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106 A (Physies in the preparati Fernanda Ostermann, Marco Autonio Morci Revista Brasileita de Ensino de Fisien vol. M no. 2, 1992 ~ Pesquisa em Ensino de Fisica Fisica na Formagao de Professores para as Séries Iniciais . of elementary school teachers) nando Lang da Silveir ac Instituto de Fisica, Unicersidude Federal do Rio Grande do Sul, Cuisa Postal 15051 Recebido para publicagio em 15 de Jancito de 1992; Accito para publicaga ipus do Vae, 91501-970 Porte Alegre, RS, Brasil 28 de Fevereito de Resumo E feita a descrigio de um estudo sobre o papel da Fisica no curriculo de um curso de formagio de professores para as si escola padrio. O estudo envolveu tanto como a testagem de uma nova estr enfoque, aproximando-o do en Abst ‘This paper describes a one an elementary school teacher prepat involved both an analysis of the previous approach to th uctional stra -s closer to th and the testing of a new ins! bringing the teaching of Phy 1. Introdugiio ¢ trabalho é um relato de um estudo sobre 0 papel da Fisica na formagio de professores 1 iniciais, feito através de um estudo de caso. Do ponto de vista do ensino da Fisica, a importancia deste tema reside no fato de que nessas séries que 9 alunos tomam contato, pela primcita vez, com ce tos conceitos fisicos em uma situagio de ensino formal. Muito da aprendizagem subseqiiente em Fisica depende desse contato inicial, ‘Todavia, hii uma justificativa mais abrangente ¢ talvez mais importante para 0 ¢s- tudo feito: € no primeiro grau que se encontra a grande maioria da populagio estudantil brasileira. No Bra- , apenas 10% dos que iniciaram o primeiro grau tém. facesso a0 gtau seguinte (Warde, 1987). Cabe, entio, examinar, entre outras coisas, a formagio de professo- res para atuar nas quatro primeiras séries do 19 grau. “Traballio parcialmente financiado pelo CNPq ¢ pela FINEP. Apresentado no IX Simpiaio Nacional de Ensino de Fisica, SSo ‘Caclos, 21 a 25 de janeiro de 1991; na IV Couferéncia Interameri- ‘cana sobre Educagio em Fisica, Caracas, 14 a 20 de julbo de 1991 ‘¢ no VI Encontro Nacional de’ Diddtica e Pritica de Ensino e 1 Encontro dos Paises do Cone Sul sobre Formagio do Educador, Posto Alegre, 2 a 6 de dezembro de 1991. es inieiais, realizado durante um ano ¢ meio cm wi ma anilise do enfoque dado i diseiplina até et ja instrucional que reformulou completamente esse 10 de Cicncias nas séries iniciais. ul a half year study on the role of Physies i jon course, carried out in a model school. ‘The study t the curriculum of teaching of Physics in this school y which completely changed that approach, teaching of Science in elementary seliool. “Tal formagao esta inti do ensino nessas séries. jamente relacionada & qualidade De um modo geral, a pesquisa em ensino de Ciencias teu confirmado a importancia do conecimento sobre a aprendizagem subseqiiente (Ausubel, 1980). Em particular, nos iiltimos anos foram feitas imui- tas pesquisas sobre as idéias das eriangas acerca dos fendmenos naturais (c.g., Viennot 1979; Erickson 1980; Seré 1982; Driver, 1986). Em decorréncia dessas pes- quisas, sabe-se hoje que as eriancas desenvolvem idéias crengas sobre o mundo bem antes de screm formal- mente ensinadas na escola. Sabe-se também que ¢s- tas idéias e erengas diferem, muitas vezes, do conhe- cimento cientifico aceito (Driver, 1986). Atualmente, para esses significados que os alunos trazem para a sala de aula, © que estdo em desacordo com os significados cientificos, usa-se termos como concepsdes contextual- mente erroneas (Moreira, 1990). Como é nas séries iniciais que 0 aluno, pela pri- meira ver, defronta-se com 0s significados cientificos de determinados conceitos fisicos ¢ os confronta com seus proprios significados, é da maior importincia que 0 en- sino de conccitos fisicos nas séries iniciais seja modo a nig reforgar os significados nic aceitos cienti- Fernanda Ostermann et al. ficamente, a evitar a aquisigio de significados erréneos a facilitar a mudanga conceitual (Ostermann ¢ Mo- reira, 1990). Para que o ensino de conccitos fisicos nas séties iniciais atinja tais objetivos, a formagio dada em Fisica aos futuros professores tem um grande papel a desempenhar. estudo agio Ma- gistério da cscola “Instituto de Educagio General Flo- res da Cunha - Escola Piblica de 19 ¢ 2° Graus de Porto Alegre” (IE), a qual con escola-caso. IL, Deser' do Estudo Durante um ano, vivenciamos ensino de Fisica praticado na escola-caso (2° scmestre de 1989 ¢ 1° semestre de 1990). Essa vivéncia nos mostrou que 0 ino de Fisica na Escola nao era 0 adequado para a habilitaglio Magistério, pois estava completamente dissociado do ensino de Ciéncias feito nas séries inici- ais. Devido a essa inadequagio detectada, procuramos subsidios para uma mudanga. Assiin, uma etapa importante desse estudo, além de uma revisio bibliografica, foi a realizagio de eutrevis- tas com docentes das séries iniciais da prépria Escola (49 semestre de 1990). Procuramos investigar quais os conccitos fisicos introduzidos nessas séries, as dificul- dades enfrentadas pelas professoras com esses todologia empregada nas aulas de Cié a formagao recebida cm Fisica quando cursaram o 2° grau Magistério. Os resultados dessas entrevistas podem ser assim resumidos: (Ostermann e Morcira, 1990) + 08 conccitos fisicos mencionados mais fre mente como importantes no ensino de Ciencias foram: peso, massa, forga, energia, pressio, calor © temperatura; « mudanga de estados fisicos e estagdes do ano si0 assuntos muito abordados; * 0 método cientifico é trabalhado na 42 série, com uma visio predominantemente positivista; «as professoras apresentam, na sua maioria, con- cepgées contextualmente erréneas quando abor- dam esses conccitos fisices, as mudancas de esta- dos fisicos e as estagies do ano; «5 professoras relataram que o estudo de Ciéncias, ‘em geral, e de Fisica, em particular, na sua formagio, no foi marcante, devido A énfase na al fabetizagio, © a Fisica estudada foi muito tedrica © pouco pritica. Esses resultados nos apontaram na diresiio de re- formular 0 ensino de Fisica até ento praticado pela 107 Escola. Com isso, durante © 2° semestre de 1990, de- senvolveinos junto a uma turma de 31 alunas do 2° ano uma nova estrat nal, na qual busea- mos colocar a Fisica mais préxima do ensino de concei- tos fisicos nas séries iniciais da Escola. Os conceitos fisicas trabalhados na nova estratégin instrucional foram selecionados das entrevistas rea das com docentes: peso © massa, forga e pressio, i adios em trés “Fora e Movimento”, “Pressio” ¢ “Calor ¢ Temperatura”. Cada unidade iniciou com aplicagio de um pré-teste para detectar concepsdes iniciais das alunas. A busca de evidéncias sobre se houve ou nio mudanga conceitual foi feita a0 final de cada unidade através de um pés-teste (em uma forma equivalente a0 pré). Ao final das trés unidades foi aplicado um teste (igual aos pré-testes).. A nova estratégia instrucional utitizada nas trés uni- dades teve as seguintes caracteristicas: # abordava conccitos fisicos relevantes para as Ciéncias das sérics iniciais do 1E; # cra qualitativa © com énfase conceitual; * Linlia como ponto de partida as concepgdes que as alunas traziam para a sala de aula (detectadas através de pré-testes bascados em resultados de pesquisa em cnsino de Fisiea); ‘© promovia a conscientizagio/verbalizagio dessas concepgées por parte das alunas; « aliava experimentagio & argumentagio tedriea do professor, sempre que posstvel com discussées par- ticipativas das alunas a fim de criar contradicées ¢ insatisfagdes com as concepgoes existentes; utifiea nificativa * promovia a formulagio da concepsio quando esta parceia potencialmente para as alunas. Os dados cuja anilise e interpretagio conduairam 0s resultados obtidos com a nova estratégia nal foram obtidos através dos seguintes instrumentos: 1. um questionirio de atitudes com 24 afirmativas frente as quais as alunas deveriam se posicionar em relagio ao 1? semestre (ensino praticado na es- cola até entéo) ¢ ao 2° semestre (nova estratégia instrucional) do curso, separadamente; ao final, havia uma questo discursiva que novamente pe- dia a opiniio das alunas a respeito dos dois se- nestres (a identificagio das alunas era opcional); entrevistas realizadas pela _professora-pesqui- sadora com 9 (este ntimero foi considerado su- ficiente para fins de pesquisa ¢ as alunas foram selecionadas aleatoriamente) alunas a fim de rela- tarem scu posicionamento em relagio & mudanga. 108 Revista Brasileira de Ensino de Fisica vol. 14 no. 2, 1992 - Pesquisa em Ensino de Fisica de metodologia ocorrida no 2° semestre, o que aprenderam de tudo, o que vivenciaram ao longo do ano no curso de Fisica e como utilizarao tal aprendizagem na sua futura atuagdo docente nas séries iniciais; todas as entrevistas foram gravadas em fita cassete e tiveram uma duragio entre 10 ¢ 40 minutos; 3. como complementagio a estes registros (atitudes, entrevistas, opinides), foi também feita uma com- paragiio quantitativa entre os escores do pré-teste e do teste de retengdo em cada uma das trés uni- dades abordadas, no 2° semestre de 1990, com a nova estratégia instrucional. III. Resultados Das entrevistas com alunas, selecionamos e reprodu- zimos, literalmente, algumas passagens ilustrativas de sua opiniao: - “No 2° semestre eu participei do meu aprendi- zado enquanto que no 1° foi muito menos ativo. Os alunos tém idéias, muitas vezes erradas, desde pequenos e quanto menor mais facil de elaborar a idéia cientifica. As idéias dos alunos nio podem ser esquecidas; devemos mostrar porque estao er- radas, ndo dé para dizer: esquegam estas idéias.” (V.R., 16 anos). — “No 22 semestre, a gente participou formando junto ‘os conceitos. Com as aulas praticas nés viamos 0 que estdvamos fazendo e todas as alunas se com- prometeram com o trabalho. Estas experiéncias que fizemos no 22 semestre podem ser feitas com as criangas se adaptadas & idade delas para cons- truir dentro delas o conhecimento da Fisica certo. Do mesmo jeito que nés pensdvamos errado, a crianga também pensa e nés devemos tentar mu- dar isso dentro da crianga.” (C.A., 16 anos) — “Desde 0 inicio nosso ensino é baseado na decoreba; por isso, uma mudanga como esta é dristica” Eu aprendi em Fisica coisas que eu nunca pen- sei que pudessem ser diferentes do que eu pen- sava, Entio, agora que eu tenho idéias certas eu vou procurar passar para meus alunos o que eu aprendi de bom.” (A.R., 15 anos) - “No 22 semestre, as aulas melhoraram bastante porque tinham as experiéncias, e as discussées sobre as nossas idéias trazidas para a aula eram importantes.” (S.E., 15 anos) ~ “Séa partir de nossas prdprias idéias é que podemos aprender e reconhecer nossas limitagdes frente & posico trazida pelo professor. O que nés fizemos nas aulas (22 semestre), explorando as idéias até chegar nas idéias certas, é 0 melhor caminho para se aprender.” (R.O., 16 anos) Assim, percebe-se pelas entrevistas 0 quanto a mu- danga ocorrida no 22 semestre parece ter sido posi- tiva para as alunas, tanto por facilitar a aprendizagem quanto por contribuir para a formagio pedagégica das futuras professoras. Em relagio ao questiondrio de atitudes respondido pelas alunas, este foi elaborado tendo-se como base uma “escala de atitudes em relagio & Fisica” ja construida (Silveira, 1979; Moura e Moreira, 1990). As alunas se posicionaram frente is 24 afirmagées apresentadas sobre o 1° eo 2° semestres utilizando a seguinte escala: CF = concordo fortemente concordo indeciso Na Tabela 1 apresentamos as 24 afirmagées e os per- centuais das respostas dadas. Calculando 0 escore atribuido ao 12 e ao 22 semes- tres por cada aluna e fazendo a média dos escores, obti- vemos pata 31 alunas, um escore médio de 71,2 para a atitude cm relagio ao 1° semestre ¢ 101,6 relativamente ao 2% semestre. O escore maximo possivel era de 120 pontos. Estas médias sugerem uma atitude mais favordvel das alunas em relagio ao 2% semestre. Contudo, cabe registrar que o escore total de 71,2 para o 12 semestre sugere uma atitude positiva em relacio a este. Prova- velmente, tal resultado se deve ao fato de que a pro- fessora teve um bom desempenho tanto no 12 quanto no 22 semestre, apesar do tipo de ensino usado no 12 semestre. Da questo discursiva respondida pelas alunas, se- lecionamos algumas passagens que refletem efeitos po- sitivos da nova estratégia instrucional. A transcrigao é literal; cada ponto corresponde a outra aluna. © “No 22 semestre, foi super proveitoso, porque foi através das experiéncias que chegamos as conclusées mais significativas. No 22 semestre, © método de avaliag&o foi baseado nas nossas proprias experiéncias. A aula foi muito mais par- ticipativa do que no 12 semestre.” * “O 1° semestre foi bem mais dificil que 0 22. No 22, com muitas experiéncias praticas, eu acho que foi bem melhor, sinceramente, eu ia para as aulas pensando qual a experiéncia que teria no dia.” © “O relacionamento entre professor e aluno foi muito bom, havia uma abertura para os alunos darem suas opinides.” Fernanda Ostermann et al. Tabela 1 de atitudes (19 semestre/2° semestre - Percentuais) oF T DF Mirmagées Ts] Mls] Pa] a] Ms] se] Ws | sy Ws T. A Fisica me ajudou a enfrentar os proble- | 0% | 32% | 32% | Gi% | 7% | 1% | 58% | 3% | 3% | 0% mas do dia-a-dia. As aulas de Fisica no me serdo teis | 4% | 6% | 19% | 3% | 3% | 3% | 325% | 18% | 48% | 70% no futuro. 3. Fizemos coisas tite= ressantes nas aulas | 3% | 70% | 42% | 305% | 3% | 0% | 30% | 0% | 11% | 0% de Fisica, TAs aulas de Fisica foram chatas. 3% | 0% | 45% | 3% | 0% | 0% | 35% | 50% | o% | 47% 3. As aulas de Fisica foram interessantes. | 13% | 68% | 20% | 312% | 0% | 0% | 52% | 0% | o% | 0% GAs aulas de Fisica me prendiam a aten- | 0% | 38% | 45% | 56% | 3% | 3% | 45%| 9% | 7% | 0% 7. As aulas de Fisica me deixaram inquie- | 4% | 0% | 32% | 0% | 0% | 0% | 45% | 1% | 19% | 30% tae desconfortivel. 8. Quando ouvia a pa- lavra Fisica eu sen- | 4% | 0% | 32% | 10% | 2% | 0% | 32% | 42% | 20% | 48% tin um desgosto. 9. Quando fiz _provas de Fisica me sentia | 16% | 20% | 19% | 55% | 3% | 0% | 52% | 16% | 10% | 39% trangiiila ¢ confiante, 10. Aprender Fisica me trouxe satisfagio. | 139% | 20% | 35% | 53% | 10% | 10% | 20% | 0% | 139% | 396 TI. A Fisica me pareceu neceasiria ¢ itil. 20% | 62% | 45% | 32% | 0% | 0% | 10% | 6% | 10% | 0% 12, Fiquei nervosa sen pre que fazia uma | 13% | 9% | 45% | 20% | 3% | 0% | 26% | 30% | 13% | 239%, prova de Fisica. 13. As aulas de Fisica foram muito compli- | 16% | 3% | 52% | 10% | 0% | 0% | 32% | 58% | 0% | 20% cadas. Ti, As discusses fettas nas aulas de Fisica | 3% | 0% | 20% | 3% | 3% | 0% | 45% | 32% | 20% | 65% foram pouco prove’ tosas. 109 Revista Brasileira de Ensino de Fisica vol. 14 no. 2, 1992 ~ Pesquisa em Ensino de Fisica Afirmagies Pap Pal is] Mss] s/s | Wel sy rs 15. Vi poueas aplica- des priticas no que | 13% | 0% | 58% | 3% | 0% | 0% | 13% | 45% | 16% | 52% se ensinou de Fisi 7 Quando estuder Fr sica me senti esti- | 6% | 23% | 30% | 55% | 6% | 6% | 45% | 19% | 13% | 3% mulada a aprender. sont fi em aprender Fisica. | 3% | 10% | 10% | 42% | 3% | 0% | 47% | 29% | 289% | 10% TS. As aulas de Fisica me aborreciam. 7% | 0% | 12% | 3% | 0% | 0% | 35% | 52% | 16% | 45% fF aprovada foi o finico objetivo que | 11% | 3% | 41%] 16% | 0% | 0% | 20% | 52% | 19% | 20% tive em Fisica, 20. As experiencias aj daram a entender a | 23% | 90% | 52%] 6% | 0% | 0% | 20% | 4% | 5% | 0% matéria de Fisica 21. Estudet a Fisica ape= nas porque fui obri- | 10% | 3% | 29% | 10% | 0% | 0% | 48% | 48% | 19% | 39% gada, 2 As aulas de Fisica foram de ficil com- | 0% | 15% | 19% | 32% | 0% | 0% | 61% | 23% | 20% | 0% Preensio. 3. Usualmente me sen= tin bem nas aulas | 3% | 42% | 58% | 58% | 0% | 0% | 30% | 0% | 0% | 0% de Fisica. TAs aulas de Fisica foram nuito teéricas. | 20% | 0% | 30% | 6% | 0% | 0% | 32% | 45% | 0% | 49% Tabela 2 Resultados da anilise de varianeia Partigno da Variancia Total Eieito Teste | Média do Coeficiente de} F ‘Tratamento | Fidedignidade Forse [pre | 33 Movimento [Tret.[_11t 1% 90% 198, 8° Pressio[_pré | 8.0 ret. | 10,8 82% 80% 382,2" Calore [prs 8.0 ‘Temperatura [ret [10.0 52% O% 64,6" Torsae | pre | 175 Movimento + Pressio + [ret] 382 82% 91% Calor © ‘Temperatura sp < 0,001 Fernanda Ostermann et al. « “No 2 semestre, as aulas no labératério foram Stimas, faziamos experiéncias debatendo 0 que viamos. Nestas aulas, mudei o meu modo de pen- sat. Gostei dos pré-testes e pés-testes.” © “No 2 scmestre aprendi ¢ gostei bem mais das aulas, pois eram praticas e bem dentro da. nossa realidade, prenderam bem mais a mink atengio.” ‘* “No 2 semestre do curso de Fisica, nos foram eselarecidas as dificuldades que iremos enfrentar e ametodologia que deveremos usar quando dermos aula.” « “No 1° semestre senti que o curso de Fisica es- tava distante de mim, nio me dizia respeito. No 22 semestre a Fisica ja era uma coisa que me en- volvia, que dava vontade de aprender, ¢ tudo 0 que aprendi no 2° semestre eu ainda sei. Nao por ter decorado, mas por ter realmente aprendido.” # "Senti grandes mudangas na metodologia empre- gada, principalmente, facilidade dos contetidos, Lipo de avaliagao e desempentio do professor. Mas ainda bem que estas mudangas foram para me- Ihor, assim melhorei meu rendimento © compre- ensio da matéria.” # “As aulas de Fisica no 2° semestre foram interes- santes e desafiadoras, ao contririo, das aulas no 19 semestre, que eram chatas. Ficou legal apren- der Fi # “Quanto & metodologia, no 19 semestre eu achei a aula sempre a mesma coisa. Mas no 2° semes- tre foi bem melhor, bem mais interessante, fiquei super estimulada a aprender. Foi uma pena que as aulas nao foram assiin desde 0 inicio do Gostei da avalingao do 2° semestre, pois mostra se houve ou nao aprendizagem; no 19 era aquele tipo normal de avaliagio. Autes de ter Fisica, todos falavam que era super dificil, mas eu vi que nio cra nada disso e, sim, bem ao contritio. Fisica uma matéria super gostosa de aprender. Finalmente, para os dados do pré-teste e do teste de retengio (que foram testes exatamente iguais) fizemos a “andlise da variincia para medidas repetidas (antes- depois) nos mesmos individues”. (Winer, 1971) s resultados para cada unidade esto organizados na Tabela 2. Vernos, portanto, a partir desses resulta- dos que a diferenga entre pré-teste ¢ teste de retengio é estatisticamente significativa para p < 0,001 ¢ que isso se deve, fundamentalmente, ao tratamento nas trés uunidades. Assim, tanto a andlise deseritiva das opinides € das transcrigdes das entrevistas como a anilise de variiincia dos escores do teste aplicado antes ¢ depois da instrugio sugerem que a nova estratégia instrucional ut teve um efeito positivo sobre o grupo de alunas tanto em termos de atitude como de aprendizagem do conteiido. Apesar de que o presente estudo é basicamente qua- litativo, 0 fato de termos dado um enfoque interpreta- tivo (qualitative) aos dados obtidos através de entre- vistas e opinides ¢ um enfoque quantitative aos dados obtidos através do pré-teste e do teste de retengao su gere uma triangulagio metodoligica. Segundo Fires- tone (1987, apud Moreira, 1990), “quando enfocam a mestna questao, abordagens qualitativas © quantitati- vas podem triangular ~ isto é, usar diferentes métodos para avaliar a robustez ou estabilidade dos resultados, Quando estudos usando diferentes métodos tém resulta- «dos similares, pode-se ter mais certeza que os resultados no sio influenciados pela metodologia”. Este parece ter sido 0 caso no presente estudo, emborao tratamento quantitativo tena tido um carater apenas complemen- tar. IV. Conelusio Os dados obtides neste estudo nos sugerem que a Fisica é indispensiivel no 2° grau Magistério, mas deve ser ensinada com um enfoque distinto daquele usual- mente dado ao 29 grau tradicional (com programa de preparagio para traballio). Ao invés de ser preparatério para estudos posteriores, 0 2° grau Magistério & um curso de formagio profissional. Nada mais natural, eutio, que a Fisica seja ensinada com outro enfoque. Este enfoque deve ser basicamente conceitual ¢ qua- litativo, com muita experimentagio, concentrando-se naqueles conceitos fisicos que serio abordados no en- sino de Ciéncias nas séries iniciais. A preocupagio deve ser com a qualidade do contetido ensinado € nio com a quantidade de matéria a ser dada. A metodologia tambéin deve ser consistente com aquela a ser empre- gada no ensino de Ciéneias. As aulas no devem ser tedricas, de giz © quadro-negro. Nio ¢ assim que as futuras professoras devem dar aulas nas séries ini Em termos de conteiidos de Fisica, cremos que além dos conceitos fisicos relevantes para o ensino de Ciéncias deve-se incluir alguns tépicos de As ‘tronomia como: estagées do ano, planctas, fases da lua, Por ser um assunto freqiientemente abordado nessas séries. De alguma maneira deve-se também abordar no curso de Fisica do 2° grau Magistério algumas posigdes mais atuais sobre filosofia da ciéncia a fim de questionar a posigo positivista que, de um modo geral, permeia o censino da ciéncia no 19 ¢ 2 grau; o método cientifico como uma seqiiéncia rigida de passos que indutivamente leva a uma descoberta cientifica. Dibliografia AUSUBEL, D.P., NOVAK, J.D., HANESIAN, Il.-Psi- cologia educacional. 2. ed. Rio de Janeito: Inte- ramericana, 1980. 2 Revista Brasileira de Ensino de Fisica vol. 1 no. 2, 1992 ~ Pesquisa em Ensino de Fisica ANT, R, MOREA, M.A, SILVEIRA, P.L. da. Experimentagio seletiva ¢ indissociada de teori como estratégia para facilitar a reformulagao con- ceitual em Fisica. Revista de Ensino de Fisica, Sio Paulo, v. 12, p. 139-158, dez. 1990. DRIVER, R., OLDIAM, V. A constructivist appro- ach to curriculum development in science. Stu- dies in Science Education, Driffield, v. 13, p. 105- 122, 1986. ERICKSON, G.L. Children’s viewpoints of heat: a second look. Science Education, New York, v. G4, n. 3, p. 323-336, July 1980. MOREIRA, M.A. Pesquisa em ensino: aspectos me- todoldgicas e referenciais tesricos i luz do Vé epis- temoldgico de Gowit Paulo: EPU, 1990. MOURA, J.F validag C. de, MOREIRA, M.A. Construgio ¢ de escalas de atitude em relagio A es- na de Ciéncias ¢ & Fisica, Ciéneia ¢ Cultura, Sao Paulo, v. 42, 275-276, jul. 1990. v. 1, Suplemento. OSTERMANN, F., MOREIRA, M.A. O ensino ana formagio de professores de 19 a 4° série do 1 geau: enteevistas com docentes. Caderno Catarinense de Ensino de Fisica, Floriandpolis, ¥. Tn. 3, p. 171-182, dez. 1990, OSTERMANN, F., MOREIRA, M.A. ‘The role of ph- ysics in the preparation of elementary school te- achers in Brazil. Iu: CONFERENCIA INTERA- MERICANA SOBRE EDUCACION EN FISICA, 2. Caracas, 14-20 jullo 1991. 5 p. SER, M.-G. A study of some frameworks used by pu- pils aged 11 to 13 years in the interpretation of air pressure. 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