensam construtores do Servigo Social er Relendo as suas obras, ocalzamos na tootria dos textos os soa passos significativos: = en sive *+ o significado e o valor das experiéncias dos precursores e pionel Sengo Socal que, ao adqutirom consslneia dos efeloe das paicas assistencialistas, passaram a trabalhar na idealizagao de uma nova forma de ajuda como objeto de um novo modelo de azo: 05 trabalhos dos autores que tentaram trabalhar e ensinar a acdo social formulando um conceto para 0 Serigo Secial mostando a razo do agir, ou seja, o sentido i rao do ag ou sin da aco do Servigo Social enquanto DEBATES SOCIAIS N° 62 -ANO XL - 2005 105 a inguoger da a¢do descta ns dlereneeprocstos metodo a.tnavane da 2 coset o Vablnedee co vos momentos do discurso da agdo estudo, diagndstico & tratamento social como Saeed ds eos adeno * as exigéncias do curso de Servigo Social, de ter, além de uma parte os engi oe valor. sf, uta supervsao Come tre, ume re a rainaro usa do nsrrent (eno. uma oon que shape ruse pate oopleayao Go saber que se faz necessario nos diferentes momentos do processo estudo, diagnéstico e tratamento; . + a necessidade do supervisor ter uma formagao especifica que the permita adquirir habilidades para aplicar os conhecimentos e desen- volver a auto-critica sobre os aspectos tedricos e praticos que estao mais ligados a atividade do supervisionado;, ape Senge Socal em auas ferns (aes, eu desenvol aistra do Sorvino oe policon encanto como Wabe- i tie Fre oe os ia pobreze,deiguatioe © exc820 Producao Académica soa * a valorizacao da presenga do assistente social nos programas das a altaagto eee oo nonnuicade de sus parva principalmente na administragao de projetos envolvidos com o de- senvolvimento e promogao social; 7 Pe er i ett oes wai Livros e Artigos internacionais que contribuiram para o enriquecimento do | profissional Tani eo ‘Assim Balbina, através de seus ensinamentos, revisita para nds os caminhos percorridos pelos autores fundadores do Servigo Social, descrevendo + ‘em suas obras a perspectiva critico-transformadora da acao profissional que en- volve 0 conhecimento teérico da praxis nos diferentes contextos historicos, Relendo mais uma vez a documentagao focalizamos no Boletim Infor- mativo (set/out 96) 0 registro desta noticia: “ainda fazendo parte do Cingiientenério, fol aberto o Espa¢o Cultural “Balbina Ottoni Vieira” que funcionara nas dependéncias do CBCISS. Essa ‘era uma homenagem que estévamos devendo a inesquecivel D. Balbina, profissional marco na trajet6ria desse centro de estudos, assim como na do proprio Serviga Social brasileiro. Das primeiras a sistematizar pesquisas © festudos sobre a profisso, haja visto seus 9 livros publicados, nada mais justo ; a criagao desse espago com o seu nome. 408 DEBATES SOCIAIS N° 62 -ANO XL- 2005 DEBATES SOCIAIS N? 62 ANO XL -2005 107 108 DEBATES SOCIAIS N° 62 -ANO XL -2005 Livros publicados pela AGIR Editora - RJ * Servigo Social: processos e técnicas - 391 pags. 1° Edigdo -1969 * Supervisdio em Servigo Social - 326 pags. "1° Edig0-1974 * Historia do Servigo Social: contribuigao para sua construgao tebrica - 237 pags. 1" Edigéo - 1977 + Metodologia do Servigo Social: contibuigao para sua elaboragao- 218 Pags. 1" Edicao - 1978 * Servigo Social: processos e técnicas - 365 pags. 4* Edicao revista e atualizada + Servigo Social: pratica e admi 1979 tragdo - 202 pags. 1° Edicao - + Modelos de supervisdo em servigo social - 204 pags. 1° Edigdo - 1981 + Servigo Social: visdo internacional - 210 pags. 1*Ediga0 - 1982 + Servigo Social: percursores e pioneiros - 116 pags. - 1° Edigao - 1984 * Introdugao a modelos genéricos do servico social - 122 pags. 1° Edi¢ao = 1989 DEBATES SOCIAIS N® 62-ANO XL-2005 109 Artigos publicados pelo CBCISS A Revista Debates Sociais + DS. N°4- 1965 Uma experiéncia de supervisdo de Assistentes Sociais em Servigo Social. pags. 45a 54 * + DS.N°8- 1969 Parecer sobre 0 artigo: “Alguns aspectos do Servigo Social de Grupo ro Brasil” da Assistente Social - Edith M. Motta. pags. 55 a 56 + DS.N°20- 1975 Servigo Social e Educagao Permanente. pags. 16 a 24 + DS. N°25- 197 | ‘A Formagao de Supervisores em Servigo Social. pags. 22 a 36 + DS.N°35- 1983, Conceituar e Definir. pags. 16 a 26 + DS.N°37- 1983 Quem Quem Gordon Hamilton Annette M. Garret Grace L. Coyle Chariotte Towle. pags. 73. 79 + DS. N°38- 1984 Historia do Servigo Social. pags. 50 a 66 + DS.N°39/40 1984/85 ‘Quem é Quem do Servigo Social - Stella de Faro. pags. 76a 79 + DS.N°42- 1986 Necessidades humanas fundamentals e Servigo Social. pags. 37 a 51 + DS. N°44/45 - 1987 ‘Quem € Quem Francisco de Paula Ferreira. pags. 40 a 41 110 DEBATES SOCIAIS N® 62 - ANO XL- 2005 B_ Temas Sociais + TSNP42- 1972 Reflexdo sobre a formagao de supervisores em Servigo Social 43 + TSN 134 - 1978 Esquema para analisar campos de Servigo Social. pags. 7a 38 + TSN? 184-1986 O Pensamento Social de Florence Hollis. 96 p. + TS N°200- 1986 ‘Teorizagdo e Metodologia do Servigo Social Analise de Encontros Regionais Pés Araxa (1968) e Pés Teresopolis (1970). 47 p. + TSN°217 - 1989 © que é 0 Conselho Nacional de Servigo Social. pags. 38 a 53 DEBATES SOCIAIS N° 62 -ANO XL - 2005 1m

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