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Com a renúncia de Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, quem assumiu provisoriamente a

presidência foi Ranieri Mazzilli, o presidente da câmara dos deputados, pois o vice-presidente
João Goulart, também conhecido como Jango, estava em uma viagem diplomática à China.
Porém, 3 ministros militares apoiados por uma parte das forças armadas se negaram a aceitar
a posse de Jango quando ele retornasse ao Brasil e ainda diziam que ele seria preso se
retornasse ao país. Esses militares alegavam que Jango representava uma ameaça à segurança
nacional pois ele estaria comprometido com interesses comunistas. Como nesse período
estava acontecendo a Guerra Fria, havia uma grande polarização no cenário político, dessa
forma, como Jango era ligado aos setores da esquerda e às causas trabalhistas ele era visto
como comunista. Por outro lado, havia aqueles que defendiam a posse de Jango, já que era o
que constava na constituição. Um desses defensores era Leonel Brizola, o governador do Rio
Grande do Sul e cunhado de Jango. Brizola também contava com o apoio do general Machado
Lopes, líder do III Exército, tradicionalmente a mais bem armada das quatro subdivisões do
exército brasileiro. Brizola foi um dos líderes da Campanha da Legalidade, uma mobilização
civil e militar que tinha o objetivo de garantir o retorno de Jango ao Brasil e a sua posse como
presidente, utilizando-se até mesmo de uma resistência armada se fosse necessário.

Os ministros militares solicitaram ao Congresso que mantivesse Ranieri Mazzilli no cargo, até
que se realizassem novas eleições presidenciais. O Congresso rejeitou o pedido,
desencadeando uma grave crise política e até mesmo criando a possibilidade de uma guerra
civil.

Como solução provisória, o Congresso aprovou uma emenda constitucional em 2 de setembro


de 1961 que mudava o sistema político de presidencialista para parlamentarista. Desta forma,
Jango iria assumir a presidência mas teria seus poderes políticos reduzidos, já que o governo
de fato ficaria a cargo do primeiro-ministro, que seria escolhido pelo Congresso Nacional.
Também foi decidido que em 1965, convenientemente no final do mandato de Jango como
presidente, seria feito um plebiscito para decidir se a população iria querer continuar com o
parlamentarismo ou retornar ao presidencialismo.

Jango aceitou a mudança de sistema político para evitar uma guerra civil e em 7 de setembro
de 1961 assumiu a presidência. Mesmo com poderes limitados Jango lançou um plano de
governo que ficou conhecido como Plano trienal, o qual foi elaborado por Celso Furtado, o
Ministro do Planejamento. Seu objetivo era combater a inflação, reduzir o déficit público,
promover o crescimento econômico e favorecer a retomada do crescimento industrial. Para
isso foram tomadas algumas medidas como a desvalorização da moeda e a redução das
importações. Em poucos meses o plano se mostrou um fracasso.

No final de 1962, a crise política seguia cada vez mais intensa e o parlamentarismo já sofria
diversas críticas e estava sendo bastante impopular, tanto é que até aquele momento 3
primeiros-ministros já haviam assumido o cargo, sendo eles: Tancredo Neves, Francisco
Brochado e Hermes Lima. Dessa forma, o plebiscito que estava sendo previsto para 1965 foi
antecipado para 6 de janeiro de 1963, sendo restabelecido o presidencialismo com mais de
82% dos votos.

A partir de junho de 1963, foram lançadas as reformas de base para complementar o Plano
Trienal, principalmente devido a sua falta de sucesso. Dentre essas reformas estavam: a
agrária, a administrativa, a eleitoral, a bancária, a tributária (ou fiscal), a urbana e a
universitária (ou educacional).
Reforma Agrária: Visava eliminar os conflitos pela posse de terra, garantir ao trabalhador rural
o acesso à propriedade, distribuir de forma justa as propriedades rurais, desapropriar terras
improdutivas e priorizar a produção agrícola que visasse o mercado interno. O debate sobre a
reforma agrária era impulsionado principalmente pelas Ligas Camponesas, uma organização de
camponeses que se formou, a partir da década de 1950, para lutar pelo acesso do trabalhador
rural à terra.

Reforma Administrativa: visava a reestruturação da administração pública federal,


simplificando e racionalizando sua organização, provendo-a de técnicos qualificados e recursos
capazes de efetivar o desenvolvimento.

Reforma Eleitoral: visava garantir o direito do voto aos analfabetos e aos militares de baixa
patente. Previa-se também a legalização do Partido Comunista Brasileiro.

Reforma Bancária: visava uma nova estrutura financeira sob o controle do Estado para
controlar a inflação e ampliar o acesso ao crédito pelos produtores.

Reforma Tributária: tinha o objetivo de modernizar a arrecadação de impostos para evitar


fraudes e aumentar a capacidade de arrecadação do Estado. Além disso, pretendia-se limitar a
remessa de lucros para o exterior, sobretudo por parte das empresas multinacionais.

Reforma urbana: objetivava resolver o problema habitacional nos centros urbanos.

Reforma Universitária: visava a democratização do ensino superior, a formação técnica


qualificada que atendesse a crescente demanda industrial e a produção de conhecimento
científico voltado para as necessidades do país.

O anúncio das reformas de base desagradou aos conservadores, à classe média e as elites
industriais, que viam as reformas como uma ameaça à ordem liberal vigente e também como
medidas que levariam o Brasil ao comunismo. Dentre essas reformas as que mais causaram
polêmica foram a agrária e a tributária.

A reforma agrária desagradou aos grandes proprietários de terra (os latifundiários) devido aos
valores e a forma como seriam pagas as indenizações pelas desapropriações das terras. O
governo pretendia pagar aos latifundiários por meio de títulos da dívida pública, que
resumidamente seria um pagamento a longo prazo. Enquanto que a constituição dizia que o
pagamento das indenizações deveria ser à vista e em dinheiro.

Outra questão polêmica foi a limitação da remessa de lucros das empresas estrangeiras para o
exterior, que impedia que as empresas multinacionais enviassem mais de 10% de seus lucros
para fora do país. Tal medida foi vista pelos conservadores como um ataque ao modelo
capitalista de produção e também sofreu forte oposição de grupos ligados ao capital
estrangeiro.

João Goulart, sabendo que não teria o apoio dos conservadores e das tradicionais elites
econômicas para aprovar as reformas de base no congresso, decide buscar o apoio de grupos
mais à esquerda, de setores populares, de sindicatos, de camponeses e de estudantes. As
principais organizações que deram apoio às reformas foram: o Comando Geral dos
Trabalhadores (CGT), a União Nacional dos Estudantes (UNE), a União Brasileira de Estudantes
Secundaristas (UBES), a Confederação dos Trabalhadores Agrícolas (CONTAG) e as Ligas
Camponesas.
O apoio desses grupos e organizações se concretizou em 13 março de 1964, quando Jango
participou de um comício em frente à estação ferroviária Central do Brasil onde reuniu em
torno de 200 mil pessoas. No comício, Jango anunciou a Nnacionalização de refinarias de
petróleo que ainda não estavam sob controle da Petrobrás e a desapropriação de terras
estatais. Antecipou também a futura “reforma urbana” (que assustou os proprietários de
imóveis residenciais nas cidades), além de prometer mudar os impostos, taxando os mais ricos.

Em 19 de março 1964 teve início uma passeata chamada de Marcha da Família com Deus pela
Liberdade acontecendo primeiramente em São Paulo reunindo cerca de 500 mil pessoas e
depois acontecendo em diversas outras regiões do país. A marcha foi organizada
principalmente por setores da igreja e por entidades femininas, reunindo conservadores,
anticomunistas e pessoas contrárias as reformas de base. A marcha tinha como propósitos
servir como resposta ao comício da Central do Brasil e mostrar o apelo da sociedade à
intervenção das Forças Armadas. Os participantes da passeata declaravam estar se
posicionando contra a possível transformação do país numa ditadura comunista, representada
pelo presidente, por suas propostas e seu grupo de apoio.

Duas principais instituições que faziam oposição ao governo de Jango eram o Instituto
Brasileiro de Ação Democrática (Ibad) e o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes). Esses
institutos de viés conservador realizavam estudos e debates sobre a realidade brasileira e
também visavam influencia-la por meio de ações publicitárias e políticas. Eles eram formados
por grandes empresários brasileiros e representantes de empresas estrangeiras. Também
reuniam jornalistas, intelectuais e militares contrários ao governo. O IBAD e o IPES financiavam
e divulgavam programas de rádio, de televisão, eventos e matérias nos jornais, com conteúdo
anticomunista e financiavam campanhas de políticos conservadores. O IBAD também matinha
relações estreitas com CIA.

Como uma parte das forças armadas já queria tirar Jango da presidência e assumir o poder,
agora com o notório apoio da população através da Marcha da Família com Deus pela
Liberdade, o golpe militar era questão de tempo, bastava apenas uma simples justificativa para
isso acontecer.

O que estava faltando para concretizar o golpe militar aconteceu no dia 25 de março de 1964,
quando o ministro da marinha Sílvio Mota enviou alguns fuzileiros para prender marinheiros
que tinham se reunido em uma entidade ilegal para protestar por melhores condições de
trabalho. Porém, esses fuzileiros acabaram aderindo à manifestação dos marinheiros. Sob
pressão e sentindo-se desprestigiado, o ministro da Marinha demitiu-se. No dia 27|do mesmo
mês, Jango nomeou um novo ministro e com a ajuda do exército conseguiu prender os
manifestantes, mas logo depois mandou liberta-los e anistia-los. Isso foi visto pelos oficiais da
Marinha e do Exército como quebra de disciplina, rompimento da hierarquia e desmoralização
do comando.

Justificando a necessidade de se garantir a ordem institucional e a disciplina, no dia 31 de


março de 1964 na cidade de Juiz de Fora em Minas Gerais, teve início o Golpe Militar sob o
comando do general Olímpio Mourão Filho, o mesmo que, 27 anos antes, havia forjado o Plano
Cohen. Praticamente todas as unidades militares apoiaram o golpe, e em 48 horas todo o
Brasil se submeteu ao movimento. O golpe também contou com o apoio de vários
governadores como: Magalhães Pinto, de Minas Gerais, Carlos Lacerda, da Guanabara, e
Ademar de Barros, de São Paulo. Através da operação Brother Sam, os EUA enviaram uma
frota naval em direção ao Brasil para apoiar o golpe militar. A operação foi planejada pelo
embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon. Porém, como não houve resistência
ao golpe a operação foi suspensa.

João Goulart, partiu para Brasília ao receber o manifesto do general Mourão Filho, para tentar
controlar a situação. Na capital percebeu que não contava com nenhum apoio militar, então
ele partiu para o Rio Grande do Sul, onde Brizola tentava organizar uma resistência. Porém, no
dia 2 de abril de 1964, o congresso já mostrava sua subserviência aos golpistas, declarando
vaga a presidência enquanto Jango ainda estava em território brasileiro.

Isolado, sem condições de resistir e indisposto a convocar a população para uma luta armada,
João Goulart exilou-se no Uruguai em 4 de abril, e o poder foi entregue provisoriamente a
Ranieri Mazzilli, permanecendo até a posse do marechal Humberto Castelo Branco, o primeiro
presidente do regime militar.

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