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TERRA DESMEMBRADA

Os argumentos que feministas fazem contra a masculinidade são os mesmos


há décadas. Mas a cada poucas semanas, alguém - geralmente uma mulher
em Nova York - escreve uma crítica feminista sobre algo que aconteceu na
cultura popular.

A cada poucas semanas, alguém - talvez um jovem ou um homem que ainda


não tenha sido exposto à narrativa - é exposto à propaganda feminista pela
primeira vez.

Nada disso é novo. Todo mês, mais ou menos, algumas empresas tentam
comercializar para as mulheres que compram itens para homens lançando
uma campanha dizendo que desejam redefinir a maneira como pensamos a
masculinidade.

Abordei isso no capítulo "Reimagining Masculinity" ("Reimaginando a


Masculinidade") de um e-book lançado gratuitamente em 2012, intitulado No
Man's Land (Terra Desmembrada). Este material foi originalmente parte de
The Way of Men (O Caminho dos Homens) e está incluído na edição francesa.
Representa a pesquisa preliminar que fiz enquanto escrevia The Way of Men e
meu confronto com os principais argumentos apresentados por feministas e
por muitos membros do Movimento dos Homens.

Estou relançando este livro abaixo, para meus leitores que nunca o leram ou
sequer ouviram falar. É algo que você pode citar toda vez que se deparar com
os mesmos argumentos, repetidos várias vezes, como se algum escritor de
Nova York tivesse uma ideia totalmente nova.
Introdução

O arco de três capítulos a seguir foi originalmente destinado a fazer parte de


um projeto de livro chamado "The Way of Men" (O Caminho dos Homens). The
Way of Men não é sobre feminismo, mas a maioria dos textos populares sobre
masculinidade é escrita por feministas ou homens que aceitaram um punhado
de suposições feministas. Minha intenção aqui foi situar meu próprio
entendimento da masculinidade no contexto de uma discussão mais ampla
sobre homens que vem acontecendo há várias décadas. Eu quis aplicar os
argumentos de outros de forma compreensível e extrair temas comuns. Eu
quis "mostrar meu trabalho."

Juntos, esses capítulos formam um pequeno livro sobre o modo como a


masculinidade tem sido difamada, re-imaginada e má representada pelos
outros.

Decidi disponibilizar gratuitamente este livro “Terra Desmembrada” online,


porque espero que esse material será útil para outros homens que estão
escrevendo sobre masculinidade, feminismo, o Movimento dos Homens e
conflitos entre masculinidade e civilização. Enquanto eu tenho uma pilha de
livros sobre masculinidade que provêm do establishment - de editoras
universitárias e de escritores aprovados pela mídia mainstream – os escritos
mais interessantes sobre masculinidade estão sendo publicados online. Você
pode citar um livro, mas você não consegue conectar-se a ele — não
exatamente, pelo menos.

Para aqueles que desejam ler a Terra Desmembrada como livro,


disponibilizei-o no formato Kindle e como um arquivo .pdf para download,
mas também permanecerá online como uma série de páginas no meu site.

Gostaria de agradecer ao meu amigo vulcano Trevor Blake por sua ajuda na
edição desses capítulos.

Uma última coisa…


Eu não sou um acadêmico. Eu dirijo um caminhão para viver. Desenvolver este
material dá muito trabalho. Se você achar isso valioso e quiser apoiar meu
trabalho - me dê alguns dólares por cerveja, armas e livros. Há um botão
"doar" no meu site.

Copyright 2011 Jack Donovan

Publicado online em:

http://www.jack-donovan.com/axis/no-mans-land/

11 de novembro de 2011.

Terra Desmembrada: Masculinidade Difamada, Reimaginada e Deturpada por


Jack Donovan é licenciado sob Creative Commons
Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported License.

Fique à vontade para linkar, distribuir ou citar este trabalho on-line, desde que
Jack Donovan seja creditado como o autor e A. H. Naskiewicz (Sol e Aço) como
tradutor.

Traduzido por A. H. Naskiewicz

Arte de Capa @danbraun_sp

Para mais textos sobre masculinidade, acesse: Sol e Aço: Caminho da


Ascensão

29 de janeiro de 2021.
Introdução à versão brasileira

É com grande honra que trago o livro No Man’s Land de Jack Donovan para sua
primeira versão brasileira. O livro é, conforme as próprias palavras do autor,
uma introdução ao The Way Of Men, este que já se tornou um clássico
moderno sobre o assunto da masculinidade e é uma das maiores referências
sobre o tema. Completam-se ainda ao The Way of Men os livros Becoming a
Barbarian e o A More Complete Beast, fechando assim a trilogia dos livros
físicos já publicados por Donovan. Em 2020 Jack Donovan lançou mais um
livro, chamado Fire In The Dark, entretanto ainda não está sendo
comercializado.

A respeito da tradução do título do livro de No Man’s Land para Terra


Desmembrada partiu de uma conversa minha com Donovan, qual perguntei
se o título em inglês tratava-se de um duplo sentido, visto que No Man’s Land
significa Terra de Ninguém, que refere-se a um termo criado na Primeira
Guerra Mundial para se referir a um território não-ocupado ou sob disputa. O
duplo sentido aqui estava em referir-se além disso, de que essa terra é uma
terra para nenhum homem, onde homens não podem mais exercer sua
vontade sobre ela. No Man’s Land é uma terra de ninguém, devastada e sem
homens. Decidi por utilizar o título Terra Desmembrada, visto que estamos
vivendo numa realidade onde ocorre o desmembramento do corpo social de
seus principais membros, os homens, cujos papéis são essenciais para o bom
funcionamento social. A Terra Desmembrada não possui braços, pernas,
cabeça, nada. É uma Terra inútil, totalmente desprotegida e passiva de ser
modificada por quem quiser. Como Donovan, quis trazer também um duplo
sentido ao título.

O conteúdo a ser lido a seguir é de extrema importância para entender o


contexto em que a sociedade encontra-se hoje e de que forma os homens
podem atuar nela. A conjuntura abordada em Terra Desmembrada abre as
possibilidades de entender qual a melhor forma para se pôr em prática aquilo
que Donovan defende nos seus demais livros. Com essa introdução, o
conhecimento torna-se mais amplo e a eficiência do papel dos homens atuais
se tornará maior.

Através do levantamento dos principais argumentos modernos sobre a


masculinidade, Donovan argumenta como o papel do homem dentro da
sociedade atual encontra-se distorcido e silenciado, além de expor as diversas
tentativas de engenheiros sociais de reimaginar a masculinidade e
conformá-la aos ideais feministas atuais, em um mundo onde os homens
estão em desvantagens e apenas servem aos interesses, em primeiro plano,
das mulheres e, por fim, do Sistema.

Na Terra Desmembrada, a conquista do poder das mulheres "depende de uma


transferência de poder e oportunidade dos homens, e se essa troca de poder
durar, os homens terão de ser ensinados a rebaixar suas expectativas,
enquanto que as mulheres são ensinadas a ter expectativas gigantescas." -
Jack Donovan

Nesse novo contexto de relações de poder, é exigido dos homens a negação


de seus próprios interesses e que abdiquem de suas virtudes, para que os
homens emasculados e as mulheres possam triunfar. O homem sem virtudes
masculinas é apenas mais um cordeiro no rebanho.

Terra Desmembrada é uma redpill inquietante que mostra como os homens


estão sendo forçados a se despir de seus "privilégios" para que outros grupos
possam desfrutar de novos "privilégios."

"Reimaginar a masculinidade é um projeto de construção de autoestima para


homens impotentes e um projeto de construção da impotência para homens
com autoestima." - Jack Donovan

Boa leitura,
A. H. Naskiewicz
Terra Desmembrada

Se você era escritor freelancer de ficção científica para uma revista masculina
na década de 1940, poderia ter sonhado com um futuro distópico lúgubre em
que as mulheres governam. Você poderia ter descrito uma "Nova Ordem
Feminina" ou intitulado sua história "O Fim dos Homens". Para o seu bizarro
amanhã, você poderia ter imaginado um mundo em que os meninos eram
punidos, medicados ou expulsos da escola pelos tipos de coisas que você se
lembrava de fazer quando criança. Os homens seriam chamados de "o
segundo sexo", considerados "arrogantes" e relegados a empregos mal pagos
e com status baixo. As mulheres seriam sexualmente promíscuas, até
marchariam juntas como "vadias orgulhosas [1]", enquanto os homens
deveriam ser legalmente obrigados a pedir permissão verbal explícita para
cada beijo [2]. Quando chegava a hora de se reproduzir, as fêmeas
costumavam criar filhos (provavelmente do sexo feminino) por conta própria.
Os pais seriam considerados pitorescos, mas descartáveis.

Seus leitores, naquela época, teriam dado gargalhadas.

No entanto, se acreditarmos nos escritores dos principais jornais e revistas da


América, esse futuro não está muito longe. Embora o discurso deles possa ter
um toque fantástico e as coisas ainda não sejam tão ruins quanto dizem,
parece haver um consenso crescente de que, a menos que ocorram grandes
mudanças, o futuro não será terra de ninguém.

Em maio de 2000, Christina Hoff Sommers desafiou a sabedoria predominante


sobre sexo e educação quando escreveu para o The Atlantic que esta era "uma
péssima hora para ser menino na América".[3] Ao longo dos anos 80 e 90,
autores feministas, incluindo Carol Gilligan e Mary Pipher convenceram os
educadores de que as escolas favoreciam os meninos e sabotavam as
meninas. Sommers argumentou que, talvez, ao menos em parte, em resposta
às tentativas excessivamente zelosas de ajudar as meninas a alcançarem a
paridade, as evidências mostraram que as meninas agora estavam obtendo
melhores notas e tinham aspirações educacionais mais altas do que os
meninos. Os meninos dominavam "listas de desistências, listas de falhas e
listas de dificuldades de aprendizagem". As meninas pareciam estar mais
"engajadas" no processo educacional. Os meninos ainda estavam pontuando
melhor em alguns testes padronizados (como o SAT), mas isso ocorreu porque
poucos meninos "em risco" estavam se preocupando em fazer o teste.
Segundo Sommers, os partidários das meninas estavam escrevendo as regras,
enquanto os programas para ajudar os meninos tinham uma prioridade muito
baixa e a diferença de gênero no desempenho acadêmico estava aumentando.

A Businessweek publicou uma reportagem de capa em 2003, confirmando o


"The New Gender Gap" (A Nova Diferença de Gênero). Michelle Conlin afirmou
que os meninos estavam se tornando "o segundo sexo" do jardim de infância
à pós-graduação. Ela reiterou as conclusões de Sommers e descreveu um
cenário educacional sombrio em que os meninos estavam sendo rotulados
como criadores de problemas ou "abusadores", e um número alarmante
estava sendo diagnosticado com Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade. Conlin identificou o que ela chamou de "padrão rastejante de
desengajamento masculino e dependência econômica" que inicia-se na
juventude e se espalha pela adolescência, nos anos de faculdade (ou na falta
dela), na taxa de votação masculina em declínio e no insucesso profissional.
[4] Na mesma publicação, Thomas Mortenson, pesquisador sênior do Instituto
Pell para o Estudo de Oportunidades no Ensino Superior, disse a Conlin que a
"nova economia" era "um mundo feito para as mulheres". [5]

Peg Tyre seguiu para a Newsweek em 2006 e descobriu que as coisas só


pioraram para os meninos na educação. De 1980 a 2001, o número de
meninos que disseram que não gostavam de escola aumentou 71% em um
estudo realizado pela Universidade de Michigan. Quando a matéria foi
publicada, os homens haviam se tornado uma minoria nos campus
universitários, representando apenas 44% do corpo discente.

Pude observar algumas dessas coisas em primeira mão quando me pediram


para participar de uma conferência do "21st Century Manhood" em uma
escola privada da vizinhança. A escola era mista e extremamente liberal, mas a
conferência era exclusiva para meninos. Teve um grande número de
participantes e os meninos tinham muito a dizer. Enquanto os meninos eram
claramente privilegiados economicamente, suas colegas também eram, então
ali a classe social não era um fator. Havia um consenso geral de que os
rapazes sentiam que para o que fosse que tivessem interesse, mesmo quando
se tratava de atletismo, "tudo era sobre o que as garotas queriam". A
hierarquia de status dos atletas vs. nerds também parecia invertida. Foram os
alfas naturais do grupo que pareciam os mais frustrados e desprovidos de
direitos. Eles me disseram que estavam sendo constantemente corrigidos e
lhes era ditado o que dizer e como sentir. Embora as feministas
frequentemente afirmem que a masculinidade é apenas um papel qual os
homens "encenam" e que o feminismo liberta os homens de se conformarem
a um ideal irrealista, ficou claro para mim que esses meninos sentiam como
se tivessem que policiar tudo o que diziam e faziam, e que eles nunca sentiam
que poderiam simplesmente "ser eles mesmos".

O consultor de mídia Guy Garcia escreveu que: "Se os homens fossem uma
marca, seu valor estaria caindo, porque a sociedade simplesmente não está
comprando o que eles estão vendendo". [6] Em seu livro de 2008, The Decline
of Men (O Declínio dos Homens), ele argumentou que os homens estavam
preocupados com expectativas ultrapassadas e rituais de violência
"hipermasculinos", e enquanto as mulheres obtinham mais graduações
acadêmicas e ganhavam mais dinheiro, os homens estavam "optando por sair,
desmoronar e ficar para trás". [7] Ele imaginou um futuro em que, em uma
inversão romântica de papéis, os homens que desejassem se casar acabassem
esperando, esperançosamente, pelo telefonema da Sra. Certa, porque os
homens podem ter muito pouco a oferecer às suas pretendentes femininas
ricas e com boas carreiras. No entanto, Garcia também temia que os homens
"puxassem as correntes e derrubassem o templo inteiro com eles". [8]

No mesmo ano, o sociólogo pró-feminista Michael Kimmel alertou os pais


sobre a atração da "Guyland" (Terra dos Garotões). [9] Frat boys (garotos de
fraternidades universitárias), os jovens que nas décadas anteriores se
preparavam para seguir uma carreira e se casar, estavam ficando menos
interessados ​em fazendo qualquer uma dessas coisas. De acordo com Kimmel,
"rapazes" estavam postergando seus tradicionais marcadores de maturidade
para perto dos trinta anos. Ele reconheceu que a mídia mostrava homens
casados ​implorando por sexo e sendo rotineiramente "infantilizados" por suas
esposas. [10] Kimmel escreveu: "Se essa é sua ideia de vida adulta, casamento
e vida familiar, faz sentido que você deseja adiá-lo pelo maior tempo possível,
ou pelo menos dedique um tempo para descobrir uma maneira de evitar as
armadilhas para que sua própria vida não aconteça dessa maneira." Ele
observou que os rapazes frequentemente convivem nos mesmos grupos bem
depois da faculdade, perpetuando a vida de fraternidade, trabalhando com
"McJobs" (trabalhos mal pagos), bebendo, jogando e "saindo" com garotas
para sexo casual. Kimmel explicou que, embora as jovens estivessem maduras
e entusiasmadas com suas perspectivas e acreditando que tudo era possível
para elas, mais e mais jovens estavam se tornando viciados em esportes,
pornografia e videogames.

Em 2009, havia evidências crescentes de que os meninos estavam ficando


para trás na escola e de que muitos jovens estavam mais interessados ​em
festejar, transar ou farrear do que em se casar ou investir em seu próprio
futuro. As mulheres estavam indo bem e os homens estavam se divertindo, e
todo mundo ganhando dinheiro, então a maioria das pessoas não se
importava muito.

No entanto, dois eventos trouxeram "o declínio dos homens" para os


holofotes.

O primeiro foi o que ficou conhecido como "a grande recessão". A severa
desaceleração econômica no final dos anos 2000 resultou numa crise e quebra
no setor imobiliário que culminou em demissões e escassez de trabalho que
afetaram diretamente os homens na construção civil e nas indústrias
relacionadas. O termo "man-cession" (recessão de homem) tornou-se popular
para descrever uma lacuna substancial no desemprego entre homens e
mulheres. Os homens estavam perdendo seus empregos a uma taxa
desproporcional e o crescimento de mercado projetava crescimento dos
empregos para setores de serviços dominados pelas mulheres, como a
indústria da saúde.

O segundo evento que chamou atenção para o problema com os homens foi
um marco para as mulheres. No final de 2009, as mulheres estavam prestes a
reivindicar mais da metade da força de trabalho para si. Maria Shriver e o
Center for American Progress divulgaram um relatório triunfante, intitulado
"Uma Nação de Mulheres Muda Tudo" [11], que nomeou as mulheres "Os
novos provedores". Oprah Winfrey escreveu um epílogo ao relatório, que dizia
às mulheres que cabiam a elas virar o mundo "para o lado certo". O Economist
colocou Rosie the Riveter em sua capa e anunciou que, em uma "revolução
silenciosa", as mulheres estavam "tomando conta dos postos de trabalho", no
que foi "sem dúvida a maior mudança social de nossos tempos". [12]

Em 2010, Hanna Rosin afirmou no The Atlantic que poderia ser "O Fim dos
Homens" e perguntou se a sociedade pós-industrial moderna era
simplesmente mais adequada para as mulheres. Rosin escreveu que para cada
dois homens que alcançam uma graduação bacharel, três mulheres também
alcançavam; e que nas quinze categorias de emprego projetadas para crescer
nos Estados Unidos, todas, exceto duas, já eram dominadas por mulheres. Ela
afirmou que "a economia dos EUA está, de certa forma, se tornando uma
espécie de irmandade feminina itinerante: as mulheres da classe alta saem de
casa e entram no mercado de trabalho, criando empregos domésticos para
outras mulheres preencherem". Até as mulheres da classe trabalhadora
parecem comandar o show em casa, pois os pais estão cada vez mais ausentes
ou simplesmente irrelevantes - despojados de autoridade em assuntos
domésticos porque não estavam ganham tanto quanto suas esposas ou
"parceiras". E pela primeira vez na história, casais de todo o mundo - mesmo
na Coreia do Sul, que já fora estritamente patriarcal - estão mais
frequentemente desejando bebês meninas. [13]

Para a Newsweek, Andrew Romano e Tony Doupkil reclamaram que, embora


as mulheres estivessem ganhando mais dinheiro, os homens ainda realizavam
metade do trabalho doméstico e evitavam empregos "femininos" no
florescente setor de saúde porque estavam apegados a um "roteiro mofado
de masculinidade". [14] No Los Angeles Times, Neal Gabler escreveu que os
homens modernos se tornaram "bobos" e concluíram que "em um mundo de
pressões implacáveis e de ameaça à igualdade sexual, os homens só querem
ser meninos." [15] Dias depois, no Wall Street Journal, Kay Hymowitz se
perguntou para onde haviam ido todos os "homens bons". Por "homens
bons", como Garcia e os outros, definia ela como um homem financeiramente
bem-sucedido que estava disposto a deixar seus amigos do sexo masculino e
as atividades de que desfrutavam - esportes, videogames, gadgets, filmes de
ação e sexo com várias mulheres - para comprometer-se com uma mulher e
ajudá-la a criar uma família (enquanto fosse do interesse dela). [16]

As mulheres querem competir com os homens no mercado de trabalho, ao


passo que querem cooperar com eles para fins de reprodução. O antropólogo
Lionel Tiger identificou essa fonte de "tensão substancial" em seu livro de
1999, The Decline of Males (O Declínio dos Homens). [17] De fato, The Decline
of Males previu muitos dos problemas que os escritores acima têm descrito na
última década. Brincando com as palavras de Marx, Tiger entendeu que os
homens não estavam apenas ficando alienados dos meios de produção, mas
também dos meios de reprodução. [18] A invenção da pílula anticoncepcional,
combinada com a ascensão do feminismo, da economia tecnoindustrial e do
estado de bem-estar social, produziu um "sistema de mãe solteira". A
intervenção do Estado, destinada a ajudar crianças carentes, criara um novo
tipo de família: a burogamia. Tiger definiu burogamia como "um padrão
familiar envolvendo mãe, filho e burocrata". [19]
O sistema de parentesco patriarcal que exigia investimento paterno foi
desmantelado por feministas, pela tecnologia e pelo sistema legal. Foi
substituído por um sistema que dá controle às mulheres sobre praticamente
todos os aspectos da reprodução, e onde uma mulher pode ter certeza de que
o estado interviria e cuidaria de seus filhos na ausência de um marido ou pai.
O divórcio, geralmente iniciado por mulheres, oferece uma maneira das
mulheres assumirem o controle de suas famílias à vontade, mesmo quando
um homem havia escolhido fazer um investimento paterno. Os homens têm
se tornado jogadores periféricos na vida de seus filhos e podem ser afastados
do time pela mãe treinadora a qualquer momento. O gerente burocrata
determina então qual o papel que o pai tem na vida de seus filhos - na melhor
das hipóteses, ele pode ter um papel co-parental, na pior das hipóteses ele
pode ser reduzido a uma mera pensão.

Os EUA ainda podem não ser um matriarcado, mas sua estrutura familiar
tornou-se matrilinear, ou pelo menos matrifocal. A prática de dar a uma
criança o sobrenome de seu pai é um gesto vestigial, uma norma social
desatualizada de um tempo anterior. Se as mulheres parassem de fazê-lo
completamente, ou se insistissem que seus nomes fossem os primeiros em
uma configuração mãe-hífen-pai, qualquer ilusão duradoura de patriarcado
seria destruída. É preciso pensar se, na ausência dessa ilusão, os homens
investiriam em paternidade. A mudança para uma cultura bonobo - onde os
homens são meros inseminadores e ajudantes – essa situação seria explícita e
completa. Por que os homens então simplesmente não andam sozinhos ou
em pequenos grupos impotentes, brincando e buscando gratificação
masturbatória a curto prazo? Por que eles fariam o investimento ou os
sacrifícios necessários para serem bons maridos e pais, quando uma mulher
pode destruir tudo por mero um capricho?

Nenhuma das repreensões conseguiu chegar a um plano para fazer com que
os jovens "parassem" de beber, vadiar ou jogar videogame, e então iniciar
famílias. Tudo o que eles conseguiram fazer ao ordenar os homens a "virar
homem" é invocar um "roteiro mofado" de um sistema patriarcal que não
existe mais.

Para dar créditos a Kay Hymowitz, em seu livro intitulado "Manning Up: How
the Rise of Women Has Turned Men into Boys" (Virando Homem: Como a
ascensão das mulheres transformou homens em meninos), ela também
reconheceu que havia "razões demográficas, econômicas, tecnológicas,
culturais e hormonais" [20], pelas quais os homens estão decaindo e
desistindo, e por que, pela primeira vez na história, "as mulheres jovens estão
chegando aos seus vintes com mais realizações, mais educação, mais
propriedades e, sem dúvida, mais ambição do que seus pares do sexo
masculino." [21] Ela observou astutamente que não era apenas o feminismo,
mas também a mentalidade Playboy [22], que haviam trabalhado para erodir a
prescrição moral e social da carruagem amor-casamento-filhos que, por tanto
tempo, incentivou os jovens a pensar seriamente sobre suas carreiras e
casamento desde tenra idade. Mais do que os outros, ela também simpatizava
com o tão difamado homem americano – preso e cabisbaixo, encarando a vida
na "fria intimidade" de um trabalho domesticado de escritório e tratado como
um estúpido descartável.

Hymowitz se perguntou: "onde os meninos se encaixam no mundo do


empoderamento feminino?" [24]

Ela não teve uma resposta. A maioria parece dar de ombros. Alguns falam e
escrevem sobre tornar o sistema educacional mais amigável para os meninos.
Isso não doeria.

Os escritores acima concordam, em grande parte, que poucas indústrias em


qualquer economia pós-industrial pacífica e global favorecem as aptidões ou o
temperamento dos homens. No entanto, como veremos, a própria ideia de
que os homens têm um temperamento natural se opõe aos viéses
estabelecidos em relação ao determinismo cultural e à ortodoxia da teoria
feminista dos papéis sexuais.
Em vez de avaliar criticamente os planos de nossa sociedade para o futuro e
tentar criar um sistema melhor para ambos os sexos, a maioria dos escritores
simplesmente exigem que os homens mudem seus temperamentos.

A masculinidade, diz a teoria, pode ser o que quer que queiramos que seja -
então por que não "reimaginar" uma masculinidade que melhor se adapte ao
futuro?

Referências Bibliográficas originais em inglês.

[1] Melnick, Meredith. "From Legal Defense to Rallying Cry: How ‘SlutWalks’
Became a Global Movement." Time 10 May 2011. Web. 23 May 2011.
http://healthland.time.com/2011/05/10/from–legal–defense–to–rallying–cry–h
ow–slutwalks–became–a–global–movement

[2] "The Antioch College Sexual Offense Prevention Policy." Antioch College.
N.p., 1 Jan. 2006. Web. 23 May 2011.
http://antiochmedia.org/mirror/antiwarp/www.antioch–college.edu/Campus/s
opp/index.html

[3] Hoff Sommers, Christina. "The War Against Boys." The Atlantic. May 2000.
Web. 2 Mar 2011.
http://www.theatlantic.com/magazine/archive/2000/05/the–war–against–boys/
4659/

[4] Conlin, Michelle. "The New Gender Gap." Businessweek 26 May 2003. Web.
23 May 2011.
http://www.businessweek.com/magazine/content/03_21/b3834001_mz001.ht
m

[5] Conlin, Michelle. "This Is a World Made for Women." Businessweek 26 May
2003. Web. 23 May 2011
http://www.businessweek.com/magazine/content/03_21/b3834010_mz001.ht
m

[6] Garcia, Guy. The Decline of Men. 2008. HarperCollins e-books. Loc. 738.
Kindle.

[7] Ibid. Loc 77.

[8] Ibid. Loc 4190.

[9] Kimmel, Micheal. Guyland. 2008. HarperCollins e-books. Kindle.

[10] Ibid. Loc. 591.


[11]Shriver, Maria. "The Shriver Report : A Woman’s Nation Changes
Everything." The Center for American Progress. The Center for American
Progress, 16 Oct. 2009. Web. 24 May 2011.
http://www.americanprogress.org/issues/2009/10/womans_nation.html

[12]"We did it! ." The Economist. N.p., 30 Dec. 2009. Web. 24 May 2011.
http://www.economist.com/node/15174489?story_id=1517448

[13] Rosin, Hanna. "The End of Men." The Atlantic. July 2010. Web. 24 Feb.
2011.
http://www.theatlantic.com/magazine/archive/2010/07/the–end–of–men/8135
/

[14] Romano, Andrew, and Tony Doupkil. "Men’s Lib." Newsweek. 20 Sept.
2010. Web. 24 Feb. 2011.
http://www.newsweek.com/2010/09/20/why–we–need–to–reimagine–masculi
nity.html

[15] Gabler, Neal. "Day of the Lout." Los Angeles Times. 13 Feb. 2011. Web. 24
Feb. 2011.
http://www.latimes.com/entertainment/news/la–ca–louts-20110213,0,2024755
.story

[16] Hymowitz, Kay S. "Where Have The Good Men Gone?" The Wall Street
Journal. 19 Feb. 2011. Web. 24 Feb. 2011.
http://online.wsj.com/article/SB10001424052748704409004576146321725889
448.html

[17] Tiger, Lionel. The Decline of Males. 1999. Golden Books. Print. 233.

[18] Ibid. 249.

[19] Ibid. 159.

[20] Hymowitz, Kay. Manning Up: How the Rise of Women Has Turned Men
into Boys. 2011. Basic Books. Kindle. Loc. 1558.

[21] Ibid. Loc. 819.

[22] Ibid. Loc. 1837.

[23] Ibid. Loc. 1910.

[24] Ibid. Loc. 1035.


Reimaginando a masculinidade

“Uma fera predadora domesticada e em cativeiro - todo jardim zoológico pode


dar exemplos - é mutilada, doente do mundo, interiormente morta. Alguns
deles fazem voluntariamente greve de fome quando são capturados. Os
herbívoros não resistem a serem domesticados.”

- Oswald Spengler, Homem e Técnica

Hoje, muitas pessoas consideram cruel colocar um animal em um recinto que


seja drasticamente diferente de seu habitat natural. Nós projetamos nossos
zoológicos, aquários e terrários para simular as condições naturais da melhor
maneira possível. Os entusiastas do hobby gastam pequenas fortunas
tentando criar fac-símiles em miniatura do mundo natural. Isso é para
“agradar” a fauna cativa. Embora muitos suponham que o animal seria “mais
feliz” na natureza, na medida em que os animais experimentam “felicidade”, a
maioria parece acreditar que os animais são burros o suficiente para serem
enganados e se tornarem razoavelmente satisfeitos em uma imitação
meia-boca do ecossistema do qual eles foram removidos. Por isso, enfeitamos
uma pequena caixa de vidro com coral para parecer o oceano ou penduramos
uma guirlanda de folhas de palmeira e a chamamos de selva. A maioria dos
animais realmente não é tão brilhante, então talvez seja melhor para o Sr.
Peixe nadar em torno do navio pirata de cerâmica, desde que ele esteja
razoavelmente seguro e com a barriga cheia.

Conseguir que os homens, especialmente os jovens, se adaptem aos muros e


limitações da sociedade civilizada sempre foi um desafio. Inquietação viril,
atletismo e competitividade conseguiram ser contidos, treinados e domados
por esportes e jogos ao longo da história. O jogo proporcionou ao sapateiro e
ao pedreiro a sensação de conflito, perigo e guerra em tempos pacíficos e
prósperos. As pessoas sempre assumiram que os homens eram atraídos por
certos tipos de atividades e que fornecer algum tipo de válvula de liberação
para a agressão masculina natural era saudável. Isso proporcionou
contentamento dos homens em fazer as coisas que queriam, e foram
encontrados meios para os homens exercerem sua virilidade
construtivamente - ou com destruição mínima.

Para a maioria dos homens, mesmo o trabalho “civilizado” era mais desafiador
e exigia mais esforço físico do que agora. O trabalho era orientado a um
objetivo; exigia habilidade e conhecimento prático. Forneceu um senso de
propósito tangível, pessoal e imediato. Agricultura, metalurgia e construção
podem ser facilmente enquadradas como lutas simbólicas contra a natureza.
O trabalho parecia mais agressivo e feito através da vontade de potência. Em
nosso continuum de masculinidade, o trabalho era mais direto e envolvente,
menos afastado da luta primordial pela sobrevivência.

A revolução industrial afastou os homens das ocupações físicas e mentais e as


substituiu por trabalhos e tarefas simples que exigiam pouca habilidade ou
pensamento. Cada vez mais, o trabalho parecia submissão. Os esportes se
tornam mais populares e importantes do que nunca. Hobbies como
marcenaria e caça e diversas atividades ao ar livre foram promovidos como
atividades masculinas. Os homens compraram revistas pulp cheias de
histórias sombrias de aventuras exóticas que eles sabiam que nunca teriam.
Os homens se maravilhavam com homens fortes, depois com levantadores de
peso e depois com fisiculturistas. Com a diminuição das oportunidades de
ação viril, os homens foram cada vez mais atraídos por oportunidades de
exibição viril. A masculinidade tornou-se cada vez mais vicária, virtual e
simbólica.

A transição para uma economia de serviços e “trabalho através do


conhecimento” piorou as coisas para os homens. O cubículo parecia ainda
menos um trabalho ativo e agressivo. Alguns homens são particularmente
adequados para isso, ou conseguem canalizar sua energia para outro lugar,
mas os “empregos do futuro” deixam muitos homens interiormente mortos. O
local de trabalho moderno costuma parecer um aquário sem nem mesmo um
navio pirata de cerâmica para nadar. De qualquer forma, hoje em dia é um
monte de flores de plástico rosa. Se você aceita a possibilidade de que
homens e meninos, como os machos da maioria dos outros animais de grande
porte, tenham em geral uma natureza diferente e um conjunto diferente de
interesses reprodutivos do que a fêmea da espécie, não é difícil perceber por
que o mundo pós-feminismo tem homens “com baixo desempenho”.

Lamentavelmente, quando os meios de comunicação falam sobre homens no


século XXI, as perguntas que eles fazem e as respostas que oferecem
geralmente cheiram a ingenuidade falsa. Como a repórter que, com uma cara
séria, perguntou ao ator Charlie Sheen por que ele gostava de fazer sexo com
estrelas pornô, a mídia permanece intencional e auto-declaradamente sem
qualquer ideia sobre a natureza dos homens.

As feministas reivindicaram a bancada moral, apelando ao senso de justiça


dos homens. Elas convenceram os homens a ajudá-las a reorganizar a
sociedade e a eliminar a noção de que homens e mulheres deveriam ter
papéis e responsabilidades sexuais diferentes. Os homens, talvez
egoisticamente, concordaram que “O Caminho dos Homens” era melhor e que
era injusto impedir que as mulheres alcancem seu pleno potencial dentro da
maneira em que os homens conceituavam tanto a conquista quanto o
potencial. A riqueza e a tecnologia ocidentais tornaram possível essa
transformação social. Virtudes masculinas foram castradas e simplesmente se
tornaram “virtudes” - embora a raiz latina vir signifique “homem”. Para fazer
as mulheres se sentirem iguais e incentivá-las a alcançar o domínio público, os
homens foram incentivados a mudar a maneira como conversavam sobre a
masculinidade. Força, coragem e honra foram desalinhadas dos sexos e
reinterpretadas em termos mais relativos. Para ser inclusivo, as pessoas
inventaram “tipos” diferentes de força, coragem e honra, para que o garoto
mais fraco ou a garota mais humilde pudesse de alguma forma se sentir forte,
corajoso ou honrado. Como parte desse enorme projeto de construção de
autoestima para as mulheres, a ideia de “inteligência emocional” foi
introduzida e promovida, embora nunca foi realmente levada a sério. Para
explicar a falta histórica de conquista das mulheres, os homens enquanto sexo
foram classificados como meros bullies - valentões. As realizações dos grandes
homens da história foram reconsideradas e julgadas de acordo com os
padrões determinados pela ideologia feminista. Instituições nobres e clubes
sociais para homens que incentivavam a responsabilidade cívica e a
“masculinidade moral” foram renunciados como exclusivistas e patriarcais, ou
integrados à força e tornados impotentes e irreconhecíveis.

As mulheres se apropriavam de tudo o que desejavam de milhares de anos de


cultura masculina, e os homens criavam uma identidade coletiva do que
restava - postura de macho benigna, piadas de peido e cerveja. Agora que a
cerveja “artesanal” importada ou micro-produzida está se tornando o novo
vinho, e as mulheres políticas posam com armas e gritam por aí dizendo para
o pessoal que “virem homem”, temo que tudo o que resta aos homens sejam
piadas de peido. Isso é preocupante para mim porque, apesar dos esforços
persistentes de amigos flatulentos, ainda não acho piadas de peido tão
engraçadas, muito menos uma base desejável para minha “identidade de
gênero”.

Em 1974, a feminista Janet Satzman Chaftez elaborou uma utopia onde a


androginia substituiu os estereótipos de papéis de gênero. Ela esperava que,
talvez até o ano 2000, as pessoas pensassem além de se perceberem
masculinas ou femininas e, em vez disso, se considerassem meramente
humanas. [1] É um tema em muitos textos feministas que homens e mulheres
devem descobrir uma humanidade comum e abandonar velhas ideias sobre
os sexos.

No entanto, no caso das mulheres, esse sempre foi o caso de dizer uma coisa
e fazer outra. Espera-se que apenas os homens vejam o mundo em termos
neutros de gênero. As mulheres se organizam de forma consistente como um
grupo para defender os interesses das mulheres. Mesmo enquanto lutavam
pela inclusão em todos os domínios antes reservados aos homens, elas
criaram uma subcultura inteira voltada especificamente para as mulheres.
Enquanto escrevo isso, há um festival de cinema para mulheres na minha
cidade. Existem academias para mulheres e um número estonteante de
organizações de defesa da mulher e da saúde da mulher. As mulheres têm
suas próprias revistas, canais de televisão, sites, livrarias e assim por diante.
Há, como Hanna Rosin mencionou, uma “irmandade feminina itinerante” de
mulheres se ajudando enquanto mulheres - não apenas como seres humanos.
As mulheres estão agindo coletivamente em seus próprios interesses como
sexo.

As mulheres não abandonaram suas identidades sexuais, elas as expandiram.


Enquanto é dito aos homens que eles não podem mais fazer o que
costumavam fazer, e é solicitado que repudiem sua herança como homens, as
mulheres devem abraçar seu passado, continuar fazendo tudo o que sempre
fizeram - e fazer mais!

Um slogan comum diz:

“Feminismo é a noção radical de que as mulheres são seres humanos.”

Você deve ler isso como sendo:

O feminismo é a noção radical de que os homens devem fazer o que as


mulheres dizem, para que as mulheres possam fazer o que quiserem.

O feminismo andrógino de Chaftez tornou-se, na prática, um feminismo que


vende força e poder às mulheres, mas permite que elas mantenham uma
identidade sexual distinta e se organizem para promover seus próprios
interesses como sexo. Não nos tornamos simplesmente “humanos” - ainda
nos reconhecemos como homens e mulheres, mesmo em 2011. Chaftez
reconheceu que o feminismo representava uma ameaça aos homens, porque
a mudança implicaria “uma perda de muitas prerrogativas concretas.” [2] Ela
estava certa sobre isso. Por qualquer medida direta, o feminismo exigia que os
homens transferissem progressivamente o poder para as mulheres. Se os
avanços tecnológicos e as trocas globais tivessem sido mais lentas, essa
transferência poderia ter sido mais ordenada e imparcial. No entanto, durante
a vida de Chaftez, as mudanças econômicas e tecnológicas ocorreram tão
rapidamente que as mulheres foram capazes de capitalizá-las e transformar o
local de trabalho e o terreno social ao seu gosto ao mesmo tempo, enquanto
os homens ficaram de pé com seus paus nas mãos.

Guy Garcia espera que esse fracasso na adaptação liberte os homens - que,
falidos pelas mudanças econômicas e sociais, os homens se refaçam às
sombras dos triunfos das Amazonas. No festival Burning Man, ele se
perguntou: “Que melhor maneira de receber a graça resplandecente da Deusa
do que com a imolação simbólica do homem?” [3] Garcia encerrou O Declínio
dos Homens com a história de Gerald Levin, que era o arquiteto da desastrosa
fusão da AOL/Time Warner em 2000. Quando a fusão falhou, Levin começou a
falar sobre trazer a "poesia" de volta à vida durante uma entrevista com Lou
Dobbs. Levin foi abordado por uma mulher muito mais jovem, que queria que
ele investisse em uma clínica de bem-estar boutique, atendendo celebridades
a outros clientes de alto nível. Eventualmente, ele deixou sua esposa e
encerrou seu casamento de 32 anos para ficar com sua nova parceira de
negócios. [4] Levin se mudou para a Califórnia, onde agora atua como diretor
administrativo do Moonview Sanctuary. O Moonview Sanctuary é
especializado em terapia New Age e cura holística, e Levin disse que agora é
sua missão “destruir a cultura masculina.” [5]

A noção dúbia de que os humanos já vagavam pela terra em tribos pacíficas


matriarcais, cultuando a Deusa Mãe, ofereceram um caminho para feministas
e pacifistas reimaginarem uma masculinidade completamente diferente da
masculinidade baseada em força e agressão que tem sido uma constante ao
longo da história. Se as pessoas já foram "naturalmente" pacíficas, então tudo
o que sabemos sobre o HIStory (His(ele)tory – História d’ele – um trocadilho
para centralizar a história no homem) humano pode ser reformulado como
uma aberração - uma febre de violência masculina que varreu todas as
pessoas em todas as terras. Se as pessoas já foram “naturalmente” pacíficas, o
feminismo poderia ser reformulado como um retorno à ordem natural das
coisas, em vez de um afastamento da natureza. Os biólogos evolucionistas
Wrangham e Peterson argumentaram convincentemente que,
“É bom sonhar, mas a racionalidade vigilante e sóbria sugere que, se
começarmos com ancestrais como chimpanzés e acabarmos com humanos
modernos construindo muros e plataformas de combate, a trilha de cinco
milhões de anos para nossos eus modernos será sublinhada, por toda a
extensão, por uma agressão masculina que estruturou a vida social, tecnologia
e mentes de nossos ancestrais.” [6]

É mais provável que os homens, armados com um maior porte físico e força
em geral, tenham usado essa força para afirmar seus próprios interesses
reprodutivos sobre os interesses de mulheres e outros homens em previsíveis
padrões familiares repetidas vezes. Qualquer outra conclusão requer
pensamento mágico.

O eco-pacifista Sam Keen também acreditava em uma pré-história pacífica e


matriarcal, e muitas das ideias apresentadas em seu best-seller “Fire in the
Belly” de 1991 do New York Times se baseiam na suposição de que as ideias
que temos sobre masculinidade foram moldadas por um “sistema de guerra”
que se seguiu ao desenvolvimento agrícola. [7] No entanto, como Wrangham e
Peterson, o arqueólogo Lawrence Keeley concluiu em seu sombrio catálogo de
violência pré-histórica, “War Before Civilization”, que a noção de um passado
pacificado é “incompatível com as evidências etnográficas e arqueológicas
mais relevantes.” [8] Os clamores de retorno a um sistema feminino
baseiam-se em uma pré-história pacífica que nunca existiu; então, não há
nada a que voltar

Embora algumas feministas radicais, teóricos queer, transgêneros e outros


tenham argumentado pela erradicação de estereótipos de gênero e um
movimento além de perceber as pessoas como masculinas ou femininas,
permanece o fato de que biologicamente falando metade dos humanos é
masculina e a outra metade feminina. A maioria das pessoas parece querer
aceitar a ideia de que homens e mulheres são só um pouco diferentes.
Homens e mulheres ainda mantêm e preferem identidades sexuais distintas.
De fato, grande parte do triunfalismo do século XXI sobre a ascensão das
mulheres e “O Fim dos Homens” reconhece as diferenças entre os sexos e
celebra uma identidade feminina distinta.

O novo caminho das mulheres minimiza a importância das diferenças físicas


entre os sexos e elogia as mulheres por suas habilidades de comunicação,
capacidade de multitarefa e preferências pela construção de coalizões sociais
e resolução não-violenta de conflitos. O novo caminho das mulheres celebra o
empoderamento feminino e a importância das mulheres na formação da
história e registra sua ascensão à proeminência como uma superação pacífica
da opressão, guiada por um desejo de justiça e igualdade. As mulheres são
ensinadas a se orgulhar da feminilidade e a ter expectativas de poder fazer
praticamente qualquer coisa que seu coração desejar.

O problema com o novo caminho das mulheres é que ela depende de uma
transferência de poder e oportunidade dos homens, e se essa troca de poder
durar, os homens terão de ser ensinados a rebaixar suas expectativas,
enquanto que as mulheres são ensinadas a ter expectativas gigantescas. O
novo caminho das mulheres demanda um novo caminho dos homens. Muitos
tentaram reimaginar a masculinidade de maneira a repudiar os velhos e
violentos “mitos” patriarcais sobre os homens, e fornecem uma visão mais
pacífica e sexualmente igualitária da masculinidade, compatível com o que as
mulheres querem para si.

O movimento mitopoético dos homens tentou fazer isso nos anos 80 e no


início dos anos 90. Em “Iron JohnI”, o poeta Robert Bly aproveitou o folclore e
tentou ajudar os homens a entrar em contato com o “homem selvagem”. “Iron
John” continha algumas observações verdadeiras e chamou a atenção da
mídia quando foi publicado em 1990. As feministas o viam como uma espécie
de sexismo ressurgente e zombavam dele sem piedade. Em 1995, Michael
Kimmel editou uma coleção de ensaios intitulados “The Politics of Manhood:
Profeminist Men respond to the Mythopoetic Men’s Movement (And the
Mythopoetic Leaders Answer).” A maioria dos ensaios eram críticas a “Iron
John”. Os profeministas acusavam Bly e companhia de tudo, desde homofobia
à histeria masculina. [9]

Se tivessem lido Bly de maneira justa, teriam visto que seu “homem selvagem”
era em realidade até manso. A forma selvagem de Bly deveria existir
explicitamente em harmonia com o projeto feminista. Embora fosse
incompatível com a androginia de ficção científica do feminismo utópico de
Chaftez, o ethos de Bly era uma resposta à maneira como o feminismo
realmente se manifestou além da teoria.

Bly afirmou em sua resposta aos homens pró-feminismo que era importante
que os homens “se levantassem e falassem sobre a dor que milhões de
mulheres sentem” e que, como pai, ele queria que suas filhas tivessem “uma
oportunidade justa.” Ele também negou as acusações de que ele ou qualquer
um dos homens mitopoéticos tinha algum interesse em restabelecer o
patriarcado, e até continuou dizendo que a “essência destrutiva do
patriarcado... se move para matar o jovem masculino.” [10] Como outras
feministas e muitos homens. ativistas dos direitos humanos, ele acreditava
que o patriarcado também machuca a maioria dos homens.

Em “Iron John”, Bly escreveu com reverência sobre o poder do feminino no


mito e na realidade. Sua principal preocupação era que os homens haviam se
tornado mais suaves e gentis, mas que “não haviam se tornado mais livres”
[11] porque, na sequência dos avanços feministas, muitos jovens passaram a
vida trabalhando para agradar suas mães, namoradas e esposas - enquanto
mulheres estavam trabalhando para reivindicar seu poder em casa e no
trabalho. Ele culpou a revolução industrial por separar os meninos de seus
pais, criando uma geração de homens que aprenderam “entender-se
primeiramente através da mãe” e aprenderam a ver a masculinidade do ponto
de vista feminino, e se encontravam com medo ou suspeita de sua própria
masculinidade. [12] Essa observação foi assertiva e é provável que esse seja o
caso do número crescente de jovens criados por mães solteiras. Os homens
sempre aprenderam a ser homens com homens mais velhos, e Bly acreditava
que, à medida que os meninos se tornavam cada vez mais distantes de seus
pais, avós e outros mentores potencialmente positivos, eles cresceriam
inseguros e desconfortáveis ​com a própria pele. Seu mito adaptado do
“homem selvagem” (um antigo, peludo e misterioso mentor da floresta) foi
criado para ajudar os homens a lidar com sua natureza primordial e enfrentar
os desafios da modernidade com determinação, mas nunca com crueldade.
[13]

Bly entendeu alguns dos problemas que homens e meninos estavam


enfrentando enquanto estavam sob os escombros do patriarcado, admirando
as mulheres em ascensão. No entanto, suas soluções foram forçadas e seu
tom New Age teve apelo limitado. A ideia de homens adultos saindo para a
floresta para se sentar em círculos de tambor, ler poesia e falar sobre seus
sentimentos era constrangedora. Também parecia mimada e autoindulgente.
Mas o maior problema com a reimaginação da masculinidade de Bly era a
falta de bolas.

Bly escreveu sobre espadas e batalhas, mas suas batalhas eram as fantasias
sem sangue nos níveis dos desenhos animados da criança interior mais
inocente, não os conflitos reais e sangrentos dos homens. Seu uso do mito foi
seletivamente tendencioso nessa direção. Ele cita Homero com frequência e
cita o Rei Arthur um exemplo de “mãe do sexo masculino” [14], mas ignora os
temas proeminentes de sede de sangue e busca de honra na Ilíada e as cenas
sanguinolentas de golpes e decapitações que inflamaram o Le Morte D’Arthur
de Malory. Bly defende o cultivo de um guerreiro interior, mas menospreza os
homens cujo trabalho é fazer a guerra como meros "soldados". O "guerreiro
interior" New Age de Bly foi instruído a se impor, mas ele só pode fazê-lo com
palavras.

Nas próprias palavras de Bly:

“Se uma cultura não lida com a energia guerreira - adote-a conscientemente,
discipline-a, honre-a - ela aparecerá perifericamente na forma de gangues de
rua, espancamento de mulheres, abuso de drogas, brutalidade para crianças e
assassinato sem objetivo.

Uma tarefa importante dos homens contemporâneos é reimaginar, agora que


as imagens do guerreiro eterno e guerreiro para o externo não fornecem mais
o modelo e o valor do guerreiro nos relacionamentos, nos estudos literários,
no pensamento, na emoção.” [15]

O “guerreiro interior” de Bly nunca guerreia e só pode sobreviver em um


estado em que ele está protegido de homens que estão preparados para usar
a violência contra outros homens violentos. O mundo ainda é um lugar
violento, e o guerreiro interno seria uma piada - e um alvo indefeso - no gueto
ou no Terceiro Mundo. Bly fala de uma perspectiva mimada advinda da classe
média ocidental, onde as pessoas dedicam seu tempo a “estudos literários” e
“relacionamentos”. O guerreiro interior tenta fazer uso do vocabulário e das
virtudes que caracterizaram a masculinidade ao longo da história. Sem razões
no mundo real para utilização da força, coragem e honra, sobram apenas um
monte de metáforas melodramáticas para uma realidade mundana.

Sam Keen também tentou reimaginar a masculinidade, apropriando a


linguagem da masculinidade violenta para homens desarmados. Em Fire In
The Belly, ele disse aos homens para rejeitarem o "mito da guerra" e se
tornarem "ferozes gentlemen". O feroz gentleman de Keen realmente não
tinha nada para de diferente de uma “feroz gentlewoman”. Suas virtudes eram
Admiração, Empatia, Mente Sincera, Indignação Moral, Modo de Vida Correto,
Prazer, Amizade, Comunhão, Ser Bom Marido e Veemência. [16] Nenhum
desses valores é particularmente ruim, mas não são conceitos exclusivos de
um gênero particular e não têm nada a ver com qualquer senso histórico de
masculinidade. As feministas, a quem Keen fez genuflexão inúmeras vezes,
estão no ramo da indignação moral há anos.

Em sua magnum opus de 1996, “Manhood in America” (Hombridade na


América), Michael Kimmel hipocritamente empregou o roteiro da
masculinidade tradicional baseada na força para envergonhar Bly e Keen em
seu capítulo sobre “Wimps, Whiners and Weekend Warriors” (Fracos, Chorões
e Guerreiros de Fim de Semana). [17] Suas tentativas de nutrir uma conexão
significativa entre o mito e a história dos homens - por mais que cuidadosa,
pacífica e conciliadoramente editadas para não assustar as feministas - ainda
eram vistos como uma ameaça excessiva às agendas de acadêmicas e ativistas
feministas. Como alternativa, Kimmel ofereceu o que chamou de
“masculinidade democrática”. Ele definiu isso como “uma política de gênero
inclusiva, de enfrentar as injustiças promovidas por diferenças” e sugeriu que
os homens adotassem o feminismo, a libertação dos homossexuais e o
multiculturalismo como um projeto para a reconstrução da masculinidade.
[18] Kimmel decora sua masculinidade democrática com um senso de luta
contra a adversidade e um vago sentimento de heroísmo, mas chamar isso de
“masculinidade” é uma mentira grosseira e condescendente. O homem
pró-feminismo de Kimmel é um não-homem. Sua masculinidade é definida
pela rejeição das definições tradicionais de masculinidade, exceto pela
sustentação de uma narrativa de auto-sacrifício. Esse não-homem
democrático deve renunciar ao seu próprio senso de identidade e dedicar
suas energias para ajudar os outros a obter um senso “seguro e confiante” de
si mesmos e “sua parte legítima sob o sol.” [19] Ele deve comprometer-se a
trabalhar desinteressadamente em nome de outras pessoas, e deve fazê-lo
sem questionar ou reclamar. Kimmel garante aos homens que, de alguma
forma, desistindo da luta para “provar a masculinidade”, os homens
finalmente estarão livres e poderão “dar um suspiro coletivo de alívio.”

Se a comprovação da masculinidade não é mais necessária, o que motivará os


homens a se esforçarem para provar que são “homens democráticos”? Livre
de todos os deveres, exceto dos mais altivos, abstratos e juridicamente
opcionais, o que impede os homens de cruzarem os braços coletivamente,
respirarem aliviados e fazerem o mínimo possível?

As masculinidades pacificadas e “reimaginadas” de Garcia, Bly, Keen e Kimmel


exigem que os homens neguem seus próprios interesses. As únicas vantagens
que ostentam para os homens são obscuras e filosóficas e, portanto,
naturalmente têm um apelo muito limitado. Garcia, Bly, Keen e Kimmel não
têm nada a dizer ao homem que está procurando uma maneira de melhorar
suas próprias circunstâncias ou fazer seu próprio caminho no mundo real e
material.

Percebendo que os homens estão andando de um lado para o outro em suas


gaiolas de concreto, os reimaginadores da masculinidade tentaram redecorar
o espaço do homem com narrativas aventurosas e conversas sobre selvageria.
Mas uma jornada espiritual é apenas uma história em pensamento. Você não
vai a lugar nenhum. O guerreiro interno nunca sabe o que significa encarar a
morte de frente ou ver a vida deixar os olhos de seu inimigo vencido. Suas
vitórias são mesquinhas e suas derrotas são triviais. O iniciado na
“masculinidade de fim de semana” nunca sente a terra em seus joelhos, a
urgência da fome ou o calor do sangue fresco na testa. O homem que nega
sua vontade de poder para que outros prosperem se torna escravo.

Kimmel e outras feministas frequentemente provocam os homens que


rejeitam o feminismo e os valores cosmopolitas, acusando-os de escapismo e
recuo. Mas a masculinidade ascética que as feministas promovem exige um
recuo interior - guiada por um compromisso quase religioso e voluntário de
ajudar mulheres, gays e minorias raciais a alcançar seus próprios objetivos.
Feministas e pacifistas pedem que os homens vivam vidas passivas de
restrição e autodisciplina. Sempre houve padres, monges e autoflageladores
que se anulavam e abnegavam. Um certo tipo de homem, geralmente um
intelectual, achará esse estilo de vida atrativo. Os homens geralmente
apreciam a fortitude obsessiva necessária para batalhas internas e externas. A
abstinência tem seu valor e tende a transmitir um senso de superioridade
sobre aqueles que cedem aos apetites primitivos. Mas Kimmel e os outros são
solipsistas cegos se acreditam que a maioria dos homens se tornará
igualmente apaixonada por seus projetos de homens de estimação, ou que
todos estarão igualmente dispostos a deixar de lado seus próprios interesses
indefinidamente.
A igualdade não pode exigir que um grupo se contenha para que o outro
possa prosperar e fazer o que quiser. “Igualdade”, se fosse realmente
plausível, pelo menos teoricamente ofereceria a todos a mesma oportunidade
de agir em seus próprios interesses como indivíduos, com interferência
limitada de outros.

No entanto, como Diana Moon Glampers, a Handicapper General de Harrison


Bergeron, de Kurt Vonnegut (um short story de ficção sci-fi distópica), as
organizações feministas exigem consistentemente uma igualdade mensurável
de resultados. Não foi suficiente para as mulheres obterem igualdade de
oportunidades. [20] Se um número suficiente de mulheres não está envolvido
nos esportes ou nas ciências ou se as mulheres não são igualmente
representadas como generais e capitães da indústria, as feministas exigem
que os recursos sejam desviados dos programas que ajudam os homens e
advogam por programas que incentivem as mulheres. Como o sucesso de tais
programas só pode ser medido pelo desempenho das mulheres na área
desejada (se estão tendo sucesso ou não), qualquer burocrata interessado em
agradar seus superiores deve ter os números para provar que homens e
mulheres são iguais em todos os sentidos. O efeito colateral em tais cenários
sempre é uma discreta discriminação contra os homens. A hipocrisia das
feministas no que diz respeito aos esforços de “busca da igualdade” é evidente
pelo aparente desinteresse em reverter os programas que tornaram as
mulheres mais bem-sucedidas do que os homens em um determinado campo
de atuação e em sua resistência vocal de iniciar programas que ajudam os
homens em áreas onde os homens estão atrasados. O script de “igualdade” é
empregado pelas mulheres quando atende a seus interesses, mas muitas
adotam um tom mais punitivo quando se trata de remover os grilhões dos
pescoços dos homens. Afinal, os homens merecem suas desvantagens por
oprimir as mulheres. Homens nascidos após o feminismo da segunda onda
são punidos pelos supostos pecados de seus antepassados ​há muito tempo
falecidos.
Embora profeministas de Keen a Kimmel intitulam as mulheres com os
objetivos mais nobres e inocentes de busca pela igualdade, a verdade é que as
mulheres não são boas nem más. Elas são simplesmente primatas do sexo
feminino, que, como o macho da espécie, se unirão e moldarão as coisas ao
seu gosto, se tiverem a oportunidade. As mulheres estão em emergência e
não têm a intenção de fazer alterações que possam comprometer seus
avanços. Irão errar por precaução e garantir que sejam sempre um pouco
mais iguais que os homens sempre que isso realmente interessar. Não porque
as mulheres são más, mas porque elas servirão seus próprios interesses
primeiro.

Existe um conceito dentro do "movimento dos homens" conhecido como


"Homens Seguindo Seu Próprio Caminho" (MGTOW). É um conceito feminista
no sentido de que o manifesto da MGTOW geralmente reconhece os direitos
das mulheres de votar e fazer o que elas querem e não buscam restabelecer o
patriarcado. O movimento MGTOW encoraja mais ou menos os homens a
servirem seus próprios interesses imediatos e a fazerem o que quiserem
também. É um movimento descentralizado que aconselha os homens a
trabalhar contra as leis feministas que favorecem as mulheres ou penalizam
injustamente os homens. [21] A ideia básica é simplesmente: “você segue o
seu caminho e eu seguirei o meu.”

Embora relativamente poucos homens reconheçam a sigla MGTOW, é verdade


que muitos jovens estão “seguindo seu próprio caminho”. E é exatamente com
isso que feministas como Rosin, Kimmel, Garcia, Romano, Doupkil, Gabler e
Hymowitz têm se preocupado. Embora sempre haja exceções - os ascetas e os
meninos passivos e herbívoros [22] "bonobo"-jovens criados por mulheres,
processados ​através de um sistema educacional favorável a feministas, que
veem que as mulheres provavelmente têm melhores perspectivas do que eles
e que foram dispensados ​das responsabilidades associadas ao patriarcado,
não veem razão para trabalhar para ajudar as mulheres a conseguirem o que
desejam, especialmente em uma sociedade que aspira à “igualdade” entre os
sexos. Como Rosin e outros promovem um futuro em que as meninas são,
pela primeira vez, mais desejáveis ​que os meninos, eles devem ver a irritação
de pedir aos homens que se empolguem com a velocidade do arado.

Os rapazes estão se tornando cínicos e desconfiados de um sistema projetado


para favorecer todos, menos eles. Palestras ofensivas dos agentes da cultura
da diversidade que dizem aos jovens que estão simplesmente reagindo a uma
perda de “privilégio” certamente não os inspiram a investir em um futuro em
que tenham ainda menos "privilégio" - especialmente se parece provável que
isso no futuro “privilegiará” todo mundo.

Os rapazes que não vêem motivo para investir no futuro estão fazendo o que
sempre fizeram: estão pensando em curto prazo e aceitando tudo o que
podem obter no presente.

Mark Simpson cunhou o termo “metrosexual” em um ensaio de 1994, “Here


Come the Mirror Men”, para descrever um crescente narcisismo masculino
evidente pelas tendências de consumo nos países ocidentais. Esses homens
também estavam “seguindo seu próprio caminho” - trabalhando, comprando
roupas da moda e se arrumando para atrair mulheres (ou homens) em virtude
de suas aparências, em vez de sua virilidade, suas realizações ou sua
capacidade de prover economicamente. Simpson pensou que esses
“homens-espelho” eram mais propensos a se apaixonar por si mesmos do que
por uma mulher. [23]

Esses rapazes descobriram que bom visual e aparência rica não é tudo de que
precisam para transar. Pegue artistas e defensores do “jogo” como os autores
pseudônimos do popular blog Citizen Renegade (agora “Heartiste”)
aconselham os homens a tirar vantagem da psicologia evolucionária e
parecerem ser “alfa” - um líder de grupo primitivo - ao lidar com mulheres . Os
defensores do “jogo” dizem que um homem pode jogar dentro de um
casamento ou de um relacionamento de longo prazo, mas geralmente têm
uma visão negativa das chances de um homem casado ter bem-estar e
realização - especialmente bem-estar financeiro e satisfação sexual. [24] O
jogo como estratégia sexual parece ser voltado para fornecer gratificação de
curto prazo para homens e mulheres, mas também para evitar a miséria de
longo prazo. Como meu colega W.F. Price da The Spearhead escreveu: não há
mais esposas - ou pelo menos há muito poucas. Mulheres jovens não crescem
mais se preparando para a vida cotidiana de casadas, elas crescem planejando
suas carreiras, seus guarda-roupas e seus casamentos fantasiosos de
Cinderela. [25]

Também houve mudanças na economia sexual que satisfazem os interesses


sexuais de curto prazo dos rapazes. Como Tiger observou, os
anticoncepcionais disponíveis mudaram quase tudo. As mulheres têm mais
cartas na manga em termos de opções de longo prazo. Os rapazes sabem que
uma mulher grávida pode optar por abortar ou não independente da opinião
dele, e ela pode exigir pensão alimentícia se decidir manter seu bebê. Se ele
escolheu fazer o investimento de longo prazo em uma família, ele sabe que
uma mulher - as mulheres iniciam a maioria dos divórcios - pode deixá-lo e
exigir pensão alimentícia a qualquer momento. Mas quando se trata de obter
gratificação sexual de curto prazo, desde que o controle da natalidade seja
empregado, “o 'preço' de mercado do sexo é atualmente muito baixo.’’ [26] No
passado, o sexo antes do casamento tinha altos custos sociais (especialmente
para mulheres) e os custos sociais do parto fora do casamento eram ainda
maiores. No entanto, agora que o sexo antes do casamento se tornou uma
norma, os anticoncepcionais estão amplamente disponíveis e as mulheres
jovens são mais propensas a ser financeiramente bem-sucedidas ou
autossuficientes, elas podem se dar ao luxo de exigir menos compromisso de
longo prazo dos homens em troca de sexo. Se elas exigirem mais, haverá
outras meninas que exigirão menos e elas serão eliminadas do mercado. De
acordo com um artigo recente na Slate, é exatamente isso o que está
acontecendo, especialmente em campi universitários onde há mais mulheres
do que homens. Essas jovens são “são mais negativas sobre os homens do
campus, têm opiniões mais negativas sobre seus relacionamentos, têm menos
encontros, são menos propensas a ter um namorado e recebem menos
compromisso em troca de sexo”. O estudo National Longitudinal Study of
Adolescent Health mostrou que o sexo acontecia mais cedo nos
relacionamentos, e que 30% dos relacionamentos “não envolvem nenhum
romance: sem namoro, sem encontros, sem nada.” [27]

Michael Kimmel observou tendências semelhantes no campus em seu livro


Guyland. Ele culpou os rapazes pelo fato de as moças terem enlouquecido -
“transando” promiscuamente em vez de namorar, porque é isso que os
rapazes querem. É interessante que, mesmo quando Kimmel alegou que as
mulheres jovens têm o mundo na corda, ele mais ou menos admitiu que elas
estão tão desesperadas por atenção masculina que ficarão alegremente
depravadas por isso. Kimmel validou a visão de mundo alfa vs. beta dos
teóricos do “jogo” quando escreveu:

“As mulheres sustentam Guyland porque Guyland parece ser habitada por
Rhett Butlers, e eles são muito mais legais do que os Ashley Wilkeses do
campus da faculdade - os caras que estudam muito, atenciosos aos seus
sentimentos e que as ouvem. Esses caras são um pouco nerds, bom para
amizade, mas eles não tiram o fôlego.”[28]

As ações e as palavras não ensaiadas das mulheres revelam que elas querem
algo diferente do que dizem que querem. Quando as mulheres conseguem os
homens justos, companheiros e que compartilham as tarefas domésticas que
as feministas dizem querer, elas zombam deles como “vadias da cozinha” e se
divorciam deles, como Sandra Tsing Loh fez em um artigo comicamente
não-refinado de misandria que escreveu para o The Atlantic sobre sua própria
decisão de se divorciar. Ela refletiu sobre uma solução bonobo para o
casamento em que "os homens/maridos/namorados apenas vêm uma ou
duas vezes por semana para montar prateleiras, preparar aquela bouillabaisse
ou fornecer sexo". [29] Hanna Rosin do famoso “The End of Men’ respondeu
com algumas confissões sobre o próprio marido, que ela temia ter sido
usurpada da cozinha por ele ter se tornado um excelente cozinheiro que
gostava de cozinhar para sua família. Sua solução feminista destruir um livro
de receitas e subir furiosa as escadas. Agora ela se apressa para ir para casa
depois do trabalho para fazer o jantar antes que seu marido, provavelmente,
para que ela possa se sentir mais como uma mulher. E seu marido, ela disse,
simplesmente “entendeu a mensagem” e “cedeu parte do território” de volta
para ela. [30]

Como os jovens, especialmente os jovens em grupos socioeconômicos


desfavorecidos, investiram menos esforços na educação e tornaram-se menos
interessados ​em seguir os tipos de carreiras que levam à prosperidade em
uma economia global, e como os tipos de trabalho de muitos homens têm
sido degradado ou exportado para países onde a mão de obra é barata, as
demandas de reciclagem para “reimaginar a masculinidade” tornaram-se cada
vez mais desesperadoras.

Ativistas anti-estupro e anti-violência, como Jackson Katz, vêm falando há anos


sobre o “paradoxo do macho” [31] e dizendo aos jovens como ele perpetua a
violência contra as mulheres. [32] A Organização Nacional de Homens Contra
o Sexismo (NOMAS) tem suas raízes na década de 1970. Ele conta com
“desaprender a agressividade” e “desaprender grandes partes do papel
masculino” entre seus princípios básicos [33], e afirma em seus princípios [34]
que “os homens podem viver como seres humanos mais felizes e realizados,
desafiando as velhas regras antiquadas de masculinidade.“

“Reimaginando a masculinidade” também tem sido um tema no movimento


masculino há algum tempo.

Enquanto os homens lutavam após o crash do boom imobiliário do início do


século 21 com o problema de menos empregos na construção aumentando o
prejuízo da fabricação terceirizada, demandas anteriormente ignoradas para
resolver a “crise de masculinidade” estavam finalmente sendo ouvidas por um
público mais amplo. Em 2010, uma Fundação para Estudos do Homem [35] foi
formada na tentativa de criar programas universitários para estudar a
condição masculina. Seu conteúdo promocional inicial parecia ecoar
preocupações tanto dos direitos dos homens quanto das comunidades
pró-feministas de que os homens são mais propensos a ir para a prisão,
cometer suicídio ou evitar procurar tratamento médico. Muitos ativistas
proeminentes dos direitos dos homens, concordando com as feministas que
antes eles identificavam como inimigas - bem como Bly e Keen antes o faziam
- agora acreditam que "a masculinidade tem, no que se refere às realidades
modernas, elementos corruptos, opressores e destrutivos que precisam
mudar." [36] Alguns estão posicionando os homens como um novo grupo
minoritário [37], um novo grupo de identidade social que afirma seus
interesses competindo por um lugar na mesa de reclamações ao lado de
outros grupos de identidade sexual, étnica, racial e religiosa.

As feministas não têm intenção de permitir que os homens concorram de


forma justa com as mulheres como um grupo de reclamação, e algumas
transformaram seus apelos para que os homens “reimaginem a
masculinidade” em uma ordem impaciente para os homens de que “virem
homens”. Os homens estão sendo informados de que é melhor eles saírem de
seu pavor e abandonar seus “scripts bolorentos” de masculinidade
rapidamente, porque o futuro globalista e feminista não está mais desejando
por eles. As mulheres estão progredindo, e se os homens precisam fazer
trabalhos femininos para ajudar as mulheres a sobreviver ou se tornarem pais
que ficam em casa para compensar uma mãe que trabalha, então as
feministas dizem que é assim que vai ter que ser. É melhor os homens
amarrarem os aventais e aprenderem a gostar.

A hipocrisia das feministas dizendo aos homens para “virarem homem” é a


que invoca todos os mesmos arquétipos masculinos antigos que aquelas que
tentaram reimaginar a masculinidade têm tentado pôr a cabo. Elas estão
tentando desajeitadamente aproveitar o poder da mesma cultura masculina
que desejam quebrar. Elas estão dizendo aos homens para provar sua
masculinidade, para depois dizerem que os homens não deveriam mais ter
que fazer isso. Elas estão vendendo aos homens a libertação dos códigos do
homens [38] e, em seguida, dizendo aos homens como eles devem se
comportar para serem considerados bons homens.
Com efeito, as feministas agora estão dizendo que um homem deve ser forte,
corajoso e até heróico em sua disposição de sacrificar seus próprios interesses
pelo bem da tribo. Vindo da boca das feministas, isso é grosseiro e
manipulador. Os homens podem até estar vacilando nos rankings
educacionais, mas não são burros. No passado, os homens fizeram grandes
sacrifícios por honra, glória e estima de seus colegas homens - sem falar nas
recompensas de espólio e mulheres. As feministas querem que os homens
envergonhem e abandonem a masculinidade ousada de seus antepassados
​por um tapinha na ombro e pelo privilégio de serem chamados de vadias da
cozinha.

Os reimaginadores da masculinidade não conseguiram se conectar com os


homens convencionais e estão destinados ao fracasso, enquanto se recusarem
a tratar os homens como indivíduos com interesses próprios. Seus modelos
reimaginados de masculinidade não conseguirão inspirar a maioria dos
homens contanto rejeitem ativamente a primazia natural da força na
hierarquia masculina das virtudes.

Osama bin Laden fez a famosa observação de que “quando as pessoas vêem
um cavalo forte e um cavalo fraco, por natureza, elas gostarão do cavalo
forte.” [39]

Todas essas “masculinidades reimaginadas” são cavalos fracos.

Chamar a si mesmo de selvagem não o torna selvagem, e todo mundo sabe


disso.

Os “ferozes cavalheiros” pacifistas e os “homens democráticos” estão


permitidos a falar duramente - eles podem dizer o que quiserem porque não
precisam temer represálias. Faladores impetuosos e fanfarrões civilizados de
ambos os sexos apenas podem falar impunemente o que pensam em uma
sociedade legalmente protegida por homens (e mulheres) armados contra a
ameaça de violência. Se a masculinidade pode ser reduzida a assertividade,
como afirmou Harvey Mansfield, ele estava certo ao dizer que Margaret
Thatcher era uma mulher viril. [40]

Se “virar homem” significa aceitar qualquer trabalho que você possa conseguir
para sustentar sua família ou trocar fraldas ou fazer o que as mulheres
querem que você faça, por que chamar isso de “virar homem” afinal? Por que
não chamar isso de “ser responsável” ou “ser obediente”? A escritora Amada
Hess estava correta quando observou que os apelos de Doupkil e Romano
para reimaginar a masculinidade meramente recodificaram a masculinidade
como uma outra forma qualquer personalidade. [41]

Reimaginar a masculinidade é um projeto de construção de autoestima para


homens impotentes e um projeto de construção da impotência para homens
com autoestima.

Para manter qualquer tipo de civilização, os homens têm que abrir mão de
uma certa parte de sua soberania pessoal. Os romanos usavam os fasces
como um símbolo do poder coletivo dos homens - um feixe de varas
amarradas a um machado, empunhado pelo Estado. Os homens concordam
em ceder alguma autonomia ao Estado pela promessa de segurança e ordem.
O Estado fornece um meio para os homens resolverem suas disputas e
substitui a violência desagradável, brutal e imprevisível do caos total por uma
dispensa ordeira da violência coletiva. O Estado se torna o machado.

No entanto, à medida que o Estado cresce, ele requer sacrifícios cada vez
maiores de poder pessoal para manter a ordem. Os homens fazem esses
sacrifícios com relutância, até que, com o tempo, o Estado ganhe poder
suficiente para exigir e fazer o que quiser, com ou sem o acordo da maioria
dos homens. Hoje, nossos líderes zombam abertamente de homens que não
desejam dar ao Estado o controle total sobre a vida e a morte. [42]

O desejo de reimaginar a masculinidade é um sintoma de escravidão. Os


homens deram virtualmente todo o seu poder ao Estado. Muitos países
europeus desarmaram seus cidadãos e os homens estão à mercê de Estados
que afirmam agir em prol de seus melhores interesses coletivos. Apenas um
século atrás, os homens se reuniram nas ruas para derrubar violentamente
governos corruptos. Hoje, a maioria dos americanos não poderia pensar em
fazer mais do que manter uma vigília à luz de velas. Muitos homens ocidentais
desistiram da propriedade individual, dos ofícios e de outras atividades que
oferecem a satisfação de uma autonomia e trocaram esse tipo de realização
por empregos massantes confortáveis, mas insatisfatórios, em grandes
corporações, onde os homens são meramente formigas e as mulheres,
trabalhadoras mais espertas. À medida que as mulheres ganham influência
política e financeira, os homens estão abrindo mão de sua soberania em casa,
tornando-se meros camponeses emasculados de rainhas caprichosas que
podem invocar o machado do Estado no momento em que se sentem
desafiadas ou ameaçadas. Um mero sussurro de uma mulher pode colocar
um homem em algemas e forçá-lo a confessar ou provar que é inocente até
das acusações mais insignificantes.

Feministas e socialistas se contentam em confiar ao Estado seus cuidados,


proteção e emprego. Chaftez admitiu que empregos provisórios teriam que
ser criados para facilitar sua utopia de gênero neutro, e ela fantasiou sobre
um mundo sem as armas que “muitos homens americanos se agarram” como
uma “expressão de sua virilidade”. [43]

Os reimaginadores da masculinidade perceberam, talvez inconscientemente,


que os homens ainda querem se sentir homens. Para agradar aos homens e
melhor adaptá-los a uma existência cativa e impotente, os reimaginadores se
encarregaram de decorar um pouco a gaiola. Eles tentaram fornecer
narrativas seguras que oferecem aos homens a sensação de expressar uma
virilidade virtual sem o perigo que ela representa para os interesses das
mulheres e para o status quo. Eles fizeram um brainstorm sobre maneiras de
capacitar os homens sem realmente lhes dar nenhum poder real. Para
apaziguar o homem, ofereciam-lhe apenas as masculinidades servis mais
compatíveis com os interesses das mulheres.
É verdadeiramente profundo que, quando os reimaginadores da
masculinidade se prepararam para vender suas masculinidades domesticadas
ao homem comum, mesmo eles não puderam imaginar uma maneira de
apelar a eles sem recorrer à linguagem desafiadora de coercao dos grupos
masculinos, o vocabulário primário da violência ou por apelando para seu
desejo de demonstrar força, coragem, maestria e senso de honra.

Referências Bibliográficas originais em inglês.

[1] Saltzman Chaftez, Janet. Masculine, Feminine or Human? 2nd ed. Itasca:
Peacock Publishers, 1978. 221-58. Print.

[2] Ibid. 246.

[3] Garcia, Guy. The Decline of Men. N.p.: HarperCollins e-books. Loc. 4332.
Kindle.

[4] Stevenson, Seth. “The Believer.” New York Magazine. 9 July 2007. Web. 24
Feb. 2011. http://nymag.com/news/features/34454/

[5] Garcia, Guy. The Decline of Men. N.p.: HarperCollins e-books. Loc. 4436.
Kindle.

[6] Wrangham, Richard, and Dale Peterson. Demonic Males : Apes and the
Origins of Human Violence. New York: Mariner Books/Houghton Mifflin
Company, 1996. 172. Print.

[7] Keen, Sam. Fire in the Belly. Bantam Books, 1992. 35-48, 88-111. Print.

[8] Keeley, Lawrence H. War Before Civilization. Oxford University Press, 1996.
2338. Kindle.

[9] Kimmel, Michael S., ed. The Politics of Manhood : Profeminist Men Respond
to the Mythopo’s Metic Menovement (And the Mythopoetic Leaders Answer).
Temple University Press, 1995. Print.

[10] Ibid. 272.

[11] Bly, Robert. Iron John. Vintage Books. 1992. 2. Print.

[12] Ibid. 25.

[13] Ibid. 8.

[14] Ibid. 182.


[15] Ibid. 179.

[16] Keen, Sam. Fire in the Belly. Bantam Books, 1992. 112-122, 152-185. Print.

[17] Kimmel, Michael. Manhood in America : A Cultural History. The Free Press.
1996. 316-321. Print.

[18] Ibid. 333.

[19] Ibid. 334, 335.

[20] Vonnegut, Kurt. “Harrison Bergeron.” National Review. 16 Nov. 1965. Web.
26 Mar. 2011.
http://www.nationalreview.com/nroriginals/?q=MDllNmVmNGU1NDVjY2IzODB
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[21] “MEN GOING THEIR OWN WAY ver. 2.2.” Men For Justice. N.p., 9 May 2006.
Web. 13 Mar. 2011.
http://menforjustice.net/cms/index.php?option=com_content&task=view&id=5
&Itemid=4

[22] Otagaki, Yumi. “Japan’s “herbivore” men shun corporate life, sex.” Reuters.
N.p., 27 July 2009. Web. 13 Mar. 2011.
http://www.reuters.com/article/2009/07/27/us–japan–herbivores–idUSTRE56Q
0C220090727

[23] Simpson, Mark. “Here Come The Mirror Men.” Independent 15 Nov. 1994
[UK] . Web. 13 Mar. 2011.
http://www.marksimpson.com/pages/journalism/mirror_men.html

[24] Chateau . “Game And Life Trajectory.” Citizen Renegade. N.p., 24 Feb.
2011. Web. 13 Mar. 2011.
http://heartiste.wordpress.com/2011/02/24/game-and-life-trajectory/(Updated
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[25] Price, W.F. “Stop Looking For a Wife: You Won’t Find One.” The Spearhead.
N.p., 8 Oct. 2010. Web. 21 Mar. 2011.
http://www.the–spearhead.com/2010/10/08/stop–looking–for–a–wife–you–wo
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[26] Regnerus, Mark. “Sex Is Cheap.” Slate. 25 Feb 2011. Web. 16 Mar. 2011.
http://www.slate.com/id/2286240/pagenum/all/#p2

[27] Ibid.

[28] Kimmel, Michael. Guyland. 2008. HarperCollins e-books. Loc. 4447. Kindle.

[29] Tsing Loh, Sandra. “Let’s Call the Whole Thing Off.” The Atlantic July 2009.
Web. 20 Mar. 2011.
http://www.theatlantic.com/magazine/archive/2009/07/let-8217-s–call–the–wh
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[30] Rosin, Hanna. “Rise of the Kitchen Bitch.” Slate. N.p., 15 Dec. 2009. Web.
20 Mar. 2011. http://www.doublex.com/section/life/rise–kitchen–bitch

[31] Katz, Jackson. The Macho Paradox : Why Some Men Hurt Women And How
All Men Can Help. 2006. Sourcebooks, Inc. Print.

[32] Katz, Jackson. Tough Guise : Violence, Media and the Crisis in Masculinity.
Media Education Foundation. 1999. Video.

[33] “Tenets.” nomas.org (National Organization for Men Against Sexism,


official site). N.p., n.d. Web. 19 Mar. 2011. http://www.nomas.org/tenets

[34] “Principles.” nomas.org (National Organization for Men Against Sexism,


official site). N.p., n.d. Web. 19 Mar. 2011. http://www.nomas.org/principles

[35] The Foundation for Male Studies. N.p., n.d. Web. 19 Mar. 2011.
http://www.malestudies.org/index.html

[36] Elam, Paul. “The Plague of Modern Masculinity.” A Voice for Men. N.p., 17
July 2010. Web. 19 Mar. 2011.
http://www.avoiceformen.com/2010/07/01/the–plague–of–modern–masculinit
y/

[37] Ellison, Jesse. “Are Men The New Minority?” Newsweek 29 Sept. 2010.
Web. 19 Mar. 2011.
http://education.newsweek.com/2010/09/29/the–new–minority–on–campus–
men.html

[38] Schwyzer, Hugo. “How Men’s Rights Activists Get Feminism Wrong.” The
Good Men Project. N.p., 8 Mar. 2011. Web. 19 Mar. 2011.
http://goodmenproject.com/ethics–values/how–the–mens–rights–activists–get
–feminism–wrong

[39] “Transcript of Osama bin Laden videotape.” CNN.com. CNN, 13 Dec. 2001.
Web. 19 Mar. 2011.
http://articles.cnn.com/2001-12-13/us/tape.transcript_1_bin–shaykh–al–bahra
ni–diplomatic–language–services?_s=PM:US

[40] Mansfield, Harvey C. Manliness. 2006. Yale University Press.

[41] Hess, Amanda. “Newsweek’s “the new macho”: It’s the new “person”!” TBD.
21 Sept. 2010. Web. 20 Mar. 2011.
http://www.tbd.com/blogs/amanda–hess/2010/09/newsweek–s–the–new–mac
ho–it–s–the–new–person–2051.html

[42] Kuhnhenn, Jim. “Obama says some voters are angry, bitter.” USA Today
(Associated Press). 12 April 2008. Web. 26 Mar. 2011.
http://www.usatoday.com/news/topstories/2008-04-11-3235435230_x.htm

[43] Saltzman Chaftez, Janet. Masculine, Feminine or Human? 2nd ed. Itasca:
Peacock Publishers, 1978. 257. Print.
Deturpando a Masculinidade

“A MAIORIA DOS QUARENTA E NOVE POR CENTO.”

Nas últimas décadas, muitos tentaram reimaginar a masculinidade. As


pessoas perceberam que, apesar dos apelos das feministas para que se
abandonem completamente os conceitos de gênero, e apesar - como veremos
- da crença firmemente arraigada entre os cientistas sociais de que os papéis
sexuais eram meramente enredos sociais aprendidos, homens e mulheres
ainda mantinham identidades sociais separadas. Os homens estavam
particularmente preocupados em serem percebidos pelos outros como
masculinos ou másculos, e em evitar o estigma emasculante da efeminação.
Mulheres e homens feministas continuam a achar isso confuso. Ao terminar
uma série de estudos que interligam as exibições de agressividade à
manutenção da identidade masculina, a pesquisadora Jennifer K. Bosson
admitiu recentemente à revista Time:

“Quando eu era mais jovem, ficava incomodada com meus amigos homens
que se recusavam a segurar uma bolsa ou dizer que achavam outro homem
atraente. Achei que fosse uma deficiência pessoal que eles estivessem
inseguros com sua masculinidade. Agora sinto muito mais simpatia pelos
homens...” [1]

O artigo, escrito por uma mulher, tinha o título condescendente de


“Masculinidade, uma flor delicada”. A pesquisadora disse que os homens
estavam "inseguros" e as descobertas indicaram que os homens eram mais
propensos a se envolver em exibições de agressividade quando sua condição
de homens era "ameaçada". Isso é característico da forma como a
masculinidade é patologizada na mídia moderna. A preocupação com o status
e a identidade masculina - o que eu chamaria de honra - são apresentados
como um curioso atraso masculino que impede seu progresso na marcha para
a felicidade utópica feminista pós-moderna. Quando os homens se afirmam,
quando defendem sua honra, quando “se erguem” e demonstram força,
coragem e maestria - eles são retratados como farsantes inseguros, medrosos,
desesperados e fracos.

Se os homens são fracos e inseguros, então, estão assim em comparação com


que padrão? Em comparação com as mulheres, que gastam bilhões a cada ano
em cosméticos, moda, truques para perder peso, cirurgia plástica, livros de
autoajuda, psicoterapia, antidepressivos e a espiritualidade por
correspondência de gurus como Benny Hinn, Deepak Chopra e Oprah
Winfrey?

Isso vem acontecendo por muito tempo. Esse tipo de posicionamento


tendencioso é evidente na maioria dos artigos, estudos e livros que tratam da
masculinidade. John Wayne morreu em 1979, e dois dos icônicos Marlboro
Men morreram de câncer no início dos anos 1990, mas esses clichês irritantes
feministas ainda estão gravados em efígies em praticamente todos os artigos
de opinião anti-masculinidade convencionais.

Para entender melhor O Caminho dos Homens, é importante entender como


os homens e a masculinidade têm sido caricaturados e deturpados por
aqueles com uma agenda ideológica. Para entender como as feministas
entendem mal os homens, é útil entender sua percepção dos homens. De
onde vêm suas idéias sobre a masculinidade tradicional? Quais são seus
pressupostos de trabalho sobre masculinidade, feminilidade e papéis sexuais?
Também é útil ser capaz de separar a escrita ponderada sobre masculinidade
de tantos refrões impensados.

Em seu livro de 1976, The Forty-Nine Percent Majority, o psicólogo


comportamental e co-fundador do NOMAS [2] Robert Brannon montou um
modelo folclórico da masculinidade americana com o único propósito de
desmontá-lo. Brannon afirmou que o papel do sexo masculino na sociedade
americana do século XX tinha quatro dimensões, ou temas básicos.

Sem maricagem: O estigma de todas as características e qualidades


femininas estereotipadas, incluindo abertura e vulnerabilidade.
A Grande Roda: Sucesso, status e a necessidade de ser respeitado.

O Carvalho Robusto: Um ar viril de resistência, confiança e


autossuficiência.

Give ‘Em Hell!: A aura de agressividade, violência e coragem.[3]

O The Forty-Nine Percent Majority está fora de circulação, mas a lista de


Brannon continua influente. Michael Kimmel, que é considerado por muitos o
maior especialista em estudos masculinos, reproduziu ou se referiu com
reverência à lista de Brannon na maioria dos livros que escreveu sobre o
estudo do gênero. O livro de 2009 de Kimmel, Guyland, também incluiu a lista.
As quatro dimensões do papel do sexo masculino de Brannon foram
discutidas em uma ampla gama de livros, estudos e artigos recentes sobre
estupro, esportes, transexualidade, psicoterapia, homossexualidade,
educação, paternidade, bullying, Alzheimer, enfermagem, raça e vida cristã. [4]
Embora comparativamente poucas pessoas tenham lido o livro, a lista “Sem
Maricagem” de Brannon continua a moldar as ideias populares e acadêmicas
sobre masculinidade. Depois de ler o ensaio introdutório de Brannon e folhear
The Forty-Nine Percent Majority, é notável que cada argumento, cada
manchete “polêmica” e cada ”novo” estudo sobre masculinidade vindo do
campo pró feminista será lido como texto reciclado da década de 70. É um dos
textos básicos dos estudos masculinos pró feministas.

O The Forty-Nine Percent Majority foi uma coleção de ensaios editados por
Brannon e pela socióloga Deborah S. David. O ensaio introdutório do livro, no
qual a lista “Sem Maricagem” aparece, foi intitulado “O Papel do Sexo
Masculino: o blueprint da masculinidade de nossa cultura e o que tem ele tem
feito para nós ultimamente.” Brannon e David escreveram que, na tentativa de
definir o papel do sexo masculino, eles estava “essencialmente definindo uma
nova área de estudo”. [5] Brannon é normalmente creditado com o ensaio
“Blueprint”, e é parcialmente autobiográfico, então eu irei referir-me apenas a
ele como seu autor por uma questão de brevidade. Outros contribuintes de
The Forty-Nine Percent Majority incluíram os feministas Warren Farrell (O Mito
do Poder Masculino), Kate Millet (Política Sexual, Os Documentos da
Prostituição), Lucy Komisar, Marc Feigen Fasteau (A Máquina Masculina) e Jack
Sawyer (Sobre a Libertação Masculina).

Brannon começou com o conceito de papel social no que se refere ao teatro.


O papel vem do francês, ou seja, o rolo de papel em que o papel de um ator é
escrito (equivalente ao script). Ele ofereceu o papel de Hamlet como exemplo.
Brannon então definiu o papel social como “qualquer padrão de
comportamento que um determinado indivíduo em uma
determinada(conjunto de) situação(ões) é: (1)esperado e (2)encorajado e/ou
treinado para executar.” [6] Um papel é distinto de um estereótipo, porque um
indivíduo pode ou não ser encorajado ou esperado que cumpra um
estereótipo.

Brannon afirmou que ele e “outros jovens cientistas sociais” na época


acreditavam que a “resposta mais promissora para a maioria das perguntas
sobre o comportamento humano” não seria encontrada estudando história
antiga ou biologia, mas estudando os “padrões sociais invisíveis, mas quase
irresistíveis de pressão que molda e direciona o comportamento de cada
homem e de cada mulher.” [7]

Embora Brannon não tenha lidado explicitamente com o dilema criação versus
natureza, sua ênfase no aprendizado de papéis o coloca profundamente no
campo de criação com a antropóloga Margaret Mead. Na verdade, Brannon
baseou seu argumento de “Blueprint” na importância dos papéis aprendidos
para a determinação de comportamentos diferentes entre os sexos no estudo
de Mead sobre três sociedades primitivas na Nova Guiné: os Arapesh, os
Mundugumor e os Tchambuli. As caracterizações de Mead dos papéis sexuais
nessas sociedades, conforme revelado mais tarde, eram falhas ou
totalmente erradas.

De acordo com a leitura de Brannon sobre Mead, tanto os membros


masculinos quanto femininos da Arapesh tendiam a ser passivos, cooperativos
e pacíficos e sua cultura tendia ao comportamento feminino como um todo.
Brannon deixou de notar que Reo Fortune, que era casada com Mead e
estudou o Arapesh com ela na Nova Guiné, caracterizou o Arapesh de maneira
bem diferente. Em seu artigo de 1939 “Guerra de Arapesh”, Fortune explicou
que, embora uma grande parte da guerra tenha sido suprimida pela ocupação
alemã de suas terras, os Arapesh mantinham uma longa tradição de roubo de
esposas. Esse costumava ser o principal objetivo de seus conflitos violentos.
Os velhos da tribo se gabavam de suas matanças na guerra em tempos mais
violentos e, se não tinham nenhuma, gabavam-se de seus recordes de caça. A
Fortune rejeitou a afirmação de Mead de que os Arapesh esperavam e exibiam
temperamento semelhante nos sexos. Os homens Arapesh até pareciam
manter, como os homens num todo costumam fazer, uma hierarquia de
masculinidade dentro de seus clãs. Fortune escreveu:

“…podemos citar o provérbio, aramumip ulukwip nahaiya; aramagowep


ulukwip nahaiya, “Os corações dos homens são diferentes; os corações das
mulheres são diferentes”, e também a existência de uma classe de homens
chamados aramagowem, que significa “mulheres do sexo masculino” ou
homens efeminados. A classe de aramagowem é uma classe com designação
definida, com funções específicas, que recebe menos comida e de qualidade
inferior nas festas e lugar de subordinação. O homem chamado Djeguh,
mencionado em nossos relatos de campo sobre facções e guerra, era, por
exemplo, um aramatokwin, “mulher do sexo masculino” (forma singular de
escrita de aramago-wem). Ele nunca foi considerado ter covardia na guerra.
Ele era, no entanto, sem habilidade nas danças masculinas, oratória, liderança
econômica e em sua compreensão. Ele foi considerado pelo escritor muito
reticente e quieto.” [8]

Mead também descartou a ideia dos alfas arrogantes e mandões das aldeias -
os “grandes homens” - como sujeitos abnegados que, embora não estivessem
realmente predispostos a esse tipo de assertividade, tinham que fingir ser
“homens grandes” para o bem da comunidade. Em 2003, depois de visitar o
próprio país de Arapesh, o antropólogo Paul Roscoe revisou o trabalho de
Mead and Fortune. Ele escreveu que Mead “entendeu errado” e que Fortune
“descreveu com mais precisão a guerra de Mountain Arapesh”. [9] Os
primeiros revisores observaram que vários detalhes do próprio relato de
Mead sobre os Arapesh parecem invalidar sua conclusão colorida de que eles
eram pessoas pacíficas, e vários outros antropólogos concordaram que Mead
retratou os Arapesh incorretamente. [10]

Tanto os homens quanto as mulheres de uma tribo vizinha, os Mundugumor,


são descritos por Brannon (via Mead) como agressivos e beligerantes. Não há
nada particularmente notável em encontrar uma tribo de pessoas guerreiras.
O ponto relevante aqui é que os machos e as fêmeas da tribo foram
retratados como igualmente agressivos. Seria preciso manter um senso
ingênuo e inócuo das coisas para conceber que as mulheres são não-violentas
por natureza. Na verdade, o YouTube e os reality shows frequentemente nos
fornecem exemplos de mulheres que se comportam de forma bárbara. Não
precisamos voar para a Nova Guiné para observar mulheres violentas. As
mulheres são claramente inatas e capazes de agressão. Os membros
masculinos e femininos da tribo Mundugumor eram igualmente agressivos?
Dados todos os outros dados disponíveis sobre humanos e outros primatas,
bem como a tendência de Mead de ver as coisas como ela desejava ver, é fácil
entender sua afirmação como uma interpretação mais subjetiva.

Para apoiar sua teoria de que papéis sexuais culturalmente determinados são
os principais responsáveis ​pelas diferenças de comportamento entre homens
e mulheres, Brannon cita a pesquisa de Mead sobre o povo Tchambuli. Os
machos Tchambuli são descritos como sendo “sensíveis, artísticos,
fofoqueiros, amantes de adornos e emocionalmente dependentes”. De acordo
com Brannon e Mead, esperava-se que as mulheres Tchambuli fossem
“competentes, dominadoras, práticas e eficientes”, além de serem
sexualmente agressivas. Deborah Gewertz fez um trabalho de campo com os
Tchambuli, ou Chambri (como ela se referiu a eles) em 1974 e 1975. Ela
observou em um artigo de 1981 sobre o assunto que “(na literatura de estudos
femininos) as mulheres Chambri alcançaram o status de ícones por causa de
seus papéis significativos e dominantes em suas aldeias.” Sua percepção das
relações de gênero entre os Chambri era um pouco diferente do que Mead viu
anos antes, e ela suspeitava que o que Mead havia testemunhado era um nível
reduzido de competição entre os homens Chambri devido a influências
históricas e econômicas temporárias. Quando Mead os estava observando, os
homens Chambri haviam perdido recentemente uma guerra e a tribo estava
no exílio. As mulheres Chambri acabaram pescando muito e, portanto,
exerciam temporariamente mais influência econômica. Os homens estavam
ganhando tempo e procurando maneiras de restabelecer o domínio na região.
Foi através do esforço de pesca das mulheres que os homens conseguiram
restabelecer sua condição entre as tribos vizinhas. [11]

A avaliação de Gewertz é particularmente interessante à luz das mudanças de


poder econômico que estão acontecendo entre homens e mulheres nos
Estados Unidos. Homens e mulheres não são intercambiáveis, e seus papéis
sociais não são as únicas causas significativas de seus comportamentos
diferentes, mas eles podem ocasionalmente trocar de funções para ajudar uns
aos outros em tempos difíceis ou incertos. Há alguns anos, trabalhei como
entregador junto com um sujeito robusto e competente que acabou decidindo
ficar em casa com os filhos porque sua esposa ganhava muito dinheiro como
enfermeira, enquanto seu salário mal cobria os custos da creche. Fazia mais
sentido para ele ficar em casa, e quase certamente seus filhos estavam em
melhor situação por terem o pai por perto. Ele não era um homem afeminado
em qualquer medida, mas alguém pode se perguntar quais afirmações
fantasiosas Mead ou Brannon poderiam ter criado sobre a flexibilidade dos
papéis sexuais se tivessem estudado sua família.

Como Gewertz aludiu, na década de 1970, a pesquisa de Mead havia se


tornado extremamente popular nos círculos feministas por conta do que
parecia implicar sobre a natureza humana e a relação entre os sexos. Com
base em sua interpretação das culturas Arapesh, Mundugumor e Tchambuli,
Mead concluiu em 1935 que:

“Muitos, senão todos, os traços de personalidade que chamamos de


masculino ou feminino estão tão levemente ligados ao sexo tanto quanto as
roupas, os modos e a forma de adorno que uma sociedade em um
determinado período atribui a ambos os sexos.” [12]

Mead fez os papéis sexuais parecerem tão superficiais e arbitrários quanto a


moda, e pode-se facilmente imaginar a influência que isso pode ter exercido
sobre ideólogos feministas como Brannon. Como vimos acima, no entanto, as
descrições de Mead das tribos que a levaram a tirar esses tipos de conclusões
poderiam ser caridosamente descritas como "incompletas". Como esta é a
base declarada para a crença de Brannon de que os papéis sexuais são quase
totalmente aprendidos - e podem, portanto, ser desaprendidos ou reformados
completamente - sua concepção do papel sexual masculino é deixada em um
terreno extremamente instável. À medida que mais pessoas estudam as
sociedades sobre as quais Mead escreveu, os padrões de papéis sexuais
dentro desses grupos se tornam cada vez mais familiares.

De acordo com Derek Freeman, o crítico mais notório e persistente de Mead, a


pesquisa questionável de Margaret Mead desempenhou um papel
fundamental na mudança do zeitgeist antropológico, no início do século XX, do
determinismo biológico para o determinismo cultural. No final do século XIX,
o trabalho de Charles Darwin parecia validar suspeitas há muito sustentadas e
um tanto razoáveis sobre a importância da hereditariedade na determinação
do comportamento humano. O homem há muito cria animais e sabe que os
animais têm certos temperamentos e características físicas que podem ser
transmitidos à geração seguinte. Grupos de humanos pareciam ter
características físicas e comportamentais hereditárias também, então não era
um exagero imaginar que o futuro de uma população humana poderia ser
controlado auxiliando o processo de seleção natural por meio da reprodução
seletiva.

O estudo da eugenia [13] - “o comando próprio da evolução humana” -


tornou-se popular e as leis eugênicas foram aprovadas tanto na Europa
quanto nos Estados Unidos. Sir Francis Galton, o pai da eugenia, declarou em
1873 que, “quando a natureza e a criação competem pela supremacia em
termos iguais”, a natureza sempre se mostra mais forte. [14] Os biólogos
evolucionistas Richard Wrangham e Dale Peterson referiram-se ao
enquadramento de Galton do duradouro debate “natureza vs. criação” como
“Erro de Galton,” porque as forças da natureza e criação estão sempre
interagindo nos humanos. [15]

Foi durante o auge do acalorado debate natureza versus criação, no entanto,


que Margaret Mead atingiu a maioridade. De acordo com Freeman, o mentor
de Mead, Franz Boas, estava procurando evidências convincentes para
substanciar sua crença de que o “estímulo social” tinha uma influência muito
maior sobre o comportamento humano do que “o mecanismo biológico”.
Quando Mead foi para Samoa aos 23 anos para estudar a adolescência de lá,
ela estava procurando uma “caso negativo” - um relato conflitante que
refutasse uma generalização de longa data sobre o comportamento humano.
Nesse caso, a generalização que ela esperava refutar, oferecendo apenas uma
única exceção, era a crença de que a adolescência era um período difícil.
Buscando esse caso negativo, Mead publicou um artigo sobre a sociedade
samoana, que minimizava as fontes de tensão e conflito e retratou o estilo de
vida samoano como caracterizado pela relativa facilidade. [16] Seu exemplo de
Samoa foi elogiado por Boas, imediatamente se tornou um best-seller e desde
então se tornou a favorita dos defensores da liberdade sexual e do feminismo
em todo o mundo. Além disso, a influência de sua pesquisa e sua ênfase em
casos negativos que pareciam provar a importância da criação sobre a
natureza é evidente no ensaio "Blueprint" de Brannon.

Freeman observou que Mead foi “negada a entrada às reuniões tribais”


porque ela era uma mulher e “não tinha participação na vida política de Ta'aū”.
Ela morava com uma família de hospedeiros ocidentais em uma casa ocidental
e conduziu a maior parte de sua pesquisa entrevistando meninas. [17]
Freeman, citando suas próprias observações em primeira mão da vida política
de Samoa e as observações de muitos homens que visitaram a ilha no século
anterior, caracterizou os samoanos como competitivos, ciumentos, orgulhosos
e obcecados por posição. Estranhamente, Mead retratou os samoanos como
um povo pacífico e tranquilo que não tinha deuses da guerra, que não
estimava a bravura e que não dava um lugar especial na sociedade ao
guerreiro. Metade dos deuses pagãos samoanos eram, na verdade, deuses da
guerra, e os samoanos tinham uma longa história de massacrar -
possivelmente até canibalizar - uma grande porcentagem de seus rivais. Os
homens de Samoa acreditavam que era uma grande honra morrer em
batalha. O poder político foi dado àqueles que conquistavam ou mostravam
bravura em batalha. Quando Freeman repetiu as citações de Mead sobre
guerreiros não ocupando nenhum lugar de importância na sociedade
samoana para um homem samoano de alto escalão, ele ficou irado. [18]

As falhas na pesquisa de Mead não haviam sido totalmente reveladas no


momento em que Brannon escreveu The Forty-Nine Percent Majority. No
entanto, assim como Mead, as teorias de Brannon se baseavam em ilusões. A
pesquisa de Mead foi aceita porque disse a certas pessoas - pessoas como
Brannon - o que elas queriam ouvir sobre a natureza humana e gênero. A
descrição de Brannon do papel do sexo masculino e a ideia de que seu roteiro
pode ser reescrito completamente se baseia no pensamento fantasioso de
Mead e agrada as feministas porque é fundamental para o conceito de uma
sociedade neutra em termos de gênero.

O rígido determinismo biológico de Galton ultrapassou a realidade e foi usado


para justificar as leis eugênicas que às vezes eram desnecessariamente cruéis
ou baseadas em suposições errôneas. A ênfase no determinismo cultural
rígido defendido por Mead, Boas e Brannon nutre outro tipo de arrogância e é
empregada por entusiasmados engenheiros sociais para justificar seus
programas e políticas charlatanescas. A abordagem tradicional tem sido
reconhecer a natureza humana como propensa à perversão e maldade e criar
soluções sociais que restringem ou redirecionam os aspectos de nossa
natureza que tornam a vida civilizada impossível. Os humanos são animais
sociais e o jeito humano sempre foi buscar um equilíbrio entre a natureza e a
criação.

Existem papéis sexuais masculinos?


Claro que sim.

As particularidades do papel do sexo masculino variam de cultura para


cultura, devido a diferenças na economia, religião, recursos, avanço
tecnológico, clima, fatores históricos e inúmeras idiossincrasias e influências
culturais?

Claro que sim.

No entanto, Mead e Brannon rejeitaram a importância das influências


biológicas na formação desses papéis. Os papéis sexuais culturalmente
determinados influenciam, sem dúvida, a maneira como homens e mulheres
se comportam. O erro de Brannon - e o erro de seus muitos herdeiros
ideológicos que tentaram, repetidas vezes, reimaginar a masculinidade - foi
retratar os papéis sociais sexuais como muito importantes. Todas as culturas
têm “roteiros” diferentes para os sexos, mas os roteiros não podem ser
simplesmente reescritos do zero. Para pegar um exemplo do ensaio de
Brannon, muitos atores interpretaram e encenaram o papel de Hamlet. O
papel foi reescrito e adaptado e muitas versões diferentes foram produzidas.
Mas você só pode brincar um pouco com o papel - algo significativo deve
permanecer do personagem original para que possamos reconhecer a
semelhança. Depois de um certo número de desvios, o personagem não é
mais Hamlet.

As tentativas de compreender a masculinidade apresentam um paradoxo


“Navio de Teseu”. O Navio de Teseu foi preservado como um monumento
pelos atenienses por muitos anos e, de acordo com o relato de Plutarco, os
atenienses substituíram as velhas pranchas, à medida que se deterioraram,
com madeira nova e mais resistente. Ele observou que “este navio tornou-se
um exemplo permanente entre os filósofos, para a questão lógica das coisas
que crescem; um lado defendia que o navio permanecia o mesmo, e o outro
defendia que não era o mesmo.”
Qualquer script servirá, desde que seja atribuído a machos biológicos e
cuidadosamente ensinado a eles? Se não, quantas partes podem ser
substituídas ou trocadas antes que o que reconhecemos como masculinidade
não seja mais reconhecível? Uma viga resistente pode ser substituída por uma
prancha podre?

A maioria dos antropólogos reconhece rapidamente a importância histórica


do trabalho pioneiro de Mead e suas contribuições para o campo da
antropologia, mas está claro que ela não conseguiu encontrar um "caso
negativo" com relação aos papéis sexuais. Ninguém mais também. Conforme
listado em Human Universals de Donald Brown, [19] identifica-se o seguinte
como normas para homens:

Normas interculturais para homens em sociedades humanas [20]

● Macho e fêmea; adulto e criança, vistos como tendo naturezas


diferentes.

● Os homens dominam a esfera pública/política.

● Os homens se envolvem em mais violência de coalizão.

● Homens mais agressivos.

● Homens mais sujeitos à violência letal.

● Homens mais sujeitos a roubo.

● Os machos, em média, viajam distâncias maiores ao longo da vida.

É simplesmente devido a um papel sexual arbitrariamente determinado - um


roteiro que pode ser reescrito do zero - que as pessoas em todo o mundo
compartilham algumas das mesmas idéias básicas sobre os homens?

Antes de revisarmos o conteúdo da lista de Brannon em si, há outra lista que


encontrei que coloca muitas discussões sobre papéis sexuais e masculinidade
em perspectiva. Pode ser considerada uma lista definitiva, porque não está
restrita a tempo, lugar ou cultura. Não é nem uma “lista de desejos”
detalhando como alguém acha que os homens devem se comportar, nem um
diagnóstico. O biólogo evolucionário Randy Thornhill e o antropólogo cultural
Craig T. Palmer criaram uma lista de previsões, com base na teoria da
evolução, para mamíferos machos “com uma história de maior seleção sexual
em machos do que em fêmeas.” [21]

Predições Comparativas para Mamíferos Machos, em Espécies onde a


Seleção Sexual é maior em Machos [22]

● Os machos serão maiores do que as fêmeas.

● Mais machos do que fêmeas serão concebidos e nascerão.

● Os machos morrerão mais jovens do que as fêmeas, como resultado de


um mau funcionamento fisiológico.

● Os machos se envolverão em atividades mais arriscadas no contexto da


obtenção de parceiros do que as fêmeas.

● Os machos terão mortalidade mais alta do que as fêmeas como


resultado de causas externas, como combates, doenças e acidentes.

● Os machos exibirão uma agressão mais generalizada do que as fêmeas.

● Mais frequentemente do que as fêmeas, os machos se envolverão em


uma escalada de agressão violenta que leva a lesões e até à morte.

● Os machos pré-adultos se envolverão em brincadeiras mais


competitivas e agressivas do que as fêmeas pré-adultas.

● Os machos serão menos exigentes e mais ávidos para copular com as


fêmeas do que vice-versa.

Como mencionado anteriormente neste livro, a teoria evolucionária prevê


que, como o esforço parental das fêmeas humanas é muito maior do que o
dos machos, haverá mais competição entre machos humanos para acessar
esse esforço e os machos serão selecionados em parte por suas habilidades
de superar outros machos na competição por oportunidades de
acasalamento. Para os humanos que vivem em sociedades complexas, o
processo de seleção é muito mais complicado do que simplesmente ter a
força e a coragem necessárias para superar os inimigos em um combate corpo
a corpo ou alcançar um status mais elevado dentro de uma hierarquia de
grupo, mas para a maior parte da evolução humana a história, a fortuna - e as
mulheres - favoreciam os fortes e os ousados.

Agora, vamos dar outra olhada na lista de Brannon.

Três de seus quatro slogans piegas contêm conselhos que são, de uma
perspectiva evolucionária, bastante sólidos e em consonância com as
previsões listadas acima.

A Roda-Gigante: Sucesso, status e a necessidade de ser respeitado.

O Carvalho Robusto: Um ar viril de resistência, confiança e


autossuficiência.

Give ‘Em Hell!: Aura de agressividade, violência e coragem.

Brannon apresentou esses temas como parte de um roteiro arbitrário, um


papel que a sociedade encoraja os homens a desempenhar, uma fachada falsa
que os homens devem fingir para “conseguir”. Um dos descendentes
intelectuais de Brannon, o ativista pró-feminista anti-estupro Jackson Katz, se
referiu a isso como um “disfarce casca-grossa” e fez carreira culpando a mídia
por promover imagens de masculinidade violenta. De um ponto de vista
evolucionário, os slogans de Brannon são simplesmente interpretações
populares de conselhos sólidos para homens que querem vencer o jogo
evolucionário. Em termos simples, A Roda-Gigante, O Carvalho Robusto e
Give ‘Em Hell! de Brannon, são mensagens que dizem aos homens para
almejar um status elevado dentro do grupo masculino e demonstrar força,
coragem e competência.

Sem maricagem: O estigma de todas as características e qualidades


femininas estereotipadas, incluindo abertura e vulnerabilidade.
Brandon listou “Sem maricagem” como a primeira dimensão do papel do
sexo masculino. Ele observou corretamente que, embora as mulheres se
identifiquem naturalmente com suas mães, porque ambas são do mesmo
sexo, em algum ponto os homens buscarão modelos masculinos para moldar
suas identidades. Em seguida, ele deu vários exemplos de como homens e
mulheres repreendem os meninos quando estes se comportam como
meninas e como os homens se esforçam para evitar serem vistos como
efeminados. Ele empregou a tática padrão de adotar uma prática bastante
inócua que era culturalmente atribuída às mulheres e, em seguida, fazer os
homens parecerem neuróticos por não quererem se envolver com algo tão
inofensivo. Um exemplo foi um jogador de futebol americano de 110 quilos a
quem foi perguntado se ele estava preocupado em parecer um “maricas”
porque gostava de bordar em seu tempo livre. Em um clássico e barato
reductio ad Hitlerum, Brannon então forneceu uma citação de Adolf Hitler,
explicando por que ele não queria uma esposa que fosse excessivamente
inteligente. A insinuação, é claro, era que qualquer homem que estivesse
preocupado com sua própria reputação como homem - com a honra
masculina - estava moralmente alinhado com Adolf Hitler. [23]

É verdade, como a Sra. Bosson acima “descobriu”, que os homens às vezes


evitam atividades que parecem triviais, simplesmente porque estão
associados a mulheres ou homens afeminados. Apontar isso é uma maneira
fácil de fazer os homens e a masculinidade parecerem absurdos ou ridículos.
Ao fazer coisas que estão fora de sincronia com o papel do sexo masculino, os
homens de hoje costumam brincar que estão “seguros sobre sua
masculinidade”, então não se preocupam com isso. Ironicamente, esta é
geralmente uma estratégia que os homens empregam para dispersar as
críticas e competir uns com os outros. É uma forma de se gabar dizendo: “Eu
tenho tanto excesso de credibilidade como homem que não preciso me
preocupar com pequenas infrações do código dos homens.” A necessidade de
reconhecer a infração implica em um reconhecimento do código e uma
indicação de que o homem em questão está, de fato, pelo menos um pouco
desconfortável em quebrá-lo. Dizer que você não se preocupa em quebrar
códigos de masculinidade é uma forma indireta de desafiar seus pares e
fazer-se parecer corajoso e invencível, enquanto faz os outros parecerem
amedrontados e vulneráveis.

Os códigos culturais de masculinidade podem ser idiossincráticos, singulares,


porque acumulam referências e associações por longos períodos de tempo - e
não é incomum que os homens evitem comportamentos ou atividades sem
realmente saber o porquê. Por exemplo, não há nada particularmente
masculino ou feminino em lavar a louça. Homens engajados nas atividades
mais masculinas, mais arriscadas e exclusivamente masculinas - como em
navios baleeiros, no exército, na fronteira - lavam suas próprias xícaras e
pratos. No entanto, em lares de casados, as mulheres tradicionalmente
acabam realizando este trabalho, então há uma associação cultural
persistente que considera lavar a louça como um “trabalho de mulher”. Isso é
um pouco bobo, e a maioria dos homens reconhece isso, mas poucos homens
se gabariam de que sempre lavam a louça - pelo menos não para seus amigos
homens.

Brannon reclamou que os homens evitam a abertura emocional e a


vulnerabilidade, mas ele falhou em reconhecer ou mesmo considerar as
vantagens táticas óbvias de ser seletivo com quem compartilhar suas lágrimas.
Em The Forty-Nine Percent Majority, Warren Farrell (que mais tarde escreveu
O Mito do Poder Masculino) desenvolveu sobre o tema. Ele caracterizou os
homens de sua época como sendo “emocionalmente incompetentes” e
“emocionalmente constipados” e associou a resistência masculina ao choro
em público com a resistência passiva à integração negra entre brancos. Farrell
escreveu que os homens criam uma “mística masculina” escondendo suas
emoções e teorizou que seríamos melhor policiados e governados se nossos
líderes homens chorassem e admitissem seus fracassos abertamente. Ele
ingenuamente - quase infantilmente - perguntou se as pessoas questionariam
a capacidade de um homem de liderar outros homens, ou uma nação, caso
ele parecesse ser emocionalmente vulnerável. [24] No ensaio que se seguiu,
Jack O. Balswick e Charles W. Peek se referiram melodramaticamente ao
“homem inexpressivo” como uma “tragédia da sociedade americana”, mas não
conseguiram articular por que o estoicismo confiante do cowboy John Wayne
ou a aura playboy do James Bond eram tão “trágicos”. [25]

Como tantos outros homens feministas, os escritores que David e Brannon


escolheram para apresentar em The Forty-Nine Percent Majority repetiam os
sentimentos das mulheres, sem pensar criticamente sobre por que os homens
se comportam dessa maneira. Se as mulheres fossem “livres” para chorar em
público, assim diz a lógica, os homens seriam “mais livres” se chorassem em
público também. A palavra “vulnerabilidade” adquiriu um certo prestígio nos
mundos ginocêntricos do pensamento feminista, mas para a maioria dos
homens, permanece o que sempre foi - um eufemismo técnico para fraqueza.
Expor “vulnerabilidade” aos homens é como rolar e mostrar a barriga em
rendição como assim o fazem os cães. Não é positivo. É algo que você faria
apenas perto de alguém em quem você confia completamente. As mulheres
têm o hábito de, em meio a discussões acaloradas, utilizar como argumento e
ataque vulnerabilidades emocionais dos homens, bem muitos homens foram
humilhados por desnudar suas almas. Mesmo no contexto de um
relacionamento privado, muitos homens têm bons motivos para evitar
mostrar às mulheres ou aos homens as coisas que realmente os afetam.

Se você olhar para a vulnerabilidade da perspectiva de uma hierarquia de


grupo, torna-se óbvio por que os homens não querem expor suas
vulnerabilidades publicamente e por que os homens se distanciam de homens
que são obviamente vulneráveis. Chorar é perfeitamente natural. É uma
admissão perfeitamente natural de derrota, exaustão emocional, medo ou
impotência. Um homem “vulnerável” é um elo fraco. Ele mostra que vai
quebrar sob pressão ou que está sujeito à manipulação. Taticamente, isso é
um problema para o grupo e, como resultado, ele vai perder status dentro do
grupo. Homens que parecem inabaláveis, no entanto, fazem o grupo parecer
imbatível. Faz todo o sentido que os homens queiram se aliar a homens fortes
que podem fazer sua parte e que não desonram o grupo. De uma perspectiva
primordial, a desonra é um perigo. Deveria ser óbvio o porquê um grupo de
homens competindo com outros grupos de homens pela sobrevivência
prefere parecer forte, corajoso e competente.

Toda essa postura primitiva pode parecer absurda, digamos, em um escritório


ou andando pelo shopping, mas o status ainda importa. Enquanto a mídia
popular às vezes pinta uma fantasia feminista do que suas mulheres mais
privilegiadas e bem-sucedidas querem dos homens (geralmente ainda se trata
de recursos e amaciar o ego), os homens observam, ainda assim, as mulheres
selecionando a partir de termos de status elevado ou aparência de status
elevado sempre. [26] Assim como muitas meninas se esforçam para entrar nas
panelinhas mais populares e excluir as outras, faz sentido que os homens
procurem aumentar seu status participando de grupos de homens de alto
status. Mesmo o homem de menor status em um grupo de homens de alto
status tem uma chance melhor de conseguir um rabo de saia do que se
tentasse sozinho, mas o jogo de acasalamento é apenas parte da equação. Ser
membro de um grupo de alto status confere muitos benefícios, incluindo
acesso a desejáveis redes de network, recursos e proteção.

Parece um pouco colegial? Possivelmente. A maioria concordaria, porém, que


uma boa maneira de se tornar mais bem-sucedido é cercar-se de pessoas
bem-sucedidas.

Evitar “maricagem” não é apenas sobre o desejo de se diferenciar da mãe e


encontrar uma identidade distinta entre os homens - embora certamente seja
isso também. “Sem Maricagem” é uma advertência para os rapazes que os
afasta de comportamentos aparentemente submissos, influências e interesses
que podem prejudicá-los - e podem fazer com que pareçam vulneráveis -
enquanto competem e se socializam com outros homens. Se você está
teoricamente tentando ser escolhido por uma mulher, como homem, por que
correria o risco de ser confundido com uma mulher, em vez de tentar provar
que está entre os melhores homens? Por que você não se anunciaria como um
homem exemplar?
Ao lançar o jargão evolucionário, é importante lembrar que, à medida que os
humanos evoluíram, eles desconheciam os processos evolutivos. Mesmo
agora que estamos cientes da teoria da evolução, não jogamos
conscientemente o jogo da evolução. A seleção sexual simplesmente moldou
nossos corpos e nossos impulsos para nos dar vantagens táticas no ambiente
primitivo. A tecnologia e a complexidade de nossa civilização atrapalharam
muitas das variáveis, mesmo que nossos cérebros primatas permaneçam
essencialmente os mesmos.

Por exemplo, meu melhor amigo é um pensador estratégico e mecânico com


inteligência média ou acima da média. Ele é um lutador natural - grande,
rápido, forte e atlético. Ele não precisa fazer um show para exalar uma aura de
confiança, dureza, agressão, violência ou coragem. Na verdade, ele precisa
fazer um esforço consciente para camuflar todas essas qualidades apenas
para se encaixar em uma sociedade civilizada. A maioria dos homens
simplesmente permite que ele domine uma conversa, mesmo que ele
claramente não tenha ideia do que está falando. Ele tem todas as
características de um caçador, a ponto de, mesmo aos trinta anos, mal
conseguir ficar parado e precisar estar ativamente engajado em algum tipo de
tarefa desafiadora para evitar cair em uma pequena e inquieta depressão.

Meu amigo absolutamente não tem nenhum “game”. Mulheres bonitas ​e


atraentes pedem o número dele e lhe enviam fotos provocantes e semi-nuas
diretamente para seu telefone. Eu vi isso acontecer várias vezes. Eu vi as fotos
e as mensagens de texto desesperadas. Tudo o que ele precisa fazer é
aparecer em um bar, relaxar e deixar a natureza seguir seu curso. Em um
ambiente primitivo, na ausência do controle de natalidade, ele teria uma
ninhada considerável de mini-monstros. Ironicamente, como ele pode
escolher as mulheres mais atraentes, ele frequentemente acaba namorando
strippers que usam implantes mamários grandes. Suas mamas
tecnologicamente aprimoradas provavelmente enganam seu cérebro primitivo
fazendo-o pensar que são ideais para amamentar seus filhos. O jogo da
evolução - que ele foi projetado para vencer - continua levando seus genes a
uma falsa vitória e a um beco-sem-saída evolutivo. Devido às peculiaridades
disgênicas de nosso mundo muito novo e moderno, ele é um alfa natural que
está sendo descartado do pool genético. Eu sempre brinquei com ele que, no
que diz respeito à evolução, ele está sendo derrotado por um contador
mórmon fraco e doente que cria oito filhos em algum lugar em Utah.

O ponto aqui não é dizer que precisamos realinhar nossa sociedade para se
adequar às circunstâncias primordiais em todos os sentidos, ou instituir algum
tipo de programa de eugenia. É simplesmente para dizer que o papel do sexo
masculino, aproximadamente como Brannon o descreve, perdura porque é
consistente com a forma como nossa espécie evoluiu, e a ideia de que
podemos simplesmente reescrever o roteiro do zero ou repensar o papel do
sexo masculino completamente para atender às preferências das ideologias
da moda é um absurdo. A aparente desmotivação dos homens na sociedade
contemporânea é um resultado direto das tentativas de ignorar a história e a
evolução e reimaginar a masculinidade de uma forma que é inconsistente com
a natureza humana.

Eu escrevi que Brannon montou seu modelo folclórico de masculinidade com


o único propósito de desmontá-lo. Brannon não estava tentando entender os
homens tanto quanto tentava mudá-los. Fiz questão de caracterizar sua lista
como “folclórica” e “piegas” porque acho que construir o livro The Forty-Nine
Percent Majority em torno de uma coleção de slogans desatualizados e bobos
foi intencional ou pelo menos conveniente para seus objetivos. Em vez de
tentar entender por que os homens se comportam da maneira que agem, ou
investigar por que os homens na maioria das culturas [27] parecem
reverenciar a força, coragem, competência e grupos de status elevado,
Brannon caricaturou as virtudes masculinas, falhou em compreender os
benefícios em aspirar e ser mais masculino, focava nos perdedores nas lutas
hierárquicas masculinas e retratava os homens como marionetes sem noção
que estavam simplesmente sendo manipulados por um roteiro desatualizado.

“…Como os políticos inseguros que decidiram “aguentar firme” no Vietnã,


como os executivos movidos por úlceras em seus escritórios revestidos de
painéis, como os líderes jovens de gangues, os jovens soldados em My Lai, os
ambiciosos gurus da contracultura, os estupradores frequentes e insensíveis,
e os silenciosos Walter Mitty que apenas sonham... cada um de nós dançou os
passos paralisantes, e ainda estamos dançamos. Só recentemente começamos
a descobrir as cordas invisíveis que nos comoveram por tanto tempo, a sentir
seus puxões silenciosos em nossas fantasias, julgamentos e medos. Só
podemos imaginar vagamente como seria o mundo se pudéssemos de alguma
forma desligar a música, cortar as cordas dos papéis sexuais e descobrir a nós
mesmos.” [28]

Essa estratégia de “zombar do espantalho pobre, equivocado, obsoleto e


inseguro” tornou-se a tática padrão do movimento masculino pró-feminista. A
feminista Tony Doupkil, em seu segundo artigo de ataques contra os homens
para a Newsweek, referiu-se aos homens modernos como “Homens Brancos
Encalhados”.

Mais de trinta anos depois de Brannon, homens feministas ainda não


conseguem fazer muito mais do que apontar e rir de suas próprias caricaturas
sarcásticas de homens e recomendar que os homens abandonem os “roteiros
mofados de masculinidade”. [30] Imagine um bando de caras que estão
presos cantando a mesma melodia. E, quando apresentado a novas evidências
da era pós-Margaret Mead de biólogos evolucionistas, essa melodia soa muito
como “Blá, blá, blá, blá, blá, não consigo ouvir você!” Quando Michael Kimmel
foi convidado recentemente pelo The New York Times para discutir diferenças
inatas entre os sexos, ele descartou o assunto completamente e disse: “Esse
navio zarpou - é um assunto fechado.” [31]

Kimmel surgiu com sua própria versão da lista de Brannon - chamada de “The
Guy Code” - para seu livro de 2009, Guyland.

“Guy Code” de Kimmel (2009) [32]

● “Meninos não choram”;

● “É melhor ficar bravo do que triste”;


● “Não fique bravo - vingue-se”;

● "Encare isso como um homem";

● “Aquele que tem mais brinquedos quando morre, ganha”;

● “Just Do It” ou “Ride or Die”;

● "Tamanho importa";

● “Eu não paro para pedir direções”;

● “Caras bonzinhos terminam em último”;

● “Tá tudo bem”.

Como Brannon, Kimmel criou uma lista de “epigramas atuais” que


apresentavam as preocupações masculinas básicas sobre status, força,
coragem e competência como um punhado de clichês idiotas de garotos de
fraternidade que ele foi capaz de facilmente escrever para seus leitores. O
espantalho de Kimmel era o “gurizão”, um menino crescido obcecado por
coisas que realmente não importam. Pelo menos, eles não importam para
Kimmel e às jovens frustradas que prefeririam que os jovens “rapazes” fossem
obcecados por carreiras bem pagas, construir uma casa, casar-se e começar
uma família (feminista).

Kimmel zombava dos garotos de fraternidade que, apesar de sua aparente


inépcia, conseguem continuar frustrando suas supermães feministas de
amanhã. A lista original de Brannon tem um toque mais patricida. Brannon
admitiu no ensaio “Blueprint” que seu avô era um homem da fronteira “rude e
bruto” conhecido por matar infratores da lei, e seu pai era uma estrela do
futebol e lenhador. Ele então se descreveu como um fracote absorto de 40
quilos, que tentou, mas falhou, ser um homem de acordo com os padrões de
seus colegas e dos homens de sua família.

A lista de Brannon é claramente uma lista dos valores de seu pai, expressos
nas palavras que os homens da geração de seu pai teriam usado. Seus slogans
foram selecionados para apertar o botão do “papai não me ama” e despertar
sentimentos de ressentimento e insegurança em seus leitores. The Forty-Nine
Percent Majority, é por si só uma coleção de ensaios repleta de um vocábulo
de adolescente invejoso da era do Vietnã, tão típico de baby boomers
mimados e petulantes. O feminismo de Brannon é uma crítica
passivo-agressiva da masculinidade de seu pai e dos ídolos masculinos de
uma geração maior. Sua paródia crítica da masculinidade americana de
meados do século XX e sua dissecação de suas contradições é em parte uma
tentativa de superar seus colegas zombeteiros e ancestrais que o
desaprovariam.

Yukio Mishima, que também escreveu sobre ter sido um fraco quando jovem,
disse o seguinte sobre homens como Brannon:

“O cinismo que considera cômico o culto ao herói é sempre sombreado por


um sentimento de inferioridade física.” [33]

Embora isso não seja verdade para todos os homens feministas (Jackson Katz
se apresenta como uma ex-estrela do futebol americano), aparentemente é
verdade para Kimmel e Brannon, e seus trabalhos continuam a ser
extremamente influentes no campo dos estudos masculinos.

Esse impulso para castrar e desacreditar o herói-alfa-pai é uma tentativa


abstrata dos homens de baixo status para aumentar ou recuperar o status por
meios intelectuais. O pária sensível e estudioso grita “Sua masculinidade é
falsa e você é uma fraude!” e então corre para os braços de mulheres
solidárias que cuidam de suas feridas emocionais e habilmente exploram suas
vulnerabilidades expostas, ou para um gueto de outros homens rejeitados.

O pária, ômega ou homem de baixo status que abandona “The Guy Code” e os
“temas” da masculinidade idolatra as mulheres porque as mulheres
impetuosas são os contrapontos dos alfas. Em sua história sobre seu pai,
Brannon foi rápido em apontar que sua mãe desprezou seu pai por não ser
um "homem de verdade" depois que ele falhou em chutar a porta dela abaixo
durante uma briga noturna.

Essa atração vingativa por mulheres fortes e deusas-vadias castradoras


encontra sua expressão máxima no campo gay. O escritor gay Daniel Harris
descreveu a adoração de divas gays como um “esporte de espectador
esmagador no qual se assiste ao triunfo das artimanhas femininas sobre as
vontades masculinas” e descreve as divas como um “corretivo terapêutico
[para os próprios gays] da masculinidade altamente comprometida”. [34]

O movimento masculino pró-feminista tem muito em comum com o


movimento gay e os dois são aliados desde os anos 1970. Kimmel parece ter
buscado a aprovação de superestrelas feministas como Gloria Steinem tanto
quanto os gays de sua geração queriam estender a mão e para tocar a de
Diana Ross. A superioridade intelectual dos homens feministas tem um
análogo no espalhafatoso “esteticismo do desajustamento” burguês dos gays.
[35] Juntos, eles formam uma evisceração vingativa dos filisteus ineloquentes
e musculosos que lhes davam cuecão e os faziam se sentir como baitolas. [36]

Este “argumento do fracasso” foi um dos três principais argumentos


apresentados repetidamente contra “o banimento positivo de nossa cultura
para a masculinidade” no The Forty-Nine Percent Majority. Brannon escreveu:

“Ninguém menos do que Átila, o Huno, poderia ter cumprido esse papel o
tempo todo; éramos todos perdedores. Mas acreditamos nos valores e
normas que nos tornaram perdedores, os reforçamos e os impusemos aos
outros ”.

Brannon estava essencialmente dizendo que, porque nenhum homem


incorpora todas as virtudes masculinas o tempo todo, todos os homens são
fracassados em serem homens, então os homens deveriam parar de ferir a si
mesmos e uns aos outros ao sustentar um ideal impossível. Esse argumento
pressupõe que os custos sofridos pelos homens ao deixar de incorporar um
ideal impossível são sempre maiores do que os benefícios totais acumulados
como resultado do esforço dos homens para provar sua masculinidade. Não
há uma maneira real de medir esses lucros e perdas abstratos. De qualquer
forma, avaliar os dados sempre nos levará de volta à pergunta: “o que é bom?”
A história de um grande herói vale mil corações partidos e ciumentos? Os
homens são melhores para esse esforço coletivo do que seriam de outra
forma?

O argumento do fracasso é, até certo ponto, um exemplo da “falácia da


solução perfeita”, em que o “perfeito” se torna inimigo do “bom”. O argumento
do fracasso pressupõe que, para um papel ser bom, alguém em algum lugar
deve ser capaz de cumprir esse papel o tempo todo. É um pouco como dizer
aos cristãos que eles não devem se preocupar em tentar ser mais semelhantes
a Cristo, porque eles nunca serão realmente Cristo. Para os cristãos, Cristo é
uma forma perfeita no sentido platônico. Ele é a personificação do que eles
identificaram como qualidades ideais. Eles não esperam se tornar Cristo, mas
sentem que, imitando-o da melhor maneira possível, eles se tornam pessoas
melhores. Pode-se concordar ou discordar dos valores que atribuem a Cristo,
ou não crer em Cristo, mas o conceito básico de se melhorar por meio da
imitação imperfeita é o que importa aqui, porque os homens estão
essencialmente imitando o que acreditam ser a Forma Perfeita do Homem.
Todos os homens acumulam uma contagem de “pecados”, deficiências e
quase-erros. Os sentimentos são sofridos ao longo do caminho porque nem
todos os homens são igualmente capazes de imitar esta Forma Perfeita. Isso
não configura críticas válidas às próprias virtudes masculinas.

Podemos chamar isso de “A Falácia da Forma Impossível”.

Essas virtudes masculinas devem ser consideradas em seu próprio termo, não
descartadas porque nenhum homem pode ser a personificação completa dos
ideais masculinos todos os dias de sua vida.

É melhor para um homem ser aberto ou prudente?

É melhor para um homem ser vulnerável ou invulnerável?

É melhor para um homem ter um status de grupo alto ou baixo?


É melhor para um homem ser bem-sucedido ou mal sucedido?

É melhor para um homem ser duro ou delicado?

É melhor para um homem ser confiante ou apreensivo?

É melhor para um homem ser autossuficiente ou dependente?

É melhor para um homem ser agressivo ou passivo?

É melhor para um homem ser violento ou não-violento?

É melhor para um homem ser corajoso ou temeroso?

Cada uma dessas perguntas pode ser feita de forma independente e as


“melhores” respostas variam de acordo com a disposição filosófica de cada
um e a situação em questão. Poderíamos falar nas vozes-mestres de Yoda e
chegar a respostas inesperadas e lentas. Poderíamos citar exceções às regras
gerais e casos de “bom demais para ser verdade”. Mas se nos referirmos à
lista de predições para mamíferos machos em que a seleção sexual é maior
nos machos, veremos que muitas dessas virtudes masculinas estão associadas
a diferenças biológicas entre os sexos, e “a norma positiva de nossa cultura
para a masculinidade” incentiva comportamentos que ajudaram os homens a
competir com sucesso contra outros homens. Nosso ideal masculino herdado
é o conselho severo, mas sensato, de nossos antepassados. É a “criação”
trabalhada em harmonia com a “natureza”.

O segundo argumento feito contra o papel do sexo masculino caricaturado


por Brannon era que esse conselho não era mais válido - o argumento de que
“masculinidade não é mais necessária”. Há algo a ponderar nesse argumento.
O filósofo Nassim Nicholas Taleb escreveu recentemente que, “O oposto de
masculinidade não é covardia; é tecnologia ” [37]

The Forty-Nine Percent Majority contém um ensaio do sociólogo John H.


Gagnon intitulado “Força física: foi útil uma vez”. Gagnon argumentou que,
embora os jogos esportivos dos meninos ainda produzam hierarquias sociais
baseadas na força física e destreza, na idade adulta a força física e a destreza
têm pouco valor econômico devido aos avanços da tecnologia. Isso
provavelmente é ainda mais verdadeiro agora do que em 1976. Depois de
passar cinco anos carregando esteiras e halteres escada acima para as
academias domésticas dos ricos - para que eles pudessem “entrar em forma” -
estou bem ciente de que trabalho duro não compensa bem como
neurocirurgia.

Gagnon argumentou que em nações industrializadas complexas, a força não


justifica as hierarquias patriarcais de forma tão convincente como costumava
ser. A “qualidade cerebral” da guerra moderna, ele imaginou, era
personificada pelo aleijado louco de Kubrick, o Dr. Strangelove. Isso foi um
pouco exagerado. A guerra moderna ainda é extremamente exigente
fisicamente. Os soldados geralmente precisam carregar suas poderosas armas
automáticas em terrenos difíceis. O estilo “Estado x guerrilheiro insurgente ou
terrorista” dos conflitos atuais ainda faz com que um futuro próximo de
guerra apenas de apertar botões de mísseis pareça improvável.

Nas “economias do conhecimento” do Primeiro Mundo, é verdade de modo


geral que as virtudes marciais (virtus, para os primeiros romanos) de nossos
ancestrais podem prejudicar um homem. Defender sua honra provavelmente
o levará à prisão. Os homens já encontram-se cumprindo pena por brigas,
quanto mais duelos. Poucos homens ganham a vida decentemente com o
trabalho físico. Mesmo setores como a construção são tão altamente
regulamentados e cuidadosamente administrados por advogados e
seguradoras acarretando que aplicações ousadas de força e agilidade são
desencorajadas, e os funcionários-destaques usam suspensórios e coletes
laranja brilhantes que dizem “SEGURANÇA EM PRIMEIRO LUGAR”.

Este é o mundo em que vivemos, embora também seja verdade que as nações
ricas dependem fortemente do trabalho arriscado e árduo de homens que
vivem em países mais pobres. Ainda assim, devemos ter cuidado ao não
confundir "moderno" com "melhor" ou "permanente". Nosso arranjo
contemporâneo é melhor? Se sim, para quem? Cui bono, a quem beneficia? É
permanente? As coisas sempre serão assim? Os homens nunca mais
precisarão ser fortes ou corajosos? Se abandonarmos as virtudes masculinas
que caracterizaram o papel do sexo masculino em toda a história humana,
quem se oferecerá para arriscar sua vida para nos proteger dos homens que
não abandonaram essas virtudes? Embora seja da natureza humana os
homens, ou pelo menos uma parte deles, desejar conflito e risco, eles
aceitarão correr esses riscos se forem desprezados por isso - se tudo o que
oferecermos a eles for um cheque de pagamento? Os homens assistem a
programas de televisão sobre os poucos homens que sobraram que ainda
fazem trabalhos perigosos e sujos, por mera curiosidade ou porque
secretamente odeiam sua própria fraqueza e suas vidas previsíveis e
protegidas como crianças, e fantasiam sobre fazer algo onde suas ações têm
significado e consequências imediatas?

O terceiro principal argumento contra o papel tradicional do sexo masculino é


que “a masculinidade causa danos colaterais inaceitáveis”. Homens
pró-feministas, por serem feministas, estão primeiramente preocupados em
como as mulheres foram machucadas, subjugadas ou incomodadas por
estruturas sociais patriarcais. As mulheres, em sua maioria, ganham muito
pouco com o resultado de conflitos violentos entre os homens e têm muito a
perder. Os homens ganham status, direito de se gabar e, pelo menos nos
velhos tempos, vários tipos de espólio. As mulheres corriam o risco de perder
seus meios de apoio e proteção e, pelo menos nos velhos tempos, corriam o
risco de ser estupradas, sequestradas e engravidadas por um novo “marido”.

E, no entanto, as mulheres frequentemente clamam por guerra, porque há


algo a ser dito sobre pertencer a um grupo de homens vitoriosos e de alto
status. Houve, por exemplo, o movimento das “plumas brancas” durante a
Primeira Guerra Mundial. Mulheres na Grã-Bretanha distribuíram plumas
brancas - simbolizando covardia - para homens que não estavam de uniforme,
e esta dificilmente foi a primeira ou a última vez que as mulheres instigaram
homens para a guerra. Mais recentemente, muitas mulheres americanas
exigiram vingança pela destruição do World Trade Center em 11 de setembro
de 2001. No nível interpessoal, a maioria dos homens está familiarizada com o
cenário em que uma mulher “preenche um cheque que ELE terá que pagar”.
Algumas mulheres são conhecidas por provocar conflitos entre homens,
disparando casualmente palavras de combate, insultos e desafios -
precisamente porque não são elas que devem lutar. As mulheres geralmente
podem ofender com impunidade.

Embora as mulheres às vezes criem problemas, é verdade que mulheres e


crianças muitas vezes têm sido vítimas de guerras e conflitos que não
iniciaram ou não desejaram. Isso é, reconhecidamente, injusto -
especialmente se você acredita que os sexos são basicamente intercambiáveis
e o que é bom para a pata é bom para o pato. Se você vir machos e fêmeas
como dois tipos ligeiramente diferentes de animais humanos com estratégias
reprodutivas concorrentes, então “justiça” e “igualdade” são objetivos
impossíveis. Em vez de tentar impor uma igualdade absoluta entre maçãs e
laranjas, a questão então se torna: “quão justo é o justo?”

Também é frequentemente argumentado que os próprios homens se tornam


o dano colateral de sua própria busca agressiva de status, mas essa linha de
pensamento nos leva de volta ao argumento do fracasso acima.

Apesar de todas dessas conversas, duvido que as pessoas realmente desejam


justiça, igualdade ou “paz”. Estratégias que visam colocar a paz e a igualdade
ao nosso alcance invariavelmente acabam por mover o machado da coerção
violenta das mãos de um grupo para as mãos de outro. Isso - e não a
“igualdade” - foi a conquista do feminismo. Pela primeira vez na história, pelo
menos nessa escala, as mulheres empunham o machado do estado sobre os
homens.

Os autores de The Forty-Nine Percent Majority acreditavam explicitamente


que as mulheres seriam mais adequadas para governar até que os homens
fossem curados de sua doença masculina e libertados do código penal do
papel do sexo masculino. Embora eles e seus herdeiros intelectuais se
posicionassem como especialistas em explorar um novo campo de estudo, a
expedição deles não foi em busca da verdade. Eles foram partidários
feministas desde o início, e suas caricaturas de deturpações da masculinidade
eram propaganda destinada a difamar os homens, banalizar a masculinidade
e valorizar as mulheres. Frequentemente, suas suposições básicas sobre a
flexibilidade dos papéis sexuais e da natureza humana eram baseadas em
uma antropologia desacreditada ou tendenciosa. Às vezes, seu trabalho era
unicamente uma recompensa intelectual por se sentirem inadequados no
mundo dos homens. Seus principais argumentos contra os modelos
tradicionais de masculinidade são subjetivos, falaciosos e unilaterais. Suas
conclusões estão em desacordo com a natureza humana e desalinhadas das
conclusões de biólogos evolucionistas e de uma avaliação transcultural dos
ideais masculinos ao longo da história.

Quando e onde a maioria dos homens não quis ser reconhecida por sua
força, coragem e sucesso?

Quando e onde os homens estiveram completamente despreocupados


com seu status entre os outros homens?

Quando e onde quiseram ser conhecidos como “maricas”?

Quaisquer respostas serão inevitavelmente referências desesperadas a grupos


de homens que são raros, separados e excetuados à regra.

Brannon acertou alguns dos temas básicos da masculinidade, mas eles não
são temas “americanos” e não estão vinculados a um determinado tempo ou
lugar. Eles podem ser isolados do ruído distorcido de sua argumentação e
então, universalizados.

O status de um homem como homem, sua identidade masculina - sua honra -


tem sido tão crítica para seu senso de autoestima que, ao longo da história
humana, inúmeros homens e mulheres trabalharam para moldar o “Modelo”
da masculinidade para refletir seus interesses e valores. O orgulho viril pode
ser o maior trunfo de um homem e sua maior fraqueza. As pessoas usam o
senso de si mesmo de um homem para manipulá-lo. Às vezes, “seja homem”
significa na maioria dos casos “faça o que eu quero que você faça”.

Os tipos de homens como Brannon jogam um jogo interessante. Eles sabem


que os homens se preocupam com sua reputação como homens. Eles sabem
que os homens querem ser vistos como fortes, por isso zombam deles e
dizem que é o desejo de força que os torna fracos. Os reimaginadores dizem
aos homens para reimaginarem a força.

É abandonar sua preocupação com a força ou reimaginar a força o melhor


interesse de um homem?

Depende do homem e do contexto. A resposta é filosófica, subjetiva e incerta.


O certo é que ao abandonar sua preocupação com a força ou ao
reimaginar a força, ele estará servindo aos interesses daqueles que lhe
pedem para que assim o faça.

Referências Bibliográficas originais em inglês.

[1] Melnick, Meredith. “Masculinity, a Delicate Flower.” Time 5 May 2011. Web.
24 May 2011.

Masculinity, a Delicate Flower

[2] “Leadership.” nomas.org (National Organization for Men Against Sexism,


official site). Web. 23 Apr. 2011. http://www.nomas.org/leadership

[3] David, Deborah S., and Robert Brannon, eds. The Forty-Nine Percent
Majority : The Male Sex Role. Philippines: Addison-Wesley Publishing
Company, 1976. 1-42. Print.

[4] A quick Google Books search for “Brannon Big Wheel Sissy” yielded over
200 references to Brannon’s list in various books and journals for popular as
well as academic audiences.

[5] David, Deborah S., and Robert Brannon, eds. The Forty-Nine Percent
Majority : The Male Sex Role. Philippines: Addison-Wesley Publishing
Company, 1976. vii. Print.

[6] Ibid. 5.

[7] Ibid. 3.
[8] Fortune, R.F. “Arapesh Warfare.” American Anthropologist 1.1 Jan. (1939):
22-41. JSTOR. Web. 25 Apr. 2011. http://www.jstor.org/stable/661720

[9] Roscoe, Paul. “Margaret Mead, Reo Fortune, and Mountain Arapesh
Warfare.” American Anthropologist 105.31 Sept. (2003): 581-91. JSTOR. Web. 26
Apr. 2011. http://www.jstor.org/stable/3566907

[10] Bashkow, Ira, and Lise M. Dobrin. “The Anthropologist’s Fieldwork as Lived
World: Margaret Mead and Reo Fortune among the Mountain Arapesh.”
Paideuma 53 (2007): 79-87. JSTOR. Web. 27 Apr. 2011.
http://www.jstor.org/stable/40341946

[11] Gewertz, Deborah. “A Historical Reconsideration of Female Dominance


among the Chambri of Papua New Guinea.” American Ethnologist, 8.11 Feb.
(1981): 94-106. JSTOR. Web. 27 Apr. 2011. http://www.jstor.org/stable/644489

[12] Margaret, Mead. Sex and Temperament: In Three Primitive Societies.


1935. Harper Perennial, 2001. 262. Print.

[13] Fun fact: εὐγενής, the Greek root of eugenics means well-born, of noble
race, of high descent. It is also the root of the name “Eugene.”

[14] Freeman, Derek. Margaret Mead and Samoa. N.p.: Harvard University
Press, 1983. 10. Print.

[15] Wrangham, Richard, and Dale Peterson. Demonic Males : Apes and the
Origins of Human Violence. New York: Mariner Books/Houghton Mifflin
Company, 1996. 95. Print.

[16] Freeman, Derek. Margaret Mead and Samoa. N.p.: Harvard University
Press, 1983. 82-94. Print.

[17] Ibid. 66-73, 131. Ta’aū, the largest island in American Samoa, was the
island she famously studied.

[18] Ibid. 157-173.

[19] Brown, Donald E. “Human Universals.” DePaul University, n.d. Web. 19


Feb. 2011. http://condor.depaul.edu/mfiddler/hyphen/humunivers.htm

[20]Ibid.

[21] Thornhill, Randy and Palmer, Craig T., A Natural History of Rape :
Biological Bases of Sexual Coercion. The MIT Press. 2000. 37-38. Print.

[22] Ibid. Note: Thornhill and Palmer’s list was a collection of predictions made
wide variety of scientists, who were cited in their original lists. Readers are
highly encouraged to purchase Thornhill and Palmer’s book, and investigate
those references themselves. MIT Press is encouraged to get with it and make
this excellent book available via Kindle, iPad, etc.
[23] David, Deborah S., and Robert Brannon, eds. The Forty-Nine Percent
Majority : The Male Sex Role. Philippines: Addison-Wesley Publishing
Company, 1976. 16. Print.

[24] Ibid. “The Politics of Vulnerability.” 51-54.

[25] Ibid. “The Inexpressive Male: A Tragedy of American Society.” 55-57.

[26] Some of the best non-mainstream media writing about the way sexual
selection plays out in real life can be found at http://roissy.wordpress.com/

[27] Even in Brannon’s time, it was known that the majority of cultures around
the world revered men who were strong, higher in status and courageous.
Mead’s “negative instances” caused a sensation precisely because they seemed
to be exceptions to a general rule.

[28] David, Deborah S., and Robert Brannon, eds. The Forty-Nine Percent
Majority : The Male Sex Role. Philippines: Addison-Wesley Publishing
Company, 1976. 42. Print.

[29] Doupkil, Tony. “Dead Suit Walking.” Newsweek 17 Apr. 2011. Web. 29 Apr.
2011. http://www.newsweek.com/2011/04/17/dead-suit-walking.html

[30] Romano, Andrew, and Tony Doupkil. “Men’s Lib.” Newsweek. 20 Sept.
2010. Web. 24 Feb. 2011.
http://www.newsweek.com/2010/09/20/why-we-need-to-reimagine-masculinit
y.html

[31] McGrath, Charles. “The Study of Man (or Males).” The New York Times 7
Jan. 2011. Web. 29 Apr. 2011.
http://www.nytimes.com/2011/01/09/education/09men-t.html

[32] Kimmel, Michael. Guyland. 2008. HarperCollins e-books. Kindle. Loc. 902.

[33] Mishima, Yukio. Sun and Steel. 1970. Trans. John Bester. Kodansha
International, 2003. 41. Print.

[34] Harris, Daniel. The Rise and Fall of Gay Culture. Ballantine Publishing
Group, 1997. 13. Print.

[35] Ibid. 10, 26.

[36] David, Deborah S., and Robert Brannon, eds. The Forty-Nine Percent
Majority : The Male Sex Role. Philippines: Addison-Wesley Publishing
Company, 1976. 66. Print. (The Forty-Nine Percent Majority contains a chapter
on “Homophobia Among Men,” and its author, Gregory K. Lehne continues to
specialize in “Evaluation and treatment of sexual and gender identity concerns
in children, adolescents and adults. Research and theory on the nature of
human sexuality, lovemaps, sexual orientations and gender identities.”
http://www.hopkinsmedicine.org/psychiatry/expert_team/faculty/L/Lehne.htm
l
[37] Taleb, Nassim Nicholas. The Bed of Procrustes: Philosophical and Practical
Aphorisms. Random House, 2010. Kindle. Loc. 163.

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