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Meias Verdades, Velhas Mentiras - Anatoliy Golitsyn
Meias Verdades, Velhas Mentiras - Anatoliy Golitsyn
Sobre a obra:
Sobre nós:
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Meias verdades, velhas mentiras. A estratégia comunista de embuste e
desinformação.
Anatoliy Golitsyn
1ª edição — janeiro de 2018 — CEDET
Editor:
Thomaz Perroni
Tradução:
Nelson Dias Corrêa
Revisão ortográfica:
José Lima
Conselho editorial:
Adelice Godoy
César Kyn d’Ávila
Silvio Grimaldo de Camargo
Desenvolvimento de eBook:
Loope Editora | loope.com.br
FICHA CATALOGRÁFICA
Golitsyn, Anatoliy.
Meias verdades, velhas mentiras — A estratégia comunista de embuste e
desinformação / Anatoliy Golitsyn; tradução de Nelson Dias Corrêa — Campinas,
SP: Vide Editorial, 2018.
ISBN: 978-85-9507-28-8
1. Comunismo. 2. Espionagem e subversão.
I. Autor II. Título.
CDD — 321.92 / 327.12
Capa
Folha de Rosto
Créditos
Prefácio
Nota do autor
Epígrafe
Parte I. As duas metodologias
Capítulo 1. Os problemas para os analistas
ocidentais
Dificuldades gerais
Dificuldades especiais: desinformação
Desinformação nos regimes comunistas
Capítulo 2. Os padrões de desinformação:
“declínio-evolução”
O padrão “declínio-evolução”
O precedente da NEP
Os resultados da NEP
A lição da NEP
Capítulo 3. Os padrões de desinformação:
“fachada-resistência”
Discursos oficiais e documentos do partido
Operações especiais de desinformação
Capítulo 4. Os padrões de desinformação:
transição
O engodo da desestalinização
Anticomunismo
Anti-stalinismo
A desestalinização na prática
A desestalinização improvisada (1953-1956)
Reestalinização
Capítulo 5. A nova política e a desinformação
estratégica
A nova política
As desvantagens da unidade aparente
As vantagens da divisão aparente
O uso político da desestalinização
Fontes de inspiração
Capítulo 6. O relatório Shelepin e as mudanças
organizacionais
Departamento D
Capítulo 7. O novo papel da inteligência
Capítulo 8. Fontes de informação
Fontes ocidentais
Fontes comunistas
Análise da informação oriunda de fontes
comunistas
Capítulo 9. A vulnerabilidade das avaliações
ocidentais
As conseqüências de padrões de
desinformação diferentes
A crise no bloco (1949-1956)
A Segunda Guerra Mundial
Capítulo 10. Êxitos da inteligência comunista,
falhas do Ocidente e a crise nos estudos
ocidentais
Fatores para os êxitos da inteligência
comunista
Métodos obsoletos para análise das fontes
comunistas
A inépcia ocidental em detectar a
desinformação e o seu padrão vigente
Capítulo 11. Os erros do Ocidente
Capítulo 12. A nova metodologia
Fatores subjacentes à nova metodologia
A nova metodologia e as fontes ocidentais
A nova metodologia e as fontes comunistas
Fontes oficiais comunistas
Fontes comunistas extra-oficiais
Fontes comunistas “secretas”
Resumindo…
Parte II, O programa de desinformação e seus
impactos sobre o Ocidente
Capítulo 13. A primeira operação de
desinformação: a “disputa” iugoslavo-soviética
(1958-1960)
A reconciliação final da Iugoslávia com o
bloco
Evidências públicas da participação iugoslava
na formulação da nova política
Outras anomalias na “disputa”
Objetivos da disputa soviético-iugoslava
(1958-1960)
Capítulo 14. A segunda operação de
desinformação: a “evolução” do regime soviético
— parte I: as principais mudanças na URSS
Mudanças econômicas
Mudanças políticas
Mudanças diplomáticas
A influência da ideologia
O reavivamento da desestalinização
A posição de cientistas e outros intelectuais
soviéticos
Objetivos da desinformação estratégia
quanto à “moderação” e “evolução” soviética
Capítulo 15. A terceira operação de
desinformação: a “disputa” e o “cisma” soviético-
albanês
Quadro geral das relações soviético-
albanesas
Informações internas e sua interpretação
Anomalias na “disputa” e no “cisma”
Comparação com o “cisma” Tito-Stalin
Conclusão
Objetivos da operação de desinformação
Capítulo 16. A quarta operação de
desinformação: o “cisma” sino-soviético
A colaboração PCUS-PCC (1944-1949)
O atrito sino-soviético e o seu termo (1950-
1957)
Evidências históricas das diferenças sino-
soviéticas
A forma das diferenças sino-soviéticas
O conteúdo das diferenças sino-soviéticas
Diferenças ideológicas
Diferenças econômicas
Diferenças militares
Interesses nacionais
Diferenças táticas e estratégicas: política e
diplomacia
Diferenças táticas e estratégicas: países
comunistas de fora do bloco
A técnica do “cisma”
Objetivos estratégicos do “cisma”
Capítulo 17. A quinta operação de
desinformação: a “independência” romena
Relações especiais entre romenos e
soviéticos
As “evidências” de diferenças soviético-
romenas
Os motivos para a projeção da
“independência” romena
Objetivos da operação de desinformação
Capítulo 18. A sexta operação de desinformação:
as supostas disputas de poder nos partidos
soviético, chinês, entre outros
Sucessão na liderança soviética: novos
fatores de estabilidade
Lenin, Stalin e a persistência do problema da
sucessão
A “destituição” de Khrushchev
Objetivos da desinformação em torno de
disputas de poder
Capítulo 19. A sétima operação de
desinformação: a “democratização” da
Tchecoslováquia (1968)
A interpretação ocidental
Erros ocidentais
Uma reinterpretação da “democratização” da
Tchecoslováquia
O papel de historiadores e economistas na
“democratização”
Os papéis de Barak e de Sik
O papel dos escritores na “democratização”
A “disputa” entre os “conservadores” de
Novotny e os “progressistas” de Dubcek
Conclusões
Perdas e ganhos dos comunistas
Possíveis implicações da “democratização”
para o Ocidente
Objetivos da “revolução silenciosa”
Capítulo 20. A segunda operação de
desinformação: a “evolução” do regime soviético
— Parte II: O movimento “dissidente”
Sakharov
Objetivos da desinformação em torno da
“dissidência”
Capítulo 21. A oitava operação de desinformação:
contatos eurocomunistas com os soviéticos — A
nova interpretação do Eurocomunismo
As manifestações do eurocomunismo
O partido francês
O partido italiano
O partido espanhol
O partido britânico
Declarações conjuntas
A atitude soviética
Iugoslavos e romenos
A nova análise
A emergência do eurocomunismo
Reavivamento de questões liquidadas
Exploração da imagem “independente” dos
partidos eurocomunistas
Incoerências no eurocomunismo
Contatos persistentes com os soviéticos
A nova interpretação do eurocomunismo
Os possíveis efeitos adversos sobre o
comunismo internacional
Implicações à propaganda ocidental
Conclusão
Objetivos do eurocomunismo
Capítulo 22. O papel da desinformação e o
potencial da inteligência na realização das
estratégias comunistas
A estratégia principal
A desinformação e o papel estratégico da
Iugoslávia
Desinformação sino-soviética e a Revolução
Cultural: uma nova interpretação
Dualidade sino-soviética e estratégia
comunista no Terceiro Mundo
Dualidade sino-soviética e estratégica militar
Dualidade sino-soviética e o movimento
revolucionário
As vantagens da dualidade sino-soviética
O potencial da inteligência e os agentes de
influência
A exploração estratégica de agentes da KGB
entre intelectuais soviéticos e líderes
religiosos
Capítulo 23. Evidências da cooperação integral
entre partidos e governos comunistas
Coordenação dentro do bloco
Reuniões da cúpula
Coordenação por vias diplomáticas
Coordenação bilateral dentro do Bloco
Coordenação entre partidos do bloco e
partidos fora dele
Conclusões
Capítulo 24. O Impacto do programa de
desinformação
A modelagem da visão ocidental sobre o
mundo comunista
O efeito sobre a formação das políticas
ocidentais
Os efeitos práticos sobre as políticas
ocidentais
Conclusão
Parte III. A Fase Final e a Contra-Estratégia Ocidental
Capítulo 25. A fase final
Más interpretações ocidentais dos
acontecimentos na Polônia
Uma nova análise
Desenvolvimentos na década de 70
Preparativos finais para a “renovação”
O Partido Comunista Polonês no centro do
Solidariedade
Motivos para a criação do Solidariedade
A “Renovação” polonesa e sua ameaça ao
ocidente
Relações sino-soviéticas
O terceiro mundo
Desarmamento
Convergência
A Federação Comunista Mundial
Comentários à indicação de Andropov e
outros desenvolvimentos posteriores à morte
de Brezhnev
Desenvolvimentos sino-soviéticos
A tentativa de assassinato ao Papa
Capítulo 26. Para onde agora?
Reavaliação
Um fim às rivalidades nacionais
Solidariedade ideológica
Uma busca interior
Ampliando as alianças de defesa
Reorientação dos serviços de inteligência
Separações diplomáticas
Impedimentos comerciais e tecnológicos
Isolando os partidos comunistas
Falando aos povos do bloco comunista
Nos próximos cinqüenta anos
Glossário
PREFÁCIO
ASSIM COMO UMA VEZ ou outra lançam nova luz sobre as raízes
da mentalidade e do proceder comunistas, revelações do
que se passa por trás da Cortina de Ferro desafiam noções
já estabelecidas sobre o funcionamento desse sistema. Este
livro, cremos, faz ambas as coisas. É polêmico, para dizer o
mínimo. Rejeita perspectivas convencionais sobre matérias
que vão da derrubada de Khrushchev ao revisionismo de
Tito, do liberalismo de Dubcek à independência de
Ceaușescu, e do movimento dissidente ao cisma sino-
soviético. A análise do autor traz diversas e evidentes
implicações à política ocidental, e não terá a pronta
acolhida daqueles há muito comprometidos com pontos de
vista divergentes. Cremos, porém, que os debates que há
de suscitar levarão a uma compreensão mais profunda da
natureza da ameaça comunista e, quem sabe, a um
enrijecimento da determinação em combatê-la.
Graças aos serviços prestados ao partido e à KGB, e
ainda a seus excepcionalmente longos períodos de estudo
(em especial na KGB, mas também na Universidade do
Marxismo-Leninismo e na Escola de Diplomacia), o autor, na
condição de cidadão ocidental, desfruta de posição
singularmente privilegiada para escrever sobre os assuntos
tratados neste livro.
Ele nasceu próximo a Poltava, Ucrânia, em 1926. Foi,
portanto, criado como um membro da geração pós-
revolucionária. De 1933 em diante, residiu em Moscou.
Juntou-se à juventude comunista (Komsomol) aos quinze
anos, à época um cadete no colégio militar. Filiou-se ao
Partido Comunista da União Soviética (PCUS) em 1945,
durante seus estudos na escola de artilharia, em Odessa.
Naquele ano, entrou para a contra-inteligência.
Graduado pela escola de contra-espionagem militar de
Moscou, ingressou no serviço de inteligência soviético.
Lotado na sede, freqüentou aulas noturnas na Universidade
do Marxismo-Leninismo, graduando-se em 1948. De 1948 a
1950, estudou na faculdade de contra-inteligência da Escola
de Alta Inteligência; ainda entre 1949 e 1952, completou
um curso à distância da Escola de Alta Diplomacia.
De 1952 a inícios de 1953, junto a um colega, tomou
parte na redação de uma proposta de reorganização da
inteligência soviética para o Comitê Central. Essa proposta
compreendia sugestões para o fortalecimento da contra-
inteligência, a ampliação do uso de serviços satélites e a
reintrodução do “estilo ativista” aos trabalhos de
inteligência. Relativamente a isso, participou de uma
reunião do Secretariat presidida por Stalin, e de uma
reunião do Presidium presidida por Malenkov, à qual
compareceram Khrushchev, Brezhnev e Bulganin.
Por três meses, entre 1952 e 1953, o autor serviu como
chefe de seção no departamento do serviço soviético de
inteligência responsável pela contra-espionagem para os
Estados Unidos. Em 1953, foi mandado a Viena, onde serviu
sob disfarce como membro do aparato da Alta Comissão
Soviética. No primeiro ano, trabalhou contra emigrantes
russos; no segundo, contra a inteligência britânica. Em
1954, foi designado secretário adjunto da organização do
partido na residência da KGB em Viena, que chegava a
reunir setenta oficiais. De volta a Moscou, freqüentou por
quatro anos, e em período integral, o Instituto (hoje
Academia) da KGB, onde obteve a graduação em direito no
ano de 1959. Como aluno da instituição e membro do
partido, tinha uma boa perspectiva sobre a disputa de poder
na liderança soviética, que se fazia refletir na
correspondência secreta, em instruções e conferências.
De 1959 a 1960, tempo em que se formulava uma nova
política de longo alcance para o bloco e a KGB se
reorganizava para nele cumprir o seu papel, serviu como
analista sênior no Departamento de Informação do serviço
de inteligência soviético, seção OTAN. Foi então transferido
para a Finlândia, onde, sob o disfarce de cônsul adjunto na
embaixada soviética em Helsinki, trabalhou em assuntos de
contra-inteligência até romper com o regime em dezembro
de 1961.
Começara a se desiludir com o sistema soviético já por
volta 1956. Os eventos na Hungria intensificaram o seu
descontentamento. Concluiu que a única forma viável de
combater o regime era por fora dele e que, munido de seu
conhecimento interno da KGB, poderia fazê-lo de fato.
Tomada a decisão, passou a coletar e memorizar
informações que julgasse possivelmente relevantes e
valorosas para o Ocidente. A adoção da nova e agressiva
política comunista de longo alcance precipitou sua decisão
de romper com o regime; ocorreu-lhe que a necessidade de
antecipar as novas dimensões da ameaça que se
apresentava era a justificativa para que abandonasse seu
país e arcasse com os respectivos sacrifícios pessoais. Seu
rompimento com o regime foi um ato político deliberado e
longamente premeditado. Tão logo chegou aos Estados
Unidos, procurou alertar às mais altas autoridades do
governo sobre os novos riscos que impunha ao Ocidente a
canalização de todos os recursos políticos do bloco
comunista, inclusive seus serviços de inteligência e de
segurança, para a nova política de longo alcance.
De 1962 em diante, o autor dedicou boa parte de seu
tempo a estudar o comunismo da perspectiva de um
observador externo, acompanhando a imprensa tanto
comunista quanto ocidental. Iniciados os trabalhos neste
livro, continuou a chamar a atenção de autoridades
ocidentais para as interpretações nele contidas, e, em 1968,
permitiu a oficiais norte-americanos e britânicos que
apreciassem o manuscrito como ele então se encontrava.
Muito embora tenha sido ampliado para dar conta dos
eventos da última década, e também revisado conforme ao
autor se esclareceu a estratégia subjacente do comunismo,
a substância do argumento pouco mudou desde 1968. Dada
a sua extensão, parte significativa do manuscrito foi
resguardada para publicação posterior.
Os oficiais que conheceram o manuscrito, à exceção de
uns poucos, rejeitaram as visões ali expressas,
particularmente no tocante ao cisma sino-soviético. Na
verdade, com o passar dos anos, tornou-se, para o autor,
cada vez mais claro não haver esperança razoável de que
sua análise fosse levada a sério em círculos oficiais no
Ocidente. Ao mesmo tempo, a convicção de que os
acontecimentos seguiam comprovando a validade de sua
análise, de que a ameaça do comunismo internacional
carecia de uma compreensão adequada, e de que essa
ameaça estava para entrar numa nova fase, mais perigosa,
só aumentou. Decidiu então publicar a sua obra, tendo em
vista alertar a um setor mais amplo da opinião pública sobre
os riscos que ele percebia, esperançoso de estimular uma
nova abordagem do estudo sobre o comunismo e provocar
uma resposta mais coerente, determinada e efetiva por
parte dos interessados na preservação de sociedades livres
no mundo não-comunista.
Para levar sua decisão a efeito, o autor solicitou a nós
quatro, todos oficiais reformados do governo norte-
americano ou britânico, para aconselhamento e auxílio
editorial. Três de nós conhecemos sua pessoa e suas visões
há pelo menos doze anos; somos testemunhas de seus
esforços sisifianos para convencer a outras pessoas da
validade do que tem a dizer. Temos sua integridade pessoal
e profissional na mais alta consideração. O valor de seus
serviços em matéria de segurança nacional já foi
reconhecido oficialmente por mais de um governo no
Ocidente, e ainda que suas visões sejam rejeitadas por
muitos de nossos antigos colegas, seguimos crendo que os
conteúdos deste livro são da maior importância e relevância
para a devida compreensão dos eventos contemporâneos.
Estávamos, portanto, mais que dispostos a atender ao seu
chamado, e recomendamos a todos os interessados pelas
relações entre os mundos comunista e não-comunista que
disponham deste livro para os estudos mais sérios.
A preparação do manuscrito ficou a cargo do autor, que,
a título pessoal e privado, teve o auxílio de cada um de nós.
O autor é cidadão dos Estados Unidos da América e
Comendador Honorário da Ordem do Império Britânico
(CBE).
Stephen de Mowbray
Arthur Martin
Vasia G. Gmirkin
Scott Miller
NOTA DO AUTOR
Anatoliy Golitsyn
Os homens não recebem a verdade de seus inimigos,
e tampouco ela lhes é oferecida por seus amigos;
foi por isso que eu a disse.
Alexis de Toqueville, Democracia na América
Dificuldades gerais
Isto reconhece-se, por exemplo, em The Communist Party of The Soviet Union
(Nova York: Random House, 1960, p. 542), de Leonard Shapiro: “O segredo de
que se podia cercar a União Soviética quebrou-se, especialmente em
decorrência do testemunho que puderam prestar os milhares de cidadãos
soviéticos que acabaram desalojados durante a guerra e não regressaram. Pela
primeira vez, estudos sérios sobre a história, a política e a economia soviéticas
proporcionavam aos países não-comunistas uma base sobre a qual pudessem
objetar o que a propaganda soviética dizia de si mesma”.
Agência Estatal de Ciência. Grande Enciclopédia Soviética. Moscou: vol. 13
(1952), p. 566 — daqui em diante referida GES. Esta é a segunda edição
publicada em finais da década de 1940, inícios de 1950. Volumes suplementares
têm sido anualmente publicados desde 1957. Os citados a seguir virão como
“GES” mais a indicação do ano em que saíram (os suplementos não são
numerados, mas designados pelo ano de lançamento).
CAPÍTULO 2
OS PADRÕES DE DESINFORMAÇÃO: “DECLÍNIO-
EVOLUÇÃO”
O padrão “declínio-evolução”
O precedente da NEP
Os resultados da NEP
A lição da NEP
No século XVIII, Conde Potemkin organizou para sua soberana, Catarina II, e
para os embaixadores de sua corte, uma viagem pelo rio Dnieper. Ansioso por
exibir o elevado padrão de vida de que gozavam os camponeses locais, súditos
da rainha, Potemkin mandou erguer vilas artificiais às margens do rio. Tão logo
superadas pela barca real, essas vilas eram rapidamente desmontadas, para
então serem remontadas mais adiante no curso do mesmo rio.
Antigo diretor da inteligência soviética na Suécia e em outros países.
“Coletivo de produção” (contração de kollektivnoye khozyaystvo) — NT.
Do russo, Ministerstvo gosudarstvennoy bezopasnosti — NT.
CAPÍTULO 4
OS PADRÕES DE DESINFORMAÇÃO: TRANSIÇÃO
O engodo da desestalinização
Anticomunismo
Anti-stalinismo
A desestalinização na prática
Reestalinização
A nova política
Em 1957, como em 1921, os estrategistas comunistas,
ao elaborarem o seu novo programa, tinham que levar em
conta a debilidade política, econômica e militar do bloco e o
desequilíbrio de poder em relação ao Ocidente. Assim como
os movimentos nacionalistas ameaçavam a unidade da
Rússia Soviética em 1921, tendências separatistas na
Hungria e em outros países do Leste Europeu ameaçavam a
coesão do bloco em 1957. O mundo comunista se via
igualmente hostilizado por conservadores e socialistas
ocidentais. A propaganda ocidental mantinha os regimes
comunistas sob constante pressão. De modo geral, o
Ocidente relutava em negociar com o bloco, que, aliás,
deparava-se com um fator completamente novo: a
possibilidade do confronto nuclear.
Nesse contexto, como poderiam os líderes comunistas
fazer do sistema algo mais satisfatório para os seus povos?
Como alcançar a coesão e a cooperação entre os membros
do bloco? Como promover a causa comunista para além do
bloco sem que isso reforçasse a unidade no mundo não-
comunista? Estava claro que restituir a política stalinista de
repressão em massa não daria certo, e que as táticas
revolucionárias tradicionais apenas intensificariam o
confronto com o Ocidente em um momento em que a
balança do poder pendia desfavoravelmente. O precedente
da NEP de Lênin parecia oferecer muitas respostas, ainda
que a nova política decerto precisasse de muito mais
complexidade e sofisticação.
A necessidade de uma nova política foi sentida com
especial entusiasmo pela liderança soviética. Os membros
mais velhos, tais como Khrushchev, Brezhnev, Mikoyan e
Suslov, queriam se livrar da mancha stalinista e se
reabilitarem aos olhos da história. Os mais jovens, como
Shelepin, queriam colher os louros da inovação. Todos eles
perceberam que somente o acordo sobre uma política de
longo alcance poderia evitar brigas recorrentes pelo poder e
conferir estabilidade à liderança.
O manifesto produzido pelo Congresso dos Oitenta e
Um, em novembro de 1960, revela claramente a influência
de Lênin, tal e qual o discurso de Khrushchev em janeiro de
1961.20 Esses dois documentos-base continuam a
determinar o curso da política comunista até os dias de
hoje. Eles explicam detalhadamente como o triunfo do
comunismo em todo o mundo virá da consolidação do
poderio econômico, político e militar do mundo comunista e
da subversão da unidade e força do mundo não-comunista.
O uso de uma variedade de táticas violentas e não violentas
é especificamente autorizado aos partidos comunistas. A
coexistência pacífica, textualmente definida como “uma
intensa forma de luta de classes entre o socialismo e o
capitalismo”; a exploração, pelo mundo comunista, de
antagonismos econômicos, políticos, raciais e históricos
entre países não-comunistas, recomendada; o suporte a
movimentos de “libertação nacional” por todo o Terceiro
Mundo, ressaltado.
Todos os partidos, tanto de dentro como de fora do
bloco, inclusive o chinês, assinaram o manifesto — à
exceção do iugoslavo. Por razões táticas, a Iugoslávia não se
fez presente no congresso, ainda que a sua política, como
em seguida demonstrado publicamente por Gromyko e Tito,
coincidisse em muitos pontos com a soviética.
O acordo entre os líderes comunistas sobre o novo
programa leninista para a revolução mundial era apenas
meia batalha. Era preciso uma estratégia para levar tal
plano a efeito em um contexto no qual as populações no
bloco comunista estavam seriamente alienadas de seus
regimes, e as potências ocidentais, superiores em termos
militares, determinadas a resistir a uma expansão ainda
maior do comunismo.
Alguns aspectos dessa estratégia, tais como as frentes
unidas com socialistas de países capitalistas e o suporte a
movimentos de libertação nacional no Terceiro Mundo,
foram abertamente proclamados. Mas, sem sombra de
dúvida, a decisão de tornar o uso sistemático de
desinformação um de seus componentes essenciais tinha
que ser cuidadosamente encoberta.
Fontes de inspiração
Departamento D
Fontes ocidentais
Fontes comunistas
As extra-oficiais são:
• Discursos e comentários extra-oficiais de líderes e
oficiais comunistas.
• Contatos extra-oficiais de diplomatas, jornalistas e
outros visitantes estrangeiros.
• Os cartazes na China e outras publicações
clandestinas em países comunistas, a exemplo do
samizdat34 na União Soviética.
• Livros de estudiosos comunistas.
Resumindo…
Mudanças econômicas
Mudanças políticas
Mudanças diplomáticas
De 1958 em diante, a liderança soviética deu destaque
especial à coexistência pacífica, a negócios e relações
econômicas com o Ocidente, e a uma abordagem moderada
e empresarial das tratativas. A diplomacia soviética
adentrou uma nova fase de ação: a da praxe diplomática
pessoal nas altas esferas. Khrushchev e outros líderes
soviéticos visitaram os Estados Unidos e a França; líderes
ocidentais foram convidados a visitar a União Soviética.
Houve aproximações aos governos de países capitalistas,
entre os quais Grã-Bretanha, Estados Unidos, Alemanha
Ocidental, França e Japão, com o propósito de estreitar
relações políticas, econômicas e culturais. Os soviéticos
demonstraram interesse em conferências e eventos
internacionais dedicados a desarmamento e comércio. A 4
de dezembro de 1958, lançaram uma declaração a respeito
da suspensão de testes nucleares, precedida e seguida por
outras propostas sobre desarmamento.74 Expressaram
também o desejo de adquirir equipamentos de países não-
comunistas altamente industrializados, mediante créditos
de longo prazo.75 Países limítrofes receberam atenção
especial.76 Em maio de 1962, Khrushchev sugeriu que se
organizasse uma conferência mundial do comércio.
Essas iniciativas não representavam a evolução para
uma forma menos ideológica e mais convencional de
diplomacia. Devem ser comparadas à diplomacia tal como
praticada sob a NEP de Lenin, uma vez que configuram
passos baseados e friamente calculados no escopo de uma
política ideológica de longo alcance. Ênfase similar sobre
coexistência pacífica e relações formais com o mundo
capitalista, bem como um uso parecido de contatos nas
altas esferas de governos não-comunistas, estavam
presentes na diplomacia soviética que antecedeu a
Conferência de Gênova, realizada em 1922. Esse foi um
tempo em que o próprio Lenin advogava a moderação da
linguagem, evitando, em particular, palavras que
sugerissem qualquer traço de violência e terror nas táticas
soviéticas.
As propostas relativas ao desarmamento total e à
convocação de uma conferência mundial do comércio,
apresentadas pelo governo soviético à Assembléia Geral da
ONU, eram ainda mais flagrantemente similares às
propostas soviéticas dos anos de 1920. A chamada
diplomacia moderada dos anos de 1960 foi uma repetição
da política ativista de Lenin: garantir benefícios específicos
para a União Soviética explorando as contradições internas
e externas entre países não-comunistas.
Ao estabelecer um paralelo entre essa base histórica da
diplomacia soviética dos anos de 1960 e o panfleto de
Lenin, Esquerdismo: Doença Infantil do Comunismo, torna-
se fácil entender por que a ênfase em coexistência pacífica
e relações formais entre estados com diferentes sistemas foi
acompanhada por uma intensificação da luta ideológica
dentro e fora da União Soviética. Aos apelos de Khrushchev
por coexistência pacífica e desarmamento combinaram-se
ataques diretos ao capitalismo, com predições da convulsão
no Ocidente feitas pelo o próprio Khrushchev em suas
visitas aos Estados Unidos nos anos de 1959 e 1960.77
Ainda mais importante foi a intensificação do apoio a
movimentos revolucionários e de libertação nacional no
estrangeiro, especialmente no Vietnã e no continente
africano. O ano de 1960 assistiu à fundação de uma nova
universidade na União Soviética, a Universidade Patrice
Lumumba,78 destinada ao treinamento de líderes
revolucionários dos países em desenvolvimento da África,
da Ásia e da América Latina.
A semelhança entre as iniciativas soviéticas dos anos
1920 e aquelas de fins dos anos 1950, inícios dos anos
1960, não escapou totalmente aos analistas ocidentais.
David M. Abshire, por exemplo, em sua contribuição ao livro
Detente, disse que, mais do que qualquer ajuste feito na
atualidade para acompanhar mudanças no cenário político,
impressiona o ajuste promovido pela NEP na década de
1920.79
Do mesmo modo, Lazar Pistrak, em seu livro The Grand
Tactician, observou que Khrushchev “retomara os métodos
de Lenin, isto é, uma política externa ativa e simultânea à
disseminação de idéias revolucionárias globais por meio de
dispositivos de propaganda jamais vistos”.80
Um terceiro observador ocidental, G. A. Stackelberg,
apontou a incoerência entre a coexistência pacífica e a
fundação de uma universidade destinada ao treinamento de
líderes revolucionários para o Terceiro Mundo. Ele fez uma
comparação entre a Universidade Patrice Lumumba e a
Universidade Comunista dos Trabalhadores do Oriente,
aberta quase quarenta anos antes, ainda sob Lenin, para
formar quadros para as repúblicas soviéticas do
Turcomenistão, do Cazaquistão e de todo o Cáucaso.
Segundo Stackelberg, poder-se-ia compará-la também à
Universidade Sun Yat-sem, responsável pela formação de
quadros para a revolução comunista na China.81
A despeito de toda a conversa sobre coexistência
pacífica, a política soviética provocou ou contribuiu para
uma série de crises na década iniciada em 1958, inclusive a
crise de Berlim em novembro do mesmo ano, quando
Khrushchev propôs o fim da ocupação militar na cidade; a
crise em torno do abatimento do U2 americano em 1960,
que Khrushchev usou para arruinar o Encontro de Paris; a
decisão de retomar os testes nucleares, tirada em 1962; e a
crise do Oriente Médio em 1967.
Novamente, a explicação encontra-se na experiência da
NEP e na perspectiva leninista sobre a política internacional,
assim definida como uma forma de luta ideológica na qual
se deve dispor tanto de métodos pacíficos como de
métodos não pacíficos. Khrushchev, tal como em Lenin,
definia a coexistência pacífica como uma forma de luta de
classes entre sistemas sociais antagônicos, baseada na
ativa exploração das contradições internas e externas entre
países não-comunistas.82
A retomada de uma política externa ativa de feições
leninistas foi confirmada, por exemplo, no jornal militar
Krasnaya Zvezda, cuja edição de 18 de julho de 1963 trouxe
um artigo que dizia: “a política externa levada a cabo pelo
Comitê Central do PCUS e pelo governo soviético é digna,
ativa, flexível e sempre ofensiva. Tendo se justificado por
completo, agora carrega bons frutos [...] Os comunistas não
fazem segredo quanto à necessidade da coexistência
pacífica para a vitória internacional das idéias marxistas-
leninistas, nem quanto às diferenças profundamente
arraigadas entre os dois sistemas globais, o socialista e o
capitalista. Resolver essas diferenças, sustentam os
marxistas-leninistas, não implica necessariamente que se
faça guerra no embate econômico, político e ideológico”.
Não houve moderação na política externa soviética dos
anos 1960; ela foi mais ofensiva que nos anos precedentes
e subseqüentes à morte de Stalin, quando a crise do regime
forçara-o à defensiva. A impressão de que fosse mais
moderada, mais convencional, mais nacionalista e menos
ideológica é um produto de desinformação deliberada e do
uso sistemático de termos que, assim como “coexistência
pacífica”, são intencionalmente enganosos.
Os serviços de inteligência e de segurança tiveram sua
parte em dissimular a natureza da política externa soviética,
particularmente projetando e ressaltando os interesses
comuns entre países comunistas e não-comunistas. A
participação de grandes agentes de influência no campo
científico, a exemplo de Topchiyev, e o papel por eles
desempenhado em Pugwash e em outras conferências
remontam ao uso, por Dzerzhinskiy, do movimento
eurasiano nos anos de 1920.
As acusações chinesas e albanesas de que o regime
soviético houvesse se desviado dos princípios leninistas da
política revolucionária contribuíram para que analistas
ocidentais comprassem a idéia de que isso tinha mesmo
acontecido. Uma vez que essa queixa, tal como aqui
demonstrado, não tinha nenhum fundamento, e dado que
chineses e albaneses tiveram parte na adoção da política de
longo alcance, tais acusações devem ser encaradas como
um elemento a mais num esforço conjunto de
desinformação.
A influência da ideologia
O reavivamento da desestalinização
Conclusão
Ver, de William E. Griffith, Albania and the Sino-Soviet Rift (Cambridge/MA: MIT
Press, 1963, p. 37).
Izvestiya, edição de 10 de janeiro de 1981.
David Floyd, em artigo para o London Daily Telegraph (junho de 1962), observou
que “foi por Durres e [...] Vlora [...] que os albaneses receberam, no ano
passado, os carregamentos de grãos que os permitiram sobreviver ao embargo
econômico imposto pelos russos. Os chineses compraram o trigo do Canadá,
pagaram em rublos conversíveis e mandaram tudo para a Albânia em navios da
Alemanha Ocidental”.
Zeri-I-Poppulit, edição de 4 de fevereiro de 1961 (reimpresso como Documento 6
em Albania and the Sino-Soviet Rift, p. 207).
CAPÍTULO 16
A QUARTA OPERAÇÃO DE DESINFORMAÇÃO: O
“CISMA” SINO-SOVIÉTICO
Diferenças ideológicas
Diferenças econômicas
Interesses nacionais
A técnica do “cisma”
Joy Homer em Dawn Watch in China (Boston: Houghton Mifflin Co., 1941,
pp.194-195): “desde que pus os pés em Yan’an, notei uma certa apatia aos
russos por parte de estudantes e jovens oficiais. Muito mais populares eram a
América e a Grã-Bretanha. Ao menos uma por dia, diziam-me com seriedade
coisas do tipo ‘você não pode confundir o nosso comunismo com o comunismo
da Rússia. No seu país, provavelmente seríamos chamados de socialistas. Nós
acreditamos no sacrifício pelo outro, no trabalho duro e no amor por todos os
homens. É quase como o seu Cristianismo’”.
Uma perspectiva sobre a entrevista de Harrimann encontra-se em The China
Tangle (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1953, p. 140), de Herbert Fries.
McLane, C. B. Soviet Policy and the Chinese Communists: 1931-1946. Freeport,
NY: Books for Libraries Press/Columbia University Press (1958), 1972, pp. 1-2.
Em Roosevelt and Hopkins: An Intimate Story (Nova York, Harper & Bros., 1948,
pp. 902-903), de Robert E. Sherwood: “[Stalin] afirmou categoricamente que
faria todo o possível para promover a unificação da China sob a liderança de
Chan Kai-Shek [...] Ele afirmou especificamente que nenhum líder comunista era
forte o bastante para unificar a China”.
McLane, op. cit.
Payne, R. Portrait of a Revolutionary: Mao Tse-Tung. Londres/Nova York: Abelard-
Schuman, 1961, p. 175 (nota).
Ver a declaração oficial no Pravda, edição de 23 de outubro de 1949. Em artigo
para a revista Life, edição de 6 de dezembro de 1954, o ex-oficial da inteligência
soviética Rastvorov refere-se a Tikhvinskiy como um oficial de inteligência.
Ver, de Chiang Kai-Shek, Soviet Russia and China (Nova York: Farrar, Straus &
Cudahy, 1957, p. 369).
Esse tratado vigorou ao longo toda a Guerra do Vietnam. Expirado em abril de
1980, não foi renovado — por essa época, nenhuma nação ocidental oferecia
ameaças discerníveis à China.
0 The Prospects for Communist China (Cambridge, MA: Technology Press of The
Massachussets Institute of Technology, 1951, pp. 216-229): “em que cenário é
possível prever, se é que é possível, uma quebra dessa aliança? Em sentido
técnico, as evidências que apontam para uma aliança assentam na relativa
fraqueza da China perante a União Soviética. Isso significa que uma eventual
ruptura por parte dos chineses provavelmente dependeria de três condições:
1. A aguda insatisfação de um grupo efetivo de líderes chineses com as
dinâmicas da aliança sino-soviética e, provavelmente, com as
conseqüências da aplicação da técnica soviética ao problema de
crescimento econômico da China.
2. A segurança de que essa retirada renderia aos chineses melhores termos
de associação com o Ocidente.
3. A neutralização, por dificuldades internas ou pela interferência de
terceiros, de potenciais investidas soviéticas contra a China.
À luz dessa situação base, ainda há muitas outras condições para além do
horizonte da possibilidade imediata [...] O laço sino-soviético pode sofrer
alterações definitivas se o incômodo processo de adaptação [...] deflagrado na
União Soviética pela morte de Stalin vier a descambar num conflito declarado,
que resultaria num drástico enfraquecimento de Moscou no cenário mundial ou
numa drástica viragem de suas políticas internas e externas. Mesmo as atuais
autoridades comunistas chinesas podem estar preparadas para repensar a sua
relação com Moscou e tomar o rumo de uma maior independência em relação à
União Soviética, ou associarem-se ao mundo não-comunista. Seu plano de ação
dependeria de muitos fatores, notadamente o caráter e a duração provável das
mudanças na União Soviética e os termos que lhes oferecesse o Mundo Livre”.
1 Ver CSP, vol. 3, p. 129: “nos Estados Unidos, fizeram-me muitas perguntas sobre
as relações entre União Soviética e China. Devo supor que essas perguntas
derivavam da propaganda revisionista e anti-chinesa da imprensa iugoslava,
que há pouco tempo [...] ventilou insinuações sobre desacordos incipientes,
vejam só, entre a União Soviética e a China [...] Respondi dizendo que meus
argüidores estavam evidentemente perdidos em lindos sonhos, nos quais um
passe de mágica pudesse criar desacordos no campo socialista. Mas eu disse
também que esses sonhos eram irrealizáveis [...] que a amizade entre os dois
países repousa inabalável na ideologia marxista-leninista, nos objetivos comuns
do comunismo, no suporte mútuo e fraternal dos nossos povos, nas lutas contra
o imperialismo, pela paz e pelo socialismo [aplausos]. Os cumprimentos
transmitidos ao nosso congresso pelo Comitê Central do PCC, assinados pelo
camarada Mao Tse-tung [...] são a reafirmação da eterna, da indissolúvel
amizade entre os nossos partidos e países [aplausos]. Essa amizade é a menina
dos nossos olhos. É algo sagrado. Não permitamos que se estendam sobre ela
as mãos imundas daqueles que a querem profanar [aplausos]”.
2 “Imperialistas, renegados e revisionistas esperançosos de assistir a um cisma no
campo comunista guardam castelos de areia e estão fadados à decepção”
(manifesto).
3 “Quero ressaltar os nossos constantes esforços em estreitar os laços de amizade
fraterna com o PCC e com o grande povo da China [...] a amizade de nossas
grandes nações, a unidade de nossos partidos [...] são de suma excepcional
importância na luta pelo triunfo da nossa causa comum [...] O PCUS e a
sociedade soviética farão o seu melhor para fortalecer a unidade de nossos
povos e partidos, e assim não só desapontar os nossos inimigos, senão também
aturdi-los ainda mais com a nossa grande união, para que então alcancemos a
nossa meta maior, que é o triunfo do comunismo”.
4 Em discurso ao Vigésimo Primeiro Congresso do PCUS (CSP, vol. 3, pp. 77-78),
disse Chou En-lai: “União Soviética e China são irmãos socialistas [...] a íntima
amizade de nossos povos é eterna e indestrutível”. Numa entrevista publicada
em Peking Review, a 8 de novembro de 1960, disse que “a solidariedade entre
os dois grandes países, a China e a União Soviética, é o baluarte da defesa da
paz mundial. O que os imperialistas e todos os reacionários mais temem é a
solidariedade entre os países socialistas. Assim, tentam de todas as formas
semear discórdia e abalar as estruturas dessa unidade”.
5 Husdon, F.G., Lowenthal, R., McFarquhar. The Sino-Soviet Dispute (China
Quarterly, 1961, p. 35).
6 A 26 de janeiro e a 2 de fevereiro de 1961, em depoimento ao Comitê de
Segurança Interna da Comissão Judiciária do Senado Americano, o ex-lider
comunista Jay Lovestone fez uma oportuna advertência contra falsas analogias
históricas: “temos que resistir à tentação de recorrer a analogias históricas.
Como a Rússia e a China comunistas estão ligadas por esse objetivo primordial
[a conquista comunista e a transformação do mundo], equiparar suas diferenças
ou ciúmes com a hostilidade e o choque de interesses entre a Rússia czarista e a
China pré-Primeira Guerra seria perigosamente enganoso”.
7 Kommunist, nº5 (1964), p. 21.
8 Party Life, nº 10 (1964), p. 65.
9 Ibid., nº7 (1964), p. 9.
0 Problems of Philosophy, outubro de 1964.
1 Ver o discurso proferido em Leipzig a 7 de março de 1959, reimpresso em World
without Arms, World without Wars (Moscou: Editora de Línguas Estrangeiras,
1960, vol. 1, p. 198): “Vem se firmando entre as nações soberanas do campo
comunista uma ampla cooperação em todas as esferas da vida econômica,
pública, política e militar. Sobre o futuro, acredito que o desenvolvimento dos
países socialistas muito provavelmente seguirá a linha da consolidação de um
sistema econômico único. As barreiras econômicas que separaram os nossos
países sob a égide do capitalismo serão removidas uma após a outra, de modo
que a base econômica do socialismo mundial ganhará cada vez mais força,
podendo eventualmente tornar sem sentido a questão das fronteiras”.
2 CSP, vol. 3, p. 188: “A tese contida no relatório do camarada N. S. Khrushchev,
de que “do ponto de vista teórico, seria mais correto supor que os países
socialistas, valendo-se das potencialidades inerentes ao socialismo, hão de se
elevar à fase da sociedade comunista mais ou menos simultaneamente”, será
de tremendo interesse não só para aos comunistas na União Soviética como a
todos os países socialistas ou comunistas do mundo. Trata-se da primeira
formulação da nova tese de que a lei do desenvolvimento planejado e
proporcional aplica-se não só a países socialistas em particular, mas também à
economia do campo socialista como um todo. Essa é uma premissa nova na
teoria do comunismo científico, que expressa a profunda verdade leninista de
que o campo mundial do socialismo constitui um único sistema econômico. Com
o passar do tempo, os planos econômicos para esses países serão cada vez
mais coordenados, e os países mais avançados ajudarão os menos
desenvolvidos, a fim de marcharem numa frente única e cada vez mais célere
em direção ao comunismo”.
3 China and Her Shadow (Mende), pp. 175-176, 338-339.
4 O que segue é um excerto dessa carta: “Não é de hoje que os líderes soviéticos
conluiam-se com o imperialismo americano para tentar ameaçar a China. Já em
20 de junho de 1959, quando não havia o menor indício de um tratado de
interdição dos testes nucleares, o governo soviético rasgou o acordo fechado a
15 de outubro de 1957 e recusou-se a fornecer à China uma amostra de bomba
atômica e os dados técnicos referentes à sua fabricação. Isso foi feito como um
presente de cortesia à época em que o líder soviético visitou os Estados Unidos
para encontrar-se com Eisenhower em setembro”.
5 Ver, por exemplo, Trud (jornal diário soviético), edição de 31 de agosto de 1963:
a planta piloto de 10 MW e o cíclotron de 2,4 milhões de elétrons, que foram
comissionados em 1958, são outro aspecto do auxílio soviético que, de aspecto
tão multifacetado, não cabe ser tratado em todos os detalhes”.
6 Ver Peking Review, edição de 26 de abril de 1960: “uma nova partícula nuclear
— anti sigma minus hyperon — foi descoberta pelos cientistas ligados ao
Instituto Central de Investigações Nucleares, fundado em 1956 por
representantes de doze estados socialistas e sediado em Dubna, próximo a
Moscou. Além dos físicos soviéticos que lideraram essa conquista, fez grandes
contribuições o Prof. Wang Kan-chang, proeminente cientista chinês e vice-
diretor do Instituto. Ao falar do mais novo sucesso, Wang descreveu-o como a
descoberta inédita de um anti-híperon carregado, um passo adiante na busca
pela compreensão das partículas elementares do mundo microscópico. Wang
atribui esse triunfo, sobretudo, à liderança e suporte do diretor soviético do
Instituto e à estreita cooperação dos cientistas dos demais países socialistas.
‘Trata-se verdadeiramente’, disse, ‘de um gritante testemunho da superioridade
do sistema socialista’”.
7 On the Other Side of the River, p. 642.
8 China and Her Shadow (Mende), pp. 182-193.
9 Military Strategy: Soviet Doctrine and Concepts (Moscou, 1962).
0 A título de ilustração, conferir em Pravda, edição de 27 de agosto de 1963,
referências à suposta objeção dos chineses à admissão da delegação soviética
na Conferência da Solidariedade Afro-Asiática, sediada em Moshi no ano de
1963. A iniciativa teria sido motivada pelo fato de os soviéticos não serem nem
pretos nem amarelos.
1 Ver, de Douglas Jackson, Russo-Chinese Borderlands, p. 91: “Salisbury também
considera a campanha de colonização das terras virgens, que resultou na
aragem de milhões de hectares vazios e no assentamento de centenas de
milhares de russos e ucranianos na Sibéria Ocidental e no norte do Cazaquistão,
uma prova da preocupação dos soviéticos com os vastos ermos siberianos. O
programa de Khrushchev tem conotações políticas, sem sombra de dúvida, mas
a sua implementação encontra razões decerto mais contundentes na situação
doméstica da União Soviética do que no problema populacional da China”.
2 A 2 de setembro de 1980, em Moscou, a Associação da Amizade Chinesa
celebrou o aniversário da derrota japonesa na Manchúria. Tikhvinskiy, vice-
presidente da associação, fez um comunicado.
3 The New York Times, edição de 22 de novembro de 1966.
4 Kommunist, nº5 (1964), p. 21.
5 Ver, de Douglas Jackson, Russo-Chinese Borderlands, p. 110: “À medida que se
desdobraram os acontecimentos, sua função mudou com as circunstâncias. De
zonas de tensão entre Rússia e China imperiais, Rússia comunista e China
nacionalista, as áreas limítrofes converteram-se, desde a revolução na China,
em zonas de cooperação e estabilização. Seu futuro desenvolvimento
econômico certamente reforçará o domínio que sobre elas é exercido pelos
comunistas, logo contribuindo em muito para a força comunista em geral. Com
efeito, o papel das áreas limítrofes no futuro das relações sino-soviéticas pode
vir a ser tão o mais dramático que o desempenhado em séculos de competição
e desconfiança. Seja lá o que o futuro lhes reserva, as terras da Ásia, onde se
tocam a Rússia e a China, continuarão a nos fascinar. E o que é mais,
continuarão a nos demandar atenção e entendimento”.
6 Ver, por exemplo, os discursos proferidos por Mao, Liu Shaochi, Peng Te-huai e
Teng Hsiao-ping por ocasião do Oitavo Congresso do PCC, em setembro de 1956,
publicados pelo Jen-Min Jih-Pao (“Diário Popular” da China).
7 Ver, de Bernard Law Montgomery, Three Continents (Londres: Collins, 1962, p.
40): “Chou ressaltou várias vezes que a China precisa de paz, que precisa
resistir às agressões [...] O Mar. Chen Yi, ministro do exterior, compartilhara
comigo exatamente as mesmas opiniões”. Ver também o artigo de Chou En-lai
em Peking Review, edição de 8 de novembro de 1961, em que ele enfatiza a
anuência chinesa à política da coexistência pacífica.
8 Ver o discurso proferido por Khrushchev a 6 de janeiro de 1961: “(a guerra na
Argélia) é uma guerra de libertação, uma guerra de independência movida pelo
povo. É uma guerra sagrada. Nós reconhecemos tais guerras; temos ajudado e
continuaremos a ajudar os povos que lutam pela sua liberdade [...] Se existe a
possibilidade de que essas guerras tornem a eclodir? Sim, existe. Se é provável
que convulsões desse tipo se repitam? Sim, é provável. Guerras desse tipo são
levantes populares. Existe a possibilidade de que as condições em outros países
cheguem a tal ponto que a insatisfação popular acabe descambando no pegar
em armas? Sim, essa possibilidade existe. Como os marxistas respondem a tais
levantes? O mais favoravelmente possível. Essas revoltas não se equiparam a
guerras entre países, guerras locais, porque os insurgentes lutam pelo direito à
auto-determinação, pelo desenvolvimento de suas próprias sociedades e nações
independentes. Esses levantes voltam-se contra os regimes reacionários e
corruptos, contra os colonialistas. Os comunistas apóiam guerras desse tipo,
guerras justas, com todo o empenho e nenhuma reserva”.
9 Grupos extremistas alinharam-se à China, e os partidos comunistas mais
moderados, à União Soviética — NT.
0 “Os interesses envolvidos na luta pela causa da classe trabalhadora demandam
de cada partido comunista, e do grande exército dos comunistas de todo o
mundo, a mais sólida unidade de vontade e ação”.
1 Kommunist, nº13 (1964), p. 21; Jen-min Jih Pao e Iluntzi, edições de 4 de
fevereiro de 1964.
2 World Marxist Review — Problemas da paz e do socialismo, nº 6 (1964), p. 33.
CAPÍTULO 17
A QUINTA OPERAÇÃO DE DESINFORMAÇÃO: A
“INDEPENDÊNCIA” ROMENA
A “destituição” de Khrushchev
A interpretação ocidental
Erros ocidentais
Conclusões
Sakharov
As manifestações do eurocomunismo
O partido francês
O partido italiano
O partido espanhol
O partido britânico
Declarações conjuntas
A atitude soviética
Iugoslavos e romenos
A nova análise
A emergência do eurocomunismo
Incoerências no eurocomunismo
Conclusão
Objetivos do eurocomunismo
0 Conflict Study, nº 99. Londres: Institute for The Study of Conflict, 1978. Alguns
socialistas espanhóis também parecem considerar o eurocomunismo como um
truque.
1 Ver, por exemplo, World Marxist Review, nº6 (1974); Pravda, edição de 6 de
agosto de 1975; e Novoye Vremya, nº 9 (1976).
2 Schapiro
3 Ibid., p. 5.
4 Em The World Situation and the Revolutionary Process (World Marxist Review,
nº6, 1974): “a détente fortalece os elementos de orientação realista no campo
burguês e ajuda a isolar os mais reacionários, as forças imperialistas, os
‘partidos de guerra’ e os complexos militar-industriais”.
5 Wilkinson, P. Terrorism: International Dimensions — Conflict Studies, nº 113.
Londres: Institute for the Study of Conflicf, 1979.
6 Ver, de Kevin Devlin, The Challenge of Eurocommunism (Washington DC,
janeiro/fevereiro de 1977).
7 GES (1968), pp. 480-481.
8 Ver, de Kevin Devlin, The Challenge of Eurocommunism (Washington DC,
janeiro/fevereiro de 1977).
9 Soviet Union and Eurocommunism, p. 8.
0 World Marxist Review, nº7 (1964), pp. 1-2.
1 Rabochiy klass i sovremennyy mir, nº. 4 (1976), conforme citada por Schapiro
em Soviet Union and Eurocommunism.
CAPÍTULO 22
O PAPEL DA DESINFORMAÇÃO E O POTENCIAL
DA INTELIGÊNCIA NA REALIZAÇÃO
DAS ESTRATÉGIAS COMUNISTAS
A estratégia principal
Reuniões da cúpula
Conclusões
Conclusão
9 Citado em Alvin Z. Rubinstein, The Foreign Policy of the Soviet Union (New York:
Random House, 1960), p. 405.
0 New York Times, 10 de agosto de 1962.
1 David M. Abshire, Grand Strategy Reconstructed: an American View, em
Detente: Cold War Strategies in Transition, (Macroestratégia reconstituída: Uma
visão americana em Détente: Estratégias da Guerra Fria em Transição) ed.
Eleanor Lansing Dulles and Robert Dickson Crane (New York: Frederick A.
Praeger, 1965), p. 269.
2 The New Drive Against the Anti-Communist Program, audiência perante o
subcomitê para investigar a administração do Ato de Segurança Interna e outras
leis sobre segurança interna do comitê do Senado sobre o Judiciário,
Washington, D. C. 11/07/1961, p. 10.
3 R. Strausz-Hupe, W. R. Kintner, J. E. Dougherty, and A. J. Cotrell, Protracted
Conflict, (Conflito prolongado) (New York: Harper Brothers, 1959) pp. 115-16:
“Não é exagero dizer que nos últimos anos os governos ocidentais não
mostraram entusiasmo nem competência para conduzir os “programas de
informação” oficiais, que são pobres substitutos de uma panfletagem político-
ideológica. Os povos ocidentais, de uma maneira geral, pouco consideram o
futuro do estilo de vida livre. O ocidente ficou tão acuado mentalmente que
muitos intelectuais dispendem a maior parte de seu tempo em desculpar-se
pelas instituições e processos da sociedade liberal. Paradoxalmente, mesmo
aqueles intelectuais que mais se dedicam à causa da liberdade individual em
suas próprias nações não manifestam uma preocupação profunda a respeito da
ameaça que a expansão comunista apresenta à liberdade humana”.
PARTE III
A FASE FINAL E
A CONTRA-ESTRATÉGIA OCIDENTAL
Capítulo 25
A FASE FINAL
Desenvolvimentos na década de 70
Relações sino-soviéticas
O terceiro mundo
Desarmamento
Convergência
Reavaliação
Um fim às rivalidades nacionais
Solidariedade ideológica
Separações diplomáticas