"Mostre um povo como uma coisa, como somente uma coisa,
repetidamente, e será o que ele se tornará”. Nessa afirmação, as palavras da escritora nigeriana Chimamanda Adichie chamam atenção para o poder das histórias, e como criamos ideias falsas em nossa mente com base no que consumimos. Mas esses estereótipos não são criados do dia para a noite. A mídia – seja através de quadrinhos, filmes ou livros – ajudou a criar, gradativamente, esses imaginários coletivos a respeito de povos e populações de países inteiros. No Brasil, podemos facilmente identificar os problemas dessa representação. Reconhecidos no exterior como palco do samba e carnaval, é difícil fugir desse estereótipo ao sermos apresentados. As vibrações ricas em calor humano são únicas e incontestáveis, mas a partir de qual visão podemos generalizar um sujeito por sua cultura nacional? Pois no “país do futebol”, no ponto de vista estrangeiro, é inimaginável que existam brasileiros que não nasceram com a ginga do samba, ou que não se agradem com uma bola no pé. Como exemplo, temos o Zé Carioca. Criado por Walt Disney durante uma viagem ao Brasil, numa tentativa de “homenagem”, o papagaio verde de bico amarelo é retratado como malandro e preguiçoso, sempre escapando de situações com o clássico “jeitinho” característico. Se em algum momento houve uma boa intenção ao criar um personagem brasileiro , isso se perdeu em algum lugar no processo criativo. Insistir somente em certos pontos de uma sociedade é superficializar a experiência e negligenciar as muitas outras histórias que formam o sujeito. Portanto, é de suma importância que, além dos relatos que conhecemos sobre a identidade de um povo, possa-se salientar também as singularidades que compõem a identidade do indivíduo. Afinal, quando se compreende que ali estão presentes múltiplos aspectos que vão além do que possa ser apresentado por palavras, não há chance de cair em ideias pré- concebidas.