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O proprietário

Autor: Roberto Espina


Tradução: Lucas Ribeiro e Ana Clara Reuter

Personagens: A e B. (A está parado, entra na cena feliz e desfruta dos encantos do lugar.
Chega B e, surpreendido ao encontrar A, o observa, o cheira, o toca e finalmente o adverte)

B: Você, o que faz parado neste lugar?


A:(Feliz) E…estou parado
B: Você não pode ficar parado neste lugar.
A :(Feliz e confuso) Por que?
B: Porque eu sou o dono deste lugar
A: Então vou me sentar (A se senta, B o observa)
B: Também não pode estar sentado
A: Então vou me deitar
B: Também não pode se deitar
A: Então vou caminhar
B: Também não pode caminhar
A: Então vou correr
B Também não pode correr. você não pode ficar neste lugar. Eu sou o dono daqui.
A: Então vou pra outro lugar
B: Nesse lugar você também não pode estar
A: E neste?
B: Também não
A: E neste?
B: Também não! Você não pode estar em nenhum lugar. Todos os lugares são meus.
A: Então devo ir embora?
B: Se tiver que ir…
A: Então…adeus!
B: Adeus, senhor.
A: Adeus…
B: E…? O que você está esperando? Vai ou não vai?
A: Ah! É que eu gosto tanto deste lugar.
B: Mas você vai ter que ir embora
A: Tenho que ir…que pena! Este seu lugar é tão bonito.
B: Você acha bonito?
A: Sim. Você está de parabéns! É um lindo lugar!
B: Mas você vai tem que ir embora.
A: Tenho que ir
B: E o que você está esperando pra ir?
A: E se eu não for…o que você faria?
B: Eu te mataria!
A: Ah! Me mataria!
B: Sim… e com um punhal
A: E onde você vai me acertar?
B: Na região abdominal
A: Aí que lindo! Eu gostaria muito de morrer nesse lugar…
B: Vou buscar o punhal! (Sai)
A: Eu amo este lugar!
B: (volta com o punhal) Aqui está o punhal!
A: Você vai me acertar?
B: Vou te acertar
A: Aí!!
B: Te matei!
A: Me matou! Estou completamente morto.
B: (Deixa o punhal, levanta A, tenta carregá-lo)
A: O que você está fazendo? Pra onde você está me levando?
B: Para o cemitério!
A: Por que ao cemitério?
B: Para te colocar numa cova!
A: Não, eu quero ficar neste lugar.
B: Não senhor, eu vou levá-lo.
A: Então eu não morro!
B: Você está, tem que estar morto.
A: Não e não! Não morro. Eu quero ficar neste lugar!
B: Não, eu vou levá-lo. (eles lutam até que A consegue escapar e começa a chorar em um
canto). Não chore que eu não suporto as lágrimas.
A: Desalmado!...Homem sem sentimentos!...Cruel…Desumano!...Sem
piedade!...Profanador!... (chora).
B: (Ao escutar A, se comove e explode em lágrimas. Choram os dois em coro). Me comoveu.
Você tem razão! Fui muito injusto com você. Me dá um abraço!
A: (Recusa perdoá-lo, mas B insiste e A cede. Se abraçam)
B: Não guarde rancor de mim. Me perdoe, reconheço que fui cruel.. Quero me desculpar. Te
dou esse lugar.
A: Você me dá? (surpreso)
B: Sim, é todo seu.
A: E posso parar em qualquer lado?
B: Pode parar onde quiser
A: (Vai parando em diversos lugares) Aqui?
B: Sim!
A: E aqui?
B: Sim!
A: E aqui?
B: Também! Vou buscar papel e caneta para assinar a escritura!
A: Ai, que não me aguento de tanta felicidade.
Ai, que não me aguento de tanta alegria
Ai, sou proprietário de uma propriedade!
B: (Sai para buscar o papel e a caneta)
A: Sou feliz! Sou de verdade! Sou dono de propriedade! (Canta e dança a canção do
proprietário)
B: (Volta com as escrituras) Tome, este é o título de propriedade.
A: (Pega em silêncio as escrituras e começa a ler. B o observa e logo para em um canto. Se
aproxima de B em silêncio e diz para ele)
B: E…estou parado
A: Você não pode ficar parado neste lugar.
B: Por que?
A: Porque esse lugar é meu.
B: Então vou me sentar (B se senta, A o observa)
A: Também não pode estar sentado
B: Então vou me deitar
A: Também não pode se deitar
B: Então vou caminhar
A: Também não pode caminhar
B: Então vou correr
A: Também não pode correr. você não pode ficar neste lugar. Eu sou o dono daqui.

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