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1. O Recorrente recebeu notificação por infração de trânsito (Doc. em anexo na Defesa Prévia,
protocolo n°24362671), pelo qual estaria infringindo a Lei 9.503 de 23 de setembro de 1997,
denominada Código de Trânsito Brasileiro, pois que, supostamente, teria avançado o sinal
vermelho (art. 208 da citada Lei) – Recebeu aos 09/08/04 a Notificação de Penalidade, o que
lhe impulsionou ingressar com o presente recurso.
3. Verifica-se no presente auto, que o horário da suposta infração foi às 13:59:00, existem
ainda, três ou quatro fotografias da mesma notificação de autuação nos registros do SMT;
após a re-análise daquelas registradas nos horários de 13:59:01, 13:59:02 e 13:59:03
perceber-se-á que o veículo encontrava-se PARADO, ESTACIONADO, IMÓVEL sobre a faixa de
pedestres. Tal informação pode ser constatada até mesmo sem re-analisar as fotografias, pois
a própria foto da notificação demonstra claramente a LUZ DE FREIOS do veículo acionada,
levando até mesmo, uma pessoa leiga, a concluir que O VEÍCULO FLAGRADO SE ENCONTRAVA
PARADO.
4. O CTB enquadra e tipifica devidamente as infrações de trânsito e traz em seu artigo 182,
VI, a tipificação correta para a infração flagrada pelo equipamento eletrônico 0029, aos
14/03/04 às 13:59:00, qual seja: “PARAR O VEÍCULO: .... VI-NO PASSEIO OU SOBRE FAIXA
DESTINADA A PEDESTRE, NAS ILHAS, REFÚGIOS,....: INFRAÇÃO LEVE; PENALIDADE MULTA”.
5. Poder-se-ia, ainda, enquadrar a suposta infração no art. 183: “PARAR O VEÍCULO SOBRE A
FAIXA DE PEDESTRES NA MUDANÇA DE SINAL LUMINOSO: INFRAÇÃO MÉDIA; PENALIDADE
MULTA”.
7. De acordo com o artigo 281 do CTB temos: "Art. 281 A autoridade de trânsito, na esfera da
competência estabelecida neste Código e dentro de sua circunscrição, julgará a consistência
do auto de infração e aplicará a penalidade cabível. Parágrafo único. O auto de infração será
arquivado e seu registro julgado insubsistente: I - se considerado inconsistente ou irregular; II
- se, no prazo máximo de trinta dias, não for expedida a notificação da autuação”. Analisando
o artigo transcrito, a penalidade só poderá ser aplicada se o Auto de Infração for consistente,
o que não ocorre com o Auto de Infração objeto da presente, pois a TIPIFICAÇÃO CONSTANTE
NA NOTIFICAÇÃO ESTÁ EQUIVOCADA, tornando-o dessa forma inconsistente e irregular.
8. Diante de tal circunstância, de que o Auto de Infração é o documento legal e inicial para se
aplicar as penalidades previstas no CTB, fazendo-se NECESSÁRIO O CORRETO
PREENCHIMENTO, com as precisas informações, para que não deixem qualquer tipo de dúvida,
e que, no caso em questão, EXISTE UM ERRO DE TIPIFICAÇÃO da suposta infração, e
invocando o § único do art. 281, venho requerer a V.Sª o cancelamento do Auto de Infração
supra citado, com a conseqüente não aplicação de penalidade específica, assim como a não
atribuição de pontos perdidos, referentes à infração objeto da presente.
___________________________________________
Assinatura
Anexar fotocópias autenticadas ou levar os originais juntamente com as cópias, para que
sejam autenticados nas lojas de atendimentos, dos documentos abaixo relacionados: Carteira
de Identidade; Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo, ( CRLV); C.N.H.; Auto de
Infração ou notificação
Obs: Dar entrada em quaisquer Lojas de Atendimento da Prefeitura : Loja Serrinha: Av.
Laudelino Gomes Qd. 210 Lt.24/25 Setor Bela Vista. 524-1256. Loja Centro: Palácio das
Campinas (Pça Cívica): 524-2911/524-2910. Loja Campinas ( Pça Joaquim Lúcio). 524-1910.
Loja Cidade Jardim Av. Atílio Correia Lima N.º 785 Cidade Jardim. 524-2120. Loja Vila Nova –
6ª Avenida c/ Av. Independência Vila Nova. 524-2955
Edison Montesano, brasileiro, casado, empresário, CPF n°689.366.568-72, por suas bastantes
procuradoras abaixo subscritas, com endereço profissional constante no rodapé deste petitório
– local onde recebem notificações, citações e intimações, vêm respeitosamente, apresentar
DEFESA PRÉVIA, de acordo com os fatos e fundamentos de direito que a seguir passam a
expor, contra notificação da autuação n° R862494:
1. -------------------é proprietário do automóvel GM, Celta prata, placa KEP 7748, (Doc. Cópia
do Certificado de Registro de Veículo).
3. O também Requerente, era quem conduzia o veículo descrito no item 01, acima, no
momento da citada infração.
a – A Resolução 001/98 do CONTRAN reza sobre os itens obrigatórios a constar nos autos,
assim como o próprio CTB, exigindo que a imagem do automóvel fotografada pelo
equipamento eletrônico identifique claramente o veículo, sem margem de dúvida, incluindo a
leitura de letras e números constantes em sua placa de identificação, pois no caso em apreço,
a imagem ampliada que objetiva demonstrar claramente a placa do veículo, não visualiza
sequer uma das letras ou números existentes na placa do provável veículo infrator. A simples
mudança de uma das letras pode causar a penalidade de um condutor qualquer, que na data e
horário da infração se quer imaginava estar no local onde fora supostamente flagrado.
a) Que a presente defesa seja encaminhada ao Diretor (a) competente para o julgamento;
Que seja julgado inconsistente o auto de infração, diante de tal circunstância, de que o
Auto de Infração é o documento legal e inicial para se aplicar as penalidades previstas no CTB,
fazendo-se necessário o correto preenchimento, com as precisas informações, para que não
deixem qualquer tipo de dúvida, invalidando-o em função da irregularidade da autuação,
conforme demonstrado acima.
N. Termos
P. E. Deferimento.
AIT n°V032203015
Fiat/MAREA – Placas HVW3117
Excesso Velocidade
Multa R$127,69 – Venc 14/12/2004
RECURSO
JACIREMA LEDA MOREIRA, brasileira, advogada, residente à Rua Eng. Plácido Coelho Jr. N°89,
CEP 60.155-480, Fortaleza/CE, havendo recebido a notificação da lavratura do auto de
infração de trânsito em referência, vem, na forma da lei, oferecer RECURSO, expondo para
depois requerer, o seguinte:
1.- Através da autuação imputa-se a recorrente haver cometido infração de trânsito, sob a
seguinte descrição: “TRANSITAR EM VELOCIDADE SUPERIOR A MAXIMA PERMITIDA PARA O
LOCAL , MEDIDA, POR INSTRUMENTO OU EQUIPAMENTO HABIL EM RODOVIAS, VIAS DE
TRNSITO RÁPIDO E VIAS ARTERIAIS QUANDO A VELOCIDADE FOR SUPERIOR A MÁXIMA EM
ATÉ VINTE POR CENTO – GRVE”.
Consta do auto que a suposta conduta, anotada como infração, teria ocorrido no dia
26/08/2004, às 06:02 hs. na condução do veículo Fiat/MAREA – Placas HVW3117 ,na
Av.Santana Junior 2868, sendo base legal da autuação o art.218 da Lei 9.503/97.
Acontece que um outro auto de infração de n. AIT n° AIT n°V032198938 imputa idêntica
ocorrência no mesmo dia 26/08/2004, às 06:00 hs. na condução do mesmo veículo
Fiat/MAREA – Placas HVW3117 ,na Av.Rogaciano Leite n.296.
Como isto seria possível não esta explicado.
Está indicado, ainda, no auto, que o instrumento eletrônico teria sido aferido em 31/03/2004,
ou seja, cinco meses antes.
Diz-se que o aparelho eletrônico indicado foi aferido, mas não indica por qual órgão e não se
faz especificação do prazo de validade dessa aferição.
2.- Esse tipo de infração não pode ser imputada pela simples referência, sem qualquer
identificação do agente que LAVROU a autuação, e, também sem explicitar as circunstâncias,
sem apontar testemunhas do fato e, até mesmo sem indicar precisamente SER O CONDUTOR
HOMEM OU MULHER, considerando que a autuada, sendo mulher, tem aparência que permite
facilmente essa constatação.
Essas explicitações são indispensáveis, até porque, pela estástica da fotografia, se tem
AUSÊNCIA ABSOLUTA DE QUALQUER SINAL DE IDENTIFICAÇÃO DO CONDUTOR, ESTANDO
VISÍVEL, APENAS A PARTE BAIXA DO VEÍCULO.
O CTB em seu art.280 estabelece requisitos de validade das autuações de trânsito, como se
vê:
Art. 280. Ocorrendo infração prevista na legislação de trânsito, lavrar-se-á auto de infração,
do qual constará:
I - tipificação da infração;
II - local, data e hora do cometimento da infração;
III - caracteres da placa de identificação do veículo, sua marca e espécie, e outros elementos
julgados necessários à sua identificação;
IV - o prontuário do condutor, sempre que possível;
V - identificação do órgão ou entidade e da autoridade ou agente autuador ou equipamento
que comprovar a infração;
VI - assinatura do infrator, sempre que possível, valendo esta como notificação do
cometimento da infração.
§ 1º. (VETADO)
§ 2º. A infração deverá ser comprovada por declaração da autoridade ou do agente da
autoridade de trânsito, por aparelho eletrônico ou por equipamento audiovisual, reações
químicas ou qualquer outro meio tecnologicamente disponível, previamente regulamentado
pelo CONTRAN.
§ 3º. Não sendo possível a autuação em flagrante, o agente de trânsito relatará o fato à
autoridade no próprio auto de infração, informando os dados a respeito do veículo, além dos
constantes nos incisos I, II e III, para o procedimento previsto no artigo seguinte.
§ 4º. O agente da autoridade de trânsito competente para lavrar o auto de infração poderá ser
servidor civil, estatutário ou celetista ou, ainda, policial militar designado pela autoridade de
trânsito com jurisdição sobre a via no âmbito de sua competência.
Os grifos feitos ao texto do art.280 do CTB, acima transcrito, mostram falhas que transmitem
nulidade à autuação, porque inviabilizam a plena defesa do imputado.
De fato, não está DESCRITA no auto as circunstâncias em que se encontrava a via, de modo a
impedir que fosse parado o veículo e realizada a indentificação do condutor.
Do mesmo modo, não se tem instruindo a autuação o relato do fato à autoridade, já que não
existe flagrante.
Finalmente, falta instruir a autuação com a prova de o agente que fez a imputação ser
servidor civil, estatutário ou celetista ou, ainda, policial militar designado pela autoridade de
trânsito com jurisdição sobre a via no âmbito de sua competência.
Sabidamente, por não atender a autuação aos requisitos legais imprescindíveis à defesa do
autuado e até por não revestir a forma prescrita em lei, será nula como ato jurídico, conforme
o art.166-IV, do novo C.Civil.
Trata-se, pois, de auto de infração nulo de pleno direito, inconsistente, irregular, cabendo à
autoridade julgadora, na forma do art.281 do CTB, determinar o seu arquivamento e
cancelamento do seu registro.
3.- Ainda, porem, que não fosse a autuação nula de pleno direito, tem-se a absoluta falta de
procedência da imputação.
A autuada NÃO ESTVA CONDUZINDO O VEÍCULO NAQUELA OCASIÃO, até porque não se trata
do veículo de seu uso exclusivo.
Também não pode a autuada afirmar quem seria o condutor, na ocasião, porque o seu veículo,
serve às necessidades da sua residência, como do seu escritório de advocacia, onde existem
outras pessoas habilitadas que, dele se utilizam.
De fato, quem deve responder pela conduta infracional imputada é o condutor do veículo e,
não o proprietário deste.
E, não se diga que a questão se resolve pela opção do proprietário de revelar o nome desse
guiador, porque, evidentemente, pode acontecer, como no caso, que este não tenha como
saber quem estava conduzindo o veículo no momento da ocorrência.
Sendo assim, ainda que fosse legítimo impor ao proprietário fazer denúncia de fato que não
presenciou, que não teve conhecimento, seria imoral pretender que viesse a imputar autoria
da conduta desconhecida a determinada pessoa, quando, potencialmente, varias poderiam ser
a autora.
Desse modo, e como não se pode pretender prova de fato negativo, tem-se destituída de
qualquer validade jurídica a simples afirmativa de uma conduta, sem comprovação dela e, até
mesmo, sem o mínimo grau de precisão.
Ofende aos direitos constitucionais do cidadão, atenta contra a razoabilidade que deve imperar
na aplicação da lei, que a autoridade de trânsito faça imputações infracionais, sem oferecer
qualquer elemento material da conduta imputada e da autoria.
Ocorre que o sistema jurídico não admite atribuição de responsabilidade infracional que não
esteja amparada em suficiente prova da autoria e materialidade.
É o que se depreende do preceito constitucional insculpido no art. 5º, XLV, da CF, de que
"nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
decretação do perecimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra
eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido", que não se atém tão-só à
responsabilidade criminal, mas a todos os tipos de responsabilidade punitiva previstos em lei.
Portanto, a punição, seja criminal, administrativa, tributária, não pode atingir o não-infrator ,
seja porque alienou seu veículo e ainda não o transferiu, ou que o emprestou, ou que, por
qualquer motivo, não o estava dirigindo na ocasião..
4. A autuação padece de defeitos que se traduzem em nulidade absoluta, tanto por violação a
expressa norma legal, como desatender a garantias constitucionais.
Como já foi dito, a tipicidade da infração não se expressa na autuação, pois, a ausência de
identificação do condutor faz difusa, imprecisa, duvidosa, indeterminada a conduta imputada
como infracional.
Pela visão de tráfego que a fotografia oferece, se tem situação de fluxo que, induvidosamente,
faz possível mandar parar o veículo para operar-se a identificação do condutor, cumprindo-se,
assim, a norma legal que manda constar do auto de infração o prontuário do guiador sempre
que possível.
Na verdade, a prosperar esse tipo de autuação estaria sendo viabilizada e até mesmo
estimulada uma verdadeira “industria de multas”, na medida em que, o agente de trânsito
poderia simplesmente EDITAR imputações que bem lhe conviesse.
Exatamente para evitar esse tipo de procedimento que desvia o sentido e alcance social da
fiscalização de trânsito, é que a norma legal exige um relato especial das circunstâncias que
inviabilizou a autuação em flagrante.
E, essa providencia se faz muito mais indispensável quando, se tem, agora, uma política de
utilização de pessoas que não são verdadeiramente autoridades, para exercer o poder de
polícia que se faz apanágio do agente de trânsito.
O Superior Tribunal de Justiça indeferiu recurso da Prefeitura de São Paulo, que queria
invalidar acórdão do Tribunal de Justiça que proíbe os chamados marronzinhos - fiscais da
Companhia de Engenharia de Tráfego – de aplicar multas de trânsito.
O STJ decidiu que o acórdão do TJ/SP não contém violações a leis federais e nem é passível de
qualquer reparo, exatamente porque se impõe conciliar a aplicação da normatividade federal
com a ordem constitucional.
E, como explica JOSÉ CRETELLA JUNIOR , o poder de polícia, alem de emergente de fonte
absolutamente estatal, tem o seu exercício indelegável.
Sendo assim, é preciso considerar a lição de CAIO TÁCITO , segundo a qual “não é
competente quem quer, mas quem pode, segundo a norma de Direito.”
De outra parte, por decorrência do ato inicial se tem imputação infracional e consequente
aplicação de sanção de polícia de trânsito, ou seja a multa de trânsito , materializada sem
PROVA da participação efetiva da autoridade competente para dar impulso a formação desse
ato administrativo.
Leciona CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO que o art.37, caput e em especial o seu item
XXI, da CF-88 expande comando no sentido de que, pelo princípios que devem nortear a
conduta administrativa, não se pode ter a entidade integrante da Administração Pública agindo
com o mero propósito de sacar vantagens em detrimento da parte privada.
Não pode, pois, a Administração Fiscal substituir seus encargos de apuração, em cada caso, da
tipicidade infracional, da identidade do condutor do veículo, para, de forma genérica, imputar
infração mediante fórmulas alternativas, sem precisão, tudo feito à distância, com base em
meras afirmativas de agente que, sequer está identificado e, muito menos comprovada a sua
jurisdição sobre a via na qual se tenha verificado a infração.
Para que se tenha certos fatos como suscetíveis de darem tipicidade infracional, é inafastável
que a autuação descreva especificamente toda a situação ocorrida e, mais, relate os motivos
pelos quais não lhe foi possível estabelecer a identidade do condutor do veículo e/ou submeter
o auto de infração à sua assinatura.
E, como esse fato, todavia — é inescapável — há de ter ocorrência e configuração em dado
"ponto" do tempo e do espaço , sabendo-se por lição de PONTES DE MIRANDA, que será esse
“ponto” que, então, vai determinar, no caso, qual a norma legal que incide.
Nesse sentido, preleciona CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, com inteira propriedade:
“Assim, o administrado para insurgir-se ou para ter elementos de insurgência contra atos que
o afetem pessoalmente necessita conhecer as razões de tais atos na ocasião em que são
expedidos. Igualmente, o Judiciário não poderia conferir-lhes a real justeza se a Administração
se omitisse em enunciá-las quando da prática do ato. É que se fosse dado ao Poder Público
aduzi-los apenas serodiamente, depois de impugnada a conduta em Juízo, poderia fabricar
razões ad hoc , construir motivos que jamais ou dificilmente se saberia se eram realmente
existentes e/ou se foram deveras sopesados à época em que se expediu o ato questionado”
A ser mantida essa autuação, ter-se-á perpetrado o abuso de autoridade, em suas formas
tipificadas nos arts.3°, letra “j” e 4° letra “h”, da Lei 4.898/65, porque se quer, por via do
exercício formal da função pública, atentar contra a atividade regular e causar lesão ao
patrimônio do administrado.
Leciona CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO que o art.37, caput e em especial o seu item
XXI, da CF-88 expande comando no sentido de que, pelo princípios que devem nortear a
conduta administrativa, não se pode ter a entidade integrante da Administração Pública agindo
com o mero propósito de sacar vantagens em detrimento da parte privada.
Com o advento da CF-88 essa vinculação fez-se mais rigorosa, tanto pelos princípios
expressamente estabelecidos no art.37, como pela existência de norma expressa(CF-88,
art.25 do ADCT) tornando ineficazes todas as delegações legislativas que não estejam
excepcionadas na própria Constituição.
A CF-88 instituiu um rol de direitos fundamentais (art.5°)que impedem possam as leis, os atos
administrativos e também as decisões judiciais, estabelecerem situações, obrigações,
constrangimentos de qualquer natureza que, eventualmente, contrariem os valores
considerados nesses direitos, como demonstra CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO.
Tem-se, pois, nulo de pleno direito o auto de infração, seja por ofensa ao direito de defesa, ao
princípio da legalidade, como desfiguração do regime constitucional do poder de polícia.
"Ato nulo é o que nasce afetado de vício insanável por ausência ou defeito substancial em seus
elementos constitutivos, ou no procedimento formativo. A nulidade pode ser explícita ou
virtual. É explícita quando a lei comina expressamente, indicando os vícios que lhe dão
origem; é virtual quando a invalidade decorre da infringência de princípios específicos do
direito público, reconhecidos por interpretação das normas concernentes ao ato. Em qualquer
destes casos, porém, o ato é ilegítimo ou ilegal e não produz qualquer efeito válido entre as
partes, pela evidente razão de que não se pode adquirir direitos contra a lei."
"A administração pode anular seus próprios atos quando eivados de vícios que os tornam
ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a
apreciação judicial."
Importa dizer, ainda, que os vícios e nulidades da autuação com inequívoco grau de
imprestabilidade e revelação de culpa do agente lançador, se agrava perante a autoridade
julgadora, posto que esta, em nenhuma circunstância pode deixar de enfrentar o
questinonamento específico que lhe foi apresentado, para limitar-se a aplicação de penalidade
absolutamente inconciliável com o regime constitucional, a ensejar a responsabilidade
administrativa e civil, previstas no art.37, §6°, da CF-88.
5.- O auto de infração por exigência legal e imperativo da ordem constitucional deve descrever
fato definido como infração e identificar o autor da conduta, pois, do contrário, evidencia-se
inepta a peça de imputação.
Ainda quando não existisse norma específica no Código de Trânsito, aplicava-se ao caso, como
a qualquer imputação infracional, o princípio emergente do art.41 do Código de Processo
Penal, impondo-se verificar a suficiencia da autuação quanto aos requisitos de imputabilidade
previsto nessa norma.
Assim, no caso, o tipo infracional somente pode ser imputada à conduta do condutor do carro,
que no caso, não foi identificado na autuação, como se impunha à autoridade fiscalizadora
fazer.
Dessa forma, se a autuação não aponta quem era o condutor do veículos na ocasião da
ocorrência infracional, não pode o autuado defender-se, ,°restando, pois, violada garantia
Caso contrário, infelizmente, como muitas vezes acontece, a decisão condenatória passa a ser
mero trabalho burocrático, cego ao sentido e alcance das leis.
Como sempre, urge invocar os princípios jurídicos incidentes na espécie e, no caso, importa
considerar que a Constituição da República impõe o princípio da presunção de inocência e a
exigência do devido processo legal.
Quando o Código de Transito diz o óbvio, ou seja, que o infrator da regra de trânsito é o
condutor do veículo, projeta nesse molde infracional, a necessidade de apurar-se a verdade
material, ou seja, não somente a ocorrência da conduta proibida, mas, também, o seu agente.
A norma de trânsito não pode implicar em sacrifício dos direitos de quem não pode ser
apontado, identificado como o autor da conduta proibida.
Diante da ordem constitucional e legal a conduta infracional não se presume, devendo, por
isso, ficar cumpridamente provada.
“É hoje entendimento generalizado que um sistema de processo penal inspirado nos valores
democráticos não se compadece com decisões que hajam de impor-se apenas em razão da
autoridade de quem as profere, mas antes pela razão que lhes subjaz” .
No mesmo sentido, quanto à sistemática de apreciação da prova e da convicção do julgador,
ensina J. FIGUEIREDO DIAS:
“O princípio não pode de modo algum querer apontar para uma apreciação imotivável e
incontrolável – e portanto arbitrária – da prova produzida”. Mais adiante, no punctum saliens:
“A conseqüência mais relevante da aceitação destes limites à discricionariedade estará
também aqui em que, sempre que tais limites se mostrarem violados, será a matéria
susceptível de recurso ‘de direito’ para o STJ” .
norma do fato que origina a relação jurídica fiscal; e o próprio sucesso fático ocorrido no
plano da realidade social.
É certo ter o legislador colhido um fato, dentre os inúmeros que se sucedem na vida social e
pelos mais variados aspectos que possam ser considerados, identificando os elementos
essenciais delineadores da hipótese - tais como o comportamento de uma pessoa (critério
material), o local onde se consumou a ação humana (critério espacial) e o momento em que
acontece o fato descrito (critério temporal) - no antecedente da norma jurídica.
No entanto, a mera e simples menção aos critérios material, espacial e temporal não desponta
como dado suficiente à eclosão do fenômeno da incidência, sendo indispensável o atuar
humano na realidade social que, previsto no antecedente do enunciado lingüístico, viabiliza o
surgimento da relação jurídica.
Registre-se, de sorte a espancar dúvidas, que a decisão para se impor sanção de ordem
administrativa tendo em vista a conduta no trânsito legitima-se apenas e tão-somente se o
condutor do veículos estiver induvidosamente identificado.
O ato infracional de trânsito, como toda espécie definida como conduta pessoal proibida, se
apresenta sob a modalidade de tipo vinculado ao agente.
Os corpos legislativos, por razões que ora se avizinham à conveniência, ora à oportunidade
para a inserção de regras jurídicas no sistema, identificam elementos essenciais delineadores
da hipótese infracional no descritor normativo, onde iremos encontrar o comportamento de
uma pessoa apto a desencadear o fato jurídico tributário (critério material), o lugar no qual se
consumou a ação humana (critério espacial) e o momento em que acontece o fato descrito
(critério temporal).
Mediante a utilização dos princípios, poderá o intérprete da norma jurídica auscultar a carga
axiológica positivada pelo político no sistema normativo.
Em sede de direito do trânsito, tendo em conta a sua gênese e o papel exercido na condição
de instrumento posto à disposição do homem para minorar as falhas humanas de julgamento,
vem a lume princípio de densidade material da imputação.
Mas, se a chamada responsabilidade objetiva está arguida para tentar justificar a ânsia fiscal
arrecadadora, de modo algum pode justificar o desfecho punitivo que implique em interdição
de liberdade individual.
Não pode o julgador de condutas dos administrados transformar-se em cego carrasco executor
das conveniências arrecadadoras, invocando textos normativos anacrônicos, ofensivos aos
princípios gerais do sistema jurídico.
Desse modo, resta ao julgador analisar se alem da responsabilidade objetiva por multa sem
existir a comprovação da autoria da infração, ainda se atribua, por mera suposição de autoria,
a pontuação negativa que vai resultar em futura interdição ao direito de dirigir veículos para
quem conquistou habilitação específica.
Diante dos valores, princípios e normas do Estado Democrático de Direito proclamado pela
CF/88, o que se descortina como absolutamente inaceitável e temerário é imputar-se a
alguém, responsabilidade infracional, sem comprovação de autoria da conduta.
A atitude valorativa do aplicador do direito não se contrapõe à ciência que se ocupa do estudo
dos signos: a semiologia.
Antes, no campo das significações, esta aberta, não somente ao aplicador, mas também ao
cientista do direito, uma vasta e fértil planície para as suas investigações.
A renúncia, ensina CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA , é "a abdicação que o titular faz do seu
direito, sem transferi-lo a quem quer que seja. É o abandono voluntário do direito".
Na medida em que o ilícito de transito implica efeito punitivo, tem-se um conflito entre o dever
de prestar informações, e o direito de não se auto-incriminar, constitucionalmente assegurado
aos acusados de práticas infracionais.
Como registra PINTO FERREIRA , o acusado tem o direito de não se auto-incriminar, pois o
direito que tem de não dizer a verdade é um direito, já reconhecido por MONTESQUIEU, à la
defense naturelle.
"O preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado..."
Para CELSO RIBEIRO BASTOS , cuida-se de explicitação, fiel à rica tradição constitucional de
proteção ao acusado, da garantia que se encontrava embutida no art. 153 da Constituição
anterior, e está implícita nos incisos LIV e LV do art. 5º da atual.
“O réu, sujeito da defesa, não tem obrigação nem dever de fornecer elementos de prova que o
prejudiquem. Pode calar-se ou até mentir". E ainda: "O retorno ao direito ao silêncio, em todo
seu vigor, sem atribuir-lhe nenhuma conseqüência desfavorável, é uma exigência não só de
justiça, mas sobretudo de liberdade. O único prejuízo que do silêncio pode advir ao réu é o de
não utilizar a faculdade de autodefesa que se lhe abre através do interrogatório. Mas quanto
ao uso desta faculdade, o único árbitro há de ser a sua consciência, cuja liberdade há de ser
garantida em um dos momentos mais dramáticos para a vida de um homem e mais delicado
para a tutela de sua dignidade".
De todo modo, se outra interpretação se pretender dar às disposições das leis ordinárias
pertinentes ao dever de prestar informações, de sorte a ver configurado o dever de informar
mesmo para aqueles que, já sofrem imputação infracional, expressando-se naquelas
informações uma forma de auto-incriminação, ter-se-á configurado o conflito entre normas.
Assim, a conclusão será sempre a de que o administrado não tem o dever de prestar
informações que possam servir como prova do cometimento de infração, que possa, de
alguma forma, ser utilizada para imoutar-lhe responsabilidade.
A não ser assim, ter-se-ia violado, também, o princípio da isonomia, posto que até aos autores
de quaisquer crimes, por mais hediondos que sejam seus cometimentos, sempre é assegurado
pela Constituição o direito ao silêncio, vale dizer, o direito de não se auto-incriminarem.
Somente depois que a Administração tiver certeza da ocorrência e do agente dela, é que se
justifica a imputação.
Não fora assim, também seria admissível que a ocorrência pudesse ser suposta pela falta de
informação do administrado.
Ora, a vigente Constituição Federal, além de garantir que ninguém será privado da liberdade
ou de seus bens, sem o devido processo legal (Art. 5º, inciso LIV) determina que "aos
litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes"( Art. 5º, inciso LV).
Como ensina ROGÉRIO LAURIA TUCCI e JOSÉ ROGÉRIO CRUZ E TUCCI , no devido processo
legal compreende-se o direito à elaboração regular e correta da lei e de sua razoabilidade, de
sua aplicação através do instrumento hábil, que é o processo, no qual deve ser garantida a
igualdade entre as partes.
Não se pode considerar razoável a lei que admita a imputação de autoria ao proprietário do
veículo que não possa indicar que estava dirigindo o veículo no momento da ocorrência.
Muito menos se diga que esta sendo a lei corretamente interpretada, quando existe ofensa aos
princípios constitucionais.
A ampla defesa, a seu turno, resta sacrificada com a ameaça do proprietários ser imputado se
não puder indicar quem foi o agente real da conduta proibida, antes mesmo de serem
examinadas, na esfera administrativa, as razões que tenha oferecido para demonstrar a
improcedência da imputação ou a sua incapacidade para demonstrar a autoria.
Há, na verdade, evidente antinomia entre a norma da Constituição e aquela, da lei ordinária,
que define como sujeito passivo da interdição do direito a conduzir veículo o proprietário
deste, quando não possa indicar quem foi o verdadeiro responsável pela conduta proibida.
Toda norma jurídica alberga valor, cuja presença permite que se estabeleça a coerência do
sistema jurídico. Na proteção de cada bem jurídico, de cada bem da vida, tem-se de evitar a
incongruência.
a) Não será razoável atribuir ao proprietário responsabilidade patrimonial por ato que não
cometeu, mas absolutamente autoritário que venha a sofrer interdição do seu direito de dirigir
o veículo, se não foi provado ser ele o autor da conduta infracional.
c) é direito fundamental do cidadão não ser compelido a auto incriminação e violar consciência
com acusação a terceiro para liberar-se da pressão de autoridade.
7.- A pretensão de punir o proprietário do veículo se este não apontar quem era o condutor no
momento da infração não poderá prevalecer frente aos dispositivos constitucionais do princípio
da legalidade, da dignidade humana, da proporcionalidade e da igualdade.
A tipicidade infracional não se limita apenas à adequação de um fato humano a uma norma
incriminadora, mas, isto sim, a adequação de um fato a uma norma inserida em um sistema
jurídico lógico e coerente com os valores e princípios constitucionais.
Na CF/88, a proclamação do Estado Democrático de Direito acaba por gerar limites à atividade
do próprio legislador, porque elegeu-se a dignidade da pessoa humana como fundamento da
razão de ser do próprio Estado (CF, art. 1.º, III).
Associar a exclusão de imputações a denúncias contra terceiro sem prova, sem conhecimento,
é uma atividade fácil, mas desprovida de qualquer moralidade, que constrange o ser humano,
à mercê de extravagâncias do legislador.
A Constituição Federal, embora não de forma direta, preconiza um outro princípio de suma
importância.
É o princípio nulla poena sine culpa (art. 5.º, XLV – a pena não deve passar da pessoa do
condenado, ou seja, do culpado –, e XLVI – no qual é reconhecido o princípio da
individualização da pena, ou seja, a sanção deverá sempre ser justa, proporcional à culpa do
agente).
Tal princípio, além de servir como uma necessária proteção do cidadão frente aos desmandos
do Estado, faz com que a pena, como censura pública que é, seja sempre interpretada de
forma restrita, ou seja, somente pode ser dirigida às condutas comprovada e que merecem
um efetivo juízo de desvalor ético e social.
Assim sendo, não se pode aceitar que a pessoa se libere da imputação simplesmente
acusando a terceiro, quando não teve conhecimento do fato e quando não pode provar a
conduta em suspeita.
O legislador deve levar em conta fatores relevantes para o bom desenvolvimento social, e não
meros caprichos ou fantasias de atendimento a interesses administrativos.
O simples fato, pois, de a conduta ter se dado no trânsito, em via na qual poderia existir
postado um agente público para fazer parar o veículos e identificar o condutor, já revela o
desvio de aplicação da norma legal, para o qual se quer, ainda, obter a cumplicidade do
proprietário do veículo pela facilidade de identifica-lo, induzindo-o a acusar a terceiro sem
prova e até mesmo sem conhecimento do fato.
Se a Constituição Federal assegura aos acusados o direito a uma defesa ampla, como
entender-se que isso seja ladeado com a utilização de evidentes desvios?
Se a Constituição Federal exige que a defesa seja ampla, pena de nulidade, tem-se que uma
defesa reduzida à necessidade de acusar sem conhecimento do fato e sem prova da autoria do
ato, é escamotear a garantia constitucional.
8.- Agrava-se o quadro de autoritarismo dominante nessa autuação, quando ela resulta de
registro eletrônico, sem que na suposta ocorrência estivesse presente uma autoridade de
trânsito.
Na verdade, de nada vale utilizar equipamento eletrônico, se este, ao fotografar o veículo não
oferece identificação do guiador na ocasião, providencia que seria de fácil e de indispensável
atendimento, nas circunstâncias.
Deve ser considerado, também, que a imputação de violação aos sinais de trânsito, não pode
prescindir de comprovação da existência, no local e no momento da suposta ocorrência,
desses SINAIS, de forma que permita fácil e adequada percepção deles, conforme emerge de
expressas disposições do Código de Transito Brasileiro:
Art. 80. Sempre que necessário, será colocada ao longo da via, sinalização prevista neste
Código e em legislação complementar, destinada a condutores e pedestres, vedada a utilização
de qualquer outra.
§ 1º. A sinalização será colocada em posição e condições que a tornem perfeitamente visível e
legível durante o dia e a noite, em distância compatível com a segurança do trânsito, conforme
normas e especificações do CONTRAN
Exatamente, por isto é que, se impõe compreender que o que a lei autoriza é o auxílio de
meios eletrônicos, ao agente que vai multar o infrator.
E isto importa em dizer que os equipamentos eletrônicos só podem ser usados como
instrumentos de trabalho pelos agentes, autoridades de trânsito, tal como deve acontecer com
radar, o bafômetro e as barreiras de pedágio.
Em todos esses mecanismos devem estar presentes a autoridade de trânsito para constatar o
que o mecanismo registrou e lavrar o auto de infração.
Ofende aos direitos constitucionais do cidadão, atenta contra a razoabilidade que deve imperar
na aplicação da lei, que instrumentos eletrônicos sejam transformados em substituto da
autoridade de trânsito, especialmente sem que o administrado seja convenientemente
informado sobre a tecnologia de sua operacionalidade e tenha como verificar a regularidade
desse funcionamento.
O Código do tráfego, no seu artigo 280, deixa claro que esses meios são auxiliares dos fiscais
de trânsito, assim como o computador é o auxiliar do julgador e de outros profissionais.
Sem sombra de dúvidas não existe na lei autorização no sentido de se colocar um
equipamento eletrônico nas ruas para produzir multas aos condutores de veículo.
E, não poderia ser diferente, pois se faz indispensável que o cidadão tenha oportunidade
imediata de examinar e questionar o funcionamento regular do instrumento eletrônico.
De fato, todo e qualquer equipamento eletrônico está sujeito às falhas operacionais, uma vez
que, sofrem interferência do sistema de fornecimento de energia elétrica, intempéries,
desgastes e falhas técnicas oriundas de sua própria instalação e fabricação.
Basta lembrar, um exemplo típico, ocorrido num só dia, o das eleições , não obstante a
elevada técnica, com as urnas eletrônicas.
Da mesma forma, até para mecanismos mais simples se tem, com freqüência, a perturbação
do trânsito com semáforos inexplicavelmente paralisados, e/ou sem a sincronia projetada em
sua instalação.
Ademais, o equipamento eletrônico utilizado para marcar as condutas referidas não detecta os
biciclos, utilitários, e veículos de grande porte, restringindo a sua serventia para o uso de
carros de passeio, pelo que a autuação feita sem a participação da autoridade de trânsito
institucionaliza a violação da garantia constitucional do princípio da isonomia.
Em suma, como a fiscalização eletrônica não abrange a totalidade dos veículos, o sistema
torna-se eivado de vício e, como tal, não pode prevalecer.
De resto, o sistema fotografa o veículo e o seu condutor, mas não consegue identificá-lo, e,
consequentemente, a notificação da multa vai para a pessoa em cujo nome o veículo esteja
cadastrado, não importando se o veículo foi alienado, emprestado ou até mesmo furtado.
Não existe interesse público a ser preservado quando a ação do agente público transborda os
limites da lei e até aqueles fixados pela Constituição.
O interesse público é coisa diferente do mero interesse fiscal, diz respeito ao coletivo, onde se
inclui, a polícia de trânsito fundada em resguardo aos direitos individuais.
Dessa forma, incide em equívoco e/ou desvio de finalidade a invocação dessa manifestação do
STF com o propósito de conferir legitimidade à aplicação de multas de trânsito por via direta
da barreira eletrônica.
Exatamente por percepção da ausência dessa legitimidade é que os tribunais tem proclamado:
Na interpretação da lei, impõe-se atender aos fins sociais e às exigências do bem comum (art.
4º, da LICC).
“Sem dúvida, assim como não pode o Juiz tomar liberdades inadmissíveis interpretando a lei,
tampouco pode permanecer surdo às exigências do real e da vida. O direito é essencialmente
uma coisa viva. É chamado a reger homens, isto é, seres que se movem, pensam, agem, se
modificam. A finalidade da lei não é imobilizar a vida, cristalizando-a, mas permanecer em
contato com ela, segui-la em sua evolução e a ela adaptar-se. Daí resulta que o direito tem
um papel social a cumprir, e o Juiz deve dele participar, interpretando as leis não somente
segundo seu texto e suas palavras, mas consoante as necessidades sociais que são chamadas
a reger e segundo as exigências da justiça e da eqüidade que constituem seu fim. Em outras
palavras, a interpretação não pode ser formal; precisa ser, antes de tudo, real, humana,
socialmente útil” .
• Prova de que houve prévia homologação do equipamento eletrônico com registro no INPI e,
OS TERMOS da aferição do INMETRO;
III – No mérito, estando demonstrada a absoluta inviabilidade jurídica dessa autuação, pede
seja reconhecido o direito da defendente , arquivando-se a notificação, como de JUSTIÇA.
RECURSO
I - DO VEÍCULO
II - DA AUTUAÇÃO
PRELIMINARMENTE
Há de se considerar que neste dia o requerente estava dirigindo o meu veículo em uma
situação de emergência e a velocidade permitia razoável margem de segurança.
Assim, a vista de que o requerente se encontrava naquele momento em situação
emergencial, e, os fotossensores instalados irregularmente no local, haja vista a falta de
sinalização e demais meios necessários de alerta ao condutor do veículo, em total
confronto à legislação específica, requer pela procedência deste recurso.
VENCIDAS AS PRELIMINARES,
NO MÉRITO
1. O sistema de fotografias ou "foto sensor" utilizado pelo DER é falho, pois registra um
único momento, qual seja aquele em que o veículo acoimado de "infrator" já ultrapassou
o sinal, ou a marca estabelecida na pista.
2. Seria necessário para fazer prova em juízo, pois, que se apresentasse, no mínimo, uma
seqüência de fotos, em que a primeira mostrasse o veículo na passagem da marca e, ato
contínuo, a outra ou outras, quando o seu carro já estivesse ultrapassado."(Acórdão da 3a
turma cível do TJ/MS, decisão unânime, f. 920 do IC n° 11/98).
3. O CREA/MS, ao tratar de assunto semelhante, foi bem claro em seu posicionamento,
não deixando dúvida a respeito da deficiência do equipamento neste aspecto. Eis como o
perito daquele Conselho se manifestou em sua conclusão:
"Conclusão: Uma foto nem sempre oferece subsídio absolutamente seguro para
materializar o cometimento de uma infração de trânsito."(Perícia realizada pelo
CREA/MS, f. 780 do IC n°11/98)
4. Nas condições em que as fotos são tiradas, só se poderia ter as infrações detectadas
pelos fotossensores como válidas se as elas fossem convalidadas por um agente da
autoridade de trânsito. Como colocar um guarda ao lado de cada "olho vivo" é
contraproducente, os fotomultas devem ser descredenciados como instrumento auxiliar
no controle do tráfego, por não serem confiáveis e por beneficiarem tão somente quem
quer manter a indústria das multas.
5. Como a coisa é feita, o DER não tem como provar que efetivamente um motorista
fotografado por um fotomulta tenha desrespeitado o sinal de trânsito, pelo que se conclui
– levando-se em conta os princípios da inocência, da ampla defesa e do contraditório –
que nenhum motorista deve ser punido nestas condições.
6. Punição assim é absurda, posto que obriga o administrado, para não ser tido como
infrator, a fazer comprovação negativa da não-transgressão das normas de trânsito. O
ônus da prova da violação da lei é do órgão acusador.
7. Várias razões comprovam e demonstram que o fotossensor não pode, com justiça e
eqüidade, substituir o agente de trânsito, porque não possui o tato, a experiência, a
percepção sensorial necessárias para perceber se houve ou não uma infração. Assim o
fotossensor acaba por classificar como infração um fato que, por motivos circunstanciais
de momento e contexto, não constitui-se em uma violação às leis de trânsito.
8. Para reforçar ainda mais a tese apresentada neste item, faz-se aqui menções a outras
situações, em que o fotomulta tem como irregular um comportamento completamente
autorizado pela Lei de Trânsito.
9. Somente para ilustrar esta defesa, tem-se, assim, aquela situação de se exigir que o
motorista que pára sobre a faixa de pedestre, por lhe Ter surgido o sinal amarelo ou
vermelho, dela se retire, dando marcha à ré, em oito segundos, para não ser flagrado,
como infrator, pelo "olho-vivo". Esse comportamento, por evidente, não tem critério
legal, posto que em nenhum momento o Código Brasileiro de Trânsito impõe essa
obrigação ao motorista, muito menos assinala que essa obrigação deve ser feita no exíguo
tempo de 8 segundos. A obrigação criada fere princípio constitucional de que ninguém
pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
10. Esquecem-se que as pessoas não podem se defender de acusações dúbias, que não
esclarecem o motivo de estarem sendo penalizados, nem podem elas se lembrar de fatos
que sequer tomaram ciência se aconteceram ou não, no caso presente, entretanto, o
requerente tem a certeza de que estava em uma situação emergencial.
11. É para facilitar o direito de defesa do cidadão que o inciso I do artigo 280 da Lei n°
9.503/97 estabelece:
"Art. 280- Ocorrendo infração prevista na legislação de trânsito, lavrar-se-
á auto de infração, do qual constará:
I - tipificação da infração;"
12. Claro está que, da forma dúbia como a notificação tipifica a infração, a lei está sendo
desrespeitada. Se o DER não cumpre a lei, como pode exigir isso do cidadão?
13. Outro ponto a ser lembrado nesse tópico é a habilitação do equipamento. Sem o
aferimento e a certificação - condições sine qua non para instalação, funcionamento,
legalidade, transparência e idoneidade do "olho-vivo" - não há como ter certeza de que o
aparelho funciona dentro de padrões aceitáveis. Assim, todas as vezes que se pune um
motorista com base nas acusações feitas pelo fotossensor, corre-se o risco de se estar
punindo um inocente. Todos os brocardos positivados que refletem esse princípio (in
dubio pro reo e in dubio pro mísero no âmbito penal e trabalhista) demonstram que, ao
longo dos anos de evolução do Direito Positivo, sabiamente se aprendeu a aceitar
pacificamente que é preferível deixar de punir dez culpados a punir um inocente.
14. O fotossensor não possui sinal algum que indique que foi cometida uma infração. A
colocação de tais indicativos não é só um dever do órgão de trânsito, mas um direito do
cidadão para saber se cometeu ou não a infração que lhe é imputada. Além do mais, tais
indicadores visariam, não a multa em si, mas a educação e prevenção no trânsito, que são
os objetivos maiores previstos nas normas de trânsito.
15. Em verdade, a multa gerada pelo fotomulta não oferece a segurança que dela se
espera. Não consegue a empresa Fotosensores nem o DER comprovarem que o motorista
flagrado pelo "olho-vivo" efetivamente desobedeceu o sinal de trânsito. Como bem
dispôs a perícia do CREA/MS e as decisões do TJ/MS, uma única foto não é o suficiente
para se ter um motorista como infrator. Nesse caso, é melhor deixar impune vários
culpados do que punir um inocente.
Da falta de placas de advertência dando conta da existência de fiscalização elétrica-
eletrônica e fotográfica:
16. Os motoristas e proprietários de veículos do Brasil todo, estão sendo
17. multados pelo DER, através de fotossensores, instalados de forma camuflada, sem
qualquer ostensividade, com o fito exclusivo de arrecadação de numerários, quando a
norma em vigor é expressa em exigir a colocação de sinalização vertical ao longo da via
fiscalizada, para manter o usuário permanentemente informado da existência do
equipamento eletrônico, posto que o objetivo primeiro da fiscalização de trânsito, como
já dito, é a educação e prevenção de acidentes e não a repressão e arrecadação.
18. A norma existente sobre o assunto é tão exigente que chega até detalhar as dimensões
das placas informativas e onde deverão ser colocadas. E essa obrigatoriedade, diga-se de
passagem, não é válida apenas para os equipamentos fixos, mas também para os móveis,
como o são os usados pela Polícia Rodoviária Federal nas rodovias.
19. Eis a redação da Resolução nº 008/98 que estabelece a obrigatoriedade de sinalização
indicativa de fiscalização mecânica, elétrica, eletrônica ou fotográfica dos veículos em
circulação:
"O Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, usando da competência que lhe confere
o art. 12 da Lei 9.503, de 23 de setembro de 1997, que instituiu o Código de Trânsito
Brasileiro - CTB, e conforme Decreto nº 2.327, de 23 de setembro de 1997, que dispõe
sobre a coordenação do Sistema Nacional de Trânsito;
Considerando o que dispõe o Código de Trânsito Brasileiro;
Considerando o caráter educativo da fiscalização de trânsito;
Considerando a necessidade de estabelecer uma fiscalização ostensiva e preventiva que
evite os acidentes de trânsito;
R E S O L V E:
Art. 1º. Toda fiscalização de trânsito por meio mecânico, elétrico, eletrônico ou
fotográfico, deverá ser indicada, pelo menos, por sinalização vertical conforme modelo
constante no anexo I da presente Resolução.
Art. 2º. A sinalização deverá ser colocada ao longo da via fiscalizada, observada a
engenharia de tráfego, respeitando espaçamentos mínimos que mantenham o usuário
permanentemente informado.
Parágrafo Único. Quando a fiscalização for realizada com equipamento tipo
portátil, operado por agente de fiscalização, a sinalização poderá ser do
tipo removível.
Art. 3º. Esta Resolução entra em vigor trinta dias após a data de sua
publicação, mantidas as Resoluções 795/95, 801/95 e 820/96 e revogadas as disposições
em contrário."
"ANEXO I DA RESOLUÇÃO N.º 008/98
Placas Informativas:
Fundo: Azul
Orla Interna: Branca
Orla Externa: Azul
Legendas: Branca
I - aparelhos sem agente operador no local:
Dimensões:
Largura: 1,90m
Altura: 0,90m
II) sinalização removível:
Dimensões:
Largura: 1,00m
Altura: 0,50m".
Essa Resolução é datada de 23 de janeiro de 1998, publicada em 22 de fevereiro de 1998.
ass