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Na casa defronte de mim e dos meus sonhos:

➔ Resolução das questões do manual:

Na casa defronte de mim e dos meus sonhos,


Que felicidade há sempre!

Moram ali pessoas que desconheço, que já vi mas não vi.


São felizes, porque não são eu.

As crianças, que brincam às sacadas altas,


Vivem entre vasos de flores,
Sem dúvida, eternamente.

As vozes, que sobem do interior do doméstico,


Cantam sempre, sem dúvida.
Sim, devem cantar.

Quando há festa cá fora, há festa lá dentro.


Assim tem que ser onde tudo se ajusta —
O homem à Natureza, porque a cidade é Natureza.

Que grande felicidade não ser eu!

Mas os outros não sentirão assim também?


Quais outros? Não há outros.
que os outros sentem é uma casa com a janela fechada,
Ou, quando se abre,
É para as crianças brincarem na varanda de grades,
Entre os vasos de flores que nunca vi quais eram.

Os outros nunca sentem.


Quem sente somos nós,
Sim, todos nós,
Até eu, que neste momento já não estou sentindo nada.

Nada! Não sei...


Um nada que dói...

3. Ao longo das duas primeiras estrofes do poema, o sujeito poético apresenta-nos uma realidade
por si vivida, e que ele considera feliz, fazendo essa opinião transparecer através das suas
sensações, nomeadamente visuais e auditivas. As primeiras, visíveis em “Na casa defronte de
mim… / Que felicidade há sempre!” (vv. 1-2) e “As crianças, que brincam às sacadas altas, / Vivem
entre vasos de flores” (vv. 5-6), são utilizadas pelo “eu” lírico para nos dar conta daquilo que ele
presencia, levando-nos a acreditar que as pessoas descritas são, de facto, felizes. Também as
sensações auditivas contribuem para tal, como se pode comprovar pelos versos “As vozes, que
sobem do interior doméstico, / Cantam sempre, sem dúvida…” (vv. 8-9). Aqui, o sujeito poético
refere que até a comunicação dos seus vizinhos é feita de forma harmoniosa, a cantar. Assim, é
natural que o leitor acredite no alegre contentamento que, segundo o sujeito poético, reina na casa
defronte da sua.
4. Na terceira estrofe do poema, o sujeito poético apresenta uma visão idílica da infância.
Segundo ele, as crianças “vivem entre vasos de flores” (v. 6), ou seja, estão inseridas num
ambiente paradisíaco, onde as palavras dor, responsabilidade e infelicidade não têm lugar,
vivendo despreocu - padamente e não tendo o tempo qualquer importância (“vivem…/ Sem
dúvida, eternamente.”, vv. 6-7). Deste modo, a criança vive numa realidade que transcende
tempo e espaço e onde lhe é permitido brincar sem quaisquer tipos de restrições,
aproveitando ao máximo a sua inconsciência, que a protege dos males do mundo exterior. A
infância é, assim, o período da felicidade harmoniosa e inconsciente, que se deve aproveitar
ao máximo.

5. Nas primeiras seis estrofes do poema, é possível perceber que o sujeito poético não
tem uma relação de proximidade com “os outros”. De facto, revela não ter conhecimento
íntimo destes, sendo que o que sabe – ou pensa saber – sobre eles provém maioritariamente
das suas deduções (“Moram ali pessoas que desconheço, … / São felizes, porque não são
eu.”- vv. 3-4) ou do que lhe é dado a conhecer devido à proximidade das suas habitações
(“As vozes, que sobem do interior doméstico, / Cantam sempre…” - vv. 8-9 e “Quando há
festa cá fora, há festa lá dentro.” - v. 11). Assim, o sujeito poético revela-se uma pessoa
solitária, sendo a relação que estabelece com “os outros” distante, superficial e baseada
apenas na proximidade geográfica, e o “eu” lírico demonstra não ter grande interesse em
aprofundar esse contacto, uma vez que afirma que “Moram ali pessoas… que já vi mas não
vi.”, ou seja, a quem não prestou muita atenção.

6. Na antepenúltima e penúltima estrofes, o sujeito poético vai reflectir acerca daquilo


que ele e os outros sentem ou poderão sentir. Começando por se questionar se os outros
sentirão como ele se sente, ou seja, infelizes por serem quem são, o “eu” lírico conclui que,
uma vez que lhe é negado o acesso aos seus pensamentos e sentimentos (“O que os outros
sentem é uma casa com a janela fechada”, v. 17), estes são irrelevantes e, para o sujeito
poético, perdem a existência real. Assim, acredita que devemos centrar-nos no que nós
sentimos e afirma que todos sentimos, inclusive quem pensa não o fazer, como é o caso do
“eu” lírico. No entanto, a última estrofe vem contrariar um pouco o que é afirmado pelo
sujeito poético em “Até eu, que neste momento já não estou sentindo nada.” - v. 24, sendo
que o “eu” admite sentir dor, através de um paradoxo (“Um nada que dói…” - v. 26). Deste
modo, o “eu” lírico descarta os sentimentos dos outros, preterindo-os aos seus, pois afirma
não saber o que “vai na alma” daqueles que o rodeiam, ao passo que as suas emoções,
embora não sejam muito claras, o magoam e, por isso, é nelas que se deve focar.

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