Você está na página 1de 12
A tontura de Jasmin A analista que apresenta 0 caso diz que esse atendimento produz nela “um estado de mente muito curioso”. Sente como se fossem “buracos mentais” nos quais nao consegue pensar em nada. Quan- do percebe, desligou-se do que a paciente esta dizendo. Fica des- vitalizada. Jasmin, hoje uma jovem universitaria, procurou anilise por causa de uma alergia e episddios de falta de ar. Na época, também nao sabia que carreira escolher. Esses problemas, que ocuparam as sessdes durante um bom tempo, foram resolvidos. Foi entao que comecaram os “buracos”, A paciente vem dizendo que esta dificil vir as sessées porque nao sabe do que falar. Ao ouvir 0 caso, vamos percebendo que Jasmin apresenta uma dificuldade significativa em manter um investimento em seus ob- jetos. Tentou estudar em outra cidade, mas nao aguentou. Prati camente nao sai de casa ou, quando sai, é colada a uma prima. Teve um namorado que se afastou porque ela nao tolerava qual- quer proximidade sexual. Olha para 0s livros, mas nao consegue estudar. Ha um vazio, um branco. 188 A TONTURA DE JASMIN Em sua paisagem emocional, nao ha objetos significativos, ex- ceto um namorado que teve 10 anos atras (Paulo). Quando marca- vam um encontro, ele a deixava esperando sem dar noticias por até 4horas, Ela nunca se queixou, Quando ele a deixou, nao entendeu ~ nao entende até hoje, Ele permanece idealizado como “alguém que era parecido com ela’. Mesmo com esses poucos dados, acredito que ¢ possivel esbogar a construgao de uma teoria “sob medida” para nos ajudar a pensar esta situa¢ao clinica. Em primeiro lugar, é preciso nunca perder de vista que esta- mos sempre escutando o material num duplo registro, atual ¢ in- fantil, j4 que transferéncia é justamente essa estranha superposi¢ao entre presente € passado. Assim, quando Jasmin fala de Paulo (ver material clinico abai- xo), entendemos que essa figura é 0 objeto atual que apresenta uma caracteristica - 0 fato de deix4-la esperando por horas e de ter su- mido sem uma explicacao - que faz dele um bom suporte para a atualizagao do infantil. Em outros termos, a crian¢a-em-Jasmin faz transferéncia com Paulo, que é a representa¢ao atual do aspecto traumatizante do objeto primario. Lembro que o aspecto traumatizante do objeto primario os elementos-beta (eréticos e tandticos) evacuados para dentro do psiquismo em formagao - e que excedem sua capacidade de meta- bolizac4o. Este caso nos fornece um bom exemplo de elemento-be- ta tanatico: aqui, 0 objeto primario “se esquece” — possivelmente porque esta tentando administrar suas proprias angustias - de que é responsavel pela sobrevivencia fisica e psiquica do bebé e o deixa cair de seu espaco psiquico. (Ver “Pequenas notas necessarias”, em que esclarecoa ideia de elemento-beta tanatico). 10 TRANSFERENCIA E CONTRATRANSFERENCIA 189 O objeto se desliga do bebé, ¢ essa vivéncia de suibito desinves- timento é registrada como ameaga A sua (do bebé) sobrevivéncia. Inscreve-se como tragos perceptivos, porém permanece clivada do psiquismo, ¢ pode ser reconhecida nas palavras da analista: “Quando percebe, desligou-se do que a paciente esta dizendo”. A estamos construindo uma hipotese sobre a natureza da situa- 40 traumatica. O material sugere - ¢ o diagnéstico transferencial também - que esse objeto falhou na fungio psiquica de holding. Para Winnicott (1963/1983), ha dois tipos de bebés: aqueles que tiveram um ambiente confidvel e previsivel, o que hes assegura 0 sentimento de continuidade do ser/existir ao longo do tempo e do espaco; e aqueles que, em fungao da psicopatologia da mae, tiveram a experiéncia de “ser deixados cair” (to be dropped, to be let down). “Estes bebés sabem o que é estar num estado de confusdo aguda ou num estado de agonia de desintegracao” (Abram, 1996, p. 78). Alias, 0 fato de que Jasmin nao se queixava de Paulo sugere que esse objeto e essa experiéncia nao sao novos para ela. De certa forma, a vivéncia dolorosa de “ser deixada cair” é familiar e espe- rada. Nesse sentido, ela continua ligada a Paulo - e poder se ligar a outros objetos com as mesmas caracteristicas - porque ele é a re- presentacao atual do objeto primario e porque ha elementos dessa experiéncia precoce que nunca foram simbolizados. A auséncia de simbolizacao determina a compulsio a repeti- ¢4o, que caracteriza a assim chamada “clinica da pulsao de morte”. Em lugar de serem recordados, como acontece na anilise de neu- réticos, esses elementos retornam como alma penada e “se depo- sitam” sobre Paulo e outros objetos atuais. Se o analista puder re- conhecer 0 objeto traumatizante em suas varias roupagens, podera ajudar a paciente a simbolizar aquilo que se repete. Este objeto po- dera, enfim, ser deixado para tras, e a vida pode seguir em frente. 198 A TONTURA BE JASMIN Organizar os elementos da historia em uma teoria - ainda que muito genérica e proviséria - € necessario, mas nao é suficiente. E apenas o ponto de partida para esbocar um diagnostic transfe- rencial - isto é, para reconhecer quais so as posig6es identificato: rias complementares ocupadas por paciente ¢ analista neste cam- po transferencial-contratransferencial. A analista traz uma sessao para nos ajudar. Jasmin se deita e, depois de certo tempo, diz: P - Nao sei por que esta tao dificil. Me sinto fechada, como se nao tivesse nada para falar. Sonhei com Paulo, Eu estava com ele. Quando acordei, pensei que tinha dificuldade em me desligar do passado. [Siléncio]. P - Acho que s6 quero saber de festa, sair com colegas [com a prima, que é muito comunicativa]. Acho estranho o jeito que mi- nha prima se relaciona com as pessoas. Cada vez esta com um gru- pinho. A gente frequenta aquele grupinho por trés ou quatro meses e depois muda para outro. [Siléncio]. P - Seila, acho estranho ficar mudando. (E uma critica a prima]. [A analista tem a sensagdo de que a mocaestanuma camisa de forga, nao se move, fica reta e dura no diva. Ela (analista) se sente tomada pelo buraco mental, seu pensamento entrecortado por la- cunas. Quando me descreve 0 tipo de fala da paciente, compara 4 de um escrivao anotando em voz alta, burocraticamente, os fatos ocorridos]. A ~ Talvez mudanga e movimento ameacem. TRANSFERENCIA E CONTRATRANSFERENCIA 191 P - Vou te contar uma coisa que esta acontecendo, talvez tenha alguma coisa relacionada. Eu fecho os olhos ¢ sinto uma tontura. Estou deitada aqui, ai fecho os olhos ea tontura vem. Quando abro 0s olhos, passa, Eu nao estou sentindo em outro lugar, s6 aqui. [A imagem que vem & analista é a de um prédio desmoronan- do, demolido}, A ~ Talvez medo de se soltar e desabar. Ai fica dificil chegar para a sessio e ficar livre para falar 0 que vem na sua cabeca, As vezes, a gente tem que demolir alguma coisa para construir outra. P - Sinto que esse fechamento é forte. O que me faz voltar é ter visto minha tia ontem. Ela estava com o bebé no colo e, ao mesmo tempo, tentando ligar ocelular, Dai ela gritou chamando minha avo [sua mae], dizendo que era impossivel fazer a ligacao. Entao, pensei no quanto ela era mimada e dependente. Nao quero ficar assim. A~ A gente pode pensar que é a crianga que, as vezes, impos- sibilita a ligagdo, o crescimento, P - Eu vejo claramente que nao quero fazer nada que é chato — estudar, ir 4 faculdade, cuidar da casa. Mas sei que tenho que fazer. Fico enrolando e comendo. Pudemos reconhecer na figura de Paulo uma representacao do objeto primario cuja presenga descontinua e imprevisivel produz a experiéncia emocional de “ser deixada cair”. Agora, esse mes- mo objeto ressurge na figura da prima. Jasmin conta ~ dizendo que “acha estranho” que ela frequenta um grupinho por trés ou quatro meses ¢ depois some, abandonando essas pessoas ¢ se mu- dando para outro grupo. Ela “deixa 0 grupo cair” de u espago psiquico; na medida em que as desinveste, as pessoas deixam de existir para ela. 192 A TONTURA BE JASMIN A angustia, a imagem do desespero de Jasmin, vem pela figura da tia que nao da conta de duas tarefas simultaneas (segurar 0 bebé e usar o celular) e precisa da ajuda concreta da mie, que funciona- ria como um terceiro brago - uma parte dela mesma. Jasmin usa duas palavras para descrever essa tia: “mimada” e “dependente”. A palavra “mimada” nos mostra como ela esta dis- tante de fazer contato com seu préprio sentimento de impoténcia, desamparo e desespero. Temos a impressio de que ninguém nunca Ihe significou este estado mental como desespero. Aiha um buraco de simbolizacao. Quanto a palavra “dependente’, ela tem razdo: nao da para de- pender de um objeto cujo psiquismo ora estd presente, ora se au- senta e cujo investimento nela nao tem continuidade no tempo e no espago. Temos aqui um tipo de transferéncia dificil de ser identificado porque, em lugar de uma figura “em positivo’, o analista tem de perceber 0 fundo, isto é, aquilo que se desenha “em negativo” E o que se desenha é a transferéncia da relagdo com um objeto que some/desaparece e que est presente precisamente por sua ausén- cia. O que se transfere é a experiéncia traumatica - que esta clivada do psiquismo - de ser deixada, de cair no vacuo. Como vimos em “1920”, Roussillon (1999a) afirma que o clivado tende a retornar por meio de elementos perceptivo-sensério-mo- tores. Esses elementos podem aparecer por intermédio do paciente e/ou do analista, Jasmin diz que nao sabe do que falar, e a ana- lista conta que sente um buraco mental, uma impossibilidade de pensar. Sao duas experiéncias emocionais complementares. Assim, entendo também a referéncia da paciente a uma “tontura que so acontece aqui’, a qual repercute na analista como imagem/sensa- cao de um prédio desmoronando. TRANSFERENCIA E CONTRATRANSFERENCIA 193 Aqui, percebe-se claramente que, bem mais do que simples reagao emocional a transferéncia, a contratransferéncia é a oferta da matéria psiquica viva da analista, gracas 4 qual a transferéncia pode ganhar corpo e ser reconhecida “dentro dela’ (analista). Bion (1962) diria que essa imagem/sensagao de um prédio des- moronando provém da réverie da analista em contato profundo com 0 inconsciente de sua paciente. Ogden (1996), cuja princi- pal referéncia tedrica é Bion, diria que o “autor” da imagem nao é nem 0 psiquismo da analista nem o da paciente, mas um terceiro sujeito inconsciente da andlise que é, a0 mesmo tempo, as duas e nenhuma delas. Entendo que, para ele, transferéncia e contratrans- feréncia constituem um terceiro sujeito que se forma no espaco intersubjetivo criado pelo par e que se torna acessivel ao analista, em parte, por meio de sua réverie. Voltando ao caso, o avesso da tontura e do prédio desmoronan- do (cair no vacuo por falta de holding) aparece em mais uma ima- gem que a analista faz: sua paciente parece estar numa camisa de forca - nao se move, fica reta e dura no diva. Aqui, temos a resposta defensiva inscrita no corpo: a imobilidade reta e dura da paciente. £ como se ela estivesse fazendo um auto-holding, ou melhor, um super-holding por meio de uma camisa de forca, que a aperta, mas também a segura com firmeza para que nao enlouquega. Em todas essas situacdes, podemos perceber o grau de sintonia entre paciente e analista, que esta aberta para captar com seu in- consciente aquilo que provém do inconsciente da paciente. Uma observagio sobre a contratransferéncia: sendo ela simples- mente 0 avesso (0 outro lado da moeda) da transferéncia, aquela é, tanto quanto esta, inconsciente. Vimos isso na Parte I. 194 A TONTURA BE JASMIN Naturalmente, o analista percebe em si efeitos conscientes da posi¢do contratransferencial que ocupa. Ele pode nos contar que sente ddio, medo, sono, pena e outros sentimentos. Pode trazer inclusive elementos mais elaborados - esta analista nos fala de seus buracos mentais, da imagem do prédio desmoronando e da ima- gem da camisa de forca. Sem divida, costumamos dizer “senti isso ¢ senti aquilo”, des- crevendo “minhas reagdes emocionais” ao paciente. Isso é contra- transferéncia, porém no sentido fraco do termo. E tanto pode ser um ponto de partida precioso para identificar a contratransferén- cia propriamente dita quanto uma maneira de obscurecer e mes- mo substituir o sentido forte do termo. No sentido forte do termo, a contratransferéncia é inconscien- te porque se refere a posicdo identificatéria complementar a do paciente, posi¢ao esta que o analista esta ocupando sem saber. Ou seja, o analista fala e sente coisas a partir de uma posi¢éo, mas nao pode falar da posi¢ao em si. E nesse nivel inconsciente que a contratransferéncia desenha a transferéncia e nos ajuda a “adivinhar” (Freud, 1905) qual é a iden- tificagao que o paciente esta agindo na cena transferencial. Onde encontrar indicios da posi¢do identificatoria comple- mentar da analista, j4 que, sendo inconsciente disso, ela nao nos pode falar? Retomemos as falas da analista: {Silencio}; [Siléncio}; A - Talvez mudanga e movimento ameacem; TRANSFERENCIA E CONTRATRANSFERENCIA 195 A - Talvez medo de se soltar e desabar. Ai fica dificil chegar para a sessio e ficar livre para falar o que vem na sua cabesa. As vezes, a gente tem que demolir alguma coisa para construir outra; A - A gente pode pensar que é a crianga que, as vezes, impos- sibilita a liga¢ao, 0 crescimento. O objetivo nao é julgar se estao certas ou erradas - nao ha certo e errado ¢, sim, falas menos ou mais produtivas - mas para in- terpreta-las como indicios do lugar que a analista esta ocupando. Isso porque esse lugar certamente tem a ver com caracteristicas do objeto primario da paciente. Sendo assim, vemos que a analista trabalha mantendo certa reserva: fica em siléncio com frequéncia ¢ suas falas sio curtas, in- saturadas, abertas, um pouco enigmiticas. Se a paciente fosse uma neurdtica, acredito que essa postura relangaria 0 processo de asso- ciagao livre. O pré-consciente poderia ser mobilizado de maneira bastante produtiva. Mas sendo uma estrutura psiquica nao neurotica, esse tipo de fala vai cair em outro registro. Até porque nao estamos mais na primeira topica, com sua referéncia ao recalcado, mas na segunda, na qual os mecanismos de defesa so mais primitivos - e entre os quais merece especial atencao a clivagem do eu (Freud, 1938; Roussillon, 1999a). Vimos que um aspecto importante do objeto primario de Jas- min é a descontinuidade psiquica, 0 que lhe produz a experiéncia emocional ~ que nao chega a ser simbolizada e, por isso, é trau- mitica — de “ser deixada cair no vacuo” Essa pequena teoria “sob medida” foi construida a partir da escuta analitica, mas também incide e orienta a escuta analitica subsequente. Por isso, ao ouvir as falas da analista, tive a sensagao de que eram como fiapos de algodao doce saindo daquela maquina em que se coloca 0 agticar. 196 A TONTURA BE JASMIN Nao é um julgamento nem uma super-visdo, mas simplesmente uma interpretagao. A analista oferece a essa paciente, que tem tan- to medo de cair no nada, fiapos nos quais ela nao pode se agarrar. Isso, contudo, nao é um erro, mas o desenho do objeto prima- rio da paciente, ao qual a analista esta identificada. E um momento necessario ao processo. Identificar-se ao objeto primario para po- der reconhecé-lo e, num segundo momento, desidentificar-se para produzir alguma mudanga no campo transferencial (Strachey, 1934). Afinal, 0 que mantém uma identificagdo em vigéncia é a identificagao complementar. Mas, de que objeto primario se trata? Podemos imaginar uma figura materna cujo psiquismo produz fiapos de sentido, que nao chegam a ser suficientes para ligar a pulsdo que ela mesma desper- tou (Green, 2002). Com Winnicott, citado por Abram (1996), podemos dizer que 0 psiquismo materno nao da sustentagao a angustia de fragmen- tagao do bebé. Podemos imaginar que o bebé (da tia de Jasmin) que estd no colo e ouve o grito angustiado de sua mae, que nao consegue segurd-lo e ligar o celular ao mesmo tempo, sente algo nessa linha. Agora, temos elementos para fazer algumas consideracées de or- dem técnica. Se a construgao tedrica que fizemos faz sentido, para sair dessa posig4o identificatéria - que seria precisamente a do objeto primario traumatizante - é preciso que a analista passe de uma posicdo mais reservada para outra mais implicada, em que 0 analista exerce ativamente as fungées de holding e continéncia (Figueiredo, 2008). Em lugar de uma fala alusiva que produz tontura, pode-se ten- tar falar de um jeito que “segure” a crianca-em-Jasmin ~ uma fala TRANSFERENCIA E CONTRATRANSFERENCIA 197 mais estruturada, que responde no proprio nivel do contetido ma- nifesto e oferece palavras e sentido para a experiéncia emocional. Por exemplo, quando a paciente diz: “Sonhei com Paulo. Eu estava com ele. Quando acordei, pensei que tinha dificuldade em me desligar do passado”. No lugar do siléncio, uma fala possivel seria: “Sim, ha uma dificuldade em se desligar de um namoro que foi importante para vocé, mesmo se ele te deixava esperando por horas sem uma explicacao. Vocé me contou que ele terminou o na- moro e vocé nunca entendeu o motivo. Esta dificil de digerir tudo isso”. Ou, quando a paciente diz: “Acho estranho 0 jeito que minha prima se relaciona com as pessoas. Cada vez est4 com um grupi- nho. A gente frequenta aquele grupinho por trés ou quatro meses e depois muda para outro”. No lugar do siléncio, uma interpretacao possivel seria: “E, imagino que o grupinho abandonado nao tem como entender o que deu nela. Ela nao explica por que de repente deixa de sair com aquelas pessoas’. Finalizo com algumas observagées sobre interpretacdo e transfe- réncia: « Procurei mostrar como a escuta analitica se dirige simulta- neamente a dois registros: o atual e o infantil. A fala de Jas- min sobre Paulo é escutada como referéncia ao atual — sua relagio com um ex-namorado - e ao infantil — a relagao da crianga-em-Jasmin com seu objeto primario, do qual Paulo é apenas o suporte atual. Pois bem, com relagao as interpretagdes, acontece o mesmo. As falas em italico se di- rigem simultaneamente ao registro do atual e do infantil. A analista fala da dificuldade em se desligar do namoro ou da perplexidade do grupinho abandonado, mas nao perde de vista que esta se dirigindo também a crianga-em-Jasmin, 198 A TONTURA BE JASMIN construindo para ela uma narrativa sobre as vicissitudes da relagao com seu objeto primario; + As interpretacdes que imaginei nesse exercicio nao se re- ferem diretamente a relagao analista paciente. Elas nao sao transferenciais no sentido descritivo, mas sao transferen- ciais do ponto de vista metapsicolégico porque tomam em consideragao o diagnéstico transferencial que pudemos construir. A analista sé consegue falar dessa maneira se ja nao estiver na posi¢do identificatéria complementar, em que repetia sem saber a falta de holding do objeto prima- rio. A fala mais implicada provém de um novo lugar no campo transferencial-contratransferencial. Por isso, en- tendo que sao interpretagdes transferenciais no sentido mais forte do termo. No seminério seguinte, a analista conta que fez muita diferen¢a “por mais carne” nas interpretagées. A paciente trouxe uma poesia de sua autoria cujo titulo é Didlogo.

Você também pode gostar