Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DivEvoPlan - Fisiologia Das Plantas Com Sementes
DivEvoPlan - Fisiologia Das Plantas Com Sementes
TÓPICO
Fisiologia das plantas
com sementes
Déborah Yara A. C. dos Santos
Fanly Fungyi Chow Ho
ERRATA
(12/06/12)
Caro aluno, este material
sofreu alterações nas
páginas 126, 130, 135,
136, 141 e 143.
Agradecemos a
compreensão.
Etileno
Zeatina
Figura 6.1: Estruturas químicas de alguns hormônios vegetais. / Fonte: Elaborado por USP/Univesp.
6.1.1 Auxinas
A principal auxina (do grego auxein = aumentar) de ocorrência natural é o ácido indolacé-
tico (abreviado AIA). Há evidências de que o AIA pode ser sintetizado a partir do aminoácido
triptofano. No entanto, plantas mutantes de milho e de Arabidopsis (uma espécie de Brassicaceae
muito estudada atualmente) que não produzem triptofano são capazes de sintetizar AIA, indi-
cando não ser esta a única via de síntese deste hormônio.
A produção das auxinas ocorre, principalmente, no ápice dos sistemas caulinares, em folhas
jovens e em frutos e sementes em desenvolvimento. Esse hormônio exerce o efeito chamado
dominância apical no crescimento das plantas, que consiste na influência inibitória da gema
apical sobre as gemas laterais (Figura 6.2).
O transporte das auxinas é dito polar tanto no sistema caulinar (caule e folhas) quanto nas
raízes, ocorrendo sempre em direção à base (transporte basípeto). Atualmente, postula-se que
esse transporte polar se dá pela entrada do AIA nas células condutoras (parenquimáticas) com
o auxílio de transportadores de influxo (proteínas) ou por difusão passiva. Uma vez dentro da
célula, o AIA sai por transportadores de efluxo, encontrados exclusivamente na extremidade
basal das células condutoras. Estudos feitos com plantas de Arabidopsis denominaram esses trans-
portadores como proteínas PIN.
6.1.2 Citocininas
As citocininas são derivadas da adenina (base purina que compõe os ácidos nucleicos). Esse hor-
mônio tem um papel essencial na divisão celular, sendo produzido em todos os tecidos com divi-
são ativa, tal como as sementes, os frutos, as folhas e o ápice radicular. No entanto, ainda não se pode
afirmar que as citocininas sejam sintetizadas nesses órgãos. Há evidências de que o ápice radicular
está envolvido na síntese desses hormônios e que, a partir daí, eles são transportados via xilema para
outras partes da planta. É provável, porém, que sejam também produzidos em outras partes.
Esse hormônio tem papel fundamental em pesquisas que envolvem cultura de tecidos e
é muito importante para a biotecnologia. Gemas laterais tratadas com citocininas, frequente-
mente, se desenvolvem mesmo na presença de auxina, ou seja, há uma alteração na dominância
apical. Proporções adequadas de citocininas/auxinas em sistemas de cultura de tecidos podem
levar à formação de calos (conjunto de células vegetais indiferenciadas em cultura de tecidos); o
aumento da concentração de auxinas leva à formação de raízes, enquanto o aumen-
to de citocininas provoca o desenvolvimento de gemas. Dessa forma, podemos dizer que
esses dois hormônios combinados, em proporções adequadas, são responsáveis pela formação
de órgãos em culturas de tecidos. Outro efeito provocado pelas citocininas é o retardamento da
senescência das folhas separadas da planta.
6.1.3 Etileno
O etileno é outro hormônio que atua na regulação do crescimento das plantas, sendo sinteti-
zado a partir do aminoácido metionina. Por ser um gás, o movimento desse hormônio na planta
ocorre por difusão. A produção deste hormônio ocorre principalmente em tecidos senescentes ou
em amadurecimento. Altas concentrações de auxina estimulam a produção de etileno.
Na maioria das espécies vegetais, esse hormônio inibe a expansão celular. Por outro lado,
em algumas espécies sujeitas a condições de alagamento, o aumento da biossíntese de etileno
pode estar relacionado com o alongamento dos entrenós.
Outro papel deste hormônio está relacionado com o amadurecimento de frutos clima-
téricos. Nestes frutos, o amadurecimento envolve mudança de coloração devido à degradação
de clorofila e síntese de outros pigmentos, amolecimento da parte carnosa por causa da quebra
da pectina (principal componente da lamela mediana), metabolização de amido ou lipídeos
(reserva) em açúcar e, durante todo esse processo, há um aumento na respiração celular. Todo
esse processo é precedido pelo aumento na síntese de etileno.
Em muitas espécies de plantas, o etileno exerce o papel de promover a abscisão das folhas,
flores e frutos. Provavelmente, o etileno ativa enzimas associadas à dissolução da parede
celular, o que leva à abscisão.
O ácido abscísico (ABA) é outro hormônio regulador do crescimento das plantas. A síntese
deste hormônio ocorre a partir do ácido mevalônico e é produzido, principalmente, em folhas
maduras e sementes. O transporte do ácido abscísico é feito pelo floema a partir das folhas.
Em muitas espécies vegetais, durante o desenvolvimento inicial das sementes ocorre um
aumento do ácido abscísico. Esse hormônio induz a produção de proteínas de reserva nas
sementes e inibe a germinação de sementes prematuras. A quebra da dormência está
associada com à queda nos níveis de ABA.
Outro papel importante do ácido abscísico está relacionado ao fechamento dos estômatos.
Em plantas submetidas a estresse hídrico, há um aumento da síntese de ABA nas raízes, o qual é
liberado no xilema e translocado para as folhas. O aumento desse hormônio nas folhas leva ao
fechamento dos estômatos, auxiliando na redução da perda de água por transpiração.
6.1.5 Giberelinas
As células vegetais apresentam uma característica muito interessante conhecida como toti-
potencialidade, ou seja, o potencial de uma determinada célula originar uma nova planta. No
entanto, nos tecidos diferenciados, somente alguns genes selecionados são expressos, transcritos
em RNAm e depois traduzidos em proteínas em determinadas células. Os mecanismos
pelos quais os genes são ativados ou não são muito complexos. No entanto, tem sido demons-
trado que os hormônios vegetais têm alguma influência nesses mecanismos.
Os hormônios podem atuar na regulação das taxas de expansão e da divisão celular. No
processo de divisão celular, os hormônios aparentemente auxiliam na regulação da periodici-
dade da divisão. Na regulação da taxa de expansão parecem atuar aumentando ou diminuindo
a extensibilidade da parede celular (propriedade física da parede que mede o quanto ela
pode se alongar permanentemente). Essas substâncias também podem influenciar a direção
da expansão celular, o que é decisivo para a forma final do órgão, atuando na orientação dos
microtúbulos localizados internamente à membrana plasmática e que são responsáveis pela
orientação das microfibrilas de celulose. A orientação dessas microfibrilas é que determina
a direção da expansão de um órgão.
Em organismos multicelulares, a capacidade de comunicação entre as diferentes células é
essencial para o seu bom funcionamento. Essa comunicação se dá através de sinais químicos.
Nas plantas, os hormônios atuam como esses sinais em grande parte das vezes.
Figura 6.5: O ácido abscísico e o íon Ca2+ estão envolvidos na regulação da abertura e fechamento dos estômatos, pela mudança na
pressão de turgor nas células guarda a) O aumento do ABA leva a diminuição da pressão de turgor e consequente fechamento do estômato
b) A ligação do ABA ao receptor de membrana leva à ativação do mensageiro secundário Ca2+. Esse mensageiro secundário leva à saída e
entrada de outros íons através da membrana plasmática. O fluxo de solutos do citossol para a parede celular leva a queda da pressão de
turgor nas células guarda, provocando o fechamento dos estômatos. / Fonte: Elaborado por USP/Univesp.
6.2.1 Tropismos
A uma curvatura positiva (na mesma direção) ou negativa (em direção oposta) nas partes aéreas
ou nas raízes de uma planta, em resposta a algum estímulo externo, denominamos tropismo.
O fototropismo consiste numa inclinação da extremidade do sistema caulinar em resposta
à luz. Nesse processo ocorre a influência da auxina. Há um deslocamento desse hormônio da
região mais iluminada para a menos iluminada, causando o alongamento das células no lado
submetido à menor intensidade luminosa. Esse alongamento provoca a curvatura em direção
à luz. Essa redistribuição da auxina em resposta à luz é mediada por um fotorreceptor que
absorve luz, convertendo o sinal em uma resposta bioquímica.
Outro movimento de curvatura observado em plantas é o gravitropismo, que consiste
na resposta das plantas com relação à gravidade. Numa planta colocada para crescer horizon-
talmente, as raízes apresentam gravitropismo positivo, ou seja, crescem para baixo, enquanto o
caule apresentará gravitropismo negativo, crescendo para o alto. Mais uma vez a redistribuição
da auxina está envolvida, agora indo do lado superior para o inferior. Nos caules, a maior
concentração de auxina na parte inferior estimula a expansão celular dessas células, levando ao
crescimento para o alto. Já nas raízes, esse aumento de auxina no lado inferior inibe o alonga-
mento dessas células, gerando a curvatura para baixo. Ao que se sabe, a percepção da gravidade
pelas plantas está associada ao deslocamento de amiloplastos (plastídeos que armazenam amido)
quando há a mudança da posição “normal” de crescimento (vertical) para a posição horizontal.
As citocininas também parecem estar envolvidas com o gravitropismo positivo das raízes.
Em raízes de plantas colocadas na posição horizontal, há uma maior concentração desse hor-
mônio no novo lado inferior da coifa, promovendo a curvatura do ápice radicular para baixo
devido ao alongamento das células do lado superior.
O tigmotropismo (do grego thigma = toque) é uma resposta das plantas quando ocorre o
contato com um objeto sólido. Esse tipo de movimento de curvatura é o que vemos em plantas
trepadeiras ou em gavinhas. O que há é um ligeiro encurtamento das células em contato com
o suporte, enquanto as opostas se alongam.
6.2.2 Fotoperiodismo
a. Plantas de dias curtos – plantas que florescem quando expostas a um período de luz
mais curto que um valor crítico (ou fotoperíodo crítico). Esse fotoperíodo crítico varia
bastante entre as diferentes espécies;
b. Plantas de dias longos - plantas que florescem principalmente no verão, quando
expostas a um período de luz mais longo que um valor crítico;
c. Plantas neutras – florescem independentemente do comprimento do dia.
Mas o que acontece com essas plantas? Com a continuidade das pesquisas, foi demonstrado
o envolvimento de fotorreceptores (substâncias sensíveis à luz), denominados fitocromos,
nessas respostas. Os fitocromos envolvidos na floração existem em duas formas interconversí-
veis: Fv e Fvl. A forma Fvl é biologicamente ativa, ou seja, é responsável por desencadear alguma
resposta na planta, enquanto Fv é inativa. O fitocromo Fv absorve, principalmente, luz vermelha
de comprimento de onda de 660nm e é, nessa hora, convertido em Fvl. Esta segunda forma
absorve mais intensamente o vermelho-longo (comprimento de onda = 730 nm), sendo então
imediatamente convertido em Fv. Como na luz branca há tanto vermelho quanto vermelho-
-longo, em condições normais, as taxas de conversão entre Fv e Fvl estão em equilíbrio, sendo
constante a proporção das duas formas.
O nível Fvl cai gradativamente quando as plantas são transferidas para o escuro. Dessa forma,
se plantas de dias curtos mantidas no escuro tiverem o nível de Fvl regenerado por um lampejo
de luz (ou seja, se o período escuro for interrompido), não há floração. Já em plantas de dias
longos, mantidas nas mesmas condições, essa interrupção restabelecerá a possibilidade de flora-
ção. Em outras palavras, a interrupção do período escuro em plantas de dia curto leva à inibição
da floração enquanto, em plantas de dia longo, pode levar ao estímulo.
a b
Figura 6.6: Movimento tigmonástico em dormideira (Mimosa pudica – Fabaceae) a) Planta antes de ser tocada b) Detalhe dos
folíolos fechados após o estímulo. / Fonte: Fungyi Chow.
Muitos elementos químicos já foram identificados em plantas. No entanto, nem todos eles
devem ser considerados essenciais para o desenvolvimento desses organismos. Já no final do
séc. XIX, pelo menos 10 elementos químicos foram apontados como essenciais para as
plantas, ou seja, a falta de qualquer um deles gera problemas durante o crescimento e/ou de-
senvolvimento do vegetal (Figura 6.7). Esses elementos são: carbono (C), hidrogênio (H),
oxigênio (O), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), nitrogênio (N), fósforo (P), enxofre
(S) e ferro (Fe). Com o avanço das pesquisas, outros sete elementos foram adicionados à lista
de elementos químicos essenciais: manganês (Mn), zinco (Zn), cobre (Cu), cloro (Cl), boro
(B), molibidênio (Mo) e níquel (Ni).
Os elementos químicos essenciais não são necessários para as plantas nas mesmas quanti-
dades. Alguns são necessários e vitais em baixa concentração, enquanto outros são necessários
em proporções bem maiores. Com base nisso, esses elementos químicos são classificados como
micronutrientes, isto é, elementos necessários em concentrações muito baixas ou traços (con-
centrações abaixo de 100 mg/K de massa seca), ou como macronutrientes, aqueles que são
necessários em concentrações iguais ou superiores a 1.000 mg/K de massa seca.
A função desses elementos nas plantas é muito variada, indo desde componentes de molé-
culas vitais (por exemplo, o magnésio nas moléculas de clorofila) a sinalizadores de respostas a
estímulos externos (veja o papel do cálcio como mensageiro secundário mencionado acima).
A Tabela 6.1 apresenta um resumo das funções desses elementos químicos essenciais, exceto
para o carbono, oxigênio e hidrogênio que são adquiridos principalmente do CO2 e da H2O e
são importantes na formação das substâncias orgânicas.
Forma Concentração
Sintomas de
Elemento disponível adequada Funções
deficiência
para planta (mg/K)
Micronutrientes
Falta de alongamento das
Afeta o uso do Ca2+,
raízes, folhas jovens com
a síntese de ácidos
Boro H3BO3 20 coloração verde-clara na
nucleicos e a integridade
base, folhas enroladas e
da membrana.
morte do sistema caulinar.
Importante na osmose Folhas murchas com
e equilíbrio iônico e, manchas cloróticas
Cloro Cl -
100 provavelmente, essencial e necróticas, raízes
nas reações de produção atrofiadas no comprimento
de O2 na fotossíntese. e engrossadas no ápice.
Folhas jovens de coloração
Ativador ou componente verde-escura, enroladas,
Cobre Cu+, Cu2+ 6 de enzimas envolvidas em deformadas e quase
oxidação e redução. sempre com manchas
necróticas.
Componente dos
Folhas jovens com clorose
citocromos, da
Ferro Fe3+, Fe2+ 100 entre as nervuras, caules
nitrogenase e envolvido
curtos e finos.
na síntese da clorofila.
Ativador de enzimas, Folhas jovens ou velhas
necessário para a com clorose entre as
integridade da membrana nervuras, seguidas de
Manganês Mn2+ 50
do cloroplasto e para manchas necróticas,
a liberação do O2 na desorganização dos
fotossíntese. tilacoides.
Clorose entre as nervuras
nas folhas velhas e depois
Necessário para fixação do nas jovens, clorose
Molibdênio MoO42- 0,1 nitrogênio e redução do seguida de manchas
nitrato. necróticas também entre
as nervuras, progredindo
para outros tecidos.
Importante para o
Manchas necróticas no
Níquel Ni2+ ? metabolismo do
ápice das folhas.
nitrogênio.
Redução das folhas e dos
Ativador ou componente entrenós, margens das
Zinco Zn2+ 20
de muitas enzimas. folhas distorcidas, clorose
internerval.
Tabela 6.1: Elementos químicos essenciais: concentração, funções e principais sintomas da deficiência (Micronutrientes).
Forma Concentração
Sintomas de
Elemento disponível adequada Funções
deficiência
para planta (mg/K)
Macronutrientes
Componente da parede Morte dos ápices caulinar
celular, cofator de e radicular, folhas jovens
Cálcio Ca2+ 5.000 enzimas, envolvido em forma de gancho,
na permeabilidade da seguido de morte dos
membrana celular. ápices e das margens.
Folhas jovens com
Componente de alguns
nervuras verde-escuras e
Enxofre SO4 2-
1.000 aminoácidos e da
regiões entre as nervuras
coenzima A.
verde claras.
Plantas verde-escuras,
Componente do ATP podendo ficar roxas pelo
e ADP, de ácidos acúmulo de antocianinas,
Fósforo H2PO4-, HPO42- 2.000
nucleicos, de coenzimas e em plantas mais velhas,
fosfolipídios. caules atrofiados e morte
das folhas.
Folhas variegadas ou
Ativador de enzimas e cloróticas, ápices foliares
Magnésio Mg 2+
2.000
componente da clorofila. e margens curvadas para
cima.
Componente de Clorose generalizada, em
aminoácidos, casos extremos, as folhas
Nitrogênio NO3-, NH4+ 15.000 nucleotídeos, ácidos ficam completamente
nucleicos, clorofilas e amarelas, culminando com
coenzimas. a morte foliar.
Importante na osmose
Folhas variegadas ou
e equilíbrio iônico, na
cloróticas, com manchas
Potássio K+
10.000 abertura e fechamento dos
necróticas nas margens e
estômatos e ativador de
ápice, caules frágeis.
enzimas.
Importante para o
Manchas necróticas no
Níquel Ni2+ ? metabolismo do
ápice das folhas.
nitrogênio.
Redução das folhas e dos
Ativador ou componente entrenós, margens das
Zinco Zn2+ 20
de muitas enzimas. folhas distorcidas, clorose
internerval.
Tabela 6.1: Elementos químicos essenciais: concentração, funções e principais sintomas da deficiência (Macronutrientes).
a b
A fonte de quase todos esses nutrientes é o solo, ou seja, além de fornecer o suporte para as
plantas terrestres, o solo é a fonte dos nutrientes inorgânicos e da água. A formação desse solo
é decorrente dos processos de intemperismo das rochas e de minerais que compõem a Terra.
Além disso, componentes orgânicos também são encontrados no solo.
Cabe lembrar que a Terra é um sistema fechado, sendo esses elementos químicos essenciais
disponíveis de maneira limitada. Dessa forma, tanto macro quanto micronutrientes devem ser
constantemente reciclados. Essa reciclagem envolve tanto organismos vivos quanto o ambiente,
em processos chamados ciclos biogeoquímicos. Os principais ciclos biogeoquímicos na Terra
foram descritos no tópico 5 da disciplina de Bioenergética.
Cerca de 99% da água absorvida pelas raízes é liberada para o ambiente pelas plantas em
forma de vapor. Esse processo é conhecido como transpiração, estando presente em todas as
partes aéreas das plantas, sendo, porém, as folhas os principais órgãos envolvidos.
Nós já sabemos que as folhas são os principais órgãos envolvidos na fotossíntese. Também
já sabemos que a fotossíntese necessita de energia, proveniente da luz do sol, de dióxido de
carbono (CO2) e de água.
A abertura e o fechamento dos estômatos, resultantes das mudanças na forma das células
guarda, controlam o processo de trocas gasosas pelas plantas. Nessa troca está envolvida a entrada
de CO2 e a saída de vapores de água e do oxigênio (O2). A abertura estomática acontece com o
acúmulo de solutos nas células guarda, levando à diminuição do potencial hídrico dessas células,
que provoca a entrada de água por osmose, tornando a pressão de turgor dessas células maior que a
das células epidérmicas adjacentes. Para o fechamento dos estômatos ocorre o processo contrário.
A maior parte da água perdida pelas plantas na transpiração passa pelos estômatos. A transpi-
ração estomática pode ser descrita em dois passos:
a. Há evaporação da água da superfície da parede das células adjacentes aos espaços inter-
celulares (espaços aeríferos);
b. Há a difusão do vapor d’água resultante desses espaços até a atmosfera através dos estômatos.
Há, porém, uma taxa mínima de transpiração não estomática. A garantia dessa reduzida taxa de
perda de água quando os estômatos estão fechados é dada pela cutícula. A cutícula é uma camada
lipofílica, que recobre as partes aéreas das plantas terrestres, tornando-as quase impermeáveis.
Já vimos no início deste tópico que o ABA (ácido abscísico) está envolvido no controle da
abertura e fechamento dos estômatos. Em muitas plantas, há um aumento significativo desse
hormônio em plantas submetidas a estresse hídrico (falta de água). Esse hormônio pode ter sua
síntese nas células do mesofilo, ou mesmo nas raízes. Neste último caso, na presença de um solo
muito seco, há um aumento da síntese de ABA nas raízes e esse hormônio é transportado para
as folhas pelo xilema.
Além da disponibilidade hídrica, outros fatores externos podem afetar o movimento es-
tomático, como a concentração de CO2, a luz e a temperatura. Para a maioria das plantas,
um aumento na concentração de CO2 leva ao fechamento dos estômatos. Com relação à
luz, normalmente, há abertura dos estômatos com luminosidade e isso porque há o consumo
do CO2 pela fotossíntese, causando queda desse gás dentro da planta. Quanto à temperatura,
aparentemente apenas temperaturas muito altas (entre 30 ºC e 35 ºC) provocam o fechamento
estomático, porque temperaturas altas, aparentemente, acarretam um aumento na concentração
de CO2 intracelular.
Mas qual o caminho da água nas plantas desde a sua entrada pelas raízes até a saída pelas folhas?
Foi demonstrado que o caminho ascendente da água desde as raízes até as folhas é feito
através dos elementos condutores do xilema (elementos de vaso ou traqueídes).
A hipótese mais aceita para explicar como a água se move dentro do xilema é resumida na
teoria da tensão e coesão. Com a evaporação da água da superfície da parede de células
adjacentes aos estômatos na transpiração, essa água é reposta pela água do interior das células,
que se difunde através da membrana plasmática. Assim, nessas células, há uma diminuição do
potencial hídrico, estabelecendo-se um gradiente de potencial hídrico entre essas células e
outras adjacentes a elas, com maior potencial hídrico, até que essa cadeia atinja um feixe vascu-
lar, exercendo uma força de “sucção” ou tensão na água dentro do xilema. Como as moléculas
da água apresentam grande força de coesão entre si, essa tensão se propaga por toda a extensão
do xilema através do caule e das raízes. Dessa maneira, o potencial hídrico das raízes torna-se
menor, aumentando a capacidade de absorção da água do solo. Para alguns autores, além da
tensão e da coesão, a forte adesão das moléculas de água às paredes das traqueídes e dos elemen-
tos de vaso do xilema também é responsável pelo sucesso desse transporte. Assim, essa teoria
também poderia ser chamada teoria da tensão-adesão-coesão.
As raízes, além de fixarem as plantas no solo, são responsáveis pela absorção da água, compen-
sando a sua perda pela transpiração. Os pelos radiculares são muito importantes, aumentando a
superfície para essa absorção.
A água absorvida através dos pelos radiculares pode percorrer três caminhos dentro da raiz
até alcançar os elementos condutores do xilema:
a. Apoplástico: via paredes celulares;
b. Simplástico: de protoplasto para protoplasto via plasmodesmos;
c. Transcelular: de célula para célula, passando de vacúolo para vacúolo.
O caminho percorrido dependerá do grau de diferenciação dos tecidos dentro da raiz.
Numa planta em que a exoderme apresenta estrias de Caspary, o caminho apoplástico nessa
camada não será possível. Já, numa raiz sem exoderme, o caminho apoplástico pode ocorrer
através da epiderme e do córtex, devendo passar a simplástico e/ou transcelular ao alcançar a
endoderme, caracterizada por apresentar estrias de Caspary (Figura 6.8).
Figura 6.8: Caminhos possíveis da água a partir do solo através dos tecidos da raiz. Clique no ícone ao
lado para assistir. / Fonte: Elaborado por USP/Univesp.
Os açúcares formados com produtos da fotossíntese são transportados a partir das folhas
através da seiva do floema.
O transporte desses açúcares segue um padrão fonte-dreno, ou seja, são exportados de
regiões produtoras (por exemplo, as folhas) ou armazenadoras (por exemplo, tubérculos) (em
conjunto, regiões fonte) para qualquer outra parte da planta incapaz de obter seus próprios
nutrientes, que funcionam como drenos ou regiões importadoras de assimilados.
Experimentos feitos principalmente usando sacarose marcada com 14C têm demonstrado que os
açucares são transportados nos tubos crivados do floema. Entretanto, como se dá esse movimento?
Ao longo dos anos, várias hipóteses foram levantadas para explicar o movimento dos açúca-
res das regiões fonte para os drenos.
Atualmente, a ideia mais aceita é a hipótese do fluxo de massa, que explica que o
transporte dos assimilados é feito por um gradiente de pressão de turgor gerado osmoticamente.
Acompanhe a figura 6.9 para entender a explicação:
Considerações finais
Neste tópico, vimos alguns dos principais mecanismos de respostas fisiológicas
das plantas vasculares a estímulos tanto internos quanto externos, muitas delas
mediadas por sinais químicos chamados hormônios. Aprendemos também como
esses organismos transportam água e nutrientes, além dos produtos da fotossíntese,
para todas as regiões do corpo.
Referências Bibliográficas
Raven, P.H., R.F. Evert & S.E. Eichhorn. Biologia Vegetal. 7ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan. 2007. 830 pp.